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Fundamentos da

Arquivologia
Prof. Kelvin Custódio Maciel
Prof.a Raffaela Dayane Afonso

Indaial – 2020
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020

Elaboração:
Prof. Kelvin Custódio Maciel
Prof.a Raffaela Dayane Afonso

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

M152f

Maciel, Kelvin Custódio

Fundamentos da arquivologia. / Kelvin Custódio Maciel; Raffaela


Dayane Afonso. – Indaial: UNIASSELVI, 2020.

179 p.; il.

ISBN 978-65-5663-287-2
ISBN Digital 978-65-5663-288-9

1. Arquivologia. - Brasil. I. Afonso, Raffaela Dayane. II. Centro


Universitário Leonardo da Vinci.

CDD 020

Impresso por:
Apresentação
Olá, acadêmico! Bem-vindos à disciplina de Fundamentos da
Arquivologia. Neste livro didático, você terá acesso à história do contexto que
se desenvolveu a arquivologia. Você sabia que o conceito de arquivo já era
pensado lá na Grécia Antiga com os filósofos gregos? Vamos compreender
os principais acontecimentos que marcaram a prática arquivística até a sua
consolidação como disciplina autônoma.

Neste sentido, convidamos você a refletir os fundamentos da


arquivologia. Visitando um pouco da história da formação das instituições
arquivísticas, do Arquivo Nacional da França, do nascimento dos primeiros
museus públicos e nacionais, da publicação de obras importantes para o
desenvolvimento dos princípios arquivísticos.

Além disso, você conhecerá as características contemporâneas da


arquivologia. Desde a sua origem, a arquivologia foi marcada por aspectos
pragmáticos associados às práticas burocráticas, que tinham como principal
objetivo a eficácia e eficiência na guarda e preservação de arquivos.
Então, como a arquivologia é compreendida na atualidade? Quais são as
características das novas abordagens que afirmam que há uma revolução
científica em curso no campo da arquivologia? Tudo isso e muito mais você
apreenderá na Unidade 1, deste livro didático.

Na Unidade 2, intitulada Gestão documental e ciclo de vida dos


documentos arquivísticos, você compreenderá os princípios arquivísticos
e sua importância para a Arquivologia. Veremos na sequência a gestão
documental desde o seu surgimento até a consolidação da teoria das três
idades e como essa teria influenciou e modificou as atividades realizadas nos
arquivos com base nos valores documentais. Para finalizar, abordaremos as
funções arquivísticas que faz parte da gestão documenta.

Na terceira unidade, intitulada Arquivologia no Brasil, você


compreenderá como a arquivologia se desenvolveu no país, a importância
do Arquivo Nacional para a sua consolidação. Veremos também como
os cursos superiores de arquivologia estão distribuídos no Brasil. Além
disso, você conhecerá a luta dos arquivistas pela criação de um Conselho
Federal, bem como as associações de arquivista no Brasil e Fórum Nacional
de Associações de Arquivologia. Por fim, abordares o código de ética dos
Arquivistas, disponibilizados pelo Conselho Internacional de Arquivos.

Esperamos que os conteúdos abordados, juntamente às leituras e às


atividades extras sugeridas, estimulem sua leitura e que o livro de estudos seja
relevante em sua aprendizagem e formação profissional, incentivando a sua
constante atualização neste universo da informação arquivística.

Bons estudos!
Prof. Kelvin Custódio Maciel
Prof.a Raffaela Dayane Afonso
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro


que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares,
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


Sumário
UNIDADE 1 — ORIGEM E CONTEXTO HISTÓRICO DA ARQUIVOLOGIA........................ 1

TÓPICO 1 — DO ARQUIVO À ARQUIVOLOGIA......................................................................... 3


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 3
2 ARQUIVOS: CONCEITOS IMPORTANTES................................................................................. 3
3 CIRCUNSTÂNCIAS HISTÓRICAS DA ARQUIVOLOGIA....................................................... 8
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 17
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 19

TÓPICO 2 — OS DESAFIOS DA ARQUIVOLOGIA.................................................................... 21


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 21
2 OS DESAFIOS DA ARQUIVOLOGIA NO CONTEXTO DO PÓS-GUERRA....................... 21
3 A CRIAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES ARQUIVÍSTICAS............................................................. 27
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 30
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 32

TÓPICO 3 — A ARQUIVOLOGIA CONTEMPORÂNEA............................................................ 35


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 35
2 NOVAS ABORDAGENS DA ARQUIVOLOGIA HOJE............................................................. 35
3 ARQUIVOLOGIA: RUPTURAS DE PARADIGMAS................................................................. 37
4 ARQUIVOLOGIA PÓS-MODERNA.............................................................................................. 39
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 42
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 49
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 51

REFERÊNCIAS....................................................................................................................................... 53

UNIDADE 2 — GESTÃO DOCUMENTAL E CICLO DE VIDA DOS DOCUMENTOS


ARQUIVÍSTICOS.................................................................................................... 55

TÓPICO 1 — PRINCÍPIOS ARQUIVÍSTICOS............................................................................... 57


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 57
2 PRINCÍPIOS ARQUIVÍSTICOS..................................................................................................... 58
2.1 PRINCÍPIO DA PROVENIÊNCIA.............................................................................................. 58
2.2 PRINCÍPIO DA ORDEM ORIGINAL......................................................................................... 60
2.3 PRINCÍPIO DA ORGANICIDADE............................................................................................. 61
2.4 PRINCÍPIO DA UNICIDADE...................................................................................................... 61
2.5 PRINCÍPIO DA INDIVISIBILIDADE OU INTEGRIDADE..................................................... 62
2.6 PRINCÍPIO DA CUMULATIVIDADE....................................................................................... 62
2.7 PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE..................................................................................... 62
2.8 PRINCÍPIO DA PERTINÊNCIA.................................................................................................. 62
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 63
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 64
TÓPICO 2 — GESTÃO DA PRODUÇÃO DOCUMENTAL......................................................... 65
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 65
2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA GESTÃO DOCUMENTAL ...................................................... 66
2.1 GESTÃO DOCUMENTAL NO BRASIL..................................................................................... 75
3 CICLO DE VIDA DOCUMENTAL................................................................................................. 83
3.1 VALORAÇÃO DOS DOCUMENTOS......................................................................................... 87
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 93
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 94

TÓPICO 3 — FUNÇÕES ARQUIVÍSTICAS.................................................................................... 95


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 95
2 FUNÇÕES ARQUIVISTAS............................................................................................................... 97
2.1 PRODUÇÃO/CRIAÇÃO............................................................................................................... 98
2.2 AVALIAÇÃO................................................................................................................................ 100
2.3 AQUISIÇÃO................................................................................................................................. 103
2.4 CONSERVAÇÃO/PRESERVAÇÃO........................................................................................... 103
2.5 CLASSIFICAÇÃO........................................................................................................................ 105
2.6 DESCRIÇÃO................................................................................................................................. 107
2.7 DIFUSÃO...................................................................................................................................... 111
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 114
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 122
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 123

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 124

UNIDADE 3 — ARQUIVOLOGIA NO BRASIL........................................................................... 131

TÓPICO 1 — HISTÓRIA DA ARQUIVOLOGIA NO BRASIL................................................. 133


1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 133
2 ARQUIVOS........................................................................................................................................ 133
3 MARCOS DA ARQUIVOLOGIA BRASILEIRA....................................................................... 136
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 141
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 142

TÓPICO 2 — O PROFISSIONAL ARQUIVISTA......................................................................... 143


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 143
2 O ARQUIVISTA................................................................................................................................ 144
3 CONSELHO DE CLASSE PARA A ARQUIVOLOGIA............................................................ 148
4 ASSOCIAÇÕES PROFISSIONAIS............................................................................................... 153
5 CÓDIGO DE ÉTICA DOS ARQUIVISTAS................................................................................ 159
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 168
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 175
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 176

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 177
UNIDADE 1 —

ORIGEM E CONTEXTO HISTÓRICO


DA ARQUIVOLOGIA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer a origem e o contexto histórico da arquivologia;

• compreender os conceitos essenciais da arquivologia;

• conhecer as primeiras instituições arquivísticas e sua importância na


configuração da área;

• compreender os principais aspectos da arquivologia contemporânea.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – DO ARQUIVO À ARQUIVOLOGIA

TÓPICO 2 – OS DESAFIOS DA ARQUIVOLOGIA

TÓPICO 3 – A ARQUIVOLOGIA CONTEMPORÂNEA

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

1
2
TÓPICO 1 —
UNIDADE 1

DO ARQUIVO À ARQUIVOLOGIA

1 INTRODUÇÃO
Olá, acadêmico! Neste tópico, você terá acesso à origem e ao contexto
histórico da arquivologia. Você aprenderá os conceitos importantes que permeiam
o universo da arquivologia. Além disso, conhecerá as malhas históricas que
constituíram a arquivologia como conhecemos hoje.

Você verá que existiram inúmeros acontecimentos que impactaram a


maneira de olhar para o arquivo, por isso, há diferentes conceituações de arquivos
até hoje. Alguns historiadores, como Marc Bloch, defendem que a publicação da
obra De Re Diplomática (1681) inaugura uma data importante, pois foi fundada de
maneira definitiva para a crítica aos documentos de arquivo.

Esse percurso histórico é importante para compreendermos os


acontecimentos e as influências teóricas que consolidaram a arquivologia como
campo autônomo do conhecimento. Desejamos bons estudos!

2 ARQUIVOS: CONCEITOS IMPORTANTES


Ao longo da história, a conceituação de arquivo sofreu modificações
em conformidade com as transformações políticas e culturais das sociedades
ocidentais. Pode-se dizer que os arquivos consistem no reflexo da sociedade
que o produz, e, com isso, a maneira de interpretá-lo também acompanha as
mudanças que ocorrem no interior das sociedades. A exemplo disso, podemos
citar fatores, como a finalidade dos arquivos e os suportes utilizados que já
foram considerados, em determinada época, como definidores do arquivo, mas
hoje não são mais. Além disso, podemos observar o surgimento dos documentos
eletrônicos, cujo advento permitiu, ao arquivista, compreender o que o motiva
a avaliar os documentos, que não são problemas de espaço ou custo para o
armazenamento, mas a redundância de informações (RODRIGUES, 2006).

Nesse sentido, não há uma conceituação definitiva e universal sobre o que


seja arquivo. Alguns autores, como Rousseau e Couture (1994), definem o arquivo
como um conjunto de informações, e não como um conjunto de documentos.

3
UNIDADE 1 — ORIGEM E CONTEXTO HISTÓRICO DA ARQUIVOLOGIA

Sabe-se que o arquivo é um conjunto de informações, embora o termo


informação não seja tão esclarecedor quando se deseja conceituar o arquivo.
Segundo Rodrigues (2006, p. 104), “a informação arquivística não prescinde do
seu suporte, mesmo que ele não seja passível de leitura a olho nu”. Isso se dá
justamente porque a autenticidade da informação arquivística necessita de um
conjunto de referências em que estaria o suporte que contém a informação.

Dito isso, pode-se afirmar que o arquivo, a grosso modo, é “um conjunto
de documentos produzidos e recebidos no decurso das ações necessárias, para
o cumprimento da missão predefinida de uma determinada entidade coletiva,
pessoa ou familiar” (RODRIGUES, 2006, p. 105). Ainda, encontramos a definição
de arquivo no Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística (2005, p. 27):

Conjunto de documentos produzidos e acumulados por uma entidade


coletiva, pública ou privada, pessoa ou família, no desempenho de suas
atividades, independentemente da natureza do suporte. Instituição ou
serviço que tem, por finalidades, a custódia, o processamento técnico,
a conservação e o acesso a documentos. Instalações onde funcionam
arquivos. Móvel destinado à guarda de documentos.

Esquematicamente, poderemos visualizar melhor como se dá o processo


de criação do arquivo a seguir:

FIGURA 1 – PROCESSO DE CRIAÇÃO DO ARQUIVO

FONTE: <https://www.scielo.br/pdf/pci/v11n1/v11n1a09.pdf>. Acesso em: 19 jun. 2020.

4
TÓPICO 1 — DO ARQUIVO À ARQUIVOLOGIA

Nesse esquema, percebe-se que a ação, no processo de realização da


missão, passa a ser o sujeito no processo da criação do arquivo. Pode-se dizer que
o arquivo é o resultado de dois processos integrados, os processos de produção
e recepção de documentos, estes que geram o processo de realização da missão.
Essa noção de arquivo, segundo a perspectiva de jenkisoniana, ancora-se na
origem dos documentos, tornando-se referência para o tratamento do arquivo
nas suas três fases (RODRIGUES, 2006).

NOTA

Você sabia que existem duas escolas com vertentes diferentes sobre o processo
de criação do arquivo? A escola jenkisoniana enfatizava a objetividade do arquivista e a
imparcialidade da informação de arquivo, na medida em que a decisão caberia ao produtor ou
administrador, em melhores condições para determinar o que deveria continuar a responder
às necessidades, deixando de fora o arquivista. Já na perspectiva da escola schellenbergiana,
defende-se o envolvimento do arquivista na tomada de decisão, como responsável pela
custódia a longo prazo da informação do arquivo, por serem os únicos capazes de fazer o
equilíbrio entre as necessidades evidenciais, de utilização, memória e investigação. Dessa
última escola surge a diferenciação entre o valor primário dos produtores (evidencial, ligado a
questões administrativas, legais, fiscais) e o valor secundário (ligado ao testemunho institucional,
memória e ao valor informacional) para uma vasta gama de utilizadores e as suas necessidades
futuras de evidência e informação histórica (ALVES; CABRAL; OLIVEIRA, 2016).

Segundo Alves, Cabral e Oliveira (2016), na sua concepção clássica,


a noção de arquivo tinha somente como funções a produção e a acumulação
dos documentos. Assim, houve a preocupação intensa com a preservação e a
conservação do acervo. Pode-se afirmar que a preservação dos documentos está
diretamente ligada à confiabilidade que seu uso pode inspirar, como se a verdade
estivesse sendo preservada integralmente.

Ainda, outra ideia comum, quando falamos de arquivo, refere-se à


questão da autenticidade. Um documento é autêntico quando se sabe a sua
proveniência, independentemente da veracidade do conteúdo. Nesse sentido,
o documento pode ser falso, mas ser autêntico, na medida em que o seu órgão
produtor é conhecido.

Alves, Cabral e Oliveira (2016) sugerem que é necessário ampliar essas


concepções clássicas que envolvem o contexto arquivístico, para perceber o
arquivo para além da concepção de instrumento de contenção do passado,
passando a ser visto como um lugar propício para o resgate ou construção de
memórias coletivas ou individuais através da custódia dos seus documentos.

5
UNIDADE 1 — ORIGEM E CONTEXTO HISTÓRICO DA ARQUIVOLOGIA

Pierre Nora (1993, p. 14) destaca que, embora a memória seja vivida no
interior dos indivíduos, quase sempre ela necessita de suportes exteriores
(materializada) e de referenciais tangíveis, surgindo a obsessão pelo arquivo
e pela preservação do presente e do passado. Por sua vez, o documento
arquivístico representa muito mais que um suporte, uma estrutura e um
conteúdo. Implica a guarda, circunstância e a vontade de dar origem a um
fato (ALVES; CABRAL; OLIVEIRA, 2016, p. 37-38).

As reflexões do filósofo francês Jacques Derrida (1930-2004) tiveram uma


contribuição em torno da ideia da originalidade e autenticidade que os arquivos
preservam, além da questão da conservação e seleção dos documentos. Na visão de
Alves, Cabral e Oliveira (2016), o filósofo Derrida repensa a concepção de arquivo
dentro da própria terminologia da palavra. Entretanto, de onde vem a palavra
arquivo? Qual a sua origem etimológica?

FIGURA 2 - JACQUES DERRIDA (1930–2004)

FONTE: <https://literariness.org/2019/04/17/the-philosophy-of-jacques-derrida/>.
Acesso em: 15 jun. 2020.

NOTA

Um dos mais importantes filósofos do século XX, Jacques Derrida (1930-2004)


nasceu em El-Biar, Argélia, antiga colônia francesa. Jacques Derrida foi o criador da teoria
da desconstrução, divulgada, inicialmente, nos anos 60, uma metodologia que propõe
uma análise particular dos textos. Segundo esse sistema, não se trata de destruir, mas de
decompor os elementos da escrita para descobrir partes do texto que estão dissimuladas.
Essa metodologia de análise se centra apenas nos textos. Em seguida, Derrida criou outros
dois conceitos: a indecidibilidade, que mostra a impossibilidade de determinar aquilo que
é forma no texto ou fundo ideológico; e o conceito de "diferença", que parte da análise
semântica dos dois sentidos do infinito latino differre (diferir): o primeiro remete para o
futuro (tempo), e, o segundo, para a distinção de algo criado pelo confronto.

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TÓPICO 1 — DO ARQUIVO À ARQUIVOLOGIA

O conceito de arquivo remonta à palavra grega arkhê, que, na sua origem


etimológica, significava o princípio de todas as coisas, o começo e o comando.
Nesse sentido, a palavra contempla o lugar onde as coisas começam, através
das causas naturais, físicas ou de fatores históricos, além do lugar de comando,
isto é, o princípio nomológico, princípio de lei que diz respeito ao lugar onde os
homens e os deuses comandam. É a partir daí que se pode atribuir, ao conceito
de arquivo, o lugar a partir do qual a ordem é dada, estabelecida e instituída
(ALVES; CABRAL; OLIVEIRA, 2016).

FIGURA 3 – OS FILÓSOFOS GREGOS

FONTE: <encurtador.com.br/kKN19>. Acesso em: 15 jun. 2020.

Nesse aspecto, há, no conceito de arquivo, uma relação direta com o


poder no plano histórico-social. Segundo Estrada (2010), existe uma relação estrita
entre localidade e autoridade ou localidade e exercício do poder, sendo que essa
vinculação é essencial à estrutura do arquivo, pois quando Derrida se refere ao
princípio de comando ou princípio da lei contido na palavra arkhê, há uma dupla
vinculação entre lugar e comando, portanto, lugar e autoridade.

Para Estrada (2010), o lugar diz a respeito ao local onde os homens


e deuses comandam, onde a ordem é instituída. Além disso, a localidade se
encontra relacionada, também, ao princípio do começo, que, por sua vez, também
está contido na palavra arkhê. O princípio do começo, na abordagem de Derrida,
refere-se, em última instância, à localidade inerente a todo início, ou seja, onde as
coisas começam, o lugar em que as coisas têm início.

Segundo Alves, Cabral e Oliveira (2016), há, em cada um dos dois


princípios reunidos na palavra arkhê (começo e comando), uma série de
divisões e diferenciações, uma heterogeneidade que atravessa desde sempre, a
cada momento semântico implicado na própria genealogia da palavra. Assim,
Derrida afirma que nenhuma identidade é idêntica, pois toda identidade implica,
necessariamente, nela mesma, uma diferença e uma heterogeneidade.

7
UNIDADE 1 — ORIGEM E CONTEXTO HISTÓRICO DA ARQUIVOLOGIA

Logo, conceber o arquivo é distanciá-lo de uma positividade já afirmada.


Segundo Derrida apud Estrada (2010), apesar de todos os processos e técnicas de
arquivamento, nada aparece enquanto tal, ou seja, no seu modo de ser enquanto
tal, naquilo que é tal como é, em si mesmo e por si mesmo. Essa é a lei que, em
outras palavras, significa precisamente isso: só há arquivo. Para dizer o mesmo em
outras palavras, perde-se, sempre, o que se retém; isso é próprio ao arquivo, mas,
não nos esqueçamos, há tão somente arquivo.

NOTA

O que é arquivologia? O que é um arquivista?

Arquivologia é um curso de graduação em que o acadêmico estuda as funções,


os princípios e as técnicas específicas para cuidar dos documentos para que possam
ser encontrados de um jeito fácil por pessoas e instituições. Trabalha com a criação,
avaliação, aquisição, conservação e preservação, organização e difusão de documentos
e informações. Já o arquivista é um profissional capacitado pelo curso de Arquivologia
que planeja, organiza e gerencia arquivos e sistemas de arquivo. Ele pode trabalhar em
instituições públicas ou privadas para garantir o acesso a documentos e às informações
orgânicas e registradas que se encontram no acervo da instituição.

Assim, surge a arquivologia, entendida, por muitos autores, como uma


disciplina que tem o seguinte objetivo: auxiliar no tratamento dos arquivos.
Segundo Jardim (1998, p. 3), a arquivologia é a “disciplina que tem, por objeto,
o conhecimento dos arquivos e da arquivística”. Sendo a Arquivística, portanto,
entendida como os “princípios e técnicas a serem observados na produção,
organização, guarda, preservação e utilização dos arquivos”. Tanto a arquivologia
quanto a arquivística compõem o ofício do arquivista.

3 CIRCUNSTÂNCIAS HISTÓRICAS DA ARQUIVOLOGIA


As transformações históricas da arquivologia são marcadas pelo
pragmatismo. A disciplina sempre esteve, na sua formação, subordinada a outras
disciplinas, como diplomática, direito, administração e história.

Também no processo de formação, a disciplina se formou a partir de


soluções para problemas práticos. Mais tarde, a teoria se dispôs a explicar,
a analisar e a compreender. Isso se deu justamente porque os documentos de
arquivo são resultados das atividades humanas, portanto, são produzidos.

8
TÓPICO 1 — DO ARQUIVO À ARQUIVOLOGIA

O arquivo, por sua vez, foi visto num primeiro momento como um local
em que se armazenam os documentos produzidos pela administração e, portanto,
possuíam valor jurídico.

Depois, os documentos arquivísticos foram reconhecidos como


instrumentos de poder, e o seu sentido e significado histórico também foram
reconhecidos, levando em conta a massa documental acumulada. Essa massa
documental acumulada crescia em paralelo com os avanços tecnológicos, com
a necessidade informacional, ocorrendo um avanço significativo na teoria
arquivística: o nascimento da gestão de documentos arquivísticos. Contudo, com
todo esse avanço, há, também, os desafios. Um deles era a questão da organização
dos documentos arquivísticos.

Por conseguinte, segundo Negreiros e Dias (2008), os arquivos passaram


a ser entendidos como sistemas, e as tecnologias da informação se tornaram
ferramentas imprescindíveis para a gestão. Com o aparecimento de documentos
produzidos de maneira eletrônica, houve maior complexidade no contexto da
produção, utilização e armazenamento de documentos arquivísticos.

FIGURA 4 – ARQUIVOLOGIA

FONTE: <https://blog.grancursosonline.com.br/teste-rapido-arquiviologia-esaf/>.
Acesso em: 14 jun. 2020.

Nesse sentido, a noção de “documento de arquivo”, até então proposta,


adequou-se facilmente a uma cultura que aceitava o papel como suporte
primordial, e que, com a ajuda de outros instrumentos legais, era capaz de
conferir autenticidade e fidedignidade aos documentos. Contudo, segundo
Negreiros e Dias (2008), com o surgimento dos documentos produzidos de
maneira eletrônica, apareceram novos desafios, especialmente na esfera da lei,
na qual houve a necessidade de serem conferidos valores probatórios e jurídicos.

9
UNIDADE 1 — ORIGEM E CONTEXTO HISTÓRICO DA ARQUIVOLOGIA

Segundo Negreiros e Dias (2008), a Administração Nacional de Arquivos


e Registros, National Archives and Records Administration (NARA), define o
documento arquivístico eletrônico como qualquer informação registrada de uma
forma que somente um computador possa processar e que satisfaça a definição
de um registro. Já o Conselho Nacional de Arquivos (CONARQ, 2004), por meio
do glossário de documentos digitais, concebe o documento arquivístico digital
como um documento arquivístico codificado em dígitos binários, produzido,
tramitado e armazenado por sistema computacional.

Essas definições e contextos permeiam a história da arquivologia, mas


quando, realmente, ela surgiu? Quando ela se consolidou como campo autônomo
do conhecimento?

Pode-se dizer que os primórdios da arquivologia se encontram no


século XVI. Foi a partir do século XVI que as rotinas da profissão começam a ser
disciplinadas através de normas regulamentares, algumas até de caráter oficial.
Nesse sentido, já são vistos, no seu conteúdo programático, alguns princípios
gerais da natureza arquivística, que, mais tarde, irão se configurar em postulados,
abrindo caminho para o nascimento de uma nova disciplina: a arquivística. Essa
nova disciplina é resultado de uma construção conceitual e sistemática do saber
adquirido por uma prática milenar da gestão dos arquivos.

Segundo Fonseca (2005), os primeiros elementos da doutrina arquivística


podem ser encontradas no último volume da obra de Dom Jean Mabbilon (1681)
sobre diplomática. Esse contexto é marcado por uma valorização dos exemplares
diplomáticos, que eram analisados individualmente. Na visão de Marc Bloch,
o ano da publicação da obra De Re Diplomatica (1681) foi uma grande data na
história do espírito humano, pois a crítica aos documentos do arquivo foi fundada
de maneira definitiva.

FIGURA 5 – DE RE DIPLOMATICA (1681)

FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/4/43/De_re_
diplomatica_17765.jpg/451px-De_re_diplomatica_17765.jpg>. Acesso em: 14 jul. 2020.

10
TÓPICO 1 — DO ARQUIVO À ARQUIVOLOGIA

NOTA

Você sabia que Marc Bloch (1886-1844) foi um renomado historiador francês
que se destacou por ser um dos fundadores da Escola dos Annales? Marc Bloch publicou
obras que se tornaram clássicos da historiografia. O historiador publicou vários livros. O
primeiro foi Os Reis Taumaturgos (1924), no qual analisava a crença popular do poder
de cura com o toque do rei e suas implicações na França e na Inglaterra medieval, mas
sua grande obra foi A Sociedade Feudal (1939). Neste livro, o autor apresenta uma nova
abordagem sobre a questão do feudalismo, que marcaria profundamente sua carreira
como um grande medievalista. Marc Bloch chegou a militar na resistência francesa, mas foi
capturado e torturado pela Gestapo. Morreu fuzilado no dia 16 de junho de 1944.

Entretanto, Fonseca (2005) chama atenção de que não se pode considerar


a publicação do tratado clássico de diplomática como uma obra isolada. Segundo
a autora, em meados do século XVII, inúmeras obras de caráter semelhante foram
escritas, e o interesse pelo estudo das características de validade dos documentos
legais surgiu do questionamento do valor legal da “doação de Constantino”.
Segundo Le Goff (1984, p. 100) apud Fonseca (2005, p. 34):

O famoso humanista Florentino Lorenzo Valla demonstra, mediante


argumentos filosóficos e em resposta à demanda de Afonso o
Magnânimo, rei de Aragão e de Sicília, no seu tratado De falso credito
et ementita Constantini donatione declamatio (1440), que a famosa doação
de Constantino, com a qual o imperador teria feito dom ao papa
do Estado pontifício, é um falso diploma. A Declamatio é publicada
apenas em 1517.

Durante o século XVIII, começam a se constituir os depósitos centrais


de arquivos em São Petersburgo, mais precisamente, no ano de 1720. Na cidade
de Viena, aparecem no ano de 1749; em Varsóvia, no ano de 1765; em Veneza
ano de1770; e, em Florença, em 1778. Do mesmo modo, dá-se o nascimento dos
museus públicos e nacionais: o Louvre, em 1793; o Museu de Versalhes, em 1833;
o Museu das Antiguidades Nacionais, na cidade de Berlim, em 1830; e o Museu
Nacional do Bergello, em Florença, em 1859 (FONSECA, 2005).

11
UNIDADE 1 — ORIGEM E CONTEXTO HISTÓRICO DA ARQUIVOLOGIA

NOTA

Você sabia que, em 1794, através do decreto de 25 de junho (Lei Messidor), o


governo francês estabeleceu o direito de acesso de todos os cidadãos aos documentos
custodiados pelos arquivos públicos? Buscando dar maior visibilidade a essas instituições,
o governo revolucionário estabeleceu algumas diretrizes que foram marcantes no
surgimento de princípios e métodos da arquivologia. A Lei de 25 de junho de 1794 também
estabeleceu a distinção entre os documentos relativos ao domínio nacional e à ordem
judicial e aqueles relativos à história, à ciência e às artes; já a circular do Ministério do Interior
de 24 de abril de 1841 determinou que a proveniência deveria ser observada enquanto
princípio norteador do arranjo da documentação nos arquivos franceses (MIRANDA, 2011).

FIGURA 6 – LOUVRE

FONTE: <https://i0.wp.com/documentodeviagem.com/wp-content/uploads/2019/12/museu-do-louvre-
paris-documento-de-viagem-04_edited.jpg?resize=800%2C445&ssl=1>. Acesso em: 26 jul. 2020.

O filósofo francês Michel Foucault (1990) afirma que esses espaços de


depósitos e de distribuições “naturais” tiveram uma importância significativa,
nos fins do século XVIII, para a classificação das palavras, das línguas, das raízes,
dos documentos, dos arquivos, isto é, para a constituição de todo um ambiente de
história. Nas palavras de Foucault (1990, p. 145-146):

A conservação cada vez mais completa do escrito, a instauração


de arquivos, sua classificação, a reorganização das bibliotecas, o
estabelecimento de catálogos, de repertórios, de inventários representam,
no fim da idade clássica, mais que uma sensibilidade nova ao tempo,
ao seu passado, à espessura da história, uma forma de introduzir, na
linguagem já depositada e nos vestígios por deixados, uma ordem que é
do mesmo tipo da que se estabelece entre os seres vivos.

12
TÓPICO 1 — DO ARQUIVO À ARQUIVOLOGIA

A maioria dos autores da literatura historiográfica considera que o


marco inicial da disciplina arquivística se constituiu como campo autônomo do
conhecimento a partir da publicação do manual escrito em 1898, pelos arquivistas
holandeses S. Muller, J. A. Feith e R. Fruin. Segundo Fonseca (2005), para
Thomassen, a arquivologia clássica aparece quando é codificada pelo manual
de Muller, Feitch e Fruin. Do mesmo modo pensa Schelemberg, quando afirma
que, do ponto de vista da contribuição universal para a arquivística, foi o manual
escrito sobre administração de arquivos do trio de holandeses. Além desses
autores, outros reforçam a ideia.

A obra, intitulada, originalmente, de Handeigling voor het ordenen en


beschrijven van archieven (Manual de Arranjo e Descrição de Arquivos), foi publicada
sob auspícios da Associação de Arquivistas Holandeses, com a colaboração dos
Arquivos de Estado de Reino da Holanda e, também, do Ministério do Interior.
A obra se constitui de 100 regras ou princípios considerados fundamentais para
o arranjo e descrição dos arquivos. Essa obra chegou ao Brasil em 1960, quando
foi publicada e traduzida pelo Arquivo Nacional, que tinha, como diretor, o
historiador José Honório Rodrigues. Segundo Fonseca (2005), no prefácio da
obra, Rodrigues afirma que a publicação de tal obra é um sinal da renovação
arquivística no país.

FIGURA 7 – MANUAL DE ARRANJO E DESCRIÇÃO DE ARQUIVOS

FONTE: <https://4.bp.blogspot.com/-q4CU_jPVZQE/T3OzUXXTmcI/AAAAAAAAHZk/VWtkY1_
bXSM/s400/manual.jpg>. Acesso em: 19 jul. 2020.

13
UNIDADE 1 — ORIGEM E CONTEXTO HISTÓRICO DA ARQUIVOLOGIA

DICAS

Acesse o conteúdo do Manual de Arranjo e Descrição de Arquivos através do


link a seguir: http://www.arquivonacional.gov.br/media/manual_dos_arquivistas.pdf.

Na visão de Fonseca (2005), o “Manual Holandês” possui caráter


pragmático, sendo considerado uma obra clássica da arquivologia, que explica
o caminho percorrido e ilumina o caminho que ainda há de se percorrer. Nesse
sentido, pode-se afirmar que o manual dos holandeses constituiu um marco
fundador da codificação da disciplina arquivística. Por sua vez, apresenta alguns
tópicos importantes para análise das características de configuração da área, como:

• a inserção da arquivologia na episteme da modernidade, em especial, na


esfera política.
• a consequente importância das instituições arquivísticas para lidar com os
problemas de uma administração pública que deve ser eficiente.
• a subordinação da disciplina em relação ao seu objeto, isto é, se a ideia de
arquivo estiver clara, também estará clara a ideia de arquivologia;
• a tradição mutualística da área, no que tange limitações e tentativas de
generalizar o particular, favorecendo o império da norma.

Nesse sentido, pode-se dizer que o Manual para Arranjo e Descrição


de Arquivos, de Samuel Muller, Johan Feith e Robert Fruin, publicado pela
Associação dos Arquivistas Holandeses (1898), foi um marco no sentido da
profissionalização dos arquivistas e do surgimento da Arquivologia enquanto
disciplina. Segundo Miranda (2011), o “Manual Holandês” estabeleceu o respeito
à proveniência e à ordem original, como princípios norteadores para o arranjo de
acervos documentais, colocando a pesquisa histórica em segundo plano.

Esse distanciamento se fortaleceu com a publicação, em 1922, do Manual


de Administração de Arquivos, do inglês Sir Hilary Jenkinson (1882-1861). O arquivo
passou a ser visto como uma evidência imparcial dos atos do seu produtor e
subproduto natural da instituição produtora dos documentos. Na concepção de
Jenkinson, o arquivista era um agente neutro e passivo, cuja função se limitava à
preservação dos documentos.

Inicialmente, o arquivista britânico Jenkinson considerava que todos os


documentos deveriam ser preservados, no entanto, após o término da Primeira
Guerra Mundial, ele reconheceu a necessidade da avaliação e, consequentemente,
da eliminação de parte dos documentos produzidos. Na visão de Jenkinson,

14
TÓPICO 1 — DO ARQUIVO À ARQUIVOLOGIA

caberia, ao arquivista, conservar os documentos que o produtor havia destinado


à preservação permanente, entendidos como valiosos para futuras pesquisas
históricas. Desse modo, a Arquivologia se apresentava como uma disciplina
auxiliar da História, ao lado da Diplomática e da Paleografia, responsável pelas
técnicas de conservação das fontes para a pesquisa histórica (MIRANDA, 2011).

FIGURA 8 – ARQUIVISTA BRITÂNICO HILARY JENKINSON

FONTE: <https://www.npg.org.uk/collections/search/portrait/mw246708/Sir-Charles-Hilary-Jenkinson>.
Acesso em: 14 jul. 2020.

No contexto da crescente profissionalização dos arquivistas, os


historiadores se manifestavam sob a influência do materialismo histórico
e questionavam fortemente a perspectiva elitista dos acervos arquivísticos.
Questionavam a importância dos registros preservados e o caráter institucional.
Segundo Miranda (2011), a partir de 1929, sob a liderança de Marc Bloch (1886-
1944) e Lucien Febvre (1878-1956), a Escola dos Annales ampliou as perspectivas
da pesquisa histórica, introduzindo novas abordagens, temporalidades e sujeitos.
Assim, os historiadores deram os primeiros passos para ampliação do conceito
de documento, superando a exclusividade das fontes textuais e buscando suas
fontes de pesquisa em outros “arquivos”.

15
UNIDADE 1 — ORIGEM E CONTEXTO HISTÓRICO DA ARQUIVOLOGIA

FIGURA 9 – MARC BLOCH E LUCIEN FEBVRE

FONTE: <http://ensaiospatrimoniais.blogspot.com/2006/09/polemica-da-historia-das-mentalidades.html>.
Acesso em: 14 jul. 2020.

NOTA

Você sabia que o materialismo histórico é uma teoria política, sociológica e


econômica desenvolvida por Karl Marx e Friedrich Engels no século XIX? Os pensadores
entenderam que o século XIX, vivente da alta modificação social propiciada pela Revolução
Industrial, possuía uma nova configuração, baseada na força de produção da burguesia e na
exploração da mão de obra da classe trabalhadora por parte da classe burguesa (donos das
fábricas). Os sociólogos também entenderam que sempre houve um movimento histórico
de luta de classes na sociedade e que esse movimento era a essência da humanidade.
A teoria de Marx e Engels divergia do idealismo alemão, principalmente de Hegel, que
entendia haver um movimento intelectual de cada época que influenciava as pessoas. Para
Marx e Engels, eram as pessoas que faziam a sua época.

16
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Ao longo da história, a conceituação de arquivo sofreu modificações em


conformidade com as transformações políticas e culturais das sociedades
ocidentais.

• Em geral, o arquivo é um conjunto de documentos produzidos e recebidos no


decurso das ações necessárias para o cumprimento da missão predefinida de
uma determinada entidade coletiva, pessoal ou familiar.

• Na sua concepção clássica, o arquivo tinha somente como funções a produção


e a acumulação dos documentos. Mais tarde, houve a preocupação intensa com
a preservação e a conservação do acervo.

• As reflexões do filósofo francês Jacques Derrida tiveram contribuição em torno


da ideia de originalidade e autenticidade que os arquivos preservam, além da
questão da conservação e seleção dos documentos.

• O filósofo francês Jacques Derrida repensa a concepção de arquivo dentro da


própria terminologia da palavra.

• O conceito de arquivo remonta à palavra grega arkhê, que, em sua origem


etimológica, significa o princípio de todas as coisas, o começo e o comando.

• O filósofo francês Jacques Derrida constata que nenhuma identidade é


idêntica, pois toda identidade implica, nela mesma, uma diferença, uma
heterogeneidade. Logo, conceber o arquivo é distanciá-lo de uma positividade
já afirmada.

• A Arquivologia é a disciplina que tem, por objeto, o conhecimento dos arquivos


e da arquivística.

• A arquivística é entendida como os princípios e técnicas a serem observados na


produção, organização, guarda, preservação e utilização dos arquivos.

• O documento arquivístico digital é um documento codificado em dígitos


binários, produzido, tramitado e armazenado por um sistema computacional.

• Para Marc Bloch, o ano da publicação da obra De Re Diplomatica (1681) foi uma
grande data na história do espírito humano, pois a crítica aos documentos do
arquivo foi fundada de maneira definitiva.

17
• Durante o século XVIII, começam a se constituir os depósitos centrais de
arquivos em São Petersburgo, mais precisamente, em 1720.

• O Manual para Arranjo e Descrição de Arquivos (1898), de Samuel Muller, Johan


Feith e Robert Fruin, publicado pela Associação dos Arquivistas Holandeses,
foi um marco no sentido da profissionalização dos arquivistas e do surgimento
da Arquivologia enquanto disciplina.

• Os historiadores Marc Bloch e Lucien Febvre deram os primeiros passos para


a ampliação do conceito de documento, superando a exclusividade das fontes
textuais e buscando suas fontes de pesquisa em outros “arquivos”.

18
AUTOATIVIDADE

1 O conceito de arquivo remonta à palavra grega arkhê, que, na sua origem


etimológica, significava o princípio de todas as coisas, o começo e o
comando. Desse modo, há, no conceito de arquivo, uma relação direta com
o poder no plano histórico-social. Sobre o sentido de arquivo dado pelo
filósofo Jacque Derrida, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Segundo Derrida, o arquivo é uma disciplina que tem o objetivo de


auxiliar no tratamento dos arquivos.
b) ( ) Para Derrida, o conceito de arquivo é simplesmente um local onde se
armazenam os documentos produzidos pela administração.
c) ( ) Derrida diz que nenhuma identidade é idêntica, pois toda identidade
implica, necessariamente, nela mesma, uma diferença, uma
heterogeneidade. Logo, conceber o arquivo é distanciá-lo de uma
positividade já afirmada.
d) ( ) Para Derrida, o arquivo consiste nos princípios e técnicas a serem
observados na produção, organização, guarda, preservação e utilização
de um documento.

2 Durante o século XVIII, começam a se constituir os depósitos centrais de


arquivos em São Petersburgo, mais precisamente, em 1720. Na cidade de
Viena, aparecem em 1749; em Varsóvia, em 1765; em Florença, em 1770; e,
em Florença, em 1778. Sobre o nascimento dos museus públicos e nacionais,
assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O Louvre surge em 1859; o Museu de Versalhes, em 1833; o Museu das


Antiguidades Nacionais, em Berlim, em 1830; e o Museu Nacional do
Bergello em 1777.
b) ( ) O Louvre surge em 1793; o Museu de Versalhes, em 1833; o Museu das
Antiguidades Nacionais, em Berlim, em 1830; e o Museu Nacional do
Bergello em 1859.
c) ( ) O Louvre surge em 1793; o Museu de Versalhes, em 1883; o Museu das
Antiguidades Nacionais, em Berlim, em 1890; e o Museu Nacional do
Bergello em 1859.
d) ( ) O Louvre surge em 1793; o Museu de Versalhes, em 1883; o Museu das
Antiguidades Nacionais, em Berlim, em 1900; e o Museu Nacional do
Bergello em 1859.

