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A HISTÓRIA DO COMPANHEIRO MAÇOM

Doutrinariamente, o grau de Companheiro é o mais legítimo grau maçônico, por mostrar


o obreiro já totalmente formado e aperfeiçoado, profissionalmente. Historicamente, é o
grau mais importante da Franco-Maçonaria, pois sempre representou o ápice da escalada
profissional, nas confrarias de artesãos ligados à arte de construir, as quais floresceram na
Idade Média e viriam a ser conhecidas, nos tempos mais recentes, sob o rótulo de
“Maçonaria Operativa”, ou “Maçonaria de Ofício”. Na realidade, antes do século XVIII
havia apenas dois graus reconhecidos na Franco-Maçonaria: Aprendiz e Companheiro. Na
época anterior ao desenvolvimento da Maçonaria dos Aceitos ou Especulativa, o
Companheiro era um Aprendiz, que havia servido o tempo necessário como tal e havia
sido reconhecido como um oficial, um trabalhador qualificado, autorizado a praticar seu
ofício. Na Idade Média, quando as construções em pedra eram comissionadas pela Igreja,
ou pelos grandes reis, duques ou lords, a Maçonaria operativa era um lucrativo negócio ;
ser reconhecido, portanto, como um Companheiro pelos operários era um passaporte
seguro para uma participação no negócio e para uma renda praticamente garantida.
Graças a isso, os mestres da obra eram escolhidos entre os Companheiros mais
experientes e com maior capacidade de liderança ; e só exerciam as funções de dirigentes
dos trabalhos, daí surgindo o Master da Loja, o qual, pelas suas funções e pelo respeito
que merecia de seus obreiros, viria a ser o Worshipful Master - Venerável Mestre - o
máximo dirigente dos trabalhos. O grau de Mestre Maçom só surgiria em 1723 depois da
criação, em 1717, da Primeira Grande Loja, em Londres e só seria implantado a partir de
1738. Por isso, o grau de Companheiro foi sempre o sustentáculo profissional e
doutrinário dos círculos maçônicos, não se justificando a pouca relevância que alguns
maçons dão a ele, considerando-o um simples grau intermediário. Autores existem,
inclusive, que afirmam que na fase de transição da Maçonaria, ele era o único grau, do
qual se destacaram, para baixo, o grau de Aprendiz, e, para cima, o de Mestre. Na
realidade, não pode ser considerado um maçom completo aquele que não conhecer,
profundamente, o grau de Companheiro.
A palavra Companheiro é de origem latina.

O seu significado tem provocado controvérsias quanto à sua etimologia, pois alguns
autores sustentam que ela seria derivada da preposição cum = com e do verbo ativo e
neutro pango (is, panxi, actum, angere) = pregar, cravar, plantar, traçar sobre a cera e no
sentido figurado escrever, compor, celebrar, cantar, prometer, contratar, confirmar. Neste
caso, especificamente, pango teria o sentido de contrato, promessa, confirmação, fazendo
com que a expressão cum pango que teria dado origem à palavra Companheiro signifique
com contrato, com promessa, envolvendo um solene compromisso, que teria orientado as
atividades das companhias religiosas e profissionais da Idade Média e do período
renascentista. A origem mais aceita, todavia, é outra: o termo Companheiro é derivado da
expressão cum panis, onde cum é a preposição com e panis é o substantivo masculino
pão, o que lhe dá o significado de participantes do mesmo pão. Isso dá a idéia de uma
convivência tão íntima e profunda entre duas ou mais pessoas, aponto destas participarem
do mesmo pão, para o seu nutrimento. Essa origem, evidentemente, deve ser considerada
nos idiomas derivados do latim: compañero (castelhano), compagno (italiano),
compagnon (francês), companheiro (português). A Enciclopédia Larousse, editada em
Paris, por exemplo, registra o seguinte, em relação aos vocábulos compagnon e
compagnonnage: Compagnon - n.m. (du lat. cum = avec, et panis = pain) - Celui que
participe à la vie, aux occupations d’un autre: compagnon d’études. Membre d’une
association de compagnonnage. Ouvrier. Ouvrier qui travaille pour un entrepreneur
(par opos a patron). Compagnonnage - n.m. - Association entre ouvriers d’une
même profession à des fins d’instruction professionelle et d’assistence mutuelle.
Temps pendant lequel l’ouvrier sorti d’apprentissage travaillait comme compagnon
chez son patron. Qualité de compagnon.
Ou seja:
Companheiro - substantivo masculino (do latim cum = com, e panis = pão) - Aquele
que participa, constantemente, das ocupações do outro: condiscípulo, companheiro
de estudos. Membro de uma associação de companheirismo. Operário que trabalha
para um empreiteiro.
Companheirismo - substantivo masculino - Associação de trabalhadores de uma mesma
profissão, para fins de aperfeiçoamento profissional e de assistência mútua. Tempo
durante o qual o operário saído do aprendizado trabalhava como companheiro, em casa de
seu patrão. Qualidade de companheiro.

