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105/2015 (NOVO
CPC/2015): EM ESPECIAL, UMA ANÁLISE QUANTO À APLICABILIDADE
DO INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA
RESUMO
É bem verdade que o novo CPC/2015 entrou em vigor em março do ano de 2016,
introduzindo, no ordenamento brasileiro, uma nova Teoria Geral do Processo, aplicável,
inclusive, aos processos judiciais e administrativos tributários. Especial interesse há nas
regras relativas às demandas das execuções fiscais, haja vista a aplicação subsidiária do
CPC às execuções fiscais, conforme prevê a respectiva lei de regência (Lei 6830/80 —
LEF). Sob esta ótica, iremos observar as mudanças significativas do novo CPC/2015 nas
execuções fiscais; em especial, analisaremos sobre o Incidente de Desconsideração da
Personalidade Jurídica (IDPJ).
SUMÁRIO
1
Advogado, graduado em Direito pela Universidade Estácio de Sá e pós-graduando em Direito Público
pela Universidade Estácio de Sá. Direito Constitucional, Administrativo e Tributário.
TAX ENFORCEMENT AND THE PERSPECTIVE OF LAW 13.105/2015 (NEW
CPC/2015): IN PARTICULAR, AN ANALYSIS OF THE APPLICABILITY OF
THE INCIDENT OF DISREGARD OF LEGAL PERSONALITY
ABSTRACT
It is true that the new CPC/2015 entered into force in March 2016, introducing, in
Brazilian law, a new General Theory of the Process, applicable, also, to judicial and
administrative tax proceedings. Special interest is in the rules regarding the demands of
tax enforcement, due to the subsidiary application of the CPC to tax enforcement,
according to the respective governing law (Law 6830/80 — LEF). From this point of
view, we will observe the significant changes of the new CPC/2015 in the tax
enforcement; in particular, we will analyze about the Incident of Disregard of Legal
Personality (IDPJ).
SUMMARY
2
Lawyer, Law graduate from Estácio de Sá University and post-graduation in Public Law from Estácio
de Sá University. Constitutional, Administrative and Tax Law.
1 INTRODUÇÃO
3
FERREIRA FILHO, Marcílio da Silva; LIMA, Rodrigo Medeiros de. Execução Fiscal Teoria, Prática e
Atuação Fazendária. Belo Horizonte: Fórum, 2015. p.16.
4
BRASIL. Lei de Execução Fiscal. 1980. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
L6830.htm>. Acesso em: 02 set. 2017.
5
NORMAS LEGAIS (Equipe). Execução Fiscal. Publicado em: 27/10/2011. Disponível em:
<http://www.normaslegais.com.br/execucao-fiscal.htm>. Acesso em: 02 set. 2017.
6
BRASIL, op. cit.
7
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Lei de Execução Fiscal. 13ª ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 58.
8
Idem.
conhecer, com segurança, o fato jurídico que o gerou e a prestação que terá de
ser realizada para o respectivo cumprimento.
Com isto, quando se fala em dívida ativa, devemos considerar, além do valor
da dívida, a atualização monetária, os juros e multa de mora e os encargos fixados legal
ou contratualmente. Outro grande conceito de dívida ativa é o que o advogado e professor
Serrata traz, em um artigo publicado no site jusbrasil: “Dívida Ativa consiste no conjunto
de créditos devidos aos governos em todas as esferas, seja ela Federal, Estadual,
Municipal e suas autarquias”.10
Diante disto, a inscrição da dívida ativa é realizada pela Procuradoria da
Fazenda de cada ente federativo (União, Estados, Município e DF), constituindo-se em
ato de controle administrativo da legalidade. A principal consequência desta inscrição é
o surgimento da exigência da dívida. Desta forma, não há que se falar em execução fiscal
sem que haja dívida ativa devidamente inscrita pelo órgão competente.
Além disso, estabelece o § 5º do art. 2º da Lei 6.830/30 (LEF), sobre os
requisitos do Termo de Inscrição de Dívida Ativa:11
Art. 2º. Constitui Dívida Ativa da Fazenda Pública aquela definida como
tributária ou não tributária na Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, com as
alterações posteriores, que estatui normas gerais de direito financeiro para
elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos
Municípios e do Distrito Federal.
§ 5º O Termo de Inscrição de Dívida Ativa deverá conter:
I - o nome do devedor, dos corresponsáveis e, sempre que conhecido, o
domicílio ou residência de um e de outros;
II - o valor originário da dívida, bem como o termo inicial e a forma de calcular
os juros de mora e demais encargos previstos em lei ou contrato;
III - a origem, a natureza e o fundamento legal ou contratual da dívida;
IV - a indicação, se for o caso, de estar a dívida sujeita à atualização monetária,
bem como o respectivo fundamento legal e o termo inicial para o cálculo;
9
BRASIL. Lei de Execução Fiscal. 1980. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
L6830.htm>. Acesso em: 02 set. 2017.
10
SERRATA, Fábio. O que é Dívida Ativa? 2017. Disponível em: <https://fabiosarreta.jusbrasil.com.br/
artigos/434878519/o-que-e-divida-ativa>. Acesso em: 02 set. 2017.
11
BRASIL, op. cit.
V - a data e o número da inscrição, no Registro de Dívida Ativa; e
VI - o número do processo administrativo ou do auto de infração, se neles
estiver apurado o valor da dívida.
