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INTERAÇÃO CLÍNICO-PATOLÓGICA

UNIDADE 1 - CONCEITOS GERAIS,


ADAPTAÇÃO E LESÃO CELULAR
Autoria: Janaina Paulini Aguiar - Revisão técnica: Talita Sartori

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Introdução
Vamos começar esta unidade abordando as interações que ocorrem no organismo humano em decorrência de
estímulos patológicos. Para isso, você vai conhecer conceitos de saúde e doença, a etiologia de doenças e suas
patogenias. O entendimento da biologia celular torna-se extremamente necessário para que você compreenda o
processo patológico.
Tenha em mente que existem muitas informações a respeito do funcionamento celular e de como a célula é capaz
de se comportar no ambiente em que vive. No centro de todo esse processo, está a comunicação celular, como as
mensagens são originadas, transmitidas, recebidas, interpretadas e utilizadas pela célula. As conversas tanto
intracelular quanto entre as células têm que ser simplificadas e organizadas para que, dessa forma, haja
harmonia tecidual e integridade do organismo.
Saiba que as células devem demonstrar um gosto químico por outras células para manter a integridade de todo
organismo. Quando elas não toleram mais essa interação, a conversa é interrompida e as células se adaptam (às
vezes, alteram a função) ou ficam vulneráveis ao isolamento, às lesões ou às doenças.
O conhecimento das alterações estruturais e funcionais das células e dos tecidos diante de danos, incluindo os
defeitos genéticos, é a chave para o entendimento do desenvolvimento das doenças. As alterações de células e
tecidos podem ser resultantes de mecanismos adaptativos, injúrias, neoplasias, envelhecimento ou morte. Essas
adaptações ocorrem em resposta a situações fisiológicas (normais) ou patológicas (adversas). As adaptações a
condições adversas são efetivas por um tempo determinado, caso o agente causador de estresse seja severo ou
permaneça por muito tempo, as células poderão sofrer injúria ou morrer.
Vamos lá? Acompanhe esta unidade com atenção!
Bons estudos!

1.1 Conceitos de saúde e doença


O conceito de saúde vem sofrendo alterações ao longo do tempo. Isso se deu porque ocorreram mudanças na
sociedade, como efeitos secundários da conjuntura social, do comportamento da economia, do momento político
e do acesso à cultura e conhecimento. Ou seja, saúde não representa a mesma coisa para todas as pessoas,
em locais e épocas diferentes. Note que, se para alguns, ter acesso a alimentos já pode ser considerado saúde,
para outros, ela depende da combinação de diferentes fatores, incluindo bem-estar físico, psíquico e emocional, o
que pode ter relação direta com as situações econômica e social daquela pessoa, dos seus valores, das suas
crenças e dos seus costumes. O mesmo raciocínio pode ser aplicado a doenças.
O conceito elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e divulgado em 7 de abril de 1948, na chamada
Carta de Princípios, implica o reconhecimento do direito à saúde e da obrigação do Estado na promoção e na
proteção da saúde, e diz que “saúde é o estado do mais completo bem-estar físico, mental e social, não apenas a
ausência de enfermidade”.
Dessa forma, discutindo o conceito de saúde, torna-se importante que ela seja entendida em um sentido mais
amplo, capaz de afetar a qualidade e o tempo de vida de um ser vivo. Pensando nessa inter-relação, para que um
indivíduo tenha saúde, devem ser atendidas todas as suas necessidades, de acordo com sua interação com o
ambiente em que vive, sendo necessário, para isso, a aplicação de recursos, conhecimentos e tecnologias.
Mas, acima de tudo, é imprescindível que todos possam ter assegurado o direito a esses recursos, conhecimento
e tecnologias em saúde, para terem suas necessidades atendidas como seres únicos e individuais e, também,
como sociedade.

• A saúde como um processo dinâmico e contínuo

Você deve pensar a saúde como um processo dinâmico e contínuo que envolve desde a prevenção e a

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Você deve pensar a saúde como um processo dinâmico e contínuo que envolve desde a prevenção e a
proteção da saúde até a recuperação e a reabilitação após um evento patológico. Resumindo, a saúde
pode ser considerada um bem e um direito, sendo cada pessoa responsável por suas ações, suas
condutas e suas decisões.

O importante é entender que todos os fatores colaborativos do processo saúde/doença não acontecem de
forma isolada ou aleatória, alguém não fica doente ou saudável por acaso.
Perceba que o processo saúde/doença consegue evidenciar as relações que existem em uma população, com
fatores causais e socioambientais capazes de determinar o perfil epidemiológico de doenças, bem como
demonstrar a eficácia de novos métodos de diagnóstico, prevenção e tratamento das doenças, correlacionando-
os ao desenvolvimento do conhecimento e das tecnologias. Discutindo a pluralidade de fatores que determinam
o estado de saúde/doença de um indivíduo, você pode se dar conta de que, além dos fatores biológicos, outras
situações relacionadas aos perfis econômico, social, cultural e mesmo crenças podem ser determinantes no perfil
epidemiológico de determinada sociedade em dada época.
Muitas teorias, modelos e hipóteses foram formulados na tentativa de compreender e explicar o processo saúde
/doença bem como defini-lo de forma única para todos os seres humanos. Para isso, foram utilizados conceitos
de interação entre o agente causador da doença, o meio em que a pessoa vive e a quais riscos ela está exposta –
as próprias características individuais aparecem como os fatores causais das doenças, sendo individualmente
componentes de um fino equilíbrio.
A história natural da doença é o nome dado ao conjunto de processos interativos que compreendem as
relações multicausais entre o agente, o indivíduo que se apresenta suscetível e do meio ambiente em que
ele se encontra, como determinantes do processo global, desde os primeiros fatores que criam o estímulo
patológico no meio ambiente, ou em qualquer outro lugar, passando pela resposta do indivíduo a esse estímulo
até as alterações que levam a um defeito, invalidez, recuperação ou morte desse organismo (LEAVELL; CLARK,
1976).

Figura 1 - História natural da doença

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Figura 1 - História natural da doença
Fonte: Adaptada de Leavell et al., 2005.

#PraCegoVer: a imagem mostra uma representação dos processos e das fases envolvidos no desenvolvimento
das doenças, dividida em pré-patogênese e patogênese. Na fase pré-patogênese (susceptibilidade), estão a
atenção primária, a proteção específica e a promoção da saúde. A fase patogênica subdivide-se em fase clínica,
pré-clínica e precoce. Na fase clínica, estão os estágios de incapacidade residual, invalidez e morte. Já na fase pré-
clínica, constam doença precoce discernível, doença avançada (complicações). Na fase precoce, estão o
diagnóstico precoce, a limitação do dano, a cura, a convalescença e a reabilitação. Tudo, forma a história natural
das doenças.
Como você já deve saber, o organismo encontra-se em constante esforço com o objetivo de manter um estado
de equilíbrio interno dinâmico, estável que recebe o nome de homeostase. Cada célula componente desse
organismo está envolvida na manutenção desse equilíbrio, não apenas em nível celular, mas como parte de um
órgão, tecido e sistema que formam um organismo.
Todo dano e agressão celular geram reflexos sistêmicos que afetam toda a constituição orgânica. Qualquer
elemento capaz de alterar esse equilíbrio corporal pode causar um processo patológico (elementos
físicos, químicos e biológicos), bem como alterações nutricionais, estresse emocional entre outros. Note que a
somatória desses danos pode alterar a função do organismo de forma compatível ou não com a manutenção da
vida.
Para que a homeostase se mantenha constante, mecanismos e ajustes finos precisam acontecer a todo momento.
Para realizar essas adaptações, a célula necessita ser capaz de: detectar a perda da homeostase; processar essa
informação em um centro de controle que gere uma resposta e um mecanismo que execute a ação necessária
para restaurar a homeostase.