Nos idiomas não latinos, os termos usados têm o mesmo sentido. Em inglês, por exemplo,
o Companheiro, como já foi visto, é o Fellow, que significa camarada, par, equivalente,
correligionário, membro de uma sociedade, conselho, companhia, etc. . Daí, temos as
palavras derivadas, como: fellow laborer = companheiro de trabalho; fellow member =
colega; fellow partner = sócio; fellow student = condiscípulo; fellow traveler =
companheiro de viagem; e fellowship = companheirismo. Não se deve, todavia, confundir
o grau de Companheiro Maçom, ou o Companheirismo maçônico com o Compagnonnage
- associações de companheiros - surgido na Idade Média, em função direta das atividades
da Ordem dos Templários, e existente até hoje, embora sem as mesmas finalidades da
organização original, como ocorre, também, com a Maçonaria. O Compagnonnage foi
criado porque os templários necessitavam, em suas distantes comendadorias do Oriente,
de trabalhadores cristãos ; assim organizaram-nos de acordo com a sua própria doutrina,
dando-lhes um regulamento, chamado Dever. E esses trabalhadores construíram
formidáveis cidadelas no Oriente Médio e, lá, adquiriram os métodos de trabalho
herdados da Antigüidade, os quais lhes permitiram construir, no Ocidente, as obras de
arte, os edifícios públicos e os templos góticos, que tanto têm maravilhado, esteticamente,
a Humanidade. O Compagnonnage, execrado pela Igreja, porque tinha sua origem na
Ordem dos Templários, esmagada no início do século XIII, por Filipe, o Belo, com a
conivência do papa Clemente V, acabaria sendo condenado pela Sorbonne. Esta,
originalmente, era uma Faculdade de Teologia, já que fora fundada em 1257, por Robert
de Sorbon, capelão de S. Luís, para tornar acessível o estudo da teologia aos estudantes
pobres. E a condenação, datada de 14 de março de 1655, contendo um alerta aos
Companheiros das organizações de ofício (os maçons operativos), tinha, em relação às
práticas do Compagnonnage, o seguinte texto:
“Nós, abaixo assinados, Doutores da Sagrada Faculdade de Teologia de Paris,
estimamos:
1. Que, em tais práticas, existe pecado de sacrilégio, de impureza e de blasfêmia
contra os mistérios de nossa religião;

2. Que o juramento feito, de não revelar essas práticas, mesmo na confissão, não é
justo nem legítimo e não os obriga de maneira alguma ; ao contrário, que eles se
obrigam a acusar a si mesmos desses pecados e deste juramento na confissão;
3. Que, no caso do mal estar continuar e não possam eles remediá-lo de outra forma,
são obrigados, em consciência, a declarar essas práticas aos juizes eclesiásticos ; e da
mesma forma, se for necessário, aos juizes seculares, que tenham meios de dar
remédio;
4. Que os Companheiros que se fazem receber em tal forma assim descrita não
podem, sem incorrer em pecado mortal, se servir da palavra de passe que possuem,
para se fazer reconhecer Companheiros e praticar os maus costumes desse
“Companheirismo” ;
5. Que aqueles que estão nesse Companheirismo não estão em segurança de
consciência, enquanto estiverem propensos a continuar essas más práticas, às quais
deverão renunciar;
6. Que os jovens que não estão nesse “Companheirismo”, não podem neles ingressar
sem incorrer em pecado mortal.
Paris, no 14o. dia de março de 1655”.
Nada a estranhar! Era a época dos tribunais do Santo Ofício, da “Santa” Inquisição.

Para finalizar, é importante salientar que muitos dos símbolos do grau de Companheiro
Maçom-os quais tanto excitam a mente de ocultistas - foram a ele acrescentados já na fase
da Maçonaria dos Aceitos, pelos adeptos da alquimia oculta, da magia, da cabala, da
astrologia e do rosacrucianismo , já que os obreiros medievais, os verdadeiros operários
da construção, nunca adotaram tais símbolos, limitando-se às lendas e aos mitos
profissionais. Eram, inclusive, adversários das organizações ocultistas, combatidas pela
Igreja, à qual eles eram profundamente ligados, pois dela haviam haurido a arte de
construir e mereciam toda a proteção que só o clero católico poderia dar, numa época em
que o poder maior era o eclesiástico. Com o incremento do processo de aceitação, a partir
dos primeiros anos do século XVII, as portas das Lojas dos franco-maçons foram sendo
abertas não só aos intelectuais e espíritos lúcidos, que foram responsáveis pelo
renascimento europeu, mas, também, a todos os agrupamentos místicos e às seitas
existentes na época. Isso iria provocar uma verdadeira revolução nas corporações de
ofício e iria começar a delinear a ritualística especulativa do grau, baseada em símbolos
místicos e nas doutrinas ocultistas, principalmente na Cabala e na Alquimia Oculta.
BIBLIOGRAFIA
Do nosso Valoroso Mestre que nos enriquece com suas obras José Castellani
Do livro: “Cartilha do Grau de Companheiro”
Editora A Trolha – 1998

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