807
No mesmo sentido, diz Maria Lúcia Franco Pardi: “No tocante à questão patrimonial, podemos dizer que os
vestígios arqueológicos representam os mais regularmente distribuídos pelo território nacional, tendo poten-
cialmente condições de estarem representados em quase todos os municípios. Este aspecto nos permitiria
desenvolver efetivamente uma política nacional e, com certeza, sensibilizar o apoio dos órgãos de fomento, do
empresariado e da classe política, fazendo da arqueologia, não uma atividade diletante, com é vista por muitos,
mas um instrumento de planejamento e desenvolvimento do país” (Gestão de patrimônio arqueológico,
documentação e política de preservação, p. 39).
808
ADI 2544-9, Relator Ministro Sepúlveda Pertence, julgada procedente pelo Pleno em 28.06.2006.
809
O Sr. Governador do Estado do Rio Grande do Sul propôs ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de
suspensão cautelar, da Lei Estadual 11.380, de iniciativa parlamentar e com o seguinte teor: “Art. 1º – Os sítios
arqueológicos, bem como o seu acervo, existentes no Estado, ficam sob a proteção, guarda e responsabilidade
dos municípios em que se localizam. Art. 2º – Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 3º
– Revogam-se as disposições em contrário”. Após citações doutrinárias acerca da competência comum e de
sua irrenunciabilidade (art. 23, III, da CF), da inserção dos sítios arqueológicos no domínio público da União
(art. 20, X, CF) e das implicações, no caso, do princípio da autonomia dos municípios. Para lastrear o pedido
de suspensão cautelar, aduziu que, em permanecendo em vigor a lei ora questionada, ficaria seriamente
comprometida a efetividade da proteção do patrimônio arqueológico no Estado do Rio Grande do Sul, sendo
certo que tais danos são irrecuperáveis, com o que se mostra de rigor a concessão da liminar. Os Municípios,
sem o concurso do Estado e da União, não terão condições de evitar que a riqueza arqueológica que neles
se localiza venha a sofrer mudanças que a tornam imprestável para o fim a que era destinada. A Assembléia
Legislativa do Estado argumentou que não há no Rio Grande do Sul sítios arqueológicos de vulto, que mereçam
a preocupação do Poder Executivo na ADIN que impetrou. Alegou que, se fosse descoberto um grande sítio,
o Estado e até a União seriam chamados a participar, face a importância do evento. Por isso não haveria
justificativa jurídica a embasar o pedido de decretação de Lei Inconstitucional”.
810
Em 12.05.2002, o STF deferiu a medida cautelar pleiteada para suspender, até a decisão final, a eficácia da
referida lei. O teor da decisão foi repetido no acórdão proferido em 28.06.2006, que julgou procedente a ADI:
“EMENTA: Federação: competência comum: proteção do patrimônio comum, incluído o dos sítios de valor
arqueológico (CF, arts. 23, III, e 216, V): encargo que não comporta demissão unilateral. 1. L. Est. 11.380, de
1999, do Estado do Rio Grande do Sul, confere aos municípios em que se localizam a proteção, a guarda e
a responsabilidade pelos sítios arqueológicos e seus acervos, no Estado, o que vale por excluir, a propósito
de tais bens do patrimônio cultural brasileiro (CF, art. 216, V), o dever de proteção e guarda e a conseqüente
responsabilidade não apenas do Estado, mas também da própria União, incluídas na competência comum
dos entes da Federação, que substantiva incumbência de natureza qualificadamente irrenunciável. 2. A
inclusão de determinada função administrativa no âmbito da competência comum não impõe que cada tarefa
compreendida no seu domínio, por menos expressiva que seja, haja de ser objeto de ações simultâneas das
três entidades federativas: donde, a previsão, no parágrafo único do art. 23 CF, de lei complementar que fixe
normas de cooperação (v. sobre monumentos arqueológicos e pré-históricos, a L. 3.924/61), cuja edição,
porém, é da competência da União e, de qualquer modo, não abrange o poder de demitirem-se a União
ou os Estados dos encargos constitucionais de proteção dos bens de valor arqueológico para descarregá-los
ilimitadamente sobre os Municípios. 3. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente (ADIN 2544/
RS. Relator Ministro Sepúlveda Pertence. O Tribunal, por maioria, julgou procedente a ação direta para declarar
a inconstitucionalidade da Lei 11.380, de 03 de novembro de 1999, do Estado do Rio Grande do Sul, nos
termos do voto do Relator. Vencido o Senhor Ministro Marco Aurélio, que a julgava parcialmente procedente
para dar interpretação conforme ao dispositivo, reconhecendo aos municípios responsabilidade sobre os sítios
arqueológicos situados no seu território, sem excluir, todavia, a competência dos demais entes federados.
