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AO JUIZADO ESPECIAL DA COMARCA DE ________

________ , ________ , ________ , inscrito no CPF


sob nº ________ , ________ , residente e domiciliado
na ________ , ________ , ________ , na Cidade de
________ , ________ , ________ , vem à presença de
Vossa Excelência, por meio do seu Advogado, infra
assinado, ajuizar

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS


MATERIAIS E MORAIS

em face de ________ , ________ , ________ ,


inscrito no CPF sob nº ________ , ________ ,
residente e domiciliado na ________ , ________ ,
________ , na Cidade de ________ , ________ ,
________ , pelos motivos e fatos que passa a expor.

DOS FATOS

O Autor firmou em ________ um contrato para a aquisição de


passagens aéreas de ida e volta partindo de ________ para ________ , com
data de ida em ________ e volta prevista para ________ .
Ocorre que em 11 de março de 2020 houve a declaração de
Pandemia, declarada pela Organização Mundial da Saúde, obrigando as
autoridades a tomarem inúmeras medidas preventivas.

Com isso, em ________ , o vôo de retorno foi cancelado, sem


qualquer remanejamento para outra data ou mesmo outra companhia, deixando
o consumidor sem qualquer suporte local.

Por tal motivo, o Autor foi obrigado a comprar outra passagem no


valor de R$ ________ , com custo muito superior pela urgência para fins de
regressar ao país, além de um custo de mais de ________ gastos pelo período
em que ficou em ________ , gerando inúmeros transtornos e despesas
imprevistas.

Assim, diante do notório risco de manter o bilhete comprado,


houve o pedido de cancelamento.

Mas, contrariando as orientações claras das autoridades públicas


nacionais e internacionais, objetivando impedir a disseminação do vírus, a
companhia aérea se negou a realizar o cancelamento sem custo, cobrando a
multa de R$ ________ .

Ocorre que em ________ , em função de ________ solicitou o


cancelamento das passagens com devolução do valor pago.

Ocorre que para a surpresa do Autor, em resposta à solicitação,


apenas ________ do valor pago seria devolvido, configurando enriquecimento
ilícito por parte da Cia Aérea.
O Autor solicitou reavaliação dos valores, especialmente pelo fato
de ter solicitado o cancelamento com mais de ________ de antecedência, o
qual obteve a seguinte resposta: ________

Em função de ________ , o Autor teve que adiar sua viagem,


adquirindo nova passagem apenas de ida contando com a volta já adquirida.

No entanto, em ________ , ao tentar embarcar de volta para


________ , o Autor foi surpreendido com o cancelamento de sua passagem em
função do não embarque no primeiro trecho.

Ao buscar maiores informações com o a companhia não teve seu


problema solucionado, sendo obrigado a adquirir na hora nova passagem no
valor de R$ ________ .

Ao retornar, solicitou imediatamente a devolução do valor pago, o


que foi indeferido sob o seguinte argumento: ________

Ocorre que em data, o Autor não pode embarcar por não


apresentar ________ .

No entanto, em momento algum na compra ou nas comunicações


realizadas pela companhia aérea houve qualquer informação a respeito desta
necessidade.

Assim, ao ser impedido de viajar, teve que cancelar todos os seus


planos e reservas, computando um dano material no valor de R$ ________ .
Imediatamente solicitou reembolso dos valores despendidos, o
qual foi negado sob o seguinte argumento: ________

Portanto, sem ter outra alternativa, o Autor busca com a presente


ação a rescisão do contrato firmado com a devida indenização por danos
materiais e morais.

DA RELAÇÃO DE CONSUMO

A Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 trouxe o conceito de


Consumidor nos seguintes termos:

Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que


adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário
final.

Assim, uma vez reconhecido o Autor como destinatário


final dos serviços contratados, e demonstrada hipossuficiência técnica
do Autor, tem-se configurada uma relação de consumo, conforme
entendimento doutrinário sobre o tema:

"Sustentamos, todavia, que o conceito de consumidor


deve ser interpretado a partir de dois elementos: a) a
aplicação do princípio da vulnerabilidade e b) a
destinação econômica não profissional do
produto ou do serviço. Ou seja, em linha de princípio e
tendo em vista a teleologia da legislação protetiva deve-
se identificar o consumidor como o destinatário final
fático e econômico do produto ou serviço." (MIRAGEM,
Bruno. Curso de Direito do Consumidor. 6 ed. Editora RT,
2016. Versão ebook. pg. 16)

Consequentemente devem ser concedidos os benefícios


processuais promovidos pelo Código de Defesa do Consumidor, em especial a
inversão do ônus da prova, trazida ao art. 6º do inc. VIII:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

(...) VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive


com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo
civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação
ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências;

O fato de tratar-se de PESSOA JURÍDICA não retira o per se a


qualidade de consumidor, uma vez que enquadrada como destinatária final dos
serviços prestados pela Ré, apresentando-se, na relação jurídica estabelecida,
condição de hipossuficiência técnica.

A VULNERABILIDADE se caracteriza na medida em que,


mesmo sendo pessoa jurídica, não dispõe de condições técnicas para fazer
oposição aos argumentos da parte contrária quanto às impropriedades do
produto comprometedores de seu desempenho.

Afinal o produto adquirido não faz parte da cadeia de produção do


objeto da empresa Autora, tratando-se de verdadeira DESTINATÁRIA
FINAL do produto, conforme pacificado na jurisprudência específica:

APELAÇÃO. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS


MATERIAIS E MORAL. CONSUMIDOR. COMPRA E
VENDA DE PRODUTO REALIZADA PELA INTERNET.
PESSOA JURÍDICA DESTINATÁRIA FINAL DO
PRODUTO. RELAÇÃO DE CONSUMO RECONHECIDA.
PRINCÍPIO DA VULNERABILIDADE. APLICAÇÃO DO
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR (CDC).
POSSIBILIDADE. POSIÇÃO PERFILHADA PELO C.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (STJ).
ARREPENDIMENTO DO CONTRATO PELA
CONSUMIDORA NO PRAZO DO ART. 49 DO CDC.
DIREITO DE ARREPENDIMENTO ABSOLUTO.
RECURSO NESSA PARTE IMPROVIDO. 1.- Aplica-se ao
caso a legislação consumerista, pois a empresa
adquiriu o produto como destinatária final e não
como insumo. Ademais, verifica-se a situação de
vulnerabilidade da empresa-autora com relação à
fornecedora-ré, que lhe vendeu o produto por sua página
na internet, buscando, assim, restaurar o equilíbrio entre
as partes. 2.- (...). (TJ-SP 10069654120178260564 SP
1006965-41.2017.8.26.0564, Relator: Adilson de Araujo,
Data de Julgamento: 14/10/2017, 31ª Câmara de Direito
Privado, Data de Publicação: 14/10/2017)

Dito isto, passa a dispor sobre as condições que culminaram na


necessária resolução do contrato.

DA APLICAÇÃO DO CDC ÀS COMPANHIAS ESTRANGEIRAS

A norma que rege a proteção dos direitos do consumidor define, de


forma cristalina, que o consumidor de produtos e serviços deve ser abrigado das
condutas abusivas de todo e qualquer fornecedor, nos termos do art 3º do
referido Código.
No presente caso, mesmo com regulamentação da matéria pela
Convenção de Varsóvia, o CDC não é afastado totalmente, uma vez que referida
Convenção se limita apenas a indenização material, sendo aplicável o CDC a
todos os demais pontos, tais como danos morais e inversão do ônus da prova.

Assim, além do dano material efetivamente demonstrado, deve ser


considerado o grave constrangimento com ________ , sendo necessária a
adequada mensuração do quantum indenizatório, à luz das prerrogativas do
direito do consumidor.

