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SUMÁRIO

1. Introdução ..................................................................... 3
2. Patogênese................................................................... 3
3. Efeitos patológicos..................................................... 5
4. Siglas e classificação das amiloidoses............... 5
5. Tipos de amiloidose................................................... 6
6. Amiloidoses adquiridas............................................ 7
7. Amiloidoses hereditárias......................................... 9
8. Amiloidose aa.............................................................11
9. Amiloidose al..............................................................16
10. Sistemas orgânicos...............................................21
Referências bibliográficas .........................................30
AMILOIDOSE 3

1. INTRODUÇÃO 2. PATOGÊNESE
A amiloidose é uma doença causada Os depósitos amiloides, além das fi-
pelo depósito extracelular de amiloide brilas proteicas já mencionadas, são
que ocorre pelo distúrbio do enovela- compostos por certos glicosaminogli-
mento de proteínas. Assim, proteínas canos, componente P amiloide sérico
normalmente solúveis são deposi- proteico plasmático (SAP) circulante e
tadas no espaço extracelular como outras proteínas, como apolipoproteí-
fibrilas insolúveis que, progressiva- na E. A SAP apesar de não ser a pro-
mente, comprometem a estrutura e teína precursora, se liga de maneira
a função do tecido. Dependendo do específica a um ligante expresso por
tipo de proteína da fibrila, diversos todas as fibrilas amiloides e, por esse
tipos de amiloidoses clínicas podem motivo, a cintilografia com SAP é fei-
se apresentar. As consequências clí- to para diagnóstico e monitoramento
nicas ocorrem quando esse acúmulo quantitativo de depósitos de amiloide.
é substancial o suficiente para com- As fibrilas que compõe o depósito
prometer a estrutura dos tecidos e amiloide são compostas por subu-
órgãos, levando a comprometimento nidades de baixo peso molecular de
da função. Dessa forma, a amiloido- proteínas, muitas das quais são cons-
se pode ser sistêmica ou localizada, tituintes do plasma. Assim esses pre-
adquirida ou hereditária e causar ris- cursores solúveis sofrem alterações
co a vida ou ser apenas um achado conformacionais, perdendo sua es-
acidental. trutura enovelada e adotando uma
configuração beta sheet, predomi-
nantemente, paralela.

Figura 1. DISPONÍVEL EM: https://www.amyloidosissupport.org/AmyloidAware_Portuguese.pdf


AMILOIDOSE 4

Todas as fibrilas amiloides, indepen- Os depósitos amiloides ocorrem em


dente da proteína precursora, vão diversas circunstâncias:
apresentar propriedades biofísicas
• Por uma concentração anormal-
comuns, são elas:
mente alta e sustentada de certas
• Indissolubilidade nas soluções proteínas (como na amiloidose A e
fisiológicas; Ab2M);
• Aumento de resistência à • Por exposição prolongada a con-
proteólise; centração de uma proteína nor-
mal, mas amiloidogênica em algu-
• Capacidade de se ligar ao corante
ma extensão (como na amiloidose
vermelho Congo de maneira espa-
senil);
cialmente ordenada (produzindo
uma birrefringência “maçã verde” • Presença de proteína variante ad-
sob luz polarizada cruzada). quirida ou herdada com uma es-
trutura anormal e marcadamente
amiloidogênica (como na amiloi-
dose AL).

Figura 2. Depósito proteico extracelular caracterizado


por birrefringência verde maçã quando corado com
vermelho Congo e visto sob luz polarizada.DISPONÍVEL
EM: Indian Journal of Pathology and Microbiology. Vol
61, 2018 (Aula SanarFlix- amiloidoses)

SAIBA MAIS!
Não se sabe ainda como fatores genéticos e/ou ambientais influenciam a susceptibilidade
individual e a deposição da proteína amiloide. No entanto, uma vez que o processo tenha
iniciado, o acúmulo adicional de amiloide é incessante enquanto o suprimento da respectiva
proteína precursora continuar.
AMILOIDOSE 5

os depósitos amiloides podem evocar


RESUMINDO: pouca ou nenhuma reação nos teci-
Amiloidose são depósitos extracelulares dos. A relação entre a quantidade de
de proteínas agregadas insolúveis, com amiloide e o grau de disfunção orgâ-
conformação beta sheet, e que se coram nica associada difere muito entre os
com corante vermelho Congo, gerando
uma birrefringência em “maçã-verde” indivíduos e diferentes órgãos.
sob luz polarizada.
Os depósitos de amiloide são compos-
tos por fibrilas, componente P amiloi-
4. SIGLAS E
de sérico (SAP), glicosaminoglicanos e CLASSIFICAÇÃO DAS
apolipoproteína E. AMILOIDOSES
Pelo menos 30 tipos de proteínas
3. EFEITOS PATOLÓGICOS precursoras humanas diferentes são
conhecidas e as doenças amiloides
É importante saber que os efeitos pa-
recebem a nomenclatura de acordo
tológicos dos depósitos amiloides po-
com as subunidades proteicas afeta-
dem ser atribuídos, em grande parte,
das, uma vez que as apresentações
à sua presença física. Depósitos ex-
clínicas variam entre si. A nomen-
tensos, que podem pesar quilos, são
clatura para proteínas da subunida-
estruturalmente comprometedores e
de amiloide inclui a letra “A”, seguida
incompatíveis com a função normal,
pela abreviação do nome da proteína
assim como os depósitos menores
precursora. A tabela abaixo descreve
estrategicamente localizados, por
os tipos mais comuns.
exemplo, nos glomérulos e nervos.
Pode ser possível também que es-
ses agregados sejam citotóxicos em
algumas circunstâncias, no entanto,
AMILOIDOSE 6

