24/11/2021

Reflexão Crítica do artigo: Literacia Científica e Pensamento crítico: Emergência de conexões

Doutor Rui Vieira e Doutora Vanda Santos

Mestrado em Educação e Formação

2021/2022
1º Semestre

Nº 110021- Sandra Cristina Porto Ferreira

UC – Literacia e Numeracia

Reflexão Crítica do artigo: Literacia Científica e Pensamento crítico: Emergência

de conexões

1. Estrutura do texto

- Resumo  No presente, e com base na sua leitura executada, é amplamente

defendida a tese na Educação em Ciências e em Matemática, numa prespertiva de
Literacia, alegando uma melhor qualidade para todos e um ambiente sustentável para
a futuras gerações que serão os nossos futuros líderes. Ora, numa sociedade cada
vez mais dependente da Ciência e Tecnologia, a Educação em Ciências assume – se
como uma área central na construção de conhecimentos científicos e tecnológicos.
Por outro lado, o desenvolvimento do pensamento crítico, também conjugado neste
artigo em conexão com a literacia científica e matemática, fomenta a necessária
discussão crítica e a tomada de decisões responsáveis sobre as implicações da
Ciência e da Tecnologia na vida em sociedade.
Na revisão da literatura do documento, este traça um caminho de estudos
desenvolvidos por vários autores, com um fundamento base de conferirem uma
lucidez e compreensibilidade entre esta tríade: Literacia científica, matemática e
pensamento crítico.
- Abertura  Em Portugal, a Reorganização Curricular do Ensino Básico, expressa
no Currículo nacional do ensino básico  (Ministério da Educação/Departamento de
Educação Básica [ME/DEB], 2001), está orientada para o estabelecimento de um currículo
nacional. No documento "Ciências físicas e naturais – competências essenciais no ensino
básico" (idem), é defendida a tese de que o ensino das ciências deve ser visto, em
primeiro lugar, sendo este o promotor da literacia científica. Isso porque a medrante
importância do conhecimento científico exige uma população cientificamente literada, ou
seja, uma população que deve seguir debates científicos e envolver-se em questões que a
tecnologia coloca, a todos como um todo. Deste modo, e como foi apresentado na
primeira apresentação da reflexão do texto, observo que no documento "Ciências físicas
e naturais – competências essenciais no ensino básico defende o ensino das
Ciências, sendo esta a promotora da Literacia Cientifica em :

• Promove a formação de cidadãos participativos,

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• Críticos e confiantes nos modos como lidam com a Matemática;

• Analisar e resolver problemas;

• Raciocinar e comunicar.

Na mesma linha de pensamento, a educação matemática deve ajudar a desocultar a

presença da matemática na sociedade, em ligação com diferentes áreas de atividade
humana, promovendo a formação de cidadãos participativos, críticos e confiantes nos
modos como lidam com a matemática para analisar e resolver problemas, raciocinar e
comunicar (idem). Esta ajuda a desocultar na sociedade:

• Promove a formação de cidadãos participativos,

• Críticos e confiantes nos modos como lidam com a Matemática;

• Analisar e resolver problemas;

• Raciocinar e comunicar

Consequentemente, emerge a necessidade de realizar constantes adaptações aos

programas escolares por forma a dar resposta às exigentes e contínuas mudanças da
sociedade. Não obstante os esforços desenvolvidos em nível de (re)estruturação dos
currículos, estudos realizados têm evidenciado o fracasso das aprendizagens de e
sobre ciências, tecnologia e matemática. Apesar de a literacia científica ser
comummente associada à compreensão de conceitos científicos decisivos, de
processos de investigação, da natureza da ciência e ao desenvolvimento de atitudes e
de capacidades de pensamento necessárias à tomada de decisões racionais e
informadas sobre questões baseadas na ciência e na tecnologia, resultados de
investigação têm evidenciado que os alunos, por norma, não desenvolvem tal
compreensão, atitudes e capacidades, na sequência do seu envolvimento com a
ciência escolar (Bell et al., 2003). Tenreiro-Vieira e Vieira (2000, p. 17) reforçam ainda
que “o empreendimento educativo não pode existir divorciado da realidade social,
política, económica e cultural circundante, sob pena de se hipotecar o futuro das
crianças e dos jovens de hoje”. Neste enquadramento, emerge o desenvolvimento de
práticas educativas capazes de promover o desenvolvimento de capacidades de
pensamento, nomeadamente, as capacidades de pensamento crítico e de literacia
matemática. Segundo Kennedy et al. (1990) o pensamento crítico pode ser definido
de várias formas, dependendo do autor de referência utilizado. Por sua vez, a literacia
matemática inclui, para além do conhecimento matemático, a capacidade de um

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indivíduo saber e ser capaz de compreender e de se ocupar da matemática (Tenreiro-
Vieira, 2010, p. 8) e de identificar e compreender o papel que a matemática
desempenha na sociedade, para fazer julgamentos de valor matemático bem
fundamentados e para se envolver com a matemática de maneiras que vão de
encontro às suas necessidades, presentes e futuras, enquanto cidadão construtivo,
preocupado e reflexivo (GAVE, 2004; Tenreiro-Vieira & Vieira, 2013; Vieira & Tenreiro-
Vieira, 2003).

