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quinta etc.) que exercem nos sete acordes diatônicos (por conveniência, continua a exempli-
ficação na tonalidade de dó maior):
Nota
dó ré mi fá sol lá si
Função
1 I II III IV IV VI VII
3 VI VII I II III IV V
5 IV V VI VII I II III
6 III IV - VI - I II
7 II III IV V VI VII I
9 VII I II III IV V VI
11 V VI VII I II III IV
13 - - V - VII - -
Em negrito são indicados os graus harmônicos sobre os quais as notas exercem funções
não harmonizáveis. E, como podemos observar, serão sempre os graus escalares I e IV (as
notas dó e fá, em dó maior) os responsáveis por essa situação: eles devem ser evitados como
notas estruturais sempre que forem sexta (menor, em ambos os casos) ou tensão (nona menor
e décima primeira) em relação a algum dos acordes diatônicos.
. Análise melódica
36 As notas dos acordes e as tensões pertencem a uma mesma categoria, a das notas estruturais (também conhecidas por
notas-alvo). Como o nome indica, trata-se de notas que possuem uma considerável estabilidade estrutural em rela-
ção aos acordes que as harmonizam. Evidentemente, serão mais estáveis quanto mais próximas da “raiz” do acorde
estiverem. Assim, a quinta de um acorde, por exemplo, é uma nota estrutural menos “firme” do que a fundamental,
porém bem mais estável do que a nona, por exemplo.
Acordes diatônicos
Ex.1-31:
37 É importante destacar que uma nota (um ré, por exemplo), em dois momentos de um mesmo compasso e sobre um
mesmo acorde (por exemplo, Cm7), pode ter comportamentos diversos e ser analisada tanto como tensão (nona)
quanto como inflexão! Podemos, então, deduzir que o foco da análise não está na altura das notas, mas principalmen-
te nos papéis que cada uma cumpre em cada situação particular, bem como — é verdade que em menor parcela —
em sua dimensão rítmica (assunto que até o momento foi propositadamente evitado): em especial a duração e a posi-
ção métrica relativa de cada nota.
Harmonia Funcional
Sendo assim, podemos também dizer que a tensão é a nota que, não fazendo parte do
acorde que a harmoniza, não resolve; em outras palavras: salta (considerando-se que salto é
o movimento intervalar a partir de uma terça) ou é seguida por pausa (o que sempre inter-
rompe o fluxo melódico). Em ambos os casos o ouvido percebe a tensão como uma nota de
status semelhante à nota do acorde, que possui plena liberdade de movimentos. Ambas são,
portanto, incorporadas ao ambiente harmônico do acorde (o que nunca acontece com a infle-
xão, dado seu caráter transitório, via resolução).
Ex.1-33:
Acordes diatônicos
Faz parte do 3
Nota
acorde
Não faz 7 6
parte do
acorde
TENSÃO
HARMÔNICA INFLEXÃO
(9/11/13
Passemos à classificação das inflexões. Há várias categorias, cada uma com características
próprias:
Harmonia Funcional
Ex.1-34:
2. Bordadura (B)
Características:
a) tem curta duração;
b) tem posição métrica fraca (na maioria das vezes);
c) é preparada por grau conjunto, porém pela mesma nota na qual resolverá (podemos
considerar a bordadura um caso especial da nota de passagem).
Ex.1-35:
3. Apogiatura (AP)
Características:
a) ocorre invariavelmente em posição métrica mais forte em relação à nota-estrutural de
resolução;
b) dispensa preparação (relembrando: isso quer dizer que ela surge após um salto de uma
nota estrutural ou após pausa).
