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Capítulo 3 – O Trabalho Desenvolvido 45

Tabela 3.1: Vantagens do uso de geradores de indução:

Gerador de Indução Gerador Síncrono

Custos de Considerável vantagem para potências de Acima de 100 kW é mais competitivo


implantação até 100 kW.
Disponibilidade da Sempre disponível devido ao grande uso Dificuldades em países em
máquina e peças de de máquinas de Indução. desenvolvimento em virtude do pequeno
reposição mercado.
Construção Robusto e simples. Possui baixo custo de A fonte CC, as escovas e o regulador de
manutenção. tensão tornam o gerador mais susceptível
à quebras e altos custos de manutenção.
Sincronismo com a Não necessita. Basta um circuito de Necessita de um sincronoscópio para
rede elétrica conexão para ser acionado quando a efetuar o paralelismo.
máquina atinge velocidade síncrona.
Controle de Equipamentos relativamente simples são Necessita de regulador de tensão e
velocidade em modo utilizados. Na maioria dos casos são regulador de freqüência
Isolado usadas resistências de lastro.
Capacidade de Máquinas de 4 ou mais pólos suportam É projetado para atender ao projeto da
sobrevelocidade até o dobro da velocidade nominal turbina

(Fonte: CHAPALLAZ, 2000)

Tabela 3.2: Desvantagens do uso de geradores de indução:

Gerador de Indução Gerador Síncrono

Magnetização É feita pela rede elétrica ou através de Pode fornecer ou consumir reativos em
banco de capacitores. função da corrente de excitação.
Rendimento Menor que o do gerador síncrono. Mantém a o alto rendimento mesmo
Decresce na medida em que a potência operando abaixo das condições nominais.
das máquinas diminui. É baixo quando
operando abaixo das condições nominais
.
Fator de potência Decresce quando a velocidade de Pode ser ajustado em função das
operação e / ou a potência é diminuída. necessidades do sistema.
Inércia das massas Seu rotor tem baixa inércia, o que pode Inércia de rotor maior do que a do GI.
girantes em rejeição necessitar em alguns casos de um
de carga volante de inércia.
Qualidade da energia Altas variações de tensão e freqüência, Tensão e freqüência praticamente
gerada mesmo com o uso de sistema de controle. constante.
Seleção da máquina Pouco suporte dos fabricantes. Risco de Dimensionamento mais simples, muito
baixo desempenho da máquina devido ao embora necessite de atenção especial ao
fato de ter sido projetada para operar regulador automático de tensão.
como motor.
Partida de motores de Podem perder a magnetização, causando Possui capacidade de suportar o
grandes potências colapso no sistema. transitório de partida de motores de
grandes potências.

(Fonte: CHAPALLAZ, 2000)


Capítulo 3 – O Trabalho Desenvolvido 46

Com base nas premissas apresentadas, observa-se que o uso da máquina de indução em
grupos geradores BFT mostra-se uma alternativa atraente, seja em modo isolado ou acoplado à
rede elétrica.

É interessante notar também que a faixa de potência (0,5 a 100 kW) em que as máquinas de
indução se sobressaem sobre as síncronas segundo Chapallaz (2000), abrange a faixa (3 a 85 kW)
em que Lopes (2003) concluiu ser factível o investimento para um horizonte de 4 anos e com taxas
de interesse de 18% a.a..

3.3 Estudo de perdas energéticas

Os estudos das perdas energéticas têm por finalidade estimar a eficiência do grupo gerador
BFT. Os testes realizados neste trabalho foram feitos em uma máquina de fluxo de menor porte, de
forma que se pudesse trabalhar em uma bancada de ensaios mais flexível.

