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PROPOSTA DE REDAÇÃO

TEMA: IDENTIDADE BRASILEIRA: SENTIMENTO NACIONAL OU FALSIDADE


IDEOLÓGICA?

Texto 1
A cúpula da palmeira, embalançando-se graciosamente, resvalou pela flor da água como um
ninho de garças ou alguma ilha flutuante, formada pelas vegetações aquáticas.
Peri estava de novo sentado junto de sua senhora quase inanimada: e, tomando-a nos
braços, disse-lhe com um acento de ventura suprema:
— Tu viverás!... Cecília abriu os olhos, e vendo seu amigo junto dela, ouvindo ainda suas
palavras, sentiu o enlevo que deve ser o gozo da vida eterna.
— Sim?... murmurou ela: viveremos!... lá no céu, no seio de Deus, junto daqueles que
amamos!...
O anjo espanejava-se para remontar ao berço.
— Sobre aquele azul que tu vês, continuou ela, Deus mora no seu trono, rodeado dos que o
adoram. Nós iremos lá, Peri! Tu viverás com tua irmã, sempre...!
Ela embebeu os olhos nos olhos de seu amigo, e lânguida reclinou a loura fronte. O hálito
ardente de Peri bafejou-lhe a face.
Fez-se no semblante da virgem um ninho de castos rubores e límpidos sorrisos: os lábios
abriram como as asas purpúreas de um beijo soltando o voo.
A palmeira arrastada pela torrente impetuosa fugia...
E sumiu-se no horizonte.
ALENCAR, José de. O guarani. [Trecho]

Texto 2
Deitado eternamente em berço esplêndido
Ao som do mar e à luz do céu profundo
Fulguras, ó Brasil, florão da América
Iluminado ao sol do novo mundo!

Do que a terra mais garrida


Teus risonhos, lindos campos têm mais flores
"Nossos bosques têm mais vida"
"Nossa vida" no teu seio "mais amores"

Ó pátria amada
Idolatrada
Salve! Salve!

Brasil, de amor eterno seja símbolo


O lábaro que ostentas estrelado
E diga o verde-louro dessa flâmula
Paz no futuro e glória no passado

Mas, se ergues da justiça a clava forte


Verás que um filho teu não foge à luta
Nem teme, quem te adora, a própria morte

Terra adorada
Entre outras mil
És tu, Brasil
Ó pátria amada!

Dos filhos deste solo és mãe gentil


Pátria amada
Brasil!
Hino Nacional Brasileiro. [Trecho]

Texto 3
Os dous saíram tristes. Quaresma vinha desanimado. Como é que o povo não guardava as
tradições de trinta anos passados? Com que rapidez morriam assim na sua lembrança os seus
folgares e as suas canções? Era bem um sinal de fraqueza, uma demonstração de
inferioridade diante daqueles povos tenazes que os guardam durante séculos! Tornava-se
preciso reagir, desenvolver o culto das tradições, mantê-las sempre vivazes nas memórias e
nos costumes...
[...]
O burburinho e a desordem que caracterizam o recolhimento indispensável ao elevado
trabalho de legislar não permitiram que os deputados o ouvissem; os jornalistas, porém, que
estavam próximo à Mesa, ao ouvi-lo, prorromperam em gargalhadas, certamente
inconvenientes à majestade do lugar. O riso é contagioso. O secretário, no meio da leitura,
ria-se, discretamente; pelo fim, já ria-se o presidente, ria-se o oficial da ata, ria-se o contínuo
 toda a Mesa e aquela população que a cerca riram-se da petição, largamente, querendo
sempre conter o riso, havendo em alguns tão fraca alegria que as lágrimas vieram.
Quem soubesse o que uma tal folha de papel representava de esforço, de trabalho, de sonho
generoso e desinteressado, havia de sentir uma penosa tristeza, ouvindo aquele rir inofensivo
diante dela. Merecia raiva, ódio, um deboche de inimigo talvez, o documento que chegava à
Mesa da Câmara, mas não aquele recebimento hilárico, de uma hilaridade inocente, sem
fundo algum, assim como se se estivesse a rir de uma palhaçada, de uma sorte de circo de
cavalinhos ou de uma careta de clown.
Os que riam, porém, não lhe sabiam a causa e só viam nele um motivo para riso franco e sem
maldade. A sessão daquele dia fora fria; e, por ser assim, as seções dos jornais referentes à
Câmara, no dia seguinte, publicaram o seguinte requerimento e glosaram-no em todos os
tons.
Era assim concebida a petição:
“Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário público, certo de que a língua
portuguesa é emprestada ao Brasil; certo também de que, por esse fato, o falar e o escrever
em geral, sobretudo no campo das letras, se veem na humilhante contingência de sofrer
continuamente censuras ásperas dos proprietários da língua; sabendo, além, que, dentro do
nosso país, os autores e os escritores, com especialidade os gramáticos, não se entendem no
tocante à correção gramatical, vendo-se, diariamente, surgir azedas polêmicas entre os mais
profundos estudiosos do nosso idioma - usando do direito que lhe confere a Constituição,
vem pedir que o Congresso Nacional decrete o tupi-guarani como língua oficial e nacional do
povo brasileiro. O suplicante, deixando de parte os argumentos históricos que militam em
favor de sua ideia, pede vênia para lembrar que a língua é a mais alta manifestação da
inteligência de um povo, é a sua criação mais viva e original; e, portanto, a emancipação
política do país requer como complemento e consequência a sua emancipação idiomática.
[...]”
BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma. [Trechos]