VOCÊ O CONHECE?
O estudo do processo de saúde e doença compreende diferentes saberes, diferentes
abordagens e conceitos que evoluem ao longo do tempo. Um dos pioneiros no estudo da
genética humana foi Gregor Mendel (1822). Após ter sido ordenado monge, em 1847, Mendel
ingressou na Universidade de Viena, onde estudou matemática e ciências por dois anos. Ele
queria ser professor de ciências naturais, mas foi malsucedido nos exames. Entre 1856 e 1865,
realizou uma série de experimentos com ervilhas com o objetivo de entender como as
características hereditárias eram transmitidas de pais para filhos.
Em 8 de março de 1865, Mendel apresentou um trabalho à Sociedade de História Natural de
Brunn, no qual enunciava as suas leis de hereditariedade, deduzidas das experiências com as
ervilhas.

A integração de fatores determinados geneticamente com estímulos provenientes do meio externo pode resultar
em respostas que perturbem o equilíbrio do organismo, levando a estados patológicos. Existem alterações
genéticas que não precisam desses estímulos externos para desenvolver a doença, a própria alteração no
material genético é o fator determinante para o processo patogênico. Há algumas características influenciadas
pela história familiar, como exemplo, você pode considerar a tendência à obesidade, mas se você associar os
estímulos ambientais, como sedentarismo, uma dieta rica em gorduras bem como fatores emocionais,
como estresse, é possível alterar o curso ou o aparecimento das complicações. Esse equilíbrio é bastante
dinâmico e mutável de acordo com essa exposição ambiental.
Um dos fatores que precisa ser discutido é a etiologia das doenças, isto é, as causas que levam à determinada

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Um dos fatores que precisa ser discutido é a etiologia das doenças, isto é, as causas que levam à determinada
patologia. O fator causal pode ser originado dentro do próprio organismo (fator intrínseco) ou no meio externo
(fator extrínseco). Assim, os hábitos de vida de uma pessoa podem determinar ou prevenir determinadas
manifestações, mesmo que geneticamente herdadas. Outros fatores, como sexo, idade e raça, são imutáveis e
participam da gênese de algumas doenças.

VOCÊ SABIA?
Doença e mal-estar apresentam significados diferentes, embora essas palavras sejam
comumente usadas com o mesmo sentido. Saiba que a doença ocorre quando a homeostase
não é mantida. Já o mal-estar ocorre quando o indivíduo vivencia o impacto biológico
resultante do processo patológico. Por exemplo, a pessoa pode apresentar doença coronariana,
diabetes ou asma, mas não ficar o tempo todo indisposta, porque seu organismo se adaptou à
doença. Nessa circunstância, o indivíduo é capaz de realizar atividades necessárias do seu
cotidiano.

O processo de desenvolvimento de uma doença é chamado de patogenia. A maioria das doenças apresenta um
padrão de sinais e sintomas assim como um padrão temporal de aparecimento, agravamento e recuperação do
organismo afetado, muitas doenças são autolimitadas em relação a complicações e evolução temporal. Outras
tornam-se crônicas e nunca são curadas, apenas controladas, apresentando fases de maior controle e fases em
que os sinais e os sintomas são mais evidentes.
Em geral, descobre-se uma doença por causa do aumento ou da diminuição do metabolismo ou da divisão
celular. Os sinais e os sintomas podem incluir hipofunção, como constipação (diminuição do peristaltismo
intestinal); hiperfunção, como aumento da produção de muco (tosse secretiva) ou função mecânica
aumentada, como convulsão (aumento e desorganização dos impulsos elétricos cerebrais). A maneira pela qual
as células respondem à doença depende do agente causador e das células, dos tecidos e dos órgãos afetados pelo
mecanismo agressor. Note que a resolução da doença depende de muitos fatores, que estão atuando durante um
período.

VOCÊ QUER VER?


Como você pode perceber, essa capacidade que as células têm de se adaptar e responder a
estímulos do meio externo confere ao organismo a possibilidade de se manter funcionando
mesmo em situações adversas. Que tal assistir a um vídeo que mostra como ocorrem essas
adaptações? Confira por meio do link a seguir: https://www.youtube.com/watch?
v=sdiIZ0PiVSI.

De acordo com o que você estudou, nosso organismo pode ser agredido de diferentes maneiras e em diferentes
intensidades. Devido a isso, ele precisa de diferentes ferramentas para lidar com essas alterações. Dando
continuidade, nos estudos sobre conceitos de saúde e doença, conheça, a seguir os estágios da doença.

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1.1.1 Estágios da doença

O estabelecimento de uma doença ocorre pela interação de diversos fatores e respostas frente a uma
determinada agressão. Uma sequência específica de eventos inicia-se após a exposição do tecido a um agente
agressor. Inicialmente, os tecidos passam pela adaptação, fase caracterizada pela ausência de sintomas. A
manifestação clínica dos sinais e dos sintomas da doença acontece a seguir, quando identificados e tratados os
agentes causais, o organismo evolui com recuperação da homeostasia inicial e, consequentemente, diminuição
dos sintomas. Conheça os eventos iniciados após a exposição tecidual:

Exposição ou lesão
O tecido alvo é exposto a um agente causal ou é lesado.
Latência ou período de incubação
Não há evidência de sinais e sintomas.
Período prodrômico
Os sinais e os sintomas são, em geral, leves e inespecíficos.
Fase aguda
A doença atinge sua intensidade total e, geralmente, aparecem as complicações, isto é, sinais e sintomas
específicos da doença, que podem resultar em sequelas e comprometimento funcional do organismo. Se, durante
essa fase, o paciente ainda consegue manter suas atividades de vida diária, como antes de ter ficado doente,
teremos a denominada fase aguda subclínica.
Remissão
Essa segunda fase latente ocorre em algumas doenças e é, em geral, seguida por outra fase aguda.
Convalescença
Nesse estágio de reabilitação, o paciente progride para a recuperação após o término de uma doença.
Recuperação
Nesse estágio, o paciente recupera a saúde ou as suas funções normais. Não ocorre qualquer sinal ou sintoma da
doença.

Veja que vários fatores são determinantes no processo de adoecimento de um organismo; é necessária a
presença de um agente agressor que consiga gerar uma resposta no organismo, respostas de diferentes células,
tecidos e sistemas geram os sinais e os sintomas dessa patologia que podem determinar e diferenciar as distintas
etapas do processo de saúde e doença.

Figura 2 - História natural das doenças infecciosas

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Figura 2 - História natural das doenças infecciosas
Fonte: Adaptada de Communicable Disease and Healthy People, 2020.

#PraCegoVer: a imagem apresenta as fases de desenvolvimento de doenças infecciosas divididas em tempo de


infecção latente (período de latência e período de incubação) e doenças no hospedeiro (período de latência,
proliferação do agente, sintomas da doença e infecção ativa).
Como você pôde conhecer, ocorrem diferentes processos no organismo em resposta a um estímulo agressor
/patogênico. Para que o organismo consiga manter a homeostase e o seu funcionamento, diferentes mecanismos
celulares são a base para que esse corpo se mantenha funcional. A seguir, confira sobre alterações e adaptações
celulares a esses estímulos.

1.2 Adaptação celular


As células adaptam-se ao seu ambiente para manter seu funcionamento fisiológico ou escapar e se proteger
de lesões. Saiba que as células que conseguem se adaptar a diferentes situações não estão saudáveis nem
doentes, mas em uma situação intermediária a esses estágios. Algumas vezes, essa adaptação celular é resultado
de um estímulo benéfico, que faz com que o organismo se adapte, mas de maneira não patológica. A exemplo
disso, você pode considerar que, na gestação, o útero aumenta de tamanho para acompanhar o desenvolvimento
fetal. Os mecanismos envolvidos nessas adaptações celulares, no entanto, são uma parte comum e importante de
muitos processos patológicos. No início de um processo adaptativo bem-sucedido, as células precisam
aprimorar e ajustar suas funções, o que torna mais difícil diferenciar esses mecanismos em patológicos ou
adaptativos ao excesso de estímulos recebidos por essa célula. As alterações que derivam de mecanismos
adaptativos mais significativas para o organismo incluem atrofia (diminuição no tamanho da célula),
hipertrofia (aumento no tamanho da célula), hiperplasia (aumento no número de células), metaplasia
(substituição reversível de um tipo de célula madura por outra menos madura), displasia (crescimento celular
desarranjado) e neoplasia (aumento no número de células atípicas).
Conheça, a seguir, detalhes de cada uma dessas adaptações.