3.3.1 A BFT

A bomba hidráulica de menor porte que foi utilizada nos ensaios foi a EHF 32-16, 4 pólos,
com rotor de 170mm, fabricada pela EH Bombas Hidráulicas. De posse do catálogo de
especificações técnicas fornecido pelo fabricante, foi possível fazer a conversão da máquina para
utilização como BFT a partir do modelo de Sharma (1985). A figura 3.1 apresenta a curva de
desempenho da bomba EHF 32-16.
Capítulo 3 – O Trabalho Desenvolvido 47

Figura 3.1: Curva de desempenho da máquina de fluxo operatriz EHF 32-16


Fonte: Catálogo de Bombas EH Bombas

3.3.2 Estudo das equações de transformação

Segundo Lopes (2003), a conversão entre os modos operatriz e motriz inicialmente seria
feito pelo modelo de Sharma (1985) e, após a pré-seleção da bomba hidráulica, ajustes em função
da velocidade de operação seriam feitos através da metodologia de Willians (1995).

Ao se utilizar as equações de Willians (1995) é necessário saber em que velocidade deseja-


se trabalhar com a BFT, a altura e a vazão disponível e o rendimento da máquina no ponto de
Capítulo 3 – O Trabalho Desenvolvido 48

operação quando operando como bomba. Assim, definida a velocidade de operação, faz-se
iterações até a convergência dos valores de rendimento e do ponto de operação da bomba.

Devido ao fato de se prever a utilização da BFT em modo isolado à velocidade síncrona ou


em velocidade supersíncrona quando conectada à rede elétrica, sem uso de conversores, procedeu-
se a algumas modificações nos equacionamentos de modo a facilitar os cálculos.

Sabe-se que a máquina de indução possui um escorregamento nominal (snom) quando


operada como motor em condições nominais. Para a sua utilização em modo isolado, dimensiona-se
o grupo gerador BFT para operar em velocidade síncrona. Já para o caso de uso acoplado à rede
elétrica sem uso de conversor CA-CC-CA, de acordo com a bibliografia existente, a máquina e
indução tem melhor eficiência quando operando em velocidade supersíncrona igual à velocidade
nominal adicionada do escorregamento nominal. Assim, os equacionamentos de Willians (1995),
mostrados nas equações 2.12 e 2.13, ficaram divididos em dois blocos, sendo eles:

· Isolado de rede elétrica:

Q Bomba 1
QBFT = × (3.1)
ηmáx (1 - s nom )
0, 8

2
H æ 1 ö
H BFT = Bomba × çç ÷
ηmáx è (1 - snom ) ÷ø
1, 2 (3.2)

· Conectado à rede elétrica:

Q Bomba (1 + snom )
QBFT = × (3.3)
(1 - s nom )
0, 8
ηmáx

2
H æ (1 + snom ) ö
H BFT = Bomba × çç ÷
ηmáx è (1 - snom ) ÷ø
1, 2 (3.4)

Após a modificação nas equações de Willians (1995), desenvolveu-se um algoritmo que


agilizasse o processo de cálculo e escolha da BFT. O algoritmo foi implementado em ambiente
Delphi, da Borland. A figura 3.2 apresenta a tela do programa “BFT-CPH” desenvolvido a partir
das duas premissas de modo de operação apresentadas.
Capítulo 3 – O Trabalho Desenvolvido 49

Figura 3.2: Tela do programa BFT-CPH

Como pode ser observado na figura 3.2, os dados de entrada são HBFT , QBFT , rendimento
percentual da máquina em modo operatriz (bomba), o tipo de funcionamento (acoplado ou isolado)
e o escorregamento nominal percentual da máquina de indução. Ao executar o programa, o mesmo
retorna ao usuário os dados relativos ao aproveitamento, ou seja, HBFT e QBFT , a potência
hidráulica disponível, o modo de fornecimento de energia elétrica, o rendimento em modo operatriz
e o ponto de operação da bomba.

Com as modificações feitas nos equacionamentos de Willians (1995), ficou possível


selecionar o grupo hidrogerador BFT com maior facilidade, pois não se faz mais necessário pré-
selecionar a máquina de fluxo a partir do modelo de Sharma (1985) conforme proposto por Lopes
(2003). Agora, basta estimar um valor de escorregamento nominal inicial e, após selecionar a
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unidade hidrogeradora BFT, utilizar o escorregamento nominal da máquina de indução que vem
acoplada à maquina de fluxo para finalmente fazer as iterações.

