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Crimes praticados por funcionários públicos

Peculato (art.312 do Código Penal)


A expressão “peculato” tem origem no direito romano, na derivação peculatus, advinda de pecus, “consistente na subtração de
coisas pertencentes ao Estado” (SANCHES, 2019, p. 827), na medida em que o comércio era realizado sobre determinadas
mercadorias (pecus), tais como carneiros e bois.

O delito possui como bem jurídico penal protegido a Administração Pública, seja sob o prisma patrimonial ou moral. Desta
forma, a moralidade da Administração Pública se apresenta como objeto jurídico direto, e seu patrimônio, indireto. Por outro
lado, se considera objeto material todo e qualquer bem móvel, dinheiro ou valor.

As condutas dolosas previstas descrevem �guras especiais dos delitos de apropriação indébita (caput) e de furto (§1º),
caracterizando-se, portanto, como delitos funcionais impróprios ou mistos.

Por outro lado, no caso da conduta culposa, o agente público, por meio da quebra do dever objetivo de cuidado, também poderá
ter sua conduta como incursa na �gura típica. Vejamos a seguir as �guras típicas de peculato, previstas nos artigos 312, 313-A
e 313-B do Código Penal.

Peculato-apropriação e peculato-desvio (art.312, caput, Código Penal)


O caput do art.312 do Código Penal descreve as condutas denominadas peculato próprio, que se dividem em peculato-
apropriação e peculato-desvio (parte �nal do caput).

A �gura do peculato-apropriação se apresenta como �gura típica especial em relação ao delito de apropriação indébita previsto
no art.168 do Código Penal. Desta forma, a conduta se con�gura pela apropriação de coisa alheia móvel (valor ou qualquer
outro bem móvel, público ou particular) da qual o funcionário público detinha a posse em decorrência da função. Trata-se de
crime material que se consuma no momento em que há a inversão do animus sobre o bem, ou seja, o assenhoreamento, por
exemplo, quando o funcionário público vende um notebook do qual tinha a posse em razão da função pública.

No peculato-desvio, também denominado malversação, previsto na parte �nal do caput, ao invés da apropriação, ocorre o
desvio do objeto em favor do funcionário público ou de qualquer outra pessoa. Também se con�gura como delito material e,
sendo o iter criminis fracionável, torna-se possível a tentativa.

Classi�cação doutrinária
Con�gura-se como crime próprio, material, de dano, unissubjetivo, de forma livre, instantâneo e plurissubsistente,
logo, admite a tentativa.

Pena
Reclusão de 2 (dois) a 12 (doze) anos e multa.
Comentário

Vimos em Direito Penal III o ilícito civil denominado furto no qual o agente não possui o especial �m de agir de
assenhoreamento de�nitivo em relação à coisa alheia móvel infungível, e a restitui ao seu titular de forma célere e
integral. Podemos questionar se o mesmo raciocínio se aplica ao delito de peculato. Vejamos, por exemplo, a
situação do agente que se utiliza do automóvel que lhe foi con�ado em decorrência da função pública para �ns
pessoais, tais como uma viagem de �nal de semana com a família. Citemos, à guisa de exemplo, a interpretação
do disposto no art.1º, II, do decreto lei n. 201/1967 (crimes de responsabilidade de prefeitos e vereadores), na qual
possa ser identi�cada a aplicação do denominado “peculato de uso”. Ademais, o Superior Tribunal de Justiça tem
decidido no sentido de que “analogamente ao furto de uso, o peculato de uso também não con�gura ilícito penal,
tão-somente administrativo” (HC 94168/ MG).

Não obstante possa ser reconhecido o peculato de uso para �ns de exclusão de responsabilidade penal pelo delito
de peculato-apropriação, a conduta será considerada ilícito administrativo, previsto como improbidade
administrativa (art.9º, 10, 10-A e 11 da lei n.8429/1992).

Peculato-furto (art.312, §1º, Código Penal)


Também denominado peculato impróprio, caracteriza-se como �gura especial em relação ao delito de furto, de modo que
con�gura-se como a conduta do funcionário público que, embora não tenha a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai para si
ou para outrem, prevalecendo-se da condição de funcionário público.

Atenção

É importante destacar que a lei prevê expressamente que possa ser objeto do peculato qualquer “valor”, logo,
admite-se a prática da conduta em relação a bens fungíveis.