1.2.1 Atrofia

A atrofia pode ser entendida como uma diminuição ou contração do tamanho celular (GUYTON; HALL, 2002). Se
a atrofia ocorre em um número suficiente de células de um órgão, o órgão inteiro diminui ou torna-se atrófico,
reduzindo seu tamanho e prejudicando sua função. Tenha em mente que a atrofia pode afetar qualquer órgão
e tecido, mas é mais comum no músculo esquelético, no coração, nos órgãos sexuais secundários e no cérebro.
Ela pode ser resultante de um estímulo fisiológico ou patológico.

• Atrofia fisiológica
Como uma situação de atrofia fisiológica e que ocorre após o desenvolvimento inicial, por exemplo, você
pode considerar uma atrofia senil do timo. Que, muito provavelmente, ocorre pela alteração bioquímica
com predominância de reações catabólicas.
Saiba que esse processo acontece porque, ao nascer, o recém-nascido não apresenta seu sistema
imunológico bem desenvolvido, sendo mais propício a infecções. Com o passar do tempo, o
amadurecimento do sistema de defesa do organismo resulta da involução da glândula timo, ligada à
defesa do organismo nos primeiros anos de vida.

• Atrofia patológica

Já a atrofia patológica ocorre como resultado de reduções na carga de trabalho (nos músculos

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Já a atrofia patológica ocorre como resultado de reduções na carga de trabalho (nos músculos
esqueléticos por imobilidade, por exemplo), pressão (redução da nutrição e da oxigenação celular), uso,
suprimento de sangue, nutrição (metabolismo celular prejudicado), estimulações hormonal e nervosa
(mecanismos de comunicação e interação entre as células de diferentes órgãos e sistemas corporais).

Note que indivíduos imobilizados na cama por um período prolongado exibem um tipo de atrofia muscular
esquelética denominada atrofia por desuso (muito comum em pacientes com sequelas de lesões neurológicas,
traumas ortopédicos e alterações do nível de consciência).
Como discutido, o processo fisiológico de atrofia resulta de respostas normais do organismo a situações
não patológicas. Um exemplo dessa resposta é o processo natural de envelhecimento, que faz com que
ocorra um declínio funcional das células do sistema nervoso central com sua consequente atrofia, o que resulta
em uma diminuição cognitiva normal na pessoa idosa. Além disso, as células que respondem a estímulos
hormonais atrofiam-se à medida que a estimulação hormonal reduz, resultante do declínio apresentado ao longo
do ciclo reprodutivo.
Seja a atrofia causada por condições fisiológicas normais ou patológicas, as células atróficas exibem as mesmas
alterações básicas. A estrutura intracelular de uma célula muscular atrófica contém menos retículo
endoplasmático, menos mitocôndrias e miofilamentos (parte da fibra muscular que controla a contração) do que
uma célula normal.
Na atrofia muscular causada pela lesão nervosa, o consumo de oxigênio e a captação de aminoácidos são
imediatamente reduzidos. As mudanças bioquímicas que decorrem do processo de atrofia estão apenas
começando a ser elucidadas pela ciência. Os mecanismos, que provavelmente, estão envolvidos incluem
diminuição da síntese proteica, aumento do catabolismo proteico ou ambos. A atrofia aumenta o processo
autofágico, ou seja, passa a digerir as próprias organelas para usar como fonte nutricional (na atrofia por
inanição, por exemplo) ou pode responder a essa má nutrição crônica, com aumento da presença de mais
vacúolos autofágicos, que são vesículas ligadas à membrana celular que contém enzimas hidrolíticas e resíduos
celulares, predispondo esta célula a mecanismos de apoptose, que é o processo de morte celular programada.

1.2.2 Hipertrofia

Robbins et al. (2012) definem hipertrofia como o aumento no tamanho das células e, consequentemente, no
tamanho do órgão afetado. As células do coração e dos rins, por exemplo, são particularmente propensas ao
aumento. Saiba que o aumento do tamanho celular está associado a um crescimento do acúmulo de proteínas e
dos componentes celulares (membrana plasmática, retículo endoplasmático, miofilamentos e mitocôndrias), não
ao aumento do líquido celular. Portanto, a célula não cresce devido à retenção de líquidos no seu interior,
causando aumento do seu volume.
A hipertrofia pode ser uma resposta fisiológica ou patológica e é causada pela estimulação hormonal específica
sobre esse órgão ou pelo aumento da demanda funcional em decorrência de ajustes sistêmicos, na tentativa de
manter a homeostase orgânica. Os gatilhos para a hipertrofia incluem dois tipos de sinais: (1) sinais mecânicos
como estiramento (estresse mecânico) e (2) sinais tróficos como os fatores de crescimento, hormônios e
agentes vasoativos (sinalizadores do próprio organismo para alteração da resposta celular). Confira um
exemplo: o músculo esquelético apresenta uma hipertrofia fisiológica em resposta à sobrecarga de trabalho
(observada em indivíduos que praticam atividade física regularmente). Essa hipertrofia muscular tende a
diminuir se esse trabalho pesado também diminuir. Quando um rim doente é removido, o rim remanescente se
adapta à sobrecarga de trabalho, aumentando o número e o tamanho de suas células, compensando a ausência
do rim contralateral. Outro exemplo de uma hipertrofia fisiológica que você pode considerar é o tamanho
aumentado do útero e das glândulas mamárias em resposta à gestação. Já um exemplo de hipertrofia patológica
é a hipertrofia do coração, secundária à hipertensão arterial ou problema nas válvulas, que podem levar o
miocárdio a uma resposta de hipertrofia tão grande capaz de tornar a contração e o relaxamento desse músculo

inefetiva para gerar a quantidade de débito cardíaco necessário para suprir as demandas nutricionais do

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inefetiva para gerar a quantidade de débito cardíaco necessário para suprir as demandas nutricionais do
organismo (insuficiência cardíaca congestiva – ICC).

VOCÊ QUER LER?


Entenda como o nosso organismo responde ao aumento de trabalho resultante da atividade
física e como esse estímulo pode beneficiar e otimizar a função celular. Confira sobre esses
assuntos na obra "Adaptações agudas e crônicas do exercício físico no sistema cardiovascular"
(BRUMP, 2004).

A sobrecarga de trabalho imposta ao organismo desencadeia diferentes respostas celulares. Como você pôde
notar, elas podem ter comportamento fisiológico ou transformar-se em eventos patológicos que impactam todo
o sistema. Confira a seguir.

1.2.3 Hiperplasia

A hiperplasia é um aumento no número de células resultantes de um crescimento da taxa de divisão


