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EU ERA O ESCOLHIDO

Depois de tanto tempo, eu desembainhei Esperança. Seu punho se assentou de forma


estranha em minha mão, desacostumada pelo passar dos anos, já amaciada e sem os calos que eu
havia cultivado. Em minha memória, a espada era mais leve e sua lâmina menos opaca. Ainda
assim, não consegui evitar com que um arrepio profundo escalasse minha coluna e fizesse
memórias inundarem minha mente. Fui dragado para décadas atrás, para um corpo mais jovem e um
espírito poderoso. Eu não era mais a mesma pessoa. O Arauto da Ordem estava morto e enterrado
sob um corpo roliço e encurvado.
Em algum lugar atrás de mim, ouvi Tália entrar em casa. Rapidamente, embainhei a espada
e a recoloquei no vão entre as tábuas de madeira, onde ela tinha permanecido intocada durante anos.
O presente caiu sobre mim como um manto pesado, mas respirei fundo e me virei, com um sorriso
no rosto, e fui de encontro a minha esposa.
Tália continuava linda. Seu cabelo dourado estava despenteado, e alguns fios caiam sobre
seu rosto suado. Rugas vincavam suas expressões, mas seu sorriso ainda era o mesmo da garota que
eu havia conhecido vinte anos antes, e seus olhos esmeralda tinham ganhado uma intensidade ainda
maior. Eu me aproximei dela, e, antes que ela falasse qualquer coisa, a beijei. Ela me abraçou com
força, suas mãos se entrelaçando em minhas costas. Deixei nossa paixão me aquecer por um tempo,
sentindo aquele calor familiar que, como seu sorriso, permanecera igual. Será que ela sentia o
mesmo em relação a mim? Eu sabia que eu era apenas uma sombra agora, mas ela já havia
percebido isso? Então, sem que eu entendesse o porquê, lágrimas escaparam de meus olhos. E,
quase imperceptível, algo se desdobrou dentro de mim.
Ela se afastou, percebendo as lágrimas, e me olhou de maneira preocupada.
- O que aconteceu, querido?

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