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A CASA DO ESCORPIÃO

O ar da sala era amargo de fumo. A fumaça rodopiante ascendia ao teto, onde


se enroscava às lâminas do ventilador, que girava em baixa rotação. A luz fraca da
sala, junto à saturada luz rosa que vinha do lado de fora, na boate, se misturavam para
criar um jogo de sombras assustador, que projetava uma imensa sombra do homem
que se sentava em frente a Lúcio. A música ecoava abafada, os graves fazendo a sala
estremecer. O homem mudou de posição no sofá em que se sentava, se inclinando
para bater as cinzas de seu charuto no cinzeiro à mesa, enquanto observava Lúcio por
trás de óculos negros. Ele era imenso. Quase duas cabeças mais alto do que Lúcio, e,
mesmo recurvado, era extremamente imponente.
- Eu já disse que não conheço porra de Ludmilla nenhuma! - A voz do gigante
soou baixa e rouca, como se misturada à música, mas, mesmo assim, se fez
completamente clara para Lúcio.
Lúcio suspirou e esfregou os olhos com os dedos.
- Eu a conhecia muito bem, e sei que ela trabalhou aqui antes de sumir. Só me
diz onde ela tá e eu vou embora, sem dor de cabeça.
O gigante se endireitou no sofá, dando um trago no charuto. Ele o girou de um
lado ao outro da boca, sem dizer nada, como se analisando a situação. Por fim, soltou
uma espessa nuvem de fumaça, e meneou a cabeça negativamente.
- Esse não é o lugar que você tá procurando amigo, então é melhor sair daqui
logo. - Fez um sinal com a mão, e um segurança, que observava tudo por trás de um
painel de vidro, abriu a porta.
Lúcio sabia que não conseguiria mais nada ali. Não adiantaria insistir, teria que
ser mais esperto do que isso. Resignado, se levantou e atravessou a porta. Foi
imediatamente recebido pela música alta que tocava na pista de dança. Naquela noite,
a boate estava especialmente cheia. Uma massa de pessoas se aglomerava no centro
do salão e nos bares ao redor, tornando a locomoção árdua. Lúcio precisou empurrar
seu caminho porta afora.

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