3.3.3 Determinação do rendimento da BFT

Para se fazer uma estimativa do rendimento da turbina e para se avaliar a aplicabilidade das
equações de Willians (1995), levantou-se a curva de potência em modo motriz da bomba EHF 32-
16, em função da velocidade do rotor. Para tal, foi acoplado ao eixo da BFT um freio do tipo
Prony.

No freio de Prony, o momento (M) de um braço de alavanca de comprimento (l) definido é


calculado através da seguinte fórmula:

M = l ×m× g (3.5)

onde m é a massa aplicada no braço de alavanca e g é a aceleração da gravidade.

Para o levantamento da curva de momento da BFT, acoplou-se ao eixo da mesma um


sistema com uma polia do tipo chaveta e a esta um braço de alavanca com um comprimento l de
0,5m. Na ponta do braço de alavanca foi colocado um pino de contato, conforme apresentado na
figura 3.3.

Pino de contato

Figura 3.3: Desenho esquemático do freio de Prony

A função do pino de contato é deixar o braço de alavanca na horizontal, evitando assim


componentes horizontais do momento medido.
Capítulo 3 – O Trabalho Desenvolvido 51

Apresenta-se nas figuras 3.4 e 3.5, as fotos do freio acoplado ao eixo da bomba EHF 32-
16.

Figura 3.4: Vista superior do freio de Prony Figura 3.5: Vista Frontal do freio de Prony

O pino de contato foi posicionado sobre o prato de uma balança (do fabricante Filizola tipo
L com capacidade máxima de 10 kg de carga e resolução de 10 g), para que fosse possível obter
medidas de massa para determinação do torque e da potência, no eixo da bomba. Assim, a ponta
do braço de alavanca transmitirá um momento, advindo da potência existente na polia girante no
eixo da BFT.

A potência no eixo da máquina é calculada através da equação 3.6:

Peixo = M × ω (3.6)

Substituindo-se 3.5 em 3.6, podemos calcular a potência no eixo da BFT através da


equação 3.7:

Peixo = l × m × g × ω (3.7)

Logo, de posse dos valores de massa e velocidade podemos extrair as curvas de Potência x
Velocidade e Rendimento x Velocidade.

Para simular o par H e Q de um aproveitamento hidráulico, foi utilizado um conjunto


motobomba, acionado por um inversor de freqüência.
Capítulo 3 – O Trabalho Desenvolvido 52

Os dados de rotação, massa e vazão, coletados no ensaio encontram-se na tabela 3.3,


assim como os valores calculados de potência hidráulica de entrada, potência no eixo da BFT,
torque e rendimento:

Tabela 3.3: Dados obtidos no ensaio da bomba EHF 32-16

W Massa Vazão Pressão de Potência Potência Torque Rendimento


(rpm) (kg) (l/s) Recalque Hidráulica no eixo no eixo (%)
(Kgf/cm 2) (W) (W) (N.m)
1 1450 1,15 5,56 2,40 1308,00 856,51 5,64 65,48
2 1590 1,10 5,21 2,55 1302,89 898,37 5,40 68,95
3 1680 1,05 5,44 2,60 1387,48 906,08 5,15 65,30
4 1780 1,00 5,50 2,65 1429,21 914,30 4,91 63,97
5 1850 0,93 5,44 2,63 1403,49 883,73 4,56 62,97
6 1970 0,89 5,27 2,60 1343,20 900,58 4,37 67,05
7 2060 0,84 5,19 2,80 1424,27 888,82 4,12 62,41
8 2090 0,80 5,32 2,90 1514,65 858,82 3,92 56,70
9 2100 0,78 6,48 2,90 1843,92 841,36 3,83 45,63
10 2180 0,75 7,03 3,00 2067,59 839,82 3,68 40,62
11 2249 0,70 6,89 3,10 2094,28 808,64 3,43 38,61
12 2320 0,65 7,00 3,20 2198,17 774,58 3,19 35,24
13 2450 0,55 6,83 3,20 2143,67 692,14 2,70 32,29
15 2520 0,50 7,29 3,30 2360,53 647,20 2,45 27,42
16 2610 0,45 6,77 3,40 2258,34 603,28 2,21 26,71
17 2650 0,40 6,74 3,40 2246,76 544,47 1,96 24,23
18 2685 0,40 6,54 3,50 2245,29 551,66 1,96 24,57
19 2760 0,35 6,48 3,60 2289,00 496,19 1,72 21,68
20 2830 0,30 6,42 3,60 2268,56 436,09 1,47 19,22
21 2880 0,25 6,54 3,70 2373,59 369,83 1,23 15,58
22 2903 0,26 6,46 3,70 2344,18 380,24 1,25 16,22
23 3015 0,10 6,77 3,85 1308,00 856,51 5,64 65,48