Nesse sentido, são os precedentes sobre o tema:

APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR


DANO MORAL E MATERIAL. FALHA NA PRESTAÇÃO
DO SERVIÇO. TRANSPORTE AÉREO INTERNACIONAL.
SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA DOS
PEDIDOS. IRRESIGNAÇÃO DE AMBAS AS PARTES.
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DA AGÊNCIA DE
VIAGENS E DA COMPANHIA AÉREA PELA FALHA NA
PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. FIXAÇÃO DE TESE PELO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL QUANDO DA
APRECIAÇÃO DO TEMA 210 DA REPERCUSSÃO
GERAL. JULGAMENTO CONJUNTO DO RE 636.331 E
DO ARE 766.618. PREVALÊNCIA DAS
CONVENÇÕES DE VARSÓVIA E MONTREAL EM
RELAÇÃO AO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR NO QUE SE REFERE AOS DANOS
MATERIAIS, NÃO SE APLICANDO, CONTUDO, À
INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. DANO
EXTRAPATRIMONIAL CARACTERIZADO. SITUAÇÃO
QUE EXTRAPOLOU A ÓRBITA DO MERO
ABORRECIMENTO NÃO INDENIZÁVEL. VALOR
INDENIZATÓRIO FIXADO QUE ATENDE AOS
PARÂMETROS DO MÉTODO BIFÁSICO.
PRECEDENTES. (...) Consoante consignado na sentença,
ocorreram "sucessivas mudanças no horário da viagem de
ida; a perda da conexão em Roma; a demora em se
resolver o problema; o extravio de bagagem e a exigência
de que a autora fosse resgatá-la no aeroporto,
comprometendo o primeiro dia da sua estadia; o
cancelamento da conexão na volta, obrigando a autora a
comprar outra passagem e voar mais cedo para Roma,
perdendo mais um dia em (...); a incerteza no embarque
Roma-Rio de Janeiro e o atraso de duas horas no
embarque de volta", acontecimentos que, todos juntos e
alinhados, constituem falha na prestação do serviço;(...) ;
4.Dano moral configurado. Diversos percalços suportados
pela demandante que, por certo, suplantam os meros
aborrecimentos do cotidiano. Verba reparatória
razoavelmente fixada em R$ 15.000,00 (quinze mil reais),
valor que atende aos parâmetros do método bifásico.
Precedentes;5.(...) . (TJ-RJ, APELAÇÃO 0330787-
38.2017.8.19.0001, Relator(a): DES. LUIZ FERNANDO
PINTO , Publicado em: 06/03/2020)

*RESPONSABILIDADE CIVIL - Transporte aéreo


internacional - Extravio temporário de bagagem -
Convenção de Varsóvia e Montreal - Dano Moral -
Configurado - Em se tratando de pleito de indenização por
dano moral, aplica-se o Código de Defesa do Consumidor e
o Código Civil de 2002 em detrimento da Convenção, já
que esta última trata apenas do dano material - Falha na
prestação de serviços evidente - Situação dos autos que
extrapola os meros aborrecimentos - Indenização que cabe
ser fixada em R$10.000,00 valor que atende os princípios
da razoabilidade e proporcionalidade, desestimulando a
prática de condutas análogas por parte das companhias
aéreas - Sentença reformada - Apelo provido.* (TJSP;
Apelação Cível 1058148-51.2018.8.26.0100; Relator (a):
Jacob Valente; Órgão Julgador: 12ª Câmara de Direito
Privado; Foro Central Cível - 9ª Vara Cível; Data do
Julgamento: 12/02/2020; Data de Registro: 19/02/2020)

RESPONSABILIDADE CIVIL - Demanda que, apesar de


versar sobre transporte aéreo internacional, tem por
pedido recursal somente a questão de indenização por
danos morais, de maneira que o CDC deve prevalecer
sobre as Convenções de Varsóvia e Montreal - Atraso de
aproximadas 14 horas na viagem entre Cancun/MEX e São
Paulo/BRA, com conexão em Miami/EUA - Problemas
mecânicos que se tratam de fortuito interno, que não
afasta a responsabilidade da companhia aérea pelos danos
causados ao autor - Prestação de assistência para diminuir
os desconfortos do atraso que embora louvável não elide a
frustação do cancelamento do voo e a justa expectativa de
iniciar sua viagem com tranquilidade, além da demora
excessiva (14 horas) até a chegada ao destino final - Dano
moral in re ipsa - Indenização minorada de R$ 15.000,00
para R$ 8.000,00, em atenção aos princípios da
razoabilidade e proporcionalidade, não desvalendo o
auxílio material fornecido pela ré, com hospedagem em
hotel e vouchers de alimentação - Sentença reformada em
parte - Recurso parcialmente provido para condenar a ré a
indenização por danos morais no valor de R$ 8.000,00,
com juros desde a citação e correção a partir deste
acórdão, mantida a verba honorária fixada em primeiro
grau. (TJSP; Apelação Cível 1009184-27.2018.8.26.0100;
Relator (a): Mendes Pereira; Órgão Julgador: 15ª Câmara
de Direito Privado; Foro Central Cível - 23ª Vara Cível;
Data do Julgamento: 11/02/2020; Data de Registro:
11/02/2020)
APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR
DANOS MATERIAIS E MORAIS. AVARIA EM CARGA
TRANSPORTADA POR COMPANHIA AÉREA. VIAGEM
INTERNACIONAL. DANOS MATERIAIS. LIMITAÇÃO.
CONVENÇÃO DE MONTREAL. DANOS MORAIS
CONFIGURADOS. CDC. APLICABILIDADE. 1. No tocante
aos danos materiais, o E. STF firmou o entendimento no
sentido de que ?Nos termos do art. 178 da Constituição da
República, as normas e os tratados internacionais
limitadores da responsabilidade das transportadoras
aéreas de passageiros, especialmente as Convenções de
Varsóvia e Montreal, têm prevalência em relação ao
Código de Defesa do Consumidor? (RE 636.331/RJ - Tema
210 da Repercussão Geral). 2. No mesmo julgamento o E.
STF entendeu que ?a limitação imposta pelos acordos
internacionais alcança tão somente a indenização por dano
material, e não a reparação por dano moral? (RE
636331/RJ - Tema 210 da repercussão geral). 3. Na
ausência de declaração especial do valor da bagagem,
prevista no art. 22 item 2 da Convenção de Montreal, a
indenização por danos materiais limita-se ao valor
estabelecido na própria Convenção. 4. Com relação aos
danos morais, a presença do dano e do nexo causal é o que
basta para a caracterização da responsabilidade objetiva
da ré/apelante (CDC 14), sendo que o valor de R$
20.000,00 atende aos princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade, diante das circunstâncias do caso
concreto. 5. Negou-se provimento a ambos os apelos.
(TJDFT, Acórdão n.1224043, 07329034820188070001,
Relator(a): SÉRGIO ROCHA, 4ª Turma Cível, Julgado em:
18/12/2019, Publicado em: 03/02/2020)

Com esse postulado, o Réu não pode eximir-se das


responsabilidades inerentes à sua atividade, visto que se trata de um fornecedor
de produtos que, independentemente de culpa, causou danos efetivos a um de
seus consumidores.

DA RESCISÃO CONTRATUAL E DEVOLUÇÃO DOS VALORES PAGOS

Apesar da existência da obrigatoriedade do passageiro em se


submeter às normas estabelecidas pela Companhia Aérea, nos termos do art.
738 do Código Civil, estas só podem ser impositivas quando se mostrarem
adequadas e não atentatórias ao sistema de proteção do consumidor.

No presente caso, o serviço foi devidamente pago e não usufruído,


não sendo admissível aceitar que a empresa receba por um serviço não
prestado, mesmo que por força contratual, uma vez que configura inequívoca
nulidade por ser leonina.

É indiscutível que houve grave inadimplemento contratual ao


deixar de manter o vôo de retorno em meio à uma pandemia mundial sem
qualquer suporte, em claro descumprimento às regas da ANAC:

Resolução nº 400/2016:

Art. 21. O transportador deverá oferecer as


alternativas de reacomodação, reembolso e
execução do serviço por outra modalidade de
transporte, devendo a escolha ser do passageiro, nos
seguintes casos:

I - atraso de voo por mais de quatro horas em relação ao


horário originalmente contratado;
II - cancelamento de voo ou interrupção do
serviço;

III - preterição de passageiro; e

IV - perda de voo subsequente pelo passageiro, nos voos


com conexão, inclusive nos casos de troca de aeroportos,
quando a causa da perda for do transportador.

Parágrafo único. As alternativas previstas no caput deste


artigo deverão ser imediatamente oferecidas aos
passageiros quando o transportador dispuser
antecipadamente da informação de que o voo atrasará
mais de 4 (quatro) horas em relação ao horário
originalmente contratado.

Tem-se, no presente caso, grave descumprimento do contrato, sem


qualquer suporte ou possibilidade de reembolso ou acomdação como manda a
norma.

