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“A alma não deve acumular defesas à sua volta.

Não deve retirar-


se para procurar o céu dentro de si, em êxtases místicos. Não deve
clamar por um Deus transcendente, pedindo para ser salva. Deve
fazer-se à estrada larga, à medida que a estrada vai se abrindo ao
desconhecido, na companhia daqueles cuja alma os leva para
junto dela, nada realizando além da viagem, e das obras inerentes
à viagem, à longa viagem de uma vida inteira rumo ao
desconhecido, através da qual se realiza a alma, nas suas subtis
simpatias”.

LAWRENCE, D. H. Walt Whitman (trad. Ana Luísa Faria).


Lisboa, Relógio D’Água Editores, 1994, p. 27.

***
 
“O Imperador Khan quer saber qual cidade nos espera no
futuro, utopia ou Babilônia, a Cidade do Sol ou aquela do
Admirável Mundo Novo, e lamenta que no final de tudo se
insinue “ a cidade infernal, que está lá no fundo e que nos suga
num vórtice cada vez mais estreito”.
       Ao que Marco Pólo lhe responde: “O inferno dos vivos
não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno
no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos.
       Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é
fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se
parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é
arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar
saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é
inferno, e preservá-lo, e abrir espaço”.
 
CALVINO, Italo. As Cidades Invisíveis. São Paulo, Cia da Letras:
1991. p.150

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