Os dados apresentados na tabela 3.3 foram levantados a partir de ensaios consecutivos da


unidade. É interessante salientar que os valores de vazão e altura, variam em função da potência
solicitada no eixo da BFT, o que implica dizer que, durante o ensaio, o sistema de simulação de um
aproveitamento residual (conjunto motobomba e inversor) não foi modificado. Em função da
potência solicitada, a reação no rotor da máquina provoca um aumento da pressão na adução do
sistema e uma redução na vazão.

De posse dos resultados obtidos no ensaio, foi possível traçar o gráfico de potência no eixo
em função da velocidade e de rendimento percentual em função da velocidade. A seguir, nas figuras
3.6 e 3.7, são apresentados os gráficos obtidos.
Capítulo 3 – O Trabalho Desenvolvido 53

Figura 3.6: Gráfico de potência no eixo x rotação

Figura 3.7: Gráfico de rendimento da BFT


Capítulo 3 – O Trabalho Desenvolvido 54

No gráfico da curva de potência na figura 3.6 foram feitas regressões polinomiais, onde foi
observado um melhor ajuste na regressão de 3ª ordem.

No gráfico de rendimento mostrado na figura 3.7, o melhor ajuste obtido com regressão
polinomial, foi o de segunda ordem. A partir deste gráfico é possível observar uma deficiência do
freio de Prony: à medida em que se aumenta a carga no freio tem-se problemas de vibração do
mesmo, fato este que dificulta a leitura das grandezas.

3.4 Estudos do Sistema BFT – Máquina de Indução:

Sabendo-se que a máquina de fluxo projetada para operar em 1750 rpm, selecionou-se uma
máquina de indução compatível para ser acoplada ao eixo da daquela. A máquina de indução que
foi acoplada ao eixo da BFT é do fabricante WEG Motores. Os dados de placa da máquina
encontram-se na tabela 3.4.

Tabela 3.4: Dados de placa para condição nominal da máquina de indução 1,5 cv – ligação em delta

Motor WEG TE 80 Standard


Tensão Nominal (V) 220
Corrente Nominal (A) 4,78
Potência (cv) 1,5
IP 54
IP/IN 5,4
Categoria N
Classe de Isolação B
Rotação (rpm) 1750
Fator de Serviço 1,15
cos f 0,83
Rendimento (%) 72,3

A partir do ensaio da BFT, observou-se que o melhor rendimento acontece em 1590 rpm e
a maior potência fornecida em 1780 rpm. No entanto, sabe-se que a velocidade nominal da
máquina de indução selecionada é de 1750 rpm. Logo, a velocidade de interesse para a utilização
desta como gerador, diretamente conectada à rede, é de 1850 rpm. A partir dos gráficos das figuras
Capítulo 3 – O Trabalho Desenvolvido 55

3.6 e 3.7, observa-se que a bomba EHF 32-16, em 1850 rpm, fornece cerca de 900 W potência e
tem um rendimento de 60%.