19
3 O Manual para Arranjo e Descrição de Arquivos, de Samuel Muller, Johan Feith
e Robert Fruin, publicado pela Associação dos Arquivistas Holandeses
em 1898, foi um marco no sentido da profissionalização dos arquivistas
e do surgimento da Arquivologia enquanto disciplina. Sobre o “Manual
Holandês”, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O “Manual Holandês” compreendia o arquivo como uma evidência


imparcial dos atos do seu produtor e subproduto natural da instituição
produtora dos documentos.
b) ( ) O “Manual Holandês” foi contestado com a publicação, em 1922, do
Manual de Administração de Arquivos do arquivista inglês Sir Hilary
Jenkinson (1882-1861).
c) ( ) O “Manual Holandês” estabeleceu o respeito à proveniência e à
ordem original, como princípios norteadores para o arranjo de acervos
documentais, privilegiando a pesquisa histórica.
d) ( ) O “Manual Holandês” estabeleceu o respeito à proveniência e à
ordem original, como princípios norteadores para o arranjo de acervos
documentais, colocando a pesquisa histórica em segundo plano.

20
TÓPICO 2 —
UNIDADE 1

OS DESAFIOS DA ARQUIVOLOGIA

1 INTRODUÇÃO
Olá, acadêmico! Neste tópico, você terá acesso aos desafios da arquivologia,
especialmente, após a Segunda Grande Guerra. Existiram inúmeros desafios à
prática arquivística, a maneira de classificar os documentos e de concebê-los.

Veremos que, com o surgimento da Declaração Universal dos Direitos


Humanos (DUDH), adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em
10 de dezembro de 1948, o acesso às informações contidas nos documentos dos
arquivos passou a ser reconhecido como um direito universal.

Nesse sentido, houve uma nova perspectiva no campo da arquivologia,


que passou a ser fundamentada numa nova consciência despertada pelos crimes
contra a humanidade cometidos na Segunda Grande Guerra.

Além disso, veremos a história da formação das instituições arquivísticas.


Você sabia que as instituições arquivísticas remontam à criação, em 1789, do
Arquivo Nacional da França? Para saber disso e muito mais, não deixe de ler e
refletir a respeito da história da arquivologia.

2 OS DESAFIOS DA ARQUIVOLOGIA NO CONTEXTO DO


PÓS-GUERRA
O contexto histórico do pós II Guerra Mundial trouxe inúmeras mudanças
e desafios para os arquivistas e historiadores, que buscavam novos usos para os
documentos arquivísticos, forçando esses profissionais a repensarem a sua relação
com as instituições de custódia e com a memória coletiva.

Nas palavras de Miranda (2011, p. 4), “no pós-Guerra, a questão dos


direitos humanos ganhou relevância, conferindo novo protagonismo aos arquivos
enquanto ponto de partida para repensar o passado e para a garantia de direitos
individuais e coletivos”.

21
UNIDADE 1 — ORIGEM E CONTEXTO HISTÓRICO DA ARQUIVOLOGIA

Com o surgimento da Declaração Universal dos Direitos Humanos


(DUDH), que foi adotada pela Organização das Nações Unidas (1948), estabelece-
se que toda a pessoa tem direito de receber e transmitir informações e ideais.
Nesse sentido, segundo Miranda (2011), o acesso às informações contidas nos
documentos dos arquivos passou a ser reconhecido como um direito universal.

FIGURA 10 – DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS (DUDH)

FONTE: <https://miro.medium.com/max/700/1*8mvIvK4YU-f20Cj-zVNnSw.png>.
Acesso em: 14 jul. 2020.

DICAS

Acesse a Declaração Universal dos Direitos Humanos em:


https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/DUDH.pdf.

Assim, instaura-se uma nova perspectiva no campo da arquivologia, que


se alicerça numa nova consciência despertada pelos crimes contra a humanidade
cometidos na Segunda Grande Guerra. Segundo Miranda (2011, p. 4-5):

22
TÓPICO 2 — OS DESAFIOS DA ARQUIVOLOGIA

Conjuntos de documentos, como os organizados no Gueto de Varsóvia


entre 1940-1943, sob a coordenação do historiador Emanuel Ringelblum,
tornaram-se fontes de informação sobre o cotidiano no Gueto, sobre a
opressão nazista e constituíram-se em importantes testemunhos sobre os
crimes contra a humanidade cometidos pelas tropas nazistas na Polônia
(KASSOW, 2009). Os julgamentos de Nuremberg, ao utilizar documentos
produzidos pelo Estado alemão e pelo Partido Nazista, explicitaram
que os documentos de arquivo podem ter usos distintos daqueles para
os quais foram criados, nesse caso, arquivos produzidos pelos órgãos e
estruturas vinculadas à perseguição e ao extermínio de judeus e de outros
grupos, agora, serviam como prova dos crimes de guerra [...].

Além disso, o pós-Guerra também provocou uma mudança no ritmo


da produção de documentos, ocasionando uma “explosão documental”. Esse
fato colocou em xeque a gestão e a avaliação. Segundo Miranda (2011), nos
EUA, houve uma clara ruptura entre documentos administrativos (records) e
documentos históricos (archives), entre os profissionais de gestão de documentos
(records management) e aqueles de arquivos (arquivistas). Nesse sentido, houve
um esforço da Comissão Hoover (1946) para superar essa dicotomia. A partir da
teoria das três idades que o ciclo vital dos documentos foi analisado, delineando-
se um fluxo entre o arquivo corrente, intermediário e permanente.

NOTA

Você sabia que a teoria das três idades se refere aos documentos que são
considerados de primeira, segunda ou terceira idade, a partir da identificação de seus valores
primário e secundário, sendo, nos dois primeiros casos, mantidos no arquivo corrente ou
intermediário em função da frequência do uso pela entidade produtora? Já os documentos de
terceira idade são recolhidos ao arquivo permanente ou histórico (ARQUIVO NACIONAL, 2005).

Segundo Miranda (2011), a avaliação dos documentos consiste numa etapa


decisiva para viabilizar a sua passagem de um arquivo a outro. Houve a análise
através do trabalho de Theodore R. Schellemberg (1903-1970), considerado o “pai da
avaliação arquivística” nos EUA.

Em Arquivos modernos: teoria e prática (1956), Schellemberg estabeleceu,


como critério norteador da avaliação, o valor dos documentos. Desse modo, o
valor primário estaria vinculado aos valores jurídico, administrativo e fiscal,
refletindo a importância do documento para seu produtor; o valor secundário
está associado aos interesses de outros usuários que utilizam os documentos
como evidência, prova e fonte de informação (MIRANDA, 2011).

23
UNIDADE 1 — ORIGEM E CONTEXTO HISTÓRICO DA ARQUIVOLOGIA

Na contramão da teoria de Jenkinson, Schellemberg afirma que a avaliação


documental, isto é, aferição do valor dos documentos e a determinação dos prazos
de guarda, de eliminação ou de recolhimento, era atribuição do arquivista. Assim,
considerava-se que os documentos eram portadores de informações que poderiam
interessar a diferentes públicos, assumindo usos distintos daqueles para os quais
foram criados (MIRANDA, 2011).

Com isso, progressivamente, a avaliação documental passou a ser, segundo


Miranda (2011), responsabilidade de uma equipe interdisciplinar, composta por
arquivistas, historiadores, administradores, advogados etc. Esses profissionais
deveriam avaliar os potenciais comprobatório e informativo dos documentos, e
verificar as implicações culturais, científicas, jurídicas e fiscais da sua preservação
ou eliminação.

Nessa nova perspectiva, os documentos de um arquivo permanente


passaram a ser definidos como aqueles “produzidos e acumulados por uma
entidade coletiva, pública ou privada, pessoa ou família, no desempenho das
suas atividades, independentemente da natureza do suporte” (ARQUIVO
NACIONAL, 2005, p. 27). Passaram pelo processo de avaliação, que aferiu seu
valor secundário e determinou seu recolhimento e guarda permanente.

Segundo Miranda (2011), nessa concepção de arquivo, devem ser


recolhidos os documentos considerados suporte da memória a ser preservada,
denominados de “documentos históricos”. Qual seria essa memória?

Para Miranda (2011, p. 6), “dentre os arquivistas, justificava-se a conservação


dos documentos de caráter permanente, pois são relevante instrumento de auxílio à
administração e, ao mesmo tempo, portadores da memória institucional”.

Assim, esses profissionais ainda se consideravam agentes passivos e neutros


frente a essa memória e à sociedade. Por outro lado, os historiadores buscavam
ampliar as evidências do passado, utilizando outros suportes e “arquivos”.

FIGURA 11 – ARQUIVÍSTICA

FONTE: <http://bc.ufpa.br/wp-content/uploads/2017/10/42-73700646-640x480.jpg>.
Acesso em: 14 ago. 2020.

24
TÓPICO 2 — OS DESAFIOS DA ARQUIVOLOGIA

Nesse contexto, a arquivologia buscava definir os critérios técnicos para


determinar quais documentos seriam considerados merecedores da guarda
permanente. Acontece que, nos anos de 1970, a terceira geração dos Analles,
através da obra de Jacques Le Goff e Pierre Nora, introduziu novos objetos,
abordagens e problemas para os historiadores. Tal empreendimento gerou uma
Nova História, com outras concepções de documento, além de novos métodos
para lidar com essa perspectiva ampliada, permitindo um diálogo mais profundo
com as ciências sociais. Desse modo, segundo Miranda (2011), os historiadores
redescobriram os acervos de museus e bibliotecas, passando a valorizar as
paisagens e outras fontes de informação.

Ao mesmo tempo em que outros “arquivos” eram visitados, o historiador


passava a olhar os documentos dos tradicionais arquivos históricos com novas
indagações, buscando novas questões, valorizando outros agentes, ouvindo
outras vozes (FARGE, 2009). Por outro lado, o uso dos computadores possibilitou,
ao historiador, trabalhar com um volume expressivo de documentos, dando
impulso à história quantitativa. Nesse sentido, o caráter inerentemente serial
dos documentos de arquivo passou a ser um aspecto valorizado por aqueles que
buscavam evidências quantificáveis (MIRANDA, 2011).

FIGURA 12 – JACQUES LE GOLFF

FONTE: <https://s2.glbimg.com/zY90gZ1MgIGPw6id7ORoXMfZ3Hg=/500x334/top/i.glbimg.
com/og/ig/infoglobo1/f/original/2016/03/01/110410-legoff.jpg>. Acesso em: 14 ago. 2020.

25
UNIDADE 1 — ORIGEM E CONTEXTO HISTÓRICO DA ARQUIVOLOGIA

NOTA

Você sabia que Jacques Le Goff foi um importante historiador francês,


que se dedicou ao estudo da Idade Média? Fez parte da terceira geração da Escola dos
Annales, dedicando grande parte da sua obra à história das mentalidades. Fez estudos
aprofundados sobre a cultura e mentalidade do homem na Idade Média. Abordou, nas suas
obras (mais de 40 livros), aspectos sociológicos, psicológicos, religiosos, antropológicos,
artísticos, comportamentais, econômicos e sociais. Suas obras são consideradas referências
de extrema importância para o estudo da Idade Média. A grande contribuição dos seus
estudos foi no sentido de mostrar a Idade Média como um período dinâmico, ao contrário
dos estudos tradicionais anteriores, que mostravam apenas os aspectos econômicos e
militares. Dessa forma, ele mudou a visão que havia até então sobre a Idade Média. É
considerado um dos principais historiadores da Nova História (Nouvelle Histoire).

Para Miranda (2011), essas novas perspectivas historiográficas foram


acompanhadas pelas instituições arquivísticas na medida em que a revolução
tecnológica as forçou a trabalharem com documentos de diferentes suportes,
como também de linguagens diversas. Contudo, diante dessas novas perspectivas,
houve o surgimento de outras instituições de memória. Esses novos espaços
respondiam a uma crescente valorização da memória coletiva. Nas palavras de
Miranda (2011, p. 6), “a memória coletiva assumia o caráter de uma “memória
arquivística”, que ganhou forma através dos seus vestígios materiais”.

Nesse sentido, esses novos arquivos se diferenciavam dos existentes


que eram vinculados a uma instituição, cujo acervo era constituído por meio da
acumulação dos documentos produzidos. Segundo Miranda (2011), esses centros
de memórias produziam documentos (especialmente através dos projetos de
memória oral), mas eram instituições colecionadoras, formando e custodiando
coleções de documentos em diferentes suportes.

Em contrapartida, em razão das temáticas diversas da pesquisa histórica,


tornou-se comum que essas novas instituições passassem a custodiar acervos de
pessoas, famílias e instituições que não integravam a máquina administrativa do
Estado, como sindicados, partidos políticos, cooperativas, associações culturais
etc. Arquivos e coleções que eram vestígios da memória de diferentes seguimentos
da sociedade (MIRANDA, 2011).

No que concerne aos centros de memória vinculados às universidades,


a crescente valorização de temáticas, como a história do ensino, da saúde, da
alimentação, colocou em evidência a importância de acervos documentais. Ainda
que tais acervos documentais eram produzidos pelo poder público, eles não
eram considerados significativos para a sua “memória institucional”, não sendo
considerados nos processos de avaliação e guarda permanente por arquivos
públicos (MIRANDA, 2011). Veremos, a seguir, com mais detalhes, a criação das
instituições arquivísticas, além da importância na configuração da área.

26
TÓPICO 2 — OS DESAFIOS DA ARQUIVOLOGIA

3 A CRIAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES ARQUIVÍSTICAS


As instituições arquivísticas, como conhecemos hoje, remontam à criação, em
1789, do Arquivo Nacional da França, primeiramente, como arquivo da Assembleia
Nacional, e, mais tarde, em 1794, transformado num estabelecimento central dos
arquivos do Estado que estavam subordinados aos depósitos das províncias.
Segundo Fonseca (2005), nesses depósitos, eram recolhidos os documentos
produzidos pelos diferentes níveis da administração pública da França.

Conforme a literatura especializada, há três aspectos do modelo pioneiro


criado na França, estabelecendo um modelo institucional que permaneceu até
meados do século XX. Nesse sentido, historicamente, a formação dos arquivos
nacionais acompanha, de modo geral, a formação dos Estados nacionais.
Compreender a formação dos arquivos nacionais é também compreender a
história da formação nacional e a constituição do Estado moderno.

Desse modo, podem ser resumidos os aspectos que se estabeleceram no


modelo da instituição arquivística como órgão responsável pelo recolhimento,
preservação e acesso dos documentos gerados pela administração pública nos
diversos níveis da organização (FONSECA, 2005, p. 40):

• uma administração orgânica foi criada para cobrir toda a rede de


repartições públicas geradoras de documentos; alguns autores
chegam a se referir a “uma rede de arquivos do Estado”;
• o Estado reconhece sua responsabilidade em relação ao cuidado devido
ao patrimônio documental do passado e aos documentos produzidos;
• a proclamação e o reconhecimento do direito público de acesso
aos arquivos: “todo cidadão tem o direito de solicitar, em cada
depósito, a exibição dos documentos ali contidos (Lei de 7 de
messidor, art. 37).

As formulações desses princípios de acesso, segundo Fonseca (2005),


não significaram, no período posterior à revolução, ou ao longo de todo o século
XIX até meados do XX, uma mudança radical em relação ao acesso extensivo
aos documentos recolhidos às instituições arquivísticas. O que se identificou foi
a consolidação de uma visão positivista da história, com a aceitação da ideia de
que os arquivos constituíam a base da pesquisa histórica, de modo que os Estados
tinham a obrigação de mantê-los acessíveis.

Em nenhum país – salvo na Suécia, caso único – o direito de acesso


aos arquivos estava explicitamente vinculado ao exercício dos direitos
democráticos; dito de outra maneira, as leis e os regulamentos foram
concebidos para facilitar a investigação de índole histórica e erudita
que se baseia nos documentos do passado, mas não para permitir que
o cidadão comum conhecesse os procedimentos governamentais e
administrativos recentes e atuais (DUCHEIN, 1983, p. 5).

27
UNIDADE 1 — ORIGEM E CONTEXTO HISTÓRICO DA ARQUIVOLOGIA

Segundo Fonseca (2005), a evolução política da França, com a ascensão de


Napoleão e sua estratégia expansionista para a consolidação do império, houve
um impacto importante na situação dos arquivos. Desse modo, tem-se, em 1808,
a promulgação de leis que tornaram obrigatória a transferência dos arquivos dos
países dominados e dos territórios ocupados para Paris, o que ocasionou uma
concentração arquivística gigantesca, sem precedente na história. Após isso, com
a derrota de Napoleão e o fim do império, houve a devolução dos arquivos aos
países de origem, o que gerou a destruição de inúmeros documentos.

NOTA

Você sabia que, no período da Revolução Francesa, os arquivos passaram a ser


vistos como uma forma de garantir os direitos dos cidadãos? Ainda, pela primeira vez na
história, tem-se o livre acesso aos arquivos por parte do cidadão comum. O general francês
Napoleão Bonaparte era muito inteligente, e logo conseguiu perceber a importância de ter
boas informações para se manter no poder e combater seus inimigos. Ele diz que “um bom
arquivista é mais útil a um governo do que um bom general”.

FIGURA 13 – NAPOLEÃO BONAPARTE

FONTE: <https://caarqunb.files.wordpress.com/2019/01/diadoarquivista28229.jpg>.
Acesso em: 14 ago. 2020.

28
TÓPICO 2 — OS DESAFIOS DA ARQUIVOLOGIA

Essa grande concentração de conjuntos documental passou a ser tratada


como se fosse única, de modo que o Arquivo Nacional da França passou a
classificar essa grande massa documental como se fosse um único conjunto. Assim,
os documentos passaram a ser divididos em cinco seções metódico-cronológicas:

legislativas, para os documentos das assembleias revolucionárias;


administrativas, para os papeis dos novos ministérios; dominiais, para
os títulos de propriedade de Estado; judiciárias, para os papeis de
tribunais; e históricas; com documentos arbitrariamente selecionados,
como de particular interesse histórico (FONSECA, 2005, p. 41).

Para Fonseca (2005), o estabelecimento desse quadro de classificação,


distribuindo os documentos em cinco seções cronológico-metódicas, isto é, em
séries sistemáticas, em consonância com os ideais teóricos do iluminismo e do
enciclopedismo, conduziu à desarticulação dos sistemas tradicionais do arquivo,
obrigando, assim, o estabelecimento de princípios corretores.

29
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• O contexto histórico dos pós II Guerra Mundial trouxe inúmeras mudanças e


desafios para os arquivistas e historiadores, que buscavam novos usos para os
documentos arquivísticos.

• Após a Segunda Grande Guerra, a questão dos direitos humanos ganhou


relevância, conferindo novo protagonismo aos arquivos enquanto ponto de partida
para repensar o passado e para a garantia de direitos individuais e coletivos.

• Com o surgimento da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH),


que foi adotada pela Organização das Nações Unidas (1948), o acesso às
informações contidas nos documentos dos arquivos passou a ser reconhecido
como um direito universal.

• O pós-guerra também provocou uma mudança no ritmo da produção de


documentos, ocasionando uma “explosão documental”.

• A avaliação dos documentos foi analisada através do trabalho de Theodore


R. Schellemberg (1903-1970), considerado o “pai da avaliação arquivística”
nos EUA.

• Na obra Arquivos modernos: teoria e prática, de 1956, Schellemberg estabeleceu,


como critério norteador da avaliação, o valor dos documentos.

• Na contramão da teoria de Jenkinson, Schellemberg afirma que a avaliação


documental, isto é, aferição do valor dos documentos e a determinação
dos prazos de guarda, de eliminação ou de recolhimento, era atribuição do
arquivista.

• Progressivamente, a avaliação documental passou a ser responsabilidade


de uma equipe interdisciplinar, composta por arquivistas, historiadores,
administradores, advogados etc.

• Em 1970, a terceira geração dos Analles, através da obra de Jacques Le Goff e Pierre
Nora, introduziu novos objetos, abordagens e problemas para os historiadores.

• As novas perspectivas historiográficas foram acompanhadas pelas instituições


arquivísticas na medida em que a revolução tecnológica as forçou a trabalharem
com documentos de diferentes suportes, como também de linguagens diversas.

• As instituições arquivísticas remontam à criação, em 1789, do Arquivo


Nacional da França.

30
• Com a evolução política da França, a ascensão de Napoleão e sua estratégia
expansionista para a consolidação do império, houve um impacto importante
na situação dos arquivos.

• Há, em 1808, a promulgação de leis que tornaram obrigatória a transferência


dos arquivos dos países dominados e dos territórios ocupados para Paris, o
que ocasionou uma concentração arquivística gigantesca, sem precedente na
história.

• O estabelecimento do quadro de classificação, distribuindo os documentos em


cinco seções cronológico-metódicas, conduziu à desarticulação dos sistemas
tradicionais do arquivo, obrigando o estabelecimento de princípios corretores.

31
AUTOATIVIDADE

1 Sabe-se que foi no contexto histórico, após a Segunda Guerra Mundial, que
existiram inúmeras mudanças e desafios para os arquivistas e historiadores,
que buscavam novos usos para os documentos arquivísticos. Sobre as
mudanças e desafios nesse contexto, analise as seguintes sentenças:

I- Após a Segunda Grande Guerra, os arquivistas e historiadores foram


obrigados a repensar sua relação com as instituições de custódia e com a
memória coletiva.
II- Após a Segunda Grande Guerra que os direitos humanos ganharam
relevância, conferindo novo protagonismo aos arquivos enquanto
ponto de partida para repensar o passado e para a garantia de direitos
individuais e coletivos.
III- Não existiram mudanças e desafios concretos após a Segunda Grande
Guerra. A noção de arquivo e a função do arquivista permaneceram.
IV- O pós-guerra provocou uma mudança no ritmo da produção de
documentos, ocasionando uma “explosão documental”.

Agora, assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
b) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
c) ( ) As sentenças I, II e IV estão corretas.
d) ( ) Apenas a sentença III está correta.

2 A partir das mudanças ocasionadas no pós-Guerra, a arquivologia buscava


definir os critérios técnicos para determinar quais os documentos seriam
considerados merecedores de guarda permanente. Assim, nos anos de
1970, a terceira geração dos Analles, através da obra de Jacques Le Goff
e Pierre Nora, introduziu novos objetos, abordagens e problemas para
os historiadores. Sobre o impacto da obra de Le Golff e Nora, assinale a
alternativa CORRETA:

a) ( ) O empreendimento dos historiadores resultou na afirmação de que os


arquivistas não passavam de agentes passivos e neutros frente a essa
memória e à sociedade.
b) ( ) O empreendimento dos historiadores acabou gerando uma Nova
História, com outras concepções de documento, além de novos métodos
para lidar com essa perspectiva ampliada, permitindo um diálogo mais
profundo com as ciências sociais.
c) ( ) Através da obra de Jacques Le Goff e Pierre Nora, houve uma revolução
tecnológica sem precedentes.
d) ( ) Através da obra de Jacques Le Goff e Pierre Nora, houve um resgate de
antigos objetos, abordagens e problemas para os historiadores.

32
3 Historicamente, a formação dos arquivos nacionais acompanha, de modo
geral, a formação dos Estados nacionais. Logo, compreender a formação
dos arquivos nacionais também é compreender a história da formação
nacional e a constituição do Estado moderno. Sobre a criação das instituições
arquivísticas, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As instituições arquivísticas remontam à criação, em 1790, do Arquivo


Nacional da França.
b) ( ) As instituições arquivísticas remontam à criação, em 1789, do
Arquivo Nacional da França, primeiramente, como arquivo da
Assembleia Nacional.
c) ( ) As instituições arquivísticas remontam à criação, em 1789, do Arquivo
Nacional da França, transformado, no mesmo ano, num estabelecimento
central dos arquivos do Estado que estavam subordinados aos depósitos
das províncias.
d) ( ) As instituições arquivísticas remontam à criação, em 1794, do Arquivo
Nacional da França.

33
34
TÓPICO 3 —
UNIDADE 1

A ARQUIVOLOGIA CONTEMPORÂNEA

1 INTRODUÇÃO
Olá, acadêmico! Neste tópico, você verá as características contemporâneas
da arquivologia. Sabemos que a arquivologia foi profundamente marcada, desde
suas origens, pelos aspectos pragmáticos associados às práticas burocráticas,
objetivando eficácia e eficiência na guarda e preservação de arquivos, que eram
notadamente públicos.

Contudo, hoje, como a arquivologia é compreendida? Será que com o


advento das novas instituições de custódia documental houve uma ruptura com
a visão de patrimônio? Quais são as características das novas abordagens que
afirmam que há uma revolução científica em curso no campo da arquivologia?

Diante dos novos desafios que a arquivologia enfrenta nos dias de hoje,
convidamos você, acadêmico, a refletir sobre essas mudanças que assolam
o campo da arquivologia, e nos fazem pensar sobre o futuro desse campo do
conhecimento humano. Bons estudos!

2 NOVAS ABORDAGENS DA ARQUIVOLOGIA HOJE


Com surgimento de novas instituições de custódia documental, rompe-se a
visão anterior que se tinha sobre esse patrimônio. Segundo Silva (1999, p. 87):

[...] traduzia uma outra visão sobre esse patrimônio, não importando
que os referidos acervos fossem constitutivos de experiências diversas
de homens e mulheres – portadores de sonhos, desejos, indignações,
revoltas e atos vis – que se processaram ao longo do tempo, compondo
uma espécie de caleidoscópio da memória coletiva do próprio país, em
suas múltiplas dimensões.

Com a proliferação dos novos centros de memória, cujos documentos


passaram a ser produzidos por instituições mais próximas dos cidadãos, como
as universidades, as escolas, os postos de saúde, os hospitais, ampliaram-se
as perspectivas do trabalho do historiador, que antes estava confinado na sala
de pesquisa. Gradativamente, os historiadores passaram a ter papel ativo na
produção, organização e conservação de acervos e a refletir sobre o acesso a
essas informações.

35
UNIDADE 1 — ORIGEM E CONTEXTO HISTÓRICO DA ARQUIVOLOGIA

Nesse sentido, a ampliação do que foi considerado “documento” pelo


historiador o forçou a refletir, necessariamente, sobre suas fontes, como também
o direcionou a reconstruir o diálogo com as disciplinas da Ciência da Informação,
especialmente, com a Arquivologia, a Museologia e a Informática. Como foi visto,
anteriormente, a questão da arquivologia, enquanto área de conhecimento ou
ciência, não era o interesse entre os autores da chamada Arquivologia Clássica.
Assim, as preocupações com a organização dos documentos históricos, que
antes era objeto da Arquivologia Clássica, dão lugar à busca pela compreensão
dos documentos administrativos no âmbito arquivístico.

Fonseca (2005) faz um mapeamento das principais características da


Arquivologia Clássica:

• O objeto da arquivologia clássica era identificado pelo conjunto de documentos


produzidos ou recebidos por uma dada administração; era o arquivo custodiado
por uma instituição arquivística.
• As suas principais entidades eram os documentos de arquivo, como
“artefatos” físicos, e as interações entre essas entidades eram consideradas
orgânicas por natureza:

Importa muito que não percamos de vista a tríplice dimensão do


objeto da arquivologia e sua ordem: arquivos – documentos de
arquivo – informação. Eles [os arquivos] têm, consequentemente, uma
estrutura, uma articulação e uma natural relação entre suas partes, as
quais são essenciais para sua significação. A qualidade de um arquivo
só sobrevive em sua totalidade se sua forma e relações originais forem
mantidas (FONSECA, 2005, p. 56).

• Os objetivos e a metodologia da arquivologia clássica podem ser descritos


como o controle físico e intelectual dos documentos, por meio da aplicação
do princípio da proveniência e de seu desdobramento na ordenação dos
documentos em consonância com a organização dada no órgão produtor.
Assim, há controle da administração em geral e da administração pública em
particular, para a preservação da memória, garantindo as fontes históricas.

Entretanto, existem duas abordagens complementares que são


consideradas predominantes no campo do conhecimento arquivístico hoje.
A abordagem que identifica o momento de uma mudança de paradigma e a
abordagem que identifica sua inserção numa nova episteme: a pós-modernidade.

Essas duas abordagens apontam para mudanças importantes na estrutura


da disciplina arquivística e na maneira pela qual a arquivologia evolui para ser
entendida como área de conhecimento autônoma.

36
TÓPICO 3 — A ARQUIVOLOGIA CONTEMPORÂNEA

NOTA

Você sabia que, no pensamento de Michel Foucault (1926-1984), a episteme


se refere à articulação de múltiplos sistemas e estruturas em oposições, distâncias, relações
de múltiplos discursos científicos? É o paradigma segundo o qual se estruturam, em uma
determinada época, os múltiplos saberes, que, por essa razão compartilham, a despeito
de suas especificidades e dos diferentes objetos, determinadas formas ou características
gerais. A episteme é epocal: os diversos saberes de uma época se articulam em torno de e
a partir de um a priori (a condição de possibilidade desses saberes, como na representação
na Idade Clássica).

Fonseca (2005) reforça que essas duas abordagens não são excludentes,
mas elas se complementam, são mutuamente referentes. Vamos conhecer essas
duas abordagens que situam a arquivologia hoje? Primeiramente, conheceremos a
abordagem que estabelece uma ruptura de paradigmas, e, depois, apresentaremos
a abordagem que estabelece um novo campo de análise, uma nova episteme,
chamada de pós-modernidade.

3 ARQUIVOLOGIA: RUPTURAS DE PARADIGMAS


Os teóricos da arquivologia, ao discutirem a ruptura de paradigma, têm
utilizado muito o modelo de análise da história da ciência proposto pelo físico
e filósofo da ciência estadunidense Thomas Khun (1922-1996), em sua obra A
estrutura das revoluções científicas. Na perspectiva desses teóricos, a arquivologia
vive um momento de revolução científica.

FIGURA 14 - THOMAS KUHN

FONTE: <http://3.bp.blogspot.com/-nA6hjcIuVAw/U3uCTDl9H0I/AAAAAAAACJY/o0ftYXFtEYM/
s1600/khun01.jpg>. Acesso em: 14 ago. 2020.

37
UNIDADE 1 — ORIGEM E CONTEXTO HISTÓRICO DA ARQUIVOLOGIA

Segundo a teoria de Khun, um paradigma é aquilo que os membros de uma


comunidade científica partilham, e, inversamente, uma comunidade científica consiste
em homens que partilham um paradigma. Assim, o que causa um abalo na estrutura
de um paradigma é denominado de anomalia, que nada mais é que um fenômeno
para o qual o paradigma não preparou o investigador. É, a partir desse momento, que
surge um novo paradigma, uma rearticulação do paradigma “deposto”, pois, segundo
Fonseca (2005), um novo paradigma significa uma reconstrução da área de estudos
por meio de novos princípios, causando uma reconstrução que altera generalizações
teóricas elementares do paradigmas, além de métodos e aplicações. Essa passagem de
um paradigma para outro é o que Kuhn denomina de revolução científica.

Um dos autores que utiliza esse modelo proposto por Kuhn em


suas reflexões acerca da arquivologia é o arquivista Theo Thomassen. Esse
autor relaciona o fim da primeira Revolução Científica da arquivologia e o
estabelecimento de um paradigma com a publicação do Manual dos Holandeses,
no final do século XIX. Segundo esse autor, essa revolução se deu pela superação
da tradição diplomática, isto é, a análise dos itens documentais individualmente
e a consolidação paradigmática da tradição administrativa, que estabeleceu
a primazia do conjunto arquivístico e sua consequente dependência ao órgão
produtor e à instituição de custódia (FONSECA, 2005).

Na visão de Thomassen, o desenvolvimento das tecnologias da informação e


da comunicação seria a anomalia que está conduzindo a uma mudança de paradigma
na arquivologia. Thomassen ainda aponta o arquivista canadense Hugh Taylor como
o primeiro a reconhecer as mudanças no mundo arquivístico promovidas pelas
novas tecnologias. Nesse sentido, se considerarmos que a Revolução Científica no
campo da arquivologia está em curso, Thomassen afirma que é muito difícil ainda
tentar caracterizar o objeto, os objetivos e a metodologia de uma renovada disciplina
arquivística. Segundo suas palavras:

Estamos, como Cristóvão Colombo, no meio de um estágio


exploratório, no meio de uma revolução científica, e não conseguimos
deixar de descrever o novo paradigma com os termos do antigo e de
chamar os nativos americanos de índios, correndo o risco de estarmos
geográfica, política ou cientificamente incorretos (THOMASSEN, 1999
apud FONSECA, 2005, p. 59).

Na visão de Fonseca (2005), assim como Colombo, Thomassen, correu


riscos e estabeleceu sua análise dos elementos dos novos paradigmas da disciplina
arquivística, com seu objeto, seus objetivos e sua metodologia.

• O objeto da arquivologia, na perspectiva de um paradigma novo, desloca-se do


“arquivo” para a informação arquivística, ou “informação registrada orgânica”.
• No que diz respeito às entidades fundamentais da arquivologia, elas
são duplas: o documento individual e suas relações com os processos
administrativos geradores.
• No que se refere ao objetivo, este vai além da acessibilidade: é a mensuração
da “qualidade arquivística”, isto é, da clareza, da força e da resistência dos
laços entre a informação e os processos administrativos.

38
TÓPICO 3 — A ARQUIVOLOGIA CONTEMPORÂNEA

• Por fim, a sua metodologia consiste no estabelecimento, na manutenção


e na análise das relações entre os documentos e seus geradores, de forma a
estabelecer, manter e analisar a autenticidade, a segurança e a fidedignidade
dos respectivos documentos.

Além disso, Thomassen constata que o novo paradigma da arquivologia


significa mais que a passagem dos documentos do papel para os documentos
eletrônicos. É, definitivamente, a passagem para uma arquivologia pós-custódia ou
arquivologia pós-moderna.

4 ARQUIVOLOGIA PÓS-MODERNA
Segundo Miranda (2011), a difusão de novas Tecnologias da Informação
e Comunicação (TICs) e as concepções pós-modernas trouxeram novas
possibilidades, metodologias e impuseram novos desafios à arquivologia. Com
o avanço tecnológico e a consequente aceleração da produção de documentos,
houve uma promoção, além da diversificação de suportes e de linguagens, em
que novas estratégias para manipulação e armazenamento de grandes volumes
de informações foram criadas. Desse modo, na visão de Miranda (2011, p. 8), “as
instituições produtoras de documentos se tornaram mais fluidas, rompendo com
os padrões rígidos e hierárquicos do passado; a produção de documentos passou
a ser um processo complexo, envolvendo diversos produtores”.

Pode-se dizer que a abordagem identificada como “arquivologia pós-


moderna” ou “arquivologia pós-custodial” tem sua data de nascimento em
1990, no Canadá. Seus principais pressupostos estão enraizados nos princípios
identificados com os preceitos do pensamento pós-moderno, em especial de Terry
Cook, considerado, por muitos, o pai da abordagem pós-moderna. Segundo Cook
(1997, p. 15-16 apud FONSECA, 2005, p. 60):

O pós-moderno desconfia da ideia de verdade absoluta baseada no


racionalismo e no método científico. O contexto por trás do texto, as
relações de poder que conformam a herança documental lhe dizem
tanto ou mais do que o próprio assunto que é o conteúdo do texto.
Nada é neutro. Nada é imparcial. Tudo é conformado, apresentado,
representado, simbolizado, significado, assinado por aquele que
fala, fotografa, escreve ou pelo burocrata governamental, com um
propósito definido, dirigido a uma determinada audiência [...].
Os pós-modernistas procuram desnaturalizar o que presumimos
natural [...]. O pós-modernista toma tais fenômenos “naturais”, seja
o patriarcalismo, o capitalismo, a religião, ou, poderia eu acrescentar,
a ciência arquivística tradicional, e afirma que são “antinaturais” ou
“culturais” ou, no mínimo, “construções sociais” de um tempo, lugar,
classe, gênero, raça etc.

39
UNIDADE 1 — ORIGEM E CONTEXTO HISTÓRICO DA ARQUIVOLOGIA

Nesse sentido, a perspectiva pós-moderna, desenvolvida por Cook,


colocou em debate a necessidade da mudança da postura dos arquivistas frente
aos arquivos, ao documento e à memória, afirmando a não neutralidade do
documento e valorizando o contexto frente ao texto, as relações de poder, os
significados e a necessidade de desnaturalizar tudo que antes era tomado como
natural. Cook postula que essa nova perspectiva faz com que os arquivistas
questionem cinco mitos centrais, ou tradições da sua profissão.

1) o de que os arquivistas são guardiões neutros, imparciais da


“Verdade”, para usar as próprias palavras de Jenkinson; 2)
o de que os arquivos, como documentos e instituições, são
subprodutos desinteressados das ações e administrações; 3) o
de que a proveniência tem raízes em um único órgão de origem
ou transmissão, em vez de um processo de criação; 4) o de que
a “ordem” imposta aos arquivos por meio do arranjo e descrição
arquivísticos – para não falarmos da avaliação! – é uma recriação
isenta de valores de alguma realidade genuína anterior; e 5) o
de que a arquivística é uma ciência – pelo menos uma “ciência”
como esse termo é tradicionalmente concebido e utilizado pelos
arquivistas, produto da idade do racionalismo científico (COOK,
1998, p. 141).

Para Miranda (2011), esse novo contexto suscitou o questionamento dos


princípios basilares da arquivologia, emergindo novas reflexões sobre o papel
do arquivista frente ao objeto e à memória coletiva, convidando-o a repensar
os conceitos de documento arquivístico e de originalidade. Nos anos de 1980,
especialmente no Canadá e na Austrália, iniciaram-se os questionamentos acerca
da validade contemporânea dos postulados de Jenkinson e Schellemberg. Assim,
abandona-se a abordagem jenksoniana, e os arquivistas reconhecem que não
são agentes passivos frente ao processo de produção e preservação documental,
tornando-se conscientes do poder que os arquivos envolvem (MIRANDA, 2011).

Com o avanço das novas tecnologias, os arquivistas passaram a repensar


os princípios que norteavam seu trabalho, considerados, nesse momento,
incapazes de dar conta da nova realidade do processo de produção documental.
Segundo Miranda (2011, p. 9), “os princípios da proveniência e da ordem original
ganharam novos sentidos, associados à compreensão do processo de produção
documental e aos usos desses documentos”.

Com a imensa produção de documentos digitais e os novos mecanismos


de armazenamento, concretizou-se uma nova dimensão na própria concepção
de arquivo. O arquivo deixou de ser limitado a um espaço físico, mas também
vinculado “aos recursos tecnológicos através dos quais os usuários buscam
informações; o enfoque do trabalho arquivístico ultrapassou os limites da custódia
física dos documentos para o controle e os mecanismos de acesso à informação”
(MIRANDA, 2011, p. 9).

40
TÓPICO 3 — A ARQUIVOLOGIA CONTEMPORÂNEA

Da construção desse novo paradigma, a Arquivística canadense passou


a trabalhar na perspectiva dos “arquivos totais” que integram não
apenas os arquivos de instituições públicas, mas também os arquivos
institucionais privados e os arquivos pessoais na busca da constituição
de acervos que refletissem a diversidade de agentes sociais; nessa
proposta, superava-se a distinção entre os arquivos administrativos
(intermediário e corrente) e o arquivo histórico, entre os arquivos do
poder público e os arquivos privados (MIRANDA, 2011, p. 9-10).

Na nova perspectiva inaugurada por Terry Cook, os arquivos


contemporâneos são templos da memória. Assim, tornou-se condição essencial
que os arquivistas assumissem que a avaliação documental não fosse neutra. Nessa
nova conjuntura, o arquivo é entendido como reflexo da sociedade, no qual, cabe,
à sociedade, selecionar os documentos considerados de valor secundário. Assim,
os arquivistas canadenses propõem “a macroavaliação funcional-estrutural, cujo
critério norteador seja o contexto sociocultural da produção documental, ou seja,
as funções dos produtores dos documentos e como interagem com a sociedade”
(MIRANDA, 2011, p. 10).

Segundo Fonseca (2005), é inegável o interesse das novas perspectivas


que, atualmente, abrem-se para a teoria arquivística. Do mesmo modo, é inegável
a sua relação com uma realidade europeia e norte-americana. No contexto
da realidade latino-americana, no qual não houve nem a consolidação dos
preceitos de uma arquivologia positivista, nem se conseguiu estabelecer relações
“administrativistas” com os órgãos da administração pública, torna-se mais
inquietante pensar em uma arquivologia pós-moderna, orientada a lidar com os
registros de uma realidade que se evidencia cada vez mais virtual.

41
UNIDADE 1 — ORIGEM E CONTEXTO HISTÓRICO DA ARQUIVOLOGIA

LEITURA COMPLEMENTAR

TEMPO DA HISTÓRIA E DOS ARQUIVOS

Cláudia Beatriz Heynemann

As consequências desse olhar para a história viriam, necessariamente,


incidir sobre a ideia de “fontes”, sobre o uso dos arquivos, ao menos em uma
perspectiva tradicional, e aqui não se trataria apenas da incorporação de
acervos pouco abordados, das incursões pela história das mentalidades, pela
história serial ou outras discussões talvez de cunho mais metodológico ou de
um debate historiográfico.

A disciplina em si mesma é interpretada por autores de outras áreas


das Ciências Sociais, sendo devedora, nessas reavaliações, da Filosofia, da
Antropologia, sobretudo.

