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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Nº 3695

REQUERENTE:CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL


REQUERIDOS: PRESIDENTE DA REPÚBLICA E CONGRESSO NACIONAL

Informações prestadas, em cumprimento ao


artigo 12º da Lei nº 9.868/99, ao Supremo
Tribunal Federal, nos autos da Ação Direta de
Inconstitucionalidade nº 3695, tendo por
objeto a íntegra da Lei Federal 11.277, de 7 de
fevereiro de 2006, por ofensa ao disposto no
artigo 5º, caput, com os incisos XXXV, LIV e
LV da Constituição Federal.

Senhor Advogado-Geral,

Por meio da ADI nº 3.695, o Conselho Federal da Ordem dos


Advogados do Brasil requer, perante o Supremo Tribunal Federal, a declaração da
inconstitucionalidade, da íntegra da Lei Federal 11.277, de 7 de fevereiro de 2006,
por ofensa ao disposto no artigo 5º, caput, com os incisos XXXV, LIV e LV da
Constituição Federal.

A redação da referida norma é abaixo transcrita:

Lei Federal nº 11.277/2006:

“Art. 1o Esta Lei acresce o art. 285-A à Lei no 5.869, de


11 de janeiro de 1973, que institui o Código de
Processo Civil.

Art. 2o A Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973, que


institui o Código de Processo Civil, passa a vigorar
acrescida do seguinte art. 285-A:

"Art. 285-A. Quando a matéria controvertida for


unicamente de direito e no juízo já houver sido

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proferida sentença de total improcedência em
outros casos idênticos, poderá ser dispensada a
citação e proferida sentença, reproduzindo-se o
teor da anteriormente prolatada.

§ 1o Se o autor apelar, é facultado ao juiz decidir,


no prazo de 5 (cinco) dias, não manter a sentença e
determinar o prosseguimento da ação.

§ 2o Caso seja mantida a sentença, será ordenada a


citação do réu para responder ao recurso."

Art. 3o Esta Lei entra em vigor 90 (noventa) dias após


a data de sua publicação.”

Alega o Requerente que o texto impugnado contrapõe-se ao


estabelecido no artigo 5º, caput, e incisos XXXV, LIV e LV da Constituição
Federal1, haja vista que a norma atacada admitiu a utilização de sentença
prolatada em outro processo, no mesmo juízo, para dar fim a processo proposto,
em seguida, instituindo uma sentença vinculante, impeditiva do curso do processo
em primeiro grau.

Afirma, ainda, o Requerente que “a diversidade de juízes e varas, o


diploma normativo, permite que processos debatendo o mesmo tema, mas
distribuídos a diferentes magistrados, tenham curso normal ou abreviado,
conforme tenha sido proferida ou não sentença relativa ao mesmo assunto no
juízo. Quebra desse modo, o princípio da isonomia”.

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Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;

LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são


assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

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Demais disso, o Requerente assevera que a referida norma afronta
o princípio da segurança jurídica, no que diz respeito ao procedimento judicial,
posto que o processo será normal ou abreviado conforme sentença antes
proferida, cuja publicidade para os jurisdicionados que não foram partes naquele
feito, não existe.

Por fim, alega o Requerente, que a norma questionada, por infringir


o princípio da igualdade, da segurança, do acesso à Justiça, do contraditório, e do
devido processo legal, há de ser expurgada do ordenamento jurídico.

I - PRELIMINARMENTE

DA TEMPESTIVIDADE DAS INFORMAÇÕES PRESTADAS PELO


CONGRESSO NACIONAL

O andamento processual da presente ação, na página do STF, na


Internet, indica ter havido o transcurso do prazo para o Congresso prestar as
informações solicitadas.

Todavia, o Congresso Nacional, representado pela Advocacia do


Senado Federal, de acordo com a função regimental que lhe cabe, teve vista
desses autos somente no dia 17 de abril.

Dessa forma, segundo a Lei nº 9.868/99, em seu artigo 12, o prazo de


dez dias de vista pessoal para prestar informações expira-se em 27 de abril. Daí a
tempestividade da presente informação.

II - DO MÉRITO

DA SUPOSTA INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL

Não assiste razão o Requerente quanto ao mérito.

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Insurge-se o Requerente contra o disposto na Lei Federal
11.277/2006, por violar o princípio da igualdade, da segurança, do acesso à
Justiça, do contraditório, e do devido processo legal, que estão estabelecidos em
nossa Constituição Federal.

Com isso, a inicial sustenta que a norma impugnada, deverá ser


retirada de nosso ordenamento jurídico, uma vez que infringindo tais princípios,
está tornaria inconstitucional.

