Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O presente trabalho tem como objetivo descortinar, a partir dos estudos de Piaget, a
teoria construtivista que, por muito tempo, foi mal interpretada e indevidamente
reportada para a prática dos educadores como um método de ensino. Embora, a teoria
epistemológica genética não tenha sido desenvolvida com o intuito de fundamentar
teoricamente os processos de ensino e aprendizagem na educação formal, é inegável que
a Pedagogia, como um saber de fronteira, incorpore as ideias de Piaget sobre como o
sujeito conhece, ou seja, que através da interação com o meio o sujeito constrói o
conhecimento. Assim, a partir de uma breve reconstrução histórica e da relação com
outros autores, como Emília Ferreiro e Guy Brousseau, buscaremos responder a
questão: quais as contribuições da teoria construtivista para o ensino e a aprendizagem.
TEORIA CONSTRUTIVISTA
A partir da metade do século XX, no Brasil, surgem novas teorias nas áreas da
psicologia educacional. Piaget e Vygotsky, pais da psicologia cognitiva contemporânea,
propõem que conhecimento é construído em ambientes naturais de interação social,
estruturados culturalmente. Cada aluno constrói seu próprio aprendizado num processo
de dentro para fora baseado em experiências de fundo psicológico. Os teóricos desta
abordagem procuram explicar o comportamento humano em uma perspectiva em que
sujeito e objeto interagem em um processo que resulta na construção e reconstrução de
estruturas cognitivas. “Piaget acrescenta mudanças fundamentais à posição de Kant, em
relação ao conhecimento, na medida em que em seu sistema não existe nenhuma
categoria de entendimento “a priori”. As noções de tempo, espaço e a logicidade de
raciocínio são construídas pelo indivíduo através da ação em trocas dialéticas com o
meio. – Vygotsky e os outros teóricos russos enfatizam o papel dos determinantes
sócio-culturais na formação das estruturas comportamentais.” (COUTINHO E
MOREIRA, 1991 – p.23) Segundo Mario Carretero (CARRETERO, 1997),
construtivismo "é a idéia que sustenta que o indivíduo - tanto nos aspectos cognitivos
quanto sociais do comportamento como nos afetivos - não é um mero produto do
ambiente nem um simples resultado de suas disposições internas, mas, sim, uma
construção própria que vai se produzindo, dia a dia, como resultado da interação entre
esses dois fatores. Em consequência, segundo a posição construtivista, o conhecimento
não é uma cópia da realidade, mas, sim, uma construção do ser humano". Vygotsky vê o
sujeito como um ser eminentemente social, na linha do pensamento marxista, e ao
próprio conhecimento como um produto social. Ele sustenta que todos os processos
psicológicos superiores (comunicação, linguagem, raciocínio, etc.), são adquiridos no
1
contexto social e depois se internalizam. Piaget desenvolveu uma teoria chamada de
Epistemologia Genética ou Teoria Psicogenética, onde explica como o indivíduo, desde
o seu nascimento, constrói o conhecimento. Esta teoria é a mais conhecida concepção
construtivista da formação da inteligência. Piaget vê o professor mais como um
espectador do desenvolvimento e favorecedor dos processos de descobrimento
autônomo de conceitos do que como um agente que pode intervir ativamente na
assimilação do conhecimento. Mario Carretero (CARRETERO, 1997) coloca: "a teoria
de Piaget continua oferecendo, na atualidade, a visão mais completa de
desenvolvimento cognitivo, tanto pela grande quantidade de aspectos que aborda
(desenvolvimento cognitivo desde o nascimento até a idade adulta, desenvolvimento
moral, noções sociais, lógicas, matemáticas, etc.) como por sua coerência interna e
utilização de uma metodologia que deu origem a resultados muito produtivos durante
cinquenta anos de pesquisa." PRESSUPOSTOS ESSENCIAIS DO MODELO
GENÉTICO-COGNITIVO DE PIAGET Piaget trabalhou compulsivamente em seu
objetivo, de estudar a gênese da inteligência até as vésperas de sua morte, em 1980, aos
oitenta e quatro anos, deixando escritos aproximadamente setenta livros e mais de
quatrocentos artigos. Desde muito cedo Jean Piaget demonstrou sua capacidade de
observação. Aos onze anos percebeu um melro albino em uma praça de sua cidade. A
observação deste pássaro gerou seu primeiro trabalho científico. Formado em Biologia
interessou-se por pesquisar sobre o desenvolvimento do conhecimento nos seres
humanos. Daí o nome dado a sua ciência de Epistemologia Genética, que é entendida
como estudo dos mecanismos de formação do conhecimento lógico – tais como as
noções de tempo, espaço, objeto, causalidade etc. – e da gênese (nascimento) e a
evolução do conhecimento humano. Para Piaget o comportamento dos seres vivos não é
inato, nem resultado de condicionamentos. Para ele o comportamento é construído
numa interação entre o meio e o indivíduo. Esta teoria epistemológica (epistemo =
conhecimento; e logia = estudo) é caracterizada como uma visão interacionista do
desenvolvimento. A inteligência do indivíduo, como adaptação a situações novas,
portanto, está relacionada com a complexidade desta interação do indivíduo com o
meio. Em outras palavras, quanto mais complexa for esta interação, mais “inteligente”
será o indivíduo
Piaget, o criador da teoria Construtivista, considera quatro fatores como essenciais para
o desenvolvimento cognitivo da criança:
2
De equilibração das ações: relacionado à adaptação ao meio e/ou às situações (Fossile,
2010).
CONHECIMENTO/APRENDIZAGEM
Piaget afirma que quando uma criança interage com o mundo à sua volta, ela atua
(interna e externamente) e muda a realidade que vivencia. Para que isso ocorra, a
criança deve ter um esquema de ação. É por meio do esquema de ação que a criança
organiza e interpreta a ação, para que esta seja praticada. É uma estratégia de ação
generalizável, de forma que a criança consiga se adaptar às mudanças ocorridas no seu
meio. Consequentemente, surgem dois mecanismos necessários à elaboração de novos
esquemas: assimilação e acomodação (Fossile, 2010)
3
campo de estudo não somente para a psicologia do desenvolvimento, mas também para
a sociologia e para a antropologia, além de permitir que os pedagogos tracem uma
metodologia baseada em suas descobertas. Piaget situa, segundo DOLLE, o problema
epistemológico, o do conhecimento, ao nível de uma interação entre o sujeito e o objeto.
E "essa dialética resolve todos os conflitos nascidos das teorias, associacionistas,
empiristas, genéticas sem estrutura, estruturalistas sem gênese, etc.... e permite seguir
fases sucessivas da construção progressiva do conhecimento “ (1974: 52).
OS ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO
4
movimentos. Passa a distinguir o significante (imagem/palavra/símbolo) do significado
(conceito).
Exemplo: a criança, ao ver a mãe com uma bolsa, compreende que ela sairá de casa. Ainda
não compreende a reversibilidade – compreende que 6 + 1 = 7, mas não compreende que 7 –
1 = 6. Tem pensamento animista (dá vida aos seres inanimados), pensamentos egocêntricos
(particulares da realidade), raciocínio transdutivo – raciocínio particular (banana verde causa
dor de barriga, então abacate verde também causa dor de barriga).
Operatório formal: dos 11/12 anos em diante. Encontramos nessa fase um adolescente,
que utiliza o raciocínio hipotético-dedutivo, elabora e testa suas hipóteses, alcança a
abstração, entende que a linguagem é de importância extrema, pois com ela poderá
formular hipóteses e realizar pesquisas (Fossile, 2010).