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O papel das virtudes no cultivo da verdadeira amizade

Gustavo Fukugava - UNIFESP


Lucas Sales – Institutuo Insper
Pablo Martinez Manglano – Universidade Presbiteriana do Mackenzie
Thiago Henrique Sério – PUC

Cesar Bulara -

1
Resumo 

 O presente trabalho tem por objetivo discorrer sobre o papel que as virtudes
desempenham na melhora de nossas relações pessoais, focando mais na relação de
amizade. Todo homem busca a felicidade e todos os seus atos tem por fim esse único
objetivo, assim, como o ser humano também é um ser social então ele busca em suas
relações com os outros ser feliz. Focando mais na relação da amizade, são
desenvolvidos neste trabalho as definições de amizade e virtude, sob a ética aristotélica.
Depois é trabalhado a visão que a filosofia medieval tem sobre essas
definições, utilizando elas de base, os pensadores cristãos expandem esses conceitos até
chegar nas virtudes teologais, sobretudo a caridade, que é a forma mais excelente de
amizade. Desse modo o homem virtuoso tem as virtudes como base que o levam à
caridade e com ela, ele consegue ser melhor amigo de seus amigos 

Palavras-chaves: Virtudes. Amor. Amizade. Aristóteles. São Tomás de Aquino.


Cristão 

Summary

The present work aims to discuss the role that virtues have in improving our
personal relationships, focusing more on the friendship relationship. Every man seeks
happiness and all his acts are aimed at this only purpose, thus, as the human being is
also a social being so he seeks in his relations with others to be happy. Focusing more
on the relationship of friendship, the definitions of friendship and virtue are developed
in this work, under aristotelian ethics. Then the vision that medieval philosophy has on
these definitions is worked, using them as a basis, Christian thinkers expand these
concepts until they reach the theological virtues, especially charity, which is the most
excellent form of friendship. In this way the virtuous man has the virtues as the basis
that lead him to charity and with it, he manages to be best friend with his friends

Keywords: Virtues. Love. Friendship. Aristotle. Saint Thomas Aquinas.


Christian

Introdução 

A sociedade contemporânea está passando por uma grave crise das relações
interpessoais. Não é difícil encontrar conhecidos ou familiares com problemas para
interagir com um terceiro, mais e mais as amizades estão instáveis, assim como um
castelo de cartas podem ruir de repente, dependendo do ânimo e do humor com os quais
se encontram as pessoas. Cada vez menos relações duradouras são construídas, ao
contrário, são criadas amizades de uma noite que acabam tão depressa como se iniciam.
A realidade é que se está imerso em uma cultura imediatista, que exige tudo no
momento em que se exige e não consegue esperar, o amigo, o colega e o namorado ou
namorada passaram a ser vistos como um objeto de consumo, e uma vez que não pode
mais satisfazer é descartado. Raramente se vê casamentos com mais de 15 ou 20 anos
ou amigos que se falam desde a época de colégio, isso revela a falta de perseverança, de
doação, de acreditar no outro e acima de tudo, de desinteresse, de não esperar nada em
troca.

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Dessa forma, busca-se pelas literaturas que, em contrapartida com o panorama
atual, apresentam uma abordagem que busca preservar as relações, desejam que durem e
que, efetivamente, ensinam o caminho para tal. Pela abordagem aristotélica e cristã o
indivíduo procura adquirir virtudes que irão melhorar a si mesmo e o amigo, e disso se
desenvolve um laço extremamente forte, uno e que muito dificilmente pode ser
quebrado. Por essa razão, tais obras foram selecionadas de tal forma que, nesse artigo se
conseguisse trazer a mensagem que possuem. Assim essa verdade tão antiga, porém tão
cheia de novidade pode ser levada à tona.

