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AS CARACTERÍSTICAS RECORRENTES DA
POÉTICA MUSICAL DO BILL EVANS TRIO
São Paulo
Dezembro/2010
2
AGRADECIMENTOS
música. Os nomes são muitos e eu não gostaria de esquecer nenhum deles, por isso apenas
Aos meus familiares por me apoiarem pela escolha que fiz em minha profissão e
por não me questionarem quanto aos meus caminhos que escolhi para minha vida
profissional que engatinha. Aos meus amigos (músicos ou não) e namorada, que tiveram e
perderam a paciência com os meus monólogos sobre Bill Evans que já acontecem desde o
professores que tive dentro e fora da faculdade, que ainda me fornecem fontes de estudo e
Sinceramente,
RESUMO:
ABSTRACT:
This work intends to analyze some usual musical principles that are shown on 25
years of the phonographic Carrer of Bill Evans Trio. Also giving attention to some
historical aspects that drawn musical choices.
4
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.....................................................................................................................6
CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................99
BIBLIOGRAFIA...............................................................................................................102
PARTITURAS ANEXAS.................................................................................................106
5
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como fonte de pesquisa a obra do Bill Evans Trio, seja lançada
natural para aqueles que se dedicam ao estudo de improvisação, no século XX. Os seus
trios utilizam a exploração de formas e harmonias que seguem padrões estilísticos do jazz
distintas.
interpretação de Evans, a interação com os baixistas e bateristas que passaram por seu trio
ao longo dos seus 25 anos de carreira em trio, como líder e mentor de uma concepção
Comparações, traz três temas diferentes, cada um em mais de uma versão em trio, com a
2 – Comparações contém três versões desse tema que datam respectivamente de 1961,
Os outros dois temas estão dispostos da mesma maneira, com gravações e ás vezes
Isso é uma pequena amostra da discografia do Bill Evans Trio, que recorrentemente
contém diversas gravações dos mesmos temas em álbuns distintos, apesar da aparente
e dos acompanhantes nas diferentes gravações, nos andamentos das músicas, dinâmicas e
importância da obra dos trios de Bill Evans como um todo, tendo em foco sua estilística
musical.
obra de Bill Evans com mais fontes disponíveis em português para músicos e interessados
em jazz e improvisação.
8
Pianista Bill Evans, que é o foco dessa pesquisa, é necessário que aspectos biográficos
sejam citados.
William John Evans, nasceu em Plainfield, New Jersey, nos Estados Unidos em 16
de agosto de 1929 numa família judaica de classe média. Sua mãe, de origem russa, o
incentivou a ter aulas de piano, juntamente ao seu irmão Henry, quando Bill tinha apenas
seis anos.
Como era usual na época em famílias de descendência européia que tem em sua
técnica que o levou a alcançar êxitos em sua carreira, anos mais tarde. Bill Evans mostrou
interesse ainda jovem pela música de vanguarda da Europa da época. Tanto que aos sete
Stravinsky.
Aos sete anos, Evans chegou a estudar violino, mais tarde, flauta e piccolo. O
na infância, leitura ágil no instrumento e contato com grupos grandes de música ao vivo,
tanto para estudo quanto para sua própria sobrevivência anos mais tarde.
regiões agudas do piano, com tessituras próximas ás regiões que flautas e flautins de peças
9
eruditas que ele mesmo teve como referência em toda a sua vida, remetendo às regiões de
tais instrumentos. Um dos fatos que exemplificam sua obsessão por ‘cantar’ nas regiões
agudas do piano, às vezes com vozes triádicas fazendo caminhos melódicos internos que
Segundo ele mesmo, durante muito tempo, tocava apenas lendo partituras. Mesmo
interpretando as peças musicalmente, não conseguia tocar uma peça simples senão tivesse
“Dos seis aos treze anos de idade, eu adquiri a habilidade de ler rapidamente e tocar música
clássica, então eu estava tocando peças de Mozart, Beethoven, ou Schubert com inteligência e
musicalidade. Mas eu ainda não conseguia tocar um tema infantil como ‘My Country’ Tis of
Thee’ sem uma partitura”. (PETTINGER,1998, P.12).
Apesar da grande proximidade com o repertório erudito, Bill, aos 12 anos começou
a ter contato com o jazz através de big bands de Tommy Dorsey e Harry James e por
influência de seu irmão Henry que estava estudando além de piano, trompete e ensaiava na
banda da escola que estudavam. Bill incorporou rapidamente o idioma jazzístico, e como
citado antes, por causa de sua desenvoltura técnica, era considerado um dos pianistas mais
rápidos de boogie woogie do centro de New Jersey, ainda que muito jovem.
Sua leitura ágil proveniente dos anos em que estudou música erudita abriram portas
para a vida profissional, fazendo com que Bill começasse a tocar em bandas de polka,
No verão de 1946, ele montou um trio de piano, baixo e bateria com amigos que
tocava em hotéis na região de New Jersey. Esse foi o primeiro contato profissional e fixo
que Bill teve com essa formação. Anos mais tarde, essa formação o consagraria,
10
Bill ainda estava no colégio quando o bebop1 apareceu, e essas novas maneiras de
improvisação propostas por esse gênero tiveram influencia sobre ele, assim como em
Em 1946, Bill se formou no segundo grau e foi continuar seus estudos de música na
Southeastern Louisiana College em Hammond, cerca de 50 milhas de New Jersey. Lá, ele
continuou sua jornada dupla – estudante e músico da noite – e começou a se interessar por
conhecer estruturas musicais mais profundamente, além de ter bastante contato com outros
músicos em jam sessions em suas noites de folga. Em suas férias de verão, ele costumava
Mundell Lowe, Bill foi para New York onde começou a trabalhar em trio de guitarra –
baixo – piano, formação que foi consagrada por um de seus ídolos Nat King Cole, e mais
tarde por Oscar Peterson. Com o guitarrista Lowe excursionou na região e depois foi
chamado para integrar a big band do clarinetista Herbie Fields, fazendo turnês
Em 1951, Evans teve sua carreira de músico interrompida, quando foi chamado para
Coréia, lá ele trabalhou como flautista da banda Fifth Army Band:“Eu estava muito feliz e
1
Movimento Jazzístico surgido em meados dos anos de 1940, que desenhou o esqueleto, estrutura e
concepção do jazz moderno.
11
casa de seus pais estudando piano. Em 1955, se mudou novamente para New York para
Entre os trabalhos que fez como músico nesse período podem ser citados
tarde.
indicado para outros trabalhos por seus colegas e amigos Como foi o caso de sua estadia
alguns meses de 1953 com o clarinetista e band-leader Jerry Wald, líder de muitas
orquestras com quem Evans chegou a gravar em lançamentos hoje em dia fora de catálogo,
porém relatados nas fontes biográficas, tanto de Wald quanto de Evans2 o LP 45 ½ R.P.M.
Jerry Wald And His Orchestra (MGM/Lion L 70014). Aos 24 anos, tem-se o primeiro
registro de Evans atuando como músico encontrado disponível para possível audição.3
O primeiro trabalho, que deu mais credibilidade como músico a Bill Evans,
entretanto, foi o grupo do clarinetista/ saxofonista Tony Scott (1921-2007), com quem
2
Muitas fontes dessa pesquisa apontaram esses eventos citados como alguns dos cruciais antes da entrada de
Evans no universo em trio somente, por isso as referencias em numeração de catálogo de cds que fez
participações.
3
Esses discos poderão ser encontrados em comunidades de lojas especializadas, mercados de colecionadores
de discos de jazz no exterior, principalmente em países europeus que Evans gravou programas de rádio,
televisão e apresentações; e no mercado japonês da gravadora Riverside, onde Evans faz bastante sucesso
(vide a análise do álbum “Tokyo Concert” mais adiante nesse trabalho)
12
clarinetista, em temporadas do verão de 1956. A partir daqui, Bill Evans começou a ser
chamado para atuar como sideman4 dentro do universo jazzístico com mais recorrência.
Outro evento que teve crucial importância em sua maneira de tocar foi a
participação, ainda em 1956 o primeiro de alguns projetos que Bill Evans realizou com o
arranjador e compositor George Russell (1923-2009)5, Jazz Worshop (1956, RCA Victor,
escrito pelo último em 1953, Lydian Chromatic Concept of Tonal Organization (for
Improvisers)6
Nesse livro7, o autor propõe uma visão tonal tendo o modo Lídio8 (Ex. em Dó: dó,
ré, mi, Fá#, sol, lá, si) e seus empilhamentos verticais harmônicos como centro tonal. Em
vez de ter-se o centro baseado no modo Jônio, como é disposta da escala de Dó no piano
em suas teclas brancas - Que contém seus respectivos empilhamentos harmônicos e modos
provenientes (C7M, Dm7, Em7, F7M, G7, Am7, Bm7b5) dessa tonalidade que foi tomada
“Esta nova aborgagem foi baseada em um conceito de pantonalidade, - que ele distinguia
da atonalidade – e tinha sido abordado em seu livro Lydian Chromatic Concept of Tonal
Organization (for Improvisers). A idéia da fusão mais especificamente os aspectos
4
O termo Sideman é utilizado no meio musical para designar a função de “músico contratado”, que atua como
instrumentista de apoio em grupos de solistas ou cantores.
5
Curiosamente, George Russel, nos anos quarenta, trabalhou com um dos ícones da geração bebop, o
trompetista Dizzy Gillespie (1917-1993), no arranjo da faixa “Cubano Be/Cubano Bop” de 1947, quando
Evans ainda era estudante de música.
6
“Conceito de organização tonal através do modo lídio e seus caminhos cromáticos (para improvisadores) -
Tradução livre do autor.
7
N.A: Infelizmente, não há esse livro traduzido para o português e mesmo nos E.U.A. é um documento muito
caro e não tão fácil de encontrar.
8
N.A.: Exemplos em Dó são tomados com uma constante ao longo do trabalho para facilitar leitura e
pensamento mais ágil.
9
Padrões e regras tonais estabelecidos na Europa e adotados nas Américas através de colonizações e difusões
culturais.
13
Em Jazz Workshop, George Russell escreveu e arranjou doze peças baseadas nesse
conceito escalar e harmônico para um combo de seis músicos: Art Farmer no trompete, os
não tão conhecidos fonográficamente Hal McKusick no sax alto, clarone e flauta e Barry
Galbraith na guitarra. Além de dois baixistas e três bateristas que se revezam entre as
apenas uma faixa do álbum, tocando percussão cromática (uma espécie de Steel Drums) na
Outra faixa desse álbum é “Concerto For Billy the Kid”, uma faixa dedicada a Bill
Evans, dá espaço para o jovem pianista improvisar em cima desses conceitos que
permearam futuras abordagens que Bill teria em seus trios. Principalmente pelo fato de
Outra faixa que tem sua base formal em um standard - “Love For Sale” de Cole
Porter – é a faixa “Ezz-Thetic”, em que George Russell utiliza idéias harmonicas baseadas
em outro educador musical de grande importância e influencia nos anos 50, o pianista cego
Lennie Tristano (1919-1978)12. Tristano também teve influencia sobre Evans quando era
10
N.A.: Tradução livre. Entretanto o termo “negros” desse texto pode ser compreendido como aspectos
rítmicos comuns existentes na música afro que são a constante presença de instrumentos essencialmente
rítmicos, as fortes sincopas e o denominado swing que originou o jazz.
11
Incluindo o futuro parceiro de Evans, Paul Motian (1931) na bateria de algumas faixas.
12
Para mais informações sobre o trabalho de Lennie Tristano, é interessante ler o trabalho de dissertação de
Mário Checchetto Neto “O Free Jazz e a atonalidade” que explicam mais profundamente conceitos abordados
nos estudos do pianista.