Em linha com o supramencionado, Tenreiro-Vieira e Vieira (2013, p. 21) afirmam que

no mundo contemporâneo, e em particular nas sociedades democráticas, a literacia
científica, a literacia matemática e o pensamento crítico afiguram-se como cruciais
para a autonomia e qualidade de vida de cada pessoa, para o desenvolvimento do
país, assim como para fomentar a responsabilidade social e melhorar a participação
dos cidadãos na tomada de decisões e na resolução de problemas de âmbito local,
regional, nacional ou mundial.

Deste modo, torna-se evidente a existência de uma interligação entre o pensamento

crítico e a literacia matemática. Para além disso, tal como será explanado na
subsecção seguinte, é clara a necessidade de promover as capacidades de
pensamento inerentes a estes dois conceitos por forma a garantir que a escola forma
cidadãos completos e capazes de lidar e compreender as informações com que são
confrontados diariamente.

O seguinte quadro expõem a conjugação de uma -síntese, representa- se como um

quadro conceptual acerca da literacia científica, literacia matemática e pensamento
crítico. Releva elementos emergentes na intersecção de componentes ou dimensões
comuns à literacia científica, literacia matemática e pensamento crítico, em estreita
relação com a ideia de mobilização intrincada de tais elementos, de modo que se
possam constituir em saberes, em ação ou em uso no âmbito de diversos contextos e
compreender o artigo de divulgação científica, escrever e comunicar com os outros
acerca de questões que envolvem a ciência e/ou a matemática – passando pela
tomada de decisão e resolução de problemas pessoais sobre, por exemplo, a
resolução de problemas e participação na tomada de decisão sobre questões públicas
como, por exemplo, saúde pública e proteção ambiental

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Interseção de componentes ou dimensões comuns

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Fig. 1 Esquema-
síntese conceptual
acerca da literacia
científica, literacia
matemática e
pensamento crítico.

Neste
enquadramento,
em conjugação
com o facto de o
pensamento
crítico emergir
como
proeminente e
estreitamente ligado à literacia científica e matemática (Brewer, 2008), importa clarificar
perspectivas e evidenciar pontos de convergência, zonas de confluência entre
pensamento crítico, literacia científica e literacia matemática. O quadro aponta também
para os Saberes em ação: Conhecimento, Capacidade e Atitudes/Valores:

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Pensamento Crítico e Literacia Matemática – uma relação simbiótica

processos e capacidades de pensamento (fonte: Tenreiro-Vieira & Vieira, 2013, p. 180).

Literacia Matemática

• – tomar decisões;

• – resolver problemas, incluindo formular problemas, planear e testar diferentes

estratégias, justificar soluções e processos de resolução

• – construir e expressar argumentos matemáticos;

• – analisar e avaliar argumentos matemáticos;

• – explicar, justificar e refletir sobre argumentos matemáticos;

• – comunicar informação numérica; – expressar-se, de diferentes formas, sobre

assuntos com conteúdo matemático;

• – fazer juízos de valor matemáticos bem fundamentados;

• – interpretar informação apresentada de diferentes formas;

• – recolher e analisar evidência

Pensamento Crítico

– tomar decisões;

– formular, de forma clara e precisa, a questão ou problema a resolver;

– estabelecer razões apropriadas (em virtude de normas epistemológicas);

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– avaliar razões (com base em princípios racionais); – analisar e avaliar argumentos;

– argumentar e contra-argumentar; – procurar diferentes pontos de vista e identificar

as suas potencialidades e limitações;

– avaliar imparcialmente todos os pontos de vista;

– identificar assunções e avaliar a sua provável validade;

– identificar falácias;

Esquema representativo da interseção entre a Literacia científica e o

Pensamento Crítico:

Esquema representativo da intersecção entre a Literacia científica e o Pensamento Crítico, tal como
concetualizado em Tenreiro-Vieira e Vieira (2011) e Vieira e Tenreiro-Vieira (2016) (retirada de Vieira, 2018

Mobilização integrada em quatro dimensões:

- capacidades;

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- Disposições;

- Conhecimentos;

- Normas/Critérios (é o que distingue o Pensamento Crítico do pensamento que

não é crítico, dado que estabelecem o padrão de qualidade do pensamento e
do juízo de valor numa determinada área, sendo exemplos a: o rigor, a
precisão / exatidão dos dados, a validade das inferências e a consistência.