A visão aristotélica da amizade

Segundo escreveu Aristóteles em seu livro, Ética a Nicômaco, o homem busca a


felicidade, e para isso busca o Bem, ou seja, felicidade traduz-se em desejar, procurar e
encontrá-Lo.
Dessa forma, todos os aspectos de sua vida voltam-se a esse fim, tudo o que faz,
pensa, considera ou a que se dedica tem um fim comum.
Portanto, para o filósofo, seria impensável pensar em desvincular a felicidade do
Bem, de modo que se uma pessoa parece estar alegre, cheia de vida e disposição, mas
não pratica e nem deseja o Bem, não está verdadeiramente feliz.
Sendo um ser intrinsecamente sociável, o ser humano, por conseguinte, procura
ser feliz através das relações que estabelece- e é nesse ponto onde se situa a amizade.
Na cultura grega antiga, existiam vários tipos de amor, ou melhor, tipos de
relacionamento: o éros, o filia e o ágape, do menos elevado ao mais elevado. O éros é a
relação baseada na sensação de posse, na qual cada um deseja o outro para si, tê-lo
como coisa própria. Já o amor como filia significa uma forma de companheirismo, no
qual os indivíduos buscam ajudar-se mutuamente, almejando sempre praticar a justiça
em suas interações. Por último, o amor ágape tem relação com o ato de doação, nele
ambos se doam um para o outro, não tendo expectativas de receber algo em troca. Por
essa razão, os gregos consideravam essa terceira forma a mais elevada das relações
humanas, já que não há motivos por trás dela, simplesmente um se doa ao outro por
querer que o mesmo seja feliz.
Aristóteles também enxergava as amizades de forma parecida, há as amizades
úteis, as amizades por prazer e as amizades por bondade. Sendo que a primeira é
movida por interesses e reciprocidade a segunda é mantida pelo prazer ou satisfação que
se alcança ao conviver com o próximo; e a terceira estabelece-se quando ambos desejam
melhorar um ao outro; assim, a primeira é a menos elevada e a terceira, a mais singela e
pura das três. 
Com isso, é possível observar que a filosofia clássica nos trouxe uma importante
reflexão sobre a qualidade das relações que estabelecemos nas nossas vidas, chegando a
afirmar que as formas mais elevadas de interação são aquelas que não possuem um
motivo por trás a não ser o bem do outro. Isso gera um contraponto bastante
significativo com o que podemos observar nas relações contemporâneas: muitas delas
são superficiais, movidas por puro interesse, raras são as amizades que não se vendem
por status, dinheiro ou sucesso.
Ao considerar o panorama atual, observa-se como, cada vez mais, as amizades
têm data de validade, passado algum tempo perde-se o interesse, o ânimo se esvai. Não
mais se reconhece no amigo alguém de valor, mas apenas se vê nele um meio para
atingir certos objetivos, perdeu-se o sentido da amizade como um fim em si mesmo,
tornando-se um instrumento para satisfazer desejos.

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De certa forma, pode-se identificar uma atitude de fundo que atinge a muitos
relacionamentos: o pensar mais em si mesmo do que no outro. Tal fato traz
consequências importantes para a vida em família e em sociedade. Para Aristóteles, o
problema relacionado a essa questão se resolve no momento em que a pessoa passa a
olhar o seu amigo como um outro eu. 
Dessa forma, tudo o que se dedica para o outro se está dedicando para si mesmo,
ao doar-se para o outro, está se doando a si mesmo e ao fazer com que o outro melhore
está melhorando-se a si mesmo. Assim, é correto afirmar que para a abordagem
aristotélica o eu não é um conceito fixo e estático, na realidade, pode ser ampliado
indefinidamente, tornando possível olhar para um outro indivíduo como uma extensão
de si mesmo.
Ademais, é dito também que “(...) e a amizade parece digna de ser desejada por
si mesma. Mas dir-se-ia que ela reside antes em amar o que em ser amado (...)”, nesse
trecho é explícito que o que mais se valoriza é o ato de entrega incondicional, o que
significa doar-se sem esperar nada em troca. A fim de exemplificar isso é apresentada a
situação de algumas mães que, não podendo criar seus próprios filhos, confiam-nos aos
cuidados de terceiros, essas pobres mulheres amam os seus filhos com todas as forças
apesar de saberem que não podem esperar reciprocidade.