Vale ressaltar que a Certidão de Dívida Ativa será estabelecida pelos mesmos
elementos do Termo de Inscrição de Dívida Ativa, e será autenticada pela autoridade
competente, constituindo título executivo extrajudicial, de acordo com o artigo 784, IX,
do Código de Processo Civil de 2015 (CPC/2015):12
Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais:
IX - a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na
forma da lei;
12
BRASIL. Código de Processo Civil de 2015. 2015a. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 02 set. 2017.
13
BRASIL. Lei de Execução Fiscal. 1980. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
L6830.htm>. Acesso em: 02 set. 2017.
14
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Lei de Execução Fiscal. 13ª ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 47, 74
e 81.
15
BRASIL, op. cit.
16
THEODORO JÚNIOR, Humberto, op. cit., p. 175.
17
BRASIL, op. cit.
18
THEODORO JÚNIOR, Humberto, op. cit., p. 175.
19
Ibidem, op. cit., p. 181 e 182.
Vale dizer que o despacho que ordena a citação, deferindo a inicial,
interrompe o prazo prescricional, nos termos do artigo 8º, § 2º, da Lei 6.830/80 (LEF).
Efetuada a citação, em regra via postal, terá o executado prazo de 5 (cinco) dias para
efetuar o pagamento da dívida ativa ou garantir a execução por uma das modalidades
previstas no artigo 9 da Lei 6.830/80 (LEF).20
Sendo assim, fica transparente que, não havendo o pagamento ou a garantia
da execução, serão penhorados os bens do executado; entretanto, não serão penhorados
aqueles legalmente declarados que sejam absolutamente impenhoráveis, vide artigo 10 da
Lei 6.830/80 (LEF). Será feita a intimação do executado via publicação em órgão oficial
ou via postal, nas seções judiciárias do interior, artigo 12 da Lei 6.830/80 (LEF).21
Caso a avaliação realizada pelo oficial de justiça que efetuou a penhora for
embargada antes da publicação do edital de leilão, o juiz, ouvida a parte contrária,
nomeará avaliador oficial, nos termos do artigo 13 da Lei 6.830/80 (LEF). Vale lembrar
que o artigo 11, nos incisos I ao VIII, e parágrafos 1ª ao 3ª, da Lei 6.830/80 (LEF),
regulamenta a ordem de preferência de bens do executado a serem penhorados.22
De acordo com o entendimento legal, em qualquer fase do processo será
deferida, pelo juiz, a substituição da penhora por depósito em dinheiro ou fiança bancária,
a pedido do executado, ou a substituição dos bens penhorados por outros,
independentemente da ordem do artigo 11 da Lei 6.830/80 (LEF), bem como o reforço
da penhora insuficiente, a pedido da Fazenda Pública.23
Cabe ressaltar que, de acordo com o artigo 11 da Lei 6.830/80, deve-se
complementar com o atual Código de Processo Civil de 2015, onde ocorreram mudanças
significativas. Além disso, veremos com mais profundidade este assunto no item 3, Das
Novidades trazidas pelo CPC/2015. Vale lembrar que a Súmula nº 406, do Superior
Tribunal de Justiça (STJ), possibilita, à Fazenda Pública, a recusa de substituição de bem
penhorado por precatório: 24 “Súmula 406 - A Fazenda Pública pode recusar a
substituição do bem penhorado por precatório” (Súmula 406, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 28/10/2009).
Aliás, o executado poderá oferecer embargos no prazo de 30 dias, contados
do dia em que garantiu a execução por uma das formas do art. 9º da Lei 6.830/80 (LEF),
alegando toda a matéria útil à defesa, requerendo as provas e juntando documentos e o
rol de testemunhas (até três). Não se permite reconvenção nem compensação. Sendo
matéria preliminar, as provas serão processadas e julgadas junto com os embargos.
Recebidos estes, a Fazenda Pública será intimada para impugná-los no prazo de 30 dias,
designando-se, logo a seguir, a audiência de instrução e julgamento.25
Já a arrematação, esta deverá ser precedida de edital afixado na sede do juízo,
conforme o artigo 24 da Lei 6.830/80 (LEF), no local de costume, publicado
resumidamente uma só vez no Diário Oficial. A distância entre as datas de publicação do
edital e do leilão não poderá ser inferior a 10 (dez) dias, nem superior a 30 (trinta) dias,
20
BRASIL. Lei de Execução Fiscal. 1980. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
L6830.htm>. Acesso em: 02 set. 2017.
21
Idem.
22
Idem.
23
Idem.
24
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula 406. 2017e. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/
SCON/sumanot/toc.jsp?&b=TEMA&p=true&t=&l=50&i=450&ordem=@SUB>. Acesso em: 02 set.
2017.
25
BRASIL, op. cit., 1980.
devendo o representante da Fazenda Pública ser pessoalmente intimado sobre a realização
da hasta pública, dentro do prazo citado.
A alienação de quaisquer bens penhorados somente pode ser feita em leilão
público, em lugar designado pelo juiz. Na hipótese de alienação antecipada dos bens
penhorados, o produto será depositado em garantia da execução. Já o artigo 24, nos
incisos I e II, alíneas a e b, e parágrafo único, da Lei 6.830/80 (LEF), autoriza a
adjudicação dos bens penhorados:26
Art. 24. A Fazenda Pública poderá adjudicar os bens penhorados:
I - antes do leilão, pelo preço da avaliação, se a execução não for embargada
ou se rejeitados os embargos;
II - findo o leilão:
a) se não houver licitante, pelo preço da avaliação;
b) havendo licitantes, com preferência, em igualdade de condições com a
melhor oferta, no prazo de 30 (trinta) dias.