Da mesma forma que o delito de furto se consuma de acordo com a teoria da amotio, ou seja, no momento em
que há a retirada do bem da esfera de disponibilidade de seu titular (aqui a Administração Pública), ainda que por
um curto período de tempo, e independentemente do fato da posse ser mansa ou pací�ca.

Classi�cação doutrinária
Da mesma forma que a �gura anterior, trata-se de crime próprio, material, de dano, unissubjetivo, de forma livre,
instantâneo e plurissubsistente, logo, admite a tentativa.

Pena
Reclusão de 2 (dois) a 12 (doze) anos e multa.

Peculato culposo (art.312, §2º, Código Penal)


Em verdade, no peculato culposo ocorre a participação culposa em crime doloso que, em face do juízo de reprovabilidade da
conduta em decorrência do bem jurídico-penal, foi erigida à �gura autônoma. Paulo César Busato (2007, p.457) a�rma que,
nesta �gura típica, “se está colocando a responsabilização de uma pessoa que não deseja a produção do resultado na
dependência da vontade de outra que sim, o deseja”.

Conforme estabelece o parágrafo 3º, do art.312 do Código Penal, no caso de peculato culposo em que haja reparação do dano,
a reparação pode ensejar a aplicação do perdão judicial ou causa de diminuição de pena da metade, conforme ocorra,
respectivamente, em momento anterior ou posterior à sentença condenatória irrecorrível.

Classi�cação doutrinária
Crime próprio, material, de dano, unissubjetivo, de forma livre, instantâneo.

Pena
Detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

Peculato mediante erro de outrem (art.313, Código Penal)


Esta �gura típica também é conhecida como peculato estelionato, pois a conduta se perfaz quando o funcionário público se
utiliza de ardil com a �nalidade de apropriar-se de ou fraude para a apropriação de dinheiro ou qualquer outra utilidade recebida
face ao erro de outrem, ou seja, terceiro.

Caracteriza-se o crime pela conduta do funcionário público que não seja o competente para receber o valor, dinheiro ou
utilidade, ou nos casos em que, ainda que competente para a função/atividade, o funcionário aproveita-se do erro de terceiro,
por exemplo, apropriando-se dolosamente da diferença de pagamento feito a maior por este.

Classi�cação doutrinária
Crime próprio, material, de dano, unissubjetivo, de forma livre, instantâneo e plurissubsistente, logo, admite a
tentativa.

Pena
Reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa.

Peculato eletrônico (art.313-A e art.313-B, Código Penal)


A denominação peculato eletrônico se refere às �guras típicas de inserção de dados falsos em sistema de informações
(art.313-A, CP) e modi�cação ou alteração não autorizada de sistema de informações (art.313-B, CP), �guras acrescentadas
pela lei nº 9983/2000 e que correspondem a formas especiais de peculato.

Na �gura descrita no art.313-A, CP, a conduta é praticada pelo funcionário público que possui a atribuição especí�ca ou
autorização para acesso ao sistema informatizado ou banco de dados de determinado órgão público e, com o especial �m de
agir para obtenção de vantagem indevida para si ou para outrem, realiza a inserção ou facilitação de inclusão de dados falsos,
ou ainda a exclusão de dados corretos do sistema de dados da Administração Pública. Classi�ca-se como delito formal, sendo
irrelevante a efetiva produção de dano à Administração Pública.
Na conduta prevista no art.313-B, CP, por sua vez, o funcionário público não possui atribuição ou autorização para acesso ao
sistema informatizado ou banco de dados de determinado órgão público. Nesta �gura típica, somente há o dolo genérico, não
se exigindo especial �m de agir, e o delito se con�gura como delito formal. É importante destacar que, caso haja produção de
resultado lesivo à Administração Pública ou ao administrado, a pena será majorada de um terço até a metade, conforme
estabelece o parágrafo único do art.313-B.

Penas
Art.313-A, CP: reclusão de 2 (dois) a 12 (doze) anos e multa.
Art.313-B, CP: detenção de 3 (três) meses a 2 (dois) anos e multa.

Concussão. (Artigo 316, caput, do Código Penal)


O delito de concussão, crime funcional impróprio, previsto no caput do art.316, se apresenta como modalidade especial do
delito de extorsão na medida em que o agente público, valendo-se da função pública, exige, para si ou para outrem, direta ou
indiretamente, vantagem indevida.