O papel das virtudes na amizade, segundo a visão aristotélica

Todos os homens buscam ser amados e como já foi dito há diferença entre os
graus e intensidades desse amor, o amor de um esposo para com sua esposa é diferente
de um amor entre namorados ou entre amigos. Muitas pessoas, nessa ânsia de querer ser
amadas, buscam amar o outro, até porque o amor é uma relação que deve ser recíproca.
Dessa forma, para uma completa doação, que deve ser feita em qualquer grau de amor, é
necessário não só o querer, mas também o conseguir, no querer está o aspecto do
intelecto de ver aquele objetivo como um bem. No entanto, há também a parte da
vontade de procurar conseguir aquele bem e para isso é preciso dispor dos meios para
alcançar aquilo que se busca.
Por exemplo, um halterofilista que almeja levantar uma quantidade absurda de
peso, primeiro ele deve ver esse objetivo como um bem, seja para ganhar mais força
muscular ou ganhar uma competição, mas apenas isso não o fará levantar a quantidade
de peso que quer, ele também deve treinar até conseguir seu objetivo. 
Na doação ocorre algo semelhante, o amigo busca se doar mais para seu colega,
mas ele não dispõe dos recursos necessários para isso, da mesma forma que o
halterofilista ainda não possui a força necessária para carregar o peso que quer, e a esses
recursos é dado o nome de virtudes. Todo aquele que busca ser melhor amigo dos seus
amigos e nutrir amizades excelentes deve buscar as virtudes pois possibilitam essa
doação ao outro.
Então, surge a pergunta: o que seriam as virtudes? As virtudes são
primeiramente definidas e comentadas pelos gregos e depois com o surgimento do
cristianismo a definição e o ensinamento delas é expandido e aprimorado. De acordo
com Aristóteles, a virtude “se encontra no justo meio entre os extremos, e será
encontrada por aquele dotado de prudência e educado pelo hábito no seu exercício. ”1
Assim, a virtude seria a qualidade que fica entre o excesso e a falta, no termo médio, por
exemplo, a virtude da coragem é o termo médio entre a covardia, que seria uma
deficiência na coragem, e a temeridade, que é um excesso de coragem, mas também
uma falta de prudência.
1
A Educação Segundo a Filosofia Perene, Capítulo V, parte 6.
4
Dos elementos que constituem as virtudes, o primeiro deles é o hábito. Isso é
visto na seguinte frase de Aristóteles: “Por conseguinte, se as virtudes não são paixões
nem faculdades, só resta uma alternativa: a de que sejam disposições de caráter. ”2, ou
seja, o que constitui a virtude é uma disposição de caráter, também chamado de hábito. 

“Os hábitos são disposições pelas quais se determinam as


potências. Por meio do hábito uma potência adquire uma ordenação, isto
é, uma certa prontidão e finalidade para operar determinados atos [...] Se
a determinação se dá segundo convenha à natureza da potência, será um
hábito bom e será chamado de virtude; se a determinação se dá segundo
um modo inconveniente à natureza da potência, será dito um hábito mau
e será chamado de vício. ” (A EDUCAÇÃO SEGUNDO A FILOSOFIA
PERENE, V. 6.)3