Parágrafo Único. Se o preço da avaliação ou o valor da melhor oferta for
superior ao dos créditos da Fazenda Pública, a adjudicação somente será
deferida pelo Juiz se a diferença for depositada, pela exequente, à ordem do
Juízo, no prazo de 30 (trinta) dias.
26
BRASIL. Lei de Execução Fiscal. 1980. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
L6830.htm>. Acesso em: 02 set. 2017.
27
Idem.
28
BRASIL. Constituição Federal de 1988. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em: 02 set. 2017.
29
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Lei de Execução Fiscal. 13ª ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 474 e
922.
30
Idem.
31
BRASIL, op. cit., 1980.
O Código de Processo Civil aplica-se subsidiariamente às execuções fiscais,
por expressa previsão legal (art. 1º, da Lei n. 6.830/80), sempre que não houver
regra específica na legislação especial.
32
MOLLICA, Rogério. Os prazos em dias úteis e as execuções fiscais. Publicado em: 18 de maio de
2017. Disponível em: <http://www.migalhas.com.br/CPCnaPratica/116,MI258961,81042-
Os+prazos+em+
dias+uteis+e+as+execucoes+fiscais>. Acesso em: 07 set. 2017.
33
BRASIL. Código de Processo Civil de 2015, artigo 219. 2015a. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 02 set. 2017.
34
MOLLICA, Rogério, op. cit.
35
BRASIL. Jurisprudências do TJSP. Tribunal de Justiça de São Paulo - Agravo de Instrumento: AI
22357421520168260000 SP 2235742-15.2016.8.26.0000. 2017c. Disponível em: <https://tj-
AGRAVO DE INSTRUMENTO — EXECUÇÃO FISCAL — IPVA —
Exercício de 2009 — Decisão interlocutória que não acolheu a exceção de pré-
executividade apresentada pelo agravante, sob o fundamento de não se
encontrar prescrito o débito de IPVA referente ao exercício de 1999, pois,
considerando-se como termo inicial sua constituição definitiva, a execução foi
ajuizada dentro do quinquênio estabelecido no artigo 174, do Código
Tributário Nacional — Pretensão de reforma — Recurso interposto após o
decurso do prazo de 15 dias úteis previsto nos arts 219 e 1.003, § 5º, do
CPC/2015 — Agravo interposto em petição física — Protocolo eletrônico
posterior, quando já esgotado o prazo legal para a interposição do recurso —
Inadmissibilidade — Recurso não conhecido. A constituição do crédito
tributário, em caso do Imposto incidente dobre a Propriedade de Veículos
Automotores se dá ex officio — Perfazimento da prescrição — Questão de
ordem pública cognoscível de ofício a qualquer tempo e grau de jurisdição —
Causa extintiva da pretensão, nos termos do art. 156, V, do CTN — Agravo
não conhecido — Reconhecimento ex officio da prescrição, com a consequente
declaração da extinção do crédito tributário e da execução fiscal. (Agravo de
Instrumento nº 2235742-15.2016.8.26.0000, Rel. Des. Paulo Barcellos Gatti,
4ª Câmara de Direito Público, julgamento em 10/4/2017).
sp.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/450088484/agravo-de-instrumento-ai-22357421520168260000-sp-
2235742-1520168260000?ref=juris-tabs>. Acesso em: 07 set. 2017.
36
MOLLICA, Rogério. Os prazos em dias úteis e as execuções fiscais. Publicado em: 18 de maio de
2017. Disponível em: <http://www.migalhas.com.br/CPCnaPratica/116,MI258961,81042-Os+prazos+
em+dias+uteis+e+as+execucoes+fiscais>. Acesso em: 07 set. 2017.
37
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Lei de Execução Fiscal. 13ª ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 325.
Vale informar que a Lei 6.830/80 (LEF) não trouxe mudanças quanto ao
sistema da ação eventual dos embargos do devedor, conservando o mesmo rito do artigo
920 do novo Código de Processo Civil/2015. A conversão atingiu apenas os prazos de
impugnação e de sentença, que foram, ambos, ampliados de dez para trinta dias.38
Ademais, cabe ressaltar que, de acordo com o advogado Carneiro, o Poder
Legislativo não modificou o artigo 16 da Lei 6.830/80 (LEF), para possibilitar a
propositura dos embargos à execução sem depender de segurança ou garantia do juízo, a
contar da citação. Com isto, incidiu um desritmo do procedimento dos embargos à
execução na Lei 6.830/80 (LEF) e no Código de Processo Civil de 2015.39
Conforme o entendimento do advogado Carneiro, a alteração do
artigo 16 da Lei 6.830/80 (LEF), para permitir que o executado pudesse impugnar a
execução fiscal por meio dos embargos à execução, não atingiria as garantias e privilégios
da Fazenda Pública, pois os embargos não teriam o condão de suspender a execução fiscal
que prosseguiria na busca de bens penhoráveis do devedor, nem autorizaria a expedição
de certidão positiva com efeitos de negativa do artigo 206 do CTN sem que houvesse a
prestação de garantia suficiente.40
O Poder Legislativo não reformou o artigo 16 da Lei 6.830/80 (LEF) para
entrar em comunhão com o procedimento dos embargos à execução do Código de
Processo Civil de 2015, que estabelece que somente introduziria privilégios para as partes
permitindo o acesso à Justiça, à ampla defesa, à razoável duração do processo e à sua
efetividade. Seria passível de uniformidade para o prazo de oposição dos embargos, uma
vez que independeria de garantia.41
Em consonância com a Lei 6830/80 (LEF), temos a conclusão do advogado
Carneiro em seu artigo:
[na] ação de execução fiscal é corriqueira a apresentação de exceção de pré-
executividade, quando citado o executado, justamente em razão da
obrigatoriedade de garantia de juízo para o ajuizamento dos embargos, e
posteriormente quando efetivada a penhora e rejeitada a exceção, os mesmos
argumentos são reiterados, ipsis litteris, nos embargos.42
Com isto, seria possível escapar da não necessidade de garantia do juízo para
a impugnação dos embargos à execução fiscal, nos moldes do CPC/2015, uma vez o
devedor poderia demonstrar todas as suas fundamentações e argumentos no início do
processo de execução fiscal.
