Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
por
José Carlos Avellar
Os Filmes:
Viver a Vida 10
Alphaville 12
O Demônio das Onze Horas 12
O Cinema da Idade de Picasso (Alphaville) 14
Tempo de Guerra 17
Tempo de Guerra 19
A Chinesa 20
3 Masculino Feminino 22
Made in USA 25
Duas ou Três Coisas Que Eu Sei Dela 26
One Plus One 27
O Desprezo 29
Week-End à Francesa 31
Posfácio 37
4
Duas ou Três Coisas Sobre Godard
(27 de junho de 1967)
A Tela Branca
(“Melhores de 1968”, 1º de janeiro de 1969)
Alphaville
(“O Filme em Questão: Alphaville”, 12 de julho de 1966)
“Velázquez, depois dos cinquenta anos, não pintava nunca uma coisa
definida. Errava à volta dos objetos com o ar e o crepúsculo, surpre-
endia na sombra e na transparência dos fundos as palpitações coloridas
de que fazia o centro invisível de sua sinfonia silenciosa”. Já como
em Vivre sa vie e Alphaville Godard, como um jornalista, faz na pri-
meira cena de seu filme uma espécie de lead da matéria. Nana adianta
o que Vivre sa vie vai ser ao repetir com entonações diferentes “Qu'est
que ça peut te faire?”: tratava-se de repetir uma frase de doze modos
diferentes para procurar o melhor meio de expressá-la. Em Alphaville é
Alpha 60 que nos anuncia que se trata de uma realidade muito
complexa para ser expressa em palavras, e que tudo nos será mostrado
em símbolos, em fórmulas, em quantos sinais luminosos, positivos ou
negativos, possam ser feitos.
Em Pierrot, a citação extraída de Élie Faure sobre Velázquez “É o argu-
mento” ‒ diz Godard ‒ “sua definição. Velázquez ao fim da vida não
pintava mais as coisas definidas, ele pintava o que havia entre as coisas
definidas, e isto é novamente dito por Belmondo enquanto ele imita
Michel Simon: não é preciso descrever as pessoas, mas descrever o que
há entre elas”.
Com Pierrot le fou Godard parece ter atingido o último elo de uma
cadeia iniciada com À bout de souffle e que marca também o começo
13 da libertação do cinema de uma estrutura e uma narração dramática
que somente era prejudicial à sua maneira própria de narrar. Embora
no Brasil apenas cinco (Acossado, Uma Mulher É uma Mulher, Viver a
Vida e Alphaville, além de Pierrot), dos 10 elos que compõem a cadeia
sejam conhecidos, é fácil perceber que Pierrot não é mais a procura da
liberdade como À bout de souffle, ou a de dar ritmo a esta liberdade,
como Uma Mulher É uma Mulher, ou a procura da forma ideal e mais
significativa de uma frase, como Viver a Vida, ou finalmente uma
tomada de consciência, como em Alphaville.
Depois de Pierrot, estes quatro filmes surgem como esboços para um
quadro maior feito pelo Velázquez de nosso tempo. O argumento não
é mais reduzido a uma linha sem importância ou fragmentado em epi-
sódios. Aqui a história não existe mesmo, pinta-se o que há fora dela, e
toda a força significativa de Pierrot le fou vem dos recursos expressivos
exclusivos do cinema, das suas imagens, das relações entre elas.
Se o homem de hoje está diante de si mesmo, como diz Pierrot ou
Ferdinand, é sem duvida o cinema que o coloca assim, e melhor que
nenhum outro certamente o cinema de Godard, feito sempre de
inquietude, de intranquilidade, e principalmente de perguntas. De
perguntas formais, de perguntas sobre a vida que ele tirou dos estú-
dios, das luzes artificiais, dos gestos e das histórias artificiais, para dar-
lhes aqui as cores naturais, e para fazer a pergunta fundamental:
“Ainda que eu me faça menos e menos perguntas, uma só permanece:
não mais se perguntar não será um ponto grave?”
A Chinesa
(“O Filme em Questão: A Chinesa”, 27 de abril de 1968)
Masculino Feminino
(“O Filme em Questão: Maculino Feminino”, 11 de maio de 1968)
26
Duas ou Três Coisas Que Eu Sei Dela
(“O Filme em Questão: Duas ou Três Coisas Que Eu Sei Dela”, 26 de
outubro de 1968)
O Desprezo
(“O Filme em Questão: Desprezo”, 14 de novembro de 1969)
Week-End à Francesa
(“O Filme em Questão: Week-End à Francesa”, 20 de março de 1970)
1964
33
1965
34
1966
1967
1968
35
1969
36
Posfácio
Ruy Gardnier
38
39
40
março 2016