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INTRODUÇÃO
A humilhação do filho de Deus, compreendendo desde a sua encarnação até
a sua morte na cruz, revela o plano de Deus para salvar a humanidade. Os judeus
não compreenderam o mistério da encarnação de Jesus, o filho de Deus, e por isso
não o receberam (João 1.11). Os próprios discípulos não compreenderam esse
mistério, motivo pelo qual discordaram de Jesus, quando ele disse que partiria para
o caminho da humilhação e morte.
1
Momenclatura adotada por Martinho Lutero.
“Eis que o meu servo procederá com prudência; será exaltado, e elevado, e
mui sublime. Como pasmaram muitos à vista dele, pois o seu parecer estava tão
desfigurado, mais do que o de outro qualquer, e a sua figura mais do que a dos
outros filhos dos homens. Assim borrifará muitas nações, e os reis fecharão as suas
bocas por causa dele; porque aquilo que não lhes foi anunciado verão, e aquilo que
eles não ouviram entenderão. Quem deu crédito à nossa pregação? E a quem se
manifestou o braço do SENHOR? Porque foi subindo como renovo perante ele, e
como raiz de uma terra seca; não tinha beleza nem formosura e, olhando nós para
ele, não havia boa aparência nele, para que o desejássemos. Era desprezado, e o
mais rejeitado entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos; e,
como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos
dele caso algum. Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as
nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e
oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa
das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas
pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada
um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de
nós todos. Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca; como um cordeiro
foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores,
assim ele não abriu a sua boca. Da opressão e do juízo foi tirado; e quem contará o
tempo da sua vida? Porquanto foi cortado da terra dos viventes; pela transgressão
do meu povo ele foi atingido. E puseram a sua sepultura com os ímpios, e com o rico
na sua morte; ainda que nunca cometeu injustiça, nem houve engano na sua boca.
Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando a sua alma se
puser por expiação do pecado, verá a sua posteridade, prolongará os seus dias; e o
bom prazer do Senhor prosperará na sua mão. Ele verá o fruto do trabalho da sua
alma, e ficará satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo, o justo, justificará a
muitos; porque as iniqüidades deles levará sobre si. Por isso lhe darei a parte de
muitos, e com os poderosos repartirá ele o despojo; porquanto derramou a sua alma
na morte, e foi contado com os transgressores; mas ele levou sobre si o pecado de
muitos, e intercedeu pelos transgressores.”
2
Texto retirado ipsis literis da dissertação de mestrado de S ilvio Ferreira da Silva Filho: A
CANÇÃO DO SERVO DE ISAÍAS 52.13-53.12 E AS CONFISSÕES LUTERANAS: A RELEVÂNCIA
DO TEXTO PARA A PROCLAMAÇÃO CONFESSIONAL DO EVANGELHO, 2014.
querido agir através do Servo, cujo modus operandi mostrados anteriormente em Is
42.1-9; 49.1-6; 50.4-9, tomam em Is 52.13 - 53.12, um contorno mais claro, com
detalhes mais vivos, especialmente no que diz respeito ao seu sofrimento vicário e
seu triunfo incontestável. Esta descrição do Servo pressupõe as três descrição
prévias (capítulos 42,49,50). Ela não pode ser entendida sem as que a precedem. O
que se ve nessas passagens citadas, é que os sofrimentos do Servo estão ainda
envoltos em brumas, ou seja, não estão bem claras, como observa Osvalt (2011, p.
458): “[…] As consequencias mundias de sua obra após aparente fracasso, a falta
de compreensão, a disposição de enfrentar o sofrimento imerecido, o sucesso
infalível, tudo isso está presente em forma embrionária nas primeiras descrições.”
Nesse trabalho, será adotada a divisão feita por Osvalt. A seguir, uma análise
das cinco estrofes que tem início em Is 52.13-15:
“1 Eis que o meu servo procederá com prudência; será exaltado, e elevado, e
mui sublime. 2 Como pasmaram muitos à vista dele, pois o seu parecer estava tão
desfigurado, mais do que o de outro qualquer, e a sua figura mais do que a dos
outros filhos dos homens. 3 Assim borrifará muitas nações, e os reis fecharão as
suas bocas por causa dele; porque aquilo que não lhes foi anunciado verão, e aquilo
que eles não ouviram entenderão.”
Por isso os pagãos recebem com fé as boas novas que já haviam sido
ouvidas antes. Israel tem que se lamentar por não ter acreditado nas notícias que
havia ouvido há muito tempo, não apenas com referência à pessoa e obra do Servo
de Deus, mas em relação à sua origem humilde e fim glorioso.
John Oswalt diz: “A pessoa que está sendo descrita aqui [53.1] como ‘o braço
do Senhor’ e como o Servo é o mesmo Servo descrito em 42.1-9, 49.1-6; e 50.4-9.”
(OSWALT, 2011, p. 458). A expressão “o braço de IAVÉ” que também aparece em
40.10; 48.14; 51.5; 52.10 mostra claramente como Deus resolveu resgatar seu povo
de maneira que este não poderia fazer isso por si só. Mas quando Deus estende seu
braço savador a reação a ele é de espanto. A questão central aqui é que a notícia
que está sendo dada a respeito da salvação provém do braço de Iavé.