Ainda antes das inflexões operadas pelas novas tecnologias, ou da


irrupção de vertentes que associaram a escrita da história à narrativa, à ficção, à
ausência de um referente externo, autores como Foucault identificaram que, ao
par de uma História que preteria o acontecimento em benefício das estruturas
e da sua fixidez, operavam-se mutações epistemológicas complexas de serem
descritas brevemente, mas que falam de uma oposição entre a estrutura e o
devir, entre a análise das estruturas e aquilo que escaparia, “a viva, frágil e
fremente ‘história’”. Assim, na Arqueologia do saber, Michel Foucault diagnostica
as mudanças na disciplina a partir de um problema – a crítica do documento,
em que enxerga o declínio da tarefa de:

Reconstruir, a partir do que dizem estes documentos – às vezes com


meias palavras –, o passado de onde emanam e que se dilui, agora, bem
distante deles; o documento sempre era tratado como a linguagem de
uma voz agora reduzida ao silêncio: seu rastro frágil, mas por sorte,
decifrável (FOUCAULT, 1995, p. 7).

O autor aponta ainda a emergência de uma (então) nova atitude que


não consiste em interpretar o documento, determinar sua veracidade, seu
valor expressivo.

O documento, pois, não é mais, para a história, essa matéria inerte através
da qual ela tenta reconstituir o que os homens fizeram ou disseram [...].
Ela procura definir, no próprio tecido documental, unidades, conjuntos,
séries, relações. É preciso desligar a história da imagem com que ela se
deleitou durante muito tempo e pela qual encontrava sua justificativa
antropológica: a de uma memória milenar e coletiva que se servia de
documentos materiais para reencontrar o frescor de suas lembranças [...].
O documento não é o feliz instrumento de uma história que seria em si
mesma, e de pleno direito, memória; a história é para uma sociedade,
uma certa maneira de dar status e elaboração à massa documental de que
ela não se separa (FOUCAULT, 1995, p. 7).

42
TÓPICO 3 — A ARQUIVOLOGIA CONTEMPORÂNEA

A História, tal como apresentada na ótica foucaultiana, é vista pela crítica


mais global a todo conjunto subordinado a um sujeito do conhecimento, um
arcabouço maior do que determinadas escolas ou metodologias. É também, e em
sua dimensão essencialmente discursiva, expressão de poder – a massa documental
de que não se separa – é, portanto, discurso, não um indício ou testemunho sobre
a existência humana, mas um tecido documental sobre o qual o historiador exerce
sua atividade estabelecendo cortes, classificações e séries. E assim, não é memória,
não é a passagem para uma narrativa das lembranças ou do que se emprestaria a
uma abordagem antropológica (História e Antropologia são produções de saber que
disputaram um campo de atuação e uma prerrogativa discursiva sobretudo a partir
do setecentos iluminista). Mas a vinculação entre os arquivos e a história é mediada
por Lévi-Strauss, na comparação entre documentos e amuletos que conservariam
uma diacronia, uma memória em si, evidenciando em seu caráter sagrado, o que
haveria de específico nos arquivos nas claves da memória e da história. Partimos da
afirmação de que “um documento não se torna sagrado pelo simples fato de trazer
um selo de prestígio, por exemplo, o dos arquivos nacionais; ele traz o selo porque
primeiro foi considerado sagrado e, sem ele, continuaria a sê-lo” (LÉVISTRAUSS,
1997, p. 265).

Nessa passagem de O pensamento selvagem ele estabelece um paralelo entre


os arquivos e os churinga, objetos de caráter sagrados dos aranda, da Austrália,
que simbolizam os ancestrais e que são atribuídos, a cada geração, ao vivo que se
acredita ser esse ancestral encarnado. Os churinga, em sua interpretação, asseguram
uma significação diacrônica ao tempo mítico, a única garantia de diacronia em um
sistema, que por ser classificatório, é completamente sincrônico. É nesse sentido
que Lévi-Strauss (1997, p. 268) se pergunta:

Por que valorizamos tanto nossos arquivos? Os fatos a que eles se


referem são independentemente comprovados e de mil formas:
vivem em nosso presente e em nossos livros; por si mesmos são
desprovidos de um sentido que se origina inteiramente de suas
repercussões históricas e dos comentários que os explicam, ligando-
os a outros fatos.

Se as peças autênticas fossem destruídas, prossegue, nosso conhecimento em


nada seria alterado, mesmo que muitos documentos não tivessem sido publicados.
Ainda assim, “ressentir-nos-íamos dessa perda como de um mal irreparável que nos
atingisse no mais profundo do ser” (LÉVI-STRAUSS, 1997, p. 269). A resposta para
o autor está nesse “sabor diacrônico” de que nosso passado seria privado, mais do
que de qualquer conhecimento ou a sua própria existência, pois ele permaneceria em
livros, publicações, nas instituições, todos contemporâneos, recentes, desdobrando
nosso passado em uma sincronia. Isso porque:

43
UNIDADE 1 — ORIGEM E CONTEXTO HISTÓRICO DA ARQUIVOLOGIA

A virtude dos arquivos é a de nos colocar em contato com a pura


historicidade [...]. Os arquivos trazem, pois, outra coisa: por um lado,
eles constituem o fato em sua contingência radical (visto que apenas
a interpretação, que não faz parte dele, pode baseá-lo numa razão);
por outro lado eles dão uma existência física à história, pois apenas
neles é ultrapassada a contradição de um passado terminado e de
um presente onde ele sobrevive. Os arquivos são o ser encarnado da
factualidade (LÉVI-STRAUSS, 1997, p. 269).

Associado à memória de uma ancestralidade, ao poder de tornar


absolutamente presente o tempo passado que ali se inscreve, o documento é ainda
o fato no seu sentido único, desprovido de tudo que lhe é externo – uma atribuição
de sentido, a interpretação, a razão, tudo o que atravessaria uma superfície em
busca da verdade e do significado que se situa além dessa camada. Uma lógica
já explorada aqui e que de algum modo se opõe a essa imagem do documento
como objeto, novamente, que existiria apenas no limite de seu discurso, pois o
que representa, só o faz por meio de recursos que lhe são externos e ainda mais,
se refere ao que não mais existe.

Assim colocamo-nos diante da articulação fundadora entre história,


memória e arquivos. Para além da amplitude a que esse caminho pode nos levar
ela indica os limites das respectivas disciplinas, a possibilidade do diálogo, o
lugar onde alguns enunciados de ruptura foram necessários ou demoraram a ser
proferidos. A trajetória do saber histórico e a sua relação com o fato/documento
ou com representações de uma dada realidade engendraram uma lógica que viria
contaminar e conduzir, ainda para Terry Cook a arquivística.

Em consonância com avaliações sobre o tempo presente, que pode ou não


ser qualificado como pós-moderno, somos conduzidos a pensar a relação com a
memória como catalizadora para as análises de nossos campos de conhecimento,
suas intertextualidades e as perspectivas que a escrita da história hoje encontra
nos arquivos – embora seu espectro escape a esse artigo.

Para tratar dos arquivos pessoais e superar a tradicional distância que se


impõe entre estes e fundos públicos, Cook retoma o veio seguido pela arquivística
nas décadas finais do século XIX e princípio do XX, tendo como ponto de partida o
trabalho do professor de arquivística italiano Oddo Bucci. É possível então traçar
uma gênese na qual os pioneiros da disciplina lhe forneceram a sua “abordagem
empírica, construíram-na como uma ciência descritiva e a ela aplicaram o
imperativo da historiografia positivista, que visava à acumulação de fatos em
vez da elaboração de conceitos [...]” (BUCCI apud COOK, 1998, p. 6). Contudo,
comenta Cook, a historiografia positivista e o empirismo "factual" estão há muito
desacreditados neste final do século XX.

44
TÓPICO 3 — A ARQUIVOLOGIA CONTEMPORÂNEA

Como constata o autor italiano, mudanças estruturais da sociedade


“solapam”, fundamentalmente, “os hábitos e normas de conduta, acarretando
uma quebra dos princípios que há muito governavam os processos pelos quais
os registros arquivísticos são criados, transmitidos, conservados e explorados”
(BUCCI apud COOK, 1998, p. 6). Segundo Cook, Bucci alerta para o fato de
que os princípios arquivísticos tal como a história, a literatura e a filosofia, não
são imutáveis, pertencem a um tempo e são suscetíveis de reinterpretações
pelas gerações seguintes. Movido pela certeza das transformações ocorridas
em diferentes instâncias e pelos estudos que no âmbito de uma sociedade pós-
moderna são empreendidos sobre a história e o caráter da memória, é que nesse
artigo Cook pretende contestar ideias tradicionais acerca dos arquivos públicos
(COOK, 1998).

Deste modo, além do enunciado de um entrecruzamento de rotas entre


a História e a Arquivologia, seus vínculos com o mais disseminado uso das
matrizes historicista e positivista que informaram uma historiografia presa
ao fato e à sua comprovação documental, a ideia de memória vêm à cena
atualizada pela vertente crítica de um mundo que deslocou não apenas os
campos da História e da Arquivologia, mas a relação entre elas e suas contínuas
apropriações da memória.

No lugar da memória: a história e os arquivos

A relação entre história, memória e arquivos, considerada a partir da


época moderna, evoca além dos estudos clássicos, dedicados a essas noções
em si, estudos renovados sobre teoria e historiografia que operaram a crítica à
formulação de uma correspondência obrigatória entre a história, a memória e os
acervos arquivísticos.

Aqui vale indicar o estudo esclarecedor de François Dosse, A História,


no qual afirma que da própria simbiose entre história e memória nasce a história
da França, primeiro nos mosteiros – que contam com os dispositivos necessários,
diz Dosse, para traçar sua história – seja dito, dos arquivos e do poder político
que viria construir a sua “história/memória” (DOSSE, 2003). Dosse segue a trilha
até o enunciado da distinção e separação entre história e memória, a partir de
Pierre Nora, coordenador da famosa série e autor da fórmula tão empregada com
sentidos outros, Os lugares de memória (Les Lieux de Mémoire). Aquilo que as opõe
e que concede à memória um lugar próprio, além de identificar os problemas
propriamente históricos, surge assim na citação de Nora, ela mesma tornada
memória de um lugar na produção historiográfica:

Memória, história: longe de ser sinônimos, tomamos consciência de


que as opõe. A memória é a vida, sempre levada por grupos vivos e,
nesse sentido, ela está em evolução permanente, aberta à dialética da
lembrança e da amnésia, inconsciente de suas sucessivas deformações
vulneráveis a todas as utilizações e manipulações, suscetíveis de
longas latências e súbitas revitalizações. A história é a reconstrução
problemática e incompleta do que não é mais. A memória é um
fenômeno sempre atual, um vínculo vivido no presente eterno; a

45
UNIDADE 1 — ORIGEM E CONTEXTO HISTÓRICO DA ARQUIVOLOGIA

história, uma representação do passado. Por ser efetiva e mágica,


a memória só se contenta com detalhes que a confortam: ela se
alimenta de lembranças opacas, globais ou flutuantes, particulares
ou simbólicas, sensível a todas as transferências, censuras, telas ou
projeções. A história, porque operação intelectual e laicizante, chama
análise e discurso crítico. A memória instala a lembrança no sagrado,
a história a desaloja, ela sempre torna prosaico (NORA, 1984 apud
DOSSE, 2003, p. 282).

O texto de Nora teve grande impacto entre historiadores nas décadas


seguintes, quando de algum modo ao invés de se observar a distinção da proposta,
foi atribuído o carimbo de “lugar de memória” a museus, praças, arquivos,
bibliotecas. Tudo passava assim a ser um lugar de memória, quando o que se
enunciava entre outras possibilidades, era que uma outra história emergisse,
dissociada da memória, tendo-a como objeto e não como identidade. Uma “história
da memória” propôs Pierre Nora, em Comment on écrit l’histoire de France:

A via está aberta a uma outra história; não mais os determinantes, mas
seus efeitos; não mais ações memorizadas nem mesmo comemoradas,
mas o vestígio dessas ações e o jogo das comemorações; [...] não o
passado tal como aconteceu, mas seus reempregos sucessivos; não a
tradição mas a maneira pela qual é constituída e transmitida (NORA,
1984 apud DOSSE, 2003, p. 286).

Entre outros textos que mais recentemente se tornaram obrigatórios para a


reflexão em torno dos arquivos, da memória e da história, o de Andreas Huyssen,
Seduzidos pela memória, fala de uma valorização do passado, enquanto na aurora
da modernidade mirava-se o futuro. Um excesso de memória, a musealização do
mundo, a recordação total − “plano de um arquivista maluco?” − dilemas que não se
resolvem com a oposição ensaiada pelos historiadores de opor uma história séria e
científica, à subjetividade da memória. Nesse mundo em que o presente é o consumo
em sua crescente velocidade, amplia-se o desejo de memória – onde não caberia
o esquecimento, mas cuja capacidade de conservação dos dados também sofre
crescente questionamento.

Huyssen enfatiza que o enfoque sobre a memória e o passado traz consigo


um grande paradoxo: o esquecimento que é provocado pelo aumento explosivo
da memória. O arquivo total que em regra não comporta a possibilidade do
esquecimento abrigaria seu contrário, a perda dos dados, o paradoxo da tecnologia
de armazenamento, a quem confiamos esses dados – parte significativa, diz ele,
da nossa memória cultural (HUYSSEN, 2000).

O arquivo, em suas inúmeras significações, arquivo de enunciados,


distante de seu sentido tradicional, parte da arqueologia foucaultiana, o arquivo
que é mal de arquivo em Derrida (2001), vincula-se, de toda forma à memória
– ainda que para corresponder à sua falta. Para começar a conceituar o arquivo
devemos distingui-lo daquilo a que ele é de hábito reduzido, a memória, o retorno
à origem, o arcaico, o arqueológico,1 ou seja, não a busca do tempo perdido, mas
a exterioridade de um lugar, um lugar de autoridade, do Estado, diz Derrida
(2001), que nos fala de um arquivo do mal, esse sintoma que também podemos

46
TÓPICO 3 — A ARQUIVOLOGIA CONTEMPORÂNEA

ler no discurso da e sobre a psicanálise; e de um mal radical, que destrói o próprio


princípio do arquivo, deixando em permanente estado de mal de arquivo, “a
espera sem horizonte acessível, a impaciência absoluta de um desejo de memória”
(DERRIDA, 2001, p. 10). Podemos entender essa fórmula em outra passagem sobre
a pulsão de morte, que não produz somente o esquecimento, levando à erradicação
do que já não é a memória; o arquivo – dispositivo documental ou monumental, o
que se considera como suplemento ou representante mnemotécnico.

Pois o arquivo, se esta palavra ou esta figura se estabiliza em alguma


significação, não será jamais a memória nem a anamneses em sua
experiência espontânea, viva e interior. Bem ao contrário: o arquivo
tem lugar em lugar da falta originária e estrutural da chamada
memória (DERRIDA, 2001, p. 22).

Para Krzysztof Pomian (1992), há uma falta constitutiva em documentos e


monumentos, o que não é mais visível, os fatos não observáveis, o passado como
elemento a que se remetem documentos e monumentos. O artigo Les archives:
du Trésor des chartes au Caran integra o projeto Les lieux de mémoire, no qual, as
atribuições dos arquivos da França, decretadas em 1979, permitem pensar o jogo
da memória e da história tal como ele se deixa apreender no presente e passado
dos arquivos. Ele estabelece essa dinâmica a partir das noções de documento e
monumento, aos quais ele interroga serem ou não semióforos, “um objeto portador
de signos anexados ou incorporados a um suporte material” (POMIAN, 1992, p.
164). Reportados a fatos visíveis e observáveis são documentos; portadores de
uma aparência que remete ao invisível configuram-se como monumentos. Mas
essas definições são mutáveis e intercambiáveis para Pomian (1992), e, portanto,
uma vez que aquilo a que se referem os documentos se desintegra, ou só deixa
vestígios, fragmentários, lacunares e descontextualizados, os documentos que
permanecem remetem a alguma coisa que foi visível, mas que não é mais. Eles
adquirem assim uma referência ao passado, ao invisível, e preservando sua
qualidade de documento, se tornam também monumentos.

Ocorre que os documentos dos arquivos são sempre monumentos, uma


vez que os fatos observáveis ou visíveis que expressavam não mais existem,
que eles remetem a um passado. Esses papeis – arquivos e não coleções (que
podem, afirma ele ser suspensas por um ato de vontade) – formam uma memória
objetivada, independendo de toda origem e dos agentes envolvidos. Eles estão a
nossa frente, a sua existência material pode ser mais longa do que a de qualquer
grupo humano. Postos a serviço dos interesses da pesquisa, diz Pomian (1992),
são objeto da história, reencontrando apenas na identificação do leitor com sua
escrita, a dimensão memorial.

A oposição entre a memória e a história permeia o próprio processo de


gestão de documentos até a liberação dos documentos à consulta, ou seja, quando
atingem a fase permanente, definindo-se aí uma fronteira porque, afirma Pomian,
é justamente quando os documentos são franqueados que o passado se torna
propriedade de todos e objeto da história.

47
UNIDADE 1 — ORIGEM E CONTEXTO HISTÓRICO DA ARQUIVOLOGIA

Entre memória e história, ele considera enfim que os arquivos são antes
de tudo um objeto da história, apontando para o uso intelectual que a despeito do
rompimento com o dogma da história científica não desfez a íntima relação entre
os historiadores e os arquivos (POMIAN, 1992).

Da ideia de uma operação histórica que também tinha lugar nos arquivos,
como um dia nos ensinou Michel de Certeau, nós poderíamos transitar por esse
difícil território que interroga a historiografia em sua leitura dos documentos,
que, para além de serem documentos de arquivos, obrigam à tarefa de reconhecer
as relações, o diálogo, a forma e o estilo, a autonomia de imagens e as imagens
dentro do texto, escapando de uma linearidade, da organização sucessiva, de um
tempo vazio preexistente. Retomar a própria lógica da leitura, desdobrando o
sentido inicialmente estabelecido, em que:

Carteiros do texto, viajamos de uma margem à outra do espaço do


sentido valendo-nos de um sistema de endereçamento e de indicações
que o autor, o editor, o tipógrafo, balizaram. Mas podemos desobedecer
às instruções, tomar caminhos transversais, [...] estabelecer redes
secretas, clandestinas, fazer emergir outras geografias semânticas
(LÉVY, 1996, p. 38).

Nem à História, nem à Arquivística é permitido se mover em um mundo


que ignore as transformações tecnológicas e sobretudo de reconfiguração intelectual
da realidade, não podendo igualmente insistir em modelos historiográficos ou
projetos arquivísticos que desconsiderem as rupturas que se operaram não apenas
hoje, mas no longo processo em que tantas noções como o tempo, o passado, a
realidade, foram postos à prova.

Para concluirmos provisoriamente sobre as perspectivas da história face


à arquivística contemporânea, restaria sugerir o olhar bastante específico dos
historiadores que exercem a pesquisa histórica no quadro dessas instituições e a
crescente importância, ainda negligenciada e cujo reconhecimento se encontra em
autores do campo arquivístico (FUGUERAS, 2000; HERRERA; HUERTA, 1994):
a difusão cultural, a produção editorial, a pesquisa em projetos que pelo prisma
das Ciências Humanas, Sociais, das Artes, fale dos arquivos, que a polifonia que
eles comportam seja assim um enunciado.

FONTE: HEYNEMANN, C. B. A história e os arquivos: anotações à margem dos documentos.


Ponto de Acesso, v. 3, n. 1, p. 60-71, 2009.

48
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Com surgimento de novas instituições de custódia documental, rompe-se a


visão anterior que se tinha sobre esse patrimônio.

• Com a proliferação dos novos centros de memória, ampliaram-se as perspectivas


de trabalho do historiador, que antes estava confinado na sala de pesquisa.

• Gradativamente, os historiadores passaram a ter papel ativo na produção,


organização e conservação de acervos e a refletir sobre o acesso a essas
informações.

• A ampliação do que foi considerado “documento” pelo historiador o forçou a


refletir sobre suas fontes. Ainda, o direcionou a reconstruir o diálogo com as
disciplinas da Ciência da Informação, especialmente, com a Arquivologia, a
Museologia e a Informática.

• As preocupações com a organização dos documentos históricos, que antes


era objeto da Arquivologia Clássica, dão lugar à busca pela compreensão dos
documentos administrativos no âmbito arquivístico.

• Existem duas abordagens complementares que são consideradas predominantes


no campo do conhecimento arquivístico: a abordagem que identifica o momento
de uma mudança de paradigma, e a abordagem que identifica sua inserção numa
nova episteme: a pós-modernidade.

• Para Thomas Kuhn, um paradigma é aquilo que os membros de uma


comunidade científica partilham, e, inversamente, uma comunidade científica
consiste em homens que partilham de um paradigma.

• Para Kuhn, um novo paradigma significa uma reconstrução da área de


estudos por meio de novos princípios, causando uma reconstrução que
altera generalizações teóricas elementares dos paradigmas, além de métodos
e aplicações.

• A passagem de um paradigma para outro é o que Kuhn denomina de


revolução científica.

• A difusão de novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) e as


concepções pós-modernas trouxeram novas possibilidades e metodologias e
impuseram novos desafios à arquivologia.

49
• A abordagem identificada como “arquivologia pós-moderna” ou “arquivologia
pós-custodial” tem sua data de nascimento em 1990, no Canadá.

• O pós-moderno desconfia da ideia de verdade absoluta baseada no


racionalismo e no método científico.

• A perspectiva pós-moderna, desenvolvida por Cook, colocou em debate a


necessidade da mudança da postura dos arquivistas frente aos arquivos, ao
documento e à memória.

• Na nova perspectiva inaugurada por Terry Cook, os arquivos contemporâneos


são templos da memória.

• Na nova conjuntura pós-moderna, o arquivo é entendido como reflexo da


sociedade.

CHAMADA

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50
AUTOATIVIDADE

1 Os teóricos da arquivologia, ao discutirem a ruptura do paradigma, têm


utilizado muito o modelo de análise da história da ciência proposto pelo
físico e filósofo da ciência estadunidense Thomas Kuhn (1922-1996), em sua
obra A estrutura das revoluções científicas. Sobre o conceito de paradigma,
assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Na teoria de Kuhn, um paradigma é aquilo que os membros de uma


comunidade científica não compartilham, e uma comunidade científica
consiste em homens que partilham de um paradigma.
b) ( ) Na teoria de Kuhn, um paradigma é aquilo que os membros de uma
comunidade científica partilham, e, inversamente, uma comunidade
científica consiste em homens que partilham de um paradigma.
c) ( ) Na teoria de Kuhn, um paradigma é chamado também de anomalia,
que nada mais é que um fenômeno para o qual o paradigma não
preparou o investigador.
d) ( ) Na teoria de Kuhn, um paradigma é aquilo que os membros de uma
comunidade científica discordam.

2 Thomassen aponta o arquivista canadense Hugh Taylor como o primeiro


a reconhecer as mudanças no mundo arquivístico promovidas pelas novas
tecnologias da informação. Entretanto, Thomassen alerta que ainda é muito
difícil tentar caracterizar o objeto, os objetivos e a metodologia de uma
renovada disciplina arquivística. Mesmo assim, Thomassen correu riscos e
estabeleceu sua análise dos elementos dos novos paradigmas da disciplina
arquivística. Sobre o objeto da arquivologia proposta por Thomassen,
assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O objeto da arquivologia, na perspectiva de um paradigma novo,


desloca-se do “arquivo” para a informação arquivística, ou “informação
registrada orgânica”.
b) ( ) No que se refere ao objetivo, vai além da acessibilidade: é a mensuração
da “qualidade arquivística”, isto é, da clareza, da força e da resistência
dos laços entre a informação e os processos administrativos.
c) ( ) No que diz respeito às entidades fundamentais da arquivologia, são
duplas: o documento individual e suas relações com os processos
administrativos geradores.
d) ( ) A metodologia consiste no estabelecimento, na manutenção e na
análise das relações entre os documentos e seus geradores, de forma
a estabelecer, manter e analisar a autenticidade, a segurança e a
fidedignidade dos respectivos documentos.

51
3 A perspectiva pós-moderna desenvolvida por Terry Cook, considerado, por
muitos, o pai da abordagem pós-moderna, colocou em debate a necessidade
da mudança da postura dos arquivistas frente aos arquivos, ao documento
e à memória. Sobre a nova perspectiva inaugurada por Terry Cook, analise
as seguintes sentenças:

I- Na nova perspectiva inaugurada por Terry Cook, os arquivos


contemporâneos são templos da memória.
II- Na perspectiva de Cook, tornou-se condição essencial que os arquivistas
assumissem que a avaliação documental não fosse neutra.
III- Na perspectiva de Cook, os arquivistas passam a assumir que toda
avaliação documental é neutra.
IV- Na perspectiva de Cook, o arquivo é entendido como reflexo da sociedade,
no qual cabe, à sociedade, selecionar os documentos considerados de
valor secundário.

Agora, assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
b) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
c) ( ) As sentenças I, II e IV estão corretas.
d) ( ) Apenas a sentença III está correta.

52
REFERÊNCIAS
ALVES, C. A. L.; CABRAL, M. C. B. R.; OLIVEIRA, L. S. Congresso Nacional
de Arquivologia. 2016. Disponível em: http://racin.arquivologiauepb.com.br/
edicoes/v4_nesp. Acesso em: 14 jun. 2020.

ARQUIVO NACIONAL. Dicionário brasileiro de terminologia arquivística.


Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2005.

CONARQ. Carta para a preservação do patrimônio arquivístico digital.


Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2004. Disponível em: http://www.conarq.
arquivonacional.gov.br/Media/publicacoes/cartapreservpatrimarq
digitalconarq2004.pdf. Acesso em: 14 ago. 2020.

COOK, T. Arquivos pessoais e arquivos institucionais: para um entendimento


arquivístico comum da formação da memória no mundo pós-moderno. Estudos
Históricos, n. 21, v. 1, p. 129-149, 1998.

DUCHEIN, M. Los obstáculos que se oponen al acceso, a la utilización y a la


transferência de la información conservada em los archivos: um estúdio del
Ramp. Paris: UNESCO, 1983.

ESTRADA, P. C. D. Jamais se renuncia ao Arquivo Notas sobre 'Mal de


Arquivo' de Jacques Derrida. 2010. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S15174302010000200
002&lng=pt&nrm=iso. Acesso em 14 jun. 2020.

FARGE, A. O sabor do arquivo. São Paulo: Edusp, 2009.

FONSECA, M. O. K. Arquivologia e ciência da informação. Rio de Janeiro:


Editora FGV, 2005.

FOUCAULT, M. As palavras e as coisas. São Paulo: Martins Fontes, 1990.

JARDIM, J. M. A produção de conhecimento arquivístico: perspectivas


internacionais e o caso brasileiro (1990-1995). 1998. Disponível em: http://www.
scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid= S0100-19651998000300001&lng=en&
nrm=isso. Acesso em 14 jun. 2020.

MIRANDA, M. E. Historiadores, arquivistas e arquivos. São Paulo: ANPUH, 2011.

53
NEGREIROS, L. R.; DIAS, E. J. W. A prática arquivística: os métodos da
disciplina e os documentos tradicionais e contemporâneos. Pesquisa Brasileira
em Ciência da Informação e Biblioteconomia, v. 3, n. 2, p. 2-19, 2008.
Disponível em: http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/24598.
Acesso em: 14 jun. 2020.

RODRIGUES, A. M. L. A teoria dos arquivos e a gestão de documentos.


Perspect. Ciênc. Inf., Belo Horizonte, v. 11, n. 1, p. 102-117, 2006. Disponível
em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
99362006000100009&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 15 jun. 2020.

ROUSSEAU, J. Y.; COUTURE, C. Os fundamentos da disciplina arquivística.


Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1994.

SILVA, Z. L. da. O centro de documentação e apoio à pesquisa, um Centro


de “Memória” Local? In: SILVA, Z. L. da. Arquivos, patrimônio e memória.
Trajetórias e perspectivas. São Paulo: UNESP/FAPESP, 1999.

54
UNIDADE 2 —

GESTÃO DOCUMENTAL E CICLO


DE VIDA DOS DOCUMENTOS
ARQUIVÍSTICOS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer os princípios arquivísticos;

• compreender a gestão documental;

• compreender a idade dos documentos arquivísticos;

• conhecer os valores documentais;

• identificar as funções arquivísticas.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – PRINCÍPIOS ARQUIVÍSTICOS

TÓPICO 2 – GESTÃO DA PRODUÇÃO DOCUMENTAL

TÓPICO 3 – FUNÇÕES ARQUIVÍSTICAS

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

55
56
TÓPICO 1 —
UNIDADE 2

PRINCÍPIOS ARQUIVÍSTICOS

1 INTRODUÇÃO
Os arquivos são formados por documentos oriundos da atividade de uma
organização pessoal e administração durante a sua existência. Os arquivos são
classificados conforme a sua idade: primeira, segunda e terceira idade.

FIGURA 1 – ARQUIVO

FONTE: Paes (2004 p. 19-20)

Os arquivos constituem a memória e a história, apresentando-nos os


apontamentos das memórias social, econômica e coletiva. Constituem-se de
base do conhecimento da história. O Dicionário Brasileiro de Terminologia
Arquivística apresenta a definição de arquivo como “instituição ou serviço que
tem, por finalidades, a custódia, o processamento técnico, a conservação e o
acesso a documentos” (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p. 27, grifo do autor).

A documentação arquivística tem características únicas que a definem,


além dos princípios que norteiam o desenvolver das atividades arquivísticas no
tratamento da massa documental.

57
UNIDADE 2 — GESTÃO DOCUMENTAL E CICLO DE VIDA DOS DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS

2 PRINCÍPIOS ARQUIVÍSTICOS
O termo “princípios” é definido como “proposições diretoras de uma
ciência às quais todo o desenvolvimento posterior dessa ciência deve estar
subordinado” (FERREIRA, 1986, p. 1393). Podemos compreender que é o ponto
inicial em um processo.

Princípio seria aquilo de que derivam todas as demais coisas.


“Princípio” seria, portanto, basicamente, princípio da realidade. Em
vez de mostrar uma realidade e dizer que ela é o princípio de todas
as coisas, pode-se propor uma razão pela qual todas as coisas são o
que são [...]. Aristóteles e os escolásticos trataram de ver se havia algo
característico de todo princípio como princípio. Segundo Aristóteles,
“o caráter comum de todos os princípios é ser a fonte de onde deriva
o ser, ou a geração, ou o conhecimento” [...]. Ora, ainda que um
princípio seja um “ponto de partida”, não parece que todo ponto de
partida possa ser um princípio. Por esse motivo, tendeu-se a reservar
o nome de “princípio” a um “ponto de partida” que não seja redutível
a outros pontos de partida, pelo menos, a outros pontos de partida da
mesma espécie ou pertencentes a uma mesma ordem. Assim, se uma
ciência determinada tem um ou vários princípios, estes serão tais só
enquanto não houver outros aos quais possam ser reduzidos (MORA,
1994, p. 2370-2375).

Nesse sentido, os princípios são os pontos de partidas dos quais derivam


os conceitos e teorias. Para Santos (2015, p. 137), o “princípio científico é um
postulado elementar e fundamental, aceito como verdade, que guia ou influencia
um pensamento ou ação relativos [sic] a uma ordem de conhecimentos ou
sistema teórico”.

A Arquivologia pode ser entendida como um conjunto de princípios,


conceitos e técnicas a serem analisados e observados nas funções arquivísticas:
produção, organização, guarda, preservação e uso de documentos em arquivos.

2.1 PRINCÍPIO DA PROVENIÊNCIA


De acordo com o Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivístico
(2005, p. 136), o Princípio da Proveniência é “o princípio básico da arquivologia,
segundo o qual o arquivo produzido por uma entidade coletiva, pessoa ou família,
não deve ser misturado aos de outras entidades produtoras. Também chamado
Princípio de Respeito aos fundos”.

Esses princípios se tornam a base teórica da arquivologia,


articulando os demais princípios em torno da informação orgânica registrada.
O Princípio de Respeito aos fundos foi elaborado na França, em 1841, e consiste
em “manter agrupados, sem misturá-los a outros, os arquivos provenientes de
uma administração de uma instituição ou de uma pessoa física ou jurídica”
(DUCHEIN, 1983, p. 14).

58
TÓPICO 1 — PRINCÍPIOS ARQUIVÍSTICOS

DICAS

Na arquivologia é comum os arquivistas se referirem ao conjunto de


documentos de uma instituição, pessoa ou família como Fundo. Você sabe o que significa?
E que existe Fundo Aberto e Fechado? O Quadro a seguir apresenta o seu conceito e a
diferença entre os tipos de fundo.

FUNDO FUNDO ABERTO FUNDO FECHADO


Fundo ao qual podem Fundo que não recebe
Conjunto de documentos
ser acrescentados novos acréscimos de documentos,
de uma mesma
documentos em função do em função de a entidade
proveniência. Termo que
fato de a entidade produtora produtora não se encontrar
equivale ao arquivo.
continuar em atividade. mais em atividade.

FONTE: Arquivo Nacional (2005, p. 97-98)

A autoria do princípio é do historiador Natalis de Wailly, chefe da seção


administrativa dos arquivos departamentais do Ministério do Interior. Emitiu
uma circular na qual definia que os arquivos de um mesmo fundo deveriam
ficar agrupados.

[...] Agregar os documentos por fundos, isto é, reunir todos os títulos


(documentos) provenientes de um corpo, de um estabelecimento, de
uma família ou de um indivíduo, e dispor, segundo uma determinada
ordem, os diferentes fundos [...]. Para evitar qualquer tentativa de
constituição de coleções, a circular acrescentava: [...] os documentos
que apenas têm relação com o estabelecimento, um corpo ou uma
família, não devem ser confundidos com fundo desse estabelecimento,
desse corpo ou dessa família [...] (DUCHEIN, 1983, p. 15).

Segundo Schellenberg (2006), durante a Revolução Francesa, os


bibliotecários e os diretores dos Archives Nacionales da França estabeleceram
métodos de arranjo documental de acordo com esquemas de classificação
predeterminados, sendo que uma classificação cronológica e, por assunto,
comprometeram o vínculo orgânico do documento com o seu produtor e o
contexto funcional da sua criação.

No início do século XIX, depois de tentarem, sem sucesso, impor uma


classificação cronológica e por assunto aos documentos, arquivistas
franceses concluíram que o arranjo arquivístico não deve misturar
documentos de um órgão com aqueles de outro órgão. Cada depósito
ou fundo de documentos, eles decidiram, deveria ser respeitado como
uma entidade separada, ainda que muitos fundos abrigassem o mesmo
assunto ou assunto similar. Em outras palavras, respect es fonds exige,
dos arquivistas, respeito à integridade do corpo de documentos na
ocasião em que foi depositado no arquivo. No final do século XIX,

59
UNIDADE 2 — GESTÃO DOCUMENTAL E CICLO DE VIDA DOS DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS

arquivistas alemães refinaram e estenderam a ideia de respect des


fonds com o conceito de proveniência. Esse princípio indicou que
cada depósito de documentos seria colocado dentro de um quadro
de arranjo ou classificação global que refletisse sua origem e relação
com outros depósitos vindos do mesmo corpo administrativo. Ao
mesmo tempo, enfatizaram a necessidade de não perturbar a ordem
interna de cada conjunto de documentos. Esse último princípio é tão
importante para a prática arquivística que é frequentemente referido
como a santidade da ordem original (MAHER, 1992, p. 75).

ATENCAO

Os documentos devem ser agrupados de acordo com a natureza das


instituições que os criaram, dando prioridade ao respect des fonds.

Segundo Rousseau e Couture (1998, p. 83), os princípios da proveniência


possuem dois graus:

No seu primeiro grau, o princípio da proveniência leva-nos a


considerar o fundo de arquivo como uma entidade distinta [...]. Este
primeiro grau tem a sua aplicação tanto no plano do valor primário
dos documentos de arquivo como no plano de seu valor secundário
[...]. No segundo grau, o princípio da proveniência exige que todos os
documentos de um fundo de arquivo ocupem um determinado lugar
que tem de ser respeitado ou restabelecido, caso a ordem primitiva ou
a ordem original tenha sido modificada por qualquer razão.

O segundo grau proposto pelos autores se refere ao princípio pelo respeito à


ordem original, que detalharemos na sequência.

2.2 PRINCÍPIO DA ORDEM ORIGINAL


O princípio de respeito à ordem Original significa que o arquivo deve
conservar o arranjo dado aos documentos pela entidade coletiva, pessoa ou
família que o produziu (ARQUIVO NACIONAL, 2005).

Este princípio leva em conta as relações estruturais e funcionais que


coordenam a formação dos arquivos, assim garantindo a sua organicidade.
A manutenção da ordem original é definida, no Dicionário de Terminologia
Arquivística da Associação dos Arquivistas Brasileiros (CAMARGO; BELLOTTO,
1996, p. 61), como o “princípio que, levando em conta as relações estruturais e
funcionais que presidem a gênese dos arquivos, garante sua organicidade”.
Couture (2015, p. 225) observa que:

60
TÓPICO 1 — PRINCÍPIOS ARQUIVÍSTICOS

De uma maneira mais draconiana, o arquivista inglês Hilary Jenkinson


exigia que se mantivesse, de maneira absoluta, a ordem original dos
documentos recebidos das administrações, sem nenhuma intervenção
de avaliação ou de classificação: se os dossiês são os subprodutos
inconscientes da administração, a prova bruta dos atos e das trocas,
então, nenhuma intervenção posterior à criação desses dossiês não
pode ser autorizada sem que sua característica de prova imparcial se
encontre em perigo.

2.3 PRINCÍPIO DA ORGANICIDADE


Neste princípio, as relações administrativas orgânicas se refletem nos
conjuntos documentais. A organicidade é a qualidade segundo a qual os arquivos
espelham a estrutura, funções e atividades da entidade produtora das suas
relações internas e externas (SANTOS; LUZ; AGUIAR, 2016).

Duranti e Macneil (1996, p. 49) define este princípio como “o relacionamento


que liga cada documento a seu antecessor, a seu sucessor e a todos aqueles que
participam da mesma atividade”.

De acordo com Santos (2015) a organicidade está relacionada com vínculo


arquivístico, o inter-relacionamento e a natureza orgânica dos documentos
arquivísticos.

2.4 PRINCÍPIO DA UNICIDADE


Neste princípio, os documentos arquivísticos são considerados únicos
dentro do contexto. A unicidade “não obstante forma, gênero, tipo ou suporte, os
documentos de arquivo conservam seu caráter único, em função do contexto em
que foram produzidos” (BELLOTTO, 2002, p. 21).

Documentos duplicados não são, necessariamente, os mesmos, tudo


dependerá do contexto documental.

Por terem sido produzidos num contexto único, por meio de estrutura,
funções e atividades específicas, independentemente do tipo, suporte
ou gênero, os documentos arquivísticos originais são únicos. Assim,
quando o documento é produzido em mais de uma via ou cópia,
apenas uma delas será preservada. Quando é informação contida
em mais de uma espécie documental, como impressos ou materiais
publicitários, por exemplo, será preservado um único exemplar
(MODESTO; PALETTA, 2008, p. 106).

61
UNIDADE 2 — GESTÃO DOCUMENTAL E CICLO DE VIDA DOS DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS

2.5 PRINCÍPIO DA INDIVISIBILIDADE OU INTEGRIDADE


Bellotto (2002, p. 21) definiu o princípio da indivisibilidade ou integridade
como “os fundos de arquivo que devem ser preservados sem dispersão, mutilação,
alienação, destruição não autorizada ou adição indevida. Esse princípio é derivado do
princípio da proveniência”.

2.6 PRINCÍPIO DA CUMULATIVIDADE


O princípio da cumulatividade está relacionado com a formação do
arquivo que é progressiva, natural e orgânica, ou seja, os itens documentais de
um arquivo não são escolhidos previamente para serem acumulados, eles se
acumulam à medida que são produzidos. Uma boa cumulatividade se realiza
quando os documentos são organizados de acordo com o desenvolvimento das
ações (RODRIGUES, 2006; SANTOS; LUZ; AGUIAR, 2016).

2.7 PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE


O princípio da territorialidade tem seu conceito “derivado do princípio da
proveniência e, segundo o qual, arquivos deveriam ser conservados em serviços
de arquivo do território no qual foram produzidos, excetuados os documentos
elaborados pelas representações diplomáticas ou resultantes de operações
militares” (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p. 141).

Podemos interpretar esse princípio, em sua aplicação à arquivística,


sob o viés do Princípio da Proveniência, quando se busca respeitar
a contextualização institucional de produção dos documentos, por
meio da qual é possível entender seus objetivos e funções. Essa ideia,
aplicada ao viés do patrimônio cultural (e arquivístico) de uma região
ou comunidade, ou seja, extrapolada geograficamente, presume que
a compreensão das mudanças do contexto social, legal, político, ou
seja, a própria evolução de uma determinada região, só é possível pela
análise das relações entre seus cidadãos e as instituições estabelecidas
na área, cujos registros arquivísticos são fonte legítima de informações
sobre aquela sociedade (SANTOS, 2015, p. 157).