Votou a Presidente, Ministra Ellen Gracie. Ausente, justificadamente, o Senhor Ministro Celso de Mello)”.
811
José Afonso da Silva sugere, no entanto, uma amplitude dessa competência: “Algum sentido há que sobressair
do texto em função de sua inserção no conjunto de regras sobre a competência legislativa concorrente. Uma
das conseqüências dessa inserção pode ser mesmo a de abrir uma exceção à competência exclusiva da
União para legislar sobre responsabilidade civil e criminal, de sorte que, tratando-se de dano a bens de valor
artístico, estético, histórico, e paisagístico, aos Estados e ao Distrito Federal também foi facultado fazê-lo. Mas
a natureza da competência concorrente condiciona duplamente essa faculdade. No âmbito dessa competência,
a União estabelece normas gerais e os Estados, normas suplementares. Isso quer dizer que — em matéria de
responsabilidade por dano a bens e valores culturais — a União tem competência para estabelecer normas
gerais, deixando aos Estados e Distrito Federal as providências suplementares” (Ordenação, p. 45)
812
PIOVESAN. Temas de direitos humanos, p. 209.
813
SILVA. Ordenação..., p. 210-214.
814
Nesse sentido, vale trazer a argumentação de Christian Courtis: “(...) En el mismo sentido, el desarrollo del
derecho a la información en materia de consumo y en materia ambiental, o el del derecho de participación
y consulta de minorías culturales o de grupos desaventajados en las decisiones que puedan afectarlos son
ejemplos de esa tendencia. La tendencia afecta incluso derechos tales como el derecho a la salud, donde se han
desarrollado una serie de requisitos procedimentales para la toma de decisiones referidas al tratamiento médico
o a la realización de intervenciones quirúrgicas. En uno y otro caso, las formas de la procedimentalización
acompañan la diversa manera de concebir las relaciones entre individuo y sociedad de cada modelo: en el
caso del derecho privado clásico, la procedimentalización privilegia el lugar del individuo y de la voluntad
individual; en el caso del derecho social, el diseño de los procedimientos toma en cuenta dimensiones colectivas
y desigualdades de poder y de información entre clases distintas de sujetos” (ABRAMOVICH; COURTIS. ¿Tiene
algún sentido mantener la categoría de “derechos sociales”?, p. 12).
815
Nesse sentido, Juliana Santilli destaca: “A Constituição seguiu uma orientação claramente multicultural e plu-
riétnica, reconhecendo direitos coletivos a povos indígenas e quilombolas, e assegurando-lhes direitos terri-
toriais especiais. A Constituição assegurou aos índios o direito de permanecerem como tais, rompendo a
tradição assimilacionista e assegurando-lhes direitos permanentes. São reconhecidos aos índios sua organização
social, costumes, línguas, crenças, tradições, e direitos originários sobre as terras tradicionalmente ocupadas”
(Socioambientalismo e novos direitos: proteção jurídica à diversidade biológica e cultural, p. 42).
816
Para utilizar as lições de FLORES, ob. cit.
817
Nas palavras de Marilena Chauí: “A política cultural é, juntamente com a política social, uma das formas empre-
gadas pelo Estado contemporâneo para garantir sua legitimação, isto é, para oferecer-se como um Estado que
vela por todos e vale para todos” (CHAUÍ et al. Política cultural, p. 36).