No homem há quatro potências: a vontade, a inteligência, a memória e a


imaginação e é através delas que o homem é suscetível às paixões, assim de acordo com
a afirmativa acima os hábitos incidem nas potências ordenando as paixões, as
moderando e essa ordenação pode ser tanto boa quanto má. Se a ordenação for boa, o
hábito será chamado de virtude e se for mau será chamado de vício. Dessa forma, a
conquista da virtude pressupõe um hábito bom que guia à vontade em direção a um
bem, mas chegar a adquirir esse hábito bom nem sempre é fácil.
Por isso que no começo é necessário um certo esforço para se adquirir a virtude,
mas depois de adquirido o hábito dela ocorre um certo deleite pois o esforço já não há
tanto esforço para fazer a virtude. Para compreender isso basta olhar uma pessoa que
busque acordar no horário pela manhã, ela intui que se demorar para acordar irá se
atrasar mas se acordar muito cedo não irá descansar o suficiente, então ela busca
acordar no horário que o despertador tocar, assim no começo será difícil pois ela não
está acostumada a isso, mas no decorrer do tempo começará a ser mais fácil já que o
corpo irá se acostumar a acordar na hora necessário, desse modo depois de um tempo,
acordar no horário não irá custar nenhum esforço pois esse comportamento tornou-se
um hábito.
No entanto, a virtude não opera apenas na vontade, mas também na inteligência.
A virtude é um hábito que opera segundo uma razão e deve buscar um termo médio nas
situações, a essa operação da razão é dado o nome de Prudência. Com a advinda do
Cristianismo, os pensadores elegem essa virtude como a maior e não sem motivos, visto
que “O termo médio da virtude não é único nem idêntico para todos. Ele deve ser
tomado, de acordo com as circunstâncias, não de modo absoluto, mas em relação a nós.
”4 A virtude opera nas circunstâncias próprias da vida de cada uma das pessoas e é
preciso cada uma intuir o termo médio na qual a virtude ocorrerá. Isso não é
relativismo, a coragem sempre será o médio entre covardia e temeridade, a alegria
sempre será o médio entre tristeza e euforia, mas como a virtude se faz na prática as
diversas circunstâncias da vida influenciam em como a virtude irá ser operada. 
Um erro bem comum que as pessoas caem sobre esse tema é a relação entre
virtudes e paixões. As virtudes são hábitos bons que ordenam e guiam as paixões para o
bem, ao contrário dos vícios que ordenam as paixões para o mal porque são hábitos
maus. Nisso reside um equívoco que muitas pessoas cometem, de que as virtudes
acabam com as paixões. No entanto, esse pensamento é errado pelo fato de que no
2
Ética a Nicômaco - Livro II, 5, 1106a, p. 10-11
3
A Educação Segundo a Filosofia Perene, Capítulo V, parte 6
4
A Educação Segundo a Filosofia Perene, Capítulo V, parte 9.

5
homem virtuoso a virtude é regulada pela razão e não simplesmente excluída. No
entanto, aquelas paixões que estão desordenadas não somem, simplesmente, mas
passam a ser ordenadas e por conta disso se transformam.
Tomemos a preguiça como exemplo, no começo o preguiçoso é dominado pela
paixão de ir adiando o trabalho, sempre preferindo o prazer antes do trabalho, mas ao
conquistar a virtude da diligência essa paixão é eliminada, ou melhor, trocada por uma
outra, de desfrutar do prazer após ter feito seu trabalho, assim, ele consegue ficar
despreocupado porque seu serviço já foi finalizado.

A visão cristã das virtudes


Como vimos anteriormente, todos os homens buscam um fim último, o qual se
realiza em si mesmo, não se busca mais nada além disso. Para os estoicos o fim último
era apreciar as virtudes como domínio de si, como um desafio de grandeza pessoal,
como vitória do esforço puramente moral. O enfoque cristão mudou profundamente essa
perspectiva, porque os cristãos perceberam que esses valores pagãos, ainda que muito
bons, padecem de insuficiência.

Para os cristãos, o fim último é a santidade, que significa a identificação com


Cristo. Essa identificação significa amar a Deus. Uma vez que se alcança o fim último
passa-se a ser feliz, porque a felicidade não é um meio, mas um fim em si mesmo não
somos felizes para alcançar algo, somos felizes porque amamos a Deus.

As virtudes para os cristãos passam a ter um sentido muito elevado, porque vivê-
las significa se aproximar e se identificar com Deus. Sem o amor não faz sentido
procurar viver as virtudes, pois Deus é o fim último.