14
estudante, com suas “concepções rítmicas e harmônicas, muito avançadas para a época,
Bill Evans, na segunda metade da década de setenta, chegou a colaborar com alguns
desses estudantes e difusores da escola de Tristano, sobre quem Evans declarou: “Eu ouvi
os integrantes de seu grupo construindo linhas [melódicas] que tinham design e estruturas
gerais [em seus improvisos] que eram diferentes de tudo que eu já tinha ouvido no Jazz. Eu
acho que fiquei mais impressionado com Lee [Konitz – Sax alto] e Warne [Marshall – Sax
tenor] mais do que o próprio Lennie, apesar de ele ser provavelmente a influencia que os
Essa influencia citada por Evans, é notável principalmente nas partes formais de
estudos propostos por Tristano, como acontece na faixa antes citada “Ezz-thetic”. Esta
composição de Russell para o álbum Jazz Sextet teve a harmonia baseada principalmente
nos estudos do tema “Love for Sale” que Tristano ensinava em suas aulas.
Interessante notar que Evans gravou “Love For Sale” e “I’ll Remember April” em
sua carreira após essa ocasião. Além de outros futuros trabalhos com Russell em futuros
projetos nas décadas seguintes de sua carreira, como no disco Living Time (1972, Legacy,
65467), com Bill Evans e uma peça escrita para Bill e uma orquestra.
importantes que tiveram impacto sobre o ainda jovem estudante de música Bill Evans das
décadas de 1940 e 1950, primeiro focando nos pianistas do gênero que apareceram antes de
O aparecimento de Bill Evans na cena jazzística como artista solo em meados dos
históricas provêm de nomes influentes de outros pianistas do gênero anteriores a Bill. Estes
compreender a influencia que pianistas do período pós-guerra tiveram sobre o ainda jovem
Bill em meados dos anos quarenta, até seu debut New Jazz Conceptions de 1956.
Este capítulo não tem a intenção de catalogar todos os pianistas de jazz anteriores a
Bill Evans, pois isso levaria em conta mais de meio século de história. A função dessa
supracitado.
Art Tatum (1909-1956), por exemplo, é um desses importantes pianistas, uma figura
central que influenciaria todos os boppers nos anos quarenta, antes da 2ª Guerra Mundial
característica estilística de Art Tatum era sua condução ágil nos acompanhamentos tanto
em stride piano13 quanto em harmônicos de sua mão esquerda (que tinha uma envergadura
Alguns nomes de peso na história do piano no jazz como Thomas “Fats” Waller
(1904-1943), James P. Johnson (1894-1955), entre outros não serão abordados para não
13
Stride Piano é uma técnica usada por pianistas nos anos trinta, em que á função da mão esquerda era
harmonizar e conduzir o baixo. Essa técnica pianística teve grande influencia do Ragtime, um dos gêneros que
originou o jazz. As conduções de baixo serviram de base para o desenvolvimento da técnica de walking bass,
entre os baixistas acústicos de Bebop em temas rápidos e lentos, com rítmicas semelhantes.
16
Para embasar essa pesquisa e organizar aspectos estilísticos desses pianistas que
tiveram influencia sobre Bill, faz-se necessário uma referência a um trecho da Biografia
Essa primeira leva de pianistas que são descritos têm, todos, algum tipo de
influencia em Evans, como o já antes citado Tristano, que o influenciou em suas assimetrias
Já Bud Powell, que assimilou características da avançada técnica de Art Tatum, teve
uma enorme influencia não apenas em Bill, mas na maioria de seus contemporâneos, por
14
Para realização desse trabalho, a fonte encontrada de maneira mais organizada para contextualizar
historicamente o aparecimento Bill Evans no cenário pianístico no capítulo 1.2 em específico, foi o primeiro
capítulo do livro Everything Happens To Me, de Keith Shadwick, que encontra-se apenas escrito em língua
inglesa, citado na biografia, para informações mais detalhadas sobre outros pianistas e características musicais
aprofundadas de cada um, recomenda-se a leitura do mesmo, cuja citação foi usada acima.
15
Tradução Livre do Autor.
17
“Powell, como Marmarosa e outros poucos pianistas de jazz da época, haviam tido
estudo formal de piano que permitia á ele usar sua imaginação harmônica e rítmica de
novas maneiras.(...)Outros elementos dentro de seu repertório de mão esquerda, incluindo
patterns de ostinatos, rítmicas baseadas em música latino-americana e caribenha, além de
ocasionalmente um sabor blues. Ele também usou o acompanhamento de acordes na mão
esquerda quando sentia que adicionaria outro elemento para suas idéias.” (SHADWICK,
2003, p. 11).
Thelonious Monk, que estava ‘eclipsado’ na época, devido aos seus constantes
estética díspare entre os dois pianistas. Isso pode ser na observado na constante inclusão de
A composição “Round Midnight” (T. Monk) pode ser ouvida tanto em gravações de
trio, como nos discos Trio 65’ (1965, Verve, 314-519808- 2), California Here I Come
Conversations With Myself (1963, Verve, 0602517036857), que contém ainda mais outras
Outro músico que aparece citado como influência em suas duas biografias e em
muitas declarações de Evans na mídia impressa ao longo dos anos é o pianista Nat “King”
Cole (1919-1965): “Eu sentei no mesmo piano e toquei nas mesmas teclas que Nat King
de Nat “King” como cantor e intérprete de standards, acompanhado por big bands. Cole
havia optado por uma carreira mais comercial como cantor, diferente de seu antigo trio, que
desde 1938, lançava álbuns instrumentais que influenciaram outros pianistas da geração de
Evans, como Oscar Peterson (1925-2007), que também tem muitos álbuns com essa
formação de trio.
da década de quarenta e na primeira metade dos anos de 1950. Como a quantidade desses
também é muito grande, apenas alguns serão citados, com a intenção de visar influencias
que esses pianistas, de uma época pós-Bebop (Post-Bop) e Cool, também tiveram sobre
Evans.
O primeiro a ser citado dessa segunda leva de pianistas é Dave Brubeck (1920), que
influencias rítmicas não tão usuais no jazz até então juntamente com uma rica linguagem
harmônica que abriu caminhos para explorações que Evans futuramente veio a fazer em
suas composições:
como “Waltz For Debby”, “Very Early”, etc., têm explorações harmônicas ricas e grande
quantidade de modulações, assim como acontece, por exemplo, na composição “In Your
19
Own Sweet Way” de Brubeck, que Evans gravou pela primeira vez em 1962. Evans
também tem outras composições como “Sugar Plum” que também passam pelas doze
Outro pianista, um pouco mais velho que Evans, que veio a ter uma importante
com os músicos da geração bebop, como o trompetista Dizzy Gillespie e o baterista Kenny
Clarke na década de 1940, e ainda trabalhou com figuras mais experientes do jazz como o
música europeia. Ele usava em seu grupo Modern Jazz Quartet (MJQ) e em peças escritas e
arranjadas por ele para grandes, pequenas formações e até orquestras sinfônicas:
projetos em que Lewis atuava exclusivamente como arranjador e Evans como pianista
como na faixa “Criss Cross [Variações em um tema de Thelonious Monk]”, do disco Jazz
Evans, principalmente no período dos anos 50, como pode ser visto na gravação de
20
“Conception” em seu debut, além da escolha de repertório de Evans conter muitos temas
Outros pianistas que podem ser agregados são aqueles que tocaram no grupo do
influente trompetista Miles Davis. Esse grupo inclui nomes como Red Garland, que assim
como Miles chegou a tocar com o saxofonista Charlie Parker (1920-1955). No ano 1956,
de Davis, cuja faixa título composta por Monk, teve bastante repercussão pela interpretação
de Davis e serviu de base para arranjos futuros de Evans e dezenas de outros músicos.
também da gravação de Kind Of Blue (1959, Columbia, 88697282382). Horace Silver, que
assim como Evans tinha forte influência das conduções de mão esquerda de Bud Powell,
jazzísticas.
Ahmad Jamal (1930), pianista da Filadélfia, que também tocou com Davis, chegou
características conforme levantado pelo biógrafo de Evans, Keith Shadwick: “Como Evans,
Jamal também foi muitas vezes acusado de ser emocionalmente fraco. Mas como Evans,
Jamal trouxe profunda emoção para sua música.”(SHADWICK, 2002, p.13). Ele também
com diversos pianistas de jazz de diferentes gerações: os que reviviam conceitos do Bebop
misturados ao soul e rhythm and blues no chamado hard bop; o cool jazz, que tinha como
características principais as riquezas harmônica, andamentos lentos; o free jazz que aos
poucos foi se delineando como influência em muitos jovens músicos dessa época por seu
21
desapego á formas tradicionais do jazz; o aparecimento da third stream que fundia aspectos
da música erudita européia com o jazz americano; o Modal Jazz, explorava modos e escalas
antigos como o swing e bebop, o jovem pianista Bill Evans, judeu e de descendência russa,
aparece no cenário musical de Nova York como um dos brancos mais respeitados por
jazzistas negros, numa época em que ainda existia um grande racismo politicamente aberto
nos E.U.A..
nas aspectos históricos e analíticos de sua discografia que vai de 1956, até sua morte por
Os discos lançados em trio por Bill Evans abrangem o período de 1956 até 1980.
Foram escolhidos para análises formais, rítmicas, harmônicas e melódicas, álbuns das
décadas de sessenta e setenta, com intervalos entre estes que não sejam de muitos anos,
para que não haja nenhum salto bruto entre mudanças de formações. Os discos que não
forem analisados serão citados para adicionar exemplos e dar continuidade histórica ao
trabalho, assim como para entender que procedimento Bill Evans usou estilisticamente ao
longo dos anos, seja em improvisações, em arranjos diversos para um mesmo tema ou solos
também é grande, a ênfase maior será dada aos chamados “trios regulares”, ou seja, os trios
que eram constantes durante os anos, que lançaram discos e fizeram apresentações ao vivo
o material fonográfico teve importância histórica e analítica para os meios antes citados. Os
discos lançados postumamente se forem citados, serão pelos mesmos motivos, sendo de
Os discos escolhidos para análise são Sunday At the Village Vanguard e Waltz For
Debbie de 1961, Moonbeams e How My Heart Sings de 1962, At Montreux de 1968, The
Bill Evans Album de 1971, Tokyo Concert de 1973, You Must Believe in Spring de 1977 e
Paris Concert - Edition I e II de 1979. No caso dos álbuns de 1961, 1962 e de 1979, foram
escolhidos dois lançamentos, ao invés de um, pois ambos são gravações ao vivo ou sessões
23
de estúdio que se completam, então podem ser considerados como um registro único, já
Esse grupo de álbuns inclui gravações em estúdio e ao vivo e são todas, sem
exceção, takes únicos, com as formas das músicas do começo ao fim, sempre com forte
performances de jazz:
“(...)O jazz é também uma arte visual. É uma manifestação que para ser percebida em sua
totalidade deve ser presenciada ao vivo. Mesmo que essa observação também possa ser
aplicada a outros gêneros musicais, no caso do jazz a performance encontra um grau de
interiorização musical gestual e emocional especialmente marcante. (...) Essa
expressividade está diretamente ligada à improvisação, procedimento que diferencia o jazz
de outros gêneros.”(CALADO, 1988, p. 18/19)
Apesar desses álbuns não mostrarem a imagem de Evans com as costas curvadas
em direção às teclas sem olhar para o piano, eles registram a intensidade sonora contida em
cada apresentação. E algumas transcrições são leituras desses momentos dos trios.
Dentre esses discos, foram escolhidas algumas das faixas que abrangem as
lidaram com os arranjos de Evans durante os anos, além da interpretação do próprio, que
serão analisados alguns elementos de improvisação, como em “Very Early” e “Re: Person I
Knew”, de autoria do próprio, gravação de 1962 ou “You Must Believe in Spring” (Michel
Legrand), de 1977.