818
Vale citar o exemplo da legislação portuguesa na valorização dos bens culturais como veículo do direito cultural.
A Lei do Patrimônio Cultural, em seu art. 3º (nº 2), dispõe que o “Estado protege e valoriza o património cultural
como instrumento primacial de realização da dignidade da pessoa humana, objecto de direitos fundamentais,
meio ao serviço da democratização da cultura e esteio da independência e identidade nacionais”.
819
Acrescido pela Emenda Constitucional 48/05.
820
Art. 215, §3º, inc. I a V.
821
Conforme o art. 174, caput e §1º, da Constituição Federal.
822
A Lei do Plano Plurianual é mais específica do que a Lei do Plano Nacional (ou regional), já que a programação
traçada pelo Plano Plurianual deve ser respeitada pelo Executivo tanto na elaboração dos projetos das leis
orçamentárias anuais, quanto quando da sua execução.
823
Ainda sobre o Plano, no site do Ministério da Cultura consta que: “A diversidade é entendida como o encontro
entre as diferentes culturas e sua síntese, fenômeno gerador de novas práticas culturais. A chance desse contato
acontecer, assegurado o direito da livre manifestação, é maior quando existe reconhecimento, valorização e
respeito de todas as culturas. O objetivo do PNC é apontar caminhos para a elaboração de políticas públicas
que imprimam esse caráter horizontal à sua formulação. ‘O Plano quer estabelecer o fim da hierarquização
das culturas. O diálogo entre as culturas, a diversidade cultural, o contato entre as manifestações, acontece
independentemente do Estado, mas se temos instrumentos que otimizam e propiciam estas trocas, nós os
aprovaremos’, sintetiza Elder Vieira, coordenador executivo do PNC”. Disponível em: <www.minc.ov.br/
politica/planonacionaldecultura>. Acesso em: 08 dez. 2006.
824
No que tange à esfera de ação negativa do Estado, a alocação dos recursos financeiros para as empresas deve
obedecer a dispositivo constitucional que determina que o projeto de lei orçamentária seja acompanhado de
demonstrativo regionalizado do efeito, sobre as receitas e despesas, decorrente de isenções, anistias, remissões,
subsídios e benefícios de natureza financeira, tributária e creditícia (art. 165, §6º).
825
Os recursos podem ter origem pública ou ter procedência de organismos nacionais e internacionais.
826
As subvenções estão previstas no art. 12 da Lei 4.320/65, como despesas correntes. Eduardo Maciel Ferreira
Jardim afirma que enquanto despesas correntes as subvenções “são verdadeiras despesas operacionais, e, por
isso mesmo, economicamente improdutivas” (Manual de direito financeiro e tributário, p. 38).
827
Ou seja: no período de um ano, compatível com o ano civil.
828
SERRA. Orçamento no Brasil, p. 127. A hipótese de existência de um parâmetro de gasto definido nos
Planos Plurianuais para o patrimônio cultural é sugerida por José Serra: “Além da definição de recursos no
Orçamento anual, nada impedirá que nos Planos Plurianuais, aprovados em leis, sejam definidas prioridades
percentuais na alocação de recursos, de forma realista, flexível e por determinados períodos, segundo critérios
de governantes e parlamentares democraticamente eleitos, que respondam a anseios e reivindicações da
comunidade” (idem, p. 127).
829
Pode-se considerar a teoria da discricionariedade mínima, na qual a liberdade do administrador restringe-se às
opções constitucionais.
830
Vale ressaltar que os objetivos fundamentais declarados nas LDOs dos anos de 1999 e de 2000, que fixam os
parâmetros para a elaboração das leis orçamentárias anuais dos exercícios de 2000 e 2001, não mencionam
nada específico acerca de proteção ambiental.
831
SERRA. Orçamento no Brasil, p. 10.
832
SERRA, ob. cit., p. 125. Misabel de Abreu Machado Derzi destaca que, “em relação aos orçamentos, a legalidade
foi reafirmada e expandida, por meio do restabelecimento da faculdade de emendar do Poder Legislativo. Com
isso, o Órgão Parlamentar não se limitará a aprovar in totum (ou rejeitar) o projeto de lei orçamentária elaborado
pelo Executivo, mas efetivamente poderá co-decidir e colaborar em matéria orçamentária” (Repartição das
receitas tributárias, p. 354).