Segundo São Tomás a virtude é um hábito operativo bom. Em outras palavras, a


virtude é uma paulatina integração das faculdades com a inteligência e vontade. Todos
os homens possuem tendencias e inclinações, movimentos do nosso eu sobre os quais
não temos total controle. Entretanto essas tendências conseguem ser educadas, pode-se
de maneira progressiva, por meio do esforço pessoal, inclinar essas tendencias a bens
árduos. Dessa maneira torna-se possível utilizar as tendências como uma alavanca um
impulso que nos direciona ao bem.

Para os cristãos a conquista das virtudes não é meramente resultado do empenho


humano, mas contam com “organismo da vida sobrenatural do cristão” que são os sete
dons do Espírito Santo, as virtudes teologais e as virtudes humanas elevadas pela graça,
segundo o catecismo da Igreja católica. Esse “organismo da vida sobrenatural do
cristão” fortalece e orienta toda realização sobrenatural do cristão, guiando até a meta
que é a santidade.

As virtudes teologais são aquelas infundidas pelo Espírito Santo para que os
fiéis possam tornar-se capazes de agir como filhos e merecer a vida eterna. Segundo o
Catecismo, as virtudes teologais, “adaptam as faculdades do homem para que possa
participar da natureza divina...; animam e caracterizam o agir moral do cristão;
informam e vivificam todas as virtudes morais” (Catecismo da Igreja Católica, nn. 1812
e 1813)5. Com elas todas as virtudes passam a ser, como dizia Santo Agostinho, “atos de
amor”.

5
Catecismo da Igreja Católica nn. 1812 e 1813

6
A primeira virtude teologal é a fé, que consiste em ver tudo com os olhos de
Cristo. Com a fé viva torna-se possível praticar uma série de virtudes humanas, que a
visão mundana é incapaz de compreender. Com a fé os cristãos têm a certeza de que
Deus é amor e, portanto, toda a conquista das virtudes passa a ter um sentido, conquista-
las por amor a Deus. Desta maneira, o homem que tem fé procura entregar-se totalmente
a Deus, vivendo a Fortaleza, generosidade, temperança etc.

A esperança, segunda virtude teologal, é o suporte poderoso para a alegria e o


otimismo. Bento XVI diz que “a esperança manifesta-se praticamente nas virtudes da
paciência, que amornece no bem, nem sequer diante de um aparente insucesso, e da
humildade, que aceita o mistério de Deus e confia nele mesmo na escuridão” (Deus
caritas est, n. 39)6.

Por fim temos a caridade que é a virtude que funde inseparavelmente o amor a
Deus e o amor ao próximo. “É a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas
as coisas, por si mesmo, e ao nosso próximo como a nós mesmos, por amor de Deus”
(Catecismo da Igreja católica, n. 1822)7. Ela engrandece as virtudes humanas da
generosidade, da lealdade e da fidelidade.

A amizade como manifestação da Caridade

Ressalta-se, que o Catecismo define a Caridade como a virtude teologal pela


qual amamos Deus sobre todas as coisas, por si mesmo, e ao nosso próximo como a nós
mesmo. Nesse contexto, a Caridade engrandece as virtudes humanas da generosidade,
da lealdade e da fidelidade, todas as virtudes passam a ter sentido por meio dela, visto
que procuram ser virtuosas para amar a Cristo, e é exatamente isso que a Caridade é,
amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo.

Nessa perspectiva, São Tomás de Aquino diz que tal virtude é a mais excelente
entre todas as virtudes, assim como a fé, a Caridade tem também a Deus como objeto,
que se estende também ao próximo. De fato, é uma amizade do homem para com Deus,
que nos torna participantes de sua bem-aventurança, ademais, amor é a palavra que mais
se identifica com a definição tomística de Caridade, pois é o que se funda nessa
comunhão de Deus e o homem, o objetivo próprio do amor de Caridade é o bem divino.
São Tomás define tal virtude da seguinte forma “...entre as virtudes teologais, será mais
excelente aquela que mais alcançar a Deus. Ora, a fé e a esperança alcançam Deus na
medida em que recebemos dele ou o conhecimento da verdade ou a posse do bem. Mas
a Caridade alcança Deus para que nele permaneça e não para que dele recebamos algo”.
Nesse cenário, vale ressaltar que São Tomás reconhece a excelência dessa virtude em
relação as demais.