Contudo, não há dúvida quanto à constitucionalidade desses


dispositivos, pois a aludida norma tem o condão de racionalizar a atividade
jurisdicional, sendo que confere aos magistrados poderes necessários para decidir
de forma rápida e definitiva os conflitos repetitivos, desde que os mesmos
envolvam matéria exclusivamente de direito, sobre a qual já exista entendimento
consolidado no mesmo juízo. Dessa forma, desonerando as partes injustamente
demandadas e também a estrutura do próprio Poder Judiciário.

Importante destacar, que a norma impugnada refere-se a matérias


exclusivamente de Direito, ou seja, não há necessidade de dilação probatória.
Com efeito, haverá maior unicidade na interpretação das leis e de dispositivos
constitucionais, o que não deixará margens para divagações protelatórias do
litigante de má-fé.

A questionada norma não prejudica as garantias processuais das


partes envolvidas, como assim quer fazer crer o Requerente, uma vez que apenas
antecipa o momento de prolação da sentença, tendo em vista a possibilidade do
magistrado antever, com elevado grau de certeza, o desfecho da demanda e
evitar a prática de uma série de atos processuais, os quais mostram-se
desnecessários frente à total improcedência da matéria veiculada na ação.

Inclusive, neste diapasão, não é demais raciocinar de forma lógica


e econômica, na medida em que o magistrado, segundo a Lei atacada, estará
racionalizando atos processuais, pelo que, em face de atitude e pretensão
patentemente desarticulados do autor, estará o nobre juiz, barrando atentado

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processual contra o requerido na demanda, irrepreensíveis juridicamente,
obstando até mesmo a citação.

Tal atitude denota, dentre outras benesses, economia dos atos


processuais. Com isso, faz-se importante destacar o exposto por Fábio Alexandre
Coelho: “... quando se fala do princípio da economia busca-se ressaltar que o
ideal é a existência de uma justiça cujos custos para as partes – autor e réu - é
baixo e que solucione rapidamente os conflitos. (...) O que se almeja, é conseguir
atingir os escopos do processo com a prática de um número mínimo de atos.”
(Coelho, Fábio Alexandre. Teoria Geral do Processo. São Paulo: Editora Juarez
de Oliveira, 2004, p. 121.)

De outro giro, verifica-se também, que não há inconstitucionalidade


nos dispositivos em apreço, mesmo porque a norma impugnada busca conferir
maior racionalidade, eficiência, economia processual e celeridade ao serviço de
prestação jurisdicional e a tramitação dos feitos processuais, sem, entretanto, ferir
os princípios constitucionais da garantia do contraditório e amplo defesa.

Para tanto, pode se observar que se concede ao juiz a faculdade


de, em casos nos quais a matéria controvertida for unicamente de direito e se no
juízo já houver sido proferida sentença de total improcedência em caso análogo,
dispensar a citação e proferir desde logo a decisão, reproduzindo a anteriormente
prolatada.

E, com vistas a assegurar o respeito ao contraditório e a ampla


defesa, resguarda-se o direito do autor apelar da decisão, permitindo-se ainda que
o juiz opte nesta hipótese por não mantê-la e determine o prosseguimento da
demanda no juízo.

Sob a perspectiva estabelecida para a Reforma da Justiça, faz-se


necessária a alteração do sistema processual brasileiro com o escopo de conferir
racionalidade e celeridade ao serviço de prestação jurisdicional, sem, contudo,
ferir o direito ao contraditório e à ampla defesa. Esta é a hipótese da aludida Lei
discutida.

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Porquanto, a referida Lei atacada estabelece eficiência à
tramitação de feitos, em conseqüência, evita a morosidade que atualmente
caracteriza a prestação jurisdicional.

III - CONCLUSÕES

Por todo o exposto, entendemos que a argumentação expendida na


exordial não tem o condão de elidir os fundamentos da Lei nº 11.277 de 7 de
fevereiro de 2006, e também, não observamos qualquer inconstitucionalidade dos
dispositivos da norma questionada, devendo, portanto, ser julgada improcedente a
Ação Direta de Inconstitucionalidade.

São estas as considerações que submetemos à elevada análise de


V.Sª.

Brasília-DF, 26 de abril de 2006.

GRAZIELLA CHAVES PEREIRA


Estagiária da Coordenadoria de Processos Judiciais

De acordo. Encaminhe-se ao Senhor Advogado-Geral.

ANTONIO MARCOS MOUSINHO SOUSA


Diretor da Coordenadoria de Processos Judiciais

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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Nº 3695

Aprovo. Encaminhe-se ao Excelentíssimo Senhor Presidente do


Congresso Nacional, como sugestão destinada ao atendimento da solicitação
contida no Ofício nº 1745/R de 11 de abril de 2006, do Senhor Ministro Cezar
Peluso, Relator da ADI nº 3695.

Brasília-DF, 26 de abril de 2006.

ALBERTO CASCAIS
Advogado-Geral

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