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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO

Cícero Marra

Sabrina Feitosa

1ª Webquest: A relação da Língua Portuguesa com outras línguas


no Período da Colonização do Brasil

Garanhuns - 2021
UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO

Cícero Marra

Sabrina Feitosa

1ª Webquest: A relação da Língua Portuguesa com outras línguas


no Período da Colonização do Brasil

Ensaio produzido para a disciplina “História


da Língua Portuguesa” ministrado pelo prof
Samuel Barbosa Silva para o curso de
Letras - Português da Universidade de
Pernambuco

Garanhuns - 2021
O português europeu surgiu da fusão do latim vulgar com línguas árabes na
península ibérica (proveniente dos povos celtas, iberos, gregos, fenícios,
cartagineses) gerando, assim, as variações entre o galego e o português que
coexistiram até o século XIII, quando o Português tornou-se a língua oficial em
Portugal. No entanto, antes que Portugal estivesse consolidado para empreender a
aventura marítima que resultaria na colonização brasileira, foi necessário uma longa
batalha para retomada e reafirmação do próprio território e da língua portuguesa na
Europa. No século V, em pleno processo de diferenciação do latim, a Península
Ibérica havia sido invadida por bárbaros germano-suevos, vândalos, alanos e
visigodos. Mais tarde, no Século XI, foi o período da reconquista e a Guerra Santa
que não só consolidou galego-português a Oeste, o castelhano no Centro e o
catalão, a Oeste; mas também preparou o país, a partir do reinado de D. Afonso
Henrique para o período das grandes navegações.
A consolidação do Poder em Portugal andou lado a lado com a consolidação
da língua através da publicação dos primeiros documentos oficiais. Segundo SILVA
(2009) tratam-se de "documentários primitivos em prosa, preservados pela
oralidade, textos não literários, (...), sobretudo, de natureza notarial (vieram de
cartórios) - notícias de dívidas, de agravos, de doações e de testamentos." (p 25).
Somente no século XII com a publicação de textos de António J. Saraiva, de
Rodrigues Lapa e G. Tavani, e mais tarde com as cantigas do século XIII que a
língua portuguesa passou a representar uma língua literária de fato. No século XV
em diante, Gil Vicente e Camões elevaram o português a padrões artísticos
universais, enquanto a realeza acumulava feitos militares e marítimos. Ou seja,
antes de 1500, o português europeu já era um produto de um caldeirão de
influências linguísticas. E mesmo assim, no século XVII, ou seja, em pleno período
expansionista, houve nova leva de influências germânicas e árabes.
Sobre a lenta penetração Portuguesa no território inóspito da colônia
americana, Holanda (1977, 1996) menciona que, apesar do pioneirismo, Portugal
não conseguiria manter no Brasil um império nos moldes romanos, não por acaso,
optou pelo modelo de feitorias, um tipo de instalação menos compromissada com a
permanência do explorador. Mesmo assim, em comparação aos espanhóis, mais
rígidos e violentos, os portugueses ainda que apelando para a extrema violência em
momento oportuno, optaram por uma abordagem mais “pacífica” com os gentios,
sem impor “romanisticamente” sua fé, sua língua e costumes aos conquistados. Na
realidade, para Freyre (2005) a independência do português veio da desconfiança
contra o Espanhol e os mouros, criando, todavia, uma sociedade cosmopolita e
comparativamente tolerante com o estrangeiro. Desta forma, o Séc XVI na colônia
foi de total integração linguística do portugues com os índios, já que, na missão
evangelizadora dos jesuítas, até "as crianças também aprendiam o Tupi" (Holanda,
2006, pág 111) enquanto o Séc XVII seria o século da integração do bandeirante ao
interior.
A história das monções ou das expedições dos bandeirantes de São Paulo à
Cuiabá foi, em sua maior parte, uma história de aventuras, náufragos, resistência à
moléstia e à pobreza em busca de um objetivo que não viria a se concretizar: a
exploração das minas de ouro do Pantanal, muito embora esse caminho tenha sido