O par referente ao aproveitamento residual para velocidade de operação 1850 rpm,


segundo a tabela 3.3, é HBFT = 26,3 m QBFT = 5,44 l/s. Se utilizarmos estes valores no programa
BFT-CPH desenvolvido no âmbito deste trabalho e adotarmos um escorregamento de 2,73% e um
rendimento inicial de 45% como bomba, temos:

Tabela 3.5: Determinação do rendimento da unidade EHF 32-16

Iteração H BFT(m) QBFT(l/s) η máx (%) H BEP(m) QBEP(l/s) QBEP(m 3/h)

1ª 26,3 5,44 45,00 9,04 2,72 9,79


2ª 26,3 5,44 48,00 9,77 2,86 10,30
3ª 26,3 5,44 48,00 9,77 2,86 10,30
4ª 26,3 5,44 48,00 9,77 2,86 10,30

Feitas as iterações, o valor de rendimento atingido pela BFT foi de 48%. Tal rendimento é
cerca de 12% abaixo do atingido pela máquina em modo operatriz. Fato este já citado por Lopes
(2003), que contrariamente a Chapallaz (1992) obteve rendimentos em modo operatriz maiores do
que no modo motriz. Abaixo, o ábaco da curva de desempenho estático da máquina de fluxo EHF
32-16 com os pontos correspondentes às iterações.
Capítulo 3 – O Trabalho Desenvolvido 56

Figura 3.8: Curva de desempenho da máquina de fluxo operatriz EHF 32-16


Fonte: Catálogo EH Bombas

Substituindo-se o freio de Prony pela máquina de indução, obtém-se a montagem do


conjunto BFT-GI, conforme mostrado na figura 3.9.
Capítulo 3 – O Trabalho Desenvolvido 57

Figura 3.9: Conjunto BFT-GI de 1,5 cv

O conjunto BFT-GI foi preparado para operar conectado à rede elétrica. Para medir a
troca de potência com a rede elétrica, foi utilizado um medidor de energia de quatro quadrantes, ou
seja, um medidor capaz de medir as potências ativa e reativa em qualquer sentido entre os dois
sistemas. O medidor de energia utilizado é o MKM-D do fabricante KRON Medidores. Abaixo a
foto do medidor.

Figura 3.10: Medidor de energia de quatro quadrantes


(Fonte: KRON, 2004)

Esse equipamento faz a medição da tensão de linha, corrente de linha, fator de potência,
freqüência, potência ativa, potência reativa, potência aparente, energia, demanda ativa e demanda
reativa. Além dessas medições, o medidor possui memória de massa, o que possibilita o
monitoramento de até seis das variáveis citadas.
Capítulo 3 – O Trabalho Desenvolvido 58

A instalação do medidor foi feita de forma que os valores de potência ativa e reativa fossem
negativos (terceiro quadrante) quando a máquina de indução estivesse motorizando. No caso da
máquina estar gerando, a mesma consume reativos para a sua magnetização e fornece potência ativa
(quarto quadrante). A figura 3.11 ilustra os quatro modos de operação do medidor.

Figura 3.11: Quadrantes de potência

Em nenhum dos testes houve o fornecimento de potência reativa à rede elétrica, visto que a
máquina utilizada é de indução com rotor em gaiola sem uso de conversor, que implica dizer que não
existe a possibilidade deste fornecimento, salvo quando do uso de um banco capacitor
superdimensionado em paralelo com a máquina.

Para realização dos testes, construiu-se uma bancada móvel. Na figura 3.12, o diagrama
esquemático da bancada e na tabela 3.6 a discriminação dos componentes.
Capítulo 3 – O Trabalho Desenvolvido 59

Figura 3.12: Diagrama esquemático da bancada de testes

Tabela 3.6: Discriminação dos componentes da bancada de testes

Número Item
1 Gerador de Indução
2 Banco de Capacitores
3 Sistema de Medição
4 Soft-Starter
5 Rede Elétrica

A “soft-starter” em princípio não teve utilidade neste ensaio, contudo como foi prevista a
utilização da bancada em unidades maiores, onde os transitórios de partida são maiores, e assim
montou-se a bancada preparada para tal situação. A soft-starter foi programada para, após atingir
regime permanente, acionar o relé de “bypass”, e assim a unidade fica diretamente conectada à rede
elétrica. Este procedimento foi tomado visando não danificar o banco de capacitores9 devido aos
picos de corrente que acontece, durante o chaveamento dos tiristores da soft-starter. A
desvantagem que se tem com esta medida de segurança é a falta de monitoramento da corrente pela
“soft-starter”, sendo tal perda é compensada pelo medidor de energia.