24
A quantidade de temas que Bill Evans tocou durante sua vida como artista solo e
sideman é muito grande. Só em seu trio, existem registros em áudio de mais de 400
músicas diferentes lançadas no mercado fonográfico. Uma parte desses temas lançados
durante os anos e as características contidas durante o passar das décadas. Como antes dito,
Bill Evans havia sido bastante influenciado desde sua adolescência por temas populares
não necessariamente ligados ao jazz, pois já havia trabalhado com diversos grupos musicais
como bandas marciais, orquestras de Polka, casamentos judaicos, entre muitas outras
meios. Assim como Evans já foi gravado executando uma dezena de temas do pianista
Thelonious Monk, podemos ouvir também uma interpretação de uma peça do compositor
alemão J.S. Bach. Ou ainda um tema como “Someday my Prince will come” da trilha
Contudo, é possível notar certas preferências dentre as escolhas que são constantes
e fazem alguns temas ficarem em grupos que contêm características semelhantes. Para
composições.
16
Na dissertação de mestrado “Aspectos Estilísticos do Jazz através da identificação de estruturas verticais
encontradas na obra de Bill Evans”, o autor Marcelo Gimenes, lista as 652 músicas que Bill Evans gravou
como artista solo e sideman e quantas vezes cada uma foi tocada.
17
Esse tema foi primeiramente gravado por Dave Brubeck, cuja influencia já foi citada anteriormente.
25
Os autores que Evans fez interpretações podem ser selecionados em alguns grupos.
Estes englobam a maioria dos temas executados, vamos focar as canções selecionadas
A primeira leva de composições a ser explicitada são aquelas que são de pianistas e
encontrar temas que foram lançados por artistas de gerações anteriores e posteriores de
Evans, o que mostra o interesse contínuo por um tipo de repertório que lhe agradava, já que
Artistas como Earl Zindars (1927-2005)18, por exemplo, teve suas composições
gravadas ao longo dos anos mais de quinze vezes dentre seus álbuns. “Elsa”, um desses
posteriores.
“Elsa”, pode ser tomada como exemplo, pois traz uma característica formal que
virou uma marca registrada no repertório de Evans: A inclusão de temas que tivessem a
condução rítmica em 3/4 ou ternária. “Bill sempre me disse que era uma pessoa em 3/4, e
eu sabiamente concordava, pois eu era, também. Essa era provavelmente uma boa razão
porque ele tinha “Elsa” sempre pronta aonde quer que ele tocasse.”(PETTINGER, 1998, p.
104)
Os artistas que tiveram composições que podem ser citadas como referencia dentre
o repertório de Evans são: Thelonious Monk, Dave Brubeck, Michel Legrand, Denny
18
Earl Zindars (1927-2005) era compositor, percussionista sinfônico e pianista, natural de Chicago e amigo
pessoal de Evans.
26
dos músicos de jazz anteriores á Bill Evans, outras se tornaram parte desse repertório após
Os compositores mais gravados por Evans dessa segunda leva foram George
Gerswhin, Victor Young, Cole Porter, a dupla de compositores Richard Rodgers e Lorenz
O terceiro e último grupo são as composições do próprio Bill Evans, que são cerca
áudio e partitura, enquanto o pianista ainda era vivo. Temas como “Very Early”, “Waltz for
Debby”, “Re: Person I Knew” e “Turn Out the Stars”, fizeram parte de suas apresentações
do livro “The Harmony of Bill Evans” (REILLY, 1993), explicitaremos as formas mais
Evans explorou dois desses estágios profundamente ao longo dos anos, a forma blues
e a forma canção. Apesar de ser de uma geração de músicos que estava fortemente
relacionada com a exploração de formas mais livres, que desencadeou no movimento free
jazz, na virada da década de 50 para a de 60, Evans não abordava o terceiro estágio
27
anteriormente proposto somente, mas sim, relacionado aos primeiro e segundo, como o
próprio diz em uma entrevista para a revista de jazz Down Beat: “O único jeito que eu posso
trabalhar é tendo algumas restrições envolvidas – o desafio de uma certa arte ou forma – e
Segundo Reilly, a forma mais encontrada em seu repertório é a forma canção: “(...)
esse estágio está mais focado nas estruturas, relações entre tonalidades, e harmonia. (...)”
(REILLY, 1993). Sobre a forma canção, Bill utilizou recursos diferentes para explorar os
vinham sendo utilizadas desde o bebop, usualmente esses temas são tonais e possibilitam
Essa postura de reconstrução das estruturas internas como harmonia, melodia, sem
alterar a forma é algo que Evans se baseou em seus ídolos do bebop, como o antes citado
Bud Powell, sobre quem declarou uma vez: “Powell tem o talento mais compreensível para a
explicada anteriormente quando usada pelos músicos da geração bebop, que o mesmo deu
continuidade em sua música, aliada á uma maneira mais livre de tocar, por uma questão
Traçando um paralelo com trabalhos futuros que Evans lançou ao longo das décadas,
45 1/2 R.P.M., como a recente explosão da cena nova-iorquina de Bebop no fim dos anos
quarenta, além de transmissões de trilhas de filmes em rádios durante o dia nos anos 30,
quando Evans ainda estudava um repertório focado em peças eruditas de épocas diversas.
29
Antes de começar a descrever os álbuns que Bill Evans lançou como artista solo, é
necessário relembrar que ele estudava piano desde os três anos, já havia trabalhado com
dezenas de artistas e tinha gravado como sideman em oito discos, como afirma o site Bill
Apenas aos 27 anos, Bill Evans registrou uma primeira obra em seu nome, com
uma concepção musical sua, com temas de sua escolha, fazendo todos os arranjos, em uma
baterista Paul Motian. Esse álbum contém sete peças de outros compositores, incluindo
alguns standards e quatro temas de sua autoria, sendo um deles uma versão para piano solo
“Waltz For Debbie”, obra que no futuro se tornaria sua composição mais famosa. Nessa
sessão, ele também registrou em versão solo do standard “My Romance”, que fez parte do
repertório em trio, até o fim de sua carreira. Essa gravação ocorreu através de uma pequena
gravadora da época, chamada Riverside19 e de acordo com o biografo Peter Pettinger, foi
19
A Riverside Jazz Records, é um selo de jazz (hoje em dia administrado pela gravadora e
distribuidora mundialmente famosa Universal Music) por onde Bill Evans teve muitos de seus lançamentos
editados ao longo da carreira. Como legalmente, as gravadoras que lançaram na mídia os discos de Bill
Evans, normalmente têm direito sobre a reprodução desses documentos, muitos álbuns saíram postumamente,
lançados em CD’s e LP’S desde 1980 até hoje, com e sem autorização dos administradores do legado de
Evans.
As versões em CD’s de antigos LP’s, usualmente trazem logo em seguida ao take lançado
originalmente no LP, uma versão alternativa e completa do mesmo tema que não foi utilizada para aquela
gravação (Ex: “Gloria’s Step” - take 2 é a versão que foi originalmente para o álbum e “Gloria’s Step” – take
1 é o não utilizado, mas incluído no na versão em CD ) , fazendo com que haja uma enorme quantidade de
registros históricos de procedimentos e formas constantes. (N.A: Esses out-takes não serão usados para
análise nesse trabalho)
30
agendada em dois dias separados pelo seu futuro amigo e produtor Orrin Keepnews (1923).
“(...) Keepnews teve dificuldade em convencer Evans de que estava pronto para
gravar um disco solo, com seu nome, em trio; usualmente, é claro, é o artista que tenta
20
persuadir o produtor”.(PETTINGER, 1998, p. 36)
Apesar deste álbum ainda não ter a interação musical entre os executantes, que seria
de repertório são base para a maneira que seus futuros discos seriam concebidos. Na
disposição das faixas, verifica-se mescla de: repertório enraizado em standards de filmes,
contemporâneos que admirava; a inclusão de pelo menos uma faixa em ritmo ternário e
Entretanto, a inclusão de solos de baixo, ainda não acontece com tanta recorrência
aqui, pelas características rítmicas fortes e não tão melódicas de Teddy Konick. Outra
assinatura musical forte dos futuros Evans Trios que não ocorre em New Jazz Conceptions
é a atuação quase que solista de Motian, que continuou gravando com Bill Evans até
meados dos anos sessenta. Motian também aparece tocando de maneira diferente das
gravações posteriores do grupo, com mais condução rítmica e menos interação com as
improvisações do pianista.
Com esse disco Bill Evans iniciou sua carreira fonográfica como solista, entretanto,
apenas dois anos mais tarde, ele voltaria a gravar dessa mesma maneira. Esse primeiro trio
20
Tradução livre do autor.
31
não chegou a fazer apresentações ao vivo tocando as músicas escolhidas para essas sessões.
Evans era muito critico com suas performances, e como anos mais tarde em um
programa – entrevista de televisão, chamado “The Universal Mind Of Bill Evans”, ele disse
que após aquela gravação, ele se concentrou em estudar música e ter um cuidado maior
com ela:
“Eu me lembro quando vim para Nova York para tocar jazz. Eu ficava me
perguntando: Como eu posso atacar esse problema prático de me tornar um músico de
jazz e viver dessa profissão? E finalmente, cheguei à conclusão de que tudo que eu
preciso fazer é cuidar da música, mesmo que eu toque dentro de um armário. E se eu
realmente fizer isso, alguém virá e abrirá a porta do armário dizendo: Ei! Estávamos
procurando por você!”. (PETTINGER, 1998, p.38).
Nesse período que o pianista não gravou um trabalho próprio, ele começou a atuar
No ano de 1958, Bill Evans foi chamado para integrar o Quinteto do trompetista
Miles Davis durante seis meses de sua carreira, entre 1958 e 1959. Duas de suas
biografias disponíveis, que foram utilizadas para esse trabalho, citam esse período como
explícitas do próprio Davis sobre essa colaboração musical que houve entre os dois,
Essa pequena passagem pelo grupo de Davis tem um alto grau de importância
anos: desde o auge do Bebop, seus álbuns como líder - que começaram a ser lançados no
final da década de 1940 - contam com diferentes formações, que incluíam álbuns
32
inteiramente gravados por Big Bands e outros que continham formações pequenas como
quintetos (piano, baixo, bateria, trompete, saxofone tenor ou alto) eram comercialmente
Miles Davis, ao longo dos anos, também foi uma espécie de ‘descobridor de
talentos’ e seus grupos usualmente contavam com instrumentistas que com o passar dos
anos se tornaram referencia por suas maneiras de tocar e pela grande influencia que eles
passou pelo grupo de Davis é imensa, a carreira que cada um desses músicos
desenvolveram, em grande parte, têm relação com o envolvimento direto com Miles.
Com Evans não foi diferente, já que teve espaço para se expressar musicalmente quando
“O trompetista Miles Davis, após trabalhar com pequenas orquestra, havia finalmente, no
fim de 1955, formado o que viria a ser um grupo fixo, chamado de The New Miles Davis
Quintet. Os outros músicos do grupo eram John Coltrane no sax tenor, Red Garland no
Piano, Paul Chambers no baixo e Philly Joe Jones na bateria(...) Esse grupo ficou junto
na estrada durante dois anos e meio e fez uma série de álbuns clássicos(...) quando seu
líder, por muitas razões, começou á procurar por um novo pianista. Apesar do grupo ser
bem sucedido, haviam muitos problemas relacionados á drogas; [Red] Garland estava
tendo problemas com o vício que o tornava não confiável para o posto e Phillie Joe Jones
estava para ser substituído por Jimmy Cobb pelo mesmo movito. (...)” (PETTINGER,
1998, P. 52, 53)
Por indicação de George Russel, arranjador que era um amigo em comum de ambos,
Miles Davis contratou Bill Evans para abordar uma nova concepção musical direcionada
Tal claridade cool, sem sacrificar a flexibilidade, chamou a atenção de Davis como a
fresca linguagem harmônica que Evans trouxe para suas conduções de vozes no piano
[voicings].” (PETTINGER, 1998, P. 52)
Bill excursionou com esse quinteto, que desde 1957, havia se tornado um sexteto,
com a adição de Julian “Cannonball” Adderley no Sax alto, durante sete meses no ano de
1958, tocando um extenso repertório que incluía temas que foram regravados e
rearranjados por ele em seus trios como o Standard “All Of You” (Cole Porter). É
importante relembrar que o primeiro disco de Bill Evans como líder, New Jazz
Após meses de excursão com esse grupo, Bill Evans havia desenvolvido seu vício
em heroína e estava sofrendo grande pressão pelas longas excursões do Sexteto de Miles
Davis através dos E.U.A. Além do fato de Evans ser o único branco na banda de Davis,
algo que fazia com que o pianista virasse alvo de manifestações racistas que eram comuns
tanto em meios brancos contra negros, como em meios negros que não aceitavam
brancos.
fizeram com que Evans deixasse o grupo amigavelmente, para descansar e repensar a sua
carreira.
