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Pon 3k ; eee epee oe Revista 91k: bie MeN tpiaadd ELVIRA PEREIRA* FERNANDO A. CASQUEIRA** CONVERSA COM TAYLOR E MAYO este final de Verdo aconteceu aos autores desta rubrica uma coisa curiosa: passeando pela (por Spauanto) bonita praia do Alvor, subitamente destacaram-se no horizonte dourado do sol poente Cuas figuras peculiares cujas silhuetas se recortavam na contra-luz desse fim de tarde célde Lene tag inequivocamente vinham em direce. @ nds. Jé muito proximos ficmos perplexos e também aaradavelmente surpreendidos. Eram os jd nossos conhecides senhores Mayo e Taylor que ao repararem 72 Nossa presenca suspenderam a amistosa mas acalorada discusséo que vinham mantendo ate hd poucos momentos atra: Confrontamo-nos os quatro em siléncio observando-nos mutuamente. Wes 2m trajes de Veréo, com a reducao tipica do século XX, eles no constrangimento da diferenca de maillots e chapéus de palha do principio do século. Sorrimo-nos os quatro e apresentéme nace «Muito prazer, Sr. Elton Mayo e Sr. Frederick Taylor!..». uO prazer é tol nosso, srs. reportore, da DIRIGIR... Desejam algo?». Respondendo afirmativamente o didlogo foi facil. DIRIGIR - Aproveitamos a ocasio para agradecer as, centrevistas que, separadamente, nos concederam. Gos- tariamos, no entanto, de aproveitar o facto de esiarem juntos para compararmos algumas das vossas con- copcées sobre teoria geral de administragao. Sendo assim, gostariamos que nos esclarecessem numa pa- lavra Sobre a ténica das vossas abordagens. TAYLOR (Autoritério) - A minha teorla de Administragao Cientiica coloca a énfase nas tarefas, nomeadamente @ racionalizagao do trabalho a nivel operacional, MAYO (Sorrindo) - Ca por mim, na minha teoria das Relagdes Humanas obviamente centrei-me na pessoa do trabalhador, designadamente na motivacdo, lideranga, nas. comunicagdes e dinamica de grupo. DIRIGIR - Muito bem, mas quais as diferengas entre as vossas abordagens bsicas? TAYLOR - Quanto a mim, centro-me essenciaimente ‘num processo de engenharia humana assumindo relevan- Gia a necessidade de edaptagao do homem & maquina e vice-versa, ea DIIBID FORMACAO MAYO - Para mim a palavra «maquinam no é gratii- ‘ante. Preocupo-me antes com a adaptacao do homiem & organizagao e vice-versa, com base nainvestigagao social aplicada.* DIRIGIR - Muito bem, Sr. Mayo, mas entao 0 que & para si o homem? MAYO - Olhe, em poucas palavras, 0 homem 6 um ser altamente complexo, nao apenas racional mas também ‘emocional, porque também motivado por sentimentos © critérios no racionais. Necessariamente que este aspecto também se manifesta nas organizagdes © como tal preciso geri-lo, sem o que ha grandes percas de produti- vidade. DIRIGIR - Concorda com isso, Sr. Taylor? TAYLOR - Balelas! Quanto a mim (troca de olhares discordantes entres os dois) 0 que conta é 0 aspecto ‘econémico- racional. O trabalhador orienta-se apenas por vantagens financeiras tentando maximiza-las. Como maior incentive deve acentuar-se prevalentemente 0 aspecio, financeiro na base de uma maior remuneragao para uma ‘maior produgao. O individuo € egoista. ¢ um animal isola: 0, reage camo individuo, donde a extrema especializacao (que acentua tal isolamento) nao é periciosa para a or ganizagao, antes pelo contraric MAYO (Sacudindo nervosamente a areia dos pés) - Francamente, Sr. Taylor. Ohomem sempre foi e ha-de ser um animal social, carente de apoio e par»ticipagao na vida, do grupo ou nas equipas de trabalho. As pessoas reagom nas organizacdes como membros do grupo e ai daquelas que nao favorecam isso. Eu recuso completamente a t6- nica exclusiva de incentivos financeiros para um comporia mento protissional acequado. Ha que contar com incenti- vos psicologices (apoio, elogio, consideragao, etc.) DIRIGIR - Entao, entao, nao ¢ preciso zangarem-se, estamos de férias. TAYLOR - Nao estou zangado, e