Texto 4
O que me interessou por Macunaíma foi incontestavelmente a preocupação em que vivo de
trabalhar e descobrir o mais que possa a identidade nacional dos brasileiros. Ora depois de pelejar
muito verifiquei uma coisa me parece que certa: o brasileiro não tem caráter. Pode ser que alguém já
tenha falado isso antes de mim porém a minha conclusão é uma novidade pra mim porque tirada da
minha experiência pessoal. E com a palavra caráter não determino apenas uma realidade moral não,
em vez entendo a entidade psíquica permanente, se manifestando por tudo, nos costumes na ação
exterior no sentimento na língua na História na andadura, tanto no bem como no mal. O brasileiro
não tem caráter porque não possui nem civilização própria nem consciência tradicional. Os
franceses têm caráter e assim os jorubas e os mexicanos. Seja porque civilização própria, perigo
iminente, ou consciência de séculos tenham auxiliado, o certo é que esses uns têm caráter. Brasileiro
não. Está que nem ainda não é tempo de afirmar coisa nenhuma […]. Este livro afinal não passa
duma antologia do folclore brasileiro.
ANDRADE, Mário de. Prefácio a Macunaíma. [Adaptado]

Texto 5

Tarsila do Amaral. Os operários. Disponível em:


http://galeriadefotos.universia.com.br/uploads/2012_05_21_23_54_570.jpg

Texto 6
Aquarela do Brasil
Ary Barroso (1939)

Brasil
Meu Brasil brasileiro
Meu mulato inzoneiro
Vou cantar-te nos meus versos
Ô Brasil, samba que dá
Bamboleio que faz gingar
Ô Brasil, do meu amor
Terra de Nosso Senhor
Brasil, Brasil
Pra mim, pra mim

Ah, abre a cortina do passado


Tira a Mãe Preta,do serrado
Bota o Rei Congo, no congado
Brasil, Brasil
Pra mim, pra mim
Deixa, cantar de novo o trovador
A merencória luz da lua
Toda canção do meu amor
Quero ver a Sa Dona, caminhando
Pelos salões arrastando
O seu vestido rendado
Brasil, Brasil
Pra mim, pra mim
Brasil
Terra boa e gostosa
Da morena sestrosa
De olhar indiscreto
Ô Brasil, samba que dá
Bamboleio, que faz gingar
Ô Brasil, do meu amor
Terra de Nosso Senhor
Brasil, Brasil
Pra mim, pra mim
Oh, esse coqueiro que dá coco
Onde eu amarro a minha rede
Nas noites claras de luar
Brasil, Brasil
Pra mim, pra mim
Ah, ouve essas fontes murmurantes
Aonde eu mato a minha sede
E onde a lua vem brincar
Ah, este Brasil lindo e trigueiro
É o meu Brasil, brasileiro
Terra de samba e pandeiro
Brasil, Brasil
Pra mim, pra mim