833
Diogo de Figueiredo Moreira Neto conceitua o fomento público como “a atividade administrativa através
da qual o Estado ou seus delegados estimulam ou incentivam a iniciativa dos administrados ou de outras
entidades, públicas e privadas, para que desempenhem ou estimulem, por seu turno, atividades que a lei haja
considerado de interesse público para o desenvolvimento integral e harmonioso da sociedade” (Curso de
direito administrativo, p. 408).
834
Ibidem, p. 409.
835
Ibidem, p. 409. Diogo de Figueiredo Moreira Neto acredita na possibilidade de obtenção de resultados melhores
por meio da utilização da atividade de fomento pelo Estado. Em suas palavras: “Na verdade, será no conceito
nucleares etc.) que potencial ou efetivamente causem danos aos bens culturais
cumpra todas as exigências necessárias para a compatibilização das normas
orçamentárias e dos princípios e valores ambientais.
A necessidade de demonstrativo regionalizado do efeito, sobre as despesas
e as receitas, decorrentes dos subsídios e benefícios de natureza financeira,
no projeto da Lei Orçamentária Anual, direciona a fiscalização e o controle da
execução orçamentária das agências de fomento para a observação da aplicação
dos recursos financeiros em projetos e/ou atividades que se enquadrem às
normas ambientais. E, desse modo, o financiamento, por tais agências, de
obras ou atividades que afrontem o sistema normativo ambiental conduz à
responsabilização dos gestores das agências de fomento de forma solidária com
os empreendedores.
No mesmo sentido é a previsão do artigo 12 da Lei 6.938/81, que estabelece
que a reprovação do financiamento de projetos pelas instituições financeiras
para empreendimentos ou atividades para ao quais a lei exija o licenciamento
ambiental fica condicionada à expedição de licença favorável pelo órgão
ambiental competente.
Portanto, as agências de fomento têm o dever de exigir do empreendedor a
demonstração de cumprimento da legislação ambiental, sob pena de serem respon-
sáveis solidariamente pelo dano ambiental causado, entre os danos, certamente
estão os danos aos bens culturais, materiais ou imateriais. A alocação de recursos
do financiador para o financiado, com a transgressão induvidosa da lei, coloca
o financiador numa atividade de cooperação ou de co-autoria com o financiado
em todos os atos lesivos ambientais que ele fizer, por ação ou omissão.837
A fiscalização e o controle da execução orçamentária assumem importância
fundamental, já que, além de se conseguir a não aplicação dos recursos finan-
ceiros em empreendimentos que não se enquadram nas normas de proteção
ambiental, deixam-se, em contrapartida, tais recursos livres para a tutela dos
bens culturais, com investimentos em setores e empreendimentos adequados
que valorizem e protejam o patrimônio cultural brasileiro ou possibilitem o
acesso e a fruição ao patrimônio cultural pelos brasileiros.
Por isso, a atuação das agências de fomento em nosso país, para ser
compatível com o nosso sistema normativo, principalmente no que tange à
obrigatoriedade de efetivação de políticas sociais estabelecidas em planos de
governo e que integram as políticas públicas do Estado, deve valorizar e res-
guardar os interesses ambientais (especialmente os interesses culturais), com a
obrigação de não financiar determinadas obras.838
837
MACHADO, ob. cit., p. 315.
838
Esta é uma sofisticação do controle das execuções das agências de fomento e reflete o entendimento de que,
além da obrigação estatal de atuação positiva para satisfação do direito social, o Estado também possui uma
obrigação negativa de abstenção no incentivo de condutas que atentem contra tais direitos.