2.8 PRINCÍPIO DA PERTINÊNCIA


De acordo com o Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística (2005,
p. 136), o Princípio da Pertinência é “o princípio segundo o qual os documentos
deveriam ser reclassificados por assunto, sem ter em conta a proveniência, além da
classificação original. Também chamado princípio temático”.

62
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• O Princípio da Proveniência é o princípio básico da arquivologia segundo o


qual o arquivo produzido por uma entidade coletiva, pessoa ou família não
deve ser misturado aos de outras entidades produtoras.

• O Princípio de Respeito aos fundos foi elaborado na França, em 1841, e consiste


em manter agrupados, sem misturá-los a outros, os arquivos provenientes de
uma administração.

• O Princípio da Ordem Original significa que o arquivo deve conservar o arranjo


dado pela entidade coletiva, pessoa ou família que produziu.

• A organicidade é a qualidade segundo a qual os arquivos espelham a


estrutura, funções e atividades da entidade produtora das suas relações
internas e externas.

• Por terem sido produzidos em um contexto único, por meio da estrutura,


funções e atividades específicas, independentemente do tipo, suporte ou
gênero, os documentos arquivísticos originais são únicos.

• O Princípio da Indivisibilidade ou Integridade, como os fundos de arquivo,


deve ser preservado sem dispersão, mutilação, alienação, destruição não
autorizada ou adição indevida.

63
AUTOATIVIDADE

1 De acordo com os princípios arquivísticos, classifique V para as sentenças


verdadeiras e F para as falsas:

( ) O Princípio da Proveniência é o mesmo que respeito aos fundos, e, nesse


princípio, não se deve misturar os documentos de outros produtores.
( ) O Princípio da Unicidade significa que o documento arquivístico é único.
( ) O Princípio da Organicidade não reflete as estruturas orgânicas nos
conjuntos documentais.
( ) De acordo com Rousseau e Couture (1998), o princípio da proveniência tem
dois graus, sendo o segundo grau relativo ao Princípio da Ordem Original.
( ) O respeito aos fundos exige, dos arquivistas, respeito à integridade do
corpo de documentos na ocasião em que foi depositado no arquivo.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – V – F –V – V.
b) ( ) V – F – V – F – V.
c) ( ) F – V – V – F – F.
d) ( ) V – F – F – V – F.

2 Sobre as definições de fundo, associe os itens, utilizando o código a seguir:

I- Fundo.
II- Fundo aberto.
III- Fundo fechado.

( ) Fundo que não recebe acréscimos de documentos.


( ) Conjunto de documentos de uma mesma proveniência.
( ) Fundo ao qual podem ser acrescentados novos documentos.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) III – I – II.
b) ( ) I – III – II.
c) ( ) II – I – III.
d) ( ) III – II – I.

64
TÓPICO 2 —
UNIDADE 2

GESTÃO DA PRODUÇÃO DOCUMENTAL

1 INTRODUÇÃO
A informação é um elemento indispensável à sociedade, principalmente,
quando relacionada a qualquer atividade ao processo de tomada de decisão. A
informação é um recurso estratégico para toda sociedade, e se essa informação não
está disponível e organizada, não atinge o objetivo de proporcionar a tomada de
decisão (BARTALO; MORENO, 2015).

Nesse sentido, ao analisarmos a função do arquivo de tornar disponíveis


as informações que estão em seu poder, percebe-se que é necessária a aplicação
da gestão para que essa função seja cumprida, e, se não houver a gestão, podem
ocorrer graves danos às informações e para quem precisa delas (PAES, 2005).

Para Silva et al. (1999), o homem sempre precisou organizar os registros


das suas atividades e criar formas para recuperar o conteúdo. Por isso, sempre
acumulou documentos ao longo das atividades.

A gestão se desenvolveu como uma metodologia ou conjunto de


procedimentos para estabelecer uma ordem lógica de trabalho. No seu sentido
amplo, a gestão é utilizada para gerenciar os recursos financeiros e humanos, de
forma a atingir as metas e os objetivos das organizações.

Já na arquivologia, a gestão é vista como conjuntos de procedimentos


e operações relativas à produção, tramitação, uso, avaliação e arquivamento
de documentos produzidos e recebidos pelas instituições no decorrer das
suas atividades.

65
UNIDADE 2 — GESTÃO DOCUMENTAL E CICLO DE VIDA DOS DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS

2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA GESTÃO DOCUMENTAL


Para que os documentos arquivísticos sejam classificados, arquivados,
preservados e recuperados, é indispensável a implantação da gestão documental
que se apresenta como metodologia para arranjar, controlar e sistematizar todas
as ações desenvolvidas nos acervos arquivísticos. “Nesse processo, instrumentos
para os arquivos podem ser elaborados, tanto com o intuito de auxiliar os
profissionais responsáveis na gestão, quanto para que os usuários conheçam mais
sobre o acervo” (VENTURA, 2018, p. 57).

De acordo com Rodrigues (2013, p. 73), as funções arquivísticas da:

Identificação, classificação e avaliação sustentam a implantação dos


programas de gestão de documentos, garantindo a normalização de
parâmetros para o planejamento adequado da produção e controle da
acumulação, seja para documentos produzidos em meio convencional
(papel) ou eletrônico (digital).

Todo esse planejamento incide sobre o universo informacional, e, nesse


sentido, a gestão de documentos está relacionada à gestão da informação,
levando em consideração que as funções de identificar e gerenciar a informação
são atividades desenvolvidas pelos arquivos (VENTURA, 2018).

De acordo com o Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística


(2005, p. 99), a gestão da informação é a “administração do uso e circulação da
informação, com informação-base na teoria ou ciência da informação”.

FIGURA 2 – GESTÃO DA INFORMAÇÃO

FONTE: <https://www.itchannel.pt/img/uploads/660x371_7ec49a49587a3ed77ad4a9605016f0ca.jpg>.
Acesso em: 28 set. 2020.

66
TÓPICO 2 — GESTÃO DA PRODUÇÃO DOCUMENTAL

Para o Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística (2005, p. 99), a


administração de arquivos é a “direção, supervisão, coordenação, organização e
controle das atividades de um arquivo, também chamada gestão de arquivos”.

Assim, percebe-se que a sociedade está envolta dos fluxos, sejam


eles de capital, tecnologia ou da informação. Nesse contexto, é perceptível
a responsabilidade dos profissionais das áreas administrativas na guarda e
preservação dos documentos, pois demonstra que temos responsabilidade pelo
fluxo das informações organizacionais. Afirma-se isso “pois, sem conhecimento
sobre o acervo e os potenciais informativos, fica difícil estabelecer a gestão
informacional” (VENTURA, 2018, p. 57).

Então, afirma-se que a gestão documental é um dos componentes da


gestão da informação, isso porque expande a capacidade da gestão administrativa.
Dessa forma, a gestão documental ou de documentos surge como instrumento
imprescindível à otimização dos recursos informacionais contidos em variados
tipos de suportes (BARTALO; MORENO, 2015).

NOTA

O suporte é o material no qual são registradas as informações. Exemplo: papel,


CD, fita magnética.

A gestão dos documentos tem seu surgimento relacionado à Segunda


Guerra Mundial (1939-1945), mas antes desse período, em meados dos séculos
XIX, já havia um grande interesse da sociedade no valor históricos dos arquivos
e dos documentos. Esses documentos ganharam o status de testemunhos da
história, os arquivistas desse período eram responsáveis pela organização e
utilização dos arquivos (PAES, 2005).

Podemos dizer que o epicentro da gestão documental foi nos Estados


Unidos da América, sob a denominação de records management, ou gestão de
documentos, em português, e essa atividade não surgiu da prática ou da teoria
dos arquivos, mas por uma necessidade da administração pública. Segundo
Jardim (1987, p. 36):

As instituições arquivísticas públicas se caracterizavam pela sua


função de órgão estritamente de apoio à pesquisa, comprometidas
com a conservação e acesso aos documentos considerados de valor
histórico. A tal concepção se opunha, de forma dicotômica, a de
‘documento administrativo’, cujos problemas eram considerados
da alçada exclusiva dos órgãos da administração pública que os
produziam e utilizavam.

67
UNIDADE 2 — GESTÃO DOCUMENTAL E CICLO DE VIDA DOS DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS

A partir dos Estados Unidos da América, as instituições arquivísticas


públicas assumiram a função de órgão de apoio à administração e às orientações
a programas de gestão de documentos em órgãos governamentais (ELIAS;
PINTO, 2016).

Doravante a Segunda Guerra Mundial e, em decorrência dos progressos


científico e tecnológico alcançados pela sociedade, a produção documental teve
um crescimento exponencial (PAES, 2005; ELIAS; PINTO, 2016). Dessa forma,
as instituições começaram a buscar novas formas de organizar e gerir as massas
documentais que estavam se acumulando nos arquivos.

Para Jardim (1987) e Silva et al. (1999), o foco na eficiência e a busca


por racionalizar os processos da administração de forma rápida impactaram
diretamente na aplicação de soluções para os problemas documentais que os
EUA estavam enfrentando. Nesse período, segundo Medeiro e Amaral (2010),
os documentos arquivísticos percorriam somente um caminho, do arquivo
corrente para a eliminação ou arquivo permanente, e, com a implementação da
gestão documental, ficou evidente que uma nova forma de gerenciar a massa
documental estava consolidada.

FIGURA 3 – FASE DE ARQUIVAMENTO ANTES DA GESTÃO DOCUMENTAL

FONTE: Os autores

O caminho que o documento arquivístico percorria, nesse período, era


considerado a “Teoria das Duas Idades” (MEDEIRO; AMARAL, 2010).

NOTA

O recolhimento é a entrada de documentos públicos em arquivos permanentes


com competência formalmente estabelecida ou operação pela qual um conjunto de
documentos passa do arquivo intermediário para o arquivo permanente (ARQUIVO
NACIONAL, 2005).

68
TÓPICO 2 — GESTÃO DA PRODUÇÃO DOCUMENTAL

Ao fim da Segunda Guerra Mundial, o mundo foi dividido em dois


sistemas: capitalismo e socialismo. Esses sistemas opostos iniciaram uma batalha
sutil, com o objetivo de “alcançar a hegemonia militar, econômica e política da
parte opositora” (BARTALO; MORENO, 2015, p. 1212). Nesse contexto, a gestão
da informação adquiriu interesse primordial para os governos, principalmente, da
União Soviética e dos Estados Unidos da América. Com as informações científica
e tecnológica se tornando fundamentais aos desenvolvimentos econômico e
militar, essas potências não economizaram nos recursos para garantir o melhor
aproveitamento das informações (BARTALO; MORENO, 2015).

Dessa forma, o surgimento da gestão de documentos foi em função


do aumento do fluxo informacional, principalmente, após a Segunda Guerra
Mundial, ocasionando um volume imensurável de novos documentos.

O aumento da população, por sua vez, provocou a expansão das


atividades do governo, e essa expansão afetou a produção de
documentos. Uma vez que se aplicaram métodos tecnológicos
modernos no preparo de documentos, o volume destes, nas últimas
décadas, atingiu um índice de progressão antes geométrica do que
aritmética (SCHELLENBERG, 2007, p. 55).

Para Rondinelli (2005), o surgimento da gestão documental foi como um


marco histórico para a arquivologia. A gestão documental se equipara a três
outros marcos-históricos: criação do Arquivo Nacional da França; fundação da
École des Chartes no mesmo país, que fortaleceu o vínculo da arquivologia como
ciência auxiliar da história; e o surgimento do Princípio da Proveniência, em 1841.

FIGURA 4 – MARCOS HISTÓRICOS

FONTE: Adaptada de Rondinelli (2005)

69
UNIDADE 2 — GESTÃO DOCUMENTAL E CICLO DE VIDA DOS DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS

Os Estados Unidos já vinham enfrentando problemas com a massa


documental acumulada antes mesmo da entrada na Guerra, em 1942. Nos 1930 a
1938, o país já tinha acumulado, aproximadamente, 1,500 km de documentos, e,
por isso, os arquivos nacionais adotaram a política de eliminação de documentos,
de acordo com critérios obtidos por meio de estudos de sistemas de conversação
e criação de planos de conservação (BARTALO; MORENO, 2015).

Em 7 de julho de 1943, os EUA publicaram a Lei de Eliminação dos


Documentos do Governo. Essa lei assegurava apenas a guarda permanente dos
documentos que continham provas da organização, funções, diretrizes e outras
atividades do governo, além do documento de valor informativo (BARTALO;
MORENO, 2015). Ainda, em 1943, a Associação dos Arquivistas Britânicos
produziu um memorando a respeito da preservação dos documentos em tempos
de guerra. Logo depois, o Public Record Office publicou esse documento com os
princípios de avaliação e que passou a ser aplicado aos documentos (BARTALO;
MORENO, 2015).

O termo records manager, gestor de documentos, surgiu no fim dos anos


de 1940 e, nesse mesmo ano, teve-se a aceitação do termo records management.
Segundo Bartalo e Moreno (2015), esse termo era utilizado somente por
empresas privadas.

FIGURA 5 – WEBSITE ARQUIVO NACIONAL DOS ESTADOS UNIDOS

FONTE: <https://www.archives.gov/records-mgmt>. Acesso em: 29 set. 2020.

70
TÓPICO 2 — GESTÃO DA PRODUÇÃO DOCUMENTAL

Em 1950, os Estados Unidos aprovaram a Lei Federal dos Documentos


(Federal Records Act). Essa lei definiu, do ponto de vista legal, a gestão de
documentos do país, e incluía a criação, preservação, conservação, eliminação
e transferência da documentação. Ao fim da Segunda Guerra Mundial, essa
metodologia passou a ser utilizada para organizar os documentos acumulados
pelos Estados (BARTALO; MORENO, 2015).

No mesmo contexto histórico, na América do Norte, o governo do


Canadá desenvolveu ações para a aplicação da gestão dos documentos nos
órgãos governamentais, pois a conservação dos documentos estava cada vez
mais onerosa, como foi identificado pelas avaliações realizadas pelas Comissões
Massey (1951) e Glassco (1961-1962) (ELIAS; PINTO, 2016).

FIGURA 6 – BIBLIOTECA E ARQUIVO DO CANADÁ

FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/a/a8/Library_and_Archives_
Canada.JPG/1024px-Library_and_Archives_Canada.JPG>. Acesso em: 29 set. 2020.

Segundo Indolfo (2007), das recomendações realizadas pelas comissões


de Massey e Glassco, surgiu a construção do depósito central para os
Arquivos Públicos do Canadá, em 1956, e, em 1996, o Programa de Gestão de
Documentos Governamentais passou a ser coordenado pelo arquivista federal
(Dominion Archivist).

Segundo Elias e Pinto (2016), os europeus tratavam os problemas de uso


e guarda das massas documentais acumuladas de forma diferente dos americanos,
levando em consideração o cunho histórico do documento a ser selecionado,
tratado, conservação e eliminado. Para Indolfo (2007, p. 35):

71
UNIDADE 2 — GESTÃO DOCUMENTAL E CICLO DE VIDA DOS DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS

Não se pode falar de gestão de documentos como um conceito


único e de aplicação universal, uma vez que, da sua elaboração
e desenvolvimento, participaram fatores determinantes, em que
se destaca uma dada e específica tradição arquivística, e também
administrativa, e um contexto histórico e institucional. Não se
pode falar, ainda, de um modelo de gestão de documentos, mas de
diversidades que se produziram com as práticas em diferentes países.

Para Duchein (1993, p. 15), os problemas relacionados às massas


documentais e a sua preservação na Europa foram tratados sobre o “ângulo
do interesse histórico dos documentos, com diversas formas de controle dos
arquivistas-historiadores sobre a seleção dos documentos a conservar e sobre a
destruição do resto”.

O autor ainda ressalta que as necessidades originadas da crise econômica


dos anos 1930 e a Segunda Guerra Mundial forçaram os governos e os arquivistas
a encararem os problemas depositados pelo aumento da massa documental
e, como consequência, no plano arquivístico, não poderiam ser tratados pelos
métodos tradicionais (INDOLFO, 2007).

Surgiram vários modelos de gestão relacionados a condições culturais,


econômicas, administrativas e históricas de cada país. Sendo, as motivações, de
“ordem econômico-administrativa, implantava-se o modelo americano, sendo de
ordem histórico-arquivística, seguia-se o modelo europeu” (INDOLFO, 2007, p.
35). Na visão de Duchein (1993, p. 15, grifo do autor):

[...] Nenhum [modelo] é exportável tal qual fora do seu próprio contexto,
e nenhum pode ser considerado como exemplar in abstracto. Porém,
pode-se dizer que também, nenhum país pode, hoje, escapar da
necessidade de definir a sua própria doutrina nesse terreno.

FIGURA 7 – MODELO DE GESTÃO DE DOCUMENTOS

FONTE: Elias e Pinto (2016, p. 34)

72
TÓPICO 2 — GESTÃO DA PRODUÇÃO DOCUMENTAL

No ano de 1979, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a


Ciência e a Cultura (UNESCO), por meio do Programa de Informações Gerais
e Unisist, constituiu o Records and Archives Management Program (RAMP),
que tentou conceituar e unificar o termo gestão documental, além de mostrar,
para o público em geral e a administração e tomadores de decisão, a importância
dos documentos e arquivos. Além disso, é possível tentar assistir “aos governos
no estabelecimento de infraestruturas eficientes para a gestão de documentos e
arquivos, participando do debate internacional dos problemas enfrentados pelos
arquivos” (INDOLFO, 2007, p. 35).

O RAMP tem, como escopo, auxiliar profissionais da informação com


estudos de temas globais relacionados à gestão de documentos e administração
de arquivos (TONELLO, 2019). O programa tem, como princípios básicos:

• a elaboração de políticas e planos de informação (nacional,


regional e internacional);
• disseminação de métodos, regras relacionadas à gestão da
informação;
• o auxílio para estabelecer e desenvolver infraestruturas de
informação;
• o estabelecimento e desenvolvimento de sistemas especializados de
informação nos campos da educação, da cultura, da comunicação e
das ciências exatas, naturais e sociais;
• fomento à formação de especialistas e usuários de informação
(LEARY, 1986, p. 14).

DICAS

Quer saber mais a respeito do assunto? Acesse a página da UNESCO, lá, você
encontrará o documento na íntegra.

Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf000005006.

73
UNIDADE 2 — GESTÃO DOCUMENTAL E CICLO DE VIDA DOS DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS

FIGURA 8 – RAMP

FONTE: Adaptada de <https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000050063>.


Acesso em: 9 out. 2020.

De acordo com Indolfo (2007, p. 35), por mediação do RAMP, a comunidade


arquivística teve contato com o trabalho de James Rhoads (1983):

Sobre a função da gestão de documentos e arquivos nos sistemas


nacionais de informação, nos quais o autor descreve as fases e os
elementos que compõem um programa de gestão de documentos,
devendo conduzir, com economia e eficácia, o ciclo vital dos documentos,
além de formular os níveis de implantação desse programa.

Para Rhoads (1983), as fazes que compõem a gestão do documento são: 1)


elaboração, utilização; 2) manutenção; e 3) eliminação de documentos.

Já para Paes (2004), a gestão de documento tem três fases básicas: produção,
utilização e destinação. A produção é referente à produção de documentos em
decorrência das atividades de um órgão, setor ou pessoa. A fase de utilização é
referente ao protocolo, expedição, organização e arquivamentos de documentos
em fase corrente e intermediária.

Por fim, a fase de destinação de documentos é uma das fases mais


complexas da gestão documental, visto que, para se desenvolverem análise e
avaliação da massa documental acumulada nos arquivos, essa fase estabelece o
prazo de guarda e destinação final dos documentos.

74
TÓPICO 2 — GESTÃO DA PRODUÇÃO DOCUMENTAL

É possível perceber que a gestão de documentos incide em um “conjunto


de procedimentos e operações técnicas referentes à produção, tramitação, uso,
avaliação e arquivamento [...] de documentos em fases corrente e intermediária,
visando à eliminação ou recolhimento [...]” (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p.
100). Além de auxiliar o arquivo na organização intelectual dos documentos,
a gestão também pode ser uma ferramenta para o melhor aproveitamento dos
recursos físicos, materiais e de pessoal, tendo em vista que os documentos sem
valor histórico ou probatório são preservados somente enquanto servirem aos
seus fins imediatos (VENTURA, 2018).

2.1 GESTÃO DOCUMENTAL NO BRASIL


A gestão documental no Brasil, sob o ponta da Arquivologia, é regida pela
Lei Federal 8.159/1991, que conhecemos como a ‘Lei dos Arquivos’. No seu artigo 3,
a lei dispõe que a gestão de documentos:

É o conjunto de procedimentos e operações técnicas referentes à


produção, tramitação, uso, avaliação e arquivamento de documentos
nas fases corrente e intermediária, visando à eliminação ou
recolhimento para guarda permanente (BRASIL, 1991, p. 18).

A gestão documental está inclusa no Constituição Federal, quando aborda


o patrimônio cultural brasileiro no § 2ᵒ do artigo 216, que é de responsabilidade,
da administração pública, a gestão dos documentos relativos ao governo, tendo
também o compromisso de possibilitar o acesso (BRASIL, 1988).

A gestão documental aplicada às administrações públicas é necessária,


já que garante o exercício da cidadania (VENTURA, 2018). Segundo Bernardes e
Delattore (2008, p. 6), ao fazer gestão documental:

Não estamos nos preocupando somente em atender aos interesses


imediatos do organismo produtor, de seus clientes ou usuários, mas
estamos nos assegurando de que os documentos indispensáveis à
reconstituição do passado sejam definitivamente preservados. Aliado
ao direito à informação, está o direito à memória.

Na Lei nᵒ 8.159, de 8 de janeiro de 1991, no capítulo IV, artigos 17 ao 21, são


específicos para a gestão documental para as instituições arquivísticas públicas
brasileiras (BRASIL, 1991), como pode se observar:

75
UNIDADE 2 — GESTÃO DOCUMENTAL E CICLO DE VIDA DOS DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS

[...]

CAPÍTULO IV

DA ORGANIZAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO DE INSTITUIÇÕES


ARQUIVÍSTICAS PÚBLICAS

Art. 17 – A administração da documentação pública ou de caráter público


compete às instituições arquivísticas federais, estaduais, do Distrito Federal
e municipais.
§ 1ᵒ – São Arquivos Federais o Arquivo Nacional, os do Poder Executivo, e os
arquivos do Poder Legislativo e do Poder Judiciário. São considerados,
também, do Poder Executivo, os arquivos do Ministério da Marinha,
do Ministério das Relações Exteriores, do Ministério do Exército e do
Ministério da Aeronáutica.
§ 2ᵒ – São Arquivos Estaduais os arquivos do Poder Executivo, o arquivo do
Poder Legislativo e o arquivo do Poder Judiciário.
§ 3ᵒ – São Arquivos do Distrito Federal o arquivo do Poder Executivo, o
Arquivo do Poder Legislativo e o arquivo do Poder Judiciário.
§ 4ᵒ – São Arquivos Municipais o arquivo do Poder Executivo e o arquivo do
Poder Legislativo.
§ 5ᵒ – Os arquivos públicos dos territórios são organizados de acordo com sua
estrutura político-jurídica.

Art. 18 – Compete, ao Arquivo Nacional, a gestão e o recolhimento dos


documentos produzidos e recebidos pelo Poder Executivo Federal, além de
preservar e facultar o acesso aos documentos sob sua guarda, e acompanhar e
implementar a Política Nacional de Arquivos.
Parágrafo único - Para o pleno exercício das suas funções, o Arquivo Nacional
poderá criar unidades regionais.

Art. 19 – Competem, aos arquivos do Poder Legislativo Federal, a gestão e o


recolhimento dos documentos produzidos e recebidos pelo Poder Legislativo
Federal no exercício das suas funções, além de preservar e facultar o acesso aos
documentos sob sua guarda.

Art. 20 – Competem, aos arquivos do Poder Judiciário Federal, a gestão e o


recolhimento dos documentos produzidos e recebidos pelo Poder Judiciário
Federal no exercício de suas funções, tramitados em juízo e oriundos de
cartórios e secretarias, além de preservar e facultar o acesso aos documentos
sob sua guarda.

76
TÓPICO 2 — GESTÃO DA PRODUÇÃO DOCUMENTAL

Art. 21 – Legislações estadual, do Distrito Federal, e municipal, definirão os


critérios de organização e vinculação dos arquivos estaduais e municipais, além
da gestão e do acesso aos documentos, observado o disposto na Constituição
Federal e nesta Lei.

FONTE: BRASIL. Lei nᵒ 8.159, de 8 de janeiro de 1991. Dispõe sobre a Política Nacional de
Arquivos Públicos e Privados e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/l8159.htm. Acesso em: 9 out. 2020.

Além da lei, o Brasil tem o Decreto nᵒ 4.915, de 12 de dezembro de 2003,


que dispõe acerca do Sistema de Gestão de Documentos de Arquivos (SIGA), as
administrações pública e federal e o Decreto nᵒ 10.148, de 2 de dezembro de 2019,
que institui a Comissão de Coordenação do Sistema de Gestão de Documentos e
Arquivos da Administração Pública Federal, dispõe sobre a Comissão Permanente
de Avaliação de Documentos, as Subcomissões de Coordenação do Sistema de
Gestão de Documentos e Arquivos da Administração Pública Federal e o Conselho
Nacional de Arquivos, e dá outras providências. A redação do Decreto nᵒ 10.148, de
2 de dezembro de 2019, pode ser observada a seguir:

CAPÍTULO I

DA COMISSÃO DE COORDENAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DE


DOCUMENTOS E ARQUIVOS

Art. 1ᵒ Fica instituída, no âmbito do Arquivo Nacional, a Comissão de


Coordenação do Sistema de Gestão de Documentos e Arquivos da Administração
Pública Federal - Comissão de Coordenação do Siga, à qual compete:
I- propor diretrizes e normas relativas à gestão e à preservação de documentos
e arquivos, no âmbito da administração pública federal;
II- orientar os órgãos integrantes do Siga quanto às modificações necessárias
ao aprimoramento dos mecanismos de gestão de documentos e arquivos;
III- monitorar a aplicação das normas e seus resultados, com vistas à
modernização e ao aprimoramento do Siga;
IV- fornecer informações acerca dos órgãos setoriais e seccionais ao órgão
central do Siga; e
V- assessorar o órgão central do Siga na execução das suas competências.

Parágrafo único. Compete, ao Arquivo Nacional, na qualidade de órgão central


do Siga, submeter as propostas de que trata o inciso I do caput, aprovadas
pela Comissão de Coordenação do Siga, à aprovação do Ministro de Estado da
Justiça e Segurança Pública.

77
UNIDADE 2 — GESTÃO DOCUMENTAL E CICLO DE VIDA DOS DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS

Art. 2ᵒ A Comissão de Coordenação do Siga é composta:


I- pelo Diretor-Geral do Arquivo Nacional, que a presidirá;
II- por representantes:
a) do Arquivo Nacional;
b) do órgão central do Sistema de Serviços Gerais; e
c) do órgão central do Sistema de Administração dos Recursos de Tecnologia
da Informação; e
III- pelos Presidentes das Subcomissões de Coordenação do Siga dos órgãos
da administração pública federal.
§ 1ᵒ Cada membro da Comissão de Coordenação do Siga terá um suplente,
que o substituirá em suas ausências e impedimentos.
§ 2ᵒ O membro da Comissão de Coordenação do Siga, de que trata a alínea “a”
do inciso II do caput, e respectivo suplente, serão indicados pelo Diretor-
Geral do Arquivo Nacional e designados pelo Ministro de Estado da
Justiça e Segurança Pública.
§ 3ᵒ Os membros da Comissão de Coordenação do Siga de que tratam as alíneas
“b” e “c” do inciso II do caput e respectivos suplentes serão indicados pelo
Ministro de Estado da Economia e designados pelo Ministro de Estado da
Justiça e Segurança Pública.
§ 4ᵒ Os membros da Comissão de Coordenação do Siga de que trata o inciso
III do caput e respectivos suplentes serão indicados pelos titulares dos
órgãos que representam e designados pelo Ministro de Estado da Justiça
e Segurança Pública.
§ 5ᵒ O Presidente da Comissão de Coordenação do Siga poderá convidar
representantes de outros órgãos e entidades públicos ou privados e
especialistas na matéria em discussão para participar das reuniões, sem
direito a voto.

Art. 3ᵒ A Comissão de Coordenação do Siga se reunirá, em caráter ordinário


semestralmente, e em caráter extraordinário, sempre que convocada por seu
Presidente ou por solicitação de dois terços dos membros.
§ 1ᵒ O quórum de reunião da Comissão de Coordenação do Siga é de um
terço dos membros e o quórum de aprovação é de maioria simples.
§ 2ᵒ Além do voto ordinário, o Presidente da Comissão de Coordenação do
Siga terá o voto de qualidade em caso de empate.

Art. 4ᵒ A Secretaria-Executiva da Comissão de Coordenação do Siga será


exercida pelo Arquivo Nacional.

Art. 5ᵒ É vedada a divulgação das discussões em curso na Comissão de


Coordenação do Siga sem anuência prévia do Ministro de Estado da Justiça e
Segurança Pública.

Art. 6ᵒ As Subcomissões de Coordenação do Sistema de Gestão de Documentos e


Arquivos da Administração Pública Federal - Subcomissões de Coordenação do

78
TÓPICO 2 — GESTÃO DA PRODUÇÃO DOCUMENTAL

Siga serão instituídas no âmbito dos órgãos setoriais do Siga, com o objetivo de:
I- propor as modificações necessárias ao aprimoramento dos mecanismos
de gestão de documentos e arquivos à Comissão de Coordenação do Siga;
II- avaliar a aplicação das normas e seus resultados nos âmbitos setorial e
seccional e propor os ajustes necessários, com vistas à modernização e ao
aprimoramento do Siga; e
III- implementar, coordenar e controlar as atividades de gestão de documentos e
arquivos nos âmbitos setorial e seccional.
§ 1ᵒ Cada Subcomissão de Coordenação do Siga será composta por um
representante:
I- do respectivo órgão setorial, que a presidirá; e
II- de cada um dos órgãos seccionais.
§ 2ᵒ Os membros da Subcomissão de Coordenação do Siga serão indicados
pelos titulares dos órgãos ou das entidades que representam.
§ 3ᵒ As Subcomissões de Coordenação do Siga se reunirão em caráter ordinário
semestralmente e em caráter extraordinário sempre que convocadas por
seu Presidente ou por solicitação de dois terços dos membros.
§ 4ᵒ O quórum de reunião das Subcomissões de Coordenação do Siga é de um
terço de seus membros e o quórum de aprovação é de maioria simples.

Art. 7ᵒ Os membros da Comissão de Coordenação do Siga e das Subcomissões


de Coordenação do Siga, que se encontrarem no Distrito Federal, se reunirão
presencialmente, e os membros que se encontrem em outros entes federativos
participarão da reunião por meio de videoconferência.

Art. 8ᵒ A participação na Comissão de Coordenação do Siga e nas Subcomissões


de Coordenação do Siga será considerada prestação de serviço público
relevante, não remunerada.

CAPÍTULO II

DA COMISSÃO PERMANENTE DE AVALIAÇÃO DE DOCUMENTOS

Art. 9ᵒ Serão instituídas Comissões Permanentes de Avaliação de Documentos,


no âmbito dos órgãos e das entidades da administração pública federal,
órgãos técnicos, com os objetivos de orientar e realizar os processos de análise,
avaliação e seleção dos documentos produzidos e acumulados no seu âmbito
de atuação para garantir a sua destinação final, nos termos da legislação
vigente e das normas do Siga, com as seguintes competências:
I- elaborar os códigos de classificação de documentos e as tabelas de
temporalidade e destinação de documentos, que são instrumentos
técnicos de gestão relativos às atividades-fim de seus órgãos e entidades e
submetê-los à aprovação do Arquivo Nacional;

79
UNIDADE 2 — GESTÃO DOCUMENTAL E CICLO DE VIDA DOS DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS

II- aplicar e orientar a aplicação do código de classificação de documentos


e a tabela de temporalidade e destinação de documentos das atividades-
meio da administração pública federal e de suas atividades-fim pelo
Arquivo Nacional;
III- orientar as unidades administrativas do seu órgão ou entidade, analisar,
avaliar e selecionar o conjunto de documentos produzidos e acumulados
pela administração pública federal, tendo em vista a identificação dos
documentos para guarda permanente e a eliminação dos documentos
destituídos de valor;
IV- analisar os conjuntos de documentos para a definição de sua destinação
final após a desclassificação quanto ao grau de sigilo; e
V- observado o disposto nos incisos I e II, submeter as listagens de eliminação
de documentos para aprovação do titular do órgão ou da entidade.

Parágrafo único. As Comissões Permanentes de Avaliação de Documentos


serão instituídas por ato dos titulares dos órgãos ou das entidades.

Art. 10. A autorização para a eliminação de documentos de que trata o art.


9ᵒ da Lei nᵒ 8.159, de 8 de janeiro de 1991, ocorrerá por meio da aprovação
das tabelas de temporalidade e destinação de documentos do órgão ou da
entidade pelo Arquivo Nacional, condicionada ao cumprimento do disposto
nos incisos I, II e V do caput do art. 9ᵒ.

Parágrafo único. A eliminação de documentos públicos será efetuada de forma


que a descaracterização dos documentos não possa ser revertida.

Art. 11. As Comissões Permanentes de Avaliação de Documentos serão


compostas pelos seguintes servidores do órgão ou da entidade:
I- servidor arquivista ou servidor responsável pelos serviços arquivísticos,
que os presidirá; e
II- servidores das unidades organizacionais às quais se referem os conjuntos
de documentos a serem avaliados e destinados para guarda permanente
ou eliminação.
§ 1ᵒ Cada membro da Comissão Permanente de Avaliação de Documentos
terá um suplente, que o substituirá em suas ausências e impedimentos.
§ 2ᵒ Os membros da Comissão Permanente de Avaliação de Documentos
serão designados pelo titular do órgão ou da entidade dentre os seus
servidores.
§ 3ᵒ A Secretaria-Executiva da Comissão Permanente de Avaliação de
Documentos será exercida por um dos servidores a que se refere o inciso
II do caput.
§ 4ᵒ O presidente de cada Comissão Permanente de Avaliação de Documentos
poderá convidar representantes de outros órgãos e entidades públicas
ou privadas e especialistas na matéria em discussão para participar das
reuniões, sem direito a voto.

80
TÓPICO 2 — GESTÃO DA PRODUÇÃO DOCUMENTAL

Art. 12. A Comissão Permanente de Avaliação de Documentos se reunirá em


caráter ordinário, no mínimo, semestralmente, e em caráter extraordinário
sempre que convocada por seu presidente ou por solicitação de um terço
dos membros.
§ 1ᵒ O quórum de reunião da Comissão Permanente de Avaliação de
Documentos é de maioria absoluta de seus membros e o quórum de
aprovação é de maioria simples.
§ 2ᵒ Além do voto ordinário, o Presidente da Comissão Permanente de
Avaliação de Documentos terá o voto de qualidade, em caso de empate.

Art. 13. A participação na Comissão Permanente de Avaliação de Documentos


será considerada prestação de serviço público relevante, não remunerada.

Art. 14. Os membros da Comissão Permanente de Avaliação de Documentos


que se encontrarem no mesmo ente federativo da reunião participarão
presencialmente, e os membros que se encontrarem em outros entes federativos
participarão da reunião por meio de videoconferência (BRASIL, 2019).

FONTE: BRASIL. Decreto nᵒ 10.148, de 2 de dezembro de 2019. Institui a Comissão de


Coordenação do Sistema de Gestão de Documentos e Arquivos da Administração Pública
Federal, dispõe sobre a Comissão Permanente de Avaliação de Documentos, as Subcomissões
de Coordenação do Sistema de Gestão de Documentos e Arquivos da Administração Pública
Federal e o Conselho Nacional de Arquivos, e dá outras providências. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/D10148.htm.
Acesso em: 9 out. 2020.

Ao analisarmos o conceito de gestão documental pela Lei dos Arquivos


Públicos e Privados, verificamos que o processo perpassa pelo ciclo de vida
documental. O conceito de ciclo documental, ou melhor, a Teoria das Três Idades,
foi formulada no século XX, nos anos de 1950. Nesse sentido, Indolfo (2007, p. 45)
ressalta que:

[A] gestão de documentos pressupõe [...] intervenção no ciclo de vida


dos documentos por intermédio de um conjunto das operações técnicas
e processos que governam todas as atividades dos arquivos correntes e
intermediários e que são capazes de controlar e racionalizar as atividades
desde a produção e uso até a destinação final dos documentos.

Paes (2005), Medeiros e Amaral (2010) descrevem que, antes, predominavam


somente duas idades: a administrativa e a histórica. A Teoria das Três Idades
divide os arquivos em três fases, corrente, intermediária e permanente, de acordo
com a frequência de uso por suas entidades produtoras e a identificação de seus
valores primário e secundário (ARQUIVO NACIONAL, 2005).

81
UNIDADE 2 — GESTÃO DOCUMENTAL E CICLO DE VIDA DOS DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS

ATENCAO

Entidade produtora pode ser uma entidade coletiva, pessoa ou família


identificada como geradora de arquivo. Também chamada produtor. Já a entidade
custodiadora é pela custódia e acesso a um acervo. Também chamada custodiador
(ARQUIVO NACIONAL, 2005).

O conceito de gestão documental, que hoje é muito difundido, ocorreu


devido à impossibilidade de se lidar com o número de documentos cada vez
mais expressivo, estes que eram produzidos pelas administrações americana e
canadense (BARTALO; MORENO, 2015).

A gestão documental tem, como objetivo, tornar acessíveis os documentos


que compõem o acervo arquivístico.

Assegurar, de maneira eficiente, a produção, utilização e destinação


final dos documentos; garantir que a informação esteja disponível
quando e onde seja necessária; contribuir para o acesso e conservação
dos documentos de guarda permanente, por seus valores probatório,
científico e histórico; assegurar a eliminação dos documentos que não
tenham valor administrativo, fiscal, legal ou para pesquisa; permitir o
aproveitamento racional dos recursos humanos, materiais e financeiros
(BRASIL, 1991, s.p.).

A gestão documental tem algumas características, de acordo com


Santos (2009):

QUADRO 1 – GESTÃO DE DOCUMENTOS

GESTÃO DOS DOCUMENTOS


Foco Fundo arquivístico, acervo orgânico.
Assegurar a autenticidade dos documentos orgânicos.
Objetivo Comprovar fidelidade dos processos.
Eficiência e eficácia administrativa.
Objeto de estudo Documentos ou informações orgânicos como objeto.
Plano de classificação.
Instrumentos (exemplos)
Tabela de temporalidade [...] etc.
Características do objeto Documento e informação arquivística são explícitos e factuais.
Proveniência de documentos (fundos).
Áreas de concentração e Informação registrada.
interesses (exemplos) Produção, gerenciamento, uso, conservação e destinação de
documentos.

FONTE: Santos (2009, p. 195-196)

82
TÓPICO 2 — GESTÃO DA PRODUÇÃO DOCUMENTAL

Para Elias e Pinto (2016), a aplicação da gestão documental tem, como


vantagens:

• rápido acesso na recuperação das informações de natureza científica;


• diminuição do volume de massa documental;
• otimização do espaço físico para armazenamento dos documentos arquivísticos;
• preservação de documentos de valor secundário;
• redução de custo.

ATENCAO

O valor secundário “se refere ao uso dos documentos para outros fins que
não aqueles para os quais os documentos foram, inicialmente, criados, passando a ser
considerado fonte de pesquisa e informação para terceiros e para a própria administração,
pois contém informações essenciais sobre matérias com as quais a organização lida para
fins de estudo” (INDOLFO, 2007, p. 44).

3 CICLO DE VIDA DOCUMENTAL


A gestão documental, surgida a partir da Teoria das Três Idades,
encontrava-se consolidada ao final do século XX, apesar das aplicações e
práticas diferenciadas, vivenciadas na América do Norte, na Europa e, também,
na América Latina (INDOLFO, 2007).

FIGURA 9 – CICLO DE VIDA DOCUMENTAL

FONTE: <https://arquivopublicors.files.wordpress.com/2014/10/2014-10-29-arquivos-e-
conceitos.png?w=500&h=184>. Acesso em: 29 out. 2020.

83
UNIDADE 2 — GESTÃO DOCUMENTAL E CICLO DE VIDA DOS DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS

A Teoria Das Três Idades revolucionou a arquivística e alavancou a gestão


documental, visto que os documentos deveriam passar por três etapas distintas
e complementares. Dessa forma, os documentos passariam por fases de acordo
com a sua vigência, valor e frequência de uso.

Segundo Costa Filho e Souza (2016), o marco para a enunciação de um ciclo


vital dos documentos foi a apresentação do artigo What Records Shall We Preserve?,
por Philip C. Brooks, em 1940. Nesse trabalho, Brooks faz, pela primeira vez,
a relação do processo de gestão de documentos à vida de organismo biológica.
Apesar da analogia entre a gestão de documentos e a vida de um organismo
biológico, é considerado que a articulação do ciclo vital foi realizada apenas em
1948, no âmbito das comissões Hoover (COSTA FILHO; SOUZA, 2016).