As figuras 3.13 e 3.14 a seguir mostram o painel de medição montado no CPH:

9
Quando aplicável.
Capítulo 3 – O Trabalho Desenvolvido 60

Figura 3.13: Bancada de medição utilizada nos ensaios


Capítulo 3 – O Trabalho Desenvolvido 61

Figura 3.14: TCs do sistema de medição

O acionamento do sistema em todos os teste foi feito de acordo com os seguintes passos
listados na tabela 3.7.

Tabela 3.7: Procedimento de partida da unidade hidrogeradora BFT

Verificou-se a seqüência de fases da máquina de indução de forma a garantir que o sentido de giro da

mesma estivesse em conformidade com o da máquina de fluxo em modo motriz;
Acionou-se o agente simulador do aproveitamento hidrelétrico (bomba acionada por inversor de
2º freqüência), inicialmente com a válvula de entrada de água na BFT totalmente fechado, onde esta foi
sendo aberta gradualmente até que a velocidade da BFT atingisse a velocidade síncrona;

3º Fez-se o paralelismo, dando partida na soft-starter;

Coletou-se os dados referentes ao paralelismo, ou seja, em velocidade síncrona, de forma a se obter as



perdas na máquina de indução;
Acelerou-se a BFT com o aumento da potência hidráulica, ou seja, abrindo a válvula totalmente, até

que aquela atingisse a velocidade supersíncrona;
Com o sistema em velocidade supersíncrona foram feitas as medições necessárias, para que fosse

possível levantar as perdas no sistema.

A tabela 3.8 mostra os resultados coletados ao se acionar o conjunto BFT-MI de 1,5 cv no


momento da conexão com a rede elétrica em velocidade síncrona:
Capítulo 3 – O Trabalho Desenvolvido 62

Tabela 3.8: Resultados de conexão à rede elétrica em velocidade síncrona

Pressão de recalque (m) 28,0


Vazão (l/s) 3,90
Rotação da BFT (rpm) 1802
Potência hidráulica (W) 1071,25
Potência ativa (W) -151,9
Potência reativa (VAr) -945,0
Potência aparente (VA) 958,0
Fator de potência -0,16

Como pode ser observado, no momento da conexão existe consumo de potências ativa e
reativa, onde para esta potência está associada a magnetização da máquina e àquela as perdas
rotacionais e do cobre.

Ao se acelerar o sistema atingindo a velocidade supersíncrona, os valores coletados foram:

Tabela 3.9: Troca de potência com a rede elétrica em velocidade supersíncrona

Pressão de recalque (m) 26,3


Vazão (l/s) 5,44
Rotação da BFT (rpm) 1849
Potência hidráulica (W) 1403,49
Potência ativa (W) 746,5
Potência reativa (VAr) -1274,0
Potência aparente (VA) 1476,7
Fator de potência 0,58

Com esses dados pode-se verificar que:

- O conjunto BFT-MI teve um rendimento global de 53,18%;

- Considerando-se a potência fornecida pela BFT igual à 900 W (conforme gráfico


linearizado da figura 3.6), o gerador de indução teve rendimento de 82.94%.