O verso 2 traz o Servo como alguém sem nenhum atrativo que pudesse atrair
aqueles a quem veio libertar. O braço do Senhor descrito no verso 1 começa a se
manisfestar na vida do Servo em princípio de forma imperceptível prosseguindo de
forma crescente no decorrer da sua vida. Silva Filho (2014, p. 34) lembra:
Osvalt complementa:
O verso 3 parece indicar que ele foi visto pelas pessoas mas, o que elas
viram? Beleza alguma. Essa palavra pode ser traduzida também por “forma,
aparência, dignidade”. É usada para descrever a beleza de Raquel (Gn 29.17) e a
de José (Gn 39.6). Também caracteriza a Davi (1 Sm 17.42). Pode caracterizar o
próprio Deus (Sl 96.6, 145.5). Isso indica que o Servo abriu mão da sua beleza e
esplendor divinos para vir ao encontro da humanidade pecadora a fim de resgatá-la.
Aquilo que agrada o olhar, a vista das pessoas, não foi visto no servo.
A repulsa das pessoas quando se depararam com ele aparece na expressão
“era desprezado”. Era a figura de um perdedor. E as pessoas pensavam: como um
perdedor poderia ajudar outros perdedores?
Além de não ser atrativo, ele ainda tinha seus próprios problemas, Ele estava
ferido, maltratado, era um homem de dores. Ele encarna o sofrimento e a reação
das pessoas é imediata: elas escondem o rosto. Talvez até por questões
cerimoniais. Osvalt comenta:
A primeira estrofe mostra que ele não foi reconhecido devido ao seu parecer.
Parecia que os efeitos do pecado estavam sobre ele. Ele estava bastane
desfigurado por causa dos seus sofrimentos. A partir do verso quatro pode-se
entender que seus sofrimentos foram por causa dos pecados do seu povo. Na
verdade não havia nada de errado com ele, o propósito era providenciar a cura. Não
havia nada errado com ele, mas tudo estava errado conosco.
Nesse sentido, até que o castigo seja removido todas as boas intenções do
mundo não podem restaurar a hamonia quebrada. Osvalt complementa: “No Servo,
ele achou a forma de gratificar seu amor e satisfazer a sua justiça” (OSVALT, 2011,
p. 473).
Isaías 53.7-9 “7 Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca; como
um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus
tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca. 8 Da opressão e do juízo foi tirado; e
quem contará o tempo da sua vida? Porquanto foi cortado da terra dos viventes;
pela transgressão do meu povo ele foi atingido. 9 E puseram a sua sepultura com os
ímpios, e com o rico na sua morte; ainda que nunca cometeu injustiça, nem houve
engano na sua boca.
O Servo é também comparado com uma ovelha, mas diferente do seu povo,
que a passagem anterior se refere como ovelhas, a característica emprestada do
animal aqui é outra. Enquanto se aplica ao povo de Deus a facilidade que as ovelhas
têm em se extraviar, ao Servo se aplica a obediência que esse animal singular
apresenta. A metáfora da ovelha ainda faz com que o Servo se identifique com o seu
povo, se fazendo como um deles.
Ser tirado da opressão e do juízo pode ter o sentido de que Deus o arrebatou
para si, mas não há consenso entre os comentadores sobre a passagem. Parte do
seus sofrimentos foi ter sido deixado sem decendentes. Silva Filho (2014, p. 58) diz:
[…] o Servo foi deixado sem filhos numa cultura segundo a qual morrer sem
filhos era ter vivido uma existência inútil. Do ponto de vista meramente
humano, era perceptível que este homem estava sendo castigado de todas as
formas possíveis e imagináveis.
Muito longe de ser maldito de Deus, o Servo será o meio pelo qual as
promessas de reconciliação se tornam reais na vida do povo de Deus. Ainda que
tenha sido reputado como maldito por essa geração, após a ressurreição ele verá
cumprido em si mesmo todos os propósitos de Deus. Como salienta Westermann
(1969 apud OSVALT, 2011, p. 490): “É somente do outro lado da morte do Servo
que seu livramento e o nosso podem concretizar-se.”
Com o seu conhecimento ele justificará a muitos, ou seja, ele tanto conhece
aquele que o enviou como também conhece aqueles que justifica. Silva diz:
Ele conhece a Deus, com o qual ele está unido em amor; ele conhece os
conselhos do seu amor e os desejos da sua graça, pelo desejo do qual
deixou-se moer, ser traspassado e ferido, até chegar às câmaras da morte.
Por causa do conhecimento completo que ele tem do Pai, ele é capaz de
tornar justos todos os que se apegam a ele em fé verdadeira. (SILVA FILHO,
2014, p. 64).
O Servo, ao tomar o lugar dos seus escolhidos e se entregar por eles os
justifica. Nesse sentido, cada ser humano salvo é declarado justo por ele, que
conquistou essa autoridade com seu sofrimento e morte vicária. Silva Filho (2014, p.
65) complementa:
A razão pela qual as pessoas são tornadas justas é que o Servo está
carregando as iniqüidades deles. Ele carrega as iniquidades do povo e, por
isso, ele leva sobre si o castigo que o povo deveria levar e, assim, torna
justos todos aqueles que recebem, pela fé, o sacrifício que ele ofereceu.
Porque a justificação tem sua raiz no perdão dos pecados, como uma dádiva
imerecida da graça, sem obras.
Ele mantém firme ao seu lado aqueles a quem justifica intercedendo por eles
junto a Deus. Ele é o advogado dos pecadores que confiam em sua justiça junto do
Pai. Interceder por nós faz parte do seu Ofício Sacerdotal, segundo o qual, ele não
apenas ofereceu-se por nós, como Cordeiro sem defeito, mas que intercede por nós
junto ao Pai.