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INTRODUÇÃO E HISTÓRICO Acreditava-se que tal atividade era Chuanqui2, em 1972, relatou que em
regida pelo sistema nervoso, embora hou- 1853 foi publicado um livro descrevendo
O artigo busca entender e abrir maiores vesse quem postulasse que o comando os achados de His8 quanto à conexão mus-
discussões sobre o sistema de condução do residia no próprio coração, sobre o qual cular especial entre átrios e ventrículos,
coração, ou seja, os impulsos elétricos car- o sistema nervoso atuaria de forma autô- demonstrável no ser humano, derrubando
díacos aos quais se vem atribuindo outras noma, regulando-o². Nessa época, Lower4 a teoria miógena.
nomenclaturas, conforme os estudos avan- descreveu a ligação do coração ao nervo
vago. No século XVIII, His chegou até Em 1906, vieram a público os traba-
çam no tempo. Desde o século XVII, os lhos de Tawara9 relatando os seus achados
pesquisadores estudam as diversas fibras, mesmo a descrever a condução do impul-
so cardíaco como um mistério. Haller5, en- com relação ao nó atrioventricular, que
o sistema nervoso e a musculatura, e com- foram imediatamente reconhecidos pelo
param livros, anotações e teorias antigas tretanto, confirmou a teoria miógena como
a responsável pela atividade cardíaca. seu mestre, Aschoff. No ano seguinte,
de vários outros estudiosos na tentativa de
ambos publicaram um trabalho no qual
compreender a mecânica de tal complexi- Em 1839, Purkinje6 escreveu o primei- descreveram o nó de Aschoff-Tawara2,9
dade. Citaremos as principais descobertas ro trabalho consistente sobre o assunto, (Figuras 2 a 4).
dos primeiros trabalhos, os quais ainda no qual mencionava a descoberta de uma
nos orientam a respeito dessas atividades rede de fibras subendocárdicas de colora- Em outubro de 1907, Keith e Flack10,
responsáveis pelo funcionamento do cora- ção pálida que contrastavam com as fibras valendo-se de achados anteriores, publi-
ção. As figuras mostrarão, com detalhes, miocárdicas contráteis e que hoje são co- caram um estudo destacando a grande
as descrições de fibras, ventrículos, arté- nhecidas como fibras de Purkinje. semelhança entre a musculatura do limite
rias, ramificações e demais estruturas do sinoauricular e a do nó de Aschoff-Tawa-
coração humano. Será possível perceber Em 1885, Gaskell7, um dos defensores ra. Embora o nó sinusal tenha sido inicial-
a função de cada estrutura anatômica que da teoria miógena para os impulsos cardía- mente descrito por Walter Koch11, coube a
interliga nodos, feixes e fascículos, por cos, descreveu a musculatura das câmaras Keith e Flack descreverem todas as suas
meio de descrições ricas em detalhes de cardíacas como estruturas independentes características, inclusive sua irrigação ar-
tamanho, função, cor e até mesmo peso no “esqueleto cardíaco”2 (Figura 1), loca- terial12.
dos elementos condutores. lizada na região por ele denominada anel
fibroso, com exceção de algumas fibrilas A partir dessa época, os nós sinoatrial,
A maioria dos pesquisadores designa típicas que unem os átrios e os ventrículos. ou de Keith e Flack, e atrioventricular, ou
o conjunto de estruturas responsáveis pela
geração e condução dos impulsos elétricos
cardíacos como sistema de condução do
coração, mas existem aqueles que o intitu-
lam sistema excitocondutor do coração1,2
e, mais recentemente, complexo estimu-
lante do coração3.
Em que pese à importância desse sis-
tema na geração e condução dos estímulos
cardíacos, pouca ênfase tem sido dada a
ele, chegando inclusive a ser questionada
a sua existência por alguns autores2.
Descrições a respeito do sistema de
condução do coração começaram a surgir
no início do século XVII, em busca de so-
Figura 1 – Desenho esquemático do esqueleto fibroso cardíaco.
luções para algumas controvérsias em tor- Adaptado de: Wolf-Heidegger. Atlas de Anatomia Humana. 5a ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan,
no da atividade cardíaca2. 2000.