Silva et al. (1999, p. 207) supõem que “o apodítico princípio das três idades
pode ter tido origem na Itália, no início do século XX, por meras razões práticas
de instalação de documentos”. De acordo com Bartalo e Moreno (2015), a ideia
do ciclo de vida dos documentos, que se difundiu em 1950, só foi proposta pelo
arquivista e historiador belga Carlos Wyffels em 1972.

Wyffels, em 1972, apresentou sua Teoria de Três Idades dos


Documentos, que daria lugar a diferentes categorias de arquivo. Tal
teoria está relacionada com a ideia e realidade de que o documento
não é algo morto ou inativo, mas que tem uma vida própria. Esse ciclo
vital, como outros, contempla, depois do nascimento, o crescimento, o
decrescimento e a morte (HERRERA, 1991 p. 173).

Para Costa Filho e Souza (2016) e Caya (2004), o primeiro teórico a fazer
menção às ‘três idades’, no contexto da gestão de documentos arquivísticos, foi o
francês Yves Pérotin, em 1961.

Yves Pérotin formulou o conceito de três idades para o mundo em


língua francesa em 1961, em um artigo publicado na revista Seine
et Paris. Propondo os termos “arquivos correntes”, “arquivos
intermediários” e “arquivos permanentes”, exortou arquivistas para
se concentrarem, primeiro, no contexto de produção dos documentos,
antes da sua transferência aos arquivos, de forma a melhor controlar a
avaliação (CAYA, 2004, p. 1, grifo do autor).

A concepção do conceito de três idades documentais é a segurança da


presença dos métodos arquivísticos em cada uma das idades. Para Sanjuan (1993),
as três idades podem ser consideradas como:
a) Primeira idade: circulação e tramitação dos assuntos iniciados. A
documentação faz parte dos arquivos correntes e é de uso frequente.
b) Segunda idade: o documento ou dossiê referente a um assunto deve
ser conservado, sujeito à consulta ou uso como pano de fundo de
forma pouco frequente. É a fase do arquivo intermediário, em que
o valor primário decresce na mesma proporção em que o aumenta
o valor secundário.
c) Terceira idade: o documento adquire valor permanente, de maneira
que seu uso será unicamente por seu valor cultural ou de investigação.
Sua conservação será definitiva (SANJUAN, 1993, p. 34).

84
TÓPICO 2 — GESTÃO DA PRODUÇÃO DOCUMENTAL

A gestão documental acompanha o ciclo vital dos documentos produzidos


pela instituição no decorrer de suas atividades e funções, determinando os
documentos que serão conservados ou eliminados. A Teoria das Três Idades se refere
aos arquivos: corrente, intermediário e permanente.

FIGURA 10 – TEORIA DAS TRÊS IDADES

FONTE: Os autores

Segundo o Arquivo Nacional (2005, p. 160, grifo do autor), a teoria das


três idades se refere: “aos arquivos correntes, intermediários ou permanentes, de
acordo com a frequência de uso por suas entidades produtoras e a identificação de
seus valores primário e secundário”.

De acordo com Paes (2004), para que os arquivos possam desempenhar


sua função, torna-se indispensável que estejam organizados, e que a metodologia
para tal atividade a ser adotada deva atender às necessidades e às especificidades
das organizações, além de atender às evoluções que passam os arquivos. Essas fases
foram definidas por Jean-Jacques Valette (1973 apud PAES, 2004, p. 21, grifo nosso):

Arquivos de primeira idade ou correntes, constituídos de documentos


consultados frequentemente, são conservados ora nos próprios
escritórios ou repartições que os constituem, ora em dependências
próximas de fácil acesso.
Arquivos de segunda idade ou intermediários, constituídos de
documentos que perderam sua atualidade, mas cujos serviços podem
ainda ser solicitados, seja para tratar de assuntos idênticos, seja para
retomar um problema já focalizado. “Eles não têm necessidade de ser
conservados nas proximidades dos escritórios”. “A permanência dos
documentos, nesses arquivos, é transitória”. “Por isso, são também
chamados de “limbo” ou “purgatório”.

85
UNIDADE 2 — GESTÃO DOCUMENTAL E CICLO DE VIDA DOS DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS

Arquivos de terceira idade ou permanentes, constituídos de


documentos que perderam todo valor de natureza administrativa e
que se conservam em razão do seu valor histórico ou documentário,
constituindo os meios de conhecer o passado e sua evolução. Esses são
os arquivos propriamente ditos.

FIGURA 11 – CICLO DE VIDA DOS DOCUMENTOS

FONTE: Os autores

Autores, como Rosseau e Couture (1998), avaliam o período de vida dos


documentos e definem as três idades, conforme a terminologia internacional
arquivista: ativo, semiativo e definitivo.

FIGURA 12 – COMPARAÇÃO DA TERMINOLOGIA DAS IDADES DOCUMENTAIS

FONTE: Os autores

86
TÓPICO 2 — GESTÃO DA PRODUÇÃO DOCUMENTAL

DICAS

O artigo de Reis e Barros, intitulado Arquivos Semiativos: Um Estudo dos


Marcos Teórico-Conceituais na Gestão de Documentos Por Meio de um Estudo
Metateórico, publicado em 2018, aborda pressupostos teórico-metodológicos dos arquivos
semiativos, sua natureza e conceituação. Ressalta a falta de pesquisa acerca do tema, além
da falta de instrumentalização para a gestão de documentos nesse tipo de arquivo. Para os
autores, o tratamento documental nos arquivos semiativos é necessário para que a gestão
documental seja realizada completa, visando à disseminação da informação, evitando o
recolhimento de documentos sem valor histórico e eliminação equivocada.

FONTE: REIS, L. S.; BARROS, T. H. B. Arquivos semiativos: um estudo dos marcos


teórico-conceituais na gestão de documentos por meio de um estudo metateórico.
Ágora, Florianópolis, v. 27, n. 55, p. 368-400, 2017.

3.1 VALORAÇÃO DOS DOCUMENTOS


Os períodos da idade documental estão relacionados aos valores
administrativos e de informação histórica dos documentos. Para Lopes (2009, p. 270):

A associação de idade a valor significa acreditar que, na primeira idade


– correntes –, os documentos teriam valor primário, isto é, interesse
para o uso administrativo [...]. Na segunda idade – intermediário
–, os documentos podem ter valor primário reduzido, [...] primário
enfraquecido e valor secundário potencial [...]. A terceira idade –
permanente – ou histórico – seria formada por documentos de valores
secundários totais.

QUADRO 2 – VALORES ADMINISTRATIVOS E DE INFORMAÇÃO HISTÓRICA


DOS DOCUMENTOS

Idade Arquivo
1ª idade Arquivo corrente Documentos vigentes, frequentemente consultados.
Final de vigência; documentos que aguardam prazos
Arquivo intermediário longos de prescrição ou precaução;
2ª idade
e/ou central Raramente consultados; aguardam a destinação final:
eliminação ou guarda permanente.
Documentos que perderam a vigência administrativa,
3ª idade Arquivo permanente porém, são providos de valor secundário ou
histórico-cultural.

FONTE: Bernardes (1998, p. 12)

87
UNIDADE 2 — GESTÃO DOCUMENTAL E CICLO DE VIDA DOS DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS

De acordo com Rousseau e Couture (1998, p. 117):

O valor primário se define como sendo a qualidade de um documento


baseado nas utilizações imediatas e administrativas que deram os seus
criadores, por outras palavras, nas razões para as quais o documento
foi criado. O valor secundário se define como sendo a qualidade do
documento baseada nas utilizações não imediatas ou científicas.
Essa qualidade radica, essencialmente, no testemunho privilegiado e
objetivo que o documento fornece.

Conforme Schellenberg (2006) e Elias e Pinto (2016), os documentos


arquivísticos estão relacionados às atividades e aos motivos pelos quais foram
originados, dizendo respeito à entidade produtora, sendo atribuído o valor
primário quando os documentos são úteis para a administração; já os documentos
de valor secundário proporcionam informação de caráter informativo referente à
investigação histórica e à pesquisa.

QUADRO 3 – IDADE, VALORES E LOCAL DE ARQUIVAMENTO


Idade do Frequência de uso / Local de
Valor Duração média
documento acesso arquivamento
Documentos vigentes Arquivo Corrente
Imediato ou – muito consultados (próximo ao
Administrativa Cerca de 5 anos
Primário – acesso restrito ao produtor)
organismo produtor
Documentos vigentes
Arquivo Central
– regularmente
I – Primário (próximo à
5 + 5 = 10 anos consultados – acesso
reduzido administração)
restrito ao organismo
produtor
II – Primário
Intermediária 10 + 20 = 30 anos Documentos vigentes – Arquivo
mínimo
prazo precaucional longo Intermediário
– referência ocasional (exterior à
– pouca frequência de instituição ou
III – Secundário uso – acesso público anexo ao Arquivo
30 + 20 = 50 anos
Potencial mediante autorização Permanente)

Documentos que
Arquivo
Secundário perderam a vigência
Histórica Definitiva Permanente ou
Máximo – valor permanente –
Histórico
acesso público pleno

FONTE: Bernardes (1998, p. 13)

De acordo com Bernardes (1998), o reconhecimento dos três momentos da


gestão é fácil, e não necessariamente consecutivo, sendo:

1- Produção dos documentos: inclui a elaboração de formulários,


implantação de sistemas de organização da informação, aplicação
de novas tecnologias aos procedimentos administrativos.

88
TÓPICO 2 — GESTÃO DA PRODUÇÃO DOCUMENTAL

2- Manutenção e uso: implantação de sistemas de arquivo, seleção


dos sistemas de reprodução, automatização do acesso, mobiliário,
materiais, local.
3- Destinação final dos documentos: programa de avaliação que
garanta a proteção dos conjuntos documentais de valor permanente
e a eliminação de documentos rotineiros e desprovidos dos valores
probatório e informativo (BERNARDES, 1998, p. 13).

Ainda, a respeito das fases, Indolfo (1995, p. 15) argumenta que a primeira
fase – produção é o “ato de elaborar documentos em razão das atividades
específicas de um órgão ou setor”. Aqui, o objetivo é o controle da produção
de documentos, garantindo a gestão dos recursos e diminuindo a produção de
documentos dispensáveis.

A segunda fase – utilização de documentos – refere-se ao fluxo percorrido


pelos documentos necessário ao cumprimento da sua função administrativa,
assim com sua guarda após cessar seu trâmite. Essa fase corresponde à gestão
dos arquivos correntes e intermediários. Nela, são desenvolvidos os sistemas de
arquivos, assim como os mecanismos de recuperação da informação.

A terceira fase – destinação de documentos – envolve as atividades de


análise, seleção e fixação de prazos de guarda dos documentos. É a última fase,
é nela que se avaliará se os documentos serão eliminados ou serão recolhidos ao
arquivo premente. Essas fases estão relacionadas diretamente à valoração dos
documentos arquivísticos.

QUADRO 4 – VALORES DOS DOCUMENTOS


Valores dos documentos
Prazos de Guarda
de arquivo
Imediato Administrativo
Temporária
legal fiscal
Mediato Histórico
Permanente
probatório informativo

FONTE: Bernardes (1998, p. 26)

Bernardes (1998) elenca os documentos de valor imediato e guarda


temporária:

• Documentos que sejam cópias ou duplicatas de originais destinados à


guarda permanente.
• Documentos cujas informações básicas possam ser recuperadas em outros.
• Documentos cujos textos tenham sido impressos na sua totalidade.
• Documentos cujos textos estejam reproduzidos em outros.
• Documentos que apresentem repetição da informação e qualidade técnica
inferior (foto, fita de vídeo, disquete, disco ótico etc.).

89
UNIDADE 2 — GESTÃO DOCUMENTAL E CICLO DE VIDA DOS DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS

FIGURA 13 – VALORES DOS DOCUMENTOS

FONTE: Bernardes (1998, p. 27)

Ainda, Bernardes (1998) elenca os documentos de valor mediato e guarda


permanente:

• De criação, constituição, modificação ou extinção do órgão produtor (Leis,


Decretos, Portarias e Resoluções).
• Atos normativos que reflitam a organização e o funcionamento do órgão
(regulamentos, regimentos, normas, organogramas e fluxogramas).
• Convênios, ajustes, acordos e termos de cooperação.
• Balanços, livros-razão e livros-diário.
• Atas e resoluções.
• Correspondências relativas à atividade-fim das unidades da superior
administração.
• Publicações oficiais e/ou coproduções.
• Projetos de edificações públicas e particulares.
• Projetos de infraestrutura e equipamentos urbanos.
• Documentos que firmem jurisprudência jurídica, administrativa ou técnica
(pareceres apreciados judicial ou administrativamente e que possuam
características inovadoras, não encontradas nos textos legais).
• Documentos relativos à administração de pessoal: planos de salários e
benefícios e criação/reestruturação de carreiras.
• Documentos relativos ao patrimônio imobiliário.
• Documentos que registrem as atividades-fim do órgão: planos, projetos,
programas, pesquisas e relatórios anuais.
• Documentos que contenham vinhetas, iluminuras e caligrafias especiais.
• Documentos de divulgação de obras, eventos ou atividades desenvolvidas
pelo órgão (convites, folhetos, cartazes).
• Documentos relativos ao parcelamento do solo.

Os arquivos são classificados conforme a idade e o valor documental.


O arquivo corrente, primeira idade do ciclo documental, é consultado
frequentemente e deve estar próximo dos seus usuários (PAES, 2004). “O valor
primário se relaciona às razões da sua própria produção, considerando seu uso
para fins administrativos, legais e fiscais” (BERNARDES, 1998, p. 19).

90
TÓPICO 2 — GESTÃO DA PRODUÇÃO DOCUMENTAL

Bernardes e Delatorre (2008, p. 10) afirmam que o arquivo intermediário


é composto por “documentos originários do arquivo corrente, com pouca
frequência de uso e que aguardam cumprimento de prazos de prescrição ou
precaução no arquivo destinado à guarda temporária”.

O arquivo permanente de uma entidade “é o seu arquivo corrente


transformado pelas eliminações efetuadas no processo de avaliação e pelas
mudanças observadas nos valores primários e secundários dos documentos”
(GONÇALVES, 1998, p. 35).

Os arquivos são constituídos de documentos produzidos e acumulados,


entidade coletiva, pública ou privada, pessoa ou família, durante o desenvolver das
atividades, independentemente da natureza do suporte (ARQUIVO NACIONAL,
2005). Elias e Pinto (2016, p. 32) esquematizaram o ciclo de vida dos documentos,
desde a sua produção, as fases de arquivamento e os valores documentais.

FIGURA 14 – CICLO DE VIDA DOS DOCUMENTOS

FONTE: Elias e Pinto (2016, p. 32)

91
UNIDADE 2 — GESTÃO DOCUMENTAL E CICLO DE VIDA DOS DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS

Agora que estudamos a gestão documental, a Teoria das Três Idades e os


valores documentais, vamos adentrar no próximo tópico, que trará as funções
dos arquivos que fazem parte da gestão documental.

92
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• A gestão da informação é a administração do uso e circulação da informação,


com informação-base na teoria ou ciência da informação.

• A gestão documental é um dos componentes da gestão da informação, isso


porque expande a capacidade da gestão administrativa.

• A gestão dos documentos tem seu surgimento relacionado à Segunda Guerra


Mundial.

• O epicentro da gestão documental foi nos Estados Unidos da América, sob a


denominação de records management.

• Doravante a Segunda Guerra Mundial e, em decorrência dos progressos


científico e tecnológico alcançados pela sociedade, a produção documental
teve um crescimento exponencial.

• Antes da Teoria das Três Idades, os documentos arquivísticos percorriam somente


um caminho, do arquivo corrente para a eliminação ou arquivo permanente.

• O surgimento da gestão de documentos foi em função do aumento do fluxo


informacional, principalmente, após a Segunda Guerra Mundial, ocasionando
um volume imensurável de novos documentos.

• O surgimento da gestão documental foi um marco histórico para a Arquivologia,


como a criação do Arquivo Nacional da França; a Fundação da École des
Chartes, no mesmo país; e o surgimento do Princípio da Proveniência, em 1841.

• Em 1950, os Estados Unidos aprovaram a Lei Federal dos Documentos


(Federal Records Act). Essa lei definiu, do ponto de vista legal, a gestão de
documentos do país.

93
AUTOATIVIDADE

1 Acerca da gestão documental, classifique V para sentenças verdadeiras e


F para falsas:

( ) A gestão documental faz parte da gestão da informação.


( ) Antes da gestão documental, baseada na Teoria das Três Idades, existia a
Teoria das Duas Idades.
( ) Na Teoria das Duas Idades, os documentos passavam por três etapas:
arquivo corrente, eliminação/recolhimento e arquivo intermediário.
( ) A gestão documental no Brasil é prevista na Constituição Federal, leis e
decretos, sendo, a Lei nᵒ 8.159/1991, a lei de arquivos.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – V – F – V.
b) ( ) V – F – V – F.
c) ( ) F – V – V – F.
d) ( ) V – F – F – V.

94
TÓPICO 3 —
UNIDADE 2

FUNÇÕES ARQUIVÍSTICAS

1 INTRODUÇÃO
Olá, acadêmico! Neste tópico, você terá acesso às operações técnicas
que o arquivista desenvolve durante o exercício profissional, além das funções
arquivísticas.

A gestão documental abrange todas as idades dos documentos e, para


que o arquivista desenvolva uma série de atividades no decorrer do seu exercício,
acabou incorporando as funções arquivísticas, pois elas auxiliam na estruturação
da gestão documental.

Para realizar a gestão da documentação, o arquivista engloba algumas


operações técnicas durante a administração sistemática dos documentos
arquivísticos.

95
FIGURA 15 – GESTÃO DE DOCUMENTOS E OPERAÇÕES TÉCNICAS
UNIDADE 2 — GESTÃO DOCUMENTAL E CICLO DE VIDA DOS DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS

96
FONTE: Elias e Pinto (2016, p. 35)
TÓPICO 3 — FUNÇÕES ARQUIVÍSTICAS

2 FUNÇÕES ARQUIVISTAS
O ciclo de vida documental demanda atividades específicas no
tratamento e arquivamento documentais, e a gestão documental, com suas
etapas, possibilita o gerenciamento dos documentos. Os documentos são fonte
de informações orgânicas relevantes para a instituição e são utilizados para fins
administrativos, probatórios, de pesquisa, culturais, na tomada de decisão e na
inteligência competitiva (ELIAS; PINTO, 2016).

As operações técnicas arquivistas ou etapas da gestão foram elencadas


por Elias e Pinto (2016), Elias (2015), Tovar-Alvarado e Pinto (2012) e Paes (2004)
Essas operações são: criação, tramitação; manutenção, utilização; avaliação;
destinação e arquivamento.

QUADRO 5 – ETAPAS DA GESTÃO DOCUMENTAL

FONTE: Elias (2015, p. 64)

97
UNIDADE 2 — GESTÃO DOCUMENTAL E CICLO DE VIDA DOS DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS

Elias (2015) e Elias e Pinto (2016) denominam as funções arquivísticas


como operações técnicas arquivistas ou etapas da gestão. Para Rousseau e Couture
(1998), essas operações são as funções arquivísticas, e são inerentes às atividades
desenvolvidas pelos arquivistas.

Segundo Rousseau e Couture (1998) e Sousa (2012), são sete funções


arquivísticas: criação, avaliação, aquisição, conservação, classificação, descrição
e difusão. Segundo Couture et al. (2005), as funções arquivísticas delimitam a
organização e o tratamento dos documentos ao longo de todo o ciclo de vida.
Essas funções são desenvolvidas pelo arquivista durante o exercício profissional.

2.1 PRODUÇÃO/CRIAÇÃO
A produção de documentos arquivísticos está relacionada às atividades
específicas das organizações, órgãos, pessoas ou entidades coletivas. De acordo
com Paes (2009), as atividades e funções dessa etapa são:

[...] elaboração dos documentos em decorrência das atividades de um


órgão ou setor. Nessa fase, o arquivista deve contribuir para que sejam
criados apenas documentos essenciais à administração da instituição
e evitadas duplicação e emissão de vias desnecessárias; propor
consolidação de atos normativos alterados ou atualizados com certa
frequência, visando à perfeita compreensão e interpretação dos textos;
sugerir criação ou extinção de modelos e formulários; apresentar estudos
sobre a adequação e o melhor aproveitamento de recursos reprográficos
e informáticos; contribuir para a difusão de normas e informações
necessárias ao bom desempenho institucional; opinar sobre escolha de
materiais e equipamentos; participar da seleção dos recursos humanos
que deverão desempenhar tarefas arquivísticas e afins (PAES, 2009, p. 54).

O arquivista, nessa função, tem o papel de consultor do produtor, pois


possibilita a elaboração de formulários, manuais para a produção de documentos.
Ressalta-se que a produção de documentos arquivísticos se refere ao ato de
elaborar documentos em razão das atividades de uma instituição. Os documentos
arquivísticos nascem da realização dos objetivos para os quais a instituição foi
criada, como resultado de processos de trabalho e do exercício das suas funções.

DICAS

A Universidade de Brasília – UNB – disponibiliza o manual da gestão


documental. Esse manual aborda todas as atividades da gestão, as funções, além da
produção documental dos documentos da UNB.

98
TÓPICO 3 — FUNÇÕES ARQUIVÍSTICAS

FIGURA – MANUAL DE GESTÃO DE DOCUMENTOS

FONTE: <https://www.arquivocentral.unb.br/images/documentos/Manual_de_Gesto_
de_Documentos_da_UnB.pdf>. Acesso em: 9 out. 2020.

A seguir, apresentaremos, a você, o texto completo acerca das orientações para


produção dos documentos da instituição.

Para produzir documentos de arquivo na UNB, devem ser observados os


procedimentos que estão previstos no documento Normas para Padronização de
Documentos da Universidade de Brasília, 11ª edição, 2011, aprovado pelo Ato da Reitoria
nᵒ 1.484, de 16 de dezembro de 2011, que contém modelos de tipologias documentais
produzidas pela UNB. Esse documento foi criado com a finalidade de padronizar a
produção de alguns tipos documentais, que remetem às atividades administrativas e
normativas da UNB. Ao produzir um documento, o colaborador deve observar, ainda, os
seguintes aspectos:

• utilizar, preferencialmente, caneta de tinta azul para o preenchimento dos campos


necessários;
• imprimir, preferencialmente, o documento em ambas as faces do papel; nesse caso, as
margens esquerda e direita terão as distâncias invertidas nas páginas pares (margem-
espelho); realizar qualquer solicitação ou informação inerente ao documento por meio
de despacho no próprio documento ou, caso seja possível, em folha de despacho, a ser
incluída ao fim, utilizando-se tantas folhas quanto for necessário;
• usar a frente e o verso da folha de despacho, não sendo permitida a inclusão de novas
folhas até o total aproveitamento do verso; não rasurar os documentos, nem fazer
neles emendas a lápis, à caneta ou com qualquer tipo de corretivo;
• não apor carimbo, numeração e rubrica inicial nos documentos, pois esses
procedimentos são exclusivos na formação do processo; respeitar a ordem natural de
produção dos documentos, ou seja, do mais antigo para o mais recente; datar e assinar
o documento.

As mensagens enviadas por e-mail (correio eletrônico) são consideradas


documentos arquivísticos quando declaradas pela instituição como meio de registro
da comunicação, e resultam do desempenho das suas funções e atividades. Conforme
orientação da Câmara Técnica de Documentos Eletrônicos do Conselho Nacional de
Arquivos (CONARQ):

Uma vez reconhecida como um documento arquivístico,


a mensagem de correio eletrônico deverá ser dotada das
qualidades inerentes a esse documento: organicidade,
unicidade, confiabilidade, autenticidade e acessibilidade.
Nesse sentido, são documentos arquivísticos as mensagens
de correio eletrônico com a capacidade de:

99
UNIDADE 2 — GESTÃO DOCUMENTAL E CICLO DE VIDA DOS DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS

• conduzir as atividades de forma transparente, possibilitando


a governança e o controle social das informações;
• apoiar e documentar a elaboração de políticas e o processo
de tomada de decisão;
• possibilitar a continuidade das atividades em caso de sinistro;
• fornecer evidência em caso de litígio;
• proteger os interesses do órgão ou da entidade e os direitos
dos funcionários e dos usuários ou clientes;
• assegurar e documentar as atividades de pesquisa,
desenvolvimento e inovação;
• manter as memórias corporativa e coletiva (CTDE, 2012, p. 13).

Dessa forma, faz-se necessária a utilização do e-mail institucional (@unb.br) para


envio e recebimento de mensagens relacionadas às atividades e às funções da UNB, que
devem ser tratadas, geridas e preservadas como os demais documentos arquivísticos.

2.2 AVALIAÇÃO
A função e a avaliação de documentos em arquivos são fundamentais
para a gestão da informação. É uma atividade realizada por meio de critérios
estabelecidos, estabelecendo os prazos de guarda e destinação dos documentos.
Essa destinação pode ser a eliminação ou a preservação permanente.

A avaliação documental é uma atividade de grande importância nos


arquivos públicos e privados. Tem, como objetivo, identificar os valores dos
documentos, possibilitando a eliminação criteriosa dos documentos que não
têm valores secundários estabelecidos. De acordo com Bernardes (1998, p. 14), a
avaliação é definida como um:

Trabalho interdisciplinar que consiste em identificar valores para os


documentos (imediato e mediato) e analisar seu ciclo de vida, com
vistas a estabelecer prazos para sua guarda ou eliminação, contribuindo
para a racionalização dos arquivos e eficiência administrativa, além da
preservação do patrimônio documental.

Para o Conselho Nacional de Arquivos – CONARQ (2001, p. 42), entende-


se a avaliação como atividade fundamental do ciclo de vida dos documentos,
pois é nessa atividade que serão definidos “quais são os documentos que vão ser
preservados para fins administrativos ou pesquisa”. Para Lampert e Flores (2014,
p. 15), a avaliação “compreende que a avaliação delimita as fontes arquivísticas
de informação que serão deixadas às gerações futuras”.

A avaliação deve ser precedida de um estudo criterioso dos


documentos e de suas funções, pois envolve a análise de vários fatores,
como a identificação de seu valor primário ou secundário, com base
em seu caráter administrativo, contábil, tributário, jurídico, histórico e
informativo (LAMPERT; FLORES, 2014, p. 18).

100
TÓPICO 3 — FUNÇÕES ARQUIVÍSTICAS

A avalição documental necessita do conhecimento da instituição, sua


estrutura, objetivos, missão, visão e valores, além das atividades produtoras dos
documentos arquivísticos. Bernardes (1998) elenca alguns objetivos da avaliação:

• redução da massa documental;


• agilidade na recuperação dos documentos e das informações;
• eficiência administrativa;
• melhor conservação dos documentos de guarda permanente;
• racionalização da produção e do fluxo de documentos (trâmite);
• liberação do espaço físico;
• incremento à pesquisa.

O CONARQ (2001) define a avaliação como atividade fundamental do


ciclo de vida dos documentos, pois, nessa atividade, são definidos os documentos
que vão ser preservados para fins administrativos e de pesquisas.

A avaliação documental só poderá ser realizada mediante a formação de


uma equipe multidisciplinar, com os objetivos de avaliar, eliminar os documentos
sem valor mediato (histórico) e recolher os documentos com valor histórico para
os arquivos permanentes. De acordo com o CONARQ (2001, p. 46), essa comissão
será composta por:

Arquivista ou responsável pela guarda da documentação; servidores


das unidades organizacionais às quais se referem os documentos
a serem destinados, com profundo conhecimento das atividades
desempenhadas; historiador ligado à área de pesquisa de que trata
o acervo; profissionais da área jurídica, responsáveis pela análise
do valor legal dos documentos; profissionais ligados ao campo de
conhecimento de que trata o acervo-objeto da avaliação (economista,
sociólogo, engenheiro, médico); e outros profissionais que possam
colaborar com as atividades da comissão.

Os arquivos públicos, para poderem realizar a eliminação e o recolhimento


de qualquer documento, têm que ter a tabela de temporalidade estabelecida e
aprovada pelo Conselho Nacional de Arquivos. Esse instrumento arquivístico é o
produto da avaliação documental, e tem, como finalidade, a definição de prazos de
guardas à destinação dos documentos.

Desse modo, para que os arquivos possam criar suas tabelas de


temporalidade, o CONARQ elaborou a Resolução nᵒ 14, de 2001 – Classificação,
temporalidade e destinação de documentos e arquivos; relativos às atividades-
meio da administração pública. Essa resolução é uma metodologia básica para a
elaboração de demais tabelas de temporalidade no âmbito dos arquivos públicos,
servindo para evitar a acumulação e a eliminação desordenadas dos documentos.
Essa resolução foi revogada e, em 2020, o Arquivo Nacional aprovou, por meio da
Portaria AN nᵒ 47, de 14 de fevereiro de 2020, o novo código de classificação e a
tabela de temporalidade e destinação de documentos relativos a atividades-meio
do Poder Executivo Federal.

101
UNIDADE 2 — GESTÃO DOCUMENTAL E CICLO DE VIDA DOS DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS

FIGURA 16 – CÓDIGO DE CLASSIFICAÇÃO E A TABELA DE TEMPORALIDADE E DESTINAÇÃO


DE DOCUMENTOS RELATIVOS A ATIVIDADES-MEIO DO PODER EXECUTIVO FEDERAL

FONTE: <http://www.siga.arquivonacional.gov.br/images/codigos_tabelas/Portaria_47_CCD_
TTD_poder_executivo_federal_2020_instrumento.pdf>. Acesso em: 9 out. 2020.

Resumindo, o processo de avaliação de documento ocorre nos arquivos


intermediários, que têm, como finalidade, o arquivamento provisório dos
documentos que não são mais utilizados pela administração. Também assegura
a preservação, aguardando o cumprimento dos prazos estabelecidos na tabela de
temporalidade da instituição e, posteriormente, são eliminados ou recolhidos aos
arquivos permanentes (PAES, 2004).

Entretanto, sabemos que, muitas vezes, os documentos são encaminhados


aos arquivos permanentes sem passar por uma avaliação, o que acaba ocasionando
uma massa documental acumulada e prejudicando a função do arquivo permanente,
a de disponibilizar a informação. De acordo com Soares (1975, p. 2 apud OLIVEIRA;
BORGES, 2007, p. 3):

A nossa realidade é a de um país onde, ou se eliminam papéis que


devem ser preservados ou nada se elimina, pelo receio de se ocasionar
prejuízos futuros, acarretando para as repartições o ônus de depósitos
de arquivo sem significação maior e sem objetividade, volumosos de
difícil acesso às informações e aos documentos.

Nesse sentindo, percebe-se que sem a realização da avaliação de forma


criteriosa, regulamentada e praticada por profissionais capacitados pode haver
perdas irreparáveis ao patrimônio documental.

102
TÓPICO 3 — FUNÇÕES ARQUIVÍSTICAS

A avaliação é essencial para que o arquivo permanente possa exercer sua


função de:

[...] reunir, conservar, arranjar, descrever e facilitar a consulta dos


documentos oficiais, de uso não corrente, ou seja, concentrar sob sua
custódia, conservar e tornar acessíveis documentos não correntes, que
possam tornar-se úteis para fins administrativos, pesquisas históricas
e outros fins (PAES, 2004, p. 121).

2.3 AQUISIÇÃO
A aquisição de documentos refere-se à entrada de documentos nos
arquivos correntes, intermediários permanentes:

Contempla a entrada de documentos nos arquivos correntes,


intermediário e permanente; refere-se ao arquivamento corrente e
aos procedimentos de transferência e recolhimento de acervo; cabe ao
arquivista estabelecer as regras e procedimentos para assegurar que
o acervo recebido é completo, confiável e autêntico e, desta forma,
lhe conferir o máximo de credibilidade como evidência, testemunha
do contexto de sua criação e fonte de informação; esta função, mais
evidente nos arquivos permanentes [...] (SANTOS, 2009, p. 179).

O Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística 2005) relaciona a


definição de aquisição com a de entrada de documentos e define como “ingresso
de documentos em arquivo, seja por comodato, compra, custódia, dação,
depósito, doação, empréstimo, legado, permuta, recolhimento, reintegração ou
transferência; Ingresso de documentos em arquivo corrente através do protocolo”
(ARQUIVO NACIONAL, 2005, p. 85). Segundo Couture (2015, p. 18):

A aquisição também está relacionada à entrada de documentos


não institucionais no arquivo. Essa entrada pode se dar por
meio de doação, compra, apenas guarda, empréstimo, troca e
reintegração. Por essas características esta função se relaciona
também com a avaliação. Uma vez que esta deve ocorrer antes
de toda e qualquer aquisição.

2.4 CONSERVAÇÃO/PRESERVAÇÃO
Os procedimentos de conservação têm o objetivo da preservação das
informações e garantir a integridade dos suportes informacionais.

Segundo Conway (1997, p. 27 apud HOLLÓS, 2010, p. 24), a preservação


é definida como uma atividade “de administração e gerenciamento de recursos,
compreendendo políticas, procedimentos e processos que, aplicados de forma
adequada, serão capazes de retardar a deterioração dos materiais e promover o
acesso à informação, intensificando sua importância funcional”.

103
UNIDADE 2 — GESTÃO DOCUMENTAL E CICLO DE VIDA DOS DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS

Na definição do Arquivo Nacional (2005, p. 135), a preservação é a


“prevenção da deterioração e danos em documentos, por meio de adequado
controle ambiental e/ou tratamento físico e/ou químico”. Já a conservação é “um
conjunto de ações estabilizadoras que visam desacelerar o processo de degradação
de documentos ou objetos, por meio de controle ambiental e de tratamentos
específicos (higienização, reparos e acondicionamento)” (CASSARES, 2000, p. 12).

Preservação: é um conjunto de medidas e estratégias de ordem


administrativa, política e operacional que contribuem direta ou
indiretamente para a preservação da integridade dos materiais.
Conservação: é um conjunto de ações estabilizadoras que visam
desacelerar o processo de degradação de documentos ou objetos, por
meio de controle ambiental e de tratamentos específicos (higienização,
reparos e acondicionamento).
Restauração: é um conjunto de medidas que objetivam a estabilização ou
a reversão de danos físicos ou químicos adquiridos pelo documento ao
longo do tempo e do uso, intervindo de modo a não comprometer sua
integridade e seu caráter histórico (CASSARES, 2000, p. 12, grifo nosso).

DICAS

O CONARQ disponibiliza recomendações para o resgate de acervos


arquivísticos danificados por água por meio da Resolução nᵒ 34, de 15 de maio de
2012, que dispõe sobre a adoção das Recomendações para a salvaguarda de acervos
arquivísticos danificados por água pelos órgãos e entidades integrantes do Sistema
Nacional de Arquivos – SINAR.

FIGURA – RECOMENDAÇÕES DO CONARQ

FONTE: <http://conarq.gov.br/images/publicacoes_textos/Recomendacoes__resgate_
acervos_completa.pdf>. Acesso em: 9 out. 2020.

Ficou interessado no assunto? Acesse o link e faça a leitura na íntegra:


http://conarq.gov.br/images/publicacoes_textos/Recomendacoes__resgate_acervos_completa.pdf.

104
TÓPICO 3 — FUNÇÕES ARQUIVÍSTICAS

2.5 CLASSIFICAÇÃO
Essa função refere-se à criação dos planos de classificação. Esses planos,
de acordo com o Arquivo Nacional (2005, p. 132), são o “esquema de distribuição
de documentos em classes, de acordo com métodos de arquivamento específicos,
elaborado a partir do estudo das estruturas e funções de uma instituição e da
análise do arquivo por ela produzido”. Normalmente, utilizada nos arquivos de
primeira idade, correntes ou ativos.

A classificação dos documentos foi objeto de muitas tentativas. Para


reagrupar os documentos fizeram uso, ao mesmo tempo, locais,
formas simbólicas, divisões por tipos de documentos ou por assuntos,
a estrutura ou funções e atividades da instituição (ROSSEAU;
COUTURE, 1998, p. 49).

Segundo Camargo e Bellotto (1996), a classificação é a: “sequência de


operações que, de acordo com as diferentes estruturas, funções e atividades da
entidade produtora, visam distribuir os documentos de um arquivo”.

Para Bernandes e Delatorre (2008), a classificação tem como a recuperação


do contexto original de produção de documentos, visibilidade às funções,
subfunções e atividades do organismo produtor, controle de trâmites, atribuição
de códigos numéricos, além de fornecer subsídios para a avaliação dos documentos.

FIGURA 17 – OBJETIVOS E BENEFÍCIOS DA CLASSIFICAÇÃO

FONTE: Adaptada de Bernandes e Delatorre (2008)

105
UNIDADE 2 — GESTÃO DOCUMENTAL E CICLO DE VIDA DOS DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS

O CONARQ disponibiliza o Código de classificação de documentos


de arquivo para a administração pública: atividades-meio e a tabela básica de
temporalidade e destinação de documentos de arquivo relativos às atividades-
meio da administração, esse plano constituem elementos essenciais à organização
dos arquivos correntes e intermediários, permitindo acesso aos documentos por
meio da racionalização e controle eficazes das informações neles contidas.

A utilização do plano/código possibilita o controle e a rápida


recuperação de informações, bem como orientar as atividades de racionalização
da produção e fluxo documentais, avaliação e destinação dos documentos
produzidos pelas instituições.

A classificação refere-se ao estabelecimento de classes nas quais


se identificam as funções e as atividades exercidas, e as unidades
documentárias a serem classificadas, permitindo a visibilidade de uma
relação orgânica entre uma e outra, e determinando agrupamentos e
a representação do esquema de classificação proposto sob a forma de
hierarquia (CONARQ, 2020, p. 7).

Sendo possível utilizar em sua estrutura a codificação numérica para


assinalar as classes, subclasses, grupos e subgrupos preestabelecidos, assim
facilitando a ordenação, a escolha do método de arquivamento e a localização,
física e lógica (CONARQ, 2020).

Para a construção da estrutura do plano de classificação, o CONARQ se


baseou no sistema de classificação decimal (CDD), desenvolvido por Dewey, em
1873, fazendo a divisão em dez classes e, sucessivamente, em dez subclasses, dez
grupos e dez subgrupos, usando-se para isso a notação decimal.

106
TÓPICO 3 — FUNÇÕES ARQUIVÍSTICAS

FIGURA 18 – PLANO DE CLASSIFICAÇÃO

FONTE: <http://www.siga.arquivonacional.gov.br/images/codigos_tabelas/Portaria_47_CCD_
TTD_poder_executivo_federal_2020_instrumento.pdf>. Acesso em: 9 out. 2020.

O Plano de classificação do CONARQ e Arquivo Nacional está disponível


por meio da Portaria nᵒ 47, de 14 de fevereiro de 2020, o novo código de classificação
e a tabela de temporalidade e destinação de documentos relativos a atividades-meio
do Poder Executivo Federal.

2.6 DESCRIÇÃO
A função de descrição arquivista é utilizada para identificar um documento
arquivístico dentro de determinados arquivos. A descrição arquivística é a
representação das informações contidas nos documentos de um arquivo. De acordo
com o Arquivo Nacional (2005, p. 67), a descrição é definida como um “conjunto
de procedimentos que leva em conta os elementos formais e de conteúdo dos
documentos para elaboração de instrumentos de pesquisa”.

Nesse sentido, Lopez (2002, p. 12) ressalta que “somente a descrição
arquivística garante a compreensão ampla do conteúdo de um acervo,
possibilitando tanto o conhecimento como a localização dos documentos que
o integram”. Segundo Bellotto (2006), a descrição arquivística é uma atividade
de arquivos permanentes, não se enquadrando nos arquivos correntes e
intermediários. Lopez (2002, p. 12) afirma que “sem a descrição, corre-se o risco
de criar uma situação análoga à do analfabeto diante de um livro, que ele pode
pegar e folhear, mas ao qual não pode ter acesso completo por não possuir meios
que lhe permitam compreender a informação”.

107
UNIDADE 2 — GESTÃO DOCUMENTAL E CICLO DE VIDA DOS DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS

Neste contexto, Paes (2004) menciona que o trabalho de um arquivo só é


completo quando há a elaboração de instrumentos de pesquisa, que é o produto
da descrição arquivística. Bellotto (2006, p. 179) discorre que “o processo de
descrição consiste na elaboração de instrumentos de pesquisa que possibilitem
a identificação, o rastreamento, a localização e utilização de dados”. Sousa et al.
(2006, p. 41) apontam:

[...] que é o ato de descrever e representar informações contidas em


documentos e/ou fundos de arquivo, gerando instrumentos de pesquisa
(inventários, guias, catálogos etc.), os quais explicam os documentos
de arquivo quanto a sua localização, identificação e gestão, além de
situar o pesquisador quanto ao contexto e os sistemas de arquivo que
os gerou. As atividades de descrição são importantes em um arquivo
porque garantem a compreensão do acervo arquivístico.