Também neste ano, juntamente com seus colegas de trabalho John Coltrane, Miles
Davis e Paul Chambers, Evans tocou em algumas faixas de um disco em Big Band do
compositor e arranjador francês Michel Legrand chamado Legrand Jazz. E como é dito no
nome, contém uma série de faixas de clássicos do jazz americano, apenas com músicos dos
34
Estados Unidos. Muitas composições de Legrand vieram fazer parte do repertório de seus
Com essa quantidade de aparições como sideman, Evans gravou seu segundo álbum
com um título sugestivo para a situação artística que estava vivendo: Everyboy Digs Bill
Evans foi lançado em 1959, quase três anos depois de sua estréia em trio. A capa do
trabalho trazia várias pequenas frases de artistas em voga no mundo do jazz do final da
modestamente, com seu típico senso de humor: “Porque vocês não pegaram uma frase da
Essas sessões contaram com seu companheiro de banda Philie Joe Jones, segundo o
próprio Evans “seu baterista favorito” e o baixista Sam Jones. Apesar de seus
parecida em muitos aspectos com New Jazz Conceptions. Momentos de piano solo voltam
a aparecer no álbum, assim como a mescla de composições próprias com outras de artistas
que admirava e a inclusão de um tema em ritmo ternário. Esse trio também só tem esse
Apesar de Evans ter deixado o grupo de Miles Davis em 1958, no ano seguinte, ele
foi chamado para uma gravação do grupo que estava planejada antes da entrada de
“Wynton havia se juntado ao grupo um pouco antes de eu entrar em estúdio pra fazer
Kind Of Blue, mas eu já havia planejado um álbum baseado na maneira de tocar de Bill
Evans, que tinha concordado em gravar conosco.” (DAVIS apud PETTINGER, 1998,
P. 81)
Para a gravação desse álbum, que contém cinco composições que trabalham em
desse trabalho.
características e relatos sobre a gravação do álbum Kind Of Blue, que está citado na
bibliografia. Devido á esse documento e há muitas outras referencias históricas de que são
de fácil acesso, também em função do recente aniversário de cinqüenta anos desse álbum
em 2009, essa monografia não pretende se alongar sobre a história da gravação desse disco,
Em 1959, Evans começou a procurar músicos para integrar um trio fixo que além de
fazer gravações, se apresentasse ao vivo. Era o primeiro trio “regular” do pianista, que
contava com Paul Motian, seu antigo companheiro do quarteto de Tony Scott. E um jovem
contra-baixista chamado Scott LaFaro, que também estava envolvido com algumas
personalidades importantes para o nascimento do free jazz, como Ornette Coleman e Eric
Dolphy.21
Evans estava á procura de uma forma de expressar sua música nesse trio, como ele
“Eu espero que esse trio cresça em direção á improvisação coletiva, em vez de um cara
solando e sendo acompanhado por outro. Se o baixista, por exemplo, ouve uma idéia que ele
quer responder, por que ele deveria apenas continuar conduzindo em 4/4? Os homens que vou
trabalhar aprenderam a tocar da maneira comum, então eu penso que agora nós temos a
permissão de mudar isso e tocar diferente. Afinal, nas composições clássicas, não se ouve
uma parte que continua estagnada até que haja um momento solo. Existem passagens
transicionais de desenvolvimento - uma voz começa a ser escutada mais e mais e finalmente
cai na notoriedade”. (PETTINGER, 1998, p.98)
Com essas idéias e a formatação de um trio fixo, Evans gravou no final de 1959
Portrait In Jazz (Riverside, 187306), o primeiro de quatro álbuns com esses três
21
No ano de 1960, foi lançado o álbum Free Jazz (Waner Jazz, 8122736092) do quarteto duplo de Ornette
Coleman que incluia dois baixos, duas baterias e quatro sopros. Esse é considerado um álbum divisor de
águas para o jazz e LaFaro é um dos baixistas.
36
recorrentes na abordagem de Bill Evans como band-leader aparecem com esse lançamento,
Entretanto, segundo o produtor Orrin Keepnews, esse ainda é um álbum que mostra
um período de transição na carreira de Evans, pois ainda contém, como em seus dois álbuns
abordados por pianistas como Horace Silver e o já antes citado Lennie Tristano, que eram
em 1961, após esse disco ter sido lançado, o grupo já estava com um entrosamento maior
que Evans desejava aos poucos se concretizavam. Quatro, dos oito temas de Explorations
fizeram parte de seu repertório ao longo dos anos, como a antes citada “Elsa”.
Outra dessas faixas é a primeira gravação do tema mais tocado por Bill Evans em
toda a sua carreira23: “Nardis”, que tem seu primeiro registro fonográfico no álbum Portrait
que Evans participou como sideman em 1958. O tema foi composto pelo ex-band leader de
ambos Miles Davis especialmente para essa sessão do quinteto do saxofonista, acabou por
se tornar um dos clássicos do repertório dos diversos Bill Evans Trios ao longo dos anos.
22
Informação colhida do podcast “Portrait of Bill”, que contém uma entrevista com o produtor Orrin
Keepnews realizada pela Concord Music,Group (www.concordmusicgroup.com), que cuida de relançamentos
de álbuns que Keepnews produziu, incluindo os quatro lançamentos de Bill Evans com Scott LaFaro.
Acessado via YouTube (Http://www.youtube.com/watch?v=Ahgg4G3xLZM) dia 28/09/10.
23
Como consta no “Anexo 2. Temas tocados por Bill Evans” do mestrado de Marcelo Gimenes de 2003
citado na bibliografia, existem 49 registros diferentes de “Nardis” disponíveis em áudio.
37
pequena casa de jazz, com grande importância para o gênero: o Village Vanguard24. Uma
dessas apresentações foi gravada em um domingo que o trio fez três entradas e foi lançada
em dois LP’S em 1961: Sunday at the Village Vanguard (Riverside,1861402) e Waltz for
para essa gravação que aconteceu em uma matine de domingo, em cinco entradas com
cerca de vinte minutos cada. Variações em cada set mostram que havia um extenso
rítmica constante no baixo, como acontece em “Solar” de seu antigo parceiro Miles Davis,
ausentando as cabeças de tempo. Algumas vezes colocando pausas longas que não são
usualmente utilizadas em ritmos acelerados do jazz que já haviam existido antes do Bill
Evans Trio.
Até então, temas rápidos eram feitos com uma condução que marcava mais
constantemente a clave que indicava acentos nos tempos fracos de um compasso (dois e
longo desse tema, onde recursos mais tradicionais do jazz como o walkin’ bass é executado.
24
O Village Vanguard é uma pequena casa de jazz situada na cidade de Nova York, que tem uma grande
importância na história do estilo, pois por lá já passaram e ainda passam nomes que são expoentes de gerações
distintas. O Bill Evans Trio era atração do lugar quase que anualmente, quando estavam na capital nova-
iorquina. Para mais informações sobre a casa, gravações de músicos que tocaram no recinto, etc. recomenda-
se o livro Ao vivo no Village Vanguard, citado na bibliografia.
25
LaFaro aparece com duas composições: “Gloria’s Steps” e “Jade Visions”, que tinha sua fórmula de
compasso em 9/8, algo raro no repertório de Bill.
38
Entretanto também existem pausas na condução tanto de baixo, quanto de bateria, que não
Outro recurso que também seria bastante utilizado futuramente era o fato de o
idéia do solista, muitas vezes um ostinato do piano, algum pedal de baixo ou a antecipação
A performance do baixista Scott LaFaro nesses dois discos ao vivo é algo que deve
ser focado pois influenciou inúmeros baixistas e outros músicos de distintas gerações
devido á sua abordagem não convencional de condução no baixo, sua interação com o Bill
Marc Johnson (1953), último baixista que tocou com Bill Evans no período de 1978
LaFaro:
“Scotty tinha um som único e original – tão real e fluido. Ele não usava nenhum tipo
de captação no contra-baixo, não é possível ouvir nenhum barulho de cordas de metal soando,
pois ele usava cordas de tripa. Ele também era muito melódico e inventivo, soava como um
instrumento de sopro quando improvisava nas regiões agudas. Em um período de minha vida
fui mais a fundo em coisas que ele fez, para entender escolhas e colocações de notas quando
ele acompanhava. As coisas que ele fazia entre as frases de piano e sua condução rítmica
através do tempo eram fenomenais e tiveram um impacto profundo sobre mim. Era algo
conceitual, ele servia de contraponto melódico para tudo que estava acontecendo. Ele não
conduzia o tempo inteiro em 4/4, apesar de ter uma conexão forte no groove com Bill e Paul
Motian. Quando eles tocavam baladas, mudavam a intenção rítmica em “primeira-marcha”
para “segunda-marcha”, depois voltavam para a primeira com implicação de double time e
outras medidas. Ele tinha idéias que atravessavam partes da música e ofuscavam essa
mudança. Sua maneira de tocar era verdadeiramente criativa e bela” (2008, Bass Player)
26
Resposta para a pergunta “Como Scott LaFaro influenciou o seu jeito de tocar Contra-baixo?” na entrevista
concedida ao redator Anil Prasad do site Bass Player (http://www.bassplayer.com/article/marc-johnsons-
homage/mar-08/34331 ) em 2008, em suporte para a divulgação do cd da pianista Elliane Elias “Here is
Something for You”, homenagem a Bill Evans, em que Marc Johnson é o baixista. Acessado dia 12 de agosto
de 2010.
39
de alguns trechos do improviso do baixista Scott Lafaro, que exemplificam essas interações
entre os três músicos. A forma da música é derivada da Forma Blues de 12 compassos, com
uma rearmonização.
do piano com acordes de três á cinco vozes, com ausência de Fundamental e aberturas que
enfatizam as extensões dos acordes (9as, 13as, 11as) e o pedal de sustain pressionado. Há
pausa de colcheia no primeiro tempo de cada compasso, ou ligaduras que saem do segundo
fraseado de LaFaro.
segundo, na primeira linha do exemplo, vê-se claramente que o baterista Paul Motian vai,
aos poucos, limpando sua condução para deixar o baixo se destacar como solista. As duas
últimas linhas transcritas do solo de baixo na página seguinte (onde há indicado “8ª”)
exemplificam o uso constante de regiões agudas, algo que seria característico de todos os
Esse exemplo mostra a preocupação que Evans tinha com a passagem de um solista
para outro. Os finais das improvisações são pontos cruciais para que as idéias do próximo
solista possam tomar forma com clareza. A transição de um solo para outro não acontece de
27
Transcrição retirada do livro “Artist Transcriptions – Bill Evans Trio – Volume 1”, p. 114 e 115, como
explicitado na bibliografia.
28
“Solar” é a faixa 1 do CD Anexo 1 – Exemplos em áudio, o exemplo transcrito inicia-se em 3:27
40
maneira abrupta, já que Evans usualmente finaliza seus improvisos antes dos últimos
A variação de densidade rítmica nessa transição é algo á se notar, pois nos primeiros
harmonia. Apenas no segundo tempo do primeiro compasso da segunda linha da Figura 229,
LaFaro inicia realmente seu solo, com uma frase de colcheias melodicamente ascendente,
Esse início de solo é característico ao longo dos anos e terá uma comparação futura
com solos de baixistas posterior á LaFaro, que foi o primeiro á enraizar essas fortes
características do papel do contrabaixo. Após esses dois chorus exemplificados, Bill Evans
29
Exemplo retirado de Artist Transcriptions – The Bill Evans Trio – Volume 1, págs.15,16
41
O tema “My Foolish Heart”, composto por Victor Young para a trilha sonora do
filme de mesmo nome, é a primeira faixa de Waltz For Debby. Esta primeira gravação em
Lá maior, uma tonalidade não muito comum no repertório jazzístico até então, é um
standards. A condução do baixo nesse tema acentua apenas o primeiro tempo de cada
compasso, assim, espaços aparecem para que as vozes internas da harmonização do tema se
destaquem.