Nesse panorama, quem nos ensinou a verdadeira vivência da Caridade, foi Jesus
Cristo, no qual trouxe tal bem, de forma grande, sincera, mais nobre e valiosa, os
homens devem amar de forma mútua como Cristo os ama, pois, assim, dentro de suas
rudezes pessoais, será possível abrir o coração a todos os homens, amar da forma mais
elevada. São Paulo pede que seja feito o bem a todos e especialmente aos que pela fé
pertencem à nossa família, ao corpo Místico de Cristo. É necessário preservar o pedido
de São Paulo, principalmente dentro da Igreja, visto que, nela, é necessário que haja um
clima de autêntica Caridade, pois quando há desavenças, ataques e calúnias ninguém se
6
Deus caritas est, n. 39
7
Catecismo da Igreja Católica, n. 1822

7
sentirá atraído pelos que se apresentam como mensageiros da boa nova, os filhos de
Deus aprendem na Igreja a servir e não a ser servidos, sentem-se com força para amar a
humanidade como Cristo amou a Igreja, os católicos devem buscar compreender que a
prática dessa virtude com o próximo é uma forma de amor a Deus, assim, não há limites
para a busca da Caridade, deve-se sempre buscar melhorar tal prática.

Por fim, São Paulo ressalta mais uma vez essa virtude em Coríntios, capítulo 13
“São Paulo: Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor,
seria como o metal que soa ou como o sino que tine.

E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a


ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não
tivesse amor, nada seria.

E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda
que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me
aproveitaria”. Portanto, Caridade é traduzir em obras e verdades o grande empenho de
Deus, que deseja que os homens se salvem e conheçam a Verdade.

Conclusão

Todos os homens buscam a felicidade. Segundo Aristóteles, o homem por ser


um ser sociável busca a felicidade nas relações que nutre com os outros. A virtude, que
é um hábito operativo bom que ordena para o bem, é o meio para o homem ir ao
encontro do outro. Os pensadores cristãos corroboram com essa definição de virtude,
acrescentando as virtudes teologais. Dentre essas existe a caridade, que é a forma mais
excelente da amizade, pois as amizades têm como fim último amar o outro por meio de
Deus. Para vive-la, os cristãos procuram crescer em todas as virtudes.

Referências

- ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. 10. ed. São Paulo: Martin Claret, 2001.

- ROSA, Antônio P. Donato. Educação Segundo a Filosofia Perene, em


http://www.cristianismo.org.br/efp-ind.htm, consultada em 07/11/2021

- João Paulo II. Catecismo da igreja católica. 2.ed. São Paulo. Loyola, 2000

-FAUS, Francisco. Conquista das virtudes.1.ed. São Paulo. Cultor de livros, 2015. A
alma das virtudes humanas, Mais sobre a alma das virtudes pp 55- 59 pp 60-65

- ROCHA, Paulo Roberto. AS VIRTUDES NO PENSAMENTO DE SANTO TOMÁS


DE AQUINO. uel.br. Belo Horizonte. 15 p. Disponível em:
http://www.uel.br/eventos/sepech/sumarios/temas/as_virtudes_no_pensamento_de_sant
o_tomas_de_aquino.pdf. Acesso em: 8 nov. 2021

8
- 1 CORÍNTIOS 13. Bíblia Online. Disponível em:
https://www.bibliaonline.com.br/acf/1co/13. Acesso em: 8 nov. 2021.

- ESCRIVÁ, Josemaría. FÉ ESPERANÇA CARIDADE. 57 p.

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