1. Membro Especialista em Estimulação Cardíaca Artificial pelo DECA/SBCCV. Chefe do Serviço de Estimulação Cardíaca da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM).
2. Médico Responsável pela Disciplina de Anatomia Humana da UFTM.
3. Médico Residente em Cardiologia pela UFTM.
4. Médico-assistente do Serviço de Marcapassos da UFTM.
5. Médico Intervencionista do Hospital da Beneficência Portuguesa de São Paulo.
6. Médica com Título de Especialista em Cardiologia pela SBC.
Nó sinoatrial
O nó sinoatrial é considerado o
“marcapasso cardíaco”2,20, por ser o com-
ponente do sistema de condução de maior
importância na geração, ritmicidade e
frequência dos estímulos cardíacos. De-
nominado inicialmente nódulo sinusal,
logo após a sua descoberta por Keith e
Flack10, passou a ser descrito posterior-
Figura 4 – Fragmento da região membranácea do septo interventricular, porção atrioventricular – mente como nódulo S-A, nódulo do seio,
localização anatômica do nó atrioventricular e do feixe de His.
nódulo de Keith e Flack, nó sinoatrial3,
nó sinusal e “marcapasso cardíaco”2,20.
de Aschoff-Tawara3, passaram a ser co- Existem autores que questionam a
nhecidos como responsáveis pela geração permanência dessas estruturas em huma- Localização e morfologia
dos estímulos cardíacos. nos adultos, embora se mostrem tão evi-
dentes em embriões e fetos humanos15,16. O nó sinoatrial é encontrado frequen-
Em 1912, Mall13 descreveu a exis-
Em 1959, Doerr15 e Lev16 verificaram em temente no subepicárdio anterolateral
tência de fibras internodais em numero-
seus estudos que havia casos de síndro- dos dois terços superiores do sulco ter-
sos embriões humanos e mais tarde, em
me de Wolff-Parkinson-White nos quais minal, mais precisamente no ângulo die-
1958, sua presença foi confirmada em
essas vias internodais não eram encon- dro cavo-atrial, região resultante da jun-
fetos humanos. Nesses casos, de forma
tradas, e que o inverso também era ver- ção da veia cava superior com a parede
incomum, foram encontradas 17 vias in-
dadeiro. Por outro lado, há os que con- atrial. Trata-se de um nódulo fusiforme,
ternodais14 (Figura 3).
JBAC 4
achatado, de extremidades afiladas e com citoplasma. Nelas, as mitocôndrias são septo interatrial, passando anteriormente
uma cauda alongada20, visível macrosco- mais numerosas, distribuídas uniforme- à fossa oval e ventralmente ao fascículo
picamente, constituído essencialmente mente ao longo do citoplasma. O número intermédio, alcança a porção anterior do
por fibras musculares cardíacas especia- de miofibrilas no citoplasma é menor nas nó atrioventricular, podendo haver um
lizadas. O seu tamanho é proporcional ao células transicionais localizadas nas mar- desvio de algumas de suas fibras antes
do coração que, por sua vez, é proporcio- gens do tecido nodal, à semelhança das que alcance o nó.
nal ao sexo, ao tipo físico e à massa cor- células do miocárdio atrial. As conexões
É descrita ainda a existência de um
poral. Tem em média 15 mm de extensão, entre as células transicionais asseme-
feixe acessório interligando átrio e ven-
variando de 5 a 30 mm. Sua largura situ- lham-se às nodais, porém as mais peri-
trículo direitos, com trajeto diferente dos
a-se em torno de 5 mm e a sua espessura féricas apresentam maior complexidade
anteriores. O feixe de Kent12 é composto
alcança em média 1,5 mm, variando de 1 nas suas uniões, onde são frequentemente
por pontes miocárdicas inconstantes que
a 5 mm20. encontrados discos intercalares. As célu-
se estendem do miocárdio atrial ao ven-
las pálidas de Purkinje representam cerca
O nó sinoatrial pode ser também lo- tricular, por cima ou por meio dos anéis
de 5% do parênquima nodal e são con-
calizado pelo trajeto de sua artéria, man- fibrosos; não apresenta tecido conjuntivo;
sideradas artefato de técnica histológica6.
tendo-se separado do epicárdio por tecido as fibras de Mahaim (fibras septais), que
gorduroso20 que pode estar ausente na Feixes internodais unem o fascículo atrioventricular (e não
sua porção superior, fixando-se na sero- seus ramos) ao miocárdio septal; o fascí-
sa que o envolve, de onde parte o feixe Estabelecendo a interligação entre os culo de Bachmann, que liga o nó sinoa-
internodal de Bachmann20. De sua por- nós sinoatrial e atrioventricular na condu- trial ao teto do átrio esquerdo.