- A máquina de indução, quando da operação como gerador, teve um fator de potência


igual à 0,58. Este valor é, de acordo com Chapallaz (2000), inferior ao nominal da máquina (tabela
3.4) devido ao fato desta ter sido projetada para trabalhar como motor.
Capítulo 3 – O Trabalho Desenvolvido 63

Com o intuito de reduzir o consumo de potência reativa da rede elétrica, e


conseqüentemente melhorar o fator de potência, adicionou-se um banco trifásico de capacitores de
1 kVAr, assim obtiveram-se os dados apresentados na tabela 3.8:

Tabela 3.10: Troca de potência com a rede elétrica em velocidade supersíncrona com banco de capacitores

Pressão de recalque (m) 26,3


Vazão (l/s) 5,44
Rotação da BFT (rpm) 1849
Potência hidráulica (W) 1403,49
Potência ativa (W) 746,5
Potência reativa (VAr) -273,0
Potência aparente (VA) 794,90
Fator de potência 0,91

Como era esperado, o consumo de potência reativa foi reduzido e o sistema continuou a
fornecer potência ativa ao barramento.
Capítulo 4

4 Estudo de Caso

4.1 Introdução

O estudo de caso se refere a motorização da vazão sanitária do aproveitamento


hidroelétrico da PCH Ervália localizada no Estado de Minas Gerais, de propriedade da Companhia
Força e Luz Cataguazes-Leopoldina. As características desta UHE estão apresentadas na tabela
4.1.

Tabela 4.1: Características da UHE Ervália

Propriedade CFLCL
Localização Ervália – MG
Início de Operação Abril de 1999
Área do Reservatório 161.037,29 m2
Valor do Empreendimento R$ 8,2 milhões
Rio Bagre
Potência 7,0 MW
Capacidade de Geração 31,0 GWh/ano

A figura 4.1 apresenta uma vista de conjunto da UHE Ervália e a figura 4.2 apresenta um
detalhe do sistema de vazão sanitária acoplado a barragem da usina.

A vazão despachada pelo sistema de manutenção da vazão sanitária, os níveis d’água de


montante, a queda liquida, a vazão e a potência hidráulica disponível estão apresentados na tabela
Capítulo 4 – Estudo de Caso 65

4.2. Estes dados são de grande importância, visto que os mesmos são determinantes para o
dimensionamento da unidade piloto.

Tabela 4.2: Dados do sistema de manutenção de vazão sanitária da UHE Ervália:

Nível de Água de Vazão (l/s) Queda Liquida


Potência (cv) Potência (kW)
Montante (m) (m.c.a.)
714,00 50 10 5,7 4,2
713,00 60 8,3 5,6 4,2
712,00 60 7,3 5,0 3,7
711,00 50 7,5 4,3 3,1

É interessante notar que a água que passa no sistema de vazão sanitária não possui
correlação com o seu nível à montante. Tal fato é decorrente do ajuste da válvula colocada na
tubulação não ser feito de forma otimizada. O ajuste da válvula do sistema de vazão sanitária é feito
de forma que se garanta a vazão mínima determinada pelos órgãos ambientais (50 l/s), assim,
quando o reservatório atinge o nível mínimo, a válvula é ajustada para garantir tal vazão. Caso o
nível do reservatório se eleve, a vazão do sistema é aumentada.

A tubulação de manutenção da vazão sanitária da UHE Ervália possui 40 metros de


extensão e possui 150 mm de diâmetro.
Capítulo 4 – Estudo de Caso 66

Figura 4.1: Vista de jusante do vertedouro da UHE Ervália

Saída do sistema
de vazão residual

Figura 4.2: Detalhe do sistema de vazão residual acoplado a barragem da UHE Ervália
Capítulo 4 – Estudo de Caso 67

4.2 Caracterização do aproveitamento da água residual da UHE

Ervália

O aproveitamento da água residual da UHE Ervália deve ser instalado na tubulação pré-
existente no local, visando atender a proposta de instalação de unidades hidrogeradoras BFT na
vazão residual de usinas.

A figura 4.3 apresenta um desenho esquemático da instalação proposta para a UHE Ervália.

Figura 4.3: Esquema da instalação da unidade hidrogeradora BFT na vazão residual da UHE Ervália

Outros desenhos com detalhamento da usina encontram-se no anexo A.


Capítulo 4 – Estudo de Caso 68

4.3 Dimensionamento de um conjunto BFT-MI a ser instalado na

vazão sanitária da UHE Ervália

Um sistema foi dimensionado para operar em paralelo com a rede elétrica. O sistema em
questão após os testes em laboratório deverá ser implantado na vazão sanitária da UHE, na
condição de unidade piloto.