Por se con�gurar como delito formal, se consuma no momento da exigência da vantagem, sendo que a obtenção desta vem a
ser mero exaurimento do crime.

Atenção

A elementar “direta ou indiretamente” deve ser compreendida como a possibilidade de obtenção da vantagem
indevida mediante interposta pessoa.

Classi�cação doutrinária
Classi�ca-se como crime próprio, unissubjetivo, doloso, de forma livre, plurissubsistente e instantâneo.

Atenção

A abrangência da expressão “vantagem indevida” é objeto de controvérsia na doutrina, prevalecendo o


entendimento no sentido de que não se limita à natureza econômica, podendo ser moral, sexual etc. (GRECO, 2019,
1199).

Excesso de exação (Artigo 316, §1º, Código Penal)


O parágrafo único se apresenta como uma quali�cadora na qual o funcionário público encarregado da arrecadação de tributo
ou contribuição social realiza exigência indevida do tributo ou, se devida, realiza a cobrança de forma vexatória ou gravosa, não
autorizada em lei. Para Guilherme de Souza Nucci, nesta conduta não há desvio do tributo arrecadado, caso contrário, restará
caracterizada a conduta descrita no parágrafo segundo (NUCCI, 2019, 508).

Pena
Reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos e multa.

Excesso de exação quali�cado (Artigo 316, §2º, Código Penal)


Esta �gura se apresenta como uma quali�cadora de uma das condutas previstas no parágrafo segundo do art.316, na qual o
funcionário público desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos.
Não obstante apresente o especial �m de agir da obtenção para proveito próprio ou de outrem, também se a�gura como delito
formal, sendo irrelevante a obtenção da vantagem para �ns de consumação.

Pena
Reclusão de 2 (dois) a 12 (doze) anos e multa.

Corrupção passiva (Artigo 317 do Código Penal)


A �gura típica prevista no caput do art.317, CP, se con�gura como tipo penal de ação múltipla ou tipo misto alternativo, logo, é
irrelevante se o agente pratica um ou todos os verbos (núcleos) do tipo, pois a conduta será considerada única.

Saiba Mais

Assista à animação feita para a Controladoria Geral da União, denominada A fábula da corrupção.

Atenção

O Superior Tribunal de Justiça, por meio da decisão proferida no Resp n. 1745410/SP, alterou a interpretação de
que a conduta do funcionário público deveria guardar relação com a função exercida e com sua competência
especí�ca (formal), de modo a estabelecer que a expressão “em razão da função” passa a ter uma interpretação
mais ampla a �m de tipi�car a conduta nos casos que, materialmente, impliquem alguma forma de facilitação da
prática da conduta almejada.

De outro lado, a doutrina mantém o entendimento no sentido de que, para que se caracterize a corrupção passiva,
a expressão “em razão da função” se refere à competência formal do funcionário público, caso contrário, a conduta
será tipi�cada como trá�co de in�uência, previsto no art.332 do Código Penal (CUNHA, 2019, 854-855).
Em decorrência da pluralidade de condutas descritas no tipo penal (tipo penal misto alternativo) e do rompimento da teoria
unitária do concurso de pessoas, nem sempre haverá bilateralidade entre as condutas do funcionário público e do particular.

Vejamos a seguir as possibilidades da prática de condutas:


Solicitar vantagem indevida
A proposta emana do agente público e consuma-se independentemente da entrega da vantagem.

Receber vantagem indevida


A proposta emana do terceiro e consuma-se no momento que o agente recebe a vantagem indevida (aqui há bilateralidade).

Aceitar promessa de tal vantagem


Neste caso, não é necessário o recebimento da vantagem, pois o delito restará consumado com o mero consentimento do
agente público (aqui há bilateralidade).

Comentário

Em relação à conduta de corrupção, houve o rompimento da teoria unitária do concurso de pessoas previsto no
Artigo 29 do Código Penal, na medida em que são previstas �guras típicas distintas tanto para o agente público
que se corrompe, quanto para o terceiro à Administração Pública que o corrompe. Desta forma, haverá uma
tipi�cação para a conduta praticada pelo funcionário público e outra para o particular (art.317 e 333, CP,
respectivamente).

Atenção

Na conduta descrita no caput do art.317, CP, ainda que o funcionário público solicite, aceite ou receba a vantagem
indevida com a promessa de que, por exemplo, deixará de praticar uma conduta de sua competência/atribuição
(autuar administrativamente um condutor de veículo automotor), ele não deixará de praticar o ato de sua
competência especí�ca.