Neste mesmo sentido, o Código Civil Brasileiro, previu em seu


artigo 475 a possibilidade de indenização por perdas e danos nos casos de
descumprimento contratual:

Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode


pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-
lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos,
indenização por perdas e danos.
Nesse sentido, cabível a indenização dos valores gastos na íntegra,
conforme precedentes sobre o tema:

Transporte aéreo. Cancelamento de voo por problema


técnico. Reparação da despesa para aquisição de bilhetes
adquiridos para outro voo, com partida em horário
anterior ao voo disponibilizado pela ré em substituição ao
voo cancelado. Indeferimento do ressarcimento referente
ao bilhete adquirido pelo acompanhante da autora, com
base na crença de que a autora já foi ressarcida pelo
acompanhante. Motivação que não se sustenta, diante da
prova documental de que os dois bilhetes foram
adquiridos, junto à companhia, pela autora, não se
justificando simplesmente presumir que o acompanhante
ressarciu a autora. Pretensão de majoração da indenização
de dano moral vazada em termos genéricos, que não
proporcionam elementos para a reforma do arbitramento
feito em primeiro grau. Recurso parcialmente provido,
apenas para incluir na indenização do dano material o
ressarcimento do bilhete adquirido em nome do
acompanhante da autora. (TJSP; Recurso Inominado Cível
1011525-50.2019.8.26.0016; Relator (a): Luis Fernando
Cirillo; Órgão Julgador: Primeira Turma Cível; Foro
Central Juizados Especiais Cíveis - 1ª Vara do Juizado
Especial Cível - Vergueiro; Data do Julgamento:
13/03/2020; Data de Registro: 13/03/2020)

RECURSO DE APELAÇÃO INTERPOSTO CONTRA R.


SENTENÇA PELA QUAL FOI JULGADA
PARCIALMENTE PROCEDENTE AÇÃO
INDENIZATÓRIA - ALEGAÇÃO DE INCORREÇÃO, COM
PEDIDO DE REFORMA - ATRASO/CANCELAMENTO
DE VOO - RELAÇÃO DE CONSUMO -
ATRASO/CANCELAMENTO NO VOO QUE RESULTOU
INCONTROVERSO NOS AUTOS - INEFICIÊNCIA DO
SERVIÇO PRESTADO - INDENIZAÇÃO DEVIDA - DANO
MORAL CONFIGURADO - IMPUGNAÇÃO DO
"QUANTUM" FIXADO - COMPENSAÇÃO POR DANOS
EXTRAPATRIMONIAIS FIXADA EM R$ 10.000,00 (DEZ
MIL REAIS) - MONTANTE QUE NÃO SE MOSTROU
IRRISÓRIO OU EXCESSIVO - CONDENAÇÃO POR
DANOS MATERIAIS QUE SE MOSTROU PLENAMENTE
ADEQUADA AO CONJUNTO COLIGIDO AO FEITO -
ACERTO DA R. SENTENÇA - RECURSO NÃO PROVIDO.
(TJSP; Apelação Cível 1053203-84.2019.8.26.0100;
Relator (a): Simões de Vergueiro; Órgão Julgador: 16ª
Câmara de Direito Privado; Foro Central Cível - 22ª Vara
Cível; Data do Julgamento: 11/03/2020; Data de Registro:
11/03/2020)

INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL E MORAL.


TRANSPORTE AÉREO. Cancelamento de voo
internacional que ocasionou atraso de vinte e quatro horas
para a chegada dos autores ao destino. Alegação de
reestruturação da malha aérea. Fato previsível que não
exclui a responsabilidade da transportadora. Má prestação
do serviço caracterizada. Convenção de Montreal que não
exclui a possibilidade de indenizar os passageiros por dano
moral. Indenização por dano moral devida. Apelados que
em razão do cancelamento do voo original, perderam o voo
da conexão, diária de hotel e de locação de veículo.
"Quantum" indenizatório originalmente fixado em
R$10.000,00 para cada autor, que não comporta a
redução pretendida. Dano material comprovado
(R$2.059,68). Indenização por dano material fixada em
valor inferior ao limite previsto no art. 22 da Convenção de
Montreal. Sentença mantida. RECURSO DESPROVIDO.
(TJSP; Apelação Cível 1014788-32.2019.8.26.0003;
Relator (a): Afonso Bráz; Órgão Julgador: 17ª Câmara de
Direito Privado; Foro Regional III - Jabaquara - 2ª Vara
Cível; Data do Julgamento: 12/02/2020; Data de Registro:
19/02/2020)

Assim, devida a indenização pelos danos sofridos, em


especial todas as despesas geradas e danos morais sofridos pelo descaso e
transtorno gerado em meio a uma pandemia mundial.

Evidentemente que após declaração de PANDEMIA MUNDIAL


e orientação da OMS de que viagens fossem feitas somente em casos urgentes,
seria impossível a manutenção da viagem comprada.

Em sintonia com tais orientações, foi promulgada Medida


Provisória nº 925/2020, prevendo TOTAL ISENÇÃO de penalidades
contratuais para estes casos, in verbis:

Art. 3º O prazo para o reembolso do valor relativo à


compra de passagens aéreas será de doze meses,
observadas as regras do serviço contratado e mantida a
assistência material, nos termos da regulamentação
vigente.

§ 1º Os consumidores ficarão isentos das


penalidades contratuais, por meio da aceitação de
crédito para utilização no prazo de doze meses, contado da
data do voo contratado.

§ 2º O disposto neste artigo aplica-se aos contratos de


transporte aéreo firmados até 31 de dezembro de 2020.
Ao reforçar este direito, a MP 948/2020 previu igualmente a
possibilidade de remanejamento do serviço sem qualquer custo ao consumidor:

Art. 2º Na hipótese de cancelamento de serviços, de


reservas e de eventos, incluídos shows e espetáculos, o
prestador de serviços ou a sociedade empresária não serão
obrigados a reembolsar os valores pagos pelo consumidor,
desde que assegurem:

I - a remarcação dos serviços, das reservas e dos


eventos cancelados;

II - a disponibilização de crédito para uso ou abatimento


na compra de outros serviços, reservas e eventos,
disponíveis nas respectivas empresas; ou

III - outro acordo a ser formalizado com o consumidor.

§ 1º As operações de que trata o caput ocorrerão


sem custo adicional, taxa ou multa ao consumidor,
desde que a solicitação seja efetuada no prazo de noventa
dias, contado da data de entrada em vigor desta Medida
Provisória.

Razões pelas quais, a multa aplicada é manifestamente ilegal,


motivando a presente ação.

O Código Civil traz de forma muito clara que o passageiro pode


desistir do transporte, mesmo depois de iniciada a viagem nos termos do artigo
740 em seu § 1º:

§ 1º Ao passageiro é facultado desistir do transporte,


mesmo depois de iniciada a viagem, sendo-lhe devida a
restituição do valor correspondente ao trecho não
utilizado, desde que provado que outra pessoa haja sido
transportada em seu lugar.

Portanto, devido o direito de se obter a restituição do valor


correspondente ao trecho não utilizado, bem como, restituição dos valores
pagos pelo consumidor em função do cancelamento do segundo trecho,
conforme precedentes sobre o tema:

AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS. TRANSPORTE


AÉREO. AQUISIÇÃO DE PASSAGENS PARA O
ITINERÁRIO DE IDA E VOLTA. PERDA DA RESERVA
DO VOO DE RETORNO MOTIVADO PELA AUSÊNCIA
NO EMBARQUE DO VOO DE IDA. NO SHOW.
DIREITO DE RESSARCIMENTO PELAS
PASSAGENS ADQUIRIDAS COM TERCEIRA
COMPANHIA AÉREA PARA VIAGEM DE VOLTA.
INTERPRETAÇÃO DO ART. 740 DO CÓDIGO CIVIL.
DANOS MORAIS INOCORRENTES, MERO
DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL. RECURSO DOS
AUTORES PREJUDICADO. RECURSO DA RÉ
PARCIALMENTE PROVIDO. (Recurso Cível Nº
71007079536, Terceira Turma Recursal Cível, Turmas
Recursais, Relator: Cleber Augusto Tonial, Julgado em
31/08/2017). (TJ-RS - Recurso Cível: 71007079536 RS,
Relator: Cleber Augusto Tonial, Data de Julgamento:
31/08/2017, Terceira Turma Recursal Cível, Data de
Publicação: Diário da Justiça do dia 06/09/2017)
Ademais, pela simples leitura do Código Civil, pode-se
compreender que sempre haverá algum direito do passageiro em obter
reembolso do que foi pago e não usufruído, sob pena de configurar grave
enriquecimento ilícito.