Com base no Recurso Especial nº 1.272.827/PE, o Superior Tribunal de
Justiça julgou, com fundamento no princípio da especialidade da lei de execução fiscal, a
dispensa da garantia como condicionante dos embargos à execução do
artigo 736 do CPC; já com a redação dada pela Lei nº 11.382/2006, a dispensa da garantia
não se aplica às execuções fiscais, em razão da existência de dispositivo específico
(artigo 16, § 1º da Lei nº 6.830/80), que exige expressamente a garantia para a
38
Ibidem, p. 333.
39
CARNEIRO, Raphael Funchal. O descompasso do procedimento dos embargos à execução na lei de
execução fiscal e no Código de Processo Civil. 2015. Disponível em:
<https://raphaelfunchalcarneiro.jusbrasil.com.br/artigos/258399193/o-descompasso-do-procedimento-
dos-embargos-a-execucao-na-lei-de-execucao-fiscal-e-no-codigo-de-processo-civil>. Acesso em: 07
set. 2017.
40
Idem.
41
BRASIL. Lei de Execução Fiscal. 1980. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
L6830.htm>. Acesso em: 02 set. 2017.
42
CARNEIRO, Raphael Funchal, op. cit.
apresentação dos embargos à execução fiscal (Recurso Repetitivo, Min. Mauro Campbell
Marques, Primeira Seção, DJe 31/05/2013 — Informativo de Jurisprudência do STJ nº
0526, de 25 de setembro de 2013).43 44
Aliás, outro julgado importante do doutor Carneiro em seu trabalho,45 46 seria
o Recurso Especial nº 1.178.883/MG (STJ, Min. Teori Albino Zavascki, Primeira Turma,
DJe 25/10/2011), no qual o efeito suspensivo dos embargos à execução era previsto no
artigo 739-A do CPC de 73, onde ficava associada a exigência de garantia prévia de juízo
— artigo 739, § 1º, e artigo 736, do CPC de 1973.47
Desta forma, o entendimento majoritário foi de que, ao contrário do que
aconteceu no CPC, na regulamentação da execução fiscal, permanece a norma de que não
são admissíveis embargos do executado sem antes apresentar a garantia da execução por
depósito, fiança ou penhora, conforme artigo 16, § 1º da Lei 6.830/80.48 49
Não podemos olvidar que o Código de Processo Civil de 2015, no artigo 914,
mantém a regra da dispensabilidade de garantia na execução para que o executado possa
impugnar mediante embargos à execução, e da ausência de efeito suspensivo dos
embargos, ressalvada a possibilidade de deferimento pelo juiz de efeito suspensivo
quando verificados os requisitos para a concessão da tutela provisória — artigos 294 a
311 do CPC/2015 — e desde que a execução já esteja garantida por penhora, depósito ou
caução suficiente, nos termos do artigo 919.50
Diante disto, entendemos que o Superior Tribunal de Justiça (STJ)
compreendeu que é indispensável à garantia do juízo, como requisito processual, a fim de
que o executado tenha a oportunidade de impugnar a ação de execução fiscal por meio
dos embargos à execução.
Até mesmo o executado contemplado pela gratuidade de justiça, prevista pela
Lei 1.060/50, não é obrigado a impugnar a ação de execução fiscal sem demonstrar a
garantia do juízo. O entendimento é no sentido de que a isenção das despesas de natureza
processual ao beneficiário da gratuidade justiça não alcança a isenção de garantia do juízo
para propor os embargos à execução (STJ, REsp. Nº 1.437.078/RS, Min. Humberto
Martins, Segunda Turma, DJe 31/03/2014 — Informativo de Jurisprudência do STJ nº
0538, de 30 de abril de 2014).51 52
Sendo assim, efetivada a penhora e dela sendo intimado o devedor, o requisito
de garantia para a oposição de embargos seria indispensável. A eventual insuficiência da
43
CARNEIRO, Raphael Funchal. O descompasso do procedimento dos embargos à execução na lei de
execução fiscal e no Código de Processo Civil. 2015. Disponível em:
<https://raphaelfunchalcarneiro.jusbrasil.com.br/artigos/258399193/o-descompasso-do-procedimento-
dos-embargos-a-execucao-na-lei-de-execucao-fiscal-e-no-codigo-de-processo-civil>. Acesso em: 07
set. 2017.
44
BRASIL. Jurisprudência do STJ. Superior Tribunal de Justiça - RECURSO ESPECIAL: REsp 1272827
PE 2011/0196231-6. 2011. Disponível em: <https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/23329943/
recurso-especial-resp-1272827-pe-2011-0196231-6-stj?ref=juris-tabs>. Acesso em: 20 set. 2017.
45
CARNEIRO, Raphael Funchal, op. cit.
46
BRASIL, op. cit., 2011.
47
BRASIL. Código de Processo Civil de 1973. 1973. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5869.htm>. Acesso em: 24 set. 2017.
48
CARNEIRO, Raphael Funchal, op. cit.
49
BRASIL, op. cit., 2011.