38 A nota que antecede uma inflexão, desde que seja a ela idêntica ou dela distanciada por grau conjunto, é chamada
preparação. Não é imprescindível que uma inflexão seja preparada (não se pode dizer o mesmo sobre a sua resolução):
a preparação apenas ajuda a caracterizar o tipo de inflexão que está atuando. Historicamente falando, porém, as infle-
xões preparadas foram as primeiras a serem utilizadas, pois o som que as precede faz com que o ouvido literalmente
se “prepare” para sua ocorrência. Podemos apenas imaginar quão ásperas deveriam ser para os ouvintes da época essas
primeiras sonoridades conflitantes com as harmonias às quais estavam associadas. A preparação, então, foi o único
e engenhoso recurso que permitiu seu emprego, o que, pouco a pouco, foi se tornando costumeiro. Já desbravado o
terreno, na trilha dessas inflexões foram surgindo todas as demais que, como decorrência do espírito inovador dos
compositores e já contando com o “território conquistado”, terminaram por dispensar o artifício da preparação.
Acordes diatônicos
4. Escapada (E)
Características:
a) é idêntica à apogiatura (dispensa preparação);
b) ocorre em posição métrica fraca.
Ex.1-37:
Nos textos sobre Harmonia Tradicional, além da escapada, é normalmente citada uma
outra variante: a escapada por salto, uma espécie de maneirismo estilístico muito utilizado
pelos compositores do Classicismo (principalmente por Mozart). Ela surge como a única
exceção à regra principal no trato das inflexões: apesar de requerer preparação (por grau con-
junto), a escapada por salto — como o nome claramente sugere — não resolve, mas salta
para a nota de resolução. Para ouvidos acostumados ao comportamento tradicional das in-
flexões, o efeito pode parecer um tanto picante; contudo, a escapada por salto dificilmente é
empregada isoladamente, e sim em seqüência a outras, numa espécie de fórmula, quase sem-
pre com significado motívico.
Ex.1-38:
5. Suspensão (SUS)
Características:
a) a posição métrica é forte em relação à nota de resolução;
b) a preparação da suspensão é de uma natureza diferente das preparações da nota de
passagem e da bordadura: ela se dá por meio de uma ligadura de extensão, o que sig-
Harmonia Funcional
Ex.1-39:
Observações:
Ex.1-40:
Acordes diatônicos
Ex.1-41:
c)
Resolução indireta (RI) — tem origem bastante remota, ainda na polifonia renascentista.
Trata-se de uma fórmula composta por duas inflexões que, separadas por intervalo de terça,
cercam uma nota estrutural posicionada entre elas (ou seja, cada componente da fórmula
dista uma segunda da nota de resolução). Nos exemplos abaixo são expostos alguns casos de
resolução indireta:
a) a primeira das inflexões, apesar de ser imediatamente seguida pela outra, na prática
comporta-se como se a “ignorasse”, tendendo a resolver na nota estrutural subseqüente;
Ex.1-42:
Ex.1-43:
Harmonia Funcional
É possível, então, concluir que, no que concerne ao uso do cromatismo como grupamen-
to de inflexões, trechos da escala cromática podem ser normalmente utilizados, desde que a
última nota da fórmula resolva numa nota estrutural.
Ex.1-44:
Podemos agora passar à análise de algumas peças. Mesmo que até o momento atual te-
nhamos abordado apenas os acordes diatônicos, não haverá problema algum em analisar
* Sendo n o número de notas cromáticas que compõem a fórmula: 2 (duplo cromático), 3 (triplo) etc.
39 Na verdade, fica difícil definir se harmonia é causa ou conseqüência de eventos melódicos (se é que o assunto neces-
sita de algum tipo de definição). De fato, tudo depende de cada contexto considerado.
Acordes diatônicos
Ex.1-45:
Observações:
[1] aqui temos um caso interessante e muito comum em choros: o primeiro ré é uma
espécie de apogiatura “disfarçada” que, apesar de sofrer uma interrupção pelas notas fá e lá,
é nitidamente retomada no segundo ré, resolvendo por fim em dó;
[2] poderíamos analisar de duas maneiras esta passagem: como um duplo cromático,
como está na partitura ou (talvez a mais lógica opção, apesar de parecer mais obscura, con-
Harmonia Funcional