Afinal, muito além da defesa inerente devida ao consumidor


hipossuficiente, o Código Civil de forma clara protege a devolução dos valores
pagos no caso de desistência da viagem:

Art. 740. O passageiro tem direito a rescindir o


contrato de transporte antes de iniciada a viagem,
sendo-lhe devida a restituição do valor da
passagem, desde que feita a comunicação ao
transportador em tempo de ser renegociada.

No presente caso, a compra foi online e o pedido de cancelamento


ocorreu dentro do prazo de 7 dias previstos no Código de Defesa do
Consumidor:

Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo


de 7 dias a contar de sua assinatura ou do ato de
recebimento do produto ou serviço, sempre que a
contratação de fornecimento de produtos e serviços
ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente
por telefone ou a domicílio.

Parágrafo único. Se o consumidor exercitar o direito de


arrependimento previsto neste artigo, os valores
eventualmente pagos, a qualquer título, durante o prazo de
reflexão, serão devolvidos, de imediato, monetariamente
atualizados.
Ou seja, sendo realizado dentro do prazo de reflexão, qualquer
retenção do valor pago é considerado abusivo, devendo ser coibido:

RECURSO INOMINADO. TRANSPORTE AÉREO.


COMPRA DE PASSAGEM. CANCELAMENTO. DIREITO
DE ARREPENDIMENTO.RESTITUIÇÃO MATERIAL
DEVIDA. RESPONSABILIDADE DA AGÊNCIA DE
VIAGENS (DECOLAR). SOLIDARIEDADE. CADEIA DE
FORNECIMENTO.RECURSO DESPROVIDO.1. Restaram
incontroversos nos autos os seguintes fatos: a) em
19/03/2017, o autor adquiriu quatro passagens aéreas da
American Airlines para o trecho Foz do Iguaçu - Cancun
(MEX), com conexão em Miami (EUA) - mov. 1.5; b) os
bilhetes foram comprados no site da ré DECOLAR.COM;
c) ciente de que precisaria do visto americano para fazer a
conexão nos Estados Unidos, em22/03/2017, o autor
solicitou o cancelamento das passagens, uma vez que não
possuía a referida documentação (mov. 14.1); d) as rés não
realizaram o estorno das passagens.2. A recorrente
DECOLAR.COM é agência de viagens online que
comercializa passagens aéreas. Desta forma, é evidente
que faz ela parte da cadeira de fornecimento do serviço de
venda de bilhete aéreo, razão pela qual tem legitimidade
passiva quando a demanda envolver cancelamento e
estorno de passagem.3. O consumidor pode desistir
do contrato, no prazo de 7 dias a contar de sua
assinatura ou do ato de recebimento do produto
ou serviço, sempre que a contratação de
fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora
do estabelecimento comercial, especialmente por
telefone ou a domicílio. Se o consumidor exercitar o
direito de arrependimento previsto neste artigo, os valores
eventualmente pagos, a qualquer título, durante o prazo de
reflexão, serão devolvidos, de imediato, monetariamente
atualizados (CDC, art. 49, capute parágrafo único).4.
Exercido o direito de arrependimento dentro do
prazo legal, faz jus o autor ao estorno do valor
despendido na aquisição das passagens. Por
conseguinte, incumbe à recorrente a responsabilidade pela
restituição, visto que sobressai a solidariedade entre todos
os integrantes da cadeia de fornecimento. Neste sentido:
STJ, AResp 1092869 - SP, Ministro Antonio Carlos
Ferreira, Data daPublicação 05/12/2018.5. Recurso
desprovido. (...) (TJPR - 2ª Turma Recursal - 0003357-
84.2017.8.16.0126 - Palotina - Rel.: Juiz Alvaro Rodrigues
Junior - J. 13.02.2019)

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO INDENIZATÓRIA - DANOS


MORAIS E MATERIAIS - COMPRA DE PASSAGEM
AÉREA PELA INTERNET - DIREITO DE
ARREPENDIMENTO - CANCELAMENTO SOLICITADO
NO PRAZO LEGAL - VALOR NÃO RESTITUIDO EM SUA
INTEGRALIDADE - DANO MORAL CONFIGURADO. O
fornecedor de serviços responde objetivamente pelos
danos causados ao consumidor. A violação ao direito legal
de arrependimento do consumidor, pela não restituição do
valor da compra cancelada no prazo legal, causa dano
moral, sobretudo, quando acarreta considerável perda de
tempo útil e denota descaso no trato do consumidor. A
indenização por danos morais deve ser arbitrada
observando-se os critérios punitivo e compensatório da
reparação, sem perder de vista a vedação ao
enriquecimento sem causa e os princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade. (TJ-MG - Apelação
Cível 1.0000.19.020286-1/001, Relator(a): Des.(a) Hilda
Teixeira da Costa, julgamento em 21/05/2019, publicação
da súmula em 22/05/2019)

No presente caso, fica perfeitamente demonstrada que a


comunicação do cancelamento dava tempo suficiente ao Réu de renegociar a
passagem, sendo cabível no máximo a retenção de 5% nos termos do Art. 740,
§3º do Código Civil:

§ 3º Nas hipóteses previstas neste artigo, o


transportador terá direito de reter até cinco por
cento da importância a ser restituída ao
passageiro, a título de multa compensatória.

A cobrança, portanto de ________ do valor da passagem como


multa pelo cancelamento é indevida, conforme precedentes sobre o tema:

APELAÇÃO - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS


MATERIAIS E MORAIS - TRANSPORTE AÉREO - VOO
INTERNACIONAL - IMPOSSIBILIDADE DE EMBARQUE
- (...) Não há ato ilícito no impedimento de embarque de
passageiro que não apresenta o documento exigido, ou
sem a comprovação da vacinação. É direito do
passageiro ter o valor da passagem ressarcido,
descontado 5% referente à multa compesatória
pela rescisão do contrato. (TJ-MS
08175455220148120001 MS 0817545-52.2014.8.12.0001,
Relator: Des. Júlio Roberto Siqueira Cardoso, Data de
Julgamento: 15/08/2017, 5ª Câmara Cível)

APELAÇÃO CÍVEL - PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS -


APLICAÇÃO DO CDC - AGÊNCIA DE TURISMO - VENDA
DE PASSAGEM AÉREA - RESPONSABILIDADE
SOLIDÁRIA PELO SERVIÇO DE TRANSPORTE
CONTRATADO - PEDIDO DE CANCELAMENTO DO
SERVIÇO SOLICITADO PELO CONSUMIDOR - DIREITO
DE RESSARCIMENTO - ABATIMENTO DA MULTA
EXRESSAMENTE ASSUMIDA PELO CONTRATANTE -
IMPERIOSIDADE - A agência de turismo, como
intermediária do serviço de compra de passagem aérea, é
responsável solidária pelo defeito na prestação do serviço
contratado, pois integra a cadeia de consumo - Uma vez
solicitada pelo consumidor o cancelamento dos
serviços contratados - passagens aéreas - os
valores pagos devem ser ressarcidos, sendo
autorizado o abatimento da multa expressamente
consentida pelo consumidor.(TJ-MG - AC:
10079110049396001 MG, Relator: Vasconcelos Lins, Data
de Julgamento: 17/04/2018, Data de Publicação:
19/04/2018)

Razões pelas quais, devido o cancelamento do contrato com


reembolso dos valores pagos com retenção no máximo de 5% dos valores pagos.

No presente caso, o Autor não atingiu sue objetivo na compra por


falhas graves nas informações do serviço. Afinal, bastava constar no anúncio
alguma informação relacionada à obrigatoriedade da ________ que o dano
seria evitado.

O Código de Defesa do Consumidor, em seu Art. 6º, dispõe


expressamente o dever de informação, dentre os direitos do consumidor "a
informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com
especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade,
tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem".