50
CARNEIRO, Raphael Funchal, op. cit.
51
Idem.
52
BRASIL. Lei nº 13.043/14. 2014. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
_ato2011-2014/2014/lei/L13043.htm>. Acesso em: 24 set. 2017.
penhora será suprida por posterior reforço, que pode ocorrer em qualquer fase do
processo, nos termos do inciso II do artigo 15 desta lei, sem prejuízo do regular
processamento dos embargos (STJ, REsp nº 1115414/SP, Min. Teori Albino Zavascki,
Primeira Turma, DJe 26/05/2011).53
O entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ), com base no Recurso
Especial nº 1.272.827/PE, é correto, tendo em visto que a Lei nº 6.830/80 (LEF) possui
dispositivo preciso que trata do procedimento dos embargos à execução fiscal, e, como
o CPC/2015 somente se aplica subsidiariamente, não há como se dispensar a necessidade
de garantia do juízo para o oferecimento dos embargos.54
Assim sendo, segundo Carneiro, fica cristalino este desritmo, entre o sistema
dos embargos à execução fiscal na Lei nº 6.830/80 (LEF) e no Código de Processo Civil,
com evidente atraso na sistemática do artigo 16 da LEF, que não foi alterado para
acompanhar a evolução do processo de execução.55
53
BRASIL. Código de Processo Civil de 1973. 1973. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5869.htm>. Acesso em: 24 set. 2017.
54
BRASIL. Código de Processo Civil de 2015. 2015a. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 02 set. 2017.
55
CARNEIRO, Raphael Funchal. O descompasso do procedimento dos embargos à execução na lei de
execução fiscal e no Código de Processo Civil. 2015. Disponível em:
<https://raphaelfunchalcarneiro.jusbrasil.com.br/artigos/258399193/o-descompasso-do-procedimento-
dos-embargos-a-execucao-na-lei-de-execucao-fiscal-e-no-codigo-de-processo-civil>. Acesso em: 07
set. 2017.
56
LORENZONI, Bruno Ribeiro; SILVA, Guilherme Elia C. Substituição da garantia na execução fiscal:
dinheiro para carta de fiança e/ou seguro garantia. 2017. Disponível em:
<http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI255073,51045-. Acesso em: 24 set. 2017.
57
BRASIL, op. cit., 1973.
58
BRASIL. Lei de Execução Fiscal. 1980. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
L6830.htm>. Acesso em: 02 set. 2017.
59
BRASIL. Código de Processo Civil de 1973. 1973. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5869.htm>. Acesso em: 24 set. 2017.
Cabe observar que, sobre ambas as leis, a penhora recaía, a despeito de a
norma processual dispor no sentido de ser, preferencialmente, sobre o dinheiro, razão pela
qual, com o passar dos anos, o aperfeiçoamento dos sistemas e a introdução do art. 655-
A no CPC/73, os juízes passaram a fazer a denominada penhora online.60
No que tange à substituição do bem penhorado, em conformidade com o
Código de Processo Civil de 1973, que regulamentava o artigo 656, no qual era
estabelecido que a parte executada poderia solicitar a substituição da penhora, caso ela
seguisse a ordem legal; ou caso não incidisse sobre os bens estabelecidos em lei, negócio
jurídico ou ato judicial para o pagamento, aliás, se não houvesse bens no foro da
execução, dentre outras hipóteses.61
O mais interessante é que o § 2º do mesmo artigo 656-B, do Processo Civil
de 1973, estabelecia que a penhora poderia ser substituída por fiança bancária ou seguro
garantia, em valor não inferior ao do débito constante da inicial, mais 30% (trinta por
cento).62 63
É bem verdade que já o artigo 15 da Lei nº 6.830/80 (LEF) previa, até o ano
de 2014, a substituição da penhora por deposito em dinheiro ou fiança bancária; não
podemos olvidar que foi o ano em que a Lei 13.043/14 deu nova redação, definindo que,
em qualquer fase do processo, será deferida pelo juiz ao executado a substituição da
penhora por depósito em dinheiro, fiança bancária ou seguro garantia.64
Vale observar que o artigo 15, I, da Lei nº 6.830/80 (LEF), assim como o 9º,
§3, igualavam a garantia em dinheiro à fiança bancária; desta forma, os executados
passaram a requerer a substituição de um pelo outro em várias ocasiões, em virtude dos
prejuízos sofridos pelas empresas através de BacenJud, que poderiam acontecer de forma
inesperada.65
A jurisprudência se edificou no sentido de que a substituição não seria
possível. Isto se deu através da interpretação das normas no sentido de que prevaleceria
o princípio da satisfação do credor, somando-se ao fato de que a ordem de penhora seria
restritiva verticalmente; sendo assim, o dinheiro tem preferência sobre todos os demais
bens ou garantias.66
Deste modo, na vigência do Código de Processo Civil de 1973, com a Lei nº
6.830/80 (LEF), o entendimento indiscutível do STJ foi na lógica de que a substituição
do dinheiro pela fiança não era possível, salvo anuência expressa da Fazenda Pública, “o
que, como de praste, nunca ocorria”.67
As mudanças trazidas pela legislação reiniciaram os debates, tendo em vista
que o novo CPC/2015 regulamenta a substituição ou a fungibilidade do depósito em
dinheiro por carta de fiança ou seguro garantia. Segundo a Lei nº 6.830/80 (LEF), a
alteração aconteceu por meio da Lei 13.043, no ano de 2014, a qual modificou o texto do
artigo 9º e do artigo 15, ambos da LEF, prevendo a capacidade de o executado apresentar
60
Idem.