Patrimônio cultural
e licenciamento ambiental
839
O site da Sociedade Brasileira de Arqueologia (<www.sba.org.br>) faz referência a um novo campo de
trabalho para os profissionais: a Arqueologia de Contrato: “Na esteira de um mundo ambientalmente correto
e preocupado com sua herança, surgiu um campo de atuação novo para os arqueólogos: a avaliação e o
salvamento do patrimônio arqueológico ameaçado por grandes empreendimentos. Pode parecer estranho,
mas há alguns anos um grande jornal contava, em seus anúncios classificados, com uma oferta de emprego no
mínimo inusitada: ‘Contrata-se arqueólogo com experiência comprovada’. E a vaga não estava sendo oferecida
por órgãos públicos como Instituições de Pesquisa, Universidades ou Museus, locais onde a maior parte dos
arqueólogos até então trabalhava. Tratava-se de grande empresa de engenharia civil, voltada à construção de
obras de infra-estrutura (barragens, hidrelétricas, linhas de transmissão de energia, etc.). Ela necessitava, com
urgência, de incorporar em seus quadros um arqueólogo, a fim de atender a uma nova demanda”.
840
SANTILLI, ob. cit., p. 43-44.
841
Nesse sentido, Cristiane Derani: “O princípio da precaução deixa claro que, devido à dimensão temporal
(relacionada com o futuro) e à complexidade da proteção ambiental, não é suficiente que se prestigie apenas
uma intervenção periférica. Isto é, como base neste princípio, a política ambiental desenvolve-se não em
normas rigidamente divididas numa denominada ordem do direito ambiental” (Direito ambiental econômico,
3. ed, p. 165).
842
“A abrangência do princípio da precaução não é expressa por uma fórmula única. (...). Parece-me prema-
turo estabelecer rígidos limites para a aplicação do princípio, pois a necessidade ética de possibilitar um
desenvolvimento sustentado, que beneficie as gerações presentes sem prejudicar as gerações futuras, irá
gradativamente indicando o campo adequado do princípio da precaução” (MACHADO. O princípio da
precaução e a avaliação de riscos, p. 37).
843
A incerteza do lesividade da atividade não pode ser motivo de omissão dos órgãos envolvidos: “O incerto não
é algo necessariamente inexistente. Ele pode não estar bem definido. Ou não ter suas dimensões ou seu peso
ainda claramente apontados. O incerto pode ser uma hipótese, algo que não foi ainda verificado ou não foi
constatado. Nem por isso, o incerto deve ser descartado, de imediato. O fato de o incerto não ser conhecido ou
de não ser entendido aconselha que ele seja avaliado ou pesquisado” (MACHADO, ob. cit., p. 37).
844
O art. 2º, item 3, da Convenção sobre o Acesso à Informação, a Participação do Público no Processo Decisório
e o Acesso à Justiça em Matéria de Meio Ambiente, define a abrangência que tem a informação ambiental:
“A expressão ‘informação sobre o meio ambiente’ designa toda informação disponível sob a forma escrita,
visual, oral ou eletrônica ou sob qualquer forma material, sobre: a) o estado do meio ambiente, tais como
o ar e a atmosfera, as águas, o solo, as terras, a paisagem e os sítios naturais, a diversidade biológica e seus
componentes, compreendidos os OGMs, e a interação desses elementos; b) fatores tais como as substâncias,
a energia, o ruído e as radiações e atividades ou medidas, compreendidas as medidas administrativas, acordos
relativos ao meio ambiente, políticas, leis, planos e programas que tenham, ou possam ter, incidência sobre os
elementos do meio ambiente concernente à alínea a, supramencionada, e a análise custo/benefício e outras
análises e hipóteses econômicas utilizadas no processo decisório em matéria de meio ambiente; c) o estado
de saúde do homem, sua segurança e suas condições de vida, assim como o estado dos sítios culturais e das
construções na medida onde são, ou possam ser, alterados pelo estado dos elementos do meio ambiente ou,
através, desses elementos, pelos fatores, atividades e medidas visadas na alínea b, supramencionada” (cf.
MACHADO. Direito ambiental brasileiro, p. 85). Na nota de rodapé sobre a Convenção: “Aarhus (Dinamarca),
25 de junho de 1998. A Convenção foi preparada pelo Comitê de Políticas de Meio Ambiente da Comissão
Econômica para a Europa das Nações Unidas. Entrou em vigor em 30 de outubro de 2001.”