celular. Note que hiperplasia, como uma resposta a um estímulo, ocorre quando esse estímulo agride a célula de
forma grave e prolongada, o suficiente para causar a morte celular. O aumento do tamanho de determinada
célula é um processo de várias etapas que envolve a produção de fatores de crescimento, que estimulam as
células restantes a sincronizar o tamanho de novos componentes celulares e, finalmente, a se dividirem
(GUYTON; HALL, 2002).
Hiperplasia e hipertrofia, geralmente, ocorrem juntas e ambas ocorrem se as células puderem sintetizar DNA
(situação obrigatória para que o processo de divisão celular aconteça). No entanto, saiba que em células que não
se dividem (por exemplo, fibras miocárdicas), apenas a hipertrofia acontece como consequência aos estímulos
recebidos.
Existem dois tipos de hiperplasia fisiológicas, conheça-os: aquelas que são resultantes de mecanismos
compensatórios e aquelas que ocorrem por estimulação hormonal. Tenha em mente que a hiperplasia
compensatória é um mecanismo adaptativo que permite a certos órgãos o processo de regeneração. Por
exemplo, a remoção de parte do fígado (por causas patológicas ou mesmo para doação de órgãos entre vivos)
leva à hiperplasia das células hepáticas restantes (hepatócitos) para compensar a perda de parênquima. Mesmo
com a remoção de 70% do fígado, o processo de regeneração completa-se em, aproximadamente, duas semanas.
Uma proteína recém descoberta, fator de crescimento hepático (HGF), pode ser considerada um importante
mediador dessa regeneração.
Algumas células, como os nervos, músculo esquelético, células miocárdicas e células do olho, não se regeneram,
isso significa que lesões nesses territórios deixam sequelas estruturais e funcionais naquele organismo. Uma
significante hiperplasia compensatória ocorre no epitélio intestinal e na epiderme, nos hepatócitos, nas células
da medula óssea e nos fibroblastos. Outro exemplo de hiperplasia compensatória é o calo (espessamento da
pele) como resultado de uma hiperplasia das células epidermais em resposta a um estímulo mecânico (atrito e
compressão local).
Ocorre hiperplasia hormonal principalmente em órgãos dependentes de estrogênio, como útero e mama.
Após a ovulação, por exemplo, saiba que o estrogênio estimula o endométrio a crescer e a engrossar, em
preparação para receber o possível óvulo fertilizado. Se a gravidez ocorrer, tanto a hiperplasia hormonal quanto
a hipertrofia permitem que o útero aumente, ajustando-se às demandas de crescimento fetal. A hiperplasia
patológica é a proliferação anormal de células normais, geralmente, em resposta a estímulos hormonais
excessivos ou fatores de crescimento nas células-alvo. Entenda que o exemplo mais comum de hiperplasia

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excessivos ou fatores de crescimento nas células-alvo. Entenda que o exemplo mais comum de hiperplasia
patológica ocorre no endométrio (causada por um desequilíbrio entre a secreção de estrogênio e a progesterona,
durante o ciclo menstrual). A hiperplasia endometrial patológica, que causa excessivo sangramento menstrual,
está sob a influência de controles reguladores da inibição do crescimento. Se esses controles falharem, as células
endometriais hiperplásicas podem sofrer transformação maligna, predispondo ao aparecimento de tumores
(GUYTON; HALL, 2010).

VOCÊ QUER LER?


Que tal aprofundar seus conhecimentos sobre as respostas celulares em decorrência de
estímulos mecânicos? Então, consulte a tese de Didardo (2015), "Estudo das propriedades
mecânicas das células de músculo liso vascular em situações fisiológicas e patológicas", e boa
leitura!

Caso o mecanismo de adaptação celular envolva a modificação da estrutura e da função dessa célula, em vez de
chamarmos esse processo de hiperplasia, passamos a denominá-lo de displasia. A seguir, confira a definição e
mais características.

1.2.4 Displasia

Displasia refere-se a alterações anormais no tamanho, na forma e na organização das células maduras. Saiba que
a displasia não é considerada um verdadeiro processo adaptativo, mas está relacionada à hiperplasia,
normalmente chamada de hiperplasia atípica. As alterações displásicas são comumente encontradas no tecido
epitelial do colo do útero e do trato respiratório, onde elas são altamente associadas com o crescimento de
células neoplásicas e são, com frequência, encontradas adjacentes a células cancerígenas.
A displasia recebe a classificação de leve, moderada ou severa. Entretanto, como essa classificação pode ser
subjetiva, entenda que é recomendado o uso dos termos baixo grau ou alto grau de diferenciação (quanto
mais parecidas ou diferenciadas essas células forem, em comparação com a morfologia usualmente apresentada
pelas células de determinado tecido). Os dados indicam que a hiperplasia atípica parece estar envolvida no
desenvolvimento do câncer de mama. Se o estímulo que incita esse processo é removido, as alterações
displásicas, geralmente, são reversíveis (GUYTON; HALL, 2010).

VOCÊ QUER LER?


Ao entender o comportamento celular, fica fácil você pensar no aparecimento e no
desenvolvimento das doenças. Então, que tal aprofundar seus conhecimentos nesse assunto?
Para isso, consulte a obra de Cotran Kumar e Robbins (2000), "Patologia estrutural de
funcional".

As células funcionais, normalmente, estão em um estágio de maturidade, isto é, já possuem a capacidade de

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As células funcionais, normalmente, estão em um estágio de maturidade, isto é, já possuem a capacidade de
exercer sua função de acordo com o tipo celular e as informações genéticas que ela carrega em seu núcleo
celular. Por vezes, o organismo não tem tempo de maturar essas células, esse processo é chamado metaplasia.

1.2.5 Metaplasia

A metaplasia acontece quando um tipo de célula madura é substituído, de forma reversível, por um tipo
celular diferente daquele original e esse novo tipo é mais capaz de suportar as condições daquele
ambiente. O melhor exemplo de metaplasia que você pode considerar é a substituição de células epiteliais
ciliadas normais do revestimento brônquico (via aérea) por epitélio escamoso estratificado (resultante da
agressão por partículas presentes na poluição do ar e no cigarro). As células recém-formadas não secretam muco
ou têm cílios, causando perda de um mecanismo protetor vital (uma das principais funções do trato respiratório
superior é umidificar, filtrar e aquecer o ar que inalamos). A metaplasia brônquica pode ser revertida se o
estímulo indutor, geralmente o cigarro, for removido. Com a exposição prolongada ao estímulo indutor podem
ocorrer displasia e transformação cancerígena (justificando, assim, a maior incidência de câncer de pulmão em
pacientes tabagistas crônicos) (GUYTON; HALL, 2010).

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Figura 3 - Adaptações celulares
Fonte: Adaptada de Robbins, 2007.

#PraCegoVer: a imagem mostra as diferentes alterações resultantes de adaptações celulares. No topo, uma
representação do que seriam células normais, compostas por quadrados na cor rosa, enfileiradas sobre uma
linha na base que representa a membrana basal. Dentro de cada quadrado, um círculo para representar o núcleo
dessas células. Da representação das células, sai uma seta para a esquerda, apontando para o texto “mudanças no
tamanho ou número de células”. Logo abaixo, a mesmo desenho já descrito, mas com os quadrados mais
estreitos para representar a hiperplasia. Abaixo, o mesmo desenho com os quadrados mais largos para
representar a hipertrofia. Logo abaixo, os quadrados achatados para indicar atrofia celular. Do outro lado da
primeira imagem, sai uma seta para a direita, apontando para o texto “mudança no tipo ou estruturas da célula”.
Abaixo, a imagem de várias células empilhadas para indicar metaplasia. Abaixo, a mesma pilha de forma
desorganizada, com as células espalhadas, para indicar displasia.

Os mecanismos adaptativos celulares tornam nosso organismo apto a funcionar de forma adequada mesmo

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Os mecanismos adaptativos celulares tornam nosso organismo apto a funcionar de forma adequada mesmo
diante de agressões ambientais e quebra do seu mecanismo homeostático. Esse é um processo dinâmico e
bastante complexo que nos mantém vivos mesmo em situações adversas.

VOCÊ QUER VER?


As células conseguem se adaptar de diferentes formas por meio da hipertrofia, da hiperplasia,
da atrofia e da metaplasia. Para ampliar seus conhecimentos sobre adaptação celular, assista
ao vídeo a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=sdiIZ0PiVSI. Já neste outro vídeo,
confira como são os processos de lesão celular reversível e irreversível que acometem células
após exposição a agentes agressivos: https://www.youtube.com/watch?v=c0mp4KGMpAk.

Quando as respostas celulares de adaptação se tornam irregulares ou alteradas, são produzidas células que
podem provocar a formação de tecidos não funcionais bem como de prejudicar o funcionamento normal desse
organismo, esse processo é denominado neoplasia. Conheça detalhes sobre ele a seguir.

