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Faculdades Integradas do Norte de Minas - Funorte

Curso de Comunicação Social - Jornalismo


Disciplina: Metodologia de Projetos em Comunicação 7º Período/Noturno
Professor: Elpídio Rocha Data: 29/04/2011.

JORNALISMO INVESTIGATIVO
Valdivan Veloso
O jornalismo investigativo (JI) é considerado a área nobre do jornalismo. Ele
exige maior tempo para pesquisa, pois tem como princípios a busca por informações
ocultas. Segundo Dirceu Fernandes Lopes e José Luiz Proença, em Jornalismo
Investigativo (2003), o jornalista que desempenha o JI deve ir além da cobertura de
matérias convencionais. Para os autores, a produção do JI baseia-se em dois
pontos importantes: o jornalista investigativo tem a liberdade de saber o que
acontece e expor idéias que formem a opinião crítica.

Essas premissas podem ser consideradas pilares do jornalismo


investigativo, que se propõe a reconstruir acontecimentos importantes,
promover reformas, expor injustiças, desmascarar fraudes, divulgar o que os
poderes públicos querem ocultar, mostrar como funcionam esses
organismos, informar os eleitores sobre os políticos, especialmente sobre
suas intenções e atuação (LOPES; PROENÇA, 2003, p 10).

A investigação detalhada dos dados possibilita que o repórter construa a


informação. Desta forma, ele exerce papel social tornando público o que a
sociedade precisa conhecer. Nessa construção é encontrada uma peça
fundamental: a fonte. É ela que vai dar suporte para o repórter encontrar detalhes
durante a pesquisa jornalística.

A grande investigação jornalística não ocorre por geração espontânea ou


apenas pelo desejo do repórter. É sempre necessário encontrar alguém,
pelo menos uma boa fonte bem posicionada. Essas fontes qualificadas
existem, em geral, quando há interesse contrário. O que nos leva a um dos
melhores axiomas da grande reportagem: onde há interesse contrário nasce
o jornalismo. Ele entende que a grande reportagem é como uma espécie de
olho da sociedade: enxerga onde muita gente não consegue ver nada. Mas
isso não significa que o jornalista possa deixa levar pela falsa idéia de que a
matéria investigativa é cercada de glamour. A realidade do trabalho exige
muito suor e dedicação. (LOPES; PROENÇA, 2003, p.104).

Segundo Nilson Lage, em A Reportagem: teoria e técnica de entrevista e


pesquisa jornalística (2004), as fontes podem ser distribuídas em três tipos: oficiais,
oficiosas e independentes. As oficiais são ligadas e representam diretamente o
estado. As oficiosas estão ligadas a uma instituição ou indivíduo, porém não estão
autorizados a representá-los, assim, o que elas disserem poderá ser desmentido.
Por último, as independentes são as organizações não governamentais, ONGs.
Dentre elas, segundo o autor, as primeiras são as mais confiáveis.
Mesmo assim, para Cleofe Monteiro de Serqueira em Jornalismo
Investigativo (2005), “as fontes oficiosas podem ser preciosas ao repórter
investigativo, pois expressam geralmente, interesses particulares dentro de uma
instituição e podem evidenciar manobras que servirão de base para novas
investigações”. Desta forma, cabe ao jornalista analisar todas as variáveis para não
divulgar uma informação incorreta. As entrevistas devem ser gravadas como provas
das denúncias.
O papel desempenhado pela fonte, para Leandro Fortes, em Jornalismo
Investigativo (2005), no Brasil é mais importante que o do próprio repórter.

Não é por outra razão que o conceito de investigação jornalística no Brasil


está atrelado a escândalos e denúncias, quando se sabe que a maioria
dessas matérias nasce do repasse puro e simples de informação, muito
mais um mérito das fontes do que, propriamente, do repórter. O que antes
era a busca pelo furo passou a ser uma corrida, às vezes, desenfreada pelo
rótulo (Fortes, 2005, Internet, pag. 15).