845
Nesse sentido: “Havendo incerteza sobre a possibilidade de impacto ambiental, a solução é abrir para o
conhecimento público políticas, planos e programas. Não obstante não ter a lei apontado a fase em que se
deva dar acesso aos documentos referidos, é de se refletir sobre as vantagens da presença participativa dos
interessados, sendo a informação fornecida em todas as fases da formulação desses documentos. Não se há de
esperar que as políticas, planos e programas ambientais estejam totalmente prontos para que o público possa
deles tomar conhecimentos, colocando-se os informados praticamente diante de fatos consumados, em que
se mudará muito pouco ou em que as alterações só poderão ocorrer em pontos insignificantes, pois o grande
esqueleto dos documentos já foi traçado, quase de forma imutável” (MACHADO. Direito à informação e
meio ambiente, p. 208-209).
846
Art. 1º da Lei 9.795/99.
847
A Constituição não trata expressamente de licenciamento ambiental (nem deveria, nele ressaltar), mas fornece
os princípios e valores necessários para o enfrentamento da matéria no plano administrativo.
848
Art. 1º, inc. I, da Resolução CONAMA 237/97.
849
“O mais importante dentre todos os mecanismos de controle é o licenciamento ambiental. Através do licencia-
mento a Administração Pública, no uso de suas atribuições, estabelece condições e limites para o exercício de
determinadas atividades” (ANTUNES. Direito ambiental, p. 86).
850
O art. 11 da Resolução CONAMA 237/97 prevê que os estudos devem ser feitos por profissionais legalmente
habilitados, sendo que os profissionais da área de patrimônio cultural devem se submeter ao IPHAN (ou órgão
de cultura do estado ou município).
851
Esses bens imateriais já devem ter inventariados, mapeados ou de alguma forma identificados. Não há neces-
sidade de existência de um procedimento formal de reconhecimento dos bens imateriais, como pelo registro,
por exemplo. Apenas que estes sejam importantes para a comunidade.
852
Carta para a Proteção e a Gestão do Patrimônio Arqueológico ICOMOS/ICAHM, Lausanne, 1990.
853
Essa Portaria estabelece os procedimentos necessários à comunicação prévia, às permissões e às autorizações
para pesquisas e escavações arqueológicas em sítios previstos na Lei 3.924/1961.
854
Esse documento traz dispositivos para a compatibilização e obtenção de licenças ambientais em áreas de
preservação arqueológica.
855
Que regulamenta a Lei 6.938/81.
856
Vale ressaltar que a obrigatoriedade da participação do IPHAN e a vinculação do órgão ambiental não está
pautada nessa lei apenas, já que os licenciamentos no âmbito estadual não seriam procedimentos alcançados
pela regulação mencionada. Mas a Lei reforça o argumento apresentado.
857
No mesmo sentido, é a Resolução ANEEL 63/2004, que aprova procedimentos no art. 5º, VII, estabelece:
“Constitui infração, sujeita à imposição de penalidade de multa do Grupo II:VII – deixar de comunicar,
imediatamente, aos órgãos competentes, a descoberta de materiais ou objetos estranhos às obras, que possam
ser de interesse geológico ou arqueológico”.
858
Nesse sentido, vale destacar a propositura de ação civil pública em 2007 pelo Ministério Público contra o
Município de Pacujá (Ceará), 18ª Vara Federal do Ceará, autos 2007.81.03.0002936. A ação foi proposta em
decorrência da construção de rodovia nas proximidades do local em que se encontra sítio arqueológico.
Segundo a ação, o sítio descoberto na cidade de Pacujá é detentor de um acervo ímpar para o patrimônio
cultural brasileiro, além das notáveis qualidades paisagísticas da região. Nesse local, foram localizados
vestígios de atividades de organismos, pegadas, pistas, perfurações etc. e recentemente foi realizada retirada
de um esqueleto de preguiça gigante. Foram também encontradas peças, tais como, machados, batedores,
almofarizes, de importante valor arqueológico, as quais já estão sendo estudadas pela Universidade do Vale
do Acaraú e do próprio IPHAN. A riqueza da área recomenda a sua conservação in situ, com a implantação
de projeto ecológico, turismo científico e criação de parque. No entanto, a obra foi feita sem licenciamento
ambiental e, por conseqüência, sem EIA/RIMA em desobediência aos ditames da Portaria IPHAN 230/02.