Essa é mais uma característica que veio a ser comum ao longo dos anos em baladas
em andamento lento. Outra balada desse álbum que contém similaridades em andamento e
nome, em uma nova versão. O tema é exposto com piano solo em rubato em 3/4, como na
versão original de seu disco de estréia. Quando os improvisos são iniciados, a rítmica da
música muda de 3/4 para 4/4, reduzindo dois compassos de 3/4 para um de 4/4, fazendo
com que haja dois acordes por tempo nas seções de improviso de piano e baixo
Essa redução formal que ocorre acontece de maneira natural, já que o valor de duas
semínimas de um compasso de 4/4, fazendo com que a adaptação rítmica não soe forçada e
o andamento da música não acelere de maneira perceptível. Outro fator interessante é como
LaFaro e Evans inserem figuras rímicas que remetem ao 3/4 quando estão em 4/4.
30
CD Anexo 1 – Faixa 2 : “Waltz For Debby”
44
A Figura 231 mostra o momento em que ocorre essa transição rítmica de ¾ para 4/4
que voltará a aparecer com os anos, sob diferentes formas, em discos de trios posteriores.
há uma acentuação do baixo junto com o piano, que faz uma convenção rítmica com os
últimos acordes do tema em voicings em clusters e outras aberturas no piano de cinco á sete
vozes internas.
primeiro compasso da última linha do exemplo o contra-baixo acentua pela primeira vez o
31
Exemplo retirado de Artist Transcriptions – The Bill Evans Trio – Volume 1 pág. 138
32
Faixa 2 do CD Anexo 1, A Figura 2 transcrita aparece aos 0:57 segundos
45
condução delineada aos poucos, quando aparece “moving up” na partitura e a rítmica em
46
4/4 é explicitada aos poucos. Em outras músicas futuras, as transições de rítmicas serão
continuar em 4/4, para que não haja uma mudança brusca na condução, então, a rítmica do
por “colla voce”) que valoriza aspectos harmônicos que viriam a se tornar também uma
33
Exemplo retirado de Artist Transcriptions – The Bill Evans Trio – Volume p. 159. Faixa 2 CD Anexo 1 –
6:43
47
Essa opção, mostrada na Figura 4, de encerrar o tema com uma pequena coda quase
Infelizmente, dez dias após essa gravação ao vivo, que veio a ser uma das obras
LaFaro em seus seis anos de atividade como contrabaixista trouxe uma nova estética para a
como o baterista Paul Motian declarou anos mais tarde em uma entrevista em 1996:
“Nós não sabíamos o que fazer, não sabíamos se ainda tínhamos um trio. Nós
havíamos chegado em tal pico com Scott, com tanta liberdade. Parecia que tudo estava se
tornando possível (...) Nós possivelmente iríamos fazer uma sessão de gravação com Miles
Davis: o trio, Bill, Scott e eu... Nós estávamos falando com Miles sobre isso, estava tudo
sendo preparado, então Scott faleceu e tudo foi esquecido.” (SHADWICK, 2002, p. 91)
Evans foi o mais abalado emocionalmente, entrando em um período que sofreu uma
forte depressão e abusou fortemente do uso de heroína, uma dependência tóxica que lhe
causou muitos problemas em toda a sua vida. O resto do ano de 1961 foi muito difícil para
que tudo havia parado. Eu nem tocava piano em casa” (PETTINGER, 1998, p. 119).
como sideman, como na orquestra do arranjador Tadd Dameron, no disco “The Magic
Touch” (1962, Riverside RLP 419). Um disco em duo com o guitarrista Jim Hall
48
1426) do flautista Herbie Mann, contando com a participação de Paul Motian na bateria e o
novo baixista de seu reformulado trio, que já foi citado nesse trabalho: Chuck Israels.
As sessões que renderam os dois primeiros registros com o jovem Israels, que
substituiu LaFaro, aconteceram entre maio e junho de 1962 e renderam dois discos:
Moonbeams, disco inteiramente composto por baladas e temas em andamento lento. E How
My Heart Sings, que tem temas em andamentos mais rápidos, além de standards mais
“cantáveis”.
A proposta, ainda inédita na carreira de Bill, desses dois lançamentos foi sugestão
de Orrin Keepnews, que novamente produziu o disco e tem uma composição de Bill
O repertório desse par de discos contém algumas de suas composições que ainda
não haviam sido registradas por seu trio. Esse grupo de composições diversas, dispostas em
dois álbuns diferentes, traz as formas mais importantes e usuais no repertório de Evans
Esses temas são: “Re: Person I Knew”, “Very Early”, “Walkin’ Up”, “34 Skidoo”,
“Show-Type Tune”. A seguir, haverá uma descrição da forma de cada tema comparada ao
dos outros temas (standards e temas de outros pianistas) contidos nesses dois álbuns de 62
com Israels.
(ISRAELS, 1985, p. 114). Esse pedal sustentado na nota Dó durante a exposição do tema,
faz com que a harmonia da música contenha apenas acordes que contenham a nota Dó
como nota principal da tétrade (T, 3ª, 5ª, 7ª) ou extensão (9ª, 11ª, 13ª) – C7M,
C7M (#5), Cm7, Cm7M, Fm7, Bb7M9, Bb7M9 (#5), Db7M. Essa harmonia movimenta-se
de maneira que privilegia os movimentos das vozes internas do acorde, com movimentos
ascendentes e descendentes de quinta, como mostra a Figura 434 á seguir que mostra a
34
Exemplo retirado de Artist Transcriptions – The Bill Evans Trio – Volume 2 – pág. 67. Faixa 3, CD Anexo
I, 0:00.
50
É importante notar que Evans ressalta cada modo utilizado em cada acorde,
Com valorização rítmica que é viável devida a dilatação do tempo, que só começa a ser
acima.
51
por duas grandes editoras com análises que apontam importantes aspectos melódicos
três em três notas nas colcheias dos compassos 49 e 50 desse próximo exemplo. Assim
35
Exemplo retirado de Bill Evans – Signature Licks – P. 20. Faixa 3 CD Anexo 1,
52
Esses desenvolvimentos de motivos rítmicos foram, ao longo dos anos, sendo aprofundados
e alongados nos chorus de improvisação das dezenas de gravações de Bill sobre o tema.36
O final da improvisação de Evans retoma a idéia das tercinas como na Figura 637 á
seguir, com uma longa frase que ocupa quatro compassos a partir da segunda linha do
motivos rítmicos que antecedem a harmonização nas regiões agudas do piano na indicação
36
“Re: Person I Knew” tem algumas versões em áudio disponíveis no cd Anexo 2.
37
Exemplo retirado de Artist Transcriptions – The Bill Evans Trio – Volume 2 - pág. 75 e 76.
54
O tema “Very Early” é outra composição de Evans, que esteve presente em seu
repertório constantemente desde essa gravação de 62. Essa outra valsa (waltz) de seu
“Em de seu terceiro ano na faculdade, Evans produziu uma pequena obra prima em 3/4
que ele chamou de “Very Early”. É uma peça que contém sua escrita altamente
disciplinada, que pode suportar as mais rigorosas análises estruturais. (...) Essa
abordagem foi a espinha dorsal da forma e conteúdo da arte de Evans. (...) Quando
ouvimos sua música, estamos conscientes não do processo de composição, mas da poesia
resultante. Tocada “por inteira”, a peça é uma jóia lírica, que também providenciou
caminhos harmônicos ricos para a improvisação, essa é uma das primeiras composições
que sustentaram Evans ao redor do globo por trinta anos.” (PETTINGER,1998 , p. 17)
“Very Early”, que tem sua estrutura formal AAB, também traz momentos
“(...)O solo começa depois de duas passagens completas pelo tema. Não é muito longo ou
difícil mas contém as características essenciais das técnicas de Evans: posições fechadas na
mão esquerda, acordes com omissão de Tonica, dobras rítmicas de mão esquerda e direita,
desenvolvimentos de motivos e variedade rítmica. Evans usa ativamente sua mão esquerda
em grande parte desse solo. Importante notar que a mão esquerda dobra muitas rítmicas
importantes de sua linha melódica.” (EDSTROM, 2003, p. 52)
A Figura 738 mostra essa presença da mão esquerda, onde há dobras rítmicas em
e 48 do improviso de Evans:
38
Exemplo retirado de Bill Evans – Signature Licks – P. 54. Faixa 4 - CD Anexo 1
57
Interessante notar que o arranjo dessa versão se difere da tocada por seus outros
trios nos anos seguintes, já que seu solo de piano não vai para a segunda parte da música,
fazendo com que haja um vamp na seção A. Em gravações dos anos setenta, o solo de piano
Evans desenvolveu ao longo dos anos com outras composições como “We Will Meet
Again”, “B Minor Waltz”, entre outras. Temas ternários de outros compositores também
podem ser agregados em um grande grupo dentro do repertório tocado por Evans.
O tema “Walkin’ Up” “é baseado em acordes maiores e tem uma melodia que se
movimenta com grandes saltos melódicos disjuntos”(ISRAELS, 1985, p.113). Sua estrutura
A peça se torna modalmente estática aos modelos de “So What” de Miles Davis na
parte B do tema e estabelece uma melodia com semínimas e mínimas pontuadas, que
atravessam compassos, com fortes características modais, como a escala dórica sugerida
harmônico por quatro compassos na segunda parte. Procedimento semelhante ao que ocorre
no rhythm changes. Como pode ser observado na partitura cifrada do tema a seguir
39
Exemplo retirado de Bill Evans Fake Book – Pág. 90. Faixa 5 – CD Anexo 1
59
em AABA com 32 compassos (oito compassos para cada parte), foi muito utilizada e
consagrada no período Bebop, porém tem o seu material harmônico usado insere
características pantonais que se diferem das abordagens utilizadas em tal gênero. Evans já
60
havia gravado outros temas que continham essa estrutura, como “Oleo” (Sonny Rollins) e
“34 Skidoo” é outro tema que desenvolve uma idéia antes utilizada e exemplificada
tem sua fórmula de compasso que varia de 3/4 para 4/4 no decorrer do tema. Entretanto,
diferentemente de “Waltz for Debby” que se inicia em 3/4 e depois tem sua forma adaptada
para 4/4 em suas seções de improvisação, “34 Skidoo” tem mudanças em sua fórmula de
compasso nas suas mudanças de seção: “A primeira parte desse tema consiste em uma séria
de acordes sobre um baixo pedal em Mi.(...) Não há uma melodia “real” nessa
seção”(EDSTROM, 2003, p. 40), como exemplifica a partitura cifrada desse tema do Bill
40
Exemplo retirado de Bill Evans Fake Book – Pág. 73. Faixa 6 CD Anexo 1
61
Em anexo nesse trabalho estão incluídas três versões do tema “34 Skidoo” que
foram tocadas ao longo dos anos, com três diferentes formações41. Interessante notar como
cada baixista e baterista acrescentam aspectos musicais que se diferenciam em cada versão
ao longo dos anos. Já que tecnicamente, harmonicamente e ritmicamente, esse tema traz
O tema “34 Skidoo” varia ritmicamente de ternário para binário, assim como a faixa
título de um dos dois discos: “How My Heart Sings!” (Earl Zindars), que tem a forma mais
um ciclo harmônico de quatro acordes com presença de baixo pedal, distribuído em quatro
compassos em 4/4 que se repetem três vezes e não tem tema definido; o B ocupa doze
compassos de 3/4 e tem seu tema é em colcheias pontuadas, fazendo com que haja
sobreposição rítmica binária contra a fórmula de compasso ternária; a parte C é outro ciclo
harmônico de quatro acordes em quatro compassos de 4/4, repetidos três vezes como o A; e
a parte D, que como o B, tem um ciclo harmônico mais denso e tem uma sobreposição
uma coda em Lá bemol menor, com harmonia estática em 4/4. Esse tema também é outro
exemplo da riqueza harmônica e rítmica que Evans aborda: “Evans pegou a idéia de
justapor partes diferentes ritmicamente entre si do tema “How My Heart Sings” de Earl
41
As três gravações datam respectivamente de 1962: com o baixista Chuck Israels e o baterista Paul Motian,
1974: com o baixista Eddie Gómez e o baterista Marty Morell e de 1979: que conta com Marc Johnson no
contrabaixo e Joe Labarbera na bateria. E são as faixas 7, 8 e 9 do CD Anexo 2 – comparações.