2. Síntese

As sociedades estão em constante mudança. A educação terá que munir os

educandos com competências adequadas para enfrentar com sucesso as mudanças
constantes, mas que ao mesmo tempo lhe permitam manter as suas identidades
culturais, sociais e individuais. O rápido desenvolvimento da ciência e da tecnologia
provocou uma mudança constante e todas as sociedades sofrem influências do
desenvolvimento das outras. O pluralismo será a marcar do futuro, e com ele, a
necessidade de uma maior, compreensão e tolerância para pontos de vista e modos
de viver diferentes dos nossos.

Movido pelas mudanças ocorridas em todas outras esferas, o propósito da escola foi
alterado. De acordo com o pensador Edgar Morin, importante nome da Educação: “o
objetivo da educação do conhecimento não é descobrir o segredo do mundo numa
palavra mestra, é dialogar com o mistério do mundo. Para fechar o enredo, nas
sociedades democráticas, a literacia científica, a literacia matemática e o pensamento
crítico afiguram-se como cruciais para a autonomia e qualidade de vida de cada pessoa,
para o desenvolvimento do país, assim como para fomentar a responsabilidade social e
melhorar a participação dos cidadãos na tomada de decisões e na resolução de
problemas de âmbito local, regional, nacional ou mundial. É essencial perscrutar o
pensamento dos alunos com sucessivas questões e, quando oportuno, fornecer
informação relevante que ajude os alunos a atingir respostas mais elaboradas e
profundas.

3. Avaliação crítica (*)

Em contraponto, podemos encontrar pelo caminho algumas resistências

conservadoras que não aceitem esta mudança para ser colocada em prática como
forma de educação. Se por um lado queremos alunos mais conscientes e que
aprendam a compreender o mundo que os rodeia, alunos que desenvolvam

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competências que os tornem pessoas aptas a enfrentar situações desafiadoras, se
queremos alunos interligados a projetos comuns e a prepararem-se para gerir
conflitos, por outro lado temos os professores que ainda não devem estar totalmente
preparados para esta nova realidade. No mundo atual, repleto de desafios, em que a
sociedade exige cada vez mais do cidadão, é importante que os professores, como
elementos fundamentais na formação para a cidadania, desenvolvam
profissionalmente capacidades e competências que os façam pensar e refletir sobre a
realidade, isto porque, a velocidade em que acontecem as mudanças no mundo, são
as futuras transformações que vêm impactando comportamentos da sociedade atual.
Que sejamos capazes de alcançar uma sociedade mais justa e solidária e, acima de
tudo, acreditar no poder transformador da educação. Entender o contexto dessa
sociedade e o mundo e, sermos os atores da própria história. Se por um lado
queremos alunos mais conscientes e que aprendam a compreender o mundo que os
rodeia, alunos que desenvolvam competências que os tornem pessoas aptas a
enfrentar situações desafiadoras, se queremos alunos interligados a projetos comuns
e a prepararem-se para gerir conflitos, por outro lado temos os professores que ainda
não devem estar totalmente preparados para esta nova realidade. A mudança é
necessário e a importância dos professores como necessários a esta sociedade do
conhecimento, traz como destaque a figura desse professor e sua influência
significativa na aprendizagem dos alunos.

Autores:
Celina Tenreiro-Vieira é doutora em ciências da educação pela
Universidade de Lisboa. Professora auxiliar convidada da Universidade de Aveiro
E-mail:cvieira@ua.pt
Rui Marques Vieira é doutor em didática pela Universidade de Aveiro. Professor
auxiliar da mesma instituição. E-mail: rvieira@ua.p

4. Bibliografia:

Bell, Randy et al Just do it? Impact of a science apprenticeship program on high

school students' understandings of the nature of science and scientific inquiry. Journal
of Research in Science Teaching, Malden, MA (USA), John Wiley & Sons, v. 40, n. 5,
p. 487-509, may 2003.

Brewer, Carol. Scientific literacy in the classroom Estados Unidos: American Institute

of Biological Sciences, 2008.

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GAVE. (2004). PISA 2003 - Conceitos fundamentais em jogo na avaliação de literacia

matemática. (E. do M. da Educação, Ed.) (1.a Edição). Lisboa.

ME/DEB. Currículo nacional do ensino básico Lisboa: Editorial do Ministério da

Educação, 2001.

Morin, Edgar (2002). “Os Sete Saberes para a Educação do Futuro”. Lisboa:
Instituto Piaget.

Kennedy, M., Fisher, M. B., & Ennis, R. (1990). Critical thinking: literature review and
needed reseach. In Educational Values and Cognitive Instruction: Implications for
Reform (1st edition, p. 482). New York: Routledge

Tenreiro-Vieira, C. (2000). Ciências para promover o pensamento crítico dos alunos.

Revista Iberoamericana, 1–18.

Tenreiro-Vieira, C. (2010). Promover a literacia matemática dos alunos: resolver

problemas e investigar desde os primeiros anos de escolaridade. Porto: Editora
Educação Nacional.

Tenreiro-Vieira, C., & Vieira, R. M. (2013). Literacia e pensamento crítico : um

referencial para a educação em ciências e em matemática. Revista Brasileira de
Educação, 18(52), 163–242.

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