Texto 7
[Diálogo entre o monsenhor Bibiano e o major Amleto Ferreira]
— Observe bem o caro major e compadre, usamos as palavras muitas vezes sem atentar na
sua propriedade. É o que percebo agora, data venia, pois que a longa convivência e frutuosa
amizade que nos une já me fazem antecipar o que ia dizer o major. Mas, vejamos, que será
aquilo que chamamos de povo? Seguramente não é essa massa rude, de iletrados, enfermiços,
encarquilhados, impaludados, mestiços e negros. A isso não se pode chamar um povo, não
era isso o que mostraríamos a um estrangeiro como exemplo do nosso povo. O nosso povo é
um de nós, ou seja, um como os próprios europeus. As classes trabalhadoras não podem
passar disso, não serão jamais povo. Povo é raça, é cultura, é civilização, é afirmação, é
nacionalidade, não é o rebotalho desta mesma nacionalidade. Mesmo depuradas, como
prevejo, as classes trabalhadoras não serão jamais o povo brasileiro, eis que esse povo será
representado pela classe dirigente, única que verdadeiramente faz jus a foros de civilização e
culturas nos moldes superiores europeus - pois quem somos nós senão europeus
transplantados?
— Lá isto é verdade. Dá-se a esse povinho alguma coisa...
— É o que digo, meus caros senhores. É preciso ver com clareza, com lógica, sem
pieguismos. Temos diante de nós talvez a mais hercúlea tarefa já posta diante do homem
civilizado. E, praza aos Céus que esteja errado, é nisto que se fundam meus receios quanto ao
futuro. É no medo de que deixemos o Criador fazer sua parte e não façamos a nossa, é disto
que tenho medo. Que somos hoje? Alguns poucos civilizados, uma horda medonha de negros,
pardos e bugres. Como alicerce da civilização, somos muito poucos, daí a magnitude de
nosso labor. Mas, no que depender de mim, e tenho certeza de que dos senhores também, o
Brasil jamais se tornará um país de negros, pardos e bugres, não se transformará num
valhacouto de inferiores, desprezível e desprezado pelas verdadeiras civilizações, pois aqui
também medrará, mercê de Deus, uma dessas civilizações.
— Já pensou o compadre alguma vez na política? Olha que, com verbo tão fácil e razões tão
claras...
— Não, não, odeio a política, sou um homem perfeitamente apolítico. Meu trabalho dá-se em
outras linhas que não as da política. Que me perdoem os políticos, nada tenho contra eles,
mas a sujidade da política, se me permitem a rudeza da expressão, me enoja. Não, não,
prefiro ficar em meu canto, como o membro mais humilde das classes produtoras, fazendo
por onde ampliar a riqueza concreta do meu país, é tudo o que quero. Não ambiciono — e
Deus me guarde de ambicioná-lo — o poder.
RIBEIRO, João Ubaldo. Viva o povo brasileiro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011. [Trecho]

Texto 8
[Diálogo entre Nego Leléu e sua neta Maria da Fé]
— Não. Vai ter que ser aqui, aqui é que é a minha terra.
— Aqui é que é a minha terra... Qual é tua terra, menina, a tua terra é os terreninhos que eu
tenho e vou te deixar e olhe lá, porque mesmo assim, se tu não for esperta, tu acaba sem nada,
tem sempre um para querer tomar.
— Não tou falando minha terra nesse sentido, tou falando que aqui é minha terra, nós somos
o povo desta terra.
— Disseste bem, disseste muito bem: nós somos o povo desta terra, o povinho. É o que nós
somos, o povinho. Então te lembra disto, bota isto bem dentro da cabeça: nós somos o
povinho! E povinho não é nada, povinho não é coisa nenhuma, me diz onde é que tu já viu
povo ter importância? Ainda mais preto? Olha a realidade, veja a realidade! Esta terra é dos
donos, dos senhores, dos ricos, dos poderosos, e o que a gente tem de fazer é se dar bem com
eles, é tirar o proveito que puder, é se torcer para lá e para cá, é trabalhar e ser sabido, é
compreender que certas coisas que não parecem trabalho são trabalho, essa é que é a vida do
pobre, minha filha, não te iluda. E, com sorte e muito trabalho, a pessoa sobe na vida,
melhora um pouco de situação, mas povo é povo, senhor é senhor! Senhor é povo? Vai
perguntar a um se ele é povo! Se fosse povo, não era senhor.
RIBEIRO, João Ubaldo. Viva o povo brasileiro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011. [Trecho]

Texto 9

Texto 10

Disponível em: http://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/brasil/2016/04/17/no-apice-manifestacoes-em-


brasilia-juntaram-79-mil-pessoas.htm.

PROPOSTA DE REDAÇÃO

IDENTIDADE BRASILEIRA:
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SENTIMENTO NACIONAL OU FALSIDADE IDEOLÓGICA?

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