Classi�cação doutrinária
Crime próprio (funcional próprio), de forma livre, instantâneo, unissubjetivo, formal, e pode ser unissubsistente ou
plurissubsistente.

Pena
Reclusão de 2 (dois) a 12 (doze) anos e multa.

Saiba Mais

Distinção entre os delitos de concussão e corrupção passiva:

No delito de corrupção passiva (art.317, CP), o núcleo do tipo descreve a conduta de “solicitar”, diferentemente do
delito de concussão, no qual o agente “exige” para si ou para outrem a vantagem indevida, ou seja, impõe à vítima a
prática de uma conduta que o bene�cie, e esta cede por “temor” a possíveis represálias.

Figura majorada (Art. 317, §1º, do Código Penal)


Nesta �gura típica, o funcionário público realiza o prometido ao terceiro na conduta prevista no caput do referido artigo, tendo o
legislador optado por categorizar o exaurimento como fato punível, na medida em que a lei prevê uma causa de aumento de
pena de um terço caso o funcionário público retarde ou deixe de praticar qualquer ato de ofício ou o pratique infringindo dever
funcional em razão da conduta descrita no caput do art.317, CP.

Figura privilegiada (Art. 317, §2º, do Código Penal)


Diferentemente das condutas previstas no caput e parágrafo primeiro, na �gura privilegiada, o funcionário público não visa
atender a interesse próprio, mas cede à solicitação de terceiro. Nesta �gura, o legislador optou por estabelecer uma pena
abstrata de detenção, de três meses a um ano, ou multa.

Exemplo

Para �ns de exempli�cação do delito de corrupção privilegiada, vejamos a seguinte situação hipotética: Marília,
delegada de polícia, deixou de registrar ocorrência de estupro de vulnerável contra o �lho de sua empregada
doméstica, Carla, a pedido desta, ainda que não conhecesse o rapaz. Nesta situação hipotética, Marília deixou de
praticar ato de ofício de sua atribuição sem qualquer interesse pessoal, ao contrário, atendendo ao pedido de
terceira pessoa.

Atenção

É importante destacar que a lei n.12846/2013 (lei anticorrupção) contempla a responsabilização objetiva
administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a Administração Pública, nacional ou
estrangeira, de modo que não é objeto de nosso estudo nesta disciplina.

Facilitação de contrabando ou descaminho (Artigo 318 do Código Penal)


Da mesma forma que nos delitos de corrupção, o legislador rompeu com a teoria unitária do concurso de pessoas na medida
em que optou por tipi�car a conduta do agente que, na verdade, realiza conduta acessória às condutas de contrabando ou
descaminho praticadas por particular.

Desta forma, temos a tipi�cação da conduta descrita no art.318, CP, para o funcionário público, e as condutas descritas nos
artigos 334 e 334-A, CP, para o particular, conforme pratique o descaminho ou contrabando.

Para compreendermos as condutas descritas nos artigos 318, 334 e 334-A, CP, inicialmente precisamos delimitar os conceitos
de contrabando e descaminho.

A expressão contrabando compreende toda importação ou exportação cujo ingresso ou saída do país seja absoluta ou
relativamente proibida; por outro lado, a expressão descaminho con�gura-se como a “mera omissão em pagamento de valores
aos cofres públicos” (BUSATO, 2017, 520).

Nesta �gura típica, é imprescindível que o funcionário público que a cometa seja o responsável pelo controle, �scalização ou
impedimento da entrada de mercadoria proibida, no caso do contrabando, ou pelo controle, �scalização e arrecadação do
imposto devido, no caso do descaminho.
Por caracterizar-se como delito formal, consuma-se no momento que o agente pratica a conduta de facilitação por meio de
conduta comissiva ou omissiva, infringindo dever funcional. Portanto, é irrelevante se o particular logrou êxito no descaminho
ou contrabando.

Classi�cação doutrinária
Con�gura-se como delito próprio, doloso, de forma livre, unissubjetivo, instantâneo, unissubsistente ou
plurissubsistente e formal.

Pena
Reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos e multa.

Prevaricação (Artigo 319 do Código Penal)


Nesta �gura típica, o agente público sobrepõe seu interesse ou sentimento pessoal ao interesse público, independentemente da
obtenção de qualquer vantagem indevida, na medida em que sua conduta de deixar de praticar ou retardar a prática de ato de
ofício tem por especial �m de agir a satisfação de interesse ou sentimento pessoal.