pioneiro no mapeamento do sistema fluvial e gérmen das atuais cidades brasileiras:
Por isso não é exagero afirmar que, se os bandeirantes não lograram o objetivo de
encontrar a prata e a esmeralda do sertão brasileiro, eles, numa oscilante relação
de guerra e cooperação com os nativos, desenharam o mapa e as rotas que formam
o Brasil atual. Segundo Silva (2009): “a convivência linguística entre o português e o
tupi foi uma realidade tão forte que os bandeirantes usaram essas duas línguas em
suas expedições”.
Tudo isso nos leva a compreender o quanto a língua portuguesa europeia
estava vulnerável às influências das línguas regionais da colônia. Mesmo assim,
como reação a todas essas inovações, e, à medida em que o Reino busca aumentar
o controle sobre a exploração mineral nas minas recém descobertas, ações oficiais
foram aplicadas para legitimar o português europeu no território brasileiro.
Sobretudo, a mais importante delas, deu-se com a expulsão dos jesuítas pelo
Marquês de Pombal em 1759 e a elevação do português como língua oficial do
Brasil.
Se a escravidão permance como uma mácula na história colonial brasileira,
ela pelo menos permitiu que outro fluxo de influências enriquecesse o léxico
português. O Yorubá da Nigéria e o quimbundo de Angola foram trazidos junto ao
fluxo de escravos que povoariam as fazendas do Brasil do século XVII e XVII. Tudo
leva a entender que, pelo fato de o negro escravo ter convivido próximo ao seio
familiar colonial, sua influência no léxico de uso “doméstico” tenha sido mais
profunda que a das próprias línguas indígenas. Não por acaso Freyre (2005) ao
tratar da formação da língua doméstica, tenha afirmado que “aquilo que o jesuíta
separou da língua falada, as mulheres africanas juntavam no linguajar” (p. 315). Ou
seja, se as matizes Tupis ajudaram a dar nomes às regiões, aos povoados aos
acidentes geográficos aos rios pelos quais os bandeirantes desceram em suas
monções, as línguas africanas foram decisivas em cristalizar a sonoridade e o léxico
dos termos domésticos, ou seja, a fala cotidiana.
No Brasil, apesar das medidas oficiais como as empreendidas por D João VI
para que a língua pudesse ser oficializada em todo território, coexistiram várias
línguas em paralelo à portuguesa (a holandesa até 1654, mas, sobretudo a
indígenas e negras) que, mais tarde ajudariam a diferenciar em definitivo o
português brasileiro da matriz europeia, numa síntese de uma diversidade
linguística incrível.
É dessa síntese de empréstimos que surge a língua definitivamente
brasileira, com todas as suas especificidades tonais, fonéticas e sintáticas que o
desprenderam definitivamente da matriz portuguesa. O Léxico do português
brasileiro é um caso único de síntese de influências ocidentais (do latim e das
línguas neo-latinas) e orientais (que estavam na própria genealogia portuguesa)
.Conforme sustentam Ferreira e Gomes (2017) muitos desses empréstimos surgem
de uma necessidade prática, para solucionar um "vazio" ou a falta de um termo no
léxico de uma língua. Nessa perspectiva, a incorporação de um termo estrangeiro
tende a fortalecê-la e não enfraquecê-la, na medida que a torna mais completa.

REFERÊNCIAS

GUIMARÃES, Eduardo. A língua Portuguesa no Brasil. In.:Ciência e Cultura –


Versão online. ISSN 2317-6660. vol.57 no.2 São Paulo Abr./Jun., 2005.

SILVA, Francisca Núbia Bezerra e História da língua portuguesa / Francisca Núbia


Bezerra e Silva. – Recife: UPE/NEAD, 2009. 66 p.: il. – (Letras).

FERNANDES, Patrícia; COSTA, Natalina - A Origem da Língua Portuguesa:


Contexto Geral e Brasileiro. Disponível em:
http://ww1.ead.upe.br/nead20201/pluginfile.php/41206/mod_resource/content/1/AUL
A1_pdf.pdf
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das
Letras, 1996.

________ .Visão do paraíso. São Paulo: Nacional, 1977

FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala: formação da família brasileira sob
regime de economia patriarcal. São Paulo: Global, 2005.

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