61
LORENZONI, Bruno Ribeiro; SILVA, Guilherme Elia C. Substituição da garantia na execução fiscal:
dinheiro para carta de fiança e/ou seguro garantia. 2017. Disponível em:
<http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI255073,51045-. Acesso em: 24 set. 2017.
62
Idem.
63
BRASIL, op. cit., 1973.
64
LORENZONI, Bruno Ribeiro; SILVA, Guilherme Elia C, op. cit.
65
Idem.
66
Idem.
67
Idem.
em juízo garantia em dinheiro, carta de fiança, o seguro garantia, além da substituição da
penhora pelo seguro garantia.68
A variação considerável ainda foi incorporada pelo § 3º do artigo 9º, da Lei
13.043/14, no qual é regulamentado que a garantia da execução por meio de dinheiro,
fiança bancária ou seguro garantia, produz os mesmos resultados na penhora. Desta
maneira, a interpretação do legislador passou a ser de que se iguala a forma sistemática
de apresentar o dinheiro, ou à carta de fiança e/ou seguro garantia.69 70
Já no caso do advento do CPC/15, foi incluída norma que reflete também esta
equiparação. É o que estabelece o § 2º do artigo 835, do CPC/2015, o qual dispõe: “para
fins de substituição da penhora, equiparam-se a dinheiro a fiança bancária e o seguro
garantia judicial, desde que em valor não inferior ao do débito constante da inicial,
acrescido de trinta por cento”.71 72
Cabe registrar que o artigo 835, do CPC/15, manteve-se praticamente igual à
redação do antigo artigo 655 do CPC/73. Contudo, o § 1º, do citado artigo 835 do CPC/15,
trouxe mudança considerável sobre a perspectiva da eventual prevalência do dinheiro.
Isto porque a norma prevê que “é prioritária a penhora em dinheiro, podendo o juiz, nas
demais hipóteses, alterar a ordem prevista no caput de acordo com as circunstâncias do
caso concreto”.73
Deste modo, é possível verificar, na regra do novo ordenamento, que o
dinheiro continua sendo prioritário, por ser o primeiro da lista de bens penhoráveis,
entretanto, o juiz poderá modificar a lista de acordo com as circunstâncias do caso
concreto. Com isto, possibilita uma conjugação dos artigos 9º, § 3º, e 15, da Lei
nº 6.830/80 (LEF),74 75 com os artigos 835, § 1º e § 2º, do CPC/15, possibilitando ao juiz
conceder a substituição do dinheiro pela carta de fiança ou seguro garantia, desde que se
demonstre a necessidade para tanto.76
Vale ressaltar que o devedor/executado deverá comprovar rigorosamente que
a substituição se faz extremamente necessária dentro de suas possibilidades financeiras.
Sendo assim, todo o desenvolvimento da questão, com base nas normas que citamos
acima, começa a ser assimilado pela jurisprudência brasileira. Segue, abaixo,
entendimento neste sentido da sexta turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região
mencionado no artigo dos advogados Lorenzoni e Silva:
ADMINISTRATIVO. AÇÃO ORDINÁRIA. TRANSPORTE
FERROVIÁRIO DE CARGA. AUTO DE INFRAÇÃO. NULIDADE.
EMPRESA CONCESSIONÁRIA. RESPONSABILIDADE PELOS BENS
VINCULADOS AO SERVIÇO FERROVIÁRIO. CONTRATOS DE
CONCESSÃO E ARRENDAMENTO. PEDIDO DE SUBSTITUIÇÃO DA
68
LORENZONI, Bruno Ribeiro; SILVA, Guilherme Elia C. Substituição da garantia na execução fiscal:
dinheiro para carta de fiança e/ou seguro garantia. 2017. Disponível em:
<http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI255073,51045-. Acesso em: 24 set. 2017.
69
Idem.
70
BRASIL. Lei nº 13.043/14. 2014. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
_ato2011-2014/2014/lei/L13043.htm>. Acesso em: 24 set. 2017.
71
LORENZONI, Bruno Ribeiro; SILVA, Guilherme Elia C., op. cit.
72
BRASIL. Código de Processo Civil de 2015. 2015a. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 02 set. 2017.
73
LORENZONI, Bruno Ribeiro; SILVA, Guilherme Elia C., op. cit.
74
Idem.
75
BRASIL. Lei de Execução Fiscal. 1980. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
L6830.htm>. Acesso em: 02 set. 2017.
76
BRASIL, op. cit., 2015a.
CAUÇÃO JUDICIAL POR SEGURO GARANTIA. POSSIBILIDADE. LEI
Nº 13.043/2014 E ART.835, § 2º DO NCPC. DEFERIMENTO. 4. “A
jurisprudência do STJ, em atenção ao princípio da especialidade, era no sentido
do não cabimento, uma vez que o art. 9° da LEF não contemplava o seguro-
garantia como meio adequado a assegurar a execução fiscal. Sucede que a Lei
13.043/2014 deu nova redação ao art. 9°, II, da LEF para facultar
expressamente ao executado a possibilidade de ‘oferecer fiança bancária ou
seguro garantia’. A norma é de cunho processual, de modo que possui
aplicabilidade imediata aos processos em curso” (REsp 1.508.171/SP, STJ,
Segunda Turma, Rel. Ministro Herman Benjamin, DJe 06/04/2015). 5. O texto
do artigo 835, § 2º, do CPC 2015 é bastante claro: “§ 2º - Para fins de
substituição da penhora, equiparam-se a dinheiro a fiança bancária e o
seguro garantia judicial, desde que em valor não inferior ao débito
constante da inicial, acrescido de trinta por cento.”. 6. Recurso de
apelação e remessa oficial de que se conhece e a que se nega provimento.
