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Aula 7

Elementos Fundamentais da Criação Coreográfica


A Forma

Como “Forma”, entendemos a materialização do conteúdo, ou seja, a idéia posta


em prática. A forma é dada pela maneira de apresentação do conteúdo, como são
trabalhados os passos, como a movimentação é concebida, como é construída uma
sequência-base, como desenvolvê-la e acrescentar-lhe os demais elementos que irão
compor toda a obra coreográfica.

Vamos estudar então as diversas instâncias da elaboração da Forma:

a) A construção da seqüência-base, subdividida em concepção,


manipulação e desenvolvimento.
b) A utilização da música, subdividida em: tempo, ritmo, melodia, harmonia
e fraseado.

Em resumo, para obter bom resultado é necessário que idéia e forma, ou seja
inspiração e realização sejam eficazes e bem dosados, sendo que, para criar a mágica da
comunicação com o público é importante o completo envolvimento do bailarino/intérprete
na obra.

Elementos Fundamentais da Criação Coreográfica


A Forma
A construção da seqüência-base

A construção da seqüência-base se dá em três etapas:


• Concepção
• Manipulação
• Desenvolvimento
Concepção dos movimentos
Do mesmo modo que a inspiração para um tema pode surgir de diversas formas e
situações, eleger um movimento também pode ser tanto aleatório, seguindo um impulso,
como pode ser fruto de uma pesquisa sobre movimentos. Assim, a sequência-base parte
de um movimento ao qual outro se agrega, mais outro e assim vai. É uma semente que,
após brotar, deve ser cuidada e trabalhada para bem se desenvolver. Deve ser uma
sequência curta: uma combinação de meia-dúzia de passos simples (não necessáriamente
“fáceis”) e claros – musicalmente ou qualitativamente – sobre os quais o desenvolvimento
do trabalho irá acontecer, e que se prestem a ser desenvolvidos.

Para enunciar uma sequência-base deve-se trabalhar ao menos 16 tempos


musicais, em harmonia com o ritmo e a estrutura geral da coreografia.

O nascimento desta sequência inicial, ainda que seja espontâneo, deve ter uma
motivação. Acquarone (1991) sugere que examinemos as quatro características ou
qualidades de movimento que podem servir de estímulo à motivação:

• movimentos sociais ( vários modos de saudações, abraços, formas de caminhar,


encontros)
• movimentos rituais ( cortejos, festas, genuflexões de várias épocas ou estilos)
• movimentos funcionais ( dormir, caminhar, escrever, tricotar, combater, jogar, ler)
• movimentos emocionais (sentimentos estereotipados como amor, ódio, dor e outros
mais “esfumaçados” que possam ser estudados em profundidade como, presunção,
desprezo, suspeita, admiração, ressentimento, angústia etc).
Motivo e movimento
Estas categorias de movimentos podem ter muitas variações segundo épocas
históricas diversas, países distintos e, por essas ou outras razões, podem variar
profundamente de estilo. Entretanto, deve ficar claro que é o motivo que faz surgir o
movimento e é o motivo que diferencia o movimento.

Assim, o mesmo simples movimento de dar a mão a alguém poderá ter vários e
diferentes aspectos, dependendo do significado que tenha para nós, assim como deverá
nascer daquilo que desejamos exprimir – usando mais ou menos energia e velocidade,
variando o nível de amplitude, a direção e a qualidade do movimento em função disso.

O movimento pode ser observado quanto a:


- velocidade: lento, rápido, fulminante, ralentado, etc.
- nível: alto, baixo, em diagonal, de cima para baixo, etc.
- amplitude: grande, pequeno, prolongado, etc.
- direção: na frente ou para frente, em espiral, em círculo, etc.
- qualidade: estática, dinâmica, oscilante, ondulante, etc.

Interessante que, apesar de um movimento forte implicar em maior amplitude, não


necessariamente precisa de mais espaço para isso. Frequentemente, movimentos fracos,
tímidos, podem ocupar toda a cena e refletir bastante tensão.

Desse modo, vemos que a combinação de elementos pode ser infinita e, sendo
assim, o vocabulário coreográfico e a possibilidade de elaborar e desenvolver os temas
serão também inúmeras.

Mas, cabe acrescentar que, sem motivo, todo o trabalho não será mais do que
ginástica. Se não dissermos nada, nada restará ao público senão frustração e talvez
rejeição. O coreógrafo deve estar consciente da importância que pode haver em cada gesto,
mesmo no mais simples.