jé agora acrescento que 0 comportamento funcional do individuo @ padro- nizavel. Ha um «the one best way»* para todos, de execu- tar tarelas, aplicavel a toda a gente. MAYO (Interrompendo) - Mas no! © comportamento no € padronizavel. Os individuos sao diferentes entre si € assim as diferengas individuais justificam métodos dife- Fentes, As minhas expenéncias mostraram isso mesmo. ‘TAYLOR - Mas as minhas experiéncias também mostra- ram que 0 estudo de tempos, movimentos e pausas sem- pre contribuiram para encontrar solugoes adequadas a uma maior produtividade. MAYO - Mas eu nao sou contra os estudes clentificos do trabalho, O que eu tento chamar a atengao é que o des- conhecimento das varidveis psicoldgicas conduz-nos a percas de produtividade. As organizagées tayloristas so Totineiras, monétonas, pouco criativas, subutlizam apti- does e hd uma programacao excessiva. DIRIGIR - Apercebemo-nos de uma diferenga abissal entre os dois. Passar-se-a 0 mesmo ao nivel das unidades de andlise que utilizaram como referéncia importante para os vossos trabalhos? TAYLOR - A minha unidade de andlise ¢ 0 CARGO, ‘enquante que parao meu amigo Mayoé GRUPO. Noque me diz respeito avalio os cargos aos quais ira correspon- der saldrios diferenciados, abordo a relacao entre os car- gos e, como ja disse, estudo as tarefas entre tempos e movimento. MAYO - Isso para mim é mais que insuficiente. Oimpor- tante € 0 grupo, a equipa, a énfase nas relagdes entre pessoas no trabalho, enim a moral grupal DIRIGIR- ..? MAYO - Eu explico melhor (com a ponta da bengala desenhou a seguinte esquema na areia, que ndo resist: mos reprodyzi) ATITUDES RESULTANTES. if SATISFACAO a Identiticagao / Ser Foamacao DIRIGIR - Gostariamos de pér uma questo impor- tante. Acham os senhores que seria possivel compa- tibilizar os vossos pontos de vista? TENDENCIAS DE TAYLOR ~Acrganizagao 6 uma «maquina» - Enfase nas tarelas ~ Inspiragdo em sistemas de engenharia ~ Autoridade centralizada ~ Especialzagto e competéncia técnica + Acentuada divisdo de trabalho + Confianga nas regras e nos regulamentos TENDENCIAS DE MAYO ~ A organizagaa é um grupo de pessoas + Enfase nas pessoas = Inspiragéo em teorias psicolégicas - Delegagio de auteridade = Dindmica grupal e interpessoal ~ Autonomia, confianga e abertura - Enfase nas comunicages humanas TAYLOR e MAYO. Tanto quanto sabemas nao tem sido possivel compatibiizar os nossos pontos de vista... DIRIGIR -Nesse caso temos o prazer de vos dar uma novidade. Outros investigadores mais jovens do que 08 senhores desenvolveram teorias que, de algum modo, deixaram antever a possibilidade de compatib lizar a énfase quer nas tarefas quer nas pessoas, as estruturas formais e informais das organizacées, a convergéncia ‘entre. necessidades © objectives das arganizagées e individuals. E 0 caso da teorla do Compertamento organizacional ou da teoria do desen- Volvimento ou ainda da teoria da contingancia. Tere. mos 0 prazer de vos por zo corrente se nos encontrar. mos de nave. Acrescentamos, todavia, que, todas 2s teorias administrativas 80 validas, multo embora apenas a valorizar uma ou outra das cinco variéveis bisicas (tarefas, estruturas, pessoas, tecnologias, & ambiente). Na verdade cada teoria surgiu como tenta- tivade solucdo a problemas organizacionais importan- tes da sua epoca mas, convenhamos, tais teorias sao ainda aplicaveis a situacdes de hoje. Assim sendo, por maioria de razdo, os senhores s40 muito actuais. Anoitecia. Despedimo-nos cordialmente e ficémos para- dos a vé-los desaparecer no horizonte. Um arrepio de tio fe2z-nos retomar & realidade... ‘Aplicagio das descobertas das Ciéncias Sociais, nomeadam da Seciologi, da Psicologia e da Anropologia, na ambta da ve orgarizacdes. FAmelhor maneira, a8 * Sccidloga; Técnica Superior do LEF.P. Antropologo; Protessor Universitario FF

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