ção inferior afilada e alongada partem os ção dos impulsos cardíacos2,16, existem
demais feixes internodais de Thorel e de três feixes de fibras musculares especia- Nó atrioventricular
Wenckebach18,20. lizadas denominadas feixes internodais
O nó atrioventricular2 ou de Aschoff e
(Figuras 2 e 4): 1) o fascículo dorsal ou
As fibras musculares especializadas Tawara9 constitui o segundo marcapasso
posterior de Thorel, que parte da cauda
do nó sinoatrial parecem prolongar-se em cardíaco, assumindo essa função com
do nó sinoatrial, percorre longitudinal-
fibras miocárdicas atriais na sua perife- 50% a 60% da frequência exercida pelo
mente a crista terminal para cursar a ex-
ria20, de onde partem não só os três feixes nó sinoatrial, principalmente quando
tremidade posterior do septo interatrial,
internodais já referidos que interligam os este, por alguma razão, deixa de coman-
passando posteriormente à fossa oval,
nós sinoatrial e atrioventricular20, mas 16 dar os batimentos cardíacos. Como já
entre esta e a desembocadura do seio
outros feixes que também emergem do havia descrito Wenckebach2, o estímulo
coronário, para alcançar a extremida-
nó, mergulhando no miocárdio atrial14 cardíaco sofre um retardo na sua condu-
de posterior do nó atrioventricular; 2) o
(Figura 5). ção na região atrioventricular, local onde
fascículo intermédio ou de Wenckebach,
são encontrados os demais elementos do
As células transicionais13 estão loca- que também nasce na região caudal do nó
sistema de condução, como o nó atrio-
lizadas em maior número na periferia do sinoatrial, desce na porção intermédia do
ventricular e o seu feixe (Figuras 5 e 6).
tecido nodal sinoatrial e são consideradas septo interatrial, passando anteriormente
responsáveis pela despolarização dias- à fossa oval para alcançar a porção inter- Localização e morfologia
tólica do miocárdio atrial. Envolvem as média do nó atrioventricular, por meio de
“células P”, entrando em contato com o uma trabécula cárnea atrial; 3) o fascículo O nó atrioventricular, visível macros-
miocárdio atrial na periferia do nó. São ventral ou anterior de Bachmann, que se copicamente (Figuras 5 e 6), situa-se a 1
mais alongadas do que as nodais e pos- origina na extremidade anterior ou supe- mm abaixo do endocárdio20, apoiado no
suem maior número de miofibrilas no seu rior do nó sinoatrial, desce também pelo lado direito da porção fibrosa do septo
atrioventricular, mais precisamente no
triângulo de Koch11,20, cujos limites são
(Figura 4): na porção superior, o tendão
de Todaro20 descrito em 1885, ou banda
sinusal, uma extensão anterior da válvula
da veia cava onde é encontrada a desem-
bocadura do seio coronário, ou de Tebé-
sio, e sua válvula em formato semilunar,
e abaixo está a inserção da válvula septal
atrioventricular direita ou tricúspide1,20. O
seio coronário túrgido salienta-se acima
do referido nó1.
O nó atrioventricular é constituído
por uma faixa de fibras musculares car-
díacas especializadas, possui no mínimo
Figura 5 – Terço superior do septo interventricular, porção membranácea do coração humano e
2 cm23, mais frequentemente de 6 a 7,5
detalhes do nó atrioventricular, feixe de His, seu ramo direito, artéria septal posterior e o ramo do
nó atrioventricular.
5 Anatomia do sistema excitocondutor do coração