O JI teve seus primeiros escritos entre os anos de 1935 e 1940, nos EUA,
com o movimento dos muckraker. Essa denominação foi dada pelo presidente
Franklin Delano Roosevelt aos repórteres especializados em descobrir políticos
corruptos.
Mas o caso de maior repercussão aconteceu nos Estados Unidos, no início
dos anos de 1970. Dois jovens jornalistas, Carl Bernstein e Bob Woodward,
demonstram perspicácia na investigação jornalística. Eles faziam cobertura do caso
sobre espionagem no comitê dos Democratas no edifício Watergate, em
Washington. A apuração demonstrou que os envolvidos estavam ligados ao
presidente Nixon. As investigações duraram quase dois anos. Nesse período, Carl e
Bob produziram uma série de reportagens para o Washington Post, que resultou na
renúncia de Nixon.
Com os mesmos traços do caso Watergate, os repórteres brasileiros
viveram o ápice no jornalismo investigativo. Foi durante o governo do presidente
Fernando Collor (1990-1992). Em busca de informações que sustentassem as
denúncias de corrupção e lavagem de dinheiro, os jornalistas começaram a fazer
investigações mais aprofundadas.
Durante a gestão do presidente Fernando Collor de Mello, resultaram em
uma febre investigatória francamente disseminada na imprensa nacional.
Pode-se dizer que o impeachment de Collor é o marco zero do jornalismo
investigativo no Brasil. A partir dele, jornalistas e donos de empresas de
comunicação viram-se diante de uma nova e poderosa circunstância, com
conseqüências ainda a serem dimensionadas. (FORTES, 2005, Internet,
p.9).

Assim, os meios de comunicação denunciaram negociatas que envolviam o


presidente, ministros e aliados de campanha. A repercussão das denúncias dá inicio
ao movimento dos caras pintadas, que culmina no pedido de impeachment do
presidente Fernando Collor. Antes da efetivação do impeachment, Collor renuncia à
presidência.
A investigação das fraudes revela Paulo César Farias como a via de
manobra do esquema. Durante a pesquisa, o repórter Lucas Figueiredo desvenda o
esquema criado por PC, que manipulava dados e criava contas fantasmas fora do
país para lavagem de dinheiro. O trabalho resulta na produção do livro Morcegos
Negros.
No Brasil são encontrados outros importantes jornalistas investigativos
como Caco Barcellos (que escreveu os livros Rota 66 e Abusado) e Eduardo
Faustini – conhecido pelo uso de câmeras escondidas na produção de reportagens
para o programa Fantástico.
Outro fato importante no JI brasileiro foi a morte de Tim Lopes, executado
em 2002, enquanto produzia matéria sobre prostituição infantil nos bailes funks do
Rio. O crime sacramentou uma guerra entre jornalistas e bandidos. Daí foi criada a
ABRAJI – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo. Ela orienta os
profissionais nas produções investigativas promovendo cursos e seminários afins.
Um tema sempre discutido é a ética praticada pelo jornalista investigativo.
Questões de como deve agir o profissional para a construção de provas são
levantadas a fim de controlar e regulamentar o funcionamento desta área. Fortes
(2005), afirma que nessas discussões são geradas ainda mais dúvidas.

Desse debate constante retiram-se mais dúvidas do que respostas,


normalmente porque partem de uma avaliação do resultado, e não da ação
em si. A tentação de se descobrir a verdade, ou dela se apropriar como
trunfo, pode levar as redações a optarem por todo tipo de meio investigativo,
legal ou não, graças à velha máxima de que os fins justificam o meio
(Fortes, 2005, Internet, pag. 17).
Um instrumento que o jornalista investigativo pode utilizar para pautar seu
trabalho é o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros. Nele estão presentes
normas que orientam a postura do profissional. E isso pode ser observado no artigo
sétimo, que diz: “o compromisso fundamental do jornalista é com a verdade dos
fatos, e seu trabalho se pauta pela precisa apuração dos acontecimentos e sua
correta divulgação” (ABI, Internet).
Mas, Leandro Fortes analisa o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros
como um texto de formato burocrático. Ele sugere ainda, como modelo de melhor
compreensão, o chamado Cânones do Jornalismo. Para Fortes, este é um “texto
melhor elaborado e, mais ainda, fragmentado em subdivisões e montadas a partir de
pensamentos e conceitos libertos da frieza de dogmas legislativos”.