1.2.6 Neoplasia

O termo neoplasia significa novo crescimento. A oncologia é o ramo da medicina que lida com tumores,
incluindo seu desenvolvimento, diagnóstico, tratamento e prevenção. Os tumores podem ser classificados em
benignos e malignos, de acordo com a morfologia das células que o compõe. Câncer, termo utilizado para os
tumores malignos, é qualquer doença caracterizada pelo crescimento e pelo desenvolvimento celular anormal
causado pelo DNA danificado. No câncer, as células malignas não podem mais realizar divisão e diferenciação
normalmente. Elas podem invadir tecidos circundantes e viajar para locais distantes do corpo (metástase).
As neoplasias são definidas por proliferação celular anormal e descontrolada, que ocorrem por alteração de
genes que regulam a multiplicação celular. Na ciência, comumente, o termo neoplasia é usado como sinônimo
de tumor. Por sua vez, as neoplasias ou tumores são classificados em malignos ou benignos, de acordo com
suas características celulares e metabólicas. Certamente, você já deve ter ouvido a utilização do termo câncer
para referir tumores malignos que apresentam alta capacidade de invadir os tecidos vizinhos e originar
metástases.

• Causas do câncer
A causa exata do câncer não é conhecida, mas existem vários fatores que podem criar uma predisposição
ao desenvolvimento do câncer, por exemplo: estilo de vida, genética, meio ambiente, história do tabaco,
história da radiação, álcool, vírus, atividade física, infecções, fatores nutricionais, ocupação,
comportamento sexual, resposta imunológica, raça, obesidade, estresse, história familiar e hormônios.

A diferenciação de câncer não maligno e tumor benigno é o resultado do crescimento descontrolado de


células anormais. As células cancerígenas não malignas podem criar problemas, deslocando o tecido normal,
pela sua característica expansiva. Esses problemas são, geralmente, autolimitados.

• Tumores malignos
Tumores malignos crescem descontroladamente e têm a capacidade de se espalhar para outros tecidos
ou órgãos por todo o corpo. Essas células malignas interferem na estrutura das células normais e

danificam esse tecido ou órgão; depois, espalham-se (geralmente, através do sistema linfático) para

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danificam esse tecido ou órgão; depois, espalham-se (geralmente, através do sistema linfático) para
outros tecidos e órgãos. Não tratados, cânceres malignos podem resultar em aumento da taxa de
mortalidade desses pacientes.

Os sinais e sintomas do câncer são muito conhecidos e anunciados regularmente pela American Cancer Society.
Conheça alguns deles: mudança nos hábitos intestinais ou bexiga, ferida que não cura, sangramento ou descarga
incomuns, espessamento ou nódulo no peito ou em outro lugar, indigestão ou dificuldade para engolir, verruga
ou mudanças óbvias em uma verruga, tosse irritante ou rouquidão.
O Instituto Nacional do Câncer (Inca), em estudo publicado em 2019, afirma que o câncer é o principal
problema de saúde pública no mundo e já está entre as quatro principais causas de morte prematura (antes
dos 70 anos de idade) na maioria dos países. Novos casos de câncer aumentam de forma significativa em todo o
mundo, não só relacionados ao crescimento demográfico, mas também ao aumento da expectativa de vida das
pessoas. Os estudos epidemiológicos demonstram uma clara correlação entre a situação socioeconômica de uma
país ligado aos hábitos e às atitudes associados à urbanização (sedentarismo, alimentação inadequada entre
outros) com os tipos de câncer mais prevalentes em determinadas regiões.
A mais recente estimativa mundial, em 2018, aponta que ocorreram 18 milhões de casos novos de câncer no
mundo e 9,6 milhões de óbitos, sendo que os homens responderam com 9,5 milhões de casos e as mulheres 8,6
milhões. Sendo eles: pulmão (2,1 milhões), mama (2,1 milhões), cólon e reto (1,8 milhão) e próstata (1,3 milhão).

• Carcinogênese
A célula, menor componente de um organismo vivo, apresenta ciclo de vida funcional no qual ela se
divide, amadurece e morre, renovando-se a cada ciclo (ROBBINS; COTRAN, 2016). Todo controle da
atividade celular origina-se do núcleo dessa célula, no DNA. Quando células normais sofrem uma quebra
nesse controle, elas não obedecem mais aos comandos celulares e passam a dividir-se de forma
descontrolada, dando origem a tumores. Se os sistemas de reparo e imunológico falham, não é possível
destruir e limitar o crescimento dessas células anormais, então, novas células cancerígenas passam a ser
formadas.

Saiba que o termo estádio é usado para descrever a extensão ou a gravidade do câncer, o que pode ser resultado
de anos de crescimento tumoral. No estádio inicial, a pessoa tem apenas um pequeno tumor maligno. No
avançado, o tumor, maior, já pode ter se disseminado para outros tecidos (metástases). As chances de cura de
um paciente oncológico dependem de vários fatores, inclusive o tipo e o estádio do câncer (INCA, 2019).

Figura 4 - Mecanismo de formação de tumor maligno


Fonte: Adaptada de Solar22, Shutterstock, 2020.

#PraCegoVer: a imagem demonstra o processo de divisão celular descontrolada responsável pela formação de

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#PraCegoVer: a imagem demonstra o processo de divisão celular descontrolada responsável pela formação de
tumores. São seis estágios. No primeiro, é mostrada a célula normal, representada por um círculo rosa e um
ponto escuro dentro para indicar seu núcleo. Dela, sai uma seta para a direita em direção a uma célula
cancerígena, representada por um círculo roxo. Em seguida, começa a fase de duplicação. A célula cancerígena
divide-se em duas; em seguida, transforma-se em quatro; posteriormente, em oito. Por fim, tem-se um
aglomerado de células cancerígenas que formam o tumor maligno.
Os avanços tecnológicos permitiram um melhor entendimento da formação dos tumores, resultando em
avanços nos métodos diagnósticos, nos tratamentos e nas abordagens terapêuticas aos pacientes oncológicos. Ao
desvendar mecanismos envolvidos na fisiopatologia do câncer, a ciência propiciou um entendimento da
contribuição genética bem como da interação dessa informação expressa pelo DNA com fatores ambientais no
processo e na susceptibilidade de indivíduos apresentarem câncer.
Para que possamos compreender o funcionamento do organismo e a gênese do aparecimento de novas células
foi preciso uma evolução da tecnologia e a especialização do conhecimento. Nesse sentido, a ciência que estuda a
origem e o comportamento das neoplasias é conhecida como oncologia. Essa ciência traz uma nomenclatura dos
tumores baseada na origem das células que compõem essa massa – aos tumores benignos acrescenta-se o sufixo
“oma” à célula de origem (INCA, 2008).

Quadro 1 - Nomenclatura dos principais tumores benignos e malignos


Fonte: Produzido pela autora, 2020.

#PraCegoVer: o quadro mostra a nomenclatura de tumores benignos e malignos. As informações estão


dispostas em três colunas que elencam o nome da origem mesenquimal; em seguida, se benigno; depois, se
maligno, respectivamente. Respeitando a ordem indicada, os nomes são: fibroblasto, fibroma e fibrossarcoma;
tecido adiposo, lipoma e lipossarcoma; osso, osteoma e osteossarcoma; cartilagem, condroma e condrossarcoma;
vasos sanguíneos, hemangioma e hemangiossarcoma; vasos linfáticos, linfangioma e linfangiossarcoma; músculo
liso, leiomioma e leiomiossarcoma; músculo estriado, rabdomioma e rabdomiossarcoma. Agora, os de origem
epitelial, se benigno e se maligno, respectivamente: projeções epiteliais, papiloma e carcinoma; padrão
glandular, adenoma e adenocarcinoma.
O processo de gênese de novas células, funcionais ou não, envolve diversos mecanismos reguladores e

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O processo de gênese de novas células, funcionais ou não, envolve diversos mecanismos reguladores e
integração de diferentes sistemas orgânicos.

VOCÊ QUER VER?


Que tal aprofundar seus conhecimentos sobre o processo de formação de um tumor? Para isso,
assista ao vídeo a seguir para ver como acontece uma neoplasia: https://www.youtube.com
/watch?v=_98s4tF2rq4.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (2002), as diferenças observadas em células neoplásicas têm origem nos
processos de diferenciação a anaplasia, ritmo de crescimento, invasão local, metástase. Acerca dessas
diferenças entre tumores benignos e malignos, confira particularidades desses processos a seguir.