O motivo é o coração da coreografia e um “sentir” verdadeiro fará nascer um


determinado tipo de movimento ou de tema de modo que, repetindo-se esse movimento a
emoção se intensificará e enriquecerá o tema. Segundo Sara Acquarone, uma importante
regra da coreografia é que emoção gera movimento e movimento gera emoção
(ACQUARONE, 1991 p: 67).

Elementos Fundamentais da Criação Coreográfica


A Forma
Manipulação dos movimentos

Essa manipulação se refere à combinação dos vários movimentos experimentais,


passos que surgiram a partir da sequência inicial (seqüência-tema, ou seqüência-base).
Esses experimentos devem combinar passos que possam fluir, que se liguem uns aos
outros harmoniosamente, e que sejam acessíveis para a execução.
É muito importante que o coreógrafo dê muita atenção aos chamados “passos de
ligação” ou “passos de preparação”. Por definição, podemos entendê-los como movimentos
auxiliares, passos intermediários. Apesar de sempre usados nas seqüências, raramente
são executados sozinhos, pois, como seu nome está dizendo, sua função é preparar um
movimento mais complexo (que precise de impulso, por exemplo), assim como devem ligar
dois passos principais que não poderiam ser executados um após o outro, por ser
absolutamente “contra-mão”.

Por exemplo: um piqué arabesque flui harmoniosamente quando é seguido de um


failli, mas não é confortável emendá-lo a um assemblé soutenu – o que daria a sensação
de algo entrecortado. Essa é uma das razões pelas quais afirmamos que um coreógrafo
deve ter bom conhecimento prático de ballet: a partir daquilo vivenciado no seu próprio
corpo, é mais fácil compor uma seqüência.

Seqüência de movimentos
Após a conclusão da sequência-tema, algo deverá acontecer. Uma frase
coreografada será seguida de outra, algumas vezes variando, contrastando ou
desenvolvendo a anterior. Podemos ainda ter, em cima da sequência inicial, um contra-
tema, criando complexidade rítmica à sequencia-base ou diferindo na dinâmica destes
movimentos.

Recapitulando: inicialmente, devemos analisar um movimento e ir para o próximo


através de outros movimentos que se relacionam entre si, que façam sentido e não apenas
"indo". Nada deve ser “por acaso”; se devo sair de cena não preciso necessariamente fazê-
lo andando ou correndo: posso procurar um sentido maior para a ação, uma justificativa
para mim mesma.

Assim, constrói-se uma seqüência básica que poderá ser dançada de várias
maneiras diferentes. Nesse ponto, o coreógrafo deverá experimentar diferentes
combinações – a partir daquela base já construída – até encontrar a que melhor se ajuste
às suas necessidades, ou, principalmente às possibilidades dos bailarinos com quem irá
trabalhar.
É muito importante que a coreografia “passe” para o público que os bailarinos
executam os movimentos prazerosamente e com facilidade. De nada adianta passos de
difícil execução, combinações intrincadas se os executores não conseguirão dominar a
contento – ficando claro para o público que os dançarinos estão fazendo um esforço além
de suas possibilidades.

Lembrem-se de que, em ballet, pouco é muito!

Elementos Fundamentais da Criação Coreográfica


A Forma
Desenvolvimento dos movimentos

O desenvolvimento da seqüência-base, ou seqüência-tema terá como ponto


inicial os experimentos das seguintes possibilidades básicas:

• Repetição (em diversas direções)


• Inversão (inversão da ordem natural dos elementos)
• Ampliação (que pode ocorrer no espaço, no tempo ou na direção)
• Restrição (no espaço, tempo ou na direção)
• Desenvolvimento de uma só parte

Para tal, é interessante lembrar que cada passo de ballet é baseado em


um dos sete movimentos que o corpo executa naturalmente. São eles:

Plier = flexionar
Glisser = deslizar
Tourner = virar, girar
Étendrer = estender
Sauter = saltar
Relever = levantar
Elancer = lançar
Partindo da pesquisa de combinação de movimentos, chega-se à
composição do tema A, por exemplo, que deve destacar alguns dos sete
movimentos acima, contrastando com B, que já possui outros elementos, ou
repetições, e assim por diante. Vejamos: se em A não se gira, em B se girará,
ou vice-versa; se em A vai-se diretamente para frente, em B isto será feito
indiretamente.

Mas para desenvolver nossas seqüências de movimentos será


necessário pensar o espaço cênico, a abrangência do espaço que se deseja
para determinado movimento e, consequentemente, a energia a ser
empregada para isso.

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