No entanto, contrariando qualquer expectativa depositada na


compra, ao tentar utilizar o serviço, a ausência de requisitos mínimos
necessários à utilização impossibilitou o seu uso.
O professor Bruno Miragem ao disciplinar sobre a matéria,
esclarece:

"O vício de informação caracteriza-se como sendo o


originário direito de informação do consumidor
que termina atingindo a finalidade
legitimamente esperada por um determinado
produto ou serviço. Assim o é, por exemplo, no caso de
um aparelho elétrico cuja voltagem, não informada
adequadamente na embalagem (...). Em todos estes
casos, existe violação ao dever de informar do fornecedor
e, portanto vício do produto qualificado como vício de
informação (...)" (in Curso de Direito do Consumidor, 6ª
ed. Editora RT, 2016. p.660)

No presente caso, ao adquirir o serviço oferecido gerando o dever


de indenizar, conforme precedentes sobre o tema:

APELAÇÃO - OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDOS


DE REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS E TUTELA
ANTECIPADA - SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA -
RECURSO - DANO MORAL - PERDA DO VOO POR
FALTA DE VACINAÇÃO CONTRA FEBRE
AMARELA - DESCUMPRIMENTO DO DEVER DE
INFORMAR - ART. 6º, III, DO CDC -
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA NA CADEIA
DE FORNECEDORES - ART. 18 DO CDC - (...). (TJ-SP -
APL: 10155792520158260008 SP 1015579-
25.2015.8.26.0008, Relator: Carlos Abrão, Data de
Julgamento: 26/06/2017, 14ª Câmara de Direito Privado,
Data de Publicação: 26/06/2017)
APELAÇÃO - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS
MATERIAIS E MORAIS - TRANSPORTE AÉREO - VOO
INTERNACIONAL - IMPOSSIBILIDADE DE EMBARQUE
- EXIGÊNCIA DE CERTIFICADO
INTERNACIONAL DE VACINAÇÃO (CIV)
COMPROVANDO A VACINAÇÃO CONTRA FEBRE
AMARELA - EXIGÊNCIA LEGAL - CONDENAÇÃO AO
RESSARCIMENTO DO VALOR DAS PASSAGENS -
MANUTENÇÃO DA SENTENÇA - ALTERAÇÃO DO
ÔNUS SUCUMBECIAL - RECURSO CONHECIDO E
PARCIALMENTE PROVIDO. A companhia aérea tem
obrigação legal de exigir a apresentação de Certificado de
Vacinação Internacional válido e comprovando a
vacinação contra febre amarela para o embarque de
passageiro que se destina a país que faz essa exigência.
Não há ato ilícito no impedimento de embarque de
passageiro que não apresenta o documento exigido, ou
sem a comprovação da vacinação. É direito do passageiro
ter o valor da passagem ressarcido, descontado 5%
referente à multa compesatória pela rescisão do contrato.
(TJ-MS 08175455220148120001 MS 0817545-
52.2014.8.12.0001, Relator: Des. Júlio Roberto Siqueira
Cardoso, Data de Julgamento: 15/08/2017, 5ª Câmara
Cível)

Razão pela qual, devida a condenação dos réus a indenização por


vício na informação.

O simples fato de ser comprada passagens por milhas não pode


impedir o consumidor ao reembolso, pois possuem o mesmo valor na hora da
compra da passagem.

Nesse sentido, corrobora a jurisprudência sobre o tema:


RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE
VALORES. Viagem Internacional. Programa de milhagens.
Cancelamento de passagem área internacional pelo
consumidor. Negativa de devolução do valor das passagens
(consistente na soma de R$ 1.181,96 e 102.000 pontos em
milhas), com fundamento de aquisição de bilhetes com
tarifa promocional. Sentença de parcial procedência, que
condenou a parte ré à restituição de 102.000 milhas à
parte autora, com prazo de validade até 24.04.2019,
mantendo-se a taxa de cancelamento no valor de R$
1.181,96. Cláusula contratual vedando o reembolso do
valor da passagem, sob o fundamento de se tratar de tarifa
promocional, que se revela abusiva e excessiva. Pedido de
cancelamento realizado em tempo hábil para renegociação
dos bilhetes. Penalidade que deve ser reduzida, nos termos
do artigo 413 do Código Civil, para o valor de R$ 300,00
por trecho, totalizando R$ 600,00, correspondente a tarifa
reembolsável. Restituição do valor de R$ 581,96 à parte
autora que se mostra de rigor. Validade dos planos de
milhagem que deverá corresponder ao prazo acordado
entre as partes, conforme regras do programa e categoria a
que pertence a parte autora, somado ao tempo de duração
do processo, se acaso o seu vencimento se dê durante o seu
curso. Recurso parcialmente provido. (TJSP; Recurso
Inominado Cível 0024068-84.2018.8.26.0001; Relator
(a): Simone Candida Lucas Marcondes; Órgão Julgador: 1ª
Turma Cível; Foro de São Sebastião - 2ª. Vara Judicial;
Data do Julgamento: 17/05/2019; Data de Registro:
17/05/2019)

Ademais, tem por demonstrado o ENRIQUECIMENTO SEM


CAUSA do réu, uma vez que o Autor pagou os valores devidos e não usufruiu de
qualquer serviço, devendo ser ressarcido, nos termos do Código Civil:
Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se
enriquecer à custa de outrem, será obrigado a
restituir o indevidamente auferido, feita a
atualização dos valores monetários.

Ampla doutrina reforça a importância da censura ao


enriquecimento sem causa, para fins da efetiva preservação da boa fé nas
relações jurídicas:

"O repúdio ao enriquecimento indevido estriba-se


no princípio maior da equidade, que não permite
o ganho de um, em detrimento de outro, sem uma
causa que o justifique. (...) A tese, hoje, preferida pela
doutrina brasileira é a da admissão do princípio genérico
de repulsa ao enriquecimento sem causa indevido. Essa a
opinião de que participo." (RODRIGUES, Silvio. Direito
civil: parte geral das obrigações. 24 ed. São Paulo: Saraiva,
p. 159.)

Assim, considerando-se a tentativa infrutífera de recebimento dos


valores devidos, bem como os prejuízos causados, requer-se desde logo o
ressarcimento dos valores pagos pela passagem no valor de R$ ________ ,
bem como pelos danos materiais no valor de R$ ________ .

DA RESPONSABILIDADE CIVIL PELO DANO MORAL

Conforme demonstrado pelos fatos narrados e prova que junta no


presente processo, a empresa ré deixou de cumprir com sua obrigação primária
de cautela e prudência na atividade, causando constrangimentos indevidos ao
Autor.
Não obstante ao constrangimento ilegítimo, as reiteradas
tentativas de resolver a necessidade do Autor ultrapassa a esfera dos
aborrecimentos aceitáveis do cotidiano, uma vez que foi obrigado a buscar
informações e ferramentas para resolver um problema causado pela
empresa contratada para lhe dar uma solução.

Assim, no presente caso não se pode analisar isoladamente o


constrangimento sofrido, mas a conjuntura de fatores que obrigaram o
Consumidor a buscar a via judicial. Ou seja, deve-se considerar o grande
desgaste do Autor nas reiteradas tentativas de solucionar o ocorrido sem êxito,
gerando o dever de indenizar, conforme precedentes sobre o tema:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL (2015).
RESPONSABILIDADE CIVIL. CANCELAMENTO DE
VIAGEM. MÁ PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE EMPRESA
DE VIAGENS. DANOS MORAIS. QUANTUM
INDENIZATÓRIO. REDUÇÃO. IMPOSSIBILIDADE.
REVOLVIMENTO FÁTICO-PROBATÓRIO. INCIDÊNCIA
DA SÚMULA 07/STJ. RECURSO DESPROVIDO. (STJ -
AgInt no AREsp: 1050687 DF 2017/0022731-0, Relator:
Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, Data de
Julgamento: 27/02/2018, T3 - TERCEIRA TURMA, Data
de Publicação: DJe 02/03/2018)

Trata-se da necessária consideração dos danos causados pela


perda do tempo útil (desvio produtivo) do consumidor.

DOS DANOS PELO DESVIO PRODUTIVO

Conforme disposto nos fatos iniciais, o Consumidor teve que


desperdiçar seu tempo útil para solucionar problemas que foram causados pela
empresa Ré que não demonstrou qualquer intenção na solução do
problema, obrigando o ingresso da presente ação.

