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economia
O pensamento econômico na Grécia antiga autor

Jesús Huerta de Soto


Jesús Huerta de Soto
terça-feira, 25 set 2012
, professor de economia da
Universidade Rey Juan Carlos, em
  
Madri, é o principal economista
austríaco da Espanha. Autor,
tradutor, editor e professor, ele
também é um dos mais ativos
embaixadores do capitalismo
libertário ao redor do mundo. Ele é o
autor de A Escola Austríaca: Mercado
e Criatividade Empresarial,
Socialismo, cálculo econômico e
função empresarial e da
monumental obra Moeda, Crédito
Bancário e Ciclos Econômicos.

A odisséia intelectual que gerou as bases para a civilização ocidental começou na Grécia Antiga. 
Infelizmente, os pensadores gregos não foram capazes de compreender corretamente os princípios
essenciais sobre o que é uma ordem espontânea de mercado e nem o processo dinâmico de
cooperação social que abrange esses princípios.  Ao passo que devemos reconhecer as importantes
contribuições gregas para as áreas da epistemologia, da lógica, da ética e até mesmo da concepção do
direito natural, é necessário também reconhecermos que os gregos fracassaram miseravelmente ao
não verem a necessidade do desenvolvimento de uma disciplina, a ciência econômica, dedicada ao
estudo do processo espontâneo de cooperação social que forma o mercado.
O que é ainda pior é que, quando os primeiros intelectuais surgiram, surgiram também a simbiose e a
cumplicidade entre pensadores e governantes.  Desde o início, a grande maioria dos intelectuais mais acessados |  comentários  

abraçou o estatismo e sistematicamente subestimou, e até mesmo criticou e denegriu, a sociedade


do comércio, das trocas voluntárias e do trabalho quali cado que prosperava ao redor deles. 1 Nosso pesadelo scal e monetário
não tem m - e agora em forma de
bomba-relógio
Sei que pode ser muito exagerado querer que, desde o nascimento do conhecimento losó co e
cientí co, os gregos compreendessem o básico da economia política, uma disciplina que ainda está
entre as mais novas dentre todas as ciências e que busca estudar uma realidade tão abstrata e difícil
2 A esquerda foi conferir como estava
sua doutrinação sobre os mais
de entender quanto a ordem espontânea do mercado.  No entanto, é válido observar que os lósofos pobres. Ficou atordoada
gregos, como os intelectuais de hoje, não puderam evitar a vaidade pseudocientí ca de se
acreditarem plenamente quali cados para impor seus pontos de vista sobre seus conterrâneos por 3 Por que no socialismo todos
morrem de fome?
meio da sistemática coerção governamental.  A história se repete continuamente, e até hoje não
houve grandes progressos nesse quesito.
4 Por que lixeiros e professores
ganham menos que artistas e
O contexto político-histórico grandes jogadores de futebol

Existe um paralelo não somente no que diz respeito às simpatias estatistas dos pensadores, mas
também no que diz respeito à rivalidade entre duas noções radicalmente opostas sobre governo e
5 Começamos com os lockdowns. E
estamos indo para "O Grande
Reset"
liberdade individual.  Com efeito, ao longo de grande parte do século XX, o mundo e as sociedades em
geral estavam divididos: de um lado, havia a visão liberal-clássica, defensora do governo limitado,
do respeito à sociedade civil, da liberdade individual e da responsabilidade (visão esta representada,
6 O oásis do funcionalismo público
brasileiro na crise
ao menos em termos relativos, pela sociedade americana); e, de outro lado, havia o socialismo
vigente, baseado na crença de que o estado deveria impor as mais variadas utopias sobre a sociedade
civil por meio da força (visão esta representada durante grande parte do século XX pela antiga União 7 A nal, o que houve com Paulo
Guedes?
Soviética).  Na Grécia Antiga, podemos também identi car dois pólos igualmente opostos.

Havia a relativamente mais liberal e democrática cidade de Atenas, a qual foi capaz de acomodar um 8 Por que um progressista decente e
coerente deveria odiar o socialismo
próspero conjunto de empreendimentos e trabalhos quali cados dentro de uma ordem espontânea
de cooperação social baseada no respeito pelas leis e na igualdade perante elas.  Em contraste, havia
a cidade de Esparta, a qual era profundamente militarista e na qual a liberdade individual
praticamente não existia devido à crença de que todos os recursos deveriam estar subordinados ao
estado.

É incrível que os mais eminentes e distintos pensadores e lósofos atenienses tenham


impiedosamente atacado e depreciado a ordem comercial que os rodeava e os sustentava ao mesmo
tempo em que não se furtavam a enaltecer o totalitarismo estatista que Esparta representava.  É
como se os intelectuais daquela época, assim como os de hoje, não suportassem o fato de que,
embora considerados sábios, fossem incapazes de colher em termos econômicos os frutos daquilo
que consideravam ser sua própria importância.  Igualmente, eles foram incapazes de resistir à
tentação de impor suas próprias ideias acerca do bem e do mal sobre seus conterrâneos, e eles
continuamente almejavam fazer isso por meio do poder coercivo do estado.

O reconhecimento desta verdade não deve nos levar à errônea crença de que a relativamente mais
livres pólis não eram também vítimas do estatismo.  Por exemplo, vários políticos não hesitavam em
corroborar as políticas imperialistas atenienses e até mesmo, como fez Péricles no século V a.C., em
se apropriar indevidamente de fundos públicos para empreender obras colossais.[1]  Vários políticos
também se esforçavam incansavelmente em tentar convencer os cidadãos de que o importante era se
subjugar aos desejos do estado; de que o importante era perguntar não o que Atenas poderia fazer
por eles, mas sim o que eles poderiam fazer por Atenas.

No que mais, as pólis relativamente mais livres ainda estavam sujeitas a um ciclo político que, por
mais estranho e paradoxal que pareça, continua a afetar as sociedades atuais.  Com efeito, períodos
de grandes liberdades civis baseadas no cumprimento de leis substanciais eram invariavelmente
seguidos por crises: as cidades quedavam vítimas da demagogia e das inquietações incitadas por
pequenos grupos que tinham a intenção de explorar determinados grupos sociais em favor de outros
supostamente maiores e menos privilegiados.  Consideráveis tensões sociais, econômicas e políticas
eram o resultado, e no nal levavam a severos con itos e distúrbios civis, os quais, por sua vez, eram
utilizados para justi car novos aumentos no poder do estado, personi cado em cada circunstância
histórica por inescrupulosos líderes populistas que inevitavelmente insistiam em serem chamados
de "salvadores da pátria".

Algumas tentativas embrionárias de análise econômica

É muito difícil saber os pensamentos exatos dos primeiros lósofos gregos, pois os documentos
remanescentes são poucos e muito fragmentados.  Não obstante, há evidências de alguns primórdios
muito animadores, os quais, caso tivessem sido continuados, poderiam abrir caminho para uma
incipiente formulação da teoria da ordem espontânea do mercado.

Por exemplo, ainda no século VIII a.C., Hesíodo indica em seus poemas que a escassez está sempre
presente nas ações humanas, sendo ela o motivo por que devemos alocar de maneira e ciente os
recursos disponíveis.  Adicionalmente, ele menciona o tipo de concorrência que a emulação
desencadeia, a qual ele chama de "bom con ito", considerando-a como uma vital força
empreendedorial que frequentemente permite a superação dos grandes problemas trazidos pela
escassez de recursos.  No que mais, Hesíodo a rmava que a concorrência só era possível onde
houvesse respeito pela justiça e pelas leis, o que estimula a ordem e a harmonia na sociedade.  Neste
sentido, Hesíodo — e até certo ponto, Demócrito de Abdera — estava muito mais próximo da correta
noção da ordem espontânea do mercado de que Sócrates, Platão e até mesmo do que o próprio
Aristóteles mais tarde alcançaria.

Após Hesíodo, temos de nos concentrar um pouco nos lósofos so stas.  Apesar da má reputação que
usufruem atualmente, eles certamente eram muito mais libertários, ao menos em termos relativos,
do que os grandes lósofos que vieram depois.  Com efeito, os so stas eram simpáticos ao comércio,
à busca pelo lucro e ao espírito empreendedorial, e receavam o poder absoluto e centralizado dos
governos das cidades-estados.  Embora tenhamos de admitir que eles ocasionalmente se
entregavam a um relativismo similar àquele que os pós-modernistas de hoje endossam, os so stas
foram, de longe, superiores aos pensadores socráticos que surgiriam mais tarde no que concerne à
defesa da liberdade individual contra o governo.  Finalmente, temos de observar a maneira na qual a
vaidade pseudocientí ca tipicamente demonstrada pela maioria dos intelectuais atuais em favor do
estatismo levou ao sistemático descrédito dos so stas.  Sempre considerados politicamente
"incorretos", eles são rotulados como pensadores ilógicos e desonestos.

Subsequentemente, outros pensadores mais modernos, como Protágoras de Abdera — da mesma


época de Péricles —, teorizaram sobre a importância da cooperação social, e insistiram que "o
homem é a medida de todas as coisas".  Levada à sua conclusão lógica, loso camente falando, esta
noção pode ter dado origem ao surgimento natural do subjetivismo e do individualismo
metodológico, os quais são pontos de partida essenciais a qualquer análise econômica de processos
sociais.  Da mesma maneira, o mestre historiador Tucídides aparentava possuir uma concepção da
natureza espontânea e evolucionária da ordem social muito mais acurada do que muitos de seus
contemporâneos.  Em seu registro da Oração Fúnebre de Péricles, Tucídides enfatizou melhor do que
qualquer outro pensador as qualidades relativamente mais liberais-clássicas[2] da sociedade
ateniense.

Finalmente, devemos mencionar Demóstenes, o grande defensor mundial da liberdade contra o


despotismo do tirano Filipe II da Macedônia.  Não é nenhuma coincidência que Demóstenes tenha
compreendido a essência consuetudinária e evolucionária das leis, e que, por isso, tenha sido capaz
de superar a dicotomia reducionista que os gregos haviam estabelecido entre o mundo físico
(natural) e o mundo supostamente arti cial de leis e convenções.  Com efeito, no geral, os gregos
foram incapazes de entender que o cosmo natural deve incluir a ordem espontânea do mercado e as
relações sociais que são o objeto de estudo da economia; os gregos acreditavam que qualquer coisa
relacionada à sociedade sempre era arti cial e deliberadamente criada por seus organizadores (os
quais eles esperavam que fossem ditadores- lósofos como aqueles imaginados por Platão).

O ponto de vista subjetivista, em torno do qual gira toda a moderna ciência econômica, pode ser
encontrado, por exemplo, na de nição de riqueza oferecida por Xenofonte em sua obra
Oeconomicus, na qual ele de ne propriedade como sendo "aquelas coisas que o detentor deve
considerar vantajosas para os propósitos de sua vida".  Além disso, Xenofonte pode ser considerado
o primeiro erudito a introduzir o conceito da e ciência dinâmica — mais especi camente, o
aumento do patrimônio de uma pessoa por meio da criatividade empreendedorial (junto com o
conceito de e ciência estática, o qual se baseia em se evitar o desperdício de recursos e o qual
Xenofonte acredita poder ser alcançado ao se manter o patrimônio da família em perfeito estado).

De qualquer forma, apesar deste início promissor e apesar das grandes contribuições em outras
áreas do pensamento losó co e cientí co (e talvez exatamente por causa destas contribuições), os
lósofos gregos no geral caíram na arrogância fatal da pseudociência intelectual.  Assim, eles se
mostraram completamente alheios quando se tratava de reconhecer o mercado e a ordem social
evolucionária; consequentemente, se entregaram ao estatismo; tornou-se "politicamente correto"
desdenhar a atividade comercial e mercantil de seus contemporâneos e criticar impiedosamente os
pensadores relativamente mais liberais-clássicos (fossem eles so stas ou não).

Os exemplos particularmente alarmantes de Sócrates, Platão e até mesmo Aristóteles

Da perspectiva do nosso tema, a principal característica compartilhada por Sócrates, Platão e


Aristóteles — os três maiores lósofos da Grécia antiga — era sua incapacidade de compreender a
natureza do próspero e vigoroso processo mercantil e comercial que estava ocorrendo entre as
diferentes cidades ou pólis (tanto na própria Grécia quanto na Ásia Menor e no resto do
Mediterrâneo).  Quando falavam sobre a economia, estes lósofos se baseavam em seus instintos, e
não na observação e na razão.  Eles escarneciam o trabalho dos artí ces e comerciantes, e
menosprezavam a importância de seus disciplinados esforços diários. 

Por conseguinte, foi por meio destes lósofos que a tradicional oposição dos intelectuais a qualquer
coisa que envolva comércio, indústria e lucro empreendedorial começou.  Esta "mentalidade
anticapitalista" viria a se tornar um tema constante entre os pensadores "iluminados" ao longo da
história intelectual da humanidade, desde aquela época até hoje.

O lósofo Sócrates serve de ilustração paradigmática desta oposição intelectual a qualquer coisa que
envolva o lucro empreendedorial, a indústria ou o mercado.  Vale observar o tom arrogante e a falsa
modéstia demonstrada por Sócrates em seu discurso de defesa perante o júri que o condenava, um
discurso registrado por Platão.  Não há nenhuma dúvida de que Sócrates exerceu uma in uência
negativa sobre a juventude da cidade de Atenas, quem ele atraiu ao ridicularizar o trabalho de toda
uma vida de seus pais, que abnegadamente dedicaram seus esforços diários e honestos às áreas do
comércio, do artesanato e do mercado em geral.

Sócrates acreditava que o objetivo ideal da vida estava na busca pela "virtude", entendida como um
desdém pela riqueza material e, especi camente, pelo lucro empreendedorial.  Sócrates aproveitava
todas as oportunidades para ostentar a sua pobreza e idealizar as supostas virtudes do estado
totalitário de Esparta, o qual, àquela época, representava ideais opostos àqueles de Atenas.  Com
efeito, em seu discurso de defesa, ele ultrajou o júri ao proclamar que seus serviços prestados ao
estado de Atenas eram tantos que, em vez de ser julgado, ele deveria receber uma pensão vitalícia
paga por todos (na forma de alimentos nanciados pela cidade, e pela duração de toda a sua vida!).

O que é ainda pior é que a estatolatria de Sócrates era tão obsessiva que o levou a confundir as leis
o ciais instituídas pela cidade-estado com as leis naturais.  Ele acreditava que as pessoas deveriam
obedecer a todas as leis o ciais estatuídas pelo governo, mesmo que elas fossem contra naturam. E
foi assim que ele criou as fundações losó cas para o positivismo jurídico.  Todos os tipos de tirania
surgidas na história após Sócrates se basearam no positivismo jurídico.

Em suma, do ponto de vista da teoria cientí ca dos processos de mercado, a in uência de Sócrates
foi de nitivamente desastrosa.  Foi ele quem iniciou e promoveu a tradição anticapitalista dos
intelectuais.  Ele demonstrou ter uma total falta de compreensão a respeito da ordem espontânea do
mercado, a qual era exatamente a fonte da prosperidade ateniense que permitia a Sócrates e ao resto
dos lósofos de sua escola o luxo de não ter de trabalhar e, consequentemente, de poder se dedicar
integralmente à loso a.  E em troca deste ambiente de relativa liberdade e prosperidade, Atenas
recebia de Sócrates apenas desprezo e incompreensão.

Finalmente, vale mencionar a mais do que egocêntrica auto-imolação deste lósofo.  Ele próprio
reconheceu que, dadas a sua idade e suas doenças, ele pouco poderia ter feito nos poucos anos que
lhe restariam caso tivesse aceitado o exílio que seus juízes e carrascos lhe haviam oferecido de
bandeja.  Assim, ele decidiu entrar para os anais da história fazendo-se de vítima de um sistema
supostamente opressivo, sendo que sua morte foi na realidade um suicídio oportuno e interesseiro
concebido por uma mente privilegiada e arrogante.  Com efeito, ele também procurou utilizar sua
morte para dar legitimidade à veneração de um estatismo opressivo e, ao mesmo tempo, levar má
reputação ao individualismo liberal-clássico.

Com um professor como Sócrates, não é surpresa alguma que Platão tenha intensi cado os erros de
seu mestre.  Platão forneceu uma extremamente perigosa justi cativa losó ca para o mais
desumano estatismo, a qual foi direta ou indiretamente absorvida por todos os tiranos que vieram a
oprimir a humanidade desde então.  Platão foi a mais pura personi cação do mais grave pecado
intelectual que um cientista pode cometer: ter a "arrogância fatal" de se crer mais sábio e mais
esperto do que seus conterrâneos e, com isso, autorizar que suas ideias sejam impostas a eles por
meio da força.

Típicos de Platão eram seus ataques à propriedade privada, sua louvação à propriedade comunal, seu
desprezo pela instituição da família tradicional, seu pervertido conceito de justiça, sua estatista e
nominalista teoria do dinheiro e, em suma, sua exortação dos ideais do estado totalitário de Esparta. 
Todas estas são características típicas do intelectual que se acredita superior e mais sábio do que
todo o resto da humanidade, mas que, não obstante, é ignorante em relação a até mesmo os mais
essenciais princípios da ordem espontânea do mercado, a qual torna possível a civilização.

No que mais, Platão defendia os interesses do estado contra os interesses dos indivíduos, e chegou
até mesmo a ir ao extremo de tentar colocar em prática seus ideais utópicos acerca do estado. 
Inevitavelmente, ele e seus discípulos fracassaram em todas as suas tentativas em Siracusa e no
resto da Grécia.

Finalmente, mesmo no campo da epistemologia, as contribuições de Platão foram letais no longo


prazo.  Seu suposto essencialismo gerou, sorrateiramente, a forma mais crua de historicismo
positivista: na esfera social, ele tentou deduzir quais seriam as 'essências conceituais' do estudo da
história, desta forma criando as bases para a loso a histórico-positivista que tantos danos causou
à humanidade ao atravancar o desenvolvimento das ciências sociais até o presente momento.

Em suma, com Platão, aquele ideal intelectual do cientista arrogante que tenta se tornar um
"engenheiro social" para moldar a sociedade a seu bel-prazer ganhou aceitação.  Esta abordagem foi
ainda mais reforçada pela escola do matemático Pitágoras, que acreditava que a virtude podia ser
encontrada na "igualdade" e no "equilíbrio" que ele continuamente observava em suas fórmulas e
em seus princípios matemáticos, os quais ele sentia que deveriam ser extrapolados para toda a
sociedade.

Embora Aristóteles não tenha ido aos extremos socialistas visitados por Platão, ele também foi
incapaz — e desanimadoramente — de entender em termos cientí cos a ordem espontânea do
mercado.  Um lósofo a serviço do pior ditador de sua época (Filipe II da Macedônia, que colocou um
m à sutil rede de cidades-estados independentes que formavam o antigo mundo grego), Aristóteles
foi o tutor particular do tirano e temerário déspota Alexandre, o Grande — lho de Filipe II.  Não é
surpresa nenhuma que Aristóteles não tenha conseguido escapar do mesmo pecado da arrogância
intelectual que havia acometido Sócrates e, especialmente, Platão: Aristóteles também sentia
nostalgia pelo estatismo de Esparta e por tudo que o totalitarismo daquela cidade-estado
representava.

É verdade que ele não foi aos extremos de Platão, que ele defendia a propriedade privada e que ele até
mesmo havia intuído a teoria do valor subjetivo ao fazer sua distinção entre o "valor de uso" e o
"valor de troca" — ou o preço das coisas.  No entanto, ele condenava a usura e jamais entendeu a
crucial importância dos juros como sendo um preço de mercado que coordena o comportamento dos
consumidores, dos poupadores e dos investidores.  Sua teoria sobre a justiça é extremamente
confusa, pois faz uma distinção entre duas formas, a justiça "distributiva" e a justiça "comutativa",
as quais têm pouco ou nada a ver com a adaptação do comportamento humano aos princípios gerais
morais e legais.  Dado que elas se baseiam em pretensas equivalências, estas duas formas de justiça
imaginadas por Aristóteles serviram apenas para confundir o pensamento humano acerca de um
tópico extremamente importante, confusão essa que perdura até os dias atuais.

No que mais, uma ilustração quase que perfeita de sua incapacidade de compreender a ordem
espontânea e evolucionária do mercado pode ser encontrada em sua convicção de que uma pólis com
mais de 100.000 habitantes jamais poderia sobreviver, pois seu governo seria incapaz de organizá-
la.  Aristóteles via a pólis unicamente como um órgão auto-su ciente organizado desde cima
(autarkia), e não como uma manifestação histórica do processo espontâneo de cooperação social
conduzido por seres humanos de carne e osso dotados de uma inata capacidade empreendedorial. 
Finalmente, Aristóteles seguiu a tradição socrática de menosprezar o trabalho e o lucro
empreendedorial, os quais, de maneira descentralizada e anônima, sustentavam o avançado estágio
de civilização que era exatamente o que permitia que ele e o resto dos lósofos sobrevivessem.

Aristóteles também foi incapaz de explicar os motivos por que existiam as trocas comerciais.  Ele
erroneamente concluiu que, quando elas ocorrem, é porque há uma "reciprocidade proporcional"
(uma ideia errada que Marx viria a utilizar mais tarde para formar as bases da falsa teoria do valor-
trabalho e de seu corolário, a teoria marxista de exploração).  Aristóteles descon ava da riqueza
(ploutos), era expressamente crítico quanto ao lucro empreendedorial[3], e desprezava e repudiava
completamente os comerciantes.[4]  Ele também condenava os juros (tokos), os quais ele
considerava ser uma injusti cada geração de dinheiro por meio do próprio dinheiro.

Adicionalmente, sua incapacidade de compreender o surgimento espontâneo das instituições o levou


a a rmar que o dinheiro era uma deliberada invenção humana — e não, como é o fato, o resultado de
um processo evolucionário.  Aristóteles também não conseguiu entender por que a demanda por
dinheiro nunca é ilimitada.  Particularmente, quando levamos em conta o brilhantismo intelectual
de Aristóteles, todos estes erros que ele cometeu contrastam acentuadamente com suas grandes
contribuições para as outras ciências, especialmente para o campo da epistemologia.

É verdade que Aristóteles compartilhou os erros cometidos por Sócrates e Platão, uma vez que ele
não entendeu o direito consuetudinário, nem o mercado, e nem o resto das instituições sociais como
sendo ordens espontâneas.  Tampouco foi ele capaz de distinguir entre sociedade civil e estado (uma
distinção que os Estóicos Romanos entenderiam perfeitamente dois séculos depois).  Ainda assim,
no campo da epistemologia, suas contribuições foram grandiosas.  Sua distinção entre
potencialidade e realidade (a enteléquia) viria a ser aplicada séculos depois para explicar a evolução
da natureza humana.  Seu conceito de essências formais e suas concretizações especi camente
materiais viria a servir de base para a distinção epistemológica entre teoria e história, permitindo
sua adequada incorporação.

Mais perto do campo da ciência econômica, temos de reconhecer a introdução aristotélica ao


conceito subjetivo de valor, especi camente sua distinção entre o conceito de valor de uso
(subjetivo) e o conceito de valor de troca (o preço de mercado em unidades monetárias).  Isso, até
certo ponto, forneceu as bases para o elo entre o mundo interior e subjetivo das valorações e o
mundo exterior e objetivo dos cálculos numéricos, que é o que torna possível o cálculo econômico. 

Finalmente, em contraste ao estatismo socialista de Sócrates, e particularmente ao de Platão,


Aristóteles construiu uma defesa racional da propriedade privada, uma defesa que, embora tépida e
incompleta, viria a constituir, durante muitos séculos, a mais bem conhecida base losó ca para a
propriedade privada.

Por último, é muito interessante observar que, durante a mesma era em que o pensamento clássico
grego estava sendo forjado (do século VI ao século IV a.C.), a China antiga vivenciou o surgimento de
três grandes correntes de pensamento: a dos chamados "legalistas" (que defendiam o estado
centralizado), a dos confucionistas (que o toleravam) e a dos taoístas, que possuía inclinações
bastante liberais e que é de extremo interesse para os historiadores do pensamento econômico.  Veja
mais detalhes neste artigo.

Em profundo contraste às visões dos lósofos gregos e àquelas do resto dos intelectuais ocidentais
até os dias de hoje, os taoístas chineses sempre defenderam a liberdade individual e o laissez-faire
ao mesmo tempo em que atacavam o uso sistemático e coercivo da violência estatal.  No que tange à
liberdade, os chineses foram muito mais importantes do que os gregos.

[1] Dentre elas o Partenon, que foi construído utilizando recursos que haviam sido penosamente
acumulados por diferentes pólis para ns defensivos.

[2] Aqui, "liberal-clássico" signi ca a loso a da liberdade como os liberais clássicos a


entenderiam.

[3] Política, Livro 7.

[4] Política, Livros 3 e 4.

comentários (26) Acacio  25/09/2012 09:06

Texto muito bom.

É como uma bola de neve, começa pequena e vai aumentando seu tamanho conforme vai rolando...até
chegar no ponto que estamos hoje.
Eu nunca gostei de Sócrates, agora tenho um ótimo motivo para desgostar mais ainda! hahaha
RESPONDER

PESCADOR  25/09/2012 09:59

Gostei do artigo. Fiquei muito interessado em ler mais sobre o taoísmo na China antiga. Com relação a
Sócrates e Platão, só contribuíram com idéias ruins para a civilização.
RESPONDER

anônimo  25/09/2012 10:55

Pescador, você clicou no artigo sobre o taoísmo, né?

www.mises.org.br/Article.aspx?id=673
RESPONDER

PESCADOR  26/09/2012 07:26

Cliquei sim, gostei do artigo também, mas quei curioso em saber mais.
RESPONDER

pensador barato  25/09/2012 11:19

Os lósofos gregos são uma herança da humanidade nada desprezível não é porque ele sejam estatista que
irei despreza-los, sou libertário mas não sou fanático,moderação moçada,sempre.
RESPONDER

Cristiano  25/09/2012 14:23

Austriacos são bons em economia e EXCELENTES em história!


RESPONDER

Antonio Galdiano  26/09/2012 04:28

Esse título me fez pensar em loso a. Alguma boa alma pode indicar algum livro de história da loso a livre
da perspectiva marxista/keynesianista/intervencionista? E de história nos mesmos termos?
RESPONDER

Artur  26/09/2012 06:52

Recentemente estive buscando exatamente pela mesma indicação. Também estou no aguardo.
RESPONDER

Jose Roberto Baschiera Junior  27/09/2012 04:24

Não li esse livro ainda, mas acredito que sirva:


Guia Politicamente Incorreto da Filoso a - Luiz Felipe Pondé

Estou recomendando um livro, sem ter lido antes.


RESPONDER

Camarada Friedman  26/09/2012 12:58

Alguma chance de aparecer aquele livro de história da economia do Rothbard no Brasil ... em português ?

O pouco que eu li sobre o período grego naquele livro me lembrou muito esse artigo.
RESPONDER

Patrick de Lima Lopes  26/09/2012 14:22

Excelente artigo, em especial o parágrafo:

"Típicos de Platão eram seus ataques à propriedade privada, sua louvação à propriedade comunal, seu
desprezo pela instituição da família tradicional, seu pervertido conceito de justiça, sua estatista e
nominalista teoria do dinheiro e, em suma, sua exortação dos ideais do estado totalitário de Esparta. Todas
estas são características típicas do intelectual que se acredita superior e mais sábio do que todo o resto da
humanidade, mas que, não obstante, é ignorante em relação a até mesmo os mais essenciais princípios da
ordem espontânea do mercado, a qual torna possível a civilização."

Semanalmente sempre encontro um indivíduo comentando em algum post do Instituto a respeito sobre
como sua engenharia social supostamente baseada em conceitos cientí cos de saúde é a única arma capaz
de gerenciar a sociedade. Replico com uma refutação de 40 linhas e hoje, após ler tal parágrafo, sinto que
joguei palavras fora quando poderia ter simplesmente utilizado um trecho do Huerta.

Dedico esse texto ao meu "Eu" de anos atrás e a todos os arrogantes que in amam o pensamento da
juventude com a perversa retórica de que o homem não é capaz de cuidar de si mesmo.
RESPONDER

Marc...  27/09/2012 06:55

Alguém poderia me explicar melhor esse trecho "... a demanda por dinheiro nunca é ilimitada." ?
RESPONDER

Leandro  27/09/2012 07:02

Demanda por dinheiro é a disposição das pessoas em manter saldos líquidos; é a ânsia em adquirir
dinheiro e retê-lo em sua posse. Se a demanda por dinheiro for ilimitada, todo o dinheiro que você
adquirir jamais será gasto -- nem mesmo com alimentação.

Ou seja, quem tem demanda ilimitada por dinheiro irá morrer de fome.
RESPONDER

Gilmar Rodrigues  03/10/2012 15:06

O Estado na sociedade grega era uma extensão natural do poder dos pais e dos chefes tribais, obviamente
aristocratas, a força de apoio ao Estado era primeiramente a aristocracia rural, mas depois os grandes
comerciantes passaram a apoiar e se bene ciar desses arranjos, porém nesse período de intensa supremacia
aristocrática a religião primitiva indo-européia era muito importante, criar leis e restringir certas liberdades
eram difícil.

O que ocorre é que logo depois o povo e os pequenos comerciantes apoiam os tiranos para aumentar os
poderes estatais para contrapor a aristocracia, os antigos gregos não tinham nada de liberais, muito menos
os comerciantes, eles apenas diferiam entre apoiar a ordem reacionária ou "democrática", algo parecido
com o que a Europa viria a vivenciar na Idade Moderna, um fato que evidencia que a história não é uma linha
em progresso.

O texto é muito feliz em fazer paralelos com o liberalismo clássico, pois na Grécia nunca se chegou perto de
viver sem Estado.
RESPONDER

Giulianno  06/11/2012 16:51

Não foi por falta de sabedoria que os pensadores gregos não anteciparam a maravilhosa visão austríaca da
economia, não. Os gregos, inclusive atenienses, eram homens guerreiros. E homens guerreiros - e não
apenas guerreiros - ertam com a ideia de que a justiça está na força e não numa suposta igualdade de
direitos ("direitos iguais" é uma contradição de termos, mas deixa prá lá, já estamos acostumados com
tantas contradições...). Não que os pensadores políticos não tivessem tempo (o que os antigos mais tinham
era tempo) para "pensar" a economia de livre mercado.

Realmente, a economia de livre mercado é muito óbvia, óbvia e muito salutar para seres racionais.
Sobretudo se por "racionais" entendemos também seres que "racionam", seres interessados em
preservarem-se, sem riscos. Não era o caso dos gregos. O valor principal daqueles homens era a glória. Não
se pode ignorar esse fato e subestimar os gregos. Glória! Algo da qual dirão "besteira", "idiotice" "etc",
simplesmente porque essa palavra não tem mais nenhum sentido para nós, de uma época tão mansa.

É um absurdo e um ridículo pensar em Aristóteles chegando em Alexandre, dar um tapinha no ombro dele e
dizer "larga mão, Alexandre, deixa de procurar briga, meu belo rapaz, continua seus estudos de música, vai
ser muito melhor para todo mundo!"

É querer ignorar os fatos psicológicos derivados dos siológicos e ambientais de forma infantil. O homem
vivia na natureza, não em apartamentinhos confortáveis e seguros. Ele convivia diariamente com a morte,
raros passavam dos 40 anos.

Por m, para os pensadores antigos (e outros nem tão antigos assim), questões relativas a comércio sempre
foram questões vulgares, não nobres, e os gregos sempre foram pensadores seletivos.

Quando a economia austríaca tiver dominado o mundo - é uma possibilidade -, não serão estátuas de von
Mises que serão desejadas e esculpidas, mas ainda as de Alexandre e Davi, porque o homem sempre vai
cultuar o guerreiro. Está no seu sangue, mesmo que esse sangue esteja tão diluído como o do homem
pací co.

RESPONDER

Uate  27/08/2016 06:41

Nao entendo muito de economia, pouco ainda de elaborar textos maravilhados com muita
organizacao e conhecimento. Mesmo assim, o pouco que consegui reter do seu comentario criou-
me vontade e desejo de concordar alem de simplismente estar a favor das duras criticas que se
dirigiram aos pensadores da grecia antiga quanto a sua pobre doutrina economica
RESPONDER

anônimo  26/12/2012 21:19

Da perspectiva do nosso tema, a principal característica compartilhada por Sócrates, Platão e Aristóteles —
os três maiores lósofos da Grécia antiga — era sua incapacidade de compreender a natureza do próspero e
vigoroso processo mercantil e comercial que estava ocorrendo entre as diferentes cidades ou pólis (tanto na
própria Grécia quanto na Ásia Menor e no resto do Mediterrâneo). Quando falavam sobre a economia, estes
lósofos se baseavam em seus instintos, e não na observação e na razão. Eles escarneciam o trabalho dos
artí ces e comerciantes, e menosprezavam a importância de seus disciplinados esforços diários.

Por conseguinte, foi por meio destes lósofos que a tradicional oposição dos intelectuais a qualquer coisa
que envolva comércio, indústria e lucro empreendedorial começou. Esta "mentalidade anticapitalista" viria
a se tornar um tema constante entre os pensadores "iluminados" ao longo da história intelectual da
humanidade, desde aquela época até hoje.

- Este pensamento é muito perigoso. Cuidado pra não transformar estes três lósofos gregos em
comunistas, como fazem os livros escolares, só porque eles viam com descon ança as relações comerciais
da época, corruptas até o talo. Naquela fase histórica se respirava corrupção em Atenas.
RESPONDER

Igor Stravinsky  27/07/2015 07:34

Concordo com o comentário acima.


A análise é boa, mas recai no grave erro do anacronismo. Diminuir a importância das re exões formuladas
por Sócrates, Platão e Aristóteles por eles apresentarem em suas obras uma perspectiva mais "estatizante"
do que "liberal" é como querer empurrar forçosamente os grãos de areia para a parte de cima da ampulheta.
Como diria uma antiga inscrição: "Cuidai para que os fatos sejam fatos, antes que eles sejam forjados".
RESPONDER

Alfredo  13/05/2016 21:42

O AUTOR DO TEXTO DESCONSIDERA O TEMPO DOS FILOSOFOS E COMETE ERRO AO TRATAR COM
INJUSTICA TANTO PLATAO COMO SOCRATES. JÁ QUE SE CONDENa tais lósofos, deve-se também condenar
tudo que veio após, como Cristo, Roma, o feudalismo etc . Quem faz uma análise histórica não pode querer
trazer os fatos de ontem para os dias atuais, como que a história ocorresse hoje. Veja que paciência
econômica só conseguiu se desenvolver de 500 anos pra cá, a própria igreja condenava muitas práticas
comerciais.
RESPONDER

vladimir  05/11/2016 19:01

karo kamarada
Leia a REPÚBLICA DE PLATÃO que ele explica melhor o assunto.
RESPONDER

Eu  05/11/2016 23:17

Pra começar, ele não "condenou" ninguém, apenas criticou alguns aspectos.

Tu misturou eles, Cristo, dai meteu o feudalismo, a Igreja. A nal, tu está "defendendo" pessoas ou
instituições ou o quê? E cadê os teus argumentos contrários ao que o autor disse? Vai car só no
"TRATAR COM INJUSTICA TANTO PLATAO COMO SOCRATES"?

É impressionante o baixo nível (no sentido de falta de argumentação) dos comentários de um tempo
pra cá. São do tipo assim "ah, um pedaço do texto tem algo que não gostei, então vou responder
com palavras de efeito, com expressões apelativas".

RESPONDER

Welington Pinheiro  28/03/2018 06:46

Eu percebo que o principal objetivo desse texto é tentar traçar uma genealogia do estatismo. O esforço é
louvável, mas eu gostaria de contribuir para a discussão com algumas críticas. Há muito etnocentrismo
nesse artigo. Na prática, o objeto do autor foi o tempo todo o neoliberalismo. Ele projetou num passado
remoto, categorias que não fazem sentido naquela ordem social. Ora, isto é uma distorção da história
baseada num equívoco intelectual. Cada tempo é uma ordem social em si, única, que será melhor
compreendida se pensada com categorias construídas para aquela realidade em questão. Há muitos
historiadores que discutem essas questões teóricas. E não estou falando de marxistas não. Isto são
discussões teóricas endossadas por historiadores de todas as correntes. Curiosamente, os marxistas são os
que mais cometem anacronismos e etnocentrismos como os desse texto, ao desejarem ver categorias
criadas para pensar a sociedade capitalista - luta de classes e primazia do econômico - em outras
sociedades, acabando por gerar uma abordagem muito tendenciosa.

O objeto que o autor do artigo recortou é muito interessante: traçar essa genealogia da crença de que a
economia precisa ser dirigida pelo Estado. Mas do modo como fez, acabou parecendo uma análise marxista,
só que defendendo o livre mercado.

Por m, o texto tem um viés ideológico forte, o que na minha opinião o enfraquece, à medida que embota a
visão do analista, impedindo-o de ir além daquilo a que deseja criticar, a saber, um conservadorismo
estatizante. Há uma preocupação forte em criticar as linhas gerais da historiogra a que, segundo o autor,
teria assumido um juízo de valor negativo quanto ao livre mercado. No entanto, justamente devido ao
anacronismo, o autor do artigo ignorou o fato de que muitos tiranos foram apoiados pelos comerciantes em
sua luta contra a aristocracia tradicionalista dos oikos gregos. Também não foi levado em consideração que
a unidade política gerada por Alexandre Magno gerou um mundo de intensas trocas comerciais e culturais
que muito favoreceu a construção de grandes riquezas através do comércio não só na Grécia como em
muitas outras civilizações do mundo Mediterrâneo, tendo sido chamada por alguns historiadores como a
primeira "globalização" da história econômica. Estado e comércio na antiguidade eram termos postos de
outra maneira, diversa da de hoje. E somente considerando isto, podemos entender melhor sobre o que
tanto os so stas como os socráticos estavam falando e a que realidades estavam se reportando.

Mas gostaria de parabenizar o autor do artigo pela empreitada corajosa de fazer essa genealogia. Com
certeza quero ler outros artigos do mesmo.
RESPONDER

xenon  27/04/2018 17:40

boa tarde!

Pergunta: porque a civilização grego-helenistica apesar de vastos e avançados conhecimentos de


matemática, física, mecânica, medicina, engenharia etc. nunca tiveram uma revolução industrial, apesar de
terem condições técnicas e materiais para isso?
RESPONDER

Ex-microempresario  23/04/2020 20:36

Provavelmente a maior diferença entre a Grécia dos tempos antigos e a Europa dos séculos 18-19 foi
a descoberta do carvão como fonte de energia.

Antes disso, toda a engenharia estava limitada à energia humana ou animal (e um pouquinho de
eólica nos moinhos).
RESPONDER

Luan Morosini  09/04/2020 14:47

Achei a iniciativa do texto interessante, mas a exposição cou fraca demais. Pareceu muito prepotente a
forma como os três grandes pensadores gregos foram tratados no texto; não houve citação de trechos das
obras de Platão e Aristóteles e eu duvido muito que o autor tenha lido também os textos dos grandes
estudiosos da obra platônica: Eric Voegelin, Paul Friedländer, Geovani Reali e outros por aí. Parece mais que
a visão da obra de Platão foi totalmente retirada da obra A Sociedade Aberta e Seus Inimigos, de Karl Popper,
já demonstrado o equívoco de Popper nas suas análises dos textos que restaram da obra de Platão,
sobretudo d'A República.
Não há citações, apenas a menção de uma obra de Platão numa nota ao m do texto; há apenas a rmações
de que os lósofos gregos pensavam isso, diziam aquilo, eram contra isso, a favor daquilo. Há também a
compreensão equivocada de um tempo muito diferente do nosso, segundo critérios e chaves de análise que
cabem à nossa época, não a deles.
O que concordo é com o fato de que toda a sociedade sempre foi e será sustentada pela ação humana, que
quanto mais livre, melhor. Mercado, Estado, sociedade civil, ação humana, comércio, guerra,
intelectualidade, en m, todas essas coisas são expressões espontâneas e parte do desenvolvimento da
humanidade. São separadas pelos analistas para o estudo, não estão separadas na realidade.
RESPONDER

Sebastian  15/06/2020 21:06

Parabéns pela ideia e iniciativa em trazer o pensamento grego talvez a melhor fonte para se pensar em
mentalidade e desenvolvimento ainda hoje.

A Grécia clássica era formada por centenas de cidades-Estado com as mais diversas formas de arranjos
socioeconômicos. Centenas de milhares de pensadores, inclusive na área econômica. Os gregos fundaram o
melhor meio de administração possível, a DEMOCRACIA, que embora não seja perfeita, como querem os
neuróticos, pode funcionar muito bem desde que a sociedade evolua em pensamento (ideal grego) e item
primordial no pensamento grego (Vide PAIDEIA). Em outras palavras, se o pensamento humano evoluir, terá
uma melhor democracia ou uma melhor monarquia, etc. Isso é loso a, um grande legado grego que
possibilita ainda hoje a movimentarmos os pensamentos.

Outrossim, para se ter outra dimensão deste legado, acredita-se que haviam cerca de 700 mil volumes de
conhecimento desenvolvido, preponderantemente grego, na BIBLIOTECA DE ALEXANDRIA. Boa parte da
qual foi roubada, saqueada, absorvida por outras culturas, e por m queimada. Parte desse conhecimento,
pôde ser absorvido por outros povos (árabes, por ex) que puderam aproveitar e desenvolver, inclusive na
área náutica (astrolábio, que hoje há fortes indícios de ter sido uma cópia simples da máquina de anticítera),
grande responsável pelos distúrbios de crescimento nos sec. XIV/XV d.c.. Os judeus, famosos por sua grande
capacidade em lidar com a economia, utilizaram a fonte pitagórica e criaram a Kabbalah segundo diversos
dos mais renomados autores – prova do prestígio daquele povo que foram absorvidos. Há muitas outras
coisas entre o ctrl "c" e o ctrl "v" do que imagina a vã loso a. Temos também, o mecanismo de Anticítera
(Arquimedes?) o primeiro computador da história, feito no séc. II a.c. Mas por aqui, paro de citar...

Boa parte do mundo se desenvolveu a partir do conhecimento dos comerciantes/navegantes gregos. Por
exemplo, a cidade de Marselha na atual França, foi fundada por gregos que ali introduziram a cultura do
vinho e da oliveira. Veja o que a França ainda sustenta desta herança?

O espírito empreendedor sempre esteve nos mares do egeu com bandeiras gregas.

Outros povos, inclusive na mesma época, infelizmente, não pensaram nem em loso a, nem em economia,
salvo os grandes sábios de Bharata (Índia). Recomendo a leitura!

Sobre essa tendência de tentar negar ou minimizar a cultura grega, chamada de ANTI-HELENISMO, anti-
loso smo, já há autores sinalizando o quanto esse movimento está crescendo e inserido mais nos meios
eletrônicos do que de fato nas cadeiras acadêmicas, sobretudo as do primeiro mundo. Talvez por isso
vejamos uma profusão de ctrl "c" ctrl "v" de textos em sites e nas mais diversas fontes de informação
privada nanciadas por fontes duvidosas. Há que se tomar o cuidado cientí co antes de emitir opinião
enviesada pois a vaidade sem a legitimidade cientí ca não é interessante.

Vale lembrar que o termo Economia (cunhado por Xenofonte) surgiu na Grécia juntamente com outros
milhões de conceitos, que de tão fundamentais dão base para cerca de 38% do léxico anglo-
germânico/inglês ainda na atualidade (sem contar as outras culturas que utilizam verbetes de origem
grega), juntamente com uma miríade de conceitos do pensamento humano sem os quais hoje boa parte do
mundo talvez estivesse atravessando o mar vermelho em cipós e não falando de Ordoliberalismo, TMM, etc.

Meu espírito está engraçadinho hoje. Infelizmente, quando se analisa a escalada da evolução humana
apenas em seus aspectos extrínsecos, ou seja, através da sua capacidade de gerar recursos externos
(capital), falha-se no sentido mais básico do aspecto civilizatório, qual seja, falha-se intelectualmente na
capacidade de gerar civilidade, direitos, compartilhamentos, inclusões, ordem, etc,. movimentos estes que
possibilitam e movem as pessoas a níveis de consumo maiores.

Explico, um ser humano em seu egoísmo só pode evoluir, se o outro (a sociedade) tem as condições
regulatórias, direitos e distribuição assegurados, ainda que de maneira parcial. É como uma criança, ela
precisa dos pais até os 8 anos mais ou menos, pois do contrário, a natureza se encarregaria de se servir dela
no jantar... O Interesse de alguns homens pode esbarrar na vida alheia, não há equilíbrio quando um
psicopata quer o seu próprio bem... Daí, porque falar em economia (não desta instrumental que um boy de
colete na Faria Lima faz para agradar o chefe) envolve ates de tudo pensar o ser humano e a sua posição no
mundo em sociedade.

Talvez em algum momento a neurose de se buscar uma única fonte de explicação (um "deus único",
deslocadamente chamada de "liberdade total") caia por terra quando o ser humano for capaz de abdicar de
sua fantasia de achar ter o direito sobre qualquer coisa/pessoa em prol da evolução da sociedade.

Daí que a solução grega ser praticamente eterna: sem esse estofo pragmático, teórico e losó co grego,
estaríamos apenas nos amealhando em guerras absurdas para conquistar petróleo, US$, ou vendendo
produtos xing ling como primatas nocivos à natureza humana e ambiental, etc.
O pensamento grego é libertário, talvez a única forma de ser plenamente livre pois nele você consegue
questionar tudo, e incluir na função até mesmo esse texto.

De qualquer forma, parabéns pela iniciativa e espaço!


Att
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