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QUESTÕES DE
CONCURSOS
COMENTADAS DE
MEDICINA LEGAL
Prof. Anderson Morales
AMOSTRA
Caro aluno
Fiz este trabalho pensando em todos aqueles que têm dificuldades em encontrar as respostas corretas
para questões de medicina legal. Desta forma, reuni diversas questões de concursos públicos que
tivessem como tema assuntos de medicina legal. Foram retiradas de provas destinadas a provimento de
cargos de perito criminal, médico legista, auxiliar de perícias, papiloscopistas, escrivão/inspetor/delegado
de polícia e diversos outros cargos dentro da segurança pública.
O que pude perceber é que a maioria absoluta utiliza como base o livro Medicina Legal de Genival Veloso
França, uma referência absoluta em nosso país. Porém, também notei que em algumas provas, outros
autores começaram a ser citados, como Hygino C. Hércules e Francisco Silveira Benfica. Desta forma,
quando identificava que alguma passagem do livro estava ipsis litteris na questão, não hesitava em pegar
o conceito exato do autor para utilizá-lo no comentário da questão. Se tenho as palavras precisas dos
gigantes da medicina legal, não me arriscaria a tentar usar as minhas. Sempre que citava algum conceito
retirado de algum livro, deixava bem claro a qual autor estava me referindo. Em alguns casos, não era
possível identificar a obra utilizada para basear a questão, por isso, procurava em diversos autores para
poder chegar à conclusão correta, ou até mesmo abrir a possibilidade de contestação. Todas obras
utilizadas estão citadas na bibliografia e recomendo altamente a aquisição e leitura destas não só para
fins de concurso, mas também para aprendizado.
Em alguns momentos você pode achar que as questões são semelhantes, considerando que as respostas
são iguais. Porém, é interessante ver como o mesmo assunto pode ser abordado de forma diferente,
dependendo da banca examinadora, o que pode ajudar no aprendizado.
Anderson F. Morales
COMENTÁRIO
I. Peritus Peritorum é o juiz, o qual segundo o art 182 do Código de Processo Penal, não ficará adstrito ao
laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte. Como cita França: “O juiz, que é o peritus
peritorum, aceitará a perícia por inteiro ou em parte, ou não a aceitará em todo, pois dessa forma
determina o Código de Processo Penal, facultando-lhe nomear outros peritos para novo exame.” ERRADO
II. Quanto à confissão do acusado, o Código de Processo Penal em seu artigo 158 é bem claro: “Quando a
infração deixar vestígios será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo
supri-lo a confissão do acusado.” Tal dispositivo serve para evitar, dentre outras consequências, que
pessoas assumam crimes alheios seja para obter vantagem ou por coação. Apesar de nossa legislação não
prever hierarquia de provas (a princípio todas provas tem mesmo valor) a prova pericial acaba ganham
um status elevado extraoficialmente devido ao seu caráter técnico e científico. As leis processuais não
criam uma ordenação lógico-jurídica dos meios de prova. Cada prova tem seu valor intrínseco, segundo
seu modo de ser e segundo os resultados que em cada processo são aptas a produzir. Porém é evidente
que, se a lei não estabelece uma hierarquia entre os vários meios de prova, alguns deles são mais eficazes
do que outros, e essa distinta eficácia está dada pelo contato mais ou menos imediato que provoca entre
o juiz e os motivos de prova. ERRADO
III. A descrição é uma parte extremamente importante, onde o legista irá relatar os detalhes do exame
realizado (das lesões, dos vestígios no corpo, etc.). PORÉM, parecer médico-legal é constituído de todas
as partes do relatório, com exceção da descrição. Segundo FRANÇA, a discussão e a conclusão passam a
ser os pontos de maior relevo desse documento. ERRADO
IV. Não há nenhum demérito em responder aos quesitos com “sem elemento de convicção” pois a
medicina legal é uma ciência de diversificação robusta em que a certeza pode ser relativa. Muitas vezes,
não existem vestígios suficientes para que se possa responder afirmativamente ou negativamente um
quesito. CERTO
Letra B
COMENTÁRIO
I. Equimoma ou equimona também é chamado de sufusão. Trata-se de hemorragia mais extensa, de
tamanho variado. Não tem relação com a localização. Uma equimose na face anterior da coxa ainda é
chamada de equimose. ERRADO.
II. A coloração da equimose avaliada pelo espectro equimótico de Legrand du Saulle tem apenas valor
RELATIVO em relação à cronologia devido a sua variabilidade conforme a intensidade, profundidade do
sangue extravasado e elasticidade do tecido que pode facilitar ou não a reabsorção. Conforme cita França:
“O valor cronológico dessas alterações é relativo. O tempo de duração e por consequência a implicação
na modificação da tonalidade das equimoses variam de acordo com a quantidade e a profundidade do
sangue extravasado, com a elasticidade do tecido que pode ou não facilitar a reabsorção, com a
capacidade individual de coagulação, com a quantidade e o calibre dos vasos atingidos e com algumas
características das vítimas como idade, sexo, estado geral etc. Por isso, este valor cronológico é relativo”.