Para o dimensionamento da unidade, foi requisitado junto à CFLCL os dados da vazão


sanitária em função do nível do reservatório. Os valores fornecidos pela Companhia encontram-se
listados na tabela 4.2

Para definir o escorregamento nominal da máquina de indução da unidade hidrogeradora,


inicialmente supôs-se que o dimensionamento seria para um conjunto BFT acoplado à uma máquina
de indução de 4 pólos, de velocidade nominal de 1750 rpm como motor. Assim fez-se:

ω síncrona - ω no min al 1800 - 1750


s MI - 4 _ pólos = = = 0,027778 = 2,7778 % (4.1)
ω síncrona 1800
Pela tabela 4.2 observa-se que a situação mais crítica para o funcionamento da BFT será
quando o reservatório estiver em seu nível mínimo, com nível de água em 711 m. Neste ponto a
potência hidráulica fornecida à BFT será de 3,1 kW. É necessário encontrar o par H x Q da
máquina de fluxo no modo operatriz (bomba), que possua correlação com os dados do
aproveitamento, ou seja, uma queda líquida de 7,5 m e vazão de 50 l/s em modo motriz (turbina).
Supondo um rendimento máximo da bomba de 75% e utilizando o programa de dimensionamento
BFT-CPH, temos:

H Bomba = 4,75m (4.2)

QBomba = 37,57l / s = 135, 27m 3 / h (4.3)

Através de uma pesquisa nos catálogos de fabricantes de máquinas de fluxo operatriz, em


busca de uma máquina que melhor atendesse ao ponto de operação H x Q = 4,75m x 135,27 m3/h,
foi definida a máquina de fluxo ITAP 125-200 de 6 pólos, do fabricante IMBIL.
Capítulo 4 – Estudo de Caso 69

As curvas dinâmica e de desempenho estático da máquina de fluxo operatriz encontram-se


abaixo nas figuras 4.4 e 4.5 respectivamente:

Figura 4.4: Curva dinâmica da máquina de fluxo operatriz ITAP 125-200


(Fonte: Catálogo Eletrônico IMBIL)
Capítulo 4 – Estudo de Caso 70

Figura 4.5: Curva de desempenho estático da máquina de fluxo operatriz ITAP 125-200
(Fonte: Catálogo Eletrônico IMBIL)
Capítulo 4 – Estudo de Caso 71

A máquina de indução que vem acoplada à bomba é fornecida pelo fabricante WEG e
possui os dados de placa apresentados na tabela 4.3.

Tabela 4.3: Dados de placa da máquina de indução de 5 cv – ligação em delta

Motor WEG TE 80 Standard


Tensão Nominal (V) 220
Corrente Nominal (A) 15,4
Potência (cv) 5
IP 54
IP/IN 6,8
Categoria N
Classe de Isolação B
Rotação (rpm) 1160
Fator de Serviço 1,15
cos f 0,75
Rendimento (%) 84

Para esta máquina de indução, o escorregamento nominal é, portanto:

ωsíncrona - ωno min al 1200 - 1160


sMI -6 _ pólos = = = 0,0 33333 = 3,3333%
ωsíncrona 1200 (4.4)

De posse deste novo valor de escorregamento, faz-se necessário agora determinar o


rendimento exato da máquina de fluxo operatriz para o par HBFT x QBFT = 7,5 m x 50 l/s. Assim
calcularam-se recursivamente os pares H x Q da bomba até que o valor do rendimento convergisse
a um valor. Os valores em cada iteração são apresentados na tabela 4.4.

Tabela 4.4: Determinação do rendimento exato da máquina de fluxo operatriz ITAP 125-200

Iteração HBFT (m) QBFT (l/s) η máx (%) HBEP (m) QBEP (l/s) QBEP (m 3/h)
1ª 7,5 50 75 4,65 37,16 133,78
2ª 7,5 50 76,3 4,74 37,67 135,63
3ª 7,5 50 76,3 4,74 37,67 135,63

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