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O elemento finito triangular, cuja geometria está representada na figura (1), usa
polinômios de primeiro grau como funções interpoladoras para deslocamentos u e v conforme
equação (1).
u ( x, y ) = a1 + a2 x + a3 y
(1)
v( x, y ) = a4 + a5 x + a6 y
y
3 (x3 , y3)
1
(x1 , y1) 2
(x2 , y2)
Como para esse tipo de problema, a derivada de maior ordem nas relações deformações –
deslocamentos é de ordem unitária, estas funções, sendo polinômios completos de primeiro
grau, satisfazem as condições requeridas e o elemento é dito completo. Como nas relações
deformações – deslocamentos aparecem somente derivadas de primeira ordem, apenas há
necessidade de continuidade de deslocamentos (continuidade C0) ao longo da ligação de
elementos adjacentes.
Tratando-se de elemento triangular, é comum encontrar sua formulação escrita em
termos das coordenadas triangulares ou homogêneas ao invés de coordenadas cartesianas.
Nesse sistema de coordenadas, o elemento triangular tem os seus nós numerados seguindo o
sentido de x para y e seus lados têm o numero do nó oposto. As coordenadas são relacionadas
aos lados do elemento triangular e variam de 0 a 1. A figura (2) ilustra o sistemas de
coordenadas triangulares.
y
2 (0 , 1)
3
(0 , 0) 1
(1 , 0)
x = ε i xi
(i=1,2,3) (2)
y = ε i yi
em que ε 1 + ε 2 + ε 3 = 1 , sendo
1
εi = (ai + bi x + ci y ) (3)
2A
As constantes ai, bi e ci são dadas pela equação (4) e 2A é dado pela equação (5).
ai = xk − x j bi = y j − y k ci = x j y k − y j x k (4)
1 x1 y1
1 x y 2 = 2 A (5)
2
1 x3 y 3
As coordenadas homogêneas também podem ser interpretadas como relações entre as áreas
dos triângulos definidos pelos nós 1, 2 e 3 e pelo ponto P, conforme ilustrado na figura (2),
ou seja:
Ai
εi = (6)
A
u e = {u1 v1 u 2 v2 u3 v3 } (7)
u = Nu e (8)
u1
v
1
u ε 1 0 ε2 0 ε3 0 u 2
= (9)
v 0 ε 1 0 ε2 0 ε 3 v 2
u 3
v3
ε = Lu (10)
Substituindo-se na equação (10) o vetor u dado em (9), têm-se as deformações em função das
incógnitas nodais:
ε = Bu e (11)
∂ 0
∂x
∂ ε1 0 ε 2 0 ε3 0
B= 0 (12)
∂y 0 ε 1 0 ε2 0 ε3
∂ ∂
∂y ∂x
a1 0 a2 0 a3 0
1
B= 0 b1 0 b3 0 b3 (13)
2A
a1 b1 a2 b2 a3 b3
Logo, a matriz de rigidez para o elemento CST pode ser escrita como:
∫
K = t B T DBdA (14)
A
1 ν 0
Et
∫ (15)
T
K= B ν 1 0 BdA
2 0 0 β
1 −ν A
em que β = (1 − ν ) 2 .
O vetor de cargas nodais equivalentes, devido às cargas contidas no plano do elemento
e atuando ao longo de um de seus lados é dado por:
r = ∫ N T QdS (16)
S
em que
qx1
q
y1
Qx ε 1 0 ε2 0 ε3 0 q x 2
= 0 ε (17)
Qy 1 0 ε2 0 ε 3 q y 2
qx3
q y 3
σ = DBU e (18)
Como o elemento CST apresenta deformações constantes em todo o seu domínio, as tensões
também serão constantes. Neste caso, pode-se dizer, que elas são calculadas no baricentro do
elemento.
u1
v
σ x 1 ν 0 a1 0 a2 0 a3 0 1
ν 1 0 0 b 0 u
b3 2
E
σ y = b3 0 (19)
(
τ 2 A 1 − ν
2
) 1
0 0 β a1 b1 a2 b2 a3
v
b3 2
xy u3
v3
Os resultados que foram obtidos pelo CST foram apenas modestos. Somado a isso os
computadores da época eram extremamente limitados e havia dificuldade na geração de
malhas com o número de elementos que seria necessário para uma análise adequada. Essa
realidade levou ao desenvolvimento de elementos com funções de forma mais complexas.