Dessa forma, a prática do JI exige maior perspicácia do profissional tornando


obrigatória a especialização do jornalista. A falta dessa especialização corrompe os
princípios da investigação jornalística.
Nesse sentido, após o escândalo do mandato de Collor a imprensa deparava-
se com uma enorme vontade de encontrar novas notícias bombásticas que
sustentassem as manchetes diárias. Isso gerou o trágico episódio da Escola Base –
no qual os envolvidos foram expostos de forma exaustiva na mídia sem a
confirmação das denúncias. Sem a perfeita apuração das informações, vários
órgãos de imprensa publicaram o caso levando a escola a sofrer saques e
depredações. Os dois chegaram a serem presos, mas foram liberados por falta de
provas. O caso foi arquivado.
Partindo do pressuposto de que qualquer tema pode se torna pata para
investigação, casos como o da Escola Base reforçam a idéia de que para a prática
do JI é necessária uma pesquisa aprofundada. E, para a produção deste tipo de
reportagem, é importante também o apoio dos meios de comunicação, dando
suporte de tempo e dinheiro ao repórter.
O JI pode ser publicado em qualquer tipo de mídia, desde que preserve os
suportes de cada uma (LOPES; PROENÇA, 2003, p.145). Nesse contexto, aparece
um apoio barato e importante para o trabalho investigativo, a internet. Por meio de
blogs, sites, redes sociais, os jornalistas podem publicar suas pesquisas com mais
velocidade e com a expectativa de que será vista por maior número leitores. Assim,
a opinião pública torna-se presente durante as investigações, sendo possível emitir
opinião instantânea daquilo que está sendo publicado. E isso é um ganho para a
qualidade da informação.

Nunca na história das mídias os cidadãos contribuíram tanto à informação.


Hoje, quando um jornalista publica um texto online, ele pode ser contestado,
completado, debatido por um enxame de internautas que serão, sobre
muitos temas, tão ou mais qualificados que o autor. Assistimos, portanto, a
um enriquecimento da informação graças aos “neojornalistas”, que eu
chamo de “amadores-profissionais”. Lembremos que estamos numa
sociedade em que formação superior tornou-se acessível como nunca
antes. O jornalismo dirige-se, portanto, a um público muito bem formado –
ainda que esta formação seja segmentada (Ramonet, 2011, Internet).

Outro ponto que valoriza a informação na mídia digital é a possibilidade de


incluir arquivos e reportagens que sirvam de ajuda para uma melhor compreensão
do fato. Fortes (2005) afirma que o acesso a estes documentos, até a década de
1990, era preciso sair do espaço onde se escreve a reportagem e hoje o que não
está disponível na Internet pode ser recebido via e-mail.
No auxílio à publicação da reportagem, para Lopes e Proença (2003), a
internet tem “a potencialidade de apresentar textos, sons, fotos e imagens em
movimento, esses recursos podem enriquecer a apresentação dos trabalhos
investigativos”. Muitas vezes, os arquivos em flash (que podem apresentar um
conjunto de informações em texto, som, fotografia e vídeo) ajudam a compreender
toda a cobertura dos fatos. Recentemente, no ano de 2010, foi possível acompanhar
toda cobertura dos casos do goleiro Bruno e da morte da advogada Mércia
Nakashima.

REFERÊNCIAS
ABREU, Camila Guimarães. Olhares: Documentário sobre a Violência contra a
Mulher em Montes Claros (MG). 2010. Projeto Experimental (Curso de
Comunicação Social – Jornalismo) – Faculdades Integradas do Norte de Minas –
Funorte, Montes Claros.

FERRARI, Maria Helena Ferrari; MUNIZ, Sodré. Técnicas de Reportagem. São


Paulo: Summus, 1996.

Ignacio Ramonet descreve explosão do jornalismo. Disponível em <http://www.


outraspalavras.net/2011/04/20/ignacio-ramonet-descreve-%e2%80%9ca-explosao-
do-jornalismo%e2%80%9d/>. Acesso em 27/04/2011.

LAGE, Nilson. A Reportagem: Teoria e Técnica de Entrevista e Pesquisa


Jornalística. Rio de Janeiro: Record, 2004.

LIMA, Edvaldo Pereira. Páginas Ampliadas: O Livro Reportagem como Extensão


do Jornalismo e da Literatura. Barueri (SP): Manole, 2004.

LOPES, Dirceu Fernandes; PROENÇA, José Luiz (orgs). Jornalismo investigativo.


São Paulo: Publisher Brasil, 2003.

KOTSCHO, Ricardo. A Prática da Reportagem. São Paulo: Ática. 2005.

VIEIRA, Lorena. Limites Legais para o Jornalismo Investigativo. Disponível em <


http://www.slideshare.net/lorenavalois/limites-legais-para-o-jornalismo-investigativo>.
Acesso em 27/04/2011.

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