63
ricas formas, incluindo mudanças rítmicas e partes que transcendem as formas Standard de
32 compassos AABA ou ABAC – citadas no capítulo 2.1 - pode ter como ponto inicial a
composição analisada “34 Skidoo”. Outras composições de Evans que contém essas
“Show Type Tune” é uma composição que, como o próprio nome sugere, era para soar
“Temas normalmente me requerem muito trabalho mais tarde no piano. Mas esse veio
quase completo. Eu ainda tenho muitas composições em meus cadernos que eu deveria
revisitar e terminar. Eu li em algum lugar que George Gerswhin tinha que escrever doze
temas ruins para escrever um bom. Isso me dá confiança”.(EVANS apud PETTINGER,
1998, p.129).
A maneira que esse tema é apresentado também remete aos antigos standards e
trilhas de filmes que fizeram parte de seu repertório do começo ao fim de sua carreira. Sua
primeira parte, chamada de sessão A (na partitura a seguir), é tocada sem condução rítmica
de maneira livre (Freely) e ocorre apenas uma vez no tema, servindo apenas como uma
Essa parte A que se difere das outras partes é equivalente a recitativos (também
conhecidos como “verse”, como indicado no início do exemplo a seguir) que antecediam as
formas usuais AABA ou ABAC de antigos standards. “Love For Sale” de Cole Porter e
“My Funny Valentine” (Rodgers/Hart) contêm letras e estruturas próprias, também tocadas
de maneira livre, sem condução rítmica. O ‘recitativo instrumental’ de “Show Type Tune”
também se diferem de suas outras partes que usualmente são utilizadas para improvisação
64
exemplifica a partitura cifrada tema da gravação de “Show Type Tune” de 1962 na Figura
1042:
42
Exemplo retirado de Bill Evans Fake Book – Pág. 62, 63, Faixa 7, Cd Anexo 1.
65
compreendido na terceira linha da parte C do tema. Mais uma vez o recurso de baixo pedal
aparece como parte integrante da composição. Nos últimos compassos, onde há a indicação
“Fine” é possível encontrar um turnaround que contém somente acordes maiores (F7M,
Ab7M, Db7M e Gb7M), esse recurso harmônico também é característico dessas seções da
música.
Chuck Israels, o jovem baixista estreante dessa segunda formatação do trio tem um
início da forma e como ocorria essa passagem do tema um improvisador para outro:
67
“ Em uma forma de trinta e dois compassos, por exemplo, os dois últimos compassos
costumam ser um vácuo entre os chorus, onde a harmonia se movimenta da Tonica
para a Dominante, com o intuito de preparar a Tonica que normalmente aparece no
começo do próximo chorus. Os músicos de jazz chamam esse final de seção de
turnaround. Muitos improvisadores sofisticados deixam seus melhores licks - frases
melódicas características pré-definidas para execução nesse esse momento -
parcialmente devido á harmonia, que cai em um número limitado de padrões que
renovam idéias para o improvisador. Evans enxargava o turnaround como pertencente
ao próximo chorus, em vez de encará-lo apenas como um final. Na prática, isso
significa que uma nova idéia poderia ser introduzida no turnaround, podendo haver um
desenvolmento no chorus seguinte. Esse simples conceito é arrebatador e tem um
efeito eletrizante no grupo. O improvisador pode solar com confiança nas passagens de
chorus, sabendo que o solo iria tanto continuar, ter uma nova idéia inserida ou acabar,
apenas se mantendo alerta nos turnarounds. Evans tinha princípios orientadores que
procuravam articular a execução desses temas, para fazer transições suaves e
interessantes.”(ISRAELS, 1985, p.112-113)
maneira mais próxima aos antigos standards é executado por Israels, que ainda não estava
musicalmente entrosado com o trio nessa primeira gravação e não faz tantas intervenções
Por esse motivo e por outras características técnicas e estéticas da maneira de Chuck
Israels tocar baixo, esse segundo trio fixo teve o direcionamento de repertório e arranjos
interpretações de temas, improvisos do piano de Evans, como pode ser conferido nos dois
Ainda no ano de 1962, Evans foi convidado a participar de uma gravação em trio
pelo baterista Shelly Manne (1920-1984) e, juntamente com o baixista Monty Budwig
(1926-1992), que resultou no álbum Empathy (1962, CTI Records, 11262) que contém
apenas standards e se difere dos conceitos abordados por Evans em seu próprio trio.
No ano de 1963, após problemas de agenda tidos com Paul Motian, Evans teve de
procurar um substituto para o posto da bateria quando Motian tivesse algum outro
compromisso. Após alguns testes e apresentações com substitutos, Larry Bunker (1928-
68
2005), baterista californiano que já havia tocado ao vivo e gravado em estúdio com nomes
como Ella Flitzgerald, Billie Holiday e Art Pepper foi o escolhido para o posto. Bunker
Angeles.
Com esses “novos ares” provindos das características de Larry Bunker como músico, o Bill
Evans Trio voltou a tocar com uma formação fixa em casas de jazz americanas e européias.
O álbum seguinte mostra partes de uma apresentação desse novo trio. At Shelly
Manne’s Hole (1963, Riverside, OJCCD 263-2) contém standards, alguns temas já
gravados anteriormente como novamente “Round Midnight” (T. Monk), com um longo
solo do baixista Chuck Israels, mais interado a concepção de trio proposta por Bill:
“ Esse álbum ao vivo mostra um Israels que claramente evoluiu, comparado ao músico
tímido de Moonbeams e How My Heart Sings, do ano anterior. Esse trio parecia ter
encontrado um novo equilíbrio, com Israels e Bunker talvez não exatamente “voando” e
interagindo com improvisações simultâneas, mas providenciando uma base sólida, calma e
tranquila o suficiente para o que Evans necessitava naquele momento. Seu repertório
permaneceu mais ou menos estático durante esses anos. Nessa época, compôs muito pouco,
tocando, pelo menos até 1966, suas composições que datavam até 1962, juntamente com
standards e canções pop, ás vezes com uma ou outra nova adição de algo diferente.”
(PIERANUZI, 2003, p. 102)
Em 1964, Evans teve seu primeiro lançamento via outro selo que não a Riverside
Records. Trio 64’ foi o primeiro lançamento de Evans pela Verve Records, do produtor
Creed Taylor. Para essa sessão, curiosamente, o produtor escolheu o baixista Gary Peacock
(1935) e o baterista Paul Motian, que aparece em estúdio pela última vez ao lado de Evans.
Esse trio gravou apenas nas sessões que deram fruto ao Trio 64’(Verve, 1964, 8578).
standards está a canção “A Sleepin’ Bee” (Harold Arlen), trilha do filme House Of
Flowers, que tem sua estrutura e harmonia baseada no arranjo feito para a cantora Bárbara
Streisand da mesma canção, com letra do escritor norte-americano Truman Capote (1924-
Apenas em 1965, após o projeto With Symphony Orchestra - que trazia essa edição
Claus Orgeman (1930) - que o trio Israels-Bunker entrou em estúdio e registrou Trio 65
Para esse álbum, Evans escolheu apenas composições que já haviam sido lançadas
em discos anteriores, atitude que lhe rendeu críticas negativas da mídia na época.
Curiosamente, Trio 65’ conta com três faixas são aberturas de três discos antecessores á
esse:
“Israel” (John Carisi), que abre o disco Explorations de 1961, com o baixista Scott
LaFaro aparece em Trio 65’ com um andamento mais rápido e convenções rítmicas
adicionais. Já “Come Rain Or Come Shine” também é outro exemplo de faixa de abertura,
do álbum Portrait in Jazz, que também contava com a presença do falecido LaFaro. E o
gravação do atual baixista Israels é a última das faixas de aberturas que aparecem
rearranjadas em Trio 65. As outras quatro faixas também são regravações de temas antigos
Em 1965, o baterista Larry Bunker deixou o trio para continuar a vida como músico
70
de estúdio, deixando o cargo para o baterista Arnie Wise (?)43 que permaneceu no trio até
1966 e ocasionalmente tocava com Evans quando esse precisava de um substituto para a
bateria.
Com Arnie Wise, o único registro é o projeto idealizado por sua nova produtora
Helen Keane, a gravadora Verve que lançou em 1966 o álbum At Town Hall (Verve, 1966,
6683), que traz a gravação de um concerto que o pianista deu em três diferentes formações:
trio, com standards como “I Should Care”(Cahn/ Stordahl/ Weston); Solo, no qual ele toca
uma série temas autorais em homenagem á seu recentemente falecido pai; e com uma big
band formada por músicos amigos de Evans, liderada pelo saxofonista Al Cohn (1925-
1988).
Apenas o material solo e de trio foi lançado pela gravadora, por insatisfação de Bill:
“Dois álbuns eram planejados pela Verve, mas foi decidido que o material de Big Band não
seria usado. Apenas a primeira metade do concerto foi lançada como Bill Evans At Town
Esse é também o último registro do baixista Chuck Israels, que deixou o trio ainda
em 1966: “Israels queria viajar menos e continuar seus estudos de arranjo e composição, e
ele estava achando a relação de Bill com as drogas difícil de tolerar”.(PETTINGER, 1998,
P. 173)
Novamente, Evans necessitava de um novo baixista para seu trio fixo. Dentre os
substitos temporários, houve inclusive a reaparição do baixista Teddy Kotick, que havia
gravado o debut de Evans New Jazz Conceptions dez anos antes, voltou para algumas
apresentações no Village Vanguard que aconteceram ao lado do baterista Arnie Wise, que
43
Não foram encontradas referencias diretas sobre datas de nascimento e/ ou morte baterista em questão,
apenas referencias de seu nome em gravações de áudio de álbuns diversos de jazz, incluindo alguns de Bill
Evans.
71
também estava deixando o trio nesse ano para passar mais tempo com sua família. Kotick
não se encaixava nos moldes do trio já que não improvisava com tanta freqüência e
“Nessa temporada no Vanguard, toda noite um baixista de vinte um anos, natural de Porto
Rico chamado Eddie Gómez vinha assistir o trio nos intervalos dados entre os sets de uma
casa de jazz em frente, que estava realizando um teste para o posto de baixista no grupo do
sax-barítonista Gerry Mulligan. Por algum tempo, Gómez maturou a idéia de tocar com
Evans, e o teste não foi acidental. Ele sabia que Chuck Israels ia deixar o grupo, e ele
arranjou de participar do grupo de Mulligan para que o pianista o visse em ação. Evans o
convidou para uma audição e como não demora muito para reconhecer um potencial e um
talento, Bill rapidamente instruiu sua produtora Helen Keane á contratá-lo. Ela lembra de
sua ligação para Eddie: “Ele ficou sem palavras”.(...)” (PETTINGER, 1998, p. 175)
Gómez foi o baixista que mais tempo permaneceu no Evans trio, durante 11 anos,
entre 1966 e 1978. Ele chegou á tocar com diversas formações de trio com muitos
bateristas, inclusive com Shelly Manne, em seu primeiro registro com o Bill Evans trio, no
álbum A Simple Matter Of Conviction (Verve, 1966, 8675), que traz algumas composições
de Evans que não foram muito tocadas em seu repertório ao longo dos anos como a própria
faixa-título.