Este desgaste fica perfeitamente demonstrado por meio de


________ .

Este transtorno involuntário é o que a doutrina denomina de


DANO PELA PERDA DO TEMPO ÚTIL, pois afeta diretamente a rotina do
consumidor gerando um desvio produtivo involuntário, que obviamente causam
angústia e stress.

Humberto Theodoro Júnior leciona de forma simples e didática


sobre o tema, aplicando-se perfeitamente ao presente caso:

"Entretanto, casos há em que a conduta desidiosa do


fornecedor provoca injusta perda de tempo do
consumidor, para solucionar problema de vício
do produto ou serviço. (...) O fornecedor, desta forma,
desvia o consumidor de suas atividades para "resolver
um problema criado" exclusivamente por aquele. Essa
circunstância, por si só, configura dano indenizável no
campo do dano moral, na medida em que ofende a
dignidade da pessoa humana e outros princípios
modernos da teoria contratual, tais como a boa-fé
objetiva e a função social: (...) É de se convir que o
tempo configura bem jurídico valioso,
reconhecido e protegido pelo ordenamento
jurídico, razão pela qual, "a conduta que
irrazoavelmente o viole produzirá uma nova espécie de
dano existencial, qual seja, dano temporal" justificando a
indenização. Esse tempo perdido, destarte, quando viole
um "padrão de razoabilidade suficientemente assentado
na sociedade", não pode ser enquadrado noção de mero
aborrecimento ou dissabor." (THEODORO JÚNIOR,
Humberto. Direitos do Consumidor. 9ª ed. Editora
Forense, 2017. Versão ebook, pos. 4016)

Bruno Miragem, no mesmo sentido destaca:

"Por outro lado, vem se admitindo crescentemente, a


partir de provocação doutrinária, a concessão de
indenização pelo dano decorrente do sacrifício
do tempo do consumidor em razão de
determinado descumprimento contratual, como
ocorre em relação à necessidade de sucessivos e
infrutíferos contatos com o serviço de atendimento do
fornecedor, e outras providências necessárias à
reclamação de vícios no produto ou na prestação de
serviços." (MIRAGEM, Bruno. Curso de Direito do
Consumidor - Editora RT, 2016. versão e-book, 3.2.3.4.1)

Nesse sentido:

"Então, a perda injusta e intolerável do tempo útil


do consumidor provocada por desídia,
despreparo, desatenção ou má-fé (abuso de
direito) do fornecedor de produtos ou serviços deve
ser entendida como dano temporal (modalidade de dano
moral) e a conduta que o provoca classificada como ato
ilícito. Cumpre reiterar que o ato ilícito deve ser
colmatado pela usurpação do tempo livre,
enquanto violação a direito da personalidade,
pelo afastamento do dever de segurança que deve
permear as relações de consumo, pela
inobservância da boa-fé objetiva e seus deveres anexos,
pelo abuso da função social do contrato (seja na fase pré-
contratual, contratual ou pós-contratual) e, em último
grau, pelo desrespeito ao princípio da dignidade da
pessoa humana." (GASPAR, Alan Monteiro.
Responsabilidade civil pela perda indevida do tempo útil
do consumidor. Revista Síntese: Direito Civil e Processual
Civil, n. 104, nov-dez/2016, p. 62)

A jurisprudência, no mesmo sentido, ancora o posicionamento de


que o desvio produtivo ocasionado pela desídia de uma empresa deve ser
indenizada, conforme predomina a jurisprudência:

RELAÇÃO DE CONSUMO - DIVERGÊNCIA DO


PRODUTO ENTREGUE - OBRIGAÇÃO DE FAZER
CONSISTENTE NA ENTREGA DO PRODUTO
EFETIVAMENTE ANUNCIADO PELA RÉ E ADQUIRIDO
PELO CONSUMIDOR - INDENIZAÇÃO POR DANO
MORAL - RECONHECIMENTO. (...) Caracterizados
restaram os danos morais alegados pelo Recorrido
diante do "desvio produtivo do consumidor", que
se configura quando este, diante de uma situação
de mau atendimento, é obrigado a desperdiçar o
seu tempo útil e desviar-se de seus afazeres à
resolução do problema, e que gera o direito à
reparação civil. E o quantum arbitrado (R$ 3.000,00),
em razão disso, longe está de afrontar o princípio da
razoabilidade, mormente pelo completo descaso da Ré, a
qual insiste em protrair a solução do problema gerado ao
consumidor. 3. Recurso conhecido e não provido.
Sentença mantida por seus próprios fundamentos, ex vi do
art. 46 da Lei nº 9.099/95. Sucumbente, arcará a parte
recorrente com os honorários advocatícios da parte
contrária, que são fixados em 20% do valor da condenação
a título de indenização por danos morais. (TJSP; Recurso
Inominado 0003780-72.2017.8.26.0156; Relator (a):
Renato Siqueira De Pretto; Órgão Julgador: 1ª Turma
Cível e Criminal; Foro de Jundiaí - 4ª. Vara Cível; Data do
Julgamento: 12/03/2018; Data de Registro: 12/03/2018)

APELAÇÃO - AÇÃO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO C.C.


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - CONSUMIDOR
DEMANDANTE INDEVIDAMENTE COBRADO, POR
DÉBITO REGULARMENTE SATISFEITO - Completo
descaso para com as reclamações do autor -
Situação em que há de se considerar as angústias
e aflições experimentadas pelo autor, a perda de
tempo e o desgaste com as inúmeras idas e vindas
para solucionar a questão - Hipótese em que tem
aplicabilidade a chamada teoria do desvio
produtivo do consumidor - Inequívoco, com efeito, o
sofrimento íntimo experimentado pelo autor, que foge aos
padrões da normalidade e que apresenta dimensão tal a
justificar proteção jurídica - Indenização que se arbitra na
quantia de R$ 5.000,00, à luz da técnica do desestímulo.
(...) (TJSP; Apelação 1027480-84.2016.8.26.0224; Relator
(a): Ricardo Pessoa de Mello Belli; Órgão Julgador: 19ª
Câmara de Direito Privado; Foro de Guarulhos - 8ª Vara
Cível; Data do Julgamento: 05/03/2018; Data de Registro:
13/03/2018)

RELAÇÃO DE CONSUMO - VÍCIO OCULTO NO


PRODUTO(SOFÁ) - OBSERVÂNCIA DO CRITÉRIO DA
VIDA ÚTIL DO BEM DURÁVEL -DESVIO PRODUTIVO
DO CONSUMO - INDENIZAÇÃO POR DANOS
MATERIAIS E MORAIS - RECONHECIMENTO. 1. (...)
Caracterizados restaram, ainda, os danos morais
asseverados pelo Recorrido diante do "desvio
produtivo do consumidor", que se configura
quando este, diante de uma situação de mau
atendimento, é obrigado a desperdiçar o seu
tempo útil e desviar-se de seus afazeres, e que
gera o direito à reparação civil. E o quantum
arbitrado (R$ 2.000,00), em razão disso, longe está de
afrontar o princípio da razoabilidade, mormente pelo
completo descaso da Ré, loja de envergadura nacional,
para com o seu cliente. 3. Recurso conhecido e não
provido. Sentença mantida por seus próprios
fundamentos, ex vi do art. 46 da Lei nº 9.099/95.
Sucumbente, arcará a parte Recorrente com os honorários
advocatícios da parte contrária, que são fixados em 20%
do valor total da condenação. (TJSP; Recurso Inominado
1000711-15.2017.8.26.0156; Relator (a): Renato Siqueira
De Pretto; Órgão Julgador: 1ª Turma Cível e Criminal;
Foro de Ribeirão Preto - 2ª. Vara Cível; Data do
Julgamento: 05/02/2018; Data de Registro: 05/02/2018)

Trata-se de notório desvio produtivo caracterizado pela perda do


tempo que lhe seria útil ao descanso, lazer ou de forma produtiva, acaba
sendo destinado na solução de problemas de causas alheias à sua
responsabilidade e vontade.

A perda de tempo de vida útil do consumidor, em razão da falha da


prestação do serviço não constitui mero aborrecimento do cotidiano, mas
verdadeiro impacto negativo em sua vida, devendo ser INDENIZADO.