A partir do início dos anos 90, com o desenvolvimento cada vez maior da capacidade de
processamento dos microcomputadores e com o desenvolvimento de geradores automáticos
de malha os elementos simples como o CST voltaram a ganhar espaço.
EXEMPLOS DE USO DO ELEMENTO CST
10 kN 5
20
(cm)
60
Admitindo-se como válida a viga Bernoulli, a deflexão máxima da viga obtida pela
Teoria da Elasticidade é dada pela equação:. Para os dados do problema, a flecha máxima da
viga vale 0,0108cm. Alternativamente pode-se empregar a viga de Timoshenko que considera
também a influência do corte.
Exemplo 1
2 4 6 8
2 4 6
1 3 5
1 3 5 7
10kN
Figura (4): malha utilizada no exemplo 1.
3 6 9 12 15 18 21
4
3
2 2
10kN
1
1
Figura (5): malha utilizada no exemplo 2.
Exemplo 3
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65
10kN
2
1
1
Figura (6): malha utilizada no exemplo 2.
Comparações: a figura (7) apresenta a deformada obtida para cada exemplo e a deformada
obtida pela equação da linha elástica aplicada ao exemplo proposto. É evidente a aproximação
da solução exata com o refinamento da malha adotada. Cabe destacar a quantidade de
elementos que deve ser empregada para resolver um problema tecnicamente simples.
0
-0,002
-0,004
deflexão (cm)
-0,006
Equação da linha elástica
Exemplo 1
-0,008
Exemplo 2
Exemplo 3
-0,01
-0,012
0 10 20 30 40 50 60 70
Coordenada x (cm)
Figura (7): Comparação dos resultados obtidos nos três exemplos com a deformada obtida
através da equação da linha elástica.
A seguir parte do trabalho realizado pelo Eng. Felipe Gobbi Silveira quando aluno da
disciplina de Programação do Método dos Elementos Finitos.
30000
E secante (kPa)
R 30
20000
10000
0.20
coeficiente de poisson
0.10
0.00
-0.10
-0.20
-0.30
11 22 33 44 55 66 77 88 99 110 121 132 143 154 165 176 187 198 209 220 231
4m
0,4 m
1
0,4 m
8m
Exemplo 1
O exemplo 1 consiste na aplicação da carga pontual de 10kN na superfície do terreno
localizada no centro do maciço. Neste exemplo as três bordas se encontram restritas conforme
ilustrado na figura 11.
4m
10 kN
solo 4m
E=5.000kPa
=0,15
8m
defomrmada em Y=360
0,00E+00
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900
-5,00E-02
deslocamentos verticais (cm)
-1,00E-01
-1,50E-01
Bousinesq
MEF
-2,00E-01
-2,50E-01
-3,00E-01
-3,50E-01
distância (cm)
450
400
deslocamentos verticais (cm)
350
300
250
200
150
bousinesq
100
MEF
50
0
-8,00E-02 -6,00E-02 -4,00E-02 -2,00E-02 0,00E+00 2,00E-02
distância (cm)
Figura (13): Seção vertical entre os nós 122 e 132 (localizada 0,4m a esquerda do centro).
450
400
deslocamentos verticais (cm)
350
300
250
200
150
Bousinesq
100
MEF
50
0
-2,00E-02 -1,50E-02 -1,00E-02 -5,00E-03 0,00E+00 5,00E-03 1,00E-02
distância (cm)
Figura (14): seção vertical localizada entre os nós 199 e 209 (localizada a 0,8m da borda
esquerda).