No ano de 1967, já com Gómez tocando há um ano com Bill, o trio estava sem um
baterista fixo que pudesse fazer turnês dentro dos E.U.A. e também viajar para a Europa
freqüentemente. Ocorreu uma breve passagem do seu grande amigo e antigo companheiro
de trabalhos como sideman: o baterista Phlie Joe Jones, que participou de algumas
período de instabilidade em seu trio. Evans mudou totalmente sua conduta de escolha de
um novo baterista para cargo quando Jack DeJohnette (1942) entrou no Trio, no fim de 67.
Diferente de Philie Joe Jones, o jovem baterista, que também era pianista, reutilizou
72
o estilo espaçado e contrapontístico que era característico de quando Paul Motian integrava
o trio no início da mesma década. Todavia, Jack Dejohnette utiliza esses recursos de
econômica do que Motian. Essa nova característica que desafiava Evans a tocar de maneira
diferente, como pode ser ouvido no álbum At the Montreux (Verve, 1968, 8762):
“Evans, ainda estava com uma boa saúde mental que o permitia trabalhar num
contexto mais livre que o usual, e ele incorporou a maneira de tocar do jovem DeJohnette
com facilidade”.(PETTINGER, 1998, p. 190)
Dejohnette, também gravou apenas um álbum e logo depois recebeu uma proposta
para tocar no grupo do ex-companheiro de Evans, Miles Davis que estava experimentando
sonoridades totalmente diferentes das de Bill com seu Jazz-Rock com instrumentos
elétricos:
“(...) Sem o convite de Miles, DeJohnette teria, sem dúvida, permanecido com Evans
mais tempo; Miles Davis era o único músico naquela época capaz de seduzir o baterista
para largar o trio de Bill. Tendo ele mesmo tocado com Davis uma década antes, Evans
lamentosamente teve de admitir que ele não estava em posição de argumentar”
(PETTINGER, 1998, p. 191).
At the Montreux foi ganhador do prêmio Grammy do ano de 1969, por “Melhor
Performance de Jazz Instrumental - Solista com Pequeno Grupo”. Esse álbum conta com
arranjos e formas iniciados em seu primeiro trio com o baixista Scott LaFaro e que foram
sedimentadas na primeira metade da década de sessenta nas formações que contavam com
O tema “Someday My Prince Will Come”, tem um arranjo que retoma as idéias de
For Debby”, do disco homonimo. A cada chorus da forma ABAC desse tema, a fórmula de
compasso varia de 3/4 para 4/4, mas diferente de “Waltz For Debby”, que muda
defeinitivamente sua condução rítmica de 3/4 para 4/4, esse novo arranjo de “Someday My
Prince Will Come” tem alternância constante de fórmula de compasso ternário para uma
Também aparecem dois temas de Evans, a faixa que abre o disco: “One For Helen”,
outra homenagem de Bill, dessa vez para sua atual produtora e empresária Helen Keane. E
Novos temas de compositores que foram freqüentes em seu repertório durante anos
também estão presentes como “Mother Of Earl”, do já citado percussionista Earl Zindars. E
Escolher Dejohnette mostrava uma certa renovação por parte do próprio Bill Evans,
que optou por um baterista que tanto tivesse a capacidade técnica para execução de tal
repertório, como tivesse a visão de um improvisador não apenas rítmico, mas também
melódico, o que o fato de DeJohnette tocar piano e ser de uma geração posterior à de Evans
Essa maneira mais livre que o trio toca nesse concerto gravado na Suíça pode ser
insere explicitamente uma sobreposição rítmica de ritmos ternários sobre binários, que
criam uma textura rítmica rica e inusitada até em então no Bill Evans Trio.
44
Ilustração retirada do livro Artist Transcrptions – The Bill Evans Trio – volume 3, página 113. Faixa 8, Cd
Anexo 1
74
com o pé, essa técnica cria uma textura polirrítmica dentro dos últimos compassos da parte
A da reexposição.
Bill Evans e Eddie Gómez aos poucos vão acentuando os quatro tempos da fórmula
de compasso original do tema, simplificando suas idéias, fazendo com que Dejonhette
tenha espaço para inserir e desenvolver uma polirritimia com dinâmica baixa, que vai se
rítmicos internos, com acentuações que são exploradas no todo improvisacional citado
tocado por Evans, com rítmica uníssona com Eddie Gómez e DeJonhette. A densidade
introduzido por DeJonhette. A bateria tem suas partes dispostas da seguinte maneira: As
figuras rítmicas (colcheias, por exemplo) marcadas com um “x” no lugar de notas
figuras centrais, que está posicionada no 3º espaço, tendo como referencia a direção do
pentagrama de baixo para cima - como se fosse a nota Dó em clave de sol - essa marcação
representa a caixa.
75
desenvolvimento da coda final desse tema, exemplificado na Figura 12, á seguir. Essa
última parte da composição, tocada de maneira livre e não constante ritmicamente, repete
os últimos dois compassos, que contêm um turnaround com quatro acordes - Ab7M, B7M,
E7M, A7M -, cujas análises em graus romanos no tom de Lá bemol maior são
Esse turnaround apenas com acordes X7M, que já foi exemplificado anteriormente
em “Show Type Tune” passou a ser característico em muitos finais de temas executados
pelos trios. Essa coda em específico, tem seus acordes arpejados ascendentemente no piano
em aberturas de décima, com uma rítmica que é valorizada pelo acompanhamento do baixo
e bateria.
Os arpejos paralelos de cada acorde (T , 3ªM, 5ªJ, 7ªM – na voz inferior do piano e
3ªM, 5ªJ, 7ªM, 9ªM – na voz superior, uma décima acima) resultam em um gráfico sonoro
que vai em direção as regiões agudas do piano, com uma pequena aceleração do andamento
e acaba após repitições duas repetições melódicas do turnaround no acorde de Ab7M, que
é arpejado de maneira mais livre e contém uma linha melódica escalar tocada em oitavas,
45
Exemplo retirado de Artist Transcrptions – The Bill Evans Trio – volume 3, página 116. Faixa 8 Cd Anexo
2
78
Como antes dito, Jack Dejohnette deixou o trio ainda em 1968 para integrar o grupo
do trompetista Miles Davis e por indicação de Eddie Gómez, o jovem Marty Morell (1944)
piano” (PETTINGER, 1998, p.223). Essa formação do trio – Evans – Gómez - Morell, foi a
Pela primeira vez desde a saída do baterista Larry Bunker do trio, três anos antes,
interação desse trio, principalmente entre Gómez e Evans foi se aprimorando ao longo dos
anos.
Morell traz características técnicas que se diferem de seus antecessores em seu trio.
volume mais alto do que seus antecessores, entretanto continuava a usar vassouras para
Com o volume de bateria mais alto que o comum, Evans nessa época começou a
explorar com mais recorrência as regiões mais agudas do piano em suas improvisações,
sobreposições triádicas.
80
CAPÍTULO 2.2:
Com o trio fixo com Morell ativo por dois anos consecutivos, o Bill Evans trio tem
sua discografia iniciada nos anos setenta com Montreux II (CTI, 1970, 6004). O álbum
contém um trecho da apresentação dessa última formação do trio no mesmo festival no ano
de 1970. Talvez, a escolha de mais uma gravação da apresentação ao vivo no mesmo local
e festival possa ser atrelada ao fato de seu álbum anterior em trio At the Montreux ter-lhe
por seus próprios antigos trios, agora com novos arranjos e idéias interpretativas dos dois
anteriormente descritas:
“Very Early”, tema em 3/4 que aqui tem seu improviso em toda a forma AAB,
diferente de sua versão original que só tem o improviso na seção A; “Peri’s Scope”, tema
composto para o primeiro álbum com LaFaro de 11 anos antes Portrait in Jazz, reaperece
com novas convenções rítmicas e andamento mais acelerado comparado á versão original;
Em Montreux II, como em Trio 65’, existem regravações dos temas “Israel” e “How
My Heart Sings”. Essas revisitações, novos arranjos da alguns temas antigos começou a ser
No ano de 1971, Bill Evans assinou um contrato com a Columbia Records e lançou
The Bill Evans Album (Columbia, 1971, 30855), esse é o primeiro disco do pianista que é
81
tornando estável:
“(...) Sua produtora Helen Keane conseguiu notavelmente melhorar a sua imagem
artística, achando seu público-alvo principalmente na Europa. Apesar da grande
difusão do Jazz Rock, uma parcela do público e de outros músicos tinha, de fato,
rejeitado a “revolução elétrica” e viram Evans como um porta-estandarte de
importantes e sérios valores de uma estética musical que estava sendo desmantelada
pela disseminação de ideologias politizadas de música-de-massa. A mensagem de
Evans encontrou numerosos e atenciosos receptores(...).” (PIERANUZI, 2003, p. 180)
Nessa gravação, Evans também utiliza pela segunda vez em sua carreira o piano
elétrico Fender Rhodes em algumas faixas. A gravadora Columbia, que tinha mais
propôs essa ‘roupagem elétrica’, que era abordada por muitos pianistas jovens da geração
Bill Evans Album é uma reunião de temas autorais inéditos e nunca antes gravados.
Além da regravação do tema “Waltz For Debby”, passados dez anos da gravação que dava
“The Bill Evans Álbum inaugurou um breve período com a Columbia, uma grande
gravadora que não seria sensível aos aspectos mais significativos da arte de Evans. Eles
chegaram até á oferecer a gravação de um álbum de rock!” (PIERANUZI, 2003, p.181)
Essa roupagem elétrica agradava Evans que, depois dessa gravação ainda flertou
com o uso desse instrumento. A exemplificação dessa roupagem está na Figura 1346 que
mostra o baixo de Eddie Gómez conduzindo a melodia do tema que abre o álbum
46
Artist Transcrptions – The Bill Evans Trio – volume 3, página s 39 e 40
82
Importante notar que a condução mais constante e padronizada do baterista Marty Morell
que está usando baquetas de madeira – Onde há indicado Sticks, no segundo compasso do
música, fazendo com que haja inserções de pausa que causam um efeito rítmico
fragmentado na condução harmônica. E como o tema está sendo feito por Gómez, a
harmonia é enriquecida com a presença de seis vozes por acorde, como pode ser observada
na harmonização de Evans do final da forma do tema na Figura 13, até o solo de baixo
Evans com essa melodia de “Funkallero”. O legado deixado por LaFaro teve seu
Outro Tema presente em Bill Evans Álbum é a balada “The Two Lonely People”,
“Eu escrevi “The Two Lonely People” para uma letra que me foi mandada por Carol Hall.
Quando você está escrevendo uma letra, você tem de tentar fazer a música se encaixar na
métrica do poema, e eu tentei seguir o caminho que a poesia tomava e tentei fazer linhas
melódicas mais expansivas e tentei relacioná-las motivicamente, juntando assim o
47
Datas de nascimento e morte não encontradas para tal poeta.
85
significado do poema á forma, criando uma unidade entre os dois.” (EVANS apud
JACOBS, 2002, p. 31)
Ainda sobre o tema, o pianista italiano Enrico Pieranuzi, autor de uma das
“Mesmo sendo um mestre nas mais evoluídas técnicas de composição, Evans aparecia mais
sincero em temas que tinha uma forma narrativa, como a tocante “The Two Lonely
People”, também gravada pela primeira vez no Bill Evans Álbum e é fruto de um período
muito intenso de Evans como compositor” (PIERANUZI, 2003, p. 182)
Outra composição inédita que é fruto desse período é o tema “Twelve Tone Tune”,
esse tema é o primeiro de dois temas de Evans que são baseados em séries de doze notas,
Após essa breve explicação sobre a estrutura de “Twelve Tone Tune”, segue a
Figura 1448, que mostra o tema de doze compassos. O “sentido harmonico” da citação
acima pode ser interpretado pelos movimentos de 5ªJ descendente ou 4ªJ ascendente que
remetem-nos á uma sensação de movimento tonal, como acontece nos cinco primeiros
acordes dos tres primeiros compassos (Gm, Cm, Fm, Bbm, Eb13).
