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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL

SUELLEN MONTEIRO DA COSTA

UMA RELAÇÃO ENTRE OS FILMES O SENHOR DAS ARMAS


E A REDE SOCIAL

PARANAÍBA
2011
SUELLEN MONTEIRO DA COSTA

UMA RELAÇÃO ENTRE OS FILMES O SENHOR DAS ARMAS


E A REDE SOCIAL

Trabalho apresentado à disciplina de


Geopolítica Contemporânea, do 3º ano do
curso de Ciências Sociais, da Universidade
Estadual de Mato Grosso do Sul – Unidade
Universitária de Paranaíba – como exigência
parcial de avaliação, sob orientação do Prof
Me. Djalma Querino de Carvalho.

PARANAÍBA
2011
UMA RELAÇÃO ENTRE OS FILMES O SENHOR DAS ARMAS E A REDE SOCIAL

Se a Geopolítica persegue hoje uma linha de pensamento totalizante que dê conta


desse novo “território global sem fronteiras”, fatos como a contraditória e polêmica criação do
Facebook e o tráfego internacional de armas durante a década de 90 constituem elementos
consideráveis nessa nova configuração da sociedade global, na qual – ricos ou pobres, iguais
ou menos iguais, armados ou desarmados – estamos todos inseridos. Sobre a nova sociedade
civil mundial formada com o fim da União Soviética, Otavio Ianni, em A sociedade global,
registra que

O mundo mudou muito ao longo do século XX. Não é mais uma coleção de países
agrários ou industrializados, pobres ou ricos, colônias ou metrópoles, dependentes
ou dominantes, arcaicos ou modernos. A partir da Segunda Guerra Mundial,
desenvolveu-se um amplo processo de mundialização de relações, processos e
estruturas de dominação e apropriação, antagonismo e integração. [...] (IANNI,
2002, p. 36)
Mark Zuckerberg e Yuri Orlov estão inscritos nessa realidade global, que subordina
todas as coisas, todas as gentes e ideias. Zuckerberg e Orlov representam a superação da
ingenuidade dos “sujeitos pessoa física”, que pouco enxergam para além das fronteiras
geográficas de suas ambições, dando eco àquela visão totalizante e a longo prazo das grandes
marcas, para quem “hoje mundo é muito grande porque Terra é pequena, do tamanho da
antena Parabolicamará’ (GIL, 1994, apud SENE & MOREIRA, 2000, p. 9).
No imediato pós-Guerra Fria, ao mesmo tempo em que o capitalismo se depara com
novos horizontes, também emergem divergências e tensões que ainda fazem uso do “poder de
fogo”. A arma negociada pelo Sr. Orlov ainda é o instrumento de guerra de nações que se
encontram à margem da economia de mercado e de suas novas tecnologias. Não
precisaríamos sequer relembrar uma das cenas “reveladoras” de O Senhor das Armas para
concluir que o “o senhor das armas” não é apenas um indivíduo que fará riqueza pessoal com
o tráfico de armas, “o senhor das armas” é o império capitalista em sua nova geopolítica que,
em suas novas ferramentas, usurpará de todas as formas os já miseráveis. A geopolítica aqui
era ampliar os domínios do capital alargando as tensões políticas já acentuadas nas nações
paupérrimas dos continentes africano e asiático.
Como o diz Hobsbawm, embora a propósito das conseqüências políticas da Primeira
Guerra Mundial, “[...] a própria experiência ajudou a brutalizar tanto a guerra como a política:
se uma podia ser feita sem contar os custos humanos ou quaisquer outros, por que não a
outra?[...] ” (HOBSBAWM, 1995, p. 34) Na geopolítica do pós-Guerra Fria a façanha da
estratégia não está somente em vender armas para ambos os lados, e assim duplicar os lucros,
mas na destruição de qualquer unidade política das já fragmentadas nações africanas e
asiáticas, numa visão a longo prazo que caracteriza o olhar estratégico do capital. Não mais os
resultados imediatos de um confronto bélico, mas – pela venda de armas e a exploração
embutida nelas – a geopolítica do capital internacional sustenta-se no alargamento do abismo
entre as comunidades ricas e pobres. Aqueles que se armam mesmo sem conseguir dar de
comer ao seu povo também compram informação, também se vêem forçados a comprar a
tecnologia exportada pelos detentores do capital.
Como a figura do capital internacional, interligado de todas as formas e
surpreendentemente versátil nas suas iniciativas e ferramentas, a criação do Facebook deixa
de ser a criação de um gênio de programação, e torna-se propriedade do capital internacional.
Esse mundo ocidentalizado e arrasado por dois conflitos de proporções irracionais precisou
utilizar-se de outras armas, de outras formas de sedução e dominação. A informação firma-se
como arma de guerra altamente eficaz, alcançando contingentes muito maiores que os
alcançados por uma bomba atômica. E com uma vantagem: a informação não mata, ou mata
aos poucos, uma massa que consumirá muito, e cada vez mais.
O capital hoje é muito mais internacional, muito mais integrado, e, portanto, associado
ao mundo virtual que nos conecta. Mesmo com as recentes crises, o capitalismo parece
demonstrar que não há outro remédio que não o capital. A criação de Zuckerberg tornou-se
mercadoria e arma, marca de grandes receitas e símbolo desse capital global, que vende não
apenas um produto, mas um padrão de consumo, valores e ideias; “[...] o desenvolvimento
extensivo e intensivo do capitalismo continua a alcançar, absorver e reabsorver os mais
diversos espaços, modos de vida e trabalho, culturas. [...]” (IANNI, 2002, p. 149) Dentro do
processo de antagonismo e integração desse novo mundo, do qual nos fala Ianni, o gigante
Facebook é a ferramenta que conecta e mobiliza as massas para as revoltas no mundo árabe.
Se Orlov soube vender armas para os dois lados da guerra, existe na rede virtual seu lado bom
e mau, seu instinto que massifica todas as gentes e gostos e seu canal que integra e convida à
contestação.
Preparar-se para a paz ou para a guerra hoje é ter a mesma sagacidade, o mesmo
conhecimento de guerra do “senhor da armas”, ao mesmo tempo em que o domínio das
tecnologias projete-nos para esse estilo de fazer a guerra caracterizado pela extrema
flexibilidade. Flexibilidade no combate, pois “a sociedade global pode ser vista como uma
totalidade histórica e lógica. É um todo múltiplo, heterogêneo e caleidoscópico,
simultaneamente tenso e integrado, contraditório e organizado, aberto e em movimento. [...]”
(IANNI, 2002, p. 179) A geopolítica do século XXI é um apelo constante ao movimento da
sociedade global, ultrapassando as fronteiras geográficas e acompanhando a velocidade da
tecnologia. Ainda que menos bárbara que a política de guerra dos grandes conflitos do último
século, e incorporando necessariamente esse novo cenário da sociedade global, cabe à
estratégia de defesa preparar-se sempre para o conflito, para a defesa ante a toda tentativa de
dominação e apropriação. Na presença da “conselheira do príncipe”, o mundo será sempre
pequeno para aqueles que querem dominar, enquanto há os que insistem em resistir e almejam
também tornar-se grandes.

Referências bibliográficas

BRASIL. Decreto 6.703, de 18 de dezembro de 2008. Estratégia Nacional de Defesa.


Brasília: Ministério da Defesa, 2008.

HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX – 1914-1991. Trad. Marcos
Santarrita. 2 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

IANNI, Otavio. A sociedade global. 10 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.

SENE, Eustáquio de; MOREIRA, João Carlos. Espaço geográfico mundial e globalização:
8ª série. São Paulo: Scipione, 2000.

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