859
Nesse caso, independentemente de ser público ou privado o empreendedor, é administrado para efeitos de
submissão ao órgão licenciador. Claro que os órgãos públicos têm características próprias, mas não estão
isentos de cumprimento de todas as etapas do procedimento de licenciamento ambiental, com a apresentação
da documentação e estudos necessários.
860
A Resolução CONAMA 237/97, art. 1º, inc. III, conceitua Estudos Ambientais como “todos e quaisquer estudos
relativos aos aspectos ambientais relacionados à localização, instalação, operação e ampliação de uma atividade
ou empreendimento, apresentado como subsídio para a análise da licença requerida, tais como: relatório
ambiental, plano e projeto de controle ambiental, relatório ambiental preliminar, diagnóstico ambiental, plano
de manejo, plano de recuperação de área degradada e análise preliminar de risco”.
861
Direito ambiental brasileiro, p. 199.
862
A LNPMA inclui entre as competências do CONAMA a de estabelecer, mediante proposta do IBAMA, normas
e critérios para o licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, a ser concedido pelos
Estados e supervisionado pelo IBAMA (art. 8º, I).
863
Direito ambiental brasileiro, p. 192-193. A Declaração do Rio de Janeiro/92, em seu princípio 17, também
afirma a importância do instrumento quando diz que “a avaliação de impacto ambiental, como instrumento
nacional deve ser empreendida para as atividades planejadas que possam vir a ter impactos negativo
considerável sobre o meio ambiente, e que dependam de uma decisão de autoridade nacional competente”.
864
Informação Técnica Conjunta 144/05, p. 21. 4a Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal.
Ainda conforme a Informação: “Em 2001, o IPHAN criticou a sua não-participação na elaboração do Termo
de Referência do empreendimento e apresentou um parecer técnico com críticas ao EIA-RIMA, concluindo
que os impactos sobre o patrimônio cultural foram insuficientemente avaliados. Conseqüentemente, o IPHAN
apresentou uma série de exigências que deveriam ter sido acatadas antes de o IBAMA liberar a Licença Prévia.
Isso porque, sem uma informação mais detalhada, sem a contextualização espacial dos sítios arqueológicos na
Área Diretamente Afetada e na Área de Influência Direta, não é possível diagnosticar o potencial arqueológico
da área, comprometendo o Programa de Prospecção e Salvamento dos Sítios Arqueológicos, conforme as
exigências da Portaria SPHAN 7 de 1988, artigo 5º, inciso III, e da Portaria IPHAN 230 de 2002. Já em 2004 o
IPHAN afirmou que o EIA/RIMA do Projeto de Integração atendia satisfatoriamente a legislação de proteção
e preservação do patrimônio arqueológico brasileiro, mas que, todavia, carecia de complementações. Ocorre
que nenhum parecer técnico foi apresentado para justificar tal posicionamento do órgão, comprovando que
as deficiências constatadas anteriormente teriam sido sanadas. Além disso, as complementações mencionadas
foram exigidas de modo genérico e abrangente, numa única Condicionante Específica da Licença Prévia
200/2005, abaixo transcrita: “2.10 – Realizar o projeto de levantamento e prospecção arqueológica e
identificação de áreas de interesse cultural na AID, de acordo com o Ofício 199/04-GEPAN/DEPAM/IPHAN”.