Pedido de substituição da caução efetuada por meio de depósito judicial
pela apólice de seguro garantia juntado aos autos deferido.” – g.n. (TRF1,
Apel. nº 0001642-81.2007.4.01.3400, Des. Fed. Rel. Kassio Marques, 6ª
Turma, Julg. 16.12.2016). [Grifo nosso].77
77
LORENZONI, Bruno Ribeiro; SILVA, Guilherme Elia C. Substituição da garantia na execução fiscal:
dinheiro para carta de fiança e/ou seguro garantia. 2017. Disponível em:
<http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI255073,51045-. Acesso em: 24 set. 2017.
78
Idem.
79
ALVES, Alexandre Ferreira de Assumpção. A desconsideração da personalidade jurídica e o direito do
consumidor: um estudo de direito civil constitucional. In: TEPEDINO, Gustavo (Coord.). Problemas de
direito civil-constitucional. Rio de Janeiro: Renovar, 2001, p. 273.
atos emulativos causados por aqueles que se serviram da autonomia e
capacidade próprias do ente moral para auferir vantagens injustas ou ilícitas.
80
GOMES, Daniela Vasconcellos. A teoria da desconsideração da personalidade jurídica e o Código
Civil de 2002. Elaborado em janeiro/2005. Publicado em setembro/2010. Disponível em:
<http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8265#_edn4>. Acesso em: 04
out. 2017.
81
BRASIL. Código Civil de 2002. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 04 out. 2017.
82
WIKIPÉDIA. Desconsideração da personalidade jurídica. Publicado em 2008. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Desconsidera%C3%A7%C3%A3o_da_personalidade_jur%C3%
ADdica,>. Acesso em: 04 out. 2017.
âmbito do direito tributário, isto é o que afirma e conclui a advogada Santiago,83 em seu
artigo científico:
Diante desse contexto, pode-se verificar que os fundamentos legais
apresentados pela doutrina não atendem satisfatoriamente às peculiaridades do
direito tributário. Em razão disso, constata-se a relevância de que seja
elaborada e promulgada uma lei que acrescente no Código Tributário Nacional
um dispositivo específico que contemple a desconsideração da personalidade
jurídica, estabelecendo todas as regras e diretrizes necessárias para a sua
correta aplicação, de modo a dissipar todas as controvérsias a respeito do tema.
Com a previsão normativa específica, seriam sanados os erros técnicos hoje
verificados na aplicação da desconsideração às relações jurídicas tributárias
pelos órgãos judiciários. Dessa forma, seriam assegurados os princípios da
legalidade, da tipicidade e da segurança jurídica.
83
SANTIAGO, Edna Ribeiro. Desconsideração da personalidade jurídica no Direito Tributário. 2008.
Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_
leitura&artigo_id=5015>. Acesso em: 04 out. 2017.
84
TALAMINI, Eduardo. Incidente de desconsideração de personalidade jurídica. Publicado em
02/03/2016. Disponível em: <http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI234997,11049-Incidente+de+
desconsideracao+de+personalidade+juridica>. Acesso em: 04 out. 2017.
85
Idem.
86
Idem.
87
Idem.
88
TALAMINI, Eduardo. Incidente de desconsideração de personalidade jurídica. Publicado em
02/03/2016. Disponível em: <http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI234997,11049-Incidente+de+
desconsideracao+de+personalidade+juridica>. Acesso em: 04 out. 2017.
Contudo, o incidente de desconsideração, mesmo sendo estabelecido pelo
novo Código de Processo Civil de 2015, como analisamos o entendimento do professor
Eduardo Talamini, ainda existe divergência doutrinária e jurisprudencial quanto à sua
aplicação como incidente nas execuções fiscais.
Em conformidade com o artigo publicado da professora de Direito Tributário
da UFPR e parecerista Grupenmacher, em face das novas regras do CPC/2015, no
âmbito das execuções fiscais, merece igualmente atenção a responsabilização pessoal do
sócio-gerente: “[…] é possível requerer a desconsideração da personalidade jurídica,
facultando ao devedor demonstrar após dilação probatória, a impertinência da pretensão
do credor”.89
Segue este mesmo entendimento do Enunciado de nº 06 da Escola Nacional
de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados — ENFAM,90 no qual menciona que
“Não constitui julgamento surpresa o lastreado em fundamentos jurídicos, ainda que
diversos dos apresentados pelas partes, desde que embasados em provas submetidas ao
contraditório”. Cabe ressaltar que, segundo a professora Grupenmacher, as hipóteses do
artigo135 do CTN não seriam requisitos para a aplicação de desconsideração da
personalidade jurídica, pois, para a sua incidência, a obrigação tributária há de ter sido
fruto da prática de infração à lei, contrato social ou estatutos.91
Contudo, segundo a professora Grupenmacher,
[…] tal fundamento, não afasta a aplicação do IDPJ às execuções fiscais, pois,
na prática, exequentes adotam o referido artigo 135 do CTN como fundamento
dos pedidos de redirecionamento. Porém, o embasamento utilizado seja
equivocado, pois quase sempre o redirecionamento opera-se quando inexistem
bens da empresa para satisfazer o débito, é o que se passa pragmaticamente,
razão pela qual, em tudo e por tudo, o IDPJ aplicar-se-á às execuções fiscais.
É indiscutível.92
89
GRUPENMACHER, Betina Treiger. As execuções fiscais e o novo CPC. Publicado em 25/11/2015.
Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/justica-e-direito/artigos/
as-execucoes-fiscais-e-o-novo-cpc-2y9f03di6jatzoz2u2omsxar5>. Acesso em: 04 out. 2017.
90
ENFAM. Seminário “O Poder Judiciário e o Novo Código de Processo Civil”. Enunciados Aprovados.
2015. Disponível em: <http://www.enfam.jus.br/wp-content/uploads/2015/09/ENUNCIADOS-
VERS%C3%83O-DEFINITIVA-.pdf>. Acesso em: 04 out. 2017.
91
GRUPENMACHER, Betina Treiger, op. cit.
92
Idem.
referido instituto. Ademais, caso fosse esse o entendimento, o próprio
redirecionamento não poderia ser adotado, tendo em vista a ausência de
previsibilidade na Lei 6.830/80. 4. Agravo de instrumento desprovido.
ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima
indicadas: Decidem os membros da 6ª Turma Especializada do Tribunal
Regional Federal da 2ª Região, por unanimidade, negar provimento ao recurso,
na forma do voto do Relator. Rio de Janeiro, _de ___ de 2016 (data do
julgamento). ALCIDES MARTINS RIBEIRO FILHO Juiz Federal
Convocado 1 Processo AG 00117946420164020000 RJ 0011794-
64.2016.4.02.0000 Órgão Julgador 6ª TURMA ESPECIALIZADA
Julgamento 10 de Março de 2017 Relator ALCIDES MARTINS RIBEIRO
FILHO. [Grifos nossos].93
93
BRASIL. Jurisprudência do TRF 2ª região. Agravo de Instrumento: AG 00117946420164020000 RJ
0011794-64.2016.4.02.0000. 2017a. Disponível em: <https://trf-2.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/
438451900/agravo-de-instrumento-ag-117946420164020000-rj-0011794-6420164020000>. Acesso em:
04 out. 2017.
94
BRASIL. Jurisprudência do TRF 2ª região. Tribunal Regional Federal da 2ª Região:
00111918820164020000 0011191-88.2016.4.02.0000. 2017b. Disponível em: <https://trf-
2.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/436799881/111918820164020000-0011191-
8820164020000?ref=juris-tabs>. Acesso em: 04 out. 2017.
95
APET-NCPC. XIII Simpósio de Direito Tributário da APET-NCPC. 2016. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=fIpm0M8jdYc>. Acesso em: 04 out. 2017.
sendo que após essa fase o incidente seguirá seus termos até uma decisão final
do juiz autorizando ou não seja desconsiderada a personalidade jurídica..96
96
SALLES, Marcelo. Desconsideração da personalidade jurídica no Novo CPC e a execução fiscal de
dívida. Publicado em 09/02/2016. Disponível em: <https://jota.info/artigos/desconsideracao-da-
personalidade-juridica-no-novo-cpc-e-a-execucao-fiscal-de-divida-tributaria-09022016>. Acesso em:
10 out. 2017.
97
QUEIROZ, Ricardo de Lima Souza. Incidente de desconsideração da PJ deve ser afastado em
execução fiscal. Publicado em: 08/02/2016. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2016-fev-
08/ricardo-
queiroz-desconsideracao-pj-nao-cabe-execucao-fiscal>. Acesso em: 10 out. 2017.
98
ENFAM. Seminário “O Poder Judiciário e o Novo Código de Processo Civil”. Enunciados Aprovados.
2015. Disponível em: <http://www.enfam.jus.br/wp-content/uploads/2015/09/ENUNCIADOS-
VERS%C3%83O-DEFINITIVA-.pdf>. Acesso em: 04 out. 2017.
formulado, pena de supressão de instância. 5. Agravo de Instrumento
parcialmente provido para determinar a apreciação do pedido de
desconsideração da personalidade jurídica, prescindindo-se da instauração do
incidente, arts. 133 e segs. CPC/2015. Processo AG 00103128120164020000
RJ 0010312-81.2016.4.02.0000 Órgão Julgador 6ª TURMA
ESPECIALIZADA Julgamento 12 de Dezembro de 2016 Relator NIZETE
LOBATO CARM Andamento do Processo.99
99
BRASIL. Jurisprudência do TRF 2ª região. Agravo de Instrumento: AG 00103128120164020000 RJ
0010312-81.2016.4.02.0000. 2016a. Disponível em: <https://trf-2.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/
415006409/agravo-de-instrumento-ag-103128120164020000-rj-0010312-8120164020000>. Acesso em:
10 out. 2017.
100
BRASIL. Jurisprudência do TRF 2ª região. Agravo de Instrumento: AG 00086732820164020000 RJ
0008673-28.2016.4.02.0000. 2016b. Disponível em: <https://trf-2.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/
392899374/agravo-de-instrumento-ag-86732820164020000-rj-0008673-2820164020000>. Acesso em:
10 out. 2017.
101
QUEIROZ, Ricardo de Lima Souza. Incidente de desconsideração da PJ deve ser afastado em
execução fiscal. Publicado em: 08/02/2016. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2016-fev-08/
ricardo-queiroz-desconsideracao-pj-nao-cabe-execucao-fiscal>. Acesso em: 10 out. 2017.
execuções fiscais, até o momento não temos uma posição sólida e unânime. Todavia,
concluindo que o novo CPC/2015 suplementa de forma necessária a ausência legal da
LEF, entendemos que, em virtude disso, o raciocínio quanto à aplicação do incidente nas
execuções fiscais seria o mais coerente e seguro.
5 CONCLUSÃO
6 REFERÊNCIAS