DO QUANTUM INDENIZATÓRIO

O quantum indenizatório deve ser fixado de modo a não só


garantir à parte que o postula a recomposição do dano em face da lesão
experimentada, mas igualmente deve, servir de reprimenda àquele que efetuou
a conduta ilícita, como assevera a doutrina:

"Com efeito, a reparação de danos morais exerce função


diversa daquela dos danos materiais. Enquanto estes se
voltam para a recomposição do patrimônio ofendido, por
meio da aplicação da fórmula "danos emergentes e lucros
cessantes" (CC, art. 402), aqueles procuram oferecer
compensação ao lesado, para atenuação do sofrimento
havido. De outra parte, quanto ao lesante,
objetiva a reparação impingir-lhe sanção, a fim
de que não volte a praticar atos lesivos à
personalidade de outrem." (BITTAR, Carlos Alberto.
Reparação Civil por Danos Morais. 4ª ed. Editora Saraiva,
2015. Versão Kindle, p. 5423)

Neste sentido é a lição do Exmo. Des. Cláudio Eduardo Regis de


Figueiredo e Silva, ao disciplinar o tema:

"Importa dizer que o juiz, ao valorar o dano moral,


deve arbitrar uma quantia que, de acordo com o seu
prudente arbítrio, seja compatível com a
reprovabilidade da conduta ilícita, a intensidade
e duração do sofrimento experimentado pela
vítima, a capacidade econômica do causador do
dano, as condições sociais do ofendido, e outras
circunstâncias mais que se fizerem presentes"
(Programa de responsabilidade civil. 6. ed., São Paulo:
Malheiros, 2005. p. 116). No mesmo sentido aponta a
lição de Humberto Theodoro Júnior: [...] "os parâmetros
para a estimativa da indenização devem levar em conta
os recursos do ofensor e a situação econômico-social do
ofendido, de modo a não minimizar a sanção a tal ponto
que nada represente para o agente, e não exagerá-la,
para que não se transforme em especulação e
enriquecimento injustificável para a vítima. O bom senso
é a regra máxima a observar por parte dos juízes" (Dano
moral. 6. ed., São Paulo: Editora Juarez de Oliveira,
2009. p. 61). Complementando tal entendimento, Carlos
Alberto Bittar, elucida que"a indenização por danos
morais deve traduzir-se em montante que
represente advertência ao lesante e à sociedade
de que se não se aceita o comportamento
assumido, ou o evento lesivo
advindo.Consubstancia-se, portanto, em importância
compatível com o vulto dos interesses em conflito,
refletindo-se, de modo expresso, no patrimônio do
lesante, a fim de que sinta, efetivamente, a resposta da
ordem jurídica aos efeitos do resultado lesivo produzido.
Deve, pois, ser quantia economicamente significativa, em
razão das potencialidades do patrimônio do
lesante"(Reparação Civil por Danos Morais, RT, 1993, p.
220). Tutela-se, assim, o direito violado. (TJSC, Recurso
Inominado n. 0302581-94.2017.8.24.0091, da Capital -
Eduardo Luz, rel. Des. Cláudio Eduardo Regis de
Figueiredo e Silva, Primeira Turma de Recursos - Capital,
j. 15-03-2018)

Ou seja, enquanto o papel jurisdicional não fixar condenações que


sirvam igualmente ao desestímulo e inibição de novas práticas lesivas,
situações como estas seguirão se repetindo e tumultuando o judiciário.

Portanto, cabível a indenização por danos morais, E nesse sentido,


a indenização por dano moral deve representar para a vítima uma satisfação
capaz de amenizar de alguma forma o abalo sofrido e de infligir ao causador
sanção e alerta para que não volte a repetir o ato, uma vez que fica evidenciado
completo descaso aos transtornos causados.

DA TUTELA DE URGÊNCIA

Nos termos do Art. 300 do CPC/15, "a tutela de urgência será


concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do
direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo."

No presente caso tais requisitos são perfeitamente caracterizados,


vejamos:

A PROBABILIDADE DO DIREITO resta caracterizada diante


da demonstração inequívoca de que ________ .

Assim, conforme destaca a doutrina, não há razão lógica para


aguardar o desfecho do processo, quando diante de direito inequívoco:

"Se o fato constitutivo é incontroverso não há


racionalidade em obrigar o autor a esperar o tempo
necessário à produção da provas dos fatos impeditivos,
modificativos ou extintivos, uma vez que o autor já se
desincumbiu do ônus da prova e a demora inerente à
prova dos fatos, cuja prova incumbe ao réu certamente o
beneficia." (MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela de
Urgência e Tutela da Evidência. Editora RT, 2017. p.284)

Já o RISCO DA DEMORA, fica caracterizado pela ________ ,


ou seja, tal circunstância confere grave risco de perecimento do resultado útil do
processo, conforme leciona Humberto Theodoro Júnior:
"um risco que corre o processo principal de não
ser útil ao interesse demonstrado pela parte", em
razão do "periculum in mora", risco esse que deve ser
objetivamente apurável, sendo que e a plausibilidade do
direito substancial consubstancia-se no direito "invocado
por quem pretenda segurança, ou seja, o "fumus boni
iuris" (in Curso de Direito Processual Civil, 2016. I. p.
366).

Por fim, cabe destacar que o presente pedido NÃO caracteriza


conduta irreversível, não conferindo nenhum dano ao réu .

Diante de tais circunstâncias, é inegável a existência de fundado


receio de dano irreparável, sendo imprescindível a ________ , nos termos do
Art. 300 do CPC.

DA JUSTIÇA GRATUITA

O Requerente atualmente é ________ , tendo sob sua


responsabilidade a manutenção de sua família, razão pela qual não poderia
arcar com as despesas processuais.

Ademais, em razão da pandemia, após a política de distanciamento


social imposta pelo Decreto ________ nº ________ (em anexo), o
requerente teve o seu contrato de trabalho reduzido, com redução do seu salário
em ________ , agravando drasticamente sua situação econômica.

Desta forma, mesmo que seus rendimentos sejam superiores ao


que motiva o deferimento da gratuidade de justiça, neste momento excepcional
de reduçào da sua remuneração, o autor se encontra em completo descontrole
de suas contas, em evidente endividamento.

Como prova, junta em anexo ao presente pedido ________ .

Para tal benefício o autor junta declaração de hipossuficiência e


comprovante de renda, os quais demonstram a inviabilidade de pagamento das
custas judicias sem comprometer sua subsistência, conforme clara redação do
Art. 99 Código de Processo Civil de 2015.

Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser


formulado na petição inicial, na contestação, na petição
para ingresso de terceiro no processo ou em recurso.

§ 1º Se superveniente à primeira manifestação da parte na


instância, o pedido poderá ser formulado por petição
simples, nos autos do próprio processo, e não suspenderá
seu curso.

§ 2º O juiz somente poderá indeferir o pedido se houver


nos autos elementos que evidenciem a falta dos
pressupostos legais para a concessão de gratuidade,
devendo, antes de indeferir o pedido, determinar à parte a
comprovação do preenchimento dos referidos
pressupostos.

§ 3º Presume-se verdadeira a alegação de


insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa
natural.
Assim, por simples petição, sem outras provas exigíveis por lei, faz
jus o Requerente ao benefício da gratuidade de justiça:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - MANDADO DE


SEGURANÇA - JUSTIÇA GRATUITA - Assistência
Judiciária indeferida - Inexistência de elementos nos
autos a indicar que o impetrante tem condições de
suportar o pagamento das custas e despesas
processuais sem comprometer o sustento próprio
e familiar, presumindo-se como verdadeira a
afirmação de hipossuficiência formulada nos
autos principais - Decisão reformada - Recurso provido.
(TJSP; Agravo de Instrumento 2083920-
71.2019.8.26.0000; Relator (a): Maria Laura Tavares;
Órgão Julgador: 5ª Câmara de Direito Público; Foro
Central - Fazenda Pública/Acidentes - 6ª Vara de Fazenda
Pública; Data do Julgamento: 23/05/2019; Data de
Registro: 23/05/2019

Cabe destacar que o a lei não exige atestada miserabilidade do


requerente, sendo suficiente a "insuficiência de recursos para pagar as custas,
despesas processuais e honorários advocatícios"(Art. 98, CPC/15), conforme
destaca a doutrina:

"Não se exige miserabilidade, nem estado de


necessidade, nem tampouco se fala em renda familiar ou
faturamento máximos. É possível que uma pessoa
natural, mesmo com bom renda mensal, seja merecedora
do benefício, e que também o seja aquela sujeito que é
proprietário de bens imóveis, mas não dispõe de liquidez.
A gratuidade judiciária é um dos mecanismos de
viabilização do acesso à justiça; não se pode
exigir que, para ter acesso à justiça, o sujeito
tenha que comprometer significativamente sua
renda, ou tenha que se desfazer de seus bens,
liquidando-os para angariar recursos e custear o
processo." (DIDIER JR. Fredie. OLIVEIRA, Rafael
Alexandria de. Benefício da Justiça Gratuita. 6ª ed.
Editora JusPodivm, 2016. p. 60)

"Requisitos da Gratuidade da Justiça. Não é


necessário que a parte seja pobre ou necessitada
para que possa beneficiar-se da gratuidade da
justiça. Basta que não tenha recursos suficientes para
pagar as custas, as despesas e os honorários do processo.
Mesmo que a pessoa tenha patrimônio suficiente, se estes
bens não têm liquidez para adimplir com essas despesas,
há direito à gratuidade." (MARINONI, Luiz Guilherme.
ARENHART, Sérgio Cruz. MITIDIERO, Daniel. Novo
Código de Processo Civil comentado. 3ª ed. Revista dos
Tribunais, 2017. Vers. ebook. Art. 98)

Por tais razões, com fulcro no artigo 5º, LXXIV da Constituição


Federal e pelo artigo 98 do CPC, requer seja deferida a gratuidade de justiça ao
requerente.

A existência de patrimônio imobilizado, no qual vive a sua família


não pode ser parâmetro ao indeferimento do pedido:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE


RECONHECIMENTO E/OU DISSOLUÇÃO DE UNIÃO
ESTÁVEL OU CONCUBINATO. REVOGAÇÃO DA
GRATUIDADE DE JUSTIÇA. (...) Argumento da
titularidade do Agravante sobre imóvel, que não
autoriza o indeferimento do benefício da
gratuidade de justiça, pois se trata de patrimônio
imobilizado, não podendo ser indicativo de
possibilidade e suficiência financeira para arcar
com as despesas do processo, sobretudo, quando
refere-se a pessoa idosa a indicar os pressupostos à
isenção do pagamento de custas nos termos do art. 17,
inciso X da Lei n.º 3.350/1999. Direito à isenção para o
pagamento das custas bem como a gratuidade de justiça
no que se refere a taxa judiciária. Decisão merece reforma,
restabelecendo-se a gratuidade de justiça ao réu agravante.
CONHECIMENTO DO RECURSO E PROVIMENTO DO
AGRAVO DE INSTRUMENTO. (TJRJ, AGRAVO DE
INSTRUMENTO 0059253-21.2017.8.19.0000, Relator(a):
CONCEIÇÃO APARECIDA MOUSNIER TEIXEIRA DE
GUIMARÃES PENA, VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL,
Julgado em: 28/02/2018, Publicado em: 02/03/2018)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO


MONOCRÁTICA. AÇÃO DE USUCAPIÃO. BENEFÍCIO
DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA. COMPROVAÇÃO DA
NECESSIDADE. DEFERIMENTO DO BENEFÍCIO. -
Defere-se o benefício da gratuidade da justiça sem outras
perquirições, se o requerente, pessoa natural, comprovar
renda mensal bruta abaixo de Cinco Salários Mínimos
Nacionais, conforme novo entendimento firmado pelo
Centro de Estudos do Tribunal de Justiçado Rio Grande do
Sul, que passo a adotar (enunciado nº 49). - A condição
do agravante possuir estabelecimento comercial
não impossibilita que seja agraciado com a
gratuidade de justiça, especialmente diante da
demonstração da baixa movimentação financeira
da microempresa de sua propriedade. AGRAVO DE
INSTRUMENTO PROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº
70076365923, Décima Sétima Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Gelson Rolim Stocker, Julgado em
10/01/2018).

Afinal, o Requerente possui inúmeros compromissos financeiros


que inviabilizam o pagamento das custas sem comprometer sua subsistência,
veja:

 ________ - R$ ________ ;

 ________ - R$ ________ ;

 ________ - R$ ________ ...

Ou seja, apesar do patrimônio e renda elevada, todo valor auferido


mensalmente esta comprometido, inviabilizando suprir a custas processuais.

DA GRATUIDADE DOS EMOLUMENTOS

O artigo 5º, incs. XXXIV e XXXV da Constituição Federal assegura


a todos o direito de acesso à justiça em defesa de seus direitos,
independente do pagamento de taxas, e prevê expressamente ainda que a
lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.

Ao regulamentar tal dispositivo constitucional, o Código de


Processo Civil prevê:

Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou


estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as
custas, as despesas processuais e os honorários
advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma
da lei.

§ 1º A gratuidade da justiça compreende:


(...)

IX - os emolumentos devidos a notários ou


registradores em decorrência da prática de
registro, averbação ou qualquer outro ato notarial
necessário à efetivação de decisão judicial ou à
continuidade de processo judicial no qual o benefício
tenha sido concedido.

Portanto, devida a gratuidade em relação aos emolumentos


extrajudiciais exigidos pelo Cartório. Nesse sentido são os precedentes sobre o
tema:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL.


BENEFICIÁRIO DA AJG. EXECUÇÃO DE SENTENÇA.
REMESSA À CONTADORIA JUDICIAL PARA
CONFECÇÃO DE CÁLCULOS. DIREITO DO
BENEFICIÁRIO INDEPENDENTEMENTE DA
COMPLEXIDADE. 1. Esta Corte consolidou jurisprudência
no sentido de que o beneficiário da assistência judiciária
gratuita tem direito à elaboração de cálculos pela
Contadoria Judicial, independentemente de sua
complexidade. Precedentes. 2. Recurso especial a que se
dá provimento. (STJ - REsp 1725731/RS, Rel. Ministro OG
FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em
05/11/2019, DJe 07/11/2019)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. JUSTIÇA GRATUITA.


EMOLUMENTOS DE CARTÓRIO EXTRAJUDICIAL.
ABRANGÊNCIA. Ação de usucapião. Decisão que
indeferiu o pedido de isenção dos emolumentos, taxas e
impostos devidos para concretização da transferência de
propriedade do imóvel objeto da ação à autora, que é
beneficiária da gratuidade da justiça. Benefício que se
estende aos emolumentos devidos em razão de
registro ou averbação de ato notarial necessário à
efetivação de decisão judicial (art. 98, § 1º, IX, do
CPC). (...). Decisão reformada em parte. AGRAVO
PARCIALMENTE PROVIDO. (TJSP; Agravo de
Instrumento 2037762-55.2019.8.26.0000; Relator (a):
Alexandre Marcondes; Órgão Julgador: 3ª Câmara de
Direito Privado; Foro de Santos - 10ª Vara Cível; Data do
Julgamento: 14/08/2014; Data de Registro: 22/03/2019)

Assim, por simples petição, uma vez que inexistente prova da


condição econômica do Requerente, requer o deferimento da gratuidade dos
emolumentos necessários para o deslinde do processo.

DOS PEDIDOS

Isso posto, requer a Vossa Excelência:

1. O deferimento da Gratuidade de Justiça;

2. O deferimento da Tutela de Urgência, para fins de indicar


pedido;

3. A citação dos réus para, querendo, responder a presente ação;

4. A total procedência da presente demanda com a declaração da


resolução do contrato, com a devolução imediata dos valores
pagos devidamente atualizados, no valor de R$ ________ ,
cumulado com danos materiais no valor de R$ ________ e
danos morais em valor não inferior a R$ ________ ;

5. A produção de todas as provas admitidas em direito;

6. Manifesta o interesse na realização de audiência conciliatória


nos termos do art. 319, VII, do CPC.

7. A condenação do réu ao pagamento de honorários advocatícios


nos parâmetros previstos no art. 85, §2º do CPC.

Dá-se à causa o valor R$ ________ .

Nestes Termos, Pede Deferimento

________ , ________ .

________

ANEXOS

1. Comprovante de renda
2. Declaração de hipossuficiência

3. Cópia do RG e CPF do Autor

4. Comprovante de residência do Autor

5. Procuração

6. Custas Judiciais

7. Passagens compradas

8. Comprovante do pagamento

9. Provas dos contatos e protocolos

10. Provas dos prejuízos

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