Em função dessa omissão de informações, em 21.06.2005 foi expedido o Ofício nº 1092 – 4ª CCR ao IPHAN,
solicitando esclarecimentos, mas não houve resposta do Instituto.Caso esses esclarecimentos não sejam
prestados ou sejam insatisfatórios, “o IBAMA se verá obrigado a reavaliar o atendimento das condições
gerais de validade da Licença Prévia nº 200/2005, tendo em vista as lacunas de informações relevantes
sobre o patrimônio arqueológico e cultural. (...) Entendeu-se que a Licença Prévia n.º 200/2005 não estaria
fundamentada em conhecimento satisfatório do meio ambiente na Área de Influência do empreendimento e
dos impactos por ele determinados, haja vista as várias condicionantes específicas que se referem a atividades
de diagnóstico e avaliação de eficiência de medidas de mitigação propostas no EIA do PISF”.
865
Arts. 1º e 2º da Portaria IPHAN 230/02.
866
Cf. art. 1º, inciso III, da Resolução CONAMA 237/97.
867
Art. 7º.
868
Art. 6º, §2º, da Portaria IPHAN 230/2002.
869
Nesse sentido, vale trazer a Lei 11.132/2005, que acrescenta o artigo 22-A à Lei 9985/2000, que, em assunto
semelhante, chama medida de limitação administrativa provisória e concede um prazo de sete meses
improrrogáveis para a destinação final da área. Embora os objetivos sejam diversos, em razão da natureza
dos bens protegidos, na reserva arqueológica e na limitação tratada pelo dispositivo, a concepção em ambos
os casos se pauta na possibilidade de risco de dano grave aos bens. Desse modo, está disposto: “O Poder
Público poderá, ressalvadas as atividades agropecuárias e outras atividades econômicas em andamento e obras
públicas licenciadas, na forma da lei, decretar limitações administrativas provisórias ao exercício de atividades
e empreendimentos efetiva ou potencialmente causadores de degradação ambiental, para a realização de
estudos com vistas na criação de Unidade de Conservação, quando, a critério do órgão ambiental competente,
houver risco de dano grave aos recursos naturais ali existentes”.
870
MACHADO. Princípio da Precaução..., p. 35-50.
871
Entendemos que o período máximo da reserva arqueológica é de cinco anos, contados a partir do início das
pesquisas, já que um período maior que esse afigura em um ônus demasiado ao proprietário e afronta o
princípio da proporcionalidade.
872
Entendemos que o período máximo da reserva arqueológica é de cinco anos, contados a partir do início das
pesquisas, já que um período maior que esse afigura em um ônus demasiado ao proprietário e afronta o
princípio da proporcionalidade.
deve ser ágil com vistas a preservar os direitos do proprietário onde se encontram
os bens arqueológicos e em razão da fragilidade do bem arqueológico. Deve
ter como diretriz o princípio ambiental da precaução, os princípios da matriz
finita e da conservação in situ) e o princípio da função social da propriedade.
A adequação da implantação da reserva arqueológica se justifica pela
própria característica dos bens encontrados em solo brasileiro, que, na maioria
das vezes, ficam mais seguros se resgatados. Ao mesmo tempo, se a operação
de salvamento e resgate é feita sem os estudos e registros que dificultem ou
inviabilizem a compreensão do contexto e outras possíveis interpretações, o
patrimônio arqueológico não cumprirá suas funções, nem a Administração
atingirá o objetivo colimado.
Nesse sentido, a reserva é medida acautelatória, de cunho excepcional,
quando descartada, pelo IPHAN e pelo Poder Público, a instalação ou continuidade
do procedimento normalmente previsto. A medida de implantação da reserva
será necessária quando se revelar a menos lesiva, relativamente aos demais
instrumentos que poderiam ser utilizados para tutela do bem arqueológico.
O equilíbrio ou a tolerabilidade da medida para o proprietário, que tem seu
direito restringido em um lapso temporal anormal em virtude da reserva arqueo-
lógica, estão justificados na função social da propriedade e ficam atenuados pela
possibilidade de indenização de prejuízos e perdas decorrentes da restrição
do uso e gozo pleno da propriedade. Para a parte que arcará com os valores
indenizatórios, principalmente quando esta for o empreendedor (público ou
privado) em decorrência de obra impactante realizada na área ou entorno da
reserva, a obrigação é absolutamente tolerável, com custos são previsíveis, além
de encontrar amparo constitucional e legal.