PROTEÍNA SISTÊMICA (S) OU SÍNDROME OU


PRECURSOR
AMILOIDE LOCALIZADA (L) TECIDO ENVOLVIDO
Reativa, secundária a inflamação
AA AoSAA S
crônica
AL Cadeia leve da imunoglobulina S,L Primária ou mieloma associado

AH Cadeia pesada da imunoglobulina S Primária ou mieloma associado


TTR mutado S Hereditária
ATTR
TTR “selvagem” S,L Senil
S Hereditária
AApoAI ApoAI
L Aorta, meniscos e discos vertebrais

AApoAII ApoAII S Hereditária

AApoAIV ApoAIV S Idade

AGel Gelsolin S Hereditária


Fibrinogênio
Afib S Hereditária
Aα chain
ALys Lisozima S Hereditária
Aβ2M Β2-microglobilina S Associada a diálise
Acys Cistatina C S Hereditária
Aβ Aβ proteína precursos AβPP L Alzheimer, idade
Abria ABriPP L Demência hereditária, britânicos
ADan ADanPP L Demência hereditária, dinamarqueses
APrp Proteína príon L Encefalopatias espongiformes
ACal Procalcitonina L Ca tireoide, células C
AIAAP Amilina L Ilhotas de Langerhans, insulinoma
AANF PNA L Átrios
APro Prolactina L Hipófise envelhecida, prolactinoma
Tabela 1. DISPONÍVEL EM: Aula SanarFlix (amiloidoses)

5. TIPOS DE AMILOIDOSE amiloidose senil por transtirretina


(ATTR), amiloidose específica de ór-
Existem várias formas principais de
gão; Já as amiloidoses sistêmicas
amiloidose. Os mais observados são
hereditárias mais comuns são a: po-
os tipos AL (primário) e AA (secundá-
lineuropatia amiloidótica familiar (va-
rio), embora outros tipos de amiloide
riante da ATTR), a polineuropatia ami-
(por exemplo o ATTR) sejam clinica-
loide familiar com neuropatia craniana
mente importantes. As amiloidoses
predominante e amiloidose sistêmica
adquiridas podem ser: amiloidose
hereditária não neuropática.
AA, amiloidose AL, amiloidose rela-
cionada à diálise (β2-microglobulina),
AMILOIDOSE 7

6. AMILOIDOSES a substancial heterogeneidade da


ADQUIRIDAS amiloidose AL em termos de desen-
volvimento orgânicos e evolução clí-
Amiloidose AA
nica). Assim, ocorre devido à deposi-
Antigamente conhecida como ami- ção de proteínas derivadas da cadeia
loidose secundária. É uma amiloido- leve de imunoglobulina. Qualquer
se sistêmica reativa. Decorre de uma órgão que não o cérebro pode estar
potencial complicação de doenças diretamente afetado, entretanto de-
crônicas, nas quais há inflamação pósitos nos rins, coração, fígado e
contínua ou recorrente que promove sistema nervoso periférico estão mais
uma superprodução de proteína ami- associados às manifestações clínicas.
loide A sérica (SAA), um reagente de Os sintomas precoces são frequente-
fase aguda que pode formar depó- mente inespecíficos, incluindo fadiga
sitos amiloides. As fibrilas amiloides marcante. Essa amiloidose também
são compostas por proteína AA, um será detalhada mais à frente.
fragmento com N-terminal da SAA. A
amiloidose AA ocorre em até 1 a 5%
Amiloidose AL localizada
dos pacientes com artrite reumatoide
com doenças inflamatórias por toda a Os depósitos do amiloide AL podem
vida, como a febre familiar do Medi- ocorrer em qualquer parte do corpo
terrâneo. A maioria desses pacientes e são consequentes da presença de
vai apresentar doença renal com pro- discrasia focal das células B mono-
teinúria; além disso, envolvimento he- clonais no interior do tecido afetado.
pático e gastrointestinal pode ocorrer Os depósitos podem ser nodulares ou
em um estágio mais tardio da doença; confluentes e estão associados a um
contudo, envolvimento clinicamente infiltrado local geralmente impercep-
significativo de coração e nervos é tível de células B clonais produzin-
mais raro. Detalharemos esse tipo de do cadeias leves amiloidogênicas. A
amiloidose mais à frente. progressão do amiloide AL localizado
para uma doença sistêmica é muito
rara. Os vários locais de acometimen-
Amiloidose associada à discrasia
to dos depósitos amiloides AL são:
imunocítica (AL)
• Região ocular: se apresenta como
Antigamente conhecida como ami-
uma lesão expansiva que pode
loidose primária. As fibrilas AL são
comprometer o movimento ocular
derivadas de cadeias leves da imu-
e a estrutura da órbita;
noglobulina monoclonal, que são
únicas em cada paciente (isso explica
AMILOIDOSE 8

• Pele: geralmente são depósitos dessa proteína. Porém essa é uma


amiloides cutâneo-nodular, embo- condição que necessita de muitos