A expressão interesse pessoal (elementar normativa do tipo) pode ser compreendida como “qualquer proveito, ganho ou
vantagem auferido pelo agente, não necessariamente de natureza econômica”. Por outro lado, sentimento pessoal “é a
disposição afetiva do agente em relação a algum bem ou valor” (NUCCI, 2019, 527).

Por tratar-se de delito formal, sua consumação independe da efetiva satisfação de interesse ou sentimento pessoal, de modo a
admitir a tentativa somente nas condutas comissivas, sendo que “interesse ou sentimento pessoal” deve ser compreendido
como interesse que não tenha caráter econômico, mas no qual o agente público coloca seu interesse acima do interesse
público.

Exemplo

Voltemos à situação hipotética narrada para �ns de exempli�cação do delito de corrupção passiva privilegiada.
Mas imagine que, ao invés de deixar de registrar ocorrência de estupro de vulnerável contra o �lho de sua
empregada doméstica por pedido desta, a delegada de polícia se omitisse sob o argumento de que conhecia o
jovem, e que a suposta vítima, de 13 anos, à época dos fatos, era, como a�rmado pela mãe do suposto autor dos
fatos, namorada deste.

Neste caso, a conduta da delegada de polícia restaria caracterizada como prevaricação. Na prevaricação “não há
qualquer intervenção alheia nesse crime, pois o funcionário é motivado por interesse ou sentimento pessoal”
(CAPEZ, 2018, 514).
Classi�cação doutrinária
Classi�ca-se como delito próprio, funcional impróprio, subjetivamente complexo, de forma livre, instantâneo,
unissubjetivo, unissubsistente ou plurissubsistente, bem como formal.

Pena
Detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano e multa.

Prevaricação imprópria (art.319-A, CP)


Esta �gura típica recebeu o nomen iuris de prevaricação de agente penitenciário para os casos nos quais o agente, por meio da
quebra do dever funcional, deixa de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a
comunicação com outros presos ou com o ambiente externo.

Conforme descreve Rogério Sanches Cunha, o que se pretende não é proibir a comunicabilidade do preso com o mundo
exterior, mas a sua intercomunicabilidade, ou seja, a transmissão de informações entre um preso e demais pessoas (CUNHA,
2019, 865).

Pena
Detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

Atenção

As �guras de prevaricação (art.319 e 319-A, CP) admitem a aplicação de pena alternativa (transação penal) e
suspensão condicional do processo (arts. 76 e 89 da lei nº 9.099/1995).

Condescendência criminosa (Artigo 320 do Código Penal)


Nesta �gura típica, a relação entre a quebra do dever funcional pelo funcionário público se dá em decorrência da conduta de
outro funcionário público, não de particular, diferentemente do que ocorre nos demais delitos praticados por funcionário público
contra a Administração Pública.

O núcleo do tipo contempla duas condutas, a saber: (a) deixar de responsabilizar um subordinado que cometeu infração no
exercício do cargo, ou (b) deixar de comunicar o fato ao conhecimento da autoridade competente para a respectiva
responsabilização.

Desta forma, possui como objeto material a infração não punida ou não comunicada.

Ademais, a elementar normativa do tipo indulgência pode ser compreendida como a tolerância do funcionário público em
relação ao funcionário público que lhe é subordinado.
Atenção

O crime se con�gura como omissivo próprio, razão pela qual não permite a tentativa, uma vez que a consumação
ocorre quando da prática da conduta omissiva pelo funcionário público hierarquicamente superior,
independentemente da impunidade do subalterno.

Classi�cação doutrinária
Classi�ca-se como delito próprio, doloso, omissivo, formal, de forma livre, unissubjetivo e unissubsistente.

Pena
Detenção de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês ou multa.

Cabe ainda destacar que o delito admite a aplicação de pena alternativa (transação penal) e suspensão
condicional do processo (arts. 76 e 89 da lei nº 9.099/1995).

Advocacia administrativa (Artigo 321 do Código Penal)


A conduta nuclear descrita no tipo penal pode ser delimitada como a proteção ou defesa de interesse privado, legítimo ou não,
pelo funcionário público, valendo-se da sua função ou cargo. Cabe salientar que o patrocínio pode con�gurar-se como mero
“favor”, não sendo exigido, portanto, que o agente público receba qualquer vantagem.