Diferenciação e anaplasia
O termo diferenciação refere-se ao quanto as células neoplásicas são parecidas com as células normais.
Comumente, tumores benignos são compostos por células com maior grau de diferenciação, já os tumores
malignos são mais parecidos com as células do tecido de origem. As células que não apresentam diferenciação
recebem a denominação de anaplásicas.

Ritmo de crescimento
Normalmente, as neoplasias benignas crescem de forma lenta, já as malignas têm seu ritmo de crescimento
acelerado. Essa velocidade pode ser influenciada pela nutrição e pela função hormonal do organismo afetado.

Invasão local
Os tumores benignos são expansivos, isto é, aumentam de tamanho, mas não invadem tecidos vizinhos (processo
conhecido como metástase). Na maioria das vezes, esses tumores são bem delimitados, palpáveis e podem ser
retirados de forma cirúrgica. As neoplasias malignas são invasivas, provocando a invasão e a destruição dos
tecidos adjacentes e podem provocar metástase na mesma região do tumor ou em órgãos e tecidos distantes. Por
possuírem essa característica invasiva, são mais difíceis de serem removidas e precisam da retirada adicional de
tecido, denominado margem de segurança.

Metástase
É o processo pelo qual células tumorais espalham-se pelo organismo, sendo encontradas em sítios diferentes
daquele de origem. Essa situação é muito comum nos tumores malignos que conseguem se disseminar através
da circulação sanguínea e linfática. Quando ocorre essa situação, o prognóstico de cura do paciente fica
comprometido.
Como você pôde estudar até aqui, a célula é a estrutura básica que forma o organismo. É a menor unidade que
forma um ser vivo, no caso do ser humano, o organismo é composto por milhões de células que formam
unidades altamente especializadas (tecidos, órgãos e sistemas) que devem trabalhar em conjunto durante toda a
vida do organismo. Sendo assim, os mecanismos de adaptação celular (atrofia, hipertrofia, hiperplasia,
metaplasia e neoplasia) fazem com que seja possível a resposta do organismo, tanto a estímulos fisiológicos
quanto a estímulos patológicos, tornando viável a recuperação de lesões e a sobrevivência desse organismo
mesmo diante de situações e ambientes hostis.

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CASO Segundo Ivo Jr. (2011), um paciente do sexo masculino, 50 anos, foi internado para
investigação de quadro de febre de origem obscura. Há 15 dias, apresentava febre diária (38 a
40° C) associada a calafrios, vários episódios ao dia, e fadiga de progressão rápida. Negava
outros sinais ou sintomas e não tinha comorbidades prévias. Ao exame físico, apresentava-se
em bom estado geral, febril, hipocorado, eupneico. À palpação de abdômen, apresentava-se
maciço, com baço palpável a 3 cm do rebordo costal esquerdo. O restante do exame físico era
normal. O hemograma inicial revelou pancitopenia – diminuição de todos os tipos celulares do
sangue, e os exames de funções renal e hepática eram normais. Foi diagnosticada síndrome
hemofagocítica (SHF) e que, apesar do tratamento instituído, teve evolução fatal.
A SHF reativa ou secundária, também chamada de linfohistiocitose hemofagocítica ou
síndrome de ativação de macrófagos, compreende um grupo heterogêneo de doenças com
características clínico-patológicas semelhantes à sepse, caracterizadas por uma ativação
sistêmica de macrófagos benignos que fagocitam células hematopoiéticas e se manifestam
clinicamente com febre, hepatoesplenomegalia, citopenias e hiperferritinemia. É uma
complicação rara de muitas condições comuns incluindo neoplasias ou infecções,
frequentemente, resultando em falência de múltiplos órgãos (REVISTA DA SOCIEDADE
BRASILEIRA DE CLÍNICA MÉDICA, 2011).

Como discutimos, a neoplasia pode afetar o organismo de diferentes formas, assim, estímulos distintos causam
respostas e alterações sistêmicas distintas. O organismo humano passa a manifestar sinais e sintomas em
decorrência dessas alterações.

VAMOS PRATICAR?
Para compreender como o organismo se autodestrói em situações como a discutida no Caso
deste tópico, é importante você entender as adaptações e os mecanismos pelos quais as células
respondem a injúrias ou agressões. Nosso sistema imunológico tem a capacidade de
reconhecer certos marcadores, que determinam se aquela célula pertence ou não ao nosso
organismo. Em situações patológicas, esse processo impede, por exemplo, a proliferação de
vírus e bactérias que causariam determinada doença. Entretanto, existem situações nas quais o
organismo, por diferentes motivos, passa a não reconhecer seus próprios componentes,
atacando-os e destruindo-os.
Analise o caso do paciente, apresentado há pouco, e reflita sobre o que pode ter acontecido no
organismo desse paciente e qual o desfecho esperado. Veja que esse ataque afetou o sistema
hematológico do paciente, fazendo com que células saudáveis e essenciais à vida fossem
eliminadas. Todos esses processos resultaram em falência de diferentes órgãos e sistemas
ocasionando o óbito do paciente.

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1.3 Lesão celular
Robbins e Cotran (2016) discutem que a maioria das doenças começam com uma injúria celular, que ocorre se
a célula for incapaz de manter a homeostase (estado normal de funcionamento celular) diante de um estímulo
agressor. As células lesionadas podem se recuperar (lesão celular reversível) ou morrer (lesão celular
irreversível). Os estímulos agressores podem ser agentes químicos, falta de oxigênio suficiente (hipóxia),
radicais livres, agentes infecciosos, fatores físicos e mecânicos, reações imunológicas, fatores genéticos e
desequilíbrios nutricionais. A extensão da lesão celular depende do tipo, do estado (nível de diferenciação
celular e aumento de suscetibilidade), dos processos adaptativos da célula bem como da severidade e da duração
do estímulo agressor. Sendo assim, entenda que dois indivíduos expostos a um estímulo agressor idêntico
podem responder com diferentes graus de lesão celular, em algumas situações sem apresentar uma complicação
ou evento patológico decorrente dessa agressão.
Fatores modificáveis, como estado nutricional ou dieta, sedentarismo, tabagismo entre outros podem influenciar
de forma definitiva na extensão e na gravidade da lesão. O ponto preciso a partir do qual a célula não consegue
mais se recuperar é resultado de um quebra-cabeças bioquímico. Dessa maneira, quando a integridade de uma
célula é ameaçada, ela pode apresentar duas respostas: utilizar todas as ferramentas que possui para manter-se
funcionante ou adaptar-se àquela agressão, gerando uma quebra de função celular.
Saiba que se a célula possui as ferramentas necessárias para responder a agressão, ela consegue manter sua
função sem repercussão sistêmica. Se ela não encontra os meios para manter-se funcionante, passa a ter
anormalidades que são percebidas enquanto durar esse estímulo agressor. Caso a célula não consiga suportar a
intensidade do estímulo recebido, pode evoluir com o processo de morte celular (necrose). Essa resposta de
morte celular fica restrita ao local que recebeu a agressão.

1.3.1 Tipos e causas de lesão celular

Diferentes estímulos podem gerar lesões no organismo humano, independentemente de duração, intensidade e
local em que são aplicados. Para você entender melhor esse complexo mecanismo envolvido nos tipos e nas
diferentes causas das lesões, confira detalhes sobre as lesões tóxica, infecciosa, física, por déficit, por hipóxia, de
acordo com seu mecanismo fisiopatológico.
Com relação à lesão tóxica, fatores tóxicos podem ser originados dentro do organismo (endógenos) ou fora do
organismo (exógenos). Aqueles resultantes da quebra de homeostase interna estão ligados a doenças
metabólicas, problemas anatômicos ou reações excessivas mediadas pelo sistema imunológico. Os fatores
exógenos incluem drogas ilícitas, metais pesados e gases tóxicos, além de substâncias químicas encontradas em
medicações, como os agentes quimioterápicos (utilizados no tratamento de câncer) e as drogas
imunossupressoras (que evitam a rejeição em receptores de órgãos transplantados).
A lesão química resulta da interação bioquímica entre a substância tóxica e a membrana plasmática celular,
levando ao dano e aumentando sua permeabilidade. Veja que nem todos os mecanismos que causam essa
alteração de membrana estão bem descritos, mas sabe-se que, em geral, os mecanismos envolvidos são (1)
toxicidade direta causada pela combinação do agente químico com os componentes moleculares e organelas
celulares e (2) formação de radicais livres que levam à peroxidação lipídica (degradação oxidativa dos lipídios).