Nota-se uma boa aproximação dos resultados, obtida pelos dois procedimentos descritos, para
as seções horizontal e vertical localizada próxima ao centro do maciço. Na seção vertical
localizada próxima a face do maciço a aproximação não foi tão boa, entretanto os
deslocamentos verificados são sensivelmente inferiores àqueles obtidos na outra seção
vertical.
Exemplo 2
O exemplo 2 consiste na aplicação da carga pontual de 10kN no nó 198, ou seja, a
1,2m da borda. A borda esquerda neste exemplo foi considerada sem restrição, logo,
representa um corte exposto conforme ilustrado na figura (15).
1,2 m
10 kN
solo
E=5.000kPa
=0,15 4m
8m
5,00E-02
0,00E+00
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900
deslocamentos verticais (cm)
-5,00E-02
-1,00E-01
-1,50E-01
-2,00E-01
-2,50E-01
Bousinesq
-3,00E-01
MEF
-3,50E-01
-4,00E-01
distância (cm)
450
400
deslocamentos verticais (cm)
350
300
250
200
150
bousinesq
100
MEF
50
0
-2,00E-02 0,00E+00 2,00E-02 4,00E-02 6,00E-02 8,00E-02 1,00E-01
distância (cm)
Figura (17): Seção vertical entre os nós 122 e 132 (localizada 0,4m a esquerda do centro).
vertical entre os nós 199 e 209
450
400
deslocamentos verticais (cm)
350
300
250
200
150
Bousinesq
100
MEF
50
0
-8,00E-02 -4,00E-02 0,00E+00 4,00E-02 8,00E-02 1,20E-01
distância (cm)
Figura (18): seção vertical localizada entre os nós 199 e 209 (localizada a 0,8m da borda
esquerda).
Pode ser observado nos resultados o grande efeito de se ter a borda livre, gerando incremento
nos deslocamentos verificados no modelo numérico em relação àqueles obtidos com as
equações de Bousinesq.
Exemplo 3
O exemplo 3 consiste na aplicação da carga pontual de 10 kN no nó 198, mesma posição do
exemplo 2, entretanto neste exemplo a borda esquerda da escavação foi restrita na análise
numérica conforme ilustrado na figura (19).
1,2 m
10 kN
solo
E=5.000kPa
=0,15 4m
8m
defomrmada em Y=360
5,00E-02
0,00E+00
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900
deslocamentos verticais (cm)
-5,00E-02
-1,00E-01
-1,50E-01
-2,00E-01
Bousinesq
MEF
-2,50E-01
-3,00E-01
distância (cm)
450
400
deslocamentos verticais (cm)
350
300
250
200
150
bousinesq
100
MEF
50
0
-2,00E-02 -1,00E-02 0,00E+00 1,00E-02 2,00E-02 3,00E-02
distância (cm)
Figura (21): Seção vertical entre os nós 122 e 132 (localizada 0,4m a esquerda do centro).
450
400
deslocamentos verticais (cm)
350
300
250
200
150
Bousinesq
100
MEF
50
0
-8,00E-02 -6,00E-02 -4,00E-02 -2,00E-02 0,00E+00 2,00E-02
distância (cm)
Figura (22): seção vertical localizada entre os nós 199 e 209 (localizada a 0,8m da borda
esquerda).
Verifica-se na apresentação dos resultados boa convergência das análises. A seção vertical
mais distante do carregamento apresentou uma aproximação pior, esta diferença parece ser
influência da restrição incluída na base do maciço na análise numérica.
Exemplo 4
O exemplo consiste na aplicação da carga pontual no nó 198, mesmo ponto de
aplicação dos exemplos 2 e 3. Entretanto foi inserido, na borda esquerda, um material mais
rígido, com 40cm de espessura, e restrito apenas no pé, simulando uma cortina de concreto
conforme ilustrado na figura (23). As propriedades adotadas para a cortina de concreto foram:
E= 2.000 MPa e n=0,30.