Atenção

No delito de advocacia administrativa, não se exige ato de ofício, tampouco obtenção de vantagem, todavia, é
imprescindível que haja o efetivo patrocínio de uma causa, e não somente o ato de encaminhamento ou protocolo
de papéis (CUNHA, 2019, 870).

Partindo da premissa que a obtenção de vantagem não integra a �gura típica de advocacia administrativa, é possível, no caso
concreto, a incidência de concurso de crimes com os delitos de corrupção passiva e concussão.

Classi�cação doutrinária
Classi�ca-se como delito próprio, doloso, comissivo, formal, de forma livre, unissubjetivo e plurissubsistente.

Pena
Detenção de 1 (um) a 3 (três) meses ou multa.
Figura quali�cada (Artigo 321, parágrafo único, do Código Penal)
No caso de o interesse patrocinado ser ilegítimo, a pena cominada abstrata passa a ser de detenção de três meses a um ano,
além de multa.

Nos casos de crimes contra a ordem tributária ou relacionados à licitação pública, face ao princípio da especialidade, a conduta
será tipi�cada, respectivamente, na lei n. 8137/1990 (art.3º, II e III) e na lei n. 8.666/1993 (art. 91).

É importante destacar que o delito admite a aplicação de pena alternativa (transação penal) e 9 do processo (arts. 76 e 89 da
lei nº 9.099/1995).

Violência arbitrária (Artigo 322 do Código Penal)


Esta �gura típica foi tacitamente revogada pela lei n.4898/1965 (lei de abuso de autoridade).

Abandono de função (Artigo 323 do Código Penal)


Esta �gura típica possui, dentre suas �nalidades, o cumprimento dos princípios da e�ciência e continuidade do serviço público.
Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro, o “princípio da continuidade do serviço público, em decorrência do qual o serviço
público não pode parar, tem aplicação especialmente com relação aos contratos administrativos e ao exercício da função
pública” (DI PIETRO, 2017, 144).

Classi�cação doutrinária
Trata-se de crime próprio e de mão própria, formal, de forma livre, omissivo, instantâneo, unissubjetivo,
unissubsistente e que, portanto, não admite tentativa.

Pena
Detenção de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês ou multa.

Figuras quali�cadas (Artigo 323, §§1º e 2º, do Código Penal)


A �gura quali�cada prevista no parágrafo primeiro corresponde ao exaurimento da conduta descrita no caput do artigo, ou seja,
a produção de prejuízo à Administração Pública.

Com relação à quali�cadora do parágrafo segundo, esta se caracteriza quando a conduta é praticada em lugar compreendido
na faixa de fronteira e, no caso de fronteiras terrestres, compreendidas como a faixa de até cento e cinquenta quilômetros de
largura, conforme estabelece o art.20, §2º, CRFB/1988.

Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado (Artigo 324 do Código


Penal)
A �gura típica descreve as condutas de quem exerce função pública indevidamente pelos seguintes motivos:

a) Antecipa-se à assunção da função pública, haja vista a ausência do cumprimento das exigências legais (aqui estamos
diante de uma norma penal do mandato em branco);
b) Continua a exercer, sem autorização, depois de saber o�cialmente que foi exonerado, removido, substituído ou suspenso
da função. No caso concreto, a expressão “sem autorização” (elementar normativa do tipo) deverá ser valorada, uma vez que
a comunicação o�cial descrita no tipo penal não se restringe à publicação em Diário O�cial, mas ao contrário, exige-se que o
agente público tenha sido comunicado pessoalmente pela autoridade superior.

Comentário

Distinção entre exoneração, remoção, substituição e suspensão:

(a) exoneração é a perda do cargo;


(b) remoção é a mudança do funcionário de um posto para outro, sendo mantido o cargo;
(c) substituição é a colocação de um funcionário em local de outro;
(d) suspensão é a sanção disciplinar na qual o funcionário é afastado temporariamente de cargo ou função
(NUCCI, 2019, 548).

Classi�cação doutrinária
Classi�ca-se como delito próprio, doloso, comissivo, formal, de forma livre, unissubjetivo e plurissubsistente.

Por se con�gurar como delito formal, consuma-se com a prática de qualquer ato inerente à função à qual ainda
não assumiu ou não possui autorização para exercer.

Pena
Detenção de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês ou multa.

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