VOCÊ SABIA?

Os radicais livres são átomos ou grupo de átomos, eletricamente não carregados, que causam

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Os radicais livres são átomos ou grupo de átomos, eletricamente não carregados, que causam
instabilidade molecular na membrana celular e nos ácidos nucleicos, gerando uma agressão a
essa célula. Esses radicais livres contribuem para disfunção mitocondrial (central energética
da célula) que está relacionada a muitas doenças e ao processo de envelhecimento celular.
Os agentes antioxidantes são substâncias endógenas ou exógenas que bloqueiam ou inativam
os efeitos deletérios dos radicais livres. Podemos preservar o organismo da ação de radicais
livres mantendo uma alimentação adequada, protegendo-nos da exposição solar e, assim,
retardando o envelhecimento celular do organismo.

Sobre a lesão infecciosa, os microrganismos (vírus, bactérias, fungos e protozoários) podem invadir o
organismo do hospedeiro, causando lesão ou morte celular. Esses organismos têm a capacidade de modificar a
integridade celular e, em determinadas situações, são capazes de penetrar nessa célula e se reproduzirem. Por
exemplo, o coronavírus (microrganismo que apresenta ácido ribonucleico – RNA), altera a função celular do
organismo afetado ao se replicar, predispondo o organismo a infecções respiratórias e exacerbação das
respostas inflamatórias do organismo.
A patogenicidade de um microrganismo (virulência) depende da sua habilidade de sobreviver e proliferar-se no
organismo humano, quanto mais virulento, maior o reconhecimento e a resposta imune, portanto, maior a lesão.
O potencial de esse microrganismo causar uma doença depende da sua capacidade de invadir e destruir as
células, produzir toxinas e produzir dano resultante de uma reação de hipersensibilidade.
No que diz respeito à lesão física, uma agressão física causa uma ruptura da unidade celular ou um prejuízo na
relação entre as organelas que compõem essa célula. São resultantes de fatores térmicos (elétricos ou por
radiação) e mecânicos (traumatismo ou cirurgia).
Já a lesão por déficit, é uma alteração resultante da falta de elementos, como água, oxigênio ou nutrientes. A
falta de um desses recursos pode causar lesão ou morte da célula além de impactar na sua função e na produção
de energia e metabólitos intracelulares.
Quanto à lesão por hipóxia, ela pode ser resultante da diminuição de oxigênio no ar (lugares com ar rarefeito),
perda de hemoglobina (hemorragias) ou alteração de sua função, diminuição de hemácias (leucemias), doenças
pulmonares (asma, bronquites e enfisemas) e cardiovasculares (insuficiência cardíaca, infarto agudo do
miocárdio). Saiba que a causa mais comum de hipóxia é a isquemia (redução de suprimento sanguíneo). A lesão
isquêmica é resultante de uma perda gradual da luz vascular devido à aterosclerose ou do bloqueio completo ao
fluxo sanguíneo causado por um trombo. A hipóxia progressiva causada pela obstrução arterial de forma gradual
é melhor tolerada do que a obstrução súbita e aguda, levando à anóxia (total falta de oxigenação).

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Figura 5 - Resposta intracelular envolvida em lesões celulares
Fonte: Adaptada de Robbins e Contran, 2007.

#PraCegoVer: a imagem representa um fluxo com as diferentes respostas que ocorrem na estrutura e na função
celular em decorrência de agressões. No topo da imagem, está o nome “Estímulo”. Desse nome, saem setas para
os termos “ATP”, “Lesão da membrana”, “Lesão do esqueleto” e “Lesão de DNA, acúmulo de proteínas mal
dobradas”. O conjunto é interligado de forma que mostre as formas que essa célula pode responder a esse
estímulo que levam ao processo de necrose e morte celular.
O resultado do processo de necrose celular gera um impacto funcional no organismo, que pode ser revertido ou
ter seus efeitos minimizados. Já quando ocorre a morte celular, tecidos são machucados e, dessa forma, podem
ter sua função alterada temporariamente ou definitivamente, dependendo do tipo celular que a compõe.

VOCÊ SABIA?
A morte celular programada desempenha um papel muito importante do controle da
população de células, equilibrando seu crescimento e sua multiplicação. Além disso, a morte
celular elimina células desnecessárias. Por exemplo, durante a embriogênese, as digitais em
nossos dedos são esculpidas pela morte das células em espaços intermediários. Se essas
células permanecessem vivas, nossas mãos e pés se tornariam palmados (com membrana
interdigital). Assim, o tempo e a localização da morte das células, como o crescimento e a
divisão celular, devem ser precisamente controlados (ROBBINS, 2016) (Adaptado).

O nosso organismo funciona como uma máquina, com engrenagens perfeitas, mas que possuem um determinado

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O nosso organismo funciona como uma máquina, com engrenagens perfeitas, mas que possuem um determinado
tempo de funcionamento, como se tivesse prazo de validade. Assim, quando uma célula não consegue mais
exercer sua função, ela precisa ser eliminada e substituída por uma nova, capaz de manter a homeostasia
funcional do organismo.

1.4 Degeneração celular


Quando as células sofrem um estímulo deletério, elas podem apresentar um tipo de lesão celular que não resulta
na sua morte, mas na perda da sua capacidade funcional, conhecida como degeneração. Essa degeneração é
resultante de uma alteração de funcionamento intracelular com a manutenção da integridade de seu núcleo e,
portanto, do seu material genético. Essa lesão, em geral, é mais vista em tecidos compostos por células que são
metabolicamente ativas (fígado, coração e rins). As principais circunstâncias que acarretam essa alteração
intracelular são: excesso de água e gordura; respostas celulares, como atrofia, displasia, hiperplasias e
hipertrofia; capacidade da célula de digerir seus componentes; alteração na concentração de pigmentos; excesso
de cálcio; alteração da barreira de proteção das células nervosas.
Saiba que, ao identificar a presença de fatores que levam à degeneração celular, o tratamento ou a retirada do
elemento agressor faz com que o processo de perda de função dessa célula seja diminuído. Dessa forma, é
fundamental que os serviços de saúde sejam equipados com instrumentos e tecnologia que possibilitem esse
diagnóstico precoce para a doença ser identificada em um período subclínico (quando o paciente ainda não
apresenta sintomatologia), melhorando assim o prognóstico desse doente.

1.4.1 Apoptose

Robbins e Cotran (2007) definem que a apoptose é uma via de sinalização que causa a morte celular programada
e controlada por mecanismos intracelulares. A ativação dessa cascata de eventos culmina com a ativação de
enzimas, chamadas caspases, que agridem o DNA nuclear e alteram proteínas citoplasmáticas, fazendo com que
essa célula apresente uma modificação da sua estrutura, que a sinalizam para o organismo. A célula passa a
apresentar alterações, sinais, que a fazem ser reconhecida pelo organismo que a degrada. A apoptose é um
processo celular de autodestruição e pode estar envolvida em eventos teciduais fisiológicos e patológicos.
Conheça mais sobre cada uma a seguir.

• Apoptose fisiológica
É a morte de células nos processos embrionários; involução dependente de hormônios nos adultos;
eliminação celular em populações celulares em proliferação; neutrófilos e outros leucócitos após término
de reações inflamatórias ou imunológicas; eliminação de linfócitos autorreativos potencialmente
danosos; morte celular induzida por células T citotóxicas são exemplos de apoptose fisiológica.