48
Exemplo retirado de Bill Evans FakeBook Pág. 81. Faixa 10 Cd Anexo 1.
86
Outros temas desse álbum incluem regravações de “Waltz For Debby” com novo
arranjo e “Re: Person I Knew”. Já o tema “Sugar Plum” que é um ciclo harmonico de oito
compassos que modula por quartas e passa pelos doze tons, é mais um exmplo da profunda
A úlima composição desse álbum “Comrad Conrad” aborda mais uma vez as
mudanças de fórmulas de compassos de 3/4 da primeira seção do tema para 4/4 na segunda
seção do tema.
Após o fim do contrato de Evans com a Columbia, foi lançado o álbum The Tokyo
Concert (Fantasy Records, 1973, 3452), mostrava ainda a formação do Bill Evans trio que
durou mais tempo, em uma apresentação no Yubin Chokin Hall, em Janeiro daquele ano.
Com o baixista Eddie Gómez, que já vinha tocando com Evans desde 1966 e o
baterista Marty Morell, que há cinco anos ocupava o cargo, o trio mostra um diferente
repertório para essa apresentação, revivendo alguns temas que eram executados pelo
primeiro trio fixo de Bill Evans (LaFaro-Motian), como “My Romance” (Rodgers-Hart),
em uma nova roupagem que já tinha sido usada em regravações de temas: um esquema de
forma diferente, com um solo de bateria na forma canção A-B-A-C, e um solo de Baixo
LaFaro, também com um novo arranjo: convenções rítmicas que valorizam o tema,
presença de baixo e piano, como em “My Romance”; e um solo de baixo de Eddie Gómez
que sem acompanhamento novamente, fecha a música, com uma citação da melodia dos
88
LaFaro.
Há também nesse disco o segundo tema baseado em uma série de doze notas, o
tema “Twelve Tone Tune Two”, que tem sua melodia principal executada pelo piano e
Sua seção de improvisação baseada apenas em acordes maiores, sem centro tonal,
com sugestões da escala lídia para material improvisacional, num modelo muito parecido
ao de outra composição sua antes analisada “Walkin’ Up”, como exemplificado na segunda
49
Exemplo retirado de Bill Evans Fake Book – pág. 82 e 83. Faixa 11, Cd Anexo 1
89
Figura 15 – 2ª parte
ao vivo desse trio, com a participação do baterista Marty Morell. A gravação também ao
vivo no Village Vanguard é composta por três temas de autoria de Bill Evans: “Time
Remembered”, que explora conceitos modais, “Since We Met” que é mais uma composição
que varia sua fórmula de compasso de 3/4 para 4/4 ao longo de sua forma. E os outros
quatro temas continuam abordando standards, temas ternários e temas de pianistas que
Evans e Eddie Gómez, o baterista canhoto Elliot Zigmund (1945), que era um musico de
Com ele foram lançados dois álbuns em trio, ambos gravados em 1977: I Will Say
Goodbye (Fantasy Records, 1977, 25218676120) e You Must Believe in Spring (Warner
Bros, 1982, 923504) que foi lançado postumamente. Os dois álbuns têm como título
“Em “The Opener”, podemos ver um lado refinado de Bill Evans como um
mestre em harmonização e execução. Uma vez ouvi uma descrição dizendo que Evans
tocava como se tivesse três mãos – Isso quer dizer que ele tocava a melodia com a mão
direita, os baixos com a mão esquerda e ambas as mãos partilhavam toda a harmonia na
terceira parte. (...) Evans não toca apenas uma melodia sobre acordes, ele era um mestre
em condução de vozes internas no piano.” (EDSTROM, 2002, p.35)
50
Exemplo retirado de Bill Evans – Signature Licks – Pág. 36. Faixa 12 – Cd Anexo 1.
92
da composição de Evans “The Opener”, até o início do solo de piano, do álbum I Will Say
Goodbye:
O outro álbum: You Must Believe In Spring, contém uma das melhores qualidades
de gravações em estúdio lançado por Bill Evans. O álbum traz quatro temas ternários. Dois
desses temas são composições suas dedicadas á duas pessoas próximas á Evans que haviam
cometido suicídio: “B Minor Waltz” é para sua ex-mulher Ellaine e “We will Meet Again”
riqueza harmônica e os floreios melódicos que Evans explora nesse repertório abordado.
Importante notar as vozes mais agudas da melodia têm uma dobra paralela uma 5ªJ
As frases de mão esquerda na região grave do piano vão aos poucos intensificando-
se como pode ser notado no último compasso da primeira página do exemplo. A dobra de
forte de tritono que a cadencia de engano proporcionada pela pelos acordes G#m7b5 – C#7.
Para encerrar essa primeira exposição do tema, Evans usa uma frase melodicamente
quatro notas básicas do acorde de Cm7 e suas extensões - 9aM, 11aJ, 13ªm.
51
Exemplo retirado de The Artistry of Bill Evans – Págs. 66, 67 e 68. Faixa 10 Cd anexo 2.
94
Em 1978, Gómez deixa o trio após 11 anos e é substituído pelo jovem Marc
Johnson, que permanece até a morte do pianista como baixista de seu trio. Elliot Zigmund
também deixa o trio e é substituído por Joe Labarbera (1948) que também permaneceu até
1980.
97
Com essa última edição do trio, os álbuns The Paris Concert – Edition I e II trazem
grande parte de alguns concertos realizados na França em 1979. O repertório desses dois
Seu trio também está com uma postura diferente e Evans tem mais momentos de
piano solos do que em seus antigos trios. Diferentemente do estilo espaçado e fragmentado
que Bill tinha nos anos 60, seus improvisos são mais virtuosísticos e frenéticos nessa
novos arranjos, também há a inclusão de sua mais recente composição “Letter to Evan”,
mais de vinte anos, como os também regravados “Beautiful Love” e “My Romance”, que
Canções populares também fizeram parte de seu repertório, como pode ser
conferido na gravação do arranjo de Evans para “I Do it For Your Love”, que tem música e
letras compostas pelo cantor/ compositor norte-americano de folk Paul Simon (1941), e
A última música de Paris Concert – Edition Two é a faixa “Nardis” e costumava ser
o encerramento de muitos shows de Evans, que faz uma longa incursão de piano solo na
estrutura AABA do tema de Miles Davis e segue com solos individuais de baixo e bateria,
ambos sem acompanhamento de piano. É importante relembrar que “Nardis” é a faixa mais
O último trio de Evans excursionou até pouco antes da morte de Bill Evans em 15
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o passar dos anos, a obra de Bill Evans, mesmo enquanto esse estava vivo, foi
tendo, cada vez mais, apreciadores ao redor do globo e até hoje desperta interesse em
por outros pianistas de gerações posteriores. Por exemplo, o pianista Herbie Hancock
(1940), que participou de outro famoso quinteto de Miles Davis anos mais tarde, segue com
Outros dois pianistas que já prestaram tributo chegaram á tocar também com Davis
e são claramente influenciados por Evans são Chick Corea (1941) e Keith Jarrett (1945).
Interessante notar que os três pianistas já tiveram trios também com baixo e bateria, no
caso de Jarrett e Corea, com baixistas e bateristas que foram de trios significativos de
Evans.
Peacock, que gravou o álbum Trio 64 de Evans e com o baterista Jack DeJohnette, que
participa do registro Montreux, de 1967. Esse trio de Jarrett é também conhecido como
coletiva que também havia em Evans, apesar da tendência mais ligada ao Free Jazz de
Jarrett.
Paul Motian, integrante do trio mais conhecido de Evans também chegou a tocar
com Jarrett é recentemente, no ano de 2010, fez uma temporada acompanhando Chick
100
Corea em bares como Village Vanguard e Blue Note nos E.U.A., em pequenas
Gómez que permaneceu no trio de Evans durante onze anos, também participou dessse trio
último baixista á acompanhar Evans, o álbum Bill Evans (JMT, 1992, 919043), que contém
apenas composições do mesmo, tocadas em um quarteto sem piano, fato que comprova o
valor composicional de seus temas, que podem ser adaptados por qualquer instrumentista.
Marc Johnson, também já gravou outros trabalhos homenageando Bill Evans, como
o disco de Elliane Elias (1960) Here is Something for You (EMI, 2007, 117952), que
contém apenas temas de Evans e standards que ele executava, tocados e cantados por
Evans, Enrico Pieranunzi (1949), músico que tem uma interessante visão sobre a carreira
de Bill.
Outro pianista que lançou uma série de álbuns em trio, ao vivo no mesmo Village
Vanguard que consagrou Evans, é o pianista Brad Mehldau (1970), que também toca
standards antigos com uma nova visão, á partir de meados da década de noventa. Mehldau
tem o interessante hábito de chamar alguns desses seus álbuns de “A arte do trio”, arte que
deve muito ao legado deixado por Evans e também desenvolvido por Ketih Jarrett.
cataloga os álbums dedicados á Bill Evans, com mais detalhes sobre cada tributo e com
como Evans influenciou não apenas pianista, mas também guitarristas e cantores e até
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pequenos grupos de câmara, com roupagens que não são tão ligadas a improvisação já
Constatamos, portanto ao longo desse trabalho que a influência pianística que Bill
Evans teve no decorrer da história do jazz é significativa, já que ele incorporou muitos
Existem centenas de pianistas influenciados por Evans ao longo das décadas e seus
com seu trio é apenas uma sugestão de catalogar muitos aspectos musicais que podem ser
consegue se renovar ao longo dos anos, tanto em sua maneira de tocar, como em sua
abordagem de trio.
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BIBLIOGRAFIA
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BERENDT, Joachim-Ernst. Jazz: Do Rag ao Rock. São Paulo: Abril Cultural, 1981.
CALADO, Carlos. O Jazz como espetáculo. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1985
DREYFUSS, Peter. Bill Evans – Piano Solos. New York: TRO Ludlow Music, 1991.
__________. Bill Evans – 4 Pieces. New York: TRO Ludlow Music, 1993.
EDSTROM, Brant. Keyboard Signature Analysis – Bill Evans. New York: TRO Ludlow
Music, 1999.
HOBSBAWN, Eric. História Social do Jazz. São Paulo: Paz e Terra, 2007.
JACOBS, Sid. The Bill Evans Guitar Book. Milwaukee: Hal Leonard, 2002.
KAHN, Ashley. Kind of Blue: a História da Obra-Prima de Miles Davis. São Paulo:
Barracuda, 2007.
LEONARD Corporation, Hal. Bill Evans Plays Standards. Milwaukee: Hal Leonard, 1998.
_____________. .Artist transcriptions – piano, bass, drums: The Bill Evans Trio – Vol.
1,2,3,4. Milwaukee: Hal Leonard, 2002.
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PIERANUZI, Enrico. Bill Evans: The Pianist as an Artist. Roma: Stampa Alternativa,
2003.
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Co.
WETZEL, Pascal. Bill Evans Fake Book. New York: TRO Ludlow Music, 1997.
Alguns websites que foram utilizados ao longo dessa pesquisa, para consultas rápidas,
downloads, etc..:
www.allmusic.com
www.thebillevanswebpages.com
www.billevans.nl
http://theuniversalmindof.blogspot.com/
Discografia em TRIO de Bill Evans (incluem textos com entrevistas), cerca de 30 álbuns
lançados em vida, em mais de 30 lançados postumamente. Os utilizados para as fontes de
áudio para esse trabalho são (em ordem cronológica das gravações):
5- My Romance (1973)
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6- My Romance (1979)
Baixo: Marc Johnson
Bateria: Joe LaBarbera
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7- 34 Skidoo (1962)
Baixo: Chuck Israels
Bateria: Paul Motian
8- 34 Skidoo (1974)
Baixo: Eddie Gómez
Bateria: Marty Morrell
9- 34 Skidoo (1979)
Baixo: Marc Johnson
Bateria: Joe LaBarbera
10- (Bônus) You Must Believe In Spring – gravação do último exemplo do CD anexo
I, que não coube no outro CD.
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