ERRADO.
III. Estas são características bem comuns às lesões contusas. Quando se fala em ponte de tecido,
normalmente se associa a lesão contusa. CORRETO.
IV. Segundo Hércules: “as luxações costumam ser provocadas por uma ação a distância do agente
contundente. As causadas por trauma direto sobre a articulação são pouco comuns.” Normalmente,
quando se pensa em instrumento contundente, pensa-se em um instrumento rígido impactando o corpo
(pressão ou percussão). Mas os instrumentos contundentes também podem atuar através de explosão,
torção, descompressão, deslizamento e contrachoque. CORRETO
Letra D
COMENTÁRIO
a) Segundo França: “As lesões externas se mostram de interesse incontestável, através das chamadas
lesões de defesa, geralmente encontradas nas mãos, bordas mediais dos antebraços, pés, ombros, sendo
as de maior consideração as lesões da palma da mão e da face palmar dos dedos”. Principalmente quando
se trata de arma branca, quando a vítima não foi impossibilitada de defender-se, é comum ter estas lesões
nas mãos e antebraços. Indicam a tentativa da vítima em utilizar seus membros como anteparo às
agressões. França cita exatamente isso: “As lesões externas se mostram de interesse incontestável através
das chamadas lesões de defesa, geralmente encontradas nas mãos, bordas mediais dos antebraços, pés,
ombros, sendo as de maior consideração as lesões da palma da mão e da face palmar dos dedos...
4.(IGP/RS-2017) Há três dias, João, 65 anos, hipertenso, diabético, com história de infarto antigo de
miocárdio, deixou de ir à padaria como fazia todas as manhãs. Os vizinhos começaram a perceber odor
fétido vindo da porta de seu apartamento e comunicaram o fato à polícia. Após os devidos trâmites, o
corpo foi removido para o departamento médico-legal. Sobre esse caso, assinale a alternativa correta.
a) É desnecessário o exame cadavérico, visto que se trata de morte natural, levando-se em conta a idade
e comorbidades da vítima.
b) O odor fétido percebido pelos vizinhos pode ser devido à fase gasosa da putrefação, durante a qual
larvas que infestam o cadáver produzem gases.
c) O período cromático da putrefação sempre se inicia na parede abdominal anterior (fossa ilíaca direita),
com o aparecimento da mancha verde abdominal.
d) João foi vítima de morte súbita.
e) Quando a morte é causada por sepse, a instalação e a evolução da putrefação tendem a ser muito mais
rápidas do que o habitual.
COMENTÁRIO
a) É preciso prestar atenção: aqui fala de exame cadavérico e não necropsia. São duas coisas diferentes.
O exame cadavérico se restringe a descrever vestes, sinais cadavéricos presentes, registro da
temperatura, etc. Já a necropsia é o exame interno do cadáver. O parágrafo único do artigo 162 do Código
de Processo Penal autoriza a realização do simples exame externo do cadáver quando não houver infração
a apurar (Nos casos de morte violenta, bastará o simples exame externo do cadáver, quando não houver
infração penal a apurar, ou quando as lesões externas permitirem precisar a causa de morte e não houver
necessidade de exame interno para a verificação de alguma circunstância relevante), ou seja desobriga a
realização da necropsia, mas obriga a realização do exame externo. ERRADO
b) Ainda se trata de exame cadavérico, considerar o exposto acima.
Letra E.
BIBLIOGRAFIA
Benfica, Francisco Silveira. Vaz, Marcia. Medicina Legal. Porto Alegre: Livraria do Advogado
Editora, 2008.
Benfica, Francisco Silveira. Vaz, Marcia. Medicina Legal – 4ª ed. Ver. atual. Porto Alegre:
Livraria do Advogado Editora, 2019.
Dorea, Luiz Eduardo Carvalho et al. Criminalística – 2ed – Campinas, SP. Millennium, 2003.
França, Genival Veloso de. Medicina Legal. 10ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.
Franklin, Reginaldo. Medicina Forense Aplicada – 1ª ed. – Rio de Janeiro: Rubio, 2018.
Galvão, Luis Carlos. Estudos médico-legais. Porto Alegre: Sagra: DC Luzzatto, 1996.
Hércules, Hygino de Carvalho. Medicina Legal: texto e atlas – 2ª ed. São Paulo: Ed Atheneu,
2014.
Knight, Bernard. Forensic Pathology. 3 ed. 2004 Edward Arnold Publishers Ltd.
Velho, Jesus Antonio. Ciências forenses: uma introdução às principais áreas da criminalística
moderna. 3ª ed – Campinas, SP: Millennium Editora, 2017.