Dessa forma, os instrumentos de pesquisa são utilizados para facilitar o


acesso do pesquisador aos documentos. Na compressão de Paes (2004, p. 126),
“os instrumentos de pesquisa se destinam a orientar os usuários nas diversas
modalidades de um acervo documental”. Bellotto (2006, p. 179) explica que “[...]
a descrição é a única maneira de possibilitar que os dados contidos nas séries e/
ou unidades documentais cheguem até os pesquisadores”.

[...] Um dos objetivos principais da descrição arquivística, portanto


é registrar essa proveniência na descrição arquivística e em nossos
sistemas de controle intelectual e acesso. Em outras palavras, nossos
sistemas de descrição arquivística têm que documentar os arquivos
em seu contexto (CUNNINGHAM, 2007, p. 78).

A descrição arquivística conta com normas internacionais para a
padronização da descrição que são a Norma Geral Internacional de Descrição
Arquivística (ISAD(G)) e a Norma Internacional de Registro de Autoridade
Arquivística para Entidades Coletivas, Pessoas e Famílias (ISAAR(CPF)).

No Brasil, a elaboração da Norma Brasileira de Descrição Arquivística
(NOBRADE) foi um trabalho da:

[...] Câmara Técnica de Normalização da Descrição Arquivística


(CTNDA), criada em 2001, que acompanha os esforços internacionais
e estimula a participação da comunidade arquivística brasileira, com
a divulgação, levantamento de dados e debates sobre as normas para
descrição arquivística (SOUSA et al., 2006, p. 48).

108
TÓPICO 3 — FUNÇÕES ARQUIVÍSTICAS

FIGURA 19 – NOBRADE

FONTE: <https://http2.mlstatic.com/D_NQ_NP_765536-MLB27227197722_042018-O.webp>.
Acesso em: 9 out. 2020.

A Norma é uma tradução das normas ISAD(G) e ISAAR(CPF), que já


existem e estão publicadas:

Seu objetivo, ao contrário, consiste na adaptação das normas


internacionais à realidade brasileira, incorporando preocupações que o
Comitê de Normas de Descrição do Conselho Internacional de Arquivos
(CDS/CIA) considerava importantes, porém, de foro nacional. Esta norma
deve ser intensamente divulgada no âmbito das instituições arquivísticas
e nos eventos ligados aos profissionais da área, de modo a possibilitar o
seu aperfeiçoamento (NOBRADE, 2006, p. 9).

A NOBRADE é voltada para a descrição de documentos em fase


permanente, podendo ser utilizada para a descrição nas fases correntes e
intermediárias. A norma busca interferir o mínimo possível na forma final que
a descrições são apresentadas, bem como não visa aos sistemas de descrição
automatizados. A NOBADRE tem como objetivos:

• Visar facilitar o acesso e intercâmbio de informações em âmbito nacional e


internacional.
• Garantir maior qualidade do trabalho técnico.
• Economia e recursos aplicados e otimização das informações recuperadas.
• Uso mais ágil pelo pesquisador de instrumentos de pesquisa que estruturam
de maneira semelhante as informações.

109
UNIDADE 2 — GESTÃO DOCUMENTAL E CICLO DE VIDA DOS DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS

A NOBRADE tem quatro princípios definidos, a saber:

FIGURA 20 – PRINCÍPIOS DA NOBRADE

FONTE: Adaptada de Conselho nacional de Arquivos (2006)

Descrição do geral para o particular – com o objetivo de representar o


contexto e a estrutura hierárquica do fundo e suas partes componentes.
Informação relevante para o nível de descrição – com o objetivo de
representar com rigor o contexto e o conteúdo da unidade de descrição;
Relação entre descrições – com o objetivo de explicitar a posição da
unidade de descrição na hierarquia.
Não repetição da informação – com o objetivo de evitar redundância de
informação em descrições hierarquicamente relacionadas (NOBRADE,
2006, p. 10-11).

Sua estrutura está dividida em oito áreas compreendendo 28 elementos de


descrição. Diferente da ISAD(G), possui mais uma área (área 8) e dois elementos de
descrição (6.1 e 8.1):

(1) Área de identificação – registra-se informação essencial para identificar a


unidade de descrição.
(2) Área de contextualização – registra-se informação sobre a proveniência e
custódia da unidade de descrição.
(3) Área de conteúdo e estrutura – registra-se informação sobre o assunto e a
organização da unidade de descrição.
(4) Área de condições de acesso e uso –registra-se informação sobre o acesso à
unidade de descrição.
(5) Área de fontes relacionadas – registra-se informação sobre outras fontes que
têm importante relação com a unidade de descrição (NOBRADE, 2006).
(6) Área de notas – registra-se informação sobre o estado de conservação e/ou
qualquer outra informação sobre a unidade de descrição que não tenha lugar
nas áreas anteriores.
(7) Área de controle da descrição – registra-se informação sobre como, quando e
por quem a descrição foi elaborada.
(8) Área de pontos de acesso e descrição de assuntos – registra-se os termos
selecionados para localização e recuperação da unidade de descrição.

110
TÓPICO 3 — FUNÇÕES ARQUIVÍSTICAS

Dos 28 elementos na norma, sete são obrigatórios:

• Código de referência.
• Título.
• Data (s).
• Nível de descrição.
• Dimensão e suporte.
• Nome (s) do (s) produtor (es).
• Condições de acesso (somente para descrições em níveis 0 e 1).

2.7 DIFUSÃO
A difusão na arquivologia constitui-se em um dos “quatro grandes sectores
principais que foram objeto dos trabalhos dos especialistas dos arquivos, ou seja, o
tratamento, a conservação, a criação e a difusão” (ROUSSEAU; COUTURE, 1998, p.
48). Para que essa função seja executada corretamente, é necessário que todas as outras
funções sejam executadas (BELLOTO, 2008; SOUSA, 2012).

[...] A difusão é a ação de fazer conhecer, de pôr em valor, de transmitir ou


de deixar acessíveis uma ou várias informações contidas em documentos
de arquivos a seus usuários (pessoas ou organismos) conhecidos ou
potenciais para responder a suas necessidades específicas. A difusão dos
arquivos é ainda uma atividade de múltiplos aspectos, pois compreende
todas as relações mantidas pelo pessoal do centro de arquivos com
sua clientela interna ou externa, e isso, nas três idades dos documentos
(CHARBONNEAU, 2008, p. 374).

O Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística (2005) não define


o termo difusão. Para Rockembach (2015), o conceito que mais se aproxima
de difusão é o termo Disseminação da Informação, que é o “fornecimento e
difusão de informações através de canais formais de comunicação" (ARQUIVO
NACIONAL, 2005, p. 71).

Neste sentido, a difusão em arquivos consiste na busca de estratégias


que visem a acessibilidade (facilitar o acesso, procurar vencer as
barreiras tecnológicas e linguísticas), transparência (tornar público),
atingir determinado público (através do marketing e demais
ferramentas auxiliares), entender qual é o público (estudo de
usuários e comportamento informacional), estudar as competências
informacionais do público (literacia informacional / educação
informacional, distinguindo-a da educação patrimonial), realizar a
mediação (selecionar, filtrar, acrescentar qualidade informacional
na recuperação de conteúdos), procurando uma maior proximidade
dos usuários à informação contida nos acervos, por meio de vários
canais de comunicação ou aqueles considerados mais adequados,
considerando três vértices principais: os usuários, o conteúdo e a
tecnologia (ROCKEMBACH, 2015, p. 105).

111
UNIDADE 2 — GESTÃO DOCUMENTAL E CICLO DE VIDA DOS DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS

Para que os arquivos possam executar essa atividade, Bellotto (2008, p.


228) ressalta que:

Cabem ao serviço de difusão cultural duas vias contrárias de ação:


“a que lança elementos de dentro do arquivo para fora, procurando
atingir um campo de abrangência cada vez mais amplo, e a que
permite o retorno dessa mesma política, acenando com atrativos no
recinto do arquivo.

DICAS

Deixamos, como sugestão de leitura, o artigo de Fernanda Frasson Martendal


e Eva Cristina Leite da Silva, intitulado A Abordagem da Difusão Arquivística nos Artigos
de Periódicos Científicos A1 das Áreas do Conhecimento “Comunicação e Informação”
e “Educação” da CAPES. O objetivo do artigo foi o de identificar a abordagem da difusão
arquivística no escopo da literatura em Arquivologia, ciência da informação e educação.
Contextualiza a difusão arquivística como função central para os arquivos atuais e vinculada
diretamente com aspectos culturais e educativos, que fazem do arquivista um formador,
das práticas no arquivo um processo de ensino-aprendizagem e do usuário, um sujeito
ativo e interagente.

FONTE: MARTENDAL, F. F.; SILVA, E. C. L. da. A abordagem da difusão arquivística nos artigos
de periódicos científicos A1 das áreas do conhecimento “Comunicação e Informação” e
“Educação” da CAPES. Ci. Inf. Rev., Maceió, v. 7, n. esp, p. 41-56, 2020.

QUADRO 6 – RESUMO DAS FUNÇÕES ARQUIVÍSTICAS

FUNÇÃO OBJETIVOS
“Contempla os procedimentos relacionados à manutenção do maior
rigor possível na produção dos documentos de arquivo, abrangendo
Criação / Produção definição de normas, conteúdo, modelos, formato e trâmite; o papel do
arquivista é de conselheiro, de consultor ao produtor do documento
por meio da elaboração de manuais de produção de documentos [...]”.
“Feita a partir de critérios preestabelecidos, definição de prazos de
guarda e destinação (eliminação ou preservação permanente) da
documentação arquivística de uma dada instituição; [...] contempla
a participação do arquivista nas ações da Comissão Permanente de
Avaliação de Documentos, na elaboração e na aplicação da tabela de
temporalidade, bem como os editais e listas de descarte e eliminação
Avaliação de documentos arquivísticos e a sujeição desses instrumentos à
instituição arquivística na esfera de competência [...]; também abrange
a atividade de fiscalização visando evitar a eliminação não autorizada
de documentos arquivísticos; [...] abrange a prática de microfilmagem
e de digitalização de documentos; [...] também se inserem estudos
para a definição de critérios de seleção de amostragem para séries
documentais elimináveis”.

112
TÓPICO 3 — FUNÇÕES ARQUIVÍSTICAS

“Contempla a entrada de documentos nos arquivos corrente,


intermediário e permanente; refere-se ao arquivamento corrente e
Aquisição aos procedimentos de transferência e recolhimento de acervo; cabe ao
arquivista estabelecer as regras e procedimentos para assegurar que o
acervo recebido é completo, confiável e autêntico [...]”.
“Aspectos relacionados à manutenção da integridade física e/ou
lógica dos documentos ao longo do tempo, bem como as tecnologias
que permitem seu processamento e recuperação; ao arquivista cabe
Conservação / estudar os suportes diversos de registro da informação arquivística e
Preservação suas fragilidades e definir políticas de preservação para cada um deles.
[...] Estão, também, inseridos os planos de prevenção de desastres e os
planos de contingência para minimizar a interrupção das atividades da
instituição em caso de desastres e sinistros [...]”.
“Refere-se à criação e à utilização de planos de classificação que reflitam
as funções, atividades e ações ou tarefas da instituição acumuladora
dos documentos arquivísticos nas fases corrente e intermediária e a
Classificação elaboração de quadros de arranjo na fase permanente; [...] também
abrange fiscalização e controle da utilização correta do plano bem
como contato com os setores produtores a fim de identificar possíveis
necessidades de revisão deste instrumento [...]”.
“Comumente entendida como uma função relacionada à fase
permanente, o que consideramos equivocado, a descrição é uma
ação que perpassa todo o ciclo de vida do documento, devendo ter
Descrição seus elementos adequados a cada uma das suas fases, à unidade
documental a qual se refere [...] e às necessidades do usuário [...]; a
descrição compreende a criação e utilização de índices (temáticos,
onomásticos etc.) e de vocabulários controlados [...]”.
“[...] Não se restringe ao acesso às informações e documentos
armazenados, mas a difusão das práticas para que isso ocorra
adequadamente, por isso, perpassa todas as outras funções: difusão dos
manuais de gestão, plano de classificação e tabelas de temporalidade
e promoção de treinamento para seu uso; difusão da legislação e das
normas internas que regulamentam o acesso ao acervo e o respeito a
Difusão / Acesso
direitos autorais, de uso de imagens e ao sigilo; utilização de sistemas
informatizados de gestão e de formulários e procedimentos de registro
de transferência, recolhimento e descarte de documentos; formas de
atendimento [...], permissão de reprodução ou impressão; elaboração de
guias de acervo, inventários e páginas web; planejamento e realização
de exposições e concursos de pesquisa etc.”.

FONTE: Santos (2012, p. 178-180)

113
UNIDADE 2 — GESTÃO DOCUMENTAL E CICLO DE VIDA DOS DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS

LEITURA COMPLEMENTAR

A TEORIA DOS ARQUIVOS E A GESTÃO DE DOCUMENTOS

1 INTRODUÇÃO

A atividade denominada records management, originalmente cunhada


em inglês e posteriormente traduzida como gestão de documentos, não surgiu
da prática ou teoria dos arquivos, mas por uma necessidade da administração
pública. Jardim (1987, p. 36) esclarece:

[...] As instituições arquivísticas públicas caracterizavam-se pela sua


função de órgão estritamente de apoio à pesquisa, comprometidos com
a conservação e acesso aos documentos considerados de valor histórico.
A tal concepção opunha-se, de forma dicotômica, a de ‘documento
administrativo’, cujos problemas eram considerados da alçada exclusiva
dos órgãos da administração pública que os produziam e utilizavam.

A partir da segunda metade do século passado, há uma reorientação


da profissão dos arquivistas diante do volume documental produzido: entra
em pauta, mais especificamente na América do Norte, de onde repercute
para os demais países ocidentais, a eliminação de documentos antes de serem
recolhidos para guarda permanente. É formulado o conceito de ciclo de vida
dos documentos de arquivo.

Em 1956, o norte-americano Schellenberg publica o seu Arquivos


modernos – princípios e técnicas no qual dedica toda a Parte II à Administração
de arquivos correntes em que se encontram os capítulos: Controle da produção
de documentos, Princípios de classificação, Sistemas de registro, Sistema
americano de arquivamento e Destinação dos documentos. Com esta publicação
abre-se a discussão sobre os arquivos correntes e a sua gestão. Isso não significa
que, na prática, os arquivos correntes tenham passado a ser tratados com base
nos preceitos da arquivologia. As instituições arquivísticas continuaram a tratar
apenas os documentos do arquivo permanente e com o objetivo primeiro de
atender à pesquisa acadêmica. Essa tradição promoveria o distanciamento da
prática da gestão de documentos arquivísticos da teoria dos arquivos.

No Brasil, em 1991, a promulgação da Lei nᵒ 8.159, que dispõe sobre


a política nacional de arquivos públicos e privados e estabelece as suas
competências, vem reforçar a necessidade de um maior envolvimento do
arquivista com as questões relacionadas à gestão dos arquivos correntes, pois
ela estabelece que a gestão dos documentos públicos correntes é de competência
das instituições arquivísticas.

Nessa perspectiva, pretende-se, aqui, identificar quais são os preceitos


da arquivologia e o seu significado nos processos de gestão de documentos
arquivísticos e as principais dificuldades para o acesso à informação arquivística.

114
TÓPICO 3 — FUNÇÕES ARQUIVÍSTICAS

A arquivologia não é um corpo teórico consolidado. Existem abordagens


distintas tanto de um país para outro quanto de uma linha de pensamento para
outra. Como as dimensões desse artigo não permitem um aprofundamento
da discussão sobre essas tensões, tentar-se-á expor os principais conceitos
privilegiando a abordagem jenkinsoniana de Luciana Duranti.

O resgate de Jenkinson por Duranti vem se opor à perspectiva


schellenbergiana de que os documentos correntes são distintos dos documentos
de guarda permanente (TSCHAN, 2002), o que leva Schellenberg propor que o
valor secundário dos documentos, valor para a pesquisa acadêmica, deverá ser a
referência nos processos de eliminação de documentos, por parte dos arquivistas,
com vistas ao recolhimento para a guarda permanente.

Jenkinson considera o arquivo de guarda permanente uma continuidade


do arquivo corrente, condenando a eliminação de documentos por parte
do arquivista, pois essa atividade, segundo esse autor, deve ficar a cargo
exclusivamente do próprio produtor dos documentos. Jenkinson se orienta
pelo valor administrativo e entende que os documentos nunca perdem o valor
de informação e prova para o seu criador. O valor secundário dos documentos
é acidental, como o próprio Schellenberg enxerga, e, portanto, ele não deve ser
referência para eliminações. Essa percepção conduz Jenkinson à formulação das
qualidades dos archives de Imparcialidade e Autenticidade.

Diferentemente de Jenkinson e Duranti, busca-se, aqui, considerar todo


e qualquer arquivo, incluindo o produzido por pessoa ou família, e não apenas
os administrativos e institucionais. Privilegiar a abordagem de Duranti significa,
acima de tudo, compreender o arquivo como evidência dos atos do seu criador,
sendo os documentos a prova desses atos, sejam eles de uma entidade coletiva,
pública ou privada, sejam de uma pessoa.

Além disso, adota-se a perspectiva de Terry Cook, chamada de pós-


custodial, que considera o arquivo além da sua materialidade, identificando a
proveniência dos documentos mais nas ações que os geraram do que no local
onde eles foram produzidos ou de onde foram recolhidos, conforme se pretende
que ficará explícito ao longo da exposição que se segue.

Cabe ressaltar que, sob o ponto de vista conceitual, os documentos


arquivísticos eletrônicos têm as mesmas características dos documentos tradicionais.

2 A GESTÃO DE DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS

Na perspectiva da arquivologia, gestão de documentos é “um conjunto


de medidas e rotinas visando à racionalização e eficiência na criação, tramitação,
classificação, uso primário e avaliação de arquivos” (CAMARGO; BELLOTTO,
1996, p. 100).

115
UNIDADE 2 — GESTÃO DOCUMENTAL E CICLO DE VIDA DOS DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS

Sousa (2003, p. 240) entende a classificação como “a medida crucial


dentro da gestão dos arquivos”. A classificação dos documentos determina e é
determinada pelas demais atividades que compõem a Gestão de Documentos.
Convencionou-se, entre os autores da arquivologia, que a classificação dos
documentos de caráter permanente denomina-se Arranjo. Quando se o utiliza o
termo classificação, ele se refere aos arquivos correntes.

Seguindo essa orientação, para melhor delimitar a discussão que se


segue, discutir-se-á a gestão de documentos arquivísticos com enfoque na sua
classificação. Segundo Camargo e Bellotto (1996, p. 16), classificação é a “sequência
de operações que, de acordo com as diferentes estruturas, funções e atividades da
entidade produtora, visam distribuir os documentos de um arquivo”.

Schellenberg, em 1956, definiu os três elementos da classificação dos


documentos públicos: “a) a ação a que os documentos se referem; b) a estrutura
do órgão que os produz; e c) o assunto dos documentos” (2004, p. 84).

O autor explica cada uma delas: “Uma ação pode ser tratada em termos
de funções, atividades e atos (transactions)” (p. 84). “O segundo elemento a ser
observado na classificação de documentos é a organização da entidade criadora
[...]. A estrutura que se imprime a um órgão [...]” (p. 86).

Schellenberg (2004, p. 92) trata separadamente da classificação por assunto,


pois ela refere-se a documentos não arquivísticos identificáveis dentro de arquivos
de órgãos públicos. Considera-se que as recomendações do autor podem ser
aplicadas também aos arquivos de entidades privadas ou de uma pessoa:

Conquanto os documentos públicos, geralmente, devam ser agrupados


segundo a organização e função, far-se-á exceção a essa regra para
certos tipos de documentos, tais como os que não provêm da ação
governamental positiva ou não estão a ela vinculados. Incluem-se
nesses documentos as pastas de referência e informações [...] Só em
casos excepcionais os documentos públicos devem ser classificados
em relação aos assuntos que se originam da análise de determinado
campo de conhecimento. Esses casos excepcionais referem-se a
materiais de pesquisa, de referência e similares.

A interpretação de que o significado do documento se encontra no contexto


da sua criação é reforçado por Rodrigues (2006, p. 5), ao discutir o tratamento de
documentos arquivísticos:

[...] Os arquivos conservam registros de ações e de fatos como


prova da gestão que os produziu, dos quais são produtos naturais
[...]. O arquivo se forma por um processo de acumulação natural, o
que significa dizer que tem o atributo especial de ser um conjunto
orgânico e estruturado, onde seu conteúdo e significado só podem ser
compreendidos na medida em que se possa ligar o documento ao seu
contexto mais amplo de produção, às origens funcionais.

116
TÓPICO 3 — FUNÇÕES ARQUIVÍSTICAS

Sousa (2003) aponta muitos problemas nos arquivos correntes da


administração pública brasileira derivados da falta de uma metodologia
bem delineada para a classificação. Citam-se alguns trechos do seu trabalho,
buscando identificar os princípios arquivísticos que estão implícitos às
observações do autor:

Os arquivos montados nos setores de trabalho são acervos


arquivísticos constituídos de documentos ativos, semiativos
e inativos, misturados a outros passíveis de eliminação e a
documentos não orgânicos, que não são considerados de arquivo e
que são produzidos ou recebidos fora do quadro das missões de uma
organização (SOUSA, 2003, p. 258).

A referência inicial à ausência de transferência e recolhimento de


documentos é relacionada ao conceito de ciclo de vida dos documentos que,
na verdade, não encontra respaldo nos princípios arquivísticos apesar de ser
amplamente aceito pelos autores de manuais de tratamento de arquivo. Em
seguida, o autor faz referência à presença de documentos não orgânicos misturados
aos demais. Esta situação contraria o próprio conceito de arquivo e o princípio de
manutenção da ordem original ou de procedência interna. Ou seja, o documento
que não resultou de atividades que compõem a missão do seu produtor não tem
relação orgânica com os demais e, portanto, não é um documento arquivístico.
Ele não possui a característica de filiação às ações. Mais adiante:

A organização, quando existe, fundamenta-se no empirismo e na


improvisação. Os métodos oscilam entre a fragmentação dos dossiês
de assunto, o arquivamento por espécie documental11, por ato de
recebimento e expedição, pela numeração etc. [...]. Há casos em
que esse trabalho é feito por bibliotecários. Eles criam códigos de
classificação baseados na lógica e na metodologia da sua profissão. Em
geral dispõem os documentos por assuntos ou pelo nome pelos quais
são conhecidos e aplicam a codificação decimal extraída do método de
Mevil Dewey. Uma das principais características desses instrumentos
é a fragmentação das unidades documentais. Dessa forma, tratam os
documentos individualmente, como se fossem livros ou periódicos
(SOUSA, 2003, p. 259).

O autor identifica a implosão do arquivo, como diz Camargo citada


nas linhas anteriores. A Organicidade é perdida com a fragmentação das
unidades documentais.

Identifica-se nesse relato o desrespeito ao princípio de integridade e à


qualidade de cumulatividade, pois a organização por espécie documental ou
por ato de recebimento e expedição, fatalmente, tira os documentos da sua
ordem natural.

Perde-se a referência que explicita a inter-relação dos documentos,


descontextualiza-se o documento ignorando-se a sua dependência dos demais
para oferecer significado. Sousa (2003, p. 261-262) prossegue:

Nos últimos anos, com o avanço e a banalização da microinformática,

117
UNIDADE 2 — GESTÃO DOCUMENTAL E CICLO DE VIDA DOS DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS

tem aumentado sensivelmente o número de documentos em


suportes informáticos [...]. Normalmente, eles não são considerados
documentos de arquivo, apesar de terem sido produzidos ou
recebidos no quadro das funções e das atividades dos órgãos.
Permanecem, geralmente, nos setores que os acumularam. Em
alguns casos, recebem a denominação de técnicos e são enviados a
bibliotecas e a centros de documentação.

Vê-se aqui também a não observância dos princípios de proveniência


interna e de integridade ou indivisibilidade. Mesmo que o armazenamento
físico de alguns documentos seja feito em local separado, por exemplo, por
questões de conservação, a dependência desses documentos dos demais que
foram produzidos e recebidos no curso das atividades em prol da missão
deverá ficar explicitada em um instrumento de pesquisa de modo a não se
perder a organicidade do arquivo. Quando se retiram documentos do conjunto
ao qual eles pertencem, altera-se o significado desses documentos e dos demais
produzidos conjuntamente a eles. Ainda:

[...] A disposição da documentação existente nos setores de trabalho


dos órgãos é invariavelmente abandonada nesses depósitos de massas
documentais acumuladas [...]. As soluções encontradas resumem-
se, em muitos casos, na microfilmagem sem critérios predefinidos.
Transfere-se para outros suportes a desorganização existente nos
suportes originais. Observa-se, hoje, a substituição desse processo
pelo de digitalização (SOUSA, 2003, p. 264).

Essa questão aponta para um equívoco frequente: providenciar meios


de preservar a documentação supondo que o problema arquivístico seja assim
resolvido. Documentos cujas informações contidas e relacionadas a eles não
estão representadas em um instrumento de pesquisa podem ser considerados
inexistentes, pois não é possível examinar item por item.

Vê-se que muitos problemas podem ser evitados caso os princípios


arquivísticos sejam observados na organização dos arquivos. Apresenta-se como
urgente definir claramente uma metodologia consistente que possa organizar
qualquer arquivo corrente, independentemente das peculiaridades de cada um,
seja ele público ou privado.

Ao lado da demanda por uma metodologia mais consistente para a gestão


de documentos em entidades coletivas, os teóricos da arquivologia são solicitados
a repensar seus desenvolvimentos de modo a dar respostas às questões que surgem
com o advento da chamada era da informação.

Acredita-se que a partir da definição de arquivo pode-se chegar à


definição de informação arquivística: informação arquivística é aquela passível
de ser extraída de um conjunto de documentos desde que estes tenham sido
produzidos ou recebidos no decurso das ações necessárias para a realização da
missão predefinida de uma determinada entidade coletiva, pessoa ou família.

118
TÓPICO 3 — FUNÇÕES ARQUIVÍSTICAS

Assim, identificam-se dois níveis de informação no arquivo que,


conforme Jardim e Fonseca (1998) afirmam, seriam: a informação contida no
documento de arquivo, isoladamente; e a informação contida no arquivo em
si, naquilo que o conjunto, em sua forma, em sua estrutura, revela sobre a
instituição ou sobre a pessoa que o criou.

Reconhecer dois níveis de informação arquivística significa que, para a


elaboração de um Plano de Classificação de documentos, é necessário priorizar
uma delas: ou o conteúdo ou a proveniência dos documentos. Respeitando-se
os princípios arquivísticos, a viabilização do acesso às informações contidas nos
documentos arquivísticos não deverá prejudicar o acesso à informação sobre a
origem do documento.

A partir de Schellenberg, os manuais têm orientado a organização dos


documentos de uso corrente em uma estrutura que espelhe o desenvolvimento
das funções, atividades e tarefas que geram documentos. Em entidades coletivas,
identifica-se, de maneira geral, uma série de funções que são realizadas através de
certo número de atividades as quais se concretizam na execução de um conjunto
de tarefas. Sendo assim, o plano de classificação dos documentos é estruturado
em uma cadeia hierárquica de modo que os níveis superiores reflitam as funções
desenvolvidas para o cumprimento da missão da entidade; os segundos níveis,
as atividades necessárias para a realização de cada função do primeiro nível; e
os terceiros níveis, as tarefas relativas a cada uma das atividades. Dentro destes
terceiros níveis são ordenados os documentos sob o critério mais adequado
àquele tipo12 de documento. Essa classificação é chamada funcional.

A orientação para a organização com vistas ao acesso aos documentos


de guarda permanente é estruturada, também, em uma cadeia hierárquica cujo
primeiro nível identifica o produtor do arquivo; o nível ou níveis seguintes
correspondem à estrutura organizacional, quando ela existe; e os níveis
subsequentes reproduzem a classificação recebida na fase de uso corrente.
Essa organização recebe o nome de Arranjo e sua classificação é chamada
organizacional/funcional.

Rodrigues, baseando-se na proposta de Luciana Duranti, tende a considerar


como mais adequado partir-se da identificação das tipologias documentais para se
proceder a classificação. Diz a autora:

A correta delimitação da tipologia documental, considerada em


função do seu contexto de produção, é de fundamental importância
para definir sua classificação, valor para preservação ou eliminação
e utilização. Na perspectiva tradicional da arquivística, para o
conhecimento da gênese do documento, devemos partir da análise do
geral para o particular, do órgão para o resíduo material do exercício
de suas competências, que é o documento que circula e é acumulado
no arquivo. Este é um axioma arquivístico para um segmento de
teóricos na área, mas que vem se tornando objeto de reflexão entre
os profissionais que estudam as questões de naturezas teóricas
metodológicas propostas pela diplomática contemporânea, também
chamada de tipologia documental (2002, p. 47).

119
UNIDADE 2 — GESTÃO DOCUMENTAL E CICLO DE VIDA DOS DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS

Essa metodologia parte do exame de cada documento ou conjunto de


documentos já produzidos para, então, examinar-lhe a gênese. Aponta-se como
possível consequência da aplicação dessa metodologia, o risco da não observância
da qualidade de Unicidade dos documentos. Uma cópia de um documento
produzido por um certo departamento de uma entidade que seja recebida por um
outro departamento, pode assumir novo significado e receber uma classificação
diferente do documento original.

Proceder ao exame das funções, atividades e tarefas para elaborar-se a


classificação dos documentos por elas produzidos, pode ser a postura mais segura
para garantir a representação de todas as ações do produtor dos documentos.

Nos arquivos de guarda permanente, nas instituições arquivísticas


públicas, a demanda por conteúdos de documentos descontextualizados, ou seja,
por informações contidas em documentos independentemente da ação que os
gerou, é comum e frequente. A prática tem sido, por exemplo, no Arquivo Público
da Cidade de Belo Horizonte, uma seleção baseada no Arranjo organizacional,
feita com o auxílio do atendente da sala de consultas, e a busca pela informação,
documento a documento.

Promover o fácil acesso aos conteúdos descontextualizados tem se


mostrado como uma meta inatingível. Os manuais para organização de arquivos
tratam dos índices, por exemplo, como um recurso para o acesso aos conteúdos
dos documentos. Contudo, o volume documental dos arquivos permanentes é
sempre de dimensões gigantescas. Promover o seu acesso através do Arranjo, que
é a prioridade, é tarefa que tem demandado muito tempo e recursos humanos,
pois, normalmente, a documentação que é recolhida às instituições arquivísticas
não recebeu, na origem, uma classificação funcional.

Nos arquivos de uso corrente, de uma maneira geral, os documentos


são buscados pelo seu caráter de evidência dos atos. Pode-se dizer que apenas
potencialmente há demanda por conteúdos descontextualizados. Isso não
significa que a busca por recursos que promovam o acesso a informações
descontextualizadas seja uma preocupação menor entre os arquivistas.

Vê-se o diálogo com a ciência da informação como o caminho para a


arquivologia desenvolver estes recursos. Fonseca (2005, p. 10) se manifesta em
relação a essa questão:

A falta de percepção das relações interdisciplinares entre essas duas


áreas do conhecimento é instigante, na medida em que tais relações
parecem bastante óbvias, quando se identifica a informação como
elemento central do conjunto de objetos de que ambas se ocupam.

Buscando-se entender essa dificuldade, aponta-se, inicialmente, que cada


uma delas tem questões próprias, de fundo, a serem resolvidas. Por exemplo,
o seu objeto. Isso não tem impedido que elas se desenvolvam enquanto áreas de
conhecimento. Vale, então, verificar a principal diferença de enfoque para a gestão.

120
TÓPICO 3 — FUNÇÕES ARQUIVÍSTICAS

Tal como foi exposto, a arquivologia parte do motivo da criação do documento para
elaborar os instrumentos de acesso à informação. Já para ciência da informação, como
se encontra em Marchiori (2002), o ponto de partida para a gestão da informação é
a demanda. Avaliar como essas duas perspectivas podem se integrar parece crucial
para se promover a cooperação desejada.

Dentro do exposto, identifica-se que a arquivologia tem recursos teóricos


que podem servir de base para a elaboração de uma metodologia de classificação
de documentos arquivísticos que possibilite o fácil acesso à informação arquivística
contida no arquivo em si, naquilo que o conjunto, em sua forma, em sua estrutura,
revela sobre a instituição ou sobre a pessoa que o criou. Essa classificação permite
também o acesso à informação contida no documento a partir de uma seleção com
base no contexto de produção do arquivo.

Por outro lado, os princípios, características e qualidades dos arquivos não


se prestam como base para a construção de um sistema de pesquisa que permita
a seleção de documentos por conteúdos descontextualizados, embora esses
construtos devam ser neste caso considerado, a fim de que os sistemas de pesquisa
por conteúdos não promovam a perda da referência à origem dos documentos.

FONTE: RODRIGUES, A. M. L. A teoria dos arquivos e a gestão de documentos. Perspect. Ciênc.


Inf., Belo Horizonte, v. 11, n. 1, p. 102-117, 2006. Disponível em: scielo.br/pdf/pci/v11n1/v11n1a09.
pdf. Acesso em: 18 jun. 2020.

121
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• O ciclo de vida documental demanda atividades específicas no tratamento e


arquivamento documental, e a gestão documental com suas etapas possibilita
o gerenciamento dos documentos.

• As funções arquivísticas são inerentes às atividades desenvolvidas pelos


arquivistas.

• São sete funções arquivísticas: criação, avaliação, aquisição, conservação,


classificação, descrição e difusão.

• A produção de documentos arquivísticos está relacionada às atividades


específicas das organizações.

• A avaliação documental é uma atividade de grande importância nos arquivos


públicos e privados. Tem como objetivo identificar os valores dos documentos,
possibilitando a eliminação criteriosa dos documentos que não têm valores
secundários estabelecidos.

• A conservação tem o objetivo a preservação das informações e garantir a


integridade dos suportes informacionais.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

122
AUTOATIVIDADE

1 Sobre as funções arquivísticas, classifique V para sentenças verdadeiras e F


para as falsas:

( ) Para a descrição arquivísticas existem normas internacionais e nacionais,


sendo a NOBRADE é a norma brasileira para descrição.
( ) O plano de classificação do CONARQ foi baseado na Classificação
decimal universal.
( ) A produção documental refere-se as doações recebidas pelos arquivos.
( ) A avalição documental tem como finalidade a otimização dos espaços
físicos dos arquivos, bem como atribuir valores aos documentos.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F – V.
b) ( ) V – F – V – F.
c) ( ) F – V – V – F.
d) ( ) V – F – F – V.

123
REFERÊNCIAS
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revisada e ampliada da Resolução nᵒ 4, de 28 de março de 1996, que
dispõe sobre o Código de Classificação de Documentos de Arquivo para a
Administração Pública: Atividades-Meio, a ser adotado como modelo para os
arquivos correntes dos órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional
de Arquivos (SINAR), e os prazos de guarda e a destinação de documentos
estabelecidos na Tabela Básica de Temporalidade e Destinação de Documentos
de Arquivos Relativos às Atividades-Meio da Administração Pública. Disponível
em: https://www2.fab.mil.br/cendoc/images/doc/arq_pdf/Resolucao_14_conarq.
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Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2018.

129
130
UNIDADE 3 —

ARQUIVOLOGIA NO BRASIL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer o principal marco da arquivologia no Brasil;

• identificar os cursos de arquivologia no país;

• conhecer os projetos de leis para a criação dos conselhos federal e regional


de arquivologia;

• conhecer as associações de arquivistas;

• compreender o código de ética do arquivista.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em dois tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – HISTÓRIA DA ARQUIVOLOGIA NO BRASIL

TÓPICO 2 – O PROFISSIONAL ARQUIVISTA

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

131
132
TÓPICO 1 —
UNIDADE 3

HISTÓRIA DA ARQUIVOLOGIA NO BRASIL

1 INTRODUÇÃO
Olá, acadêmico! Neste tópico, você terá acesso à origem e ao contexto
histórico dos arquivos por meio da criação do Arquivo Nacional da França.
Você apreenderá os conceitos importantes que permeiam o universo da
Arquivologia. Além disso, conhecerá as malhas históricas que constituíram a
Arquivologia no Brasil.

Você verá que ocorreram inúmeros acontecimentos que impactaram o


surgimento do Arquivo Nacional Brasileiro, desde o seu surgimento nos impérios,
a criação do primeiro curso superior de Arquivologia no Brasil, demais cursos e
o primeiro curso na modalidade educação a distância.

Esse percurso histórico é importante para compreendermos os


acontecimentos e as influências que consolidaram a arquivologia no país.

Desejamos bons estudos!

2 ARQUIVOS
Os arquivos, em geral, são formados por documentos acumulados em
decorrência das atividades ou funções de órgãos públicos, das empresas públicas,
privadas etc. Na compreensão de Schellenberg (2006), as instituições arquivísticas
surgiram na Grécia antiga por volta dos séculos IV e V a.C., para que fossem
guardados os documentos de valores, como leis, manuscritos, tratados, minutas
etc. Na visão de Paes (2004), os arquivos surgiram a partir do momento em que
o homem aperfeiçoou a escrita e passou a dar importância para os documentos
produzidos. Assim, a sociedade passou a ser mais organizada, a compreender “o
valor dos documentos e começou a reunir, conservar e sistematizar os materiais em
que fixava, por escrito, o resultado de suas atividades políticas, sociais, econômicas,
religiosas e, até mesmo, das suas vidas particulares” (PAES, 2004, p. 15).

133
UNIDADE 3 — ARQUIVOLOGIA NO BRASIL

FIGURA 1 – DOCUMENTOS

FONTE: <https://image.freepik.com/fotos-gratis/arquivos-antigos_1194-2371.jpg>.
Acesso em: 19 out. 2020.

O Manual dos Arquivistas Holandeses (1998 apud SCHELLENBERG, 2006,


p. 36) define arquivo como “o conjunto de documentos escritos, desenhos e material
impresso, recebidos ou produzidos oficialmente por um órgão administrativo ou
por um de seus funcionários, na medida em que tais documentos se destinavam a
permanecer sob a custódia desse órgão ou funcionário”.

FIGURA 2 – MANUAL DOS ARQUIVISTAS HOLANDESES

FONTE: <https://4.bp.blogspot.com/-q4CU_jPVZQE/T3OzUXXTmcI/AAAAAAAAHZk/VWtkY1_
bXSM/s1600/manual.jpg>. Acesso em: 19 out. 2020.

134
TÓPICO 1 — HISTÓRIA DA ARQUIVOLOGIA NO BRASIL

DICAS

Acadêmico, você pode acessar o Manual dos Arquivistas Holandeses no site


do Arquivo Nacional, disponível em: http://www.arquivonacional.gov.br/media/manual_
dos_arquivistas.pdf.

No Brasil, a Lei nᵒ 8.159, de 8 de janeiro de 1991, conhecida como a Lei


de Arquivos, define os arquivos como “conjuntos de documentos produzidos
e recebidos por órgãos públicos, instituições de caráter público e entidades
privadas, em decorrência do exercício de atividades específicas, além de pessoa
física, qualquer que seja o suporte da informação ou a natureza dos documentos”
(BRASIL, 1991a). No mesmo sentido, o Arquivo Nacional (2005, p. 27) define que
o termo arquivo equivale ao “conjunto de documentos produzidos e acumulados
por uma entidade coletiva, pública ou privada, pessoa ou família, no desempenho
das suas atividades, independentemente da natureza do suporte”.

FIGURA 3 – ARQUIVO NACIONAL DA FRANÇA

FONTE: <https://1.bp.blogspot.com/-uHMXFvreMr4/Vr5EVgIE6OI/AAAAAAAAAgA/S5GaGQjRHtE/
s1600/AN_PARIS.jpg>. Acesso em: 19 out. 2020.

Percebe-se que os arquivos já existiam desde a civilização grega antiga.


Entretanto, o conceito de Arquivo Nacional foi criado a partir da Revolução
Francesa, em 1789, cujo primeiro arquivo nacional foi instituído na cidade de Paris,
em 1790, e influenciou a criação de arquivos em outros países (SCHELLENBERG,
2006). Esse fato foi um marco histórico para os arquivos públicos.

Quando se reconhece a sua responsabilidade não só com o patrimônio


documental do passado, mas também com os novos documentos
produzidos. Os documentos dos Arquivos Nacionais (arquivos
governamentais, administrativos, judiciais e eclesiásticos) passam a
ser considerados propriedade pública com livre acesso e à disposição
de qualquer cidadão que os solicite (OHIRA et al., 2001, p. 13).

135
UNIDADE 3 — ARQUIVOLOGIA NO BRASIL

Nesse contexto, Schellenberg (2006, p. 27) esclarece que o reconhecimento


dos documentos pela sociedade é considerado uma das conquistas que a revolução
proporcionou, e assinala três pontos de grande relevância para a Arquivologia.

1- Criação de uma administração nacional e independente dos arquivos.