• Apoptose patológica
Ocorre principalmente na presença de vírus, estímulos nocivos (como radiação e drogas citotóxicas
anticancerosas), atrofia patológica dos órgãos e tumores (ROBBINS; COTRAN, 2016).

O processo de apoptose envolve o encolhimento nuclear e citoplasmático, seguido por fragmentação dessa
membrana e sua subsequente fagocitose por células vizinhas saudáveis.

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Figura 6 - Mecanismo de sinalização apoptótica – Eventos intracelulares da apoptose
Fonte: Adaptada de Gava e Zanoni, 2012.

#PraCegoVer: a imagem apresenta os mecanismos intracelulares, em sequência temporal de ocorrência, que


ocasionam a apoptose celular. O fluxo começa na célula normal, passa para a retração e condensação da
cromatina, em seguida, para a formação de prolongamentos da membrana celular, para o colapso do núcleo
(quando os prolongamentos ficam maiores), para a formação de corpos apoptóticos e termina na lise dos corpos
apoptóticos.
Entenda que, na apoptose, a membrana plasmática continua intacta; conforme a apoptose vai acontecendo, a
célula torna-se atrativa para fagócitos que, rapidamente, eliminam as células mortas e seus fragmentos,
diferenciando esse processo apoptótico do mecanismo de necrose celular no qual ocorre o extravasamento de
conteúdo intracelular.
A apoptose pode acontecer por duas vias distintas:

• Via intrínseca (mitocondrial)


A sinalização para apoptose envolve diversos estímulos que produzem sinais intracelulares iniciados na
mitocôndria que irão agir diretamente em alvos na célula.

• Via extrínseca
Ocorre a indução externa por associação de outra célula àquela que sofrerá apoptose. Essa interação
ocorre por meio de receptores localizados na membrana celular e proteínas sinalizadoras (ou ligantes).
Células normais podem se programar por meio de diferentes vias metabólicas e sinalizadoras com
intuito de serem eliminadas, como se fosse um suicídio. Esse processo pode ocorrer de forma fisiológica
ou como resposta a uma alteração patológica.

Em processos controlados no desenvolvimento normal, a apoptose determina o tamanho, o padrão estrutural e a


função de muitos tecidos. Células precisam morrer, caso contrário, seriam gerados organismos gigantescos.
Todos os dias, um adulto médio pode criar 10 bilhões de novas células, matar e eliminar o mesmo número.
Imagine só se as células fossem somadas no organismo humano ao longo da vida do indivíduo!

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1.4.2 Necrose

Você pode considerar necrose como alterações morfológicas (resultando em alteração estrutural e funcional)
que acontecem após a morte celular em um tecido vivo devido à ação progressiva de enzimas sobre as
células que sofreram uma lesão letal. A necrose é o correspondente macroscópico e histológico da morte celular
causada por uma lesão exógena irreversível.
Assim que a célula morre, saiba que ela ainda não é necrótica, pois esse é um processo progressivo de
degeneração. As células necróticas não conseguem manter a integridade da membrana plasmática, extravasando
seu conteúdo, podendo causar inflamação no tecido adjacente, trazendo maiores complicações e sintomatologia
clínica envolvida no seu aparecimento uma vez que se somam os agentes agressores àquele tecido (ROBBINS;
COTRAN, 2016).

Figura 7 - Resposta de apoptose e necrose celular


Fonte: Adaptada de Designua, Shutterstock, 2020.

#PraCegoVer: a imagem apresenta um dos mecanismos celulares envolvidos na resposta celular de necrose e
apoptose. É um fluxo que começa em células normais, segue para apoptose, passa pela formação de influxo de
água e conclui quando a célula se parte em diferentes fragmentos celulares sem inflamação. De outra forma, o
fluxo parte das células normais, segue para necrose, passa pela criação de edema celular e conclui na ruptura da
membrana celular, quebra do núcleo e da parede celular, levando à inflamação.
A apoptose e a necrose são mecanismos envolvidos na sinalização e na morte celular. Esses processos são
regulados e dependentes de sinalizações que as células liberam. Assim, as células danificadas ou que não
conseguem exercer sua função são eliminadas e dão espaço para novas células funcionais. Além do processo de

morte celular, temos o envelhecimento celularcomo consequência do tempo e do uso, além da quantidade

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morte celular, temos o envelhecimento celularcomo consequência do tempo e do uso, além da quantidade
de estímulos danosos aos quais essa célula é exposta, determinando seu envelhecimento celular.

1.4.3 Envelhecimento celular

O processo normal de envelhecimento celular leva as células a perderem sua estrutura e função, em
decorrência do desgaste ocasionado ao longo do tempo. Essas alterações levam a consequências como a atrofia,
mas são a hipertrofia e a hiperplasia celular que levam a perda da função tissular.
O envelhecimento celular pode ser acelerado de acordo com as agressões que esse organismo recebe ao
longo da vida. Os sinais de envelhecimento ocorrem em todos os sistemas orgânicos. Como resultado desse
processo temos uma diminuição da função vascular, associada a hipertensão arterial, alteração do tecido adiposo
e capacidade de regulação térmica, além da capacidade de absorção e metabolização do organismo, resultando
assim na limitação do tempo de vida do ser humano.

VOCÊ SABIA?
A morte de uma pessoa é denominada morte somática. Ao contrário das alterações que
acontecem após a morte celular em um organismo vivo, as alterações post mortem são difusas
e não envolvem mecanismos inflamatórios. Elas aparecem minutos após a morte devido à
cessação da respiração e da circulação, a pele torna-se pálida e amarelada; a temperatura
corporal diminui rapidamente até se igualar à temperatura ambiental; os músculos tornam-se
relaxados (levando, por exemplo, a dilatação da pupila); os efeitos da gravidade sobre o sangue
resultam em uma descoloração, o corpo torna-se arroxeado (chamado livor mortis); algumas
horas após o óbito, reações químicas musculares levam ao desligamento das miosinas e das
actinas musculares, resultando em enrijecimento dos músculos que caracterizam o rigor
mortis. Os sinais de putrefação iniciam-se 24 a 48 horas após a morte, resultantes do edema e
da liquefação dos tecidos (autólise post mortem).

Conforme você estudou, as células do nosso organismo são altamente funcionais e especializadas em diferentes
tarefas. Muitos estímulos podem interferir no delicado equilíbrio necessário para o bom funcionamento desse
organismo, por tudo isso, o processo saúde e doença é um continuum que merece sua atenção e compreensão de
todas as etapas e mecanismos envolvidos.

Conclusão
Ao correlacionar os aspectos macro e microscópicos das principais doenças, relacionando esses processos
fisiopatológicos com as alterações celulares que acontecem após determinados estímulos, você pode entender
que os mecanismos que permitem a adaptação celular (ou quando ela não é capaz de manter a homeostasia,
resultando em morte celular) são respostas orgânicas que determinam o curso da doença e os resultados da
assistência à saúde. Assim, concluímos que esses processos estão ligados à etiologia das patologias bem como ao
processo natural de envelhecimento.
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• definir o conceito de saúde e doença;
• discutir a etiologia e a patogenia resultantes de diferentes estímulos e respostas corporais;

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• definir o conceito de saúde e doença;
• discutir a etiologia e a patogenia resultantes de diferentes estímulos e respostas corporais;
• entender os mecanismos de adaptação celular (hiperplasia, hipertrofia, atrofia, metaplasia e displasia);
• conceituar neoplasia e as nomenclaturas associadas a essa alteração celular;
• descrever os mecanismos de lesão e morte celular.

Bibliografia
BRASILEIRO FILHO G. B. Patologia geral. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. 463p.
BRUM, P. C. et al. Adaptações agudas e crônicas do exercício físico no sistema cardiovascular. In: Rev. paul. Educ.
Fís., São Paulo, v. 18, p. 21-31, ago. 2004. N. esp.
COTRAN, R. S.; KUMAR, V.; ROBBINS, S. L. Patologia estrutural e funcional. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara –
KOOGAN, 2000.
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