1,2 m
10 kN
solo
E=5.000kPa
=0,15 4m
cortina de concreto
E=2.000.000kPa
=0,30
8m 0,40 m
5,00E-02
0,00E+00
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900
deslocamentos verticais (cm)
-5,00E-02
-1,00E-01
-1,50E-01
-2,00E-01
Bousinesq
MEF
-2,50E-01
-3,00E-01
distância (cm)
450
400
deslocamentos verticais (cm)
350
300
250
200
150
bousinesq
100
MEF
50
0
-2,00E-02 -1,00E-02 0,00E+00 1,00E-02 2,00E-02
distância (cm)
Figura (25): Seção vertical entre os nós 122 e 132 (localizada 0,4m a esquerda do centro).
vertical entre os nós 199 e 209
450
400
deslocamentos verticais (cm)
350
300
250
200
150
Bousinesq
100
MEF
50
0
-1,00E-01 -8,00E-02 -6,00E-02 -4,00E-02 -2,00E-02 0,00E+00 2,00E-02
distância (cm)
Figura (26): seção vertical localizada entre os nós 199 e 209 (localizada a 0,8m da borda
esquerda).
Conclusões
Atualmente os trabalhos em modelagem de solo tem se focado exaustivamente na
proposição de modelos constitutivos representativos do comportamento real do solo.
Entretanto, a aplicação prática da previsão de deslocamentos e distribuição de tensões em
geotecnia, até pouco tempo, eram realizadas apenas por soluções baseadas na Teoria da
Elasticidade, como as equações de Bousinesq apresentadas neste trabalho. Até mesmo quando
se empregam programas de elementos finitos e diferenças finitas, na pratica de engenharia
geotécnica, utilizam-se modelos constitutivos simples, como o apresentado neste trabalho,
devido à dificuldade de obtenção de parâmetros refinados para projeto (que atendam a
utilização de modelos mais sofisticados). Desta forma, as comparações realizadas neste
trabalho sabidamente distanciam-se da simulação do comportamento real dos solos por não
considerar diversos aspectos, como a não linearidade do comportamento tensão x deformação,
a existência de deformações plásticas desde pequenas deformações, entre outros, entretanto as
análises realizadas neste trabalho se aproximam das análises refinadas executadas na prática
de engenharia geotécnica. Feitas às ressalvas quanto à validade das análises realizadas seguem
as conclusões sobre a aplicação do programa de elementos finitos e as soluções obtidas
analiticamente.
Analisando o exemplo 1, verifica-se a validade das análises realizadas com o
programa elaborado em comparação aos deslocamentos calculados analiticamente. Este
exemplo foi feito justamente com este propósito, lançando-se uma geometria mais próxima
possível das considerações de Bousinesq na formulação de suas equações (consideram um
meio semi-infinito). A seção mais distante do carregamento apresentou uma aproximação pior
em relação à solução analítica, obviamente pela proximidade da restrição (borda) não
considerada em tal solução.
Os demais exemplos apresentaram diferenças expressivas nos resultados ao se alterar
as condições de restrição da borda, verificando-se deslocamentos bastante diferentes nas
seções próximas a face. Estes resultados eram esperados e são bastante óbvios pelos motivos
citados no parágrafo anterior, entretanto o objetivo das análises realizadas era justamente
evidenciar o erro cometido ao se supor um meio semi-infinito para analisar carregamentos
junto a faces de escavações e contenções, logo com condições de contorno diferentes daquelas
propostas para proposição das soluções analíticas. Evidenciando assim a vantagem da
utilização do programa de elementos finitos em relação às soluções analíticas utilizando o
mesmo modelo, vantagem essa expressa pela versatilidade da introdução de diferentes
condições de carregamento e restrições.