2- Proclamação do princípio de acesso do público aos arquivos.
3- Reconhecimento da responsabilidade do Estado pela conservação
dos documentos de valor do passado.

De acordo com Ohira et al. (2001, p. 15), com a explosão documental depois
da Segunda Guerra Mundial, as instituições arquivísticas foram modificadas, não se
limitando apenas a “recolher, preservar e dar acesso aos documentos produzidos e
acumulados pelo Estado, mas a se inserir, profundamente, na execução de políticas
públicas relacionadas com a gestão de documentos”.

Para contextualizar, a autora cita a criação da Lei nᵒ 8.159, de 1991,


como um dos avanços à inserção dos arquivos nas políticas relacionadas à
gestão documental. Menciona, ainda, a Constituição de 1988, em que o acesso
à informação é garantido desde que as informações não estejam definidas nos
graus de sigilo (BRASIL, 1991a).

É importante ressaltar que, de acordo com Mariz (2012), existem dois


tipos de instituição arquivística: uma é aquela que custodia o acervo produzido
por outros órgãos, no caso, os arquivos permanentes, podendo ser o Nacional,
o Estadual e o Municipal. Essas instituições são responsáveis pela criação
de leis, decretos, regimentos que proporcionam a metodologia para a gestão
documental de cada esfera da Federação. A outra instituição é o arquivo interno
de uma instituição pública, ou seja, os arquivos corrente e intermediário, que
armazenam e aguardam o prazo de eliminação ou recolhimento dos documentos
para o Arquivo Permanente.

3 MARCOS DA ARQUIVOLOGIA BRASILEIRA


O Arquivo Nacional Brasileiro foi criado em 1838, com a nomenclatura de
Arquivo Público do Império, pelo regulamento nᵒ 2, de fevereiro do mesmo ano,
conforme previsto no artigo 70 do capítulo VI da Constituição de 1824 (BRASIL, 2016;
FUNDACIÓN HISTÓRICA TAVERA, 2000).

136
TÓPICO 1 — HISTÓRIA DA ARQUIVOLOGIA NO BRASIL

FIGURA 4 – ARQUIVO PÚBLICO DO IMPÉRIO

FONTE: <http://mapa.an.gov.br/images/BR_RJ_AN_RIO_AN_ICN_FOT_00137_010.jpg>.
Acesso em: 19 out. 2020.

Em 1893, o Arquivo Imperial passou a ser denominado Arquivo Público


Nacional, e essa mudança está relacionada com o fim do Império e o começo da
República, em 1889. Em 1911, houve a mudança da denominação mais uma vez,
para Arquivo Nacional (AFONSO; VECHIATO; MATIAS, 2019).

FIGURA 5 – ARQUIVO NACIONAL

FONTE: <https://avaazdo.s3.amazonaws.com/original_5c4f336d355e5.jpg>. Acesso em: 19 out. 2020.

137
UNIDADE 3 — ARQUIVOLOGIA NO BRASIL

Em 1938, foi realizado o primeiro Congresso Brasileiro de Arquivistas


no período de 2 a 7 de janeiro de 1938, no Rio de Janeiro, entretanto, o congresso
começou a ser desenhado em 1937, por Alcides Bezerra, em conjunto com o
então ministro da Justiça e Negócios Interiores José Carlos de Macedo Soares
(ESTEVÃO; FONSECA, 2010).

Há indícios de que, desde 1911, há a necessidade de serem criados


cursos de profissionalização para arquivistas no Brasil. Somente em 1922, o
Arquivo Nacional criou o Curso Técnico de Arquivos. Em 1958, esse curso foi
regulamentado e passou a ser denominado de Curso Permanente de Arquivos.

De 1958 a 1980, o Arquivo Nacional teve dois diretores responsáveis pela


dinamização técnica da instituição, José Honório Rodrigues e Raul do Rego Lima.
As duas gestões foram marcadas pela ênfase na qualificação e aprimoramento de
pessoal, assistência técnica, intercâmbio e divulgação de conhecimento (ESTEVÃO;
FONSECA, 2010).

FIGURA 6 – JOSÉ HONÓRIO RODRIGUES

FONE: <https://images.app.goo.gl/9N2KbpPUBbJv14xV9>. Acesso em: 19 out. 2020.

Quando José Honório Rodrigues assumiu a direção, em 1958, buscou


instituir instrumentos de qualificação do pessoal técnico, e uma das suas
primeiras medidas foi:

Inaugurar a série editorial denominada Publicações Técnicas a partir


da tradução de textos estrangeiros que abordavam temas relevantes
para a área de arquivos. As publicações eram graficamente simples,
ora mimeografadas, ora impressas, o que acabou dando origem a duas
séries unificadas, em 1972 (ESTEVÃO; FONSECA, 2010, p. 100).

Podemos dizer que o primeiro curso de Arquivologia do Brasil foi criado em


1960. Esse curso, até então, era denominado de Curso Permanente de Arquivo, e foi
criado partir de uma demanda do Arquivo Nacional. O desenvolvimento do curso
aconteceu de forma integrada com o Arquivo Nacional para atender, primeiramente, à
demanda interna do próprio arquivo (ESTEVÃO; FONSECA, 2010).

138
TÓPICO 1 — HISTÓRIA DA ARQUIVOLOGIA NO BRASIL

Entretanto, somente em 1972, o Conselho Federal de Educação aprovou


a criação do Curso Superior de Arquivologia. Em 1973, o Curso Permanente
de Arquivos “[...] passa a funcionar com mandato universitário, entretanto, o
curso continuou sendo ministrado no Arquivo Nacional, sendo transferido, de
fato, em 1977, para um espaço universitário” (ARAÚJO; TANUS, 2013, p. 90).
Atualmente, o curso está vinculado a Universidade Federal do Estado do Rio
de Janeiro (UNIRIO).

No decorrer dos anos, o Brasil passou a ter 16 cursos de arquivologia


em formato presencial em universidades públicas estaduais e federais e, em
2019, passou a contar com o curso de Arquivologia na modalidade Educação a
Distanânia (EAD) da UNIASSELVI.

FIGURA 7 – CURSOS PRESENCIAIS DE ARQUIVOLOGIA NO BRASIL

FONTE: <https://alunadearquivo.blogspot.com/2013/04/graduacao-em-arquivologia-no-brasil.html>.
Acesso em: 19 out. 2020.

139
UNIDADE 3 — ARQUIVOLOGIA NO BRASIL

O quadro a seguir apresentará as datas de criação desses cursos nas


respectivas universidades:

QUADRO 1 – CRONOLOGIA DA CRIAÇÃO DOS CURSOS DE ARQUIVOLOGIA NO BRASIL

Universidade Ano de criação


Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) 1977
Universidade Federal de Santa Maria – UFSM 1977
Universidade Federal Fluminense – UFF 1978
Universidade de Brasília – UnB 1990
Universidade Estadual de Londrina – UEL 1997
Universidade Federal da Bahia – UFBA 1997
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS 1999
Universidade Federal do Espírito Santo – UFES 1999
Universidade do Estado de São Paulo – UNESP 2002
Universidade Estadual da Paraíba – UEPB 2006
Universidade Federal de Rio Grande – FURG 2008
Universidade Federal do Amazonas - UFAM 2008
Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG 2008
Universidade Federal da Paraíba – UFPB 2008
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC 2009
Universidade Federal do Pará – UFPA 2012
UNIASSELVI 2019

FONTE: Adaptado de Ridolphi (2016)

NOTA

A arquivologia possui um Programa de Pós-Graduação Profissional em Gestão


de Documentos e Arquivos, vinculada à Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
(UNIRIO). A proposta de Mestrado Profissional em Gestão de Documentos e Arquivos
foi recomendada pela Comissão de Avaliação da Área e aprovada na 133ª Reunião (27 a
28/2/12) do Conselho Técnico-Científico da Educação Superior da CAPES.

140
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os arquivos, em geral, são formados por documentos acumulados em


decorrência das atividades ou funções de órgãos públicos, das empresas
públicas e privadas.

• Os arquivos surgiram a partir do momento em que o homem aperfeiçoou a


escrita e passou a dar importância para os documentos produzidos.

• O conceito de arquivo nacional foi criado a partir da Revolução Francesa,


em 1789, cujo primeiro arquivo nacional foi instituído em Paris, em 1790, e
influenciou a criação de arquivos em outros países.

• O Arquivo Nacional Brasileiro foi criado em 1838, com a nomenclatura de


Arquivo Público do Império.

• Em 1893, o Arquivo Imperial passou a ser denominado de Arquivo Público


Nacional e, em 1911, mudou a denominação mais uma vez, para Arquivo Nacional.

• Em 1938, foi realizado o primeiro Congresso Brasileiro de Arquivistas.

• O primeiro curso de Arquivologia do Brasil foi criado em 1960. Esse curso, até
então, era denominado de Curso Permanente de Arquivo.

• Atualmente, o Brasil tem 16 cursos de arquivologia em formato presencial e


um em formato de educação a distância.

141
AUTOATIVIDADE

1 Acerca da arquivologia brasileira, classifique V para as verdadeiras e F


para as falsas:

( ) No Brasil, a Lei nᵒ 8.159, de 8 de janeiro de 1991, conhecida como a Lei


de Arquivos (BRASIL, 1991a), define os arquivos como conjuntos de
documentos produzidos e recebidos por órgãos públicos, instituições
de caráter público e entidades privadas, em decorrência do exercício de
atividades específicas, além de pessoa física, qualquer que seja o suporte
da informação ou a natureza dos documentos.
( ) O conceito de arquivo nacional foi criado a partir da Revolução Francesa,
em 1789.
( ) O reconhecimento dos documentos pela sociedade é considerado uma
das conquistas da Revolução Francesa.
( ) O primeiro Congresso Brasileiro de Arquivistas foi realizado pelo curso
de Arquivologia da UNIRIO.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – V – V – F.
b) ( ) V – V – F – V.
c) ( ) F – F – V – V.
d) ( ) V – F – F – V.

142
TÓPICO 2 —
UNIDADE 3

O PROFISSIONAL ARQUIVISTA

1 INTRODUÇÃO
O arquivista, o bibliotecário e o museólogo fazem parte do que
denominamos de profissionais da informação. Segundo a Classificação
Brasileira de Ocupação (CBO), do Ministério do Trabalho, esses profissionais
têm, como funções:

Disponibilizam informação em qualquer suporte; gerenciam


unidades, como bibliotecas, centros de documentação, centros de
informação e correlatos, além de redes e sistemas de informação;
tratam tecnicamente e desenvolvem recursos informacionais;
disseminam informação com o objetivo de facilitar o acesso e geração
do conhecimento; desenvolvem estudos e pesquisas; realizam difusão
cultural; desenvolvem ações educativas; e podem prestar serviços de
assessoria e consultoria (BRASIL, 2010, s.p.).

Essa profissão é considerada profissional da informação:

1. Coleta, processa e difunde informação.


2. [É] Mediador da informação, tendo habilidades e conhecimentos
para lidar com ela, gerando valor agregado para atingir os objetivos de
uma organização; agente intermediário, profissional do conhecimento.
Arquivista, bibliotecário, documentalista, cientista da informação, p. do
conhecimento. Profissional da informação (CUNHA; CALVACANTI,
2008, p. 295).

Analisando as informações citadas, percebe-se que, para os profissionais


desenvolverem suas atividades e ocuparem seus espaços no mercado de trabalho, é
necessário “que a sua formação defina um perfil de profissional que deseja, e tão
importante é que existam ações que divulguem o profissional para o mercado
empregador” (VALENTIM, 2002, p. 118).

143
UNIDADE 3 — ARQUIVOLOGIA NO BRASIL

FIGURA 8 – PROFISSIONAIS DA INFORMAÇÃO

FONTE: <http://www.aconviteria.com/conviteonline/20161/cursosufrgs/>.
Acesso em: 19 out. 2020.

A formação básica dos profissionais se dá no momento da graduação,


quando se alia a teoria à prática, para melhor preparar o profissional para
o mercado de trabalho e o desenvolvimento das atividades do seu papel na
sociedade. Segundo Valentim (2002, p. 114), “fornecer competências e habilidades
profissionais durante a formação profissional, por meio de conteúdos formadores, é
papel da escola; manter essas competências e habilidades profissionais, após sua
saída da escola, é papel do próprio profissional”.

2 O ARQUIVISTA
Para ser arquivista, é necessário possuir curso superior com formação em
Arquivologia ou “experiência reconhecida pelo Estado” (ARQUIVO NACIONAL,
2005, p. 26). Segundo a CBO (BRASIL, 2010, s.p.), o arquivista é o:

Administrador de arquivos, Encarregado de serviço de arquivo


médico e estatística, Especialista em documentação arquivística,
Especialista em organização de arquivos, Gestor de documentos.
Organiza documentação de arquivos institucionais e pessoais [...]. Dá
acesso à informação, conserva acervos. Prepara ações educativas ou
culturais, planeja e realiza atividades técnico-administrativas, orienta
a implantação das atividades técnicas. Participa da política de criação
e implantação de [...] instituições arquivísticas.

144
TÓPICO 2 — O PROFISSIONAL ARQUIVISTA

FIGURA 9 – ARQUIVISTAS

FONTE: <https://bit.ly/3lIwr4q>. Acesso em: 19 out. 2020.

Em 1998, Terry Cook ressaltava que os arquivistas evoluíram de guardiões


imparciais de pequenas coleções de documentos da Idade Média para agentes
interventores que estabelecem os padrões e regras do arquivamento.

Diz que os arquivistas evoluíram de uma suposta posição de guardiões


imparciais de pequenas coleções de documentos herdados da Idade
Média, para se tornar agentes intervenientes que estabelecem os
padrões de arquivamento e deliberam a pequena fração do universo
de informações registradas que será selecionada para a preservação
arquivística (COOK, 1998, p. 139).

A CBO de 2010 estabelece as seguintes competências pessoais dos


arquivistas:

145
UNIDADE 3 — ARQUIVOLOGIA NO BRASIL

FIGURA 10 – COMPETÊNCIAS PESSOAIS DO ARQUIVISTA

FONTE: Adaptada de Bahia (2018)

A partir das competências listadas anteriormente, percebe-se que a


responsabilidade do arquivista, em relação ao aprimoramento e aperfeiçoamento
das suas atividades, deve ser realizada de forma contínua, ou seja, um aprendizado
contínuo, para “conhecer as características e as abrangências dos recursos e a
diversidade de modos para acessar as informações, além de sua participação
social, desenvolvendo suas capacidades de inovação e de relacionamento pessoal”
(BAHIA, 2018, p. 686).

A profissão de arquivista e técnico de arquivo é regulamenta pela Lei


Federal nᵒ 6.546, de 4 de julho de 1978, e pelo Decreto nᵒ 82.590, de 1978. Tanto a
lei como o decreto consideram arquivista o profissional com ensino superior. O
artigo nᵒ 1 da referida lei elucida que o exercício da profissão é permitido:

I- aos diplomados no Brasil por curso superior de Arquivologia,


reconhecido na forma da lei;
Il- aos diplomados no exterior por cursos superiores de Arquivologia,
cujos diplomas sejam revalidados no Brasil na forma da lei;
III- aos Técnicos de Arquivo portadores de certificados de conclusão
de ensino de 2ᵒ grau;
IV- aos que, embora não habilitados nos termos dos itens anteriores,
contêm, pelo menos, cinco anos ininterruptos de atividade ou dez
intercalados, na data de início da vigência desta Lei, nos campos
profissionais da Arquivologia ou da Técnica de Arquivo;

146
TÓPICO 2 — O PROFISSIONAL ARQUIVISTA

V- aos portadores de certificado de conclusão de curso de 2ᵒ grau que


recebam treinamento específico em técnicas de arquivo em curso
ministrado por entidades credenciadas pelo Conselho Federal de
mão de obra, do Ministério do Trabalho, com carga horária mínima
de 1.110 h. nas disciplinas específicas (BRASIL, 1978a).

A lei traz, ainda, as atribuições dos arquivistas no artigo 2ᵒ e dos técnicos


de arquivo no artigo 3ᵒ.

Art. 2ᵒ – São atribuições dos arquivistas:


I- planejamento, organização e direção de serviços de arquivo;
II- planejamento, orientação e acompanhamento dos processos
documental e informativo;
III- planejamento, orientação e direção das atividades de
identificação das espécies documentais e participação no
planejamento de novos documentos e controle de multicópias;
IV- planejamento, organização e direção de serviços ou centro de
documentação e informação constituído de acervos arquivísticos
e mistos;
V- planejamento, organização e direção de serviços de
microfilmagem aplicada aos arquivos;
VI- orientação do planejamento da automação aplicada aos
arquivos;
VII- orientação quanto à classificação, arranjo e descrição de
documentos;
VIII- orientação da avaliação e seleção de documentos para fins
de preservação;
IX- promoção de medidas necessárias à conservação de documentos;
X- laboração de pareceres e trabalhos de complexidade acerca de
assuntos arquivísticos;
XI- assessoramento aos trabalhos de pesquisa científica ou técnico-
administrativa;
XII- desenvolvimento de estudos sobre documentos culturalmente
importantes.
Art. 3ᵒ – São atribuições dos técnicos de arquivo:
I- recebimento, registro e distribuição dos documentos, além do
controle da sua movimentação;
II- classificação, arranjo, descrição e execução de demais tarefas
necessárias à guarda e conservação dos documentos, assim como
prestação de informações;
III- preparação de documentos de arquivos para microfilmagem e
conservação e utilização do microfilme;
IV- preparação de documentos de arquivo para processamento
eletrônico de dados (BRASIL, 1978a).

Até outubro de 2019, a lei previa, no artigo 4ᵒ, que, para exercer a profissão
de arquivista ou técnico de arquivos, era necessário o registro na Delegacia
Regional do Trabalho do Ministério do Trabalho. Esse artigo era regido pelo
Decreto nᵒ 93.480, de 29 de outubro de 1986, que exigia registro profissional para
reclassificação e ingresso nas categorias funcionais do Grupo-Arquivo do Serviço
Civil do Poder Executivo.

147
UNIDADE 3 — ARQUIVOLOGIA NO BRASIL

FIGURA 11 – REGISTRO PROFISSIONAL

FONTE: O autor

Esse artigo foi revogado pela Medida Provisória nᵒ 905, de 2019, que
Institui o Contrato de Trabalho Verde e Amarelo, altera a legislação trabalhista, e
dá outras providências.

A lei, no seu artigo 5ᵒ, ressalta que fica proibido o exercício da profissão
de arquivista ou técnico de arquivos os concluintes de cursos resumidos,
simplificados ou intensivos, de férias, por correspondência ou avulsos.

3 CONSELHO DE CLASSE PARA A ARQUIVOLOGIA


Diferentemente da Biblioteconomia, dos bibliotecários e museólogos, que
têm conselhos federais e regionais que regulamentam a profissão e fiscalizam
o exercício ilegal, a arquivologia não possui um conselho de classe profissional.

Em uma pesquisa rápida na web, encontram-se vários ensaios para a


criação de um conselho de classe para a arquivologia, como o Projeto de Lei (PL) nᵒ
5.613/2001, de autoria de Agnelo Queiroz, que acabou sendo arquivado pelo voto do
relator Pedro Henry (Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público).

148
TÓPICO 2 — O PROFISSIONAL ARQUIVISTA

FIGURA 12 – PROJETO DE LEI Nᵒ 5.613/2001

FONTE: Adaptada de <https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/


fichadetramitacao?idProposicao=35996>. Acesso em: 19 out. 2020.

Vejamos alguns recortes de uma notícia veiculada no site Portal do


Arquivista, intitulada Conselho Profissional de Arquivologia – Quem sabe faz a hora!

Inquietando a comunidade de arquivistas e se aprofundando, agora, o


Projeto de Lei nᵒ 4.699/2012 regulamenta a profissão do historiador. Esse projeto
cria atribuições que se assemelham e se sobrepõem a algumas atribuições da
profissão de arquivista.

O assunto é também trazido à pauta em razão da recente aprovação da


Lei de Acesso à Informação, que traz, aos arquivistas, uma série de desafios,
ensejando uma regulamentação profissional menos precária.

A Lei nᵒ 6.546/1978, regulamentada pelo Decreto nᵒ 82.590/1978,


regulamenta as profissões de Arquivista e Técnico de Arquivo, porém, essa
regulamentação veio sem a desejável criação de um conselho profissional.
Disso, resulta uma série de problemas, como a falta da gestão legal sobre a
profissão, uma lei de regulamentação obsoleta, a inexistência de cursos de
formação de Técnicos de Arquivo, a ausência da formação de Técnico de
Arquivo no Catálogo Nacional de Cursos Técnicos (CNCT) do MEC, uma
descrição inadequada e quase invisível na CBO – Classificação Brasileira de

149
UNIDADE 3 — ARQUIVOLOGIA NO BRASIL

Ocupações, do MTE, além de enormes dificuldades de apoio e financiamento


para programas de pós-graduação e pesquisa na arquivologia, cujos
profissionais acabam (sem opções) realizando suas pesquisas e pós-graduações
em áreas, como história, biblioteconomia, comunicação, ciência da informação,
administração etc.

Para termos uma ideia, o Técnico de Arquivo somente aparece na CBO


enquanto sinônimo de Supervisor de Administração e Técnico de Museologia.
Ambos sinônimos completamente e absurdamente inadequados.

Quanto ao arquivista, este aparece exclusivamente misturado às


atividades de um museólogo. Outro absurdo completo. Ambas as descrições
estão completamente desalinhadas da legislação, que regulamenta a profissão
e que, por sua vez, já é obsoleta (34 anos).

Já no CNCT, as atribuições, que seriam de um Técnico de Arquivo,


estão misturadas e diluídas nos cursos de Técnico em Administração e Técnico
em Biblioteca.

Outro problema decorrente da ausência de um Conselho Profissional


para Arquivistas e Técnicos de Arquivo é a dificuldade para obter registro
junto às SRTE – Superintendências Regionais de Trabalho e Emprego, pois
cada regional adota um critério. Algumas chegam a negar registro pelo
fato de que a Lei de 1978 menciona que os cursos de formação deverão ser
“ministrados por entidades credenciadas pelo Conselho Federal de Mão de
Obra, do Ministério do Trabalho”. A SRTE do Ceará, por exemplo, alega que,
como o Conselho Federal de Mão de Obra não existe mais, não pode emitir
registro. Veja o absurdo!

A mais recente tentativa a tramitar pelo congresso foi o Projeto de Lei


nᵒ 5.613/2001,  de autoria de Agnelo Queiroz, que acabou sendo arquivado
pelo voto do relator Pedro Henry (Comissão de Trabalho, de Administração e
Serviço Público), condenado, nesse ano, pelos crimes de Lavagem de Dinheiro
e Corrupção Passiva no julgamento do Mensalão.

A citação ao mensalão não tem relação alguma com o objetivo desse


texto, mas diante do desrespeito à profissão de arquivista que identificamos
nas palavras do seu veto, não deixamos de nutrir certa satisfação pelo fim
trágico da sua carreira política. Isso não é uma atitude nobre, sabemos, mas
não é isso que buscamos com esse pequeno texto.

150
TÓPICO 2 — O PROFISSIONAL ARQUIVISTA

O ideal seria termos um único Projeto de Lei, criando os Conselhos


Federais e Regionais de Arquivologia, e atualizando a lei, que regulamenta
a profissão de Arquivista e Técnico de Arquivo, eliminando as longas 1110
horas mínimas obrigatórias para formar um Técnico de Arquivo, item que
vem sendo considerado um dos principais empecilhos para novos cursos de
formação. Essa carga horária equivale a quase três MBAs. Analisaremos, a
seguir, os principais pontos do veto do relator:

“Entretanto, em que pese concordarmos com os objetivos básicos


do projeto, discordamos da forma adotada para criação dos conselhos
profissionais, principalmente por não oferecer bases concretas para se decidir
quanto à necessidade dos órgãos que se pretende criar”.

“Assim, entendemos, como essencial, um estudo prévio sobre o número


de profissionais técnicos e com formação superior, atuantes ou não, além da
distribuição geográfica no território nacional. Assim, é possível avaliar, com
um mínimo de acerto, a relação custo-benefício da criação dos conselhos”.

“Não obstante termos tal entendimento, concentramos nossa atenção


na questão do mérito, que envolve a análise da real necessidade e dos custos de
criação dos Conselhos de Arquivologia, em função do número de profissionais
efetivamente atuantes na área”.

A necessidade foi explicitada anteriormente, a resumir:

1 – Nenhuma gestão legal sobre a profissão.


2 – Lei de regulamentação obsoleta.
3 – Inexistência de cursos de formação de Técnicos de Arquivo.
4 – Ausência da formação de Técnico de Arquivo no Catálogo Nacional de
Cursos Técnicos (CNCT) do MEC.
5 – Descrição inadequada CBO – Classificação Brasileira de Ocupações, do TEM.
6 – Dificuldades de apoio e financiamento para programas de pós-graduação
e pesquisa para o arquivista.
7 – Dificuldade para obter registro (especialmente para Técnico de Arquivo)
junto às SRTEs de 2001. Quando o projeto foi apresentado até hoje, o número
de universidades com graduação em Arquivologia passou de oito para 16 [...].
No contexto nacional, os cursos de arquivologia estão representados em oito
dos dez estados brasileiros com maior contribuição ao PIB.

A soma de vagas oferecidas nesses cursos, anualmente, é de mais de


800 vagas, o que projeta um forte crescimento do número de arquivistas que
estarão no mercado, carentes de um órgão que oriente, discipline e fiscalize
o exercício da profissão de arquivista, que zele pela fiel observância dos
princípios de ética e disciplina da classe em todo o território nacional, e que
pugne pelo aperfeiçoamento do exercício da profissão.

151
UNIDADE 3 — ARQUIVOLOGIA NO BRASIL

Um último argumento apresentado pelo relator tem a ver com a questão


da iniciativa de leis dessa natureza, de criação de conselhos profissionais.

“Soma-se, a isso, o fato de que pode vir a ser questionada, na Comissão


de Constituição e Justiça e de Redação – CCJR, a constitucionalidade da
proposição, tendo-se em vista que a decisão liminar do Supremo Tribunal
Federal suspendeu os efeitos de parte do art. 58 da Lei nᵒ 9.649/1998, retornando,
ao Poder Executivo, a exclusividade da iniciativa de leis que visem à criação de
conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas”.

FONTE: Adaptado de BELTRAN, D. Conselho Profissional de Arquivologia: quem sabe faz a


hora! 2012. Disponível em: <https://www.arquivista.net/2012/12/09/conselho-profissional-
de-arquivologia-quem-sabe-faz-a-hora/#:~:text=A%20Lei%206.546%2F78%2C%20
regulamentada,cria%C3%A7%C3%A3o%20de%20um%20conselho%20profissional>.
Acesso em: 19 out. 2020.

De acordo com Ridolphi (2016), desde 1975, há o movimento para criação


dos Conselhos Federais e Regionais de arquivologia por entidades associativas,
como a Associação dos Arquivistas Brasileiros que, em 1975, enviou um oficio, ao
Ministro do Trabalho, solicitando o reconhecimento da profissão, acompanhado
de uma minuta de anteprojeto que incluía a criação dos Conselhos Federais e
Regionais de Arquivologia (CASTRO, 2008).

Em 1984, ocorreu a segunda tentativa por meio do Projeto de Lei nᵒ


4.351/1984 apresentado na Câmara pelo Deputado Federal Oly Fachin (PDS/RS),
que tramitou até 1986, quando, após parecer favorável, foi encaminhado ao Senado:

Tramitou até 1990, sendo arquivado com base no Art. 333 do Regimento
Interno do Senado. Esse artigo determina que, em todas as proposições
que se encontrem em tramitação, há duas legislaturas que serão
automaticamente arquivadas. A proposta chegou a ser reapresentada
ainda em 1990, pelo Senador Marco Maciel (PFL/PE), através do Projeto
de Lei nᵒ 19.214, que tramitou no Senado, mas foi arquivado com base no
Art. 332 do Regimento Interno, que determina que, ao fim da legislatura,
serão arquivadas todas as proposições em tramitação no Senado, exceto
as originárias da Câmara ou por ela revisadas e as com parecer favorável
das comissões (RIDOLPHI, 2016, p. 57).

Em 1991, a proposta foi apresentada pelo mesmo senador, através do


Projeto de Lei nᵒ 90 (BRASIL, 1991b), que tramitou no Senado até 1995, quando
foi arquivado com base nos artigos 332 e 333 do Regimento Interno. A última
tentativa ocorreu em 2004, quando a Associação dos Arquivistas do Estado do Rio
Grande do Sul (AARS) enviou uma proposta ao MTE, junto a outras categorias
profissionais que buscavam, também, a criação dos seus respectivos conselhos
(RIDOLPHI, 2016).

152
TÓPICO 2 — O PROFISSIONAL ARQUIVISTA

QUADRO 2 – PROPOSTAS PARA CRIAÇÃO DOS CONSELHOS FEDERAIS E REGIONAIS


DE ARQUIVOLOGIA

FONTE: Ridolphi (2016, p. 57)

4 ASSOCIAÇÕES PROFISSIONAIS
Diferentes dos conselhos, as associações de arquivistas sempre estiveram
presentes na Arquivologia. A primeira associação de arquivista de que temos indícios
no Brasil foi a Associação dos Arquivistas Brasileiros (AAB), em 20 de outubro de
1971. A Revista Arquivo & Administração esteve entre as primeiras iniciativas de
organização do movimento dos arquivistas quando fundou a AAB. A revista, na
época, era um instrumento de divulgação. Na perspectiva do associativo, equivale a
instrumento de ação, por isso, em relação à revista, “os objetivos que determinam a sua
existência são os mesmos da Associação dos Arquivistas Brasileiros” (ASSOCIAÇÃO
DOS ARQUIVISTAS BRASILEIROS, 1972, p. 2).

FIGURA 13 – ABB

FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn%3AANd9GcQJ77qz0xqws2xSX1SlD
hmPpan-iTGWYhyqEg&usqp=CAU>. Acesso em: 19 out. 2020.

A criação da AAB é um marco da mobilização dos profissionais da área


e do início do associativismo dos arquivistas no Brasil, sendo sociedade civil de
direito privado, cultural e sem fins lucrativos, a AAB participou significativamente
da institucionalização da arquivologia no país.

As contribuições mais destacadas da associação foram: colaboração para a


criação do primeiro curso superior de Arquivologia, Núcleos Regionais da AAB,
realização do Congresso Brasileiro de Arquivologia e edição da Revista Arquivo
& Administração. Segundo Ridolphi (2016, p. 39):

153
UNIDADE 3 — ARQUIVOLOGIA NO BRASIL

[...] Graças à mobilização dos profissionais organizados na Associação


dos Arquivistas Brasileiros (AAB), fundada em 1971, e que conseguira
a aprovação do currículo mínimo do curso superior em Arquivologia,
em 1974, garantindo uma formação formal para os profissionais, foi
obtida a regulamentação da profissão, através da Lei nᵒ 6.546, de 4
de julho de 1978, regulamentada pelo Decreto nᵒ 82.590, de 6 de
novembro de 1978.

Em janeiro de 2015, a AAB, por meio de uma carta destinada à


comunidade arquivística brasileira, iniciou o processo de desativação da
entidade. A seguir, vejamos a carta de encerramento de umas entidades
importantes da arquivologia brasileira.

Prezados colegas,

Encaminho a Carta da Direção e do Conselho Deliberativo e de Ética


da AAB, informando sobre a situação atual da entidade e a realização de uma
assembleia extraordinária para iniciar o processo de dissolução da AAB.

Atenciosamente,
Margareth da Silva

Presidente Pro Tempore da AAB


À comunidade arquivística brasileira

A Diretoria Pro tempore e o Conselho Deliberativo e de Ética da


Associação dos Arquivistas Brasileiros (AAB) comunicam o início do processo
de desativação da entidade. Tal decisão não é prematura tampouco precipitada.
Pelo contrário, essa decisão vem sendo adiada há tempos, e por várias razões,
que passaremos a relatar.

O fechamento dos núcleos regionais da Associação, em 2000, rompeu


com conexões locais e comprometeu a representatividade da entidade,
afetando a contribuição sistemática dos associados. O processo de reconstrução
dessas redes foi longo, mas nunca recuperou a situação anterior, quando era a
entidade central dos arquivistas brasileiros.

Além disso, a diretoria que assumiu a gestão, do período de 2001 a


2003, não completou o seu mandato, levando à constituição de uma Direção
Pro Tempore com a missão de manter a instituição. O grupo que assumiu essa
diretoria, em 2003, e se candidatou nos subsequentes processos eleitorais,
passou a administrar a entidade em um diferente contexto jurídico, econômico,
político. Esse novo contexto significou gerir a AAB nos marcos do Código Civil
de 2003, que impôs várias obrigações jurídico-administrativas às associações
sem fins lucrativos.

154
TÓPICO 2 — O PROFISSIONAL ARQUIVISTA

Além disso, as mudanças ocorridas no perfil das empresas, que


apoiavam os eventos e publicações, bem como a diminuição da contribuição
sistemática dos sócios, tornam difícil a manutenção de uma entidade de
caráter nacional, que passou a depender cada vez mais da participação e do
engajamento da categoria nas atividades da Associação.

As direções da AAB, de 2003 a 2009, empreenderam diversas iniciativas


para que a entidade recuperasse o apoio e prestígio junto aos arquivistas.
O Congresso Brasileiro de Arquivologia foi reativado, criou-se o Encontro
de Bases de Dados sobre Informações Arquivísticas e a revista Arquivo &
Administração retomou sua periodicidade. Além disso, a AAB reassumiu
gradativamente sua representação internacional na Associação Latino-
Americana de Arquivos e no Conselho Internacional de Arquivos.

Em 2009, o grupo, consciente de já ter contribuído para a classe e


para a entidade, decidiu não mais ficar à frente da entidade e, no mesmo
ano, após o processo eleitoral, a diretoria foi renovada, tomando posse em
abril de 2009, e mais uma vez membros da direção não completaram o seu
mandato, renunciando em fevereiro de 2010. O grupo anterior, à frente da
AAB desde 2003, reassumiu a diretoria por mais um mandato, e por várias
gestões seguidas, em virtude da inexistência de candidaturas à direção e por
considerar a importância da história de conquistas da entidade, estreitamente
vinculada à história da arquivologia e dos arquivistas do Brasil.

Em 2013, foi aberto o processo eleitoral para eleger uma nova direção
para o biênio 2014 a 2016 e não se apresentou nenhuma candidatura. Em
janeiro de 2014, foram convocadas novas eleições, cujo prazo de apresentação
de chapa foi prorrogado por duas vezes. Por fim, foi apresentada uma chapa,
a qual foi eleita em abril e empossada em julho de 2014.

Essa nova diretoria renunciou após alguns meses do seu mandato,


alegando desconhecer a complexidade administrativa da AAB. Essa renúncia
levou à formação de uma direção Pro Tempore, que assumiu a tarefa de manter
o funcionamento da entidade, regularizar o quadro de associados e convocar
novas eleições, já que essa direção manifestou a vontade de não continuar
conduzindo a instituição.

A complexidade administrativa da Associação está vinculada à


mudança na legislação, a partir de 2003, quando o novo Código Civil atribuiu
às associações de classe, sem fins lucrativos, responsabilidades tributárias
equivalentes a de pequenas empresas, o que levou a AAB a empreender todos
os esforços para gerar recursos suficientes para sua sustentação. Além disso, a
AAB possui uma sede própria, um empregado e todos os encargos e tributos
referentes a esta infraestrutura.

155
UNIDADE 3 — ARQUIVOLOGIA NO BRASIL

Administrar toda essa infraestrutura e envidar esforços para gerar


recursos e dar cumprimento às suas atribuições exigem tempo e dedicação,
salientando-se que é um trabalho voluntário e, portanto, não remunerado,
o que torna difícil atrair associados para assumirem a direção da entidade.
Se antes o idealismo era suficiente para criar e manter uma associação, hoje
é necessário um espírito empreendedor, já que é necessário captar recursos
permanentemente, tais como: organizar cursos, eventos, projetos, além de
divulgar as iniciativas da entidade por meio do site, mailing, redes sociais, o
que equivale ao trabalho desenvolvido por micro empresas.

O grupo que permaneceu nos órgãos da AAB, desde 2003, tomou


uma série de iniciativas capazes de reconstruir a entidade e ao mesmo
tempo procurou fortalecer o seu caráter científico a fim de promover a
arquivologia, como um campo de conhecimento autônomo, e os arquivistas
como profissionais com competência científica. Os Congressos Brasileiros
de Arquivologia e os Encontros de Bases sobre Informações Arquivísticas
foram promovidos com o apoio de agências de fomento à pesquisa científica,
tais como a FAPERJ, CAPES e CNPq, e trouxeram especialistas estrangeiros
para o intercâmbio de informações e conhecimentos. A AAB também se
fez representar em várias instâncias nacionais e internacionais, tornando-a
conhecida e respeitada como uma associação que privilegia a discussão a
respeito dos arquivos e da arquivologia. A revista Arquivo & Administração
passou a publicar dois números por ano e hoje se encontra disponível on-line,
possuindo um conselho editorial e consultivo com reconhecida produção na
área. Na revista, são publicados artigos específicos da área de arquivologia, o
que permitiu alçar o padrão Qualis B1. Além disso, a AAB é uma editora e vem
publicando diversos trabalhos resultantes de pesquisas acadêmicas. Em todo
esse período houve um grande investimento da entidade no fortalecimento
da Arquivologia como área do conhecimento e como campo de pesquisa. A
Associação igualmente atuou no campo político, em especial na luta por uma
política pública para os arquivos e pelo fortalecimento dos serviços de arquivo
e instituições arquivísticas.

A atual diretoria e conselhos, bem como o grupo de profissionais


que vem conduzindo a AAB nesses dez anos, levando-a a todas essas
conquistas, não poderão continuar à frente da AAB. É preciso renovação.
Apesar de todo este esforço de consolidação e fortalecimento da Associação,
de todo o capital político da entidade, os associados e profissionais da área
não demonstraram interesse em assumir e conduzir a AAB. Acreditamos
que o associativismo, tal como se configura hoje, está em declínio e que
serão necessárias novas propostas e novos direcionamentos para que as
associações possam continuar atuando.

156
TÓPICO 2 — O PROFISSIONAL ARQUIVISTA

Assim, considerando todas essas questões, informamos que, em breve,


será agendada uma assembleia extraordinária com o objetivo de deliberar sobre
a dissolução da AAB, a qual somente terão direito a voto os associados em dia
com a anuidade.

É preciso enfatizar que a AAB só poderá se manter como uma entidade


representativa dos arquivistas, se a base de sua sustentação, os associados,
efetivamente se engajarem na associação, renovando o seu corpo diretivo,
procurando promover a valorização, o aperfeiçoamento e a difusão do
conhecimento sobre os arquivos e o trabalho dos arquivistas. Infelizmente, todo
o trabalho desenvolvido em mais de uma década não resultou em renovação dos
quadros de direção que assumam o compromisso de dirigir a entidade. Temos
total noção do impacto e das consequências dessa decisão, que será assumida
por todos os associados, e de uma forma mais ampla, pela comunidade dos
arquivistas brasileiros.

Rio de Janeiro, 6 de janeiro de 2015.


Margareth da Silva (Presidente Pro Tempore) [...]

FONTE: Adaptado de <https://fr-fr.facebook.com/aarqes/posts/895699423784272/>.


Acesso em: 14 out. 2020.

A necessidade de promover ações integradas no campo arquivístico


proporcionou a elaboração da Executiva Nacional das Associações Regionais de
Arquivologia (ENARA), no II CNA, em 2006, em Porto Alegre – RS, reunindo
seis associações regionais: AAERJ, AARS, ABArq, AABA, AARQES e AAPR
(RIDOLPHI, 2016). Em 2007, foi fundado o Fórum das Associações Profissionais
de Arquivo (FArq), sendo extinto antes de 2008.

Em 23 de outubro de 2014, durante o V CNA, realizado em Santa Maria


– RS, foi anunciado o fim da ENARA, além da criação do Fórum Nacional das
Associações de Arquivologia do Brasil (FNArq).

FIGURA 14 – FNARQ

FONTE: <https://images.app.goo.gl/p9WnTQTEKT2B5pph7>. Acesso em: 19 out. 2020.

157
UNIDADE 3 — ARQUIVOLOGIA NO BRASIL

O FNArq, hoje, é composto por 12 associações profissionais de


arquivistas atuantes, sendo: Associação de Arquivistas de São Paulo (ARQSP);
Associação dos Arquivistas do Estado do Rio de Janeiro (AAERJ); Associação
dos Arquivistas da Bahia (AABA); Associação Brasiliense de Arquivologia
(ABARQ); Associação dos Arquivistas do Estado do Rio Grande do Sul (AARS);
Associação dos Arquivistas do Estado do Espírito Santo (AARQES); Associação
dos Arquivistas do Estado do Paraná (AAPR), Associação de Arquivologia
do Estado de Goiás (AAG), Associação Mineira de Arquivistas (AMARQ),
Associação de Arquivistas da Paraíba (AAPB), Associação de Arquivistas do
Estado do Ceará (ARQUIVE-CE) e Associação de Arquivistas do Estado de Santa
Catarina (AAESC) (LINDEN, 2017). O quadro a seguir mostrará a cronologia
das associações de arquivologia do Brasil.

QUADRO 3 – ASSOCIAÇÕES DE ARQUIVOLOGIA NO BRASIL

Região Associação Data de fundação


Sudeste Associação de Arquivistas de São Paulo (ARQ-SP) 28/7/1998
Centro-oeste Associação Brasiliense de Arquivologia (ABArq) 24/9/1998
Associação dos Arquivistas do Estado do Rio
Sul 22/1/1999
Grande do Sul (AARS)
Nordeste Associação dos Arquivistas da Bahia (AABA) 20/10/2002
Associação dos Arquivistas do Estado do Rio de
Sudeste 5/4/2004
Janeiro (AAERJ)
Associação dos Arquivistas do Estado do Espírito
Sudeste 15/3/2005
Santo (AARQES)
Sul Associação dos Arquivistas do Paraná (AAPR) 2/7/2006
Centro-oeste Associação de Arquivologia de Goiás (AAG) 19/12/2006
Sudeste Associação Mineira de Arquivistas (AMArq) 13/4/2013
Nordeste Associação dos Arquivistas da Paraíba (AAPB) 19/11/2013
Associação de Arquivistas do Estado do Ceará
Ceará 9/6/2015
(ARQUIVE-CE)
Associação de Arquivistas do Estado de Santa
Sul 20/10/2015
Catarina (AAESC)

FONTE: Ridolphi (2016, p. 57)

158
TÓPICO 2 — O PROFISSIONAL ARQUIVISTA

FIGURA 15 – MAPA COM A PRESENÇA DE CURSOS E ASSOCIAÇÕES DE ARQUIVOLOGIA NO BRASIL

FONTE: Ridolphi (2016, p. 64)

5 CÓDIGO DE ÉTICA DOS ARQUIVISTAS


No mundo atual, com uma infinidade de valores culturais, discute-se
muito a ética como uma ‘ferramenta’ norteadora que impulsiona o fazer humano.
Compreender a ética significa identificar costumes e crenças arraigados no
indivíduo que, de certa forma, podem influenciar na conduta do ser humano que
não vive sozinho, mas que está inserido em uma sociedade que pode ser afetada
pelos seus atos ou, até mesmo, o próprio indivíduo ser atingido por valores
desenvolvidos pela coletividade.

Com afirmam Mischiat e Valentim (2005, p. 212), “a ação e a decisão de


um homem não envolvem apenas a si próprio, mas também outras pessoas, e
até mesmo uma comunidade inteira, que poderá sofrer as consequências dessas
ações e decisões”.

A ética, de modo geral, é confundida com a moral, entretanto, ambas


possuem definições distintas, mas estão ligadas e se relacionam entre si. A palavra
ética vem do grego ‘ethos’, modo de ser ou de agir, enquanto a moral vem do latim
‘mos’, que significa costumes.

Para Sung e Silva (2002, p. 13), “ética seria, então, uma reflexão teórica
que analisa e critica ou legitima os fundamentos e princípios que regem um
determinado sistema moral (dimensão prática)”.

159
UNIDADE 3 — ARQUIVOLOGIA NO BRASIL

FIGURA 16 – ÉTICA

FONTE: <https://image.freepik.com/fotos-gratis/cubos-de-madeira-com-titulo-de-
etica_23-2148030960.jpg>. Acesso em: 19 out. 2020.

Enquanto a moral é constituída de regras que estabelecem os direitos e


deveres como forma de controlar a conduta humana, para conduzir o convívio
harmonioso do indivíduo com a categoria, surge a ética profissional, que, no mundo
dos negócios, vem equilibrar a concorrência desenvolvida pela globalização.

Define-se ética profissional como o conjunto de normas estabelecidas


por um grupo de trabalho que devem ser seguidas pelo indivíduo ao realizar
o exercício da sua profissão. É extremamente complexo falar de ética no campo
profissional, pois não significa apenas estabelecer regras ao indivíduo, essa ética
vai além dos códigos de ética profissionais. É preciso lidar, também, com a ética
individual ou cultural do ser humano, esta que está internalizada. Seus costumes,
crenças e tradição cultural podem afetar o exercício da profissão.

Contudo, a ética pode “estabelecer referências normativas para o bom


exercício da profissão. Amparado pelos valores da coletividade é essencial, mas
não suficiente” (GONÇALVES NETO, 2008, p. 9). Entretanto, a deontologia busca
discutir a conduta humana profissional a fim de amenizar esses conflitos e implantar
normas para padronizar as ações de uma categoria profissional. Desse modo, para
a “uniformização, não no sentido de igualar as ações, mais de orientar, prescrever,
controlar a conduta dos membros da profissão [...]” (RASCHE, 2005, p. 176).

Para orientar o exercício da profissão do arquivista, tem-se o código de


ética, que visa apoiar a tomada de decisão, servindo de referência para a atuação
profissional. Nos códigos de ética, são estabelecidos os direitos e os deveres
profissionais que o arquivista deve seguir para exercer seu trabalho, de modo a
contribuir para o desenvolvimento da sociedade.

160
TÓPICO 2 — O PROFISSIONAL ARQUIVISTA

Assim, a ética e a moral estão sempre presentes. Seja no aspecto social


ou profissional, ambas buscam orientar nossa conduta de modo a propiciar o
equilíbrio entre os valores intrínsecos do homem e as normas estabelecidas pela
coletividade ou por uma categoria profissional. Nesse sentido, O Código de Ética
possui a finalidade de:

Fornecer, à profissão arquivística, regras de conduta de alto nível.


Ele deve sensibilizar os novos membros da profissão a essas regras;
relembrar, aos arquivistas experientes, suas responsabilidades
profissionais; e inspirar, ao público, confiança na profissão (ICA,
1996, s.p.).

O Conselho Internacional de Arquivos (CIA), especificamente, a Seção de


Associações, aprovou o Código Ética dos arquivistas na China, em 1996, no XIII
Congresso Internacional de Arquivos (MALCHER, 1996). Em âmbito nacional,
não temos um código de éticas dos arquivistas. No quadro a seguir, apresentam-
se algumas associações nos níveis nacional e internacional que divulgam o código
elaborado pela CIA.

QUADRO 4 – CÓDIGOS DE ÉTICA E CÓDIGOS DE DEONTOLOGIA

País Associação Nome do documento


Austrália Australian Society of Archivists Code of Ethics
Associação dos Arquivistas do Estado do Rio
Código de Ética
de Janeiro
Brasil
Associação dos Arquivistas do Estado do Rio
Código de Ética
Grande do Sul
Association des archivistes du Québec Code de déontologie

Canadá Code of Etchisand


Association of Canadian Archivists Professional
Conduct
Código de Ética
Colômbia Colegio Colombiano de Archivistas
(Ley 1409 de 2010)
Código deontológico de los
Associació d’Arxivers de Catalunya
archiveros catalanes
Espanha Federación Española de Sociedades Código de Ética para
de Archivística, Biblioteconomía, Bibliotecarios y profesionales
Documentación y Museística de lainformación em España
Estados SAA Core Values
Societyof American Archivists
Unidos Statementand Code of Ethics
França Associaiondes Archivistes Français Code de déontolgoie
ICA International Councilon Archives Código de Ética
Itália Associazione Nazionale Archivística Italiana Codice deontologico
Code of Ethics for the
Nova Archivesand Records Association of
archives
Zelândia New Zealand
& records associations of NZ

161
UNIDADE 3 — ARQUIVOLOGIA NO BRASIL

Associação Portuguesa de bibliotecários,


Portugal Código de Ética
arquivistas e documentalistas
Archives& Records Association
Reino Unido Code of Ethics
(UK &Ireland)
Code de déontologiedes
Suíça Association des archivistes suisses
archivistes

FONTE: Silva (2018, p. 491)

O Código de Ética é um rol de orientações aplicáveis às fundamentais


áreas de atuação profissional. Esse código pode identificar áreas de possíveis
conflitos de interesse e indiciam como os conflitam podem ser sanados.

FIGURA 17 – CÓDIGOS DE ÉTICA ICA

FONTE: <https://www.ica.org/en/ica-code-ethics>. Acesso em: 19 out. 2020.

O Código de Ética do Arquivista, elaborado pela CIA, está disponível


em 24 idiomas, inclusive, em português. A Associação dos Arquivistas
Brasileiros (AAB) recomendou uma tradução denominada de Princípios Éticos
do Arquivista. Esses mesmos princípios são denominados por Código de Ética
do Arquivista, isso porque não há um Código de Ética formalizado no Brasil
(MONTEIRO; VIGNOLI, 2013). A seguir, apresentaremos o Código de Ética do
ICA, fragmentado, elaborado pela Seção de Associações Profissionais do Conselho
Internacional de Arquivos (CIA) – Aprovado no XIII Congresso Internacional de
Arquivos, realizado em 1996, na China.

162
TÓPICO 2 — O PROFISSIONAL ARQUIVISTA

[...]

Introdução

1- Um código de ética dos arquivistas tem, por finalidade, fornecer, à


profissão arquivística, regras de conduta de alto nível. Ele deve sensibilizar
os novos membros da profissão a essas regras, relembrar aos arquivistas
experientes suas responsabilidades profissionais e inspirar ao público
confiança na profissão.
2- O termo “arquivista”, tal como é usado neste texto, aplica-se a todos aqueles
que têm responsabilidades de controlar, vigiar, tratar, guardar, conservar e
administrar os arquivos.
3- As instituições empregadoras e os serviços de arquivo são encorajados a
adotar políticas e práticas que permitam a aplicação deste código.
4- Este código destina-se a oferecer um quadro ético de conduta aos membros da
profissão, não se aplicando a soluções específicas de problemas particulares.
5- Todos os artigos são acompanhados de comentários, desenvolvendo e
ilustrando o princípio enunciado; artigos e comentários formam um todo e
assim constituem o texto completo do código.
6- A aplicação do código depende da boa vontade das instruções de arquivos
e das associações profissionais. Ela pode ser feita indiretamente através do
estabelecimento e do uso de procedimentos para sugerir orientações, em
casos de dúvida, examinar condutas contrarias à ética e, se for necessário,
aplicar sanções.

Texto

1. Os arquivistas mantêm a integridade dos arquivos, garantindo assim que


possam se constituir em testemunho permanente e digno de fé do passado.

O primeiro dever dos arquivistas é o de manter a integridade dos documentos


que são valorizados por seus cuidados e sua vigilância. No cumprimento desse
dever, eles consideram os direitos, algumas vezes discordantes, e os interesses
dos seus empregadores, dos proprietários, das pessoas citadas nos documentos
e dos usuários, passados, presentes e futuros.

A objetividade e a imparcialidade dos arquivistas permitem aquilatar o grau


de seu profissionalismo. Os arquivistas resistem a toda pressão, venha ela
de onde vier, visando manipular os testemunhos, assim como dissimular ou
deformar os fatos.

2. Os arquivistas tratam, selecionam e mantêm os arquivos em seu contexto


histórico, jurídico e administrativo, respeitando, portanto, sua proveniência,
preservando e tornando assim manifestas suas interrelações originais.

163
UNIDADE 3 — ARQUIVOLOGIA NO BRASIL

Os arquivistas agem em conformidade com os princípios e as práticas


geralmente reconhecidos. No cumprimento de sua missão e de suas funções,
os arquivistas se pautam pelos princípios arquivísticos que regem a criação,
a gestão e a escolha da destinação dos arquivos correntes e intermediários,
a seleção e a aquisição de documentos com vistas ao seu arquivamento
definitivo, a salvaguarda, a preservação e a conservação dos arquivos que estão
sob sua guarda, e a classificação, a análise, a publicação e os meios de tornar
os documentos acessíveis. Os arquivistas fazem a triagem dos documentos
com imparcialidade, fundamentando seu julgamento em um profundo
conhecimento das exigências administrativa e das políticas de aquisição de suas
instituições. Eles classificam e analisam os documentos escolhidos para serem
retidos, de acordo com os princípios arquivísticos (em particular o princípio de
proveniência e o princípio de classificação original) e as normas reconhecidas
universalmente, tudo isto tão rapidamente quanto possível. Os arquivistas têm
uma política de aquisição de documentos conforme os objetivos e os recursos
de suas instituições. Eles não buscam ou não aceitam aquisições, quando elas
se constituem em perigo para a integridade ou a segurança dos documentos;
eles se dispõem a cooperar para que os documentos sejam conservados nos
serviços mais adequados. Os arquivos favorecem o retorno dos arquivos
públicos a seus países de origem, quando eles tenham sido sequestrados em
tempo de guerra ou de ocupação.

3. Os arquivistas preservam a autenticidade dos documentos nos trabalhos


de tratamento, conservação e pesquisa.

Os arquivistas agem de modo que o valor arquivístico dos documentos, neles


compreendidos os documentos eletrônicos ou informáticos, não seja diminuído
pelos trabalhos arquivísticos de triagem, de classificação e de inventário,
de conservação e de pesquisa. Se eles devem proceder a amostragens, eles
fundamentam sua decisão sobre métodos e critérios seriamente estabelecidos.
A substituição dos originais por outros suportes é decidida considerando-
se seus valores legais, intrínsecos e de informação. Quando os documentos
excluídos da consulta tenham sido retirados momentaneamente do dossiê, o
usuário deve ser notificado.

4. Os arquivistas asseguram permanentemente a comunicabilidade e a


compreensão dos documentos.

Os arquivistas dirigem sua reflexão sobre a triagem dos documentos a serem


conservados ou eliminados, prioritariamente, em função da necessidade de
salvaguardar a memória da atividade da pessoa ou da instituição que os
produziu ou acumulou, mas igualmente em função dos interesses evolutivos
da pesquisa histórica. Os arquivistas têm consciência de que a aquisição de
documentos de origem duvidosa, mesmo de grande interesse, é de natureza a
encorajar um comércio ilegal. Eles prestam a sua colaboração a seus colegas e
aos serviços pertinentes para a identificação e a procura das pessoas suspeitas
de roubos de documentos de arquivos.

164
TÓPICO 2 — O PROFISSIONAL ARQUIVISTA

5. Os arquivistas se responsabilizam pelo tratamento dos documentos e


justificam a maneira como o fazem.

Os arquivistas se preocupam não somente com o recolhimento dos documentos


existentes, mas também cooperam com os gestores de documentos de maneira
que, nos sistemas de informação e arquivamento eletrônico, sejam levados em
conta, desde a origem, os procedimentos destinados à proteção de documentos
de valor permanente. Os arquivistas quando negociam com os serviços
responsáveis pela guarda ou com os proprietários de documentos, fundamentam
sua decisão, em tal circunstância, considerando os seguintes elementos:
autorização de recolhimento, doação ou venda; negociações financeiras; planos
de tratamento; direitos de reprodução e condições de acessibilidade. Eles
aguardam um registro escrito de entrada de documentos, de sua conservação
e de seu tratamento.

6. Os arquivistas facilitam o acesso aos arquivos ao maior número possível


de usuários, oferecendo seus serviços a todos com imparcialidade.

Os arquivistas produzem instrumentos de pesquisa gerais e específicos adaptados


às exigências, para a totalidade dos fundos que têm sob sua guarda. Em todas
as circunstâncias, eles oferecem pareceres com imparcialidade e utilizam os
recursos disponíveis para fornecer uma série de opiniões equilibradas. Os
arquivistas respondem com cortesia, e com a preocupação de ajudar, a todas
as pesquisas razoáveis referentes aos documentos dos quais eles garantem a
conservação e encorajam sua utilização em grande número, dentro dos limites
impostos pela política das instituições das quais dependem a necessidade de
preservar os documentos, o respeito à legislação e à regulamentação, aos direitos
dos indivíduos e aos acordos com os doadores. Eles definem as restrições aos
usuários eventuais e as aplicam com equidade.

Os arquivistas desencorajam as limitações de acesso e de utilização dos


documentos quando elas não são razoáveis, mas podem aceitar ou sugerir
restrições claramente definidas e de uma duração limitada quando elas
são a condição de uma aquisição. Eles observam fielmente e aplicam com
imparcialidade todos os acordos firmados no momento de uma aquisição, mas,
no interesse da liberação de acesso aos documentos, eles podem renegociar as
cláusulas quando as circunstâncias mudam.

7. Os arquivistas visam encontrar o justo equilíbrio, no quadro da legislação


em vigor, entre o direito ao conhecimento e o respeito à vida privada.

Os arquivistas se preocupam para que a vida das pessoas jurídicas e físicas, assim
como a segurança nacional, sejam protegidas, sem que haja necessidade de se
destruir as informações sobretudo no caso dos arquivos informatizados, onde os
dados podem ser deletados e novos dados inseridos, como é prática corrente. Os
arquivistas defendem o respeito a vida privada das pessoas que estão ligadas à
origem ou que são a própria matéria dos documentos, sobretudo daquelas que não
foram consultadas quanto à utilização ou ao destino dos documentos.

165
UNIDADE 3 — ARQUIVOLOGIA NO BRASIL

8. Os arquivistas servem aos interesses de todos e evitam tirar de sua posição


vantagens para eles mesmos ou para quem quer que seja.

Os arquivistas se abstêm de toda atividade prejudicial a sua integridade


profissional, a sua objetividade e a sua imparcialidade.  Os arquivistas não
tiram de suas atividades nenhuma vantagem pessoal, financeira ou de qualquer
outra ordem que possa resultar em detrimento das instituições, dos usuários
e de seus colegas. Os arquivistas não colecionam pessoalmente documentos
originais nem participam de um comércio de documentos em sua área de
jurisdição. Eles evitam as atividades que possam ciar no espírito do público
a impressão de um conflito de interesses. Os arquivistas podem explorar os
fundos arquivísticos de sua instituição para fins de pesquisa e de publicações
pessoais, desde que tal trabalho seja conduzido de acordo com as mesmas
regras impostas aos demais usuários. Eles não revelam nem utilizam, nos
fundos arquivísticos, cujo acesso é limitado, as informações obtidas em seus
trabalhos. Eles não permitem que suas pesquisas pessoais ou suas publicações
interfiram com as tarefas profissionais ou administrativas para as quais foram
contratados. No que concerne à exploração de seus fundos arquivísticos, os
arquivistas não utilizam seu conhecimento das descobertas feitas por um
pesquisador, ainda não publicadas por ele, sem adverti-lo de sua intenção
de tirar partido delas. Os arquivistas podem criticar e comentar os trabalhos
afins a suas áreas de pesquisa, aí compreendidos os trabalhos baseados nos
fundos que se acham sob sua guarda. Os arquivistas não permitem a pessoas
estranhas à sua profissão interferirem em suas práticas e obrigações.

9. Os arquivistas procuram atingir o melhor nível profissional, renovando,


sistemática e continuamente, seus conhecimentos arquivísticos e
compartilhando os resultados de suas pesquisas e de sua experiência.

Os arquivistas se esforçam para desenvolver seu saber profissional e seus


conhecimentos técnicos e contribuir para o progresso da Arquivologia, zelando
para que as pessoas, cuja formação e orientação estejam sob sua responsabilidade,
exerçam suas tarefas com competência.

10. Os arquivistas trabalham em colaboração com seus colegas e os membros


das profissões afins, visando assegurar, universalmente, a conservação e a
utilização do patrimônio documental.

Os arquivistas procuram estimular a colaboração e evitar conflitos com seus


colegas, resolvendo suas dificuldades pelo encorajamento ao respeito às
normas arquivísticas e à ética profissional. Os arquivistas cooperam com os
representantes das profissões paralelas dentro de um espírito de respeito e
compreensão mútua.

FONTE: Adaptado de <http://www.ica.org/5555/reference-documents/ica-
code-of-ethics.html>. Acesso em: 19 out. 2020.

166
TÓPICO 2 — O PROFISSIONAL ARQUIVISTA

DICAS

O Conselho Internacional de Arquivos, além do Código de Ética, tem publicações


em vários âmbitos da profissão do arquivista, como Princípios Básicos sobre o Papel dos
Arquivistas na Defesa dos Direitos Humanos. O Conselho Internacional de Arquivos, com
base nas diretrizes da ação profissional dos arquivistas, no direito humanitário e no direito
internacional, propõe um documento de trabalho com princípios éticos básicos para a conduta
da categoria. Ficou interessado? Leia mais em: http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/41993.

NOTA

O artigo O discurso da Imparcialidade em Códigos de Ética do Arquivista,


publicado em 2018, de autoria de Silva, Barros e Moraes, discute como a ética e os valores
são tratados nos códigos do arquivista. O artigo faz a análise do discurso em documentos
provenientes da Austrália, Brasil, Canadá, Colômbia, Espanha, Estados Unidos, França, Itália,
Nova Zelândia, Portugal, Reino Unido e Suíça. A imparcialidade, nos documentos analisados,
algumas vezes, apresenta-se de forma explicita e, outras, implícita, no entanto, as duas
demonstram que tal valor perpassa pelo arquivista, sua relação com o usuário e demais
pessoas ligadas a sua atuação profissional, além da seleção e tratamento documental,
no entanto, o conceito de imparcialidade adotado pelos arquivistas precisa ser melhor
explicado nos documentos.

FONTE: SILVA, A. P.; BARROS, T. H. B.; MORAES, J. B. E. O discurso da imparcialidade em


Códigos de Ética do Arquivista. Ágora, v. 28, n. 57, p. 213-226, 2018. Disponível em: http://
hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/101435. Acesso em: 19 out. 2020.

167
UNIDADE 3 — ARQUIVOLOGIA NO BRASIL

LEITURA COMPLEMENTAR

CURADORIA DIGITAL: PAPÉIS E RESPONSABILIDADES DO ARQUIVISTA

1 INTRODUÇÃO

Este artigo mostra os papéis e responsabilidades do profissional arquivista


em atuação aos processos de curadoria digital. A saber como esse profissional
pode pensar em suas ações: teóricas, práticas e de gestão relacionadas a tal
processo, uma vez que tais iniciativas e ações requerem grandes desafios como
será esclarecido.

Especialmente no contexto das tecnologias e globalização em que


modificou as redes de comunicação e sua complexidade nas relações sociais,
nos desenvolvimentos das organizações e empresas e no trabalho do dia a dia.
Característica inerente dos dias atuais, na qual o trâmite informacional acontece
de forma bastante acentuada, especialmente ao serem considerados os diversos
recursos tecnológicos, faz-se necessário ponderar como tais tecnologias impactam
no modo de se fazer e pensar. Desafios inerentes aos profissionais da informação
e profissionais em geral.

Com essas novas opções tecnológicas, várias áreas do conhecimento


adaptaram-se às novas ofertas da plataforma tecnológica considerando o contexto
imposto pelas relações sociais, políticas e econômicas cada vez mais complexas e
integradas. Profissionais como bibliotecários, arquivistas, museólogos, cientistas
da informação, pesquisadores, dentre outros, depararam-se com a necessidade
de compreender as novas possibilidades advindas dessas novas ferramentas
tecnológicas e se enquadrar, de alguma forma, nesse novo modo através de uma
revisão/concepção de um novo arcabouço teórico das áreas e inserção das atuais
demandas informacionais e de ações empregadas para a sua preservação.

Sobre esse olhar que pretendo discutir ao longo deste trabalho. Como
questões de seus papéis e responsabilidades do arquivista no contexto da
curadoria digital para a preservação digital, verificando como o arquivista a
partir do uso das tecnologias, instrumentos, processos e políticas, pode atuar e
delinear ações e procedimentos estratégicos para a preservação digital.

2 BREVE PANORAMA DA CURADORIA DIGITAL

A criação das chamadas Tecnologias da Informação, após a Segunda


Guerra Mundial, foi um dos grandes marcos do século XX, modificando toda a
forma de se pensar e trabalhar.

168
TÓPICO 2 — O PROFISSIONAL ARQUIVISTA

Tal transformação influenciou profundamente diferentes áreas de atuação


do homem e sobretudo dos profissionais que desenvolvem suas atividades
cotidianas na acumulação, produção, uso e disseminação de informações de
natureza diversa. De forma especial, aqueles que trabalham com os arquivos
digitais, deparam-se com documentos de “novo tipo”, produzidos em meio
digital e cujo suporte e formas de produção se diferenciam substancialmente
em relação aos suportes convencionais existentes. Nesse novo cenário, surgiu o
conceito de curadoria compreende-se como:

[...] O conjunto de ações que garantem que um conjunto de dados é


genuíno, permitindo o seu uso por outros que não os seus produtores.
A curadoria pode envolver ações de descrição dos dados, de ligação
destes a outros que os tornem inteligíveis, de registo dos usos que
tenham e dos resultados a que tenham dado origem (FERREIRA et al.,
2012, p. 26).

Os dados e informações digitais gerados pelas atividades de pesquisa;


de bibliotecas digitais; instituições e organizações, dentre outros, necessitam
de cuidados específicos, tornando-se necessário a criação de novos modelos
de custódia e de gestão de conteúdos científicos digitais que incluam ações
de arquivamento seguro, preservação, formas de acrescentar valor a esses
conteúdos e de otimização da sua capacidade de reuso. No intuito de colocar em
prática soluções para o problema, observa-se, no âmbito de várias disciplinas
e de profissionais um esforço em torno do desenvolvimento de repositórios
digitais orientados especialmente para uma gestão ativa de dados de pesquisa.
É nesse ambiente que surge o conceito de curadoria digital de dados científicos,
cujo principal desafio recai na necessidade de se preservar não somente o
conjunto de dados, mas de preservar, sobretudo, a capacidade que ele possui
de transmitir conhecimento para uso futuro das comunidades interessadas. Isso
significa que os ativos genuínos da pesquisa científica ou outros dados, devem
permitir que futuros usuários reanalisem os dados dentro de novos contextos.
Para que ocorra um processo de preservação em que os significados dos dados
possam atravessar a barreira do tempo, é necessário assegurar que os usuários
no futuro estejam instrumentados com as informações essenciais para o efetivo
reuso dos dados (SAYÃO; SALES, 2012). Para assegurar o acesso a esses dados
presente e futuro, é preciso profissionais capacitados em seus respectivos papéis
e responsabilidades, no uso de tecnologias, instrumentos adequados e políticas
informacionais dentre outros.

De fato, o fazer pensar e repensar no que tange às ações de preservação


é ponto crucial para a sobrevivência das informações e de dados. Dessa forma,
curadoria digital é o processo de ações e medidas para a segurança e preservação
de dados. Sendo o resultante de iniciativas internacionais para preservação da
informação científica; da criação de uma infraestrutura para que pudesse aportar
a chamada ciência digital – nos Estados Unidos a chamada ciberinfraestrutura e
no Reino Unido, de E-science.

169
UNIDADE 3 — ARQUIVOLOGIA NO BRASIL

O termo “curadoria” foi transposto de museus e bibliotecas às mídias


interativas (a Web e seus novos canais de comunicação). A curadoria digital
diz respeito à gestão ativa de dados durante o tempo que ele continua a ser
acadêmico, científico, de pesquisa, de administração e/ou de interesse pessoal
com os objetivos de apoiar sua reprodutibilidade, reutilização e agregando valor
a esses dados, gerenciando-os do momento de sua criação até que eles sejam
determinados como não úteis e garantindo a sua acessibilidade a longo prazo,
assim como a sua preservação, autenticidade e integridade (HARVEY, 2010).

De acordo com Sayão e Sales (2012), uma parte considerável dos


resultados das atividades de pesquisa está sendo criada em formatos digitais,
por exemplo, a ciência aberta. Embora de grande valor, esses dados estão sob
o risco de serem perdidos pela obsolescência tecnológica e pela fragilidade
inerente das mídias digitais.

Dessa forma, a gestão de dados de pesquisa num ambiente distribuído e


em rede se torna um desafio crescente para o mundo da pesquisa, para a ciência
da informação e para a preservação de acervos de ciência e tecnologia. Como
resposta a esse desafio surge o conceito de curadoria digital, que envolve a gestão
de dados de pesquisa desde o seu planejamento, assegurando a sua preservação
por longo prazo, descoberta, interpretação e reuso, seja no presente ou no futuro.

Um exemplo clássico desse conjunto é destacado pelo especialista em


Gestão e Preservação de Documentos Arquivísticos Digitais Carlos Ditadi, em
que relata, no período de 1918 a 1919, que a gripe espanhola se espalhou pelo
mundo inteiro, matando de 20 a 80 milhões de pessoas.

De origem viral, não havia tratamento conhecido. Como veio, extinguiu-


se. Com o intuito de pesquisar meios de evitar uma nova catástrofe, a comunidade
internacional das áreas médica e de saúde pública procurou por décadas algum
vestígio biológico do vírus causador dessa enfermidade.

Só depois de muito tempo, foi encontrada uma amostra de tecido humano


infectado pelo vírus num hospital militar da Inglaterra. A partir desses vestígios
estão sendo desenvolvidas pesquisas para se descobrir vacinas e meios de
tratamento da gripe espanhola. As pesquisas em torno da amostra só se tornaram
possíveis graças à preservação dos arquivos científicos, datados de 1916, daquele
hospital militar (DITADI, 2003 apud SAYÃO; SALES, 2012).

[...]

170
TÓPICO 2 — O PROFISSIONAL ARQUIVISTA

3 O PROFISSIONAL ARQUIVISTA E A PRESERVAÇÃO DIGITAL

O arquivista é o profissional que atua em órgãos públicos e empresas


privadas com as atribuições de planejamento, implantação, organização e
direção dos arquivos e sistemas arquivísticos; a gestão de documentos, o
acompanhamento do processo documental e informativo; a identificação das
espécies documentais; o planejamento de novos documentos e o controle
de multicópias, arranjos, descrição, avaliação, conservação, preservação e
restauração de documentos (quando necessário). Cabe, ao profissional, registrar,
conservar e disseminar as informações produzidas no âmbito das atividades das
instituições e organizações em geral, tendo em vista a tomada de decisão para
o desenvolvimento organizacional e processos legais sobre o gerenciamento da
informação física e digital.

Tratar da preservação digital no âmbito da arquivística faz referência


ao documento arquivístico digital. Para o e-ARQ Brasil (2006, p. 39), “[…] nos
documentos digitais, o foco da preservação é a manutenção do acesso, que
pode implicar na mudança de suporte e formatos, bem como na atualização do
ambiente tecnológico”.

As técnicas de preservação incluem a prevenção da vida útil da tecnologia,


emulação, encapsulamento, migração e preservação da tecnologia. Sendo
recomendável adotar formato digital aberto como medida de preservação. Já o
Conselho Nacional de Arquivos (ICA) não estabelece uma técnica de preservação
[…] quanto aos aspectos práticos da preservação de documentos de arquivo
eletrônicos. Qualquer técnica de preservação deve ser consistente com os requisitos
essenciais de autenticidade, integralidade, acessibilidade e inteligibilidade,
capacidade de processamento e potencial reutilização. A consideração destes
requisitos não nos leva a sugerir uma técnica de preservação em particular como
sendo a solução que os arquivos devem adoptar. Seria insensato fazê-lo, e muito
menos numa altura em que as soluções continuam a evoluir rapidamente.

O Projeto InterPARES2 estabelece diretrizes de preservação digital visando


orientar o preservador (instituições, organizações e preservadores individuais) dos
documentos arquivísticos digitais objetivando a presunção [...]. Acurácia é o grau
de precisão, correção, verdade e ausência de erros e distorções existente nos dados
contidos nos materiais. Para assegurar a acurácia, deve-se exercer controle sobre os
processos de produção, transmissão, manutenção e preservação dos materiais. Com
o tempo, a responsabilidade pela acurácia é passada do autor para o responsável
pela manutenção e, mais tarde, para o preservador em longo prazo dos documentos
arquivísticos (se for aplicável) […].

A autenticidade se refere ao fato de que os documentos arquivísticos são


o que eles dizem ser e que não foram adulterados ou corrompidos de qualquer
outra forma. Assim, com relação aos documentos arquivísticos em particular,
a autenticidade refere-se à confiabilidade dos documentos enquanto tais. Para
assegurar que a autenticidade possa ser presumida e mantida ao longo do tempo,

171
UNIDADE 3 — ARQUIVOLOGIA NO BRASIL

deve-se definir e conservar a identidade dos documentos arquivísticos e proteger


sua integridade. A autenticidade é colocada em risco sempre que os documentos
arquivísticos são transmitidos através do tempo e do espaço. Ao longo do tempo,
a responsabilidade pela autenticidade é passada do responsável pela manutenção
para o preservador em longo prazo dos documentos arquivísticos (INTERPARES
PROJECT, 2012).

O projeto consiste em três etapas com o intuito de desenvolver


conhecimento teórico e metodológico para a preservação digital de documentos
arquivísticos gerados eletronicamente. Primeiro, formular modelos de
estratégias, políticas e padrões capazes de assegurar a preservação. Nesse
contexto, podemos destacar os modelos para elaboração de políticas para
preservação digital que abarcam a captura do objeto digital, organização,
trâmite, preservação e autenticidade.

A UNESCO considera a preservação digital como o conjunto de processos


para garantir a continuidade do património digital durante todo o tempo
considerado necessário (UNESCO, 2002).

No Brasil, a Câmara Técnica de Documentos Eletrônicos do CONARQ


trata da gestão e preservação de documentos eletrônicos, criando-se, em 2004, a
carta de preservação do patrimônio arquivístico digital e, por meio da resolução
de número 20 com o objetivo de ampliar a discussão em torno do documento
eletrônico com vistas a estabelecer políticas e estratégias que garantam a
preservação e o acesso dos documentos arquivísticos digitais.

[...]

4 PAPÉIS E RESPONSABILIDADES DO ARQUIVISTA NA CURADORIA


DIGITAL

O profissional arquivista deve interagir efetivamente às demais


disciplinas que lidam com o tratamento da informação de âmbito digital.
Zelar pela documentação arquivística neste contexto da mesma forma que
zela da documentação física. Atentando-se, para a preservação a longo prazo e
acessibilidade contínua.

Construindo uma área específica de preservação digital de cunho


interdisciplinar com o intuito de interagir com as novas questões, instituir uma
política de preservação digital. Atrelar a gestão de documentos a preservação
digital, dentro do contexto da política arquivística da instituição.

172
TÓPICO 2 — O PROFISSIONAL ARQUIVISTA

O papel do arquivista na curadoria digital é o de um agente que deve


construir pontes que atravessam disciplinas, funções de curadoria, níveis de
hierarquia organizacional (linhas de trabalho, gerência, administração) em volta
do ciclo de vida do objeto digital para assegurar a preservação em longo prazo
do patrimônio cultural, científico e governamental. Estando esse profissional
atrelado a equipe multiprofissional para juntos alinhar estratégias fundamentais
para a preservação digital (TIBBO; LEE, 2012).

Segundo o Observatório de Ciência da Informação da Universidade do


Porto, o perfil do profissional da informação denominado curador digital tem,
como uma das formações, a de arquivista, com a missão de preservar, manter
arquivos e dados digitais. Locais de ação entidades públicas ou privadas, com ou
sem fins lucrativos. Deve atuar em gerir o processo de criação e desenvolvimento
de repositório de dados para consultas posteriores realizadas por investigadores,
cientistas, historiadores e profissionais da área. Como forma de potenciar as
empresas na melhoria da qualidade de informação e dados quer nos seus
processos operacionais, estratégicos e do desenvolvimento organizacional.

[...]

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O arquivista, além da sua formação, deve aprimorar seu conhecimento


com novas disciplinas relacionadas à tecnologia e processos no âmbito da
curadoria digital. Tais disciplinas são desconhecidas ainda, mas podemos
relacionar algumas de acordo com o que foi apresentado no artigo como: gestão
de tecnologia da informação para profissionais da informação (teoria e prática),
conceitos, fundamentos e teorias da curadoria digital, tecnologia para preservação
digital, publicação digital, web semântica, ferramentas para trabalhar com dados
no âmbito da curadoria digital – metadados – teoria e prática, gestão de riscos. Com
isso, deve-se instigar os pesquisadores da Arquivologia a pensar em programas
com novas disciplinas específicas para incluir nas Escolas de Arquivologia do
Brasil dessa forma preparando o profissional arquivista para as novas demandas
no trabalho arquivístico, trabalho esse emergente e impossível de evitar.

Partindo da premissa de ser analisado sob o olhar da Arquivologia e


das tecnologias, buscando mostrar a importância de um gerenciamento correto
de documentos produzidos em meio digital, sendo extremamente importante
para a Ciência e para as ações das empresas e pessoas. Já que, tal meio, ainda
carece de certas metodologias e práticas, especialmente por se tratar de um
ambiente volátil e que está sendo constantemente atualizado e substituído por
tecnologias de armazenamento mais modernas. O que nos leva a repensar nas
atividades e responsabilidades.

173
UNIDADE 3 — ARQUIVOLOGIA NO BRASIL

No que diz respeito à preservação digital, que além de ser usada para dar
continuidade em pesquisas futuras, também serve como registro documental da
história da instituição, garantindo assim que a memória desta seja preservada,
consultada e subsidiada para novas pesquisas; recuperação dos documentos de
forma eficaz e sua preservação.

De acordo com o arcabouço teórico instigado nesse artigo, as perspectivas


de atuação do arquivista são promissoras no desempenho da curadoria
digital. Cognoscível à demanda por novas pesquisas e ensinamentos. Algumas
competências na sua formação já possuem, tanto do caminho teórico, prático,
técnico e gestão tendo que se aprofundar sobre a curadoria digital. Ter um olhar
crítico tanto sobre a sua formação quanto sua atuação no mercado de trabalho e
persuasivo no seu fazer Arquivístico.

Novos desafios, responsabilidades e papéis para o profissional arquivista.


O artigo tentou mostrar o básico da curadoria digital visando pensar nos seus
papéis e responsabilidades tendo em vista as habilidades e competências
que foram citadas no trabalho com as suas habilidades e competência já
construída e apreendidas em sua formação. Esse assunto está sendo revisitado
na arquivologia, mas emergente no estado atual e necessário tanto para a
Sociedade da Informação quanto para as organizações públicas, privadas e para
o profissional da informação, no caso o arquivista, tendo como novo caminho
de atuação e de estudos. Apoiar os processos documentais, tomada de decisão,
no desenvolvimento organizacional esse processo compreende estratégias que
faz com que a organização melhore o desemprenho dentro do processo de
documentos físicos e digitais: curadoria digital é mais que o processo para a
preservação digital ela é o olhar teórico e prático para o melhor desempenho
organizacional e funcional no que tange documentos e informações em geral. É
o que Digital Curation Centre (DCC) possui em seu lema: “porque boa pesquisa
precisa de bons dados”, e bons dados serão só acessados se preservados.

FONTE: ARAUJO, R. O.; FINAMOR, M. S. Curadoria digital: papéis e responsabilidades do arqui-


vista. Informação@Profissões, v. 6, n. 1, p. 44-68, 2017. Disponível em: http://www.uel.br/revis-
tas/uel/index.php/infoprof/article/download/31381/22639. Acesso em: 19 out. 2020.

174
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• O arquivista, o bibliotecário e o museólogo fazem parte do que denominamos


de profissionais da informação.

• Para ser arquivista, é necessário possuir curso superior com formação em


arquivologia.

• As profissões de arquivista e técnico de arquivo são regulamentadas pela Lei


Federal nᵒ 6.546, de 4 de julho de 1978, e pelo Decreto nᵒ 82.590, de 1978.

• Até outubro de 2019, a Lei nᵒ 6.546, de 1978, previa, no artigo 4ᵒ, que, para
exercer a profissão de arquivista ou técnico de arquivos, era necessário o
registro na Delegacia Regional do Trabalho do Ministério do Trabalho.

• Os profissionais arquivistas possuem Código de Ética e Associação


Profissional, estes que regulam a sua formação e atuação.

• Existe uma legislação específica que regula a atividade profissional.

• O Código de Ética Arquivista existe para orientar a conduta profissional.

• O Código De Ética Do Arquivista da CIA está disponível em 24 idiomas.

• O Brasil não tem um Código de Arquivista em âmbito nacional; utiliza-se o


Código de Ética proposto pela CIA.

CHAMADA

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175
AUTOATIVIDADE

1 Acerca do profissional arquivista, classifique V para as verdadeiras e F para


as falsas:

( ) O exercício da profissão é permitido aos diplomados no Brasil por curso


superior de Arquivologia, reconhecido na forma da lei.
( ) A profissão de técnico de arquivo não é prevista em legislação nacional.
( ) São atribuições, do arquivista, planejamento, orientação e direção das
atividades de identificação das espécies documentais e participação no
planejamento de novos documentos e controle de multicópias.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – V.
b) ( ) V – V – V .
c) ( ) F – F – V.
d) ( ) V – F – F .

176
REFERÊNCIAS
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encontrabilidade em websites de arquivos nacionais: um estudo entre Brasil e
Portugal. In: Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação, 20.,2019.
Florianópolis. Anais [...]. Florianópolis: UFSC, 2019. Disponível em: http://hdl.
handle.net/20.500.11959/brapci/122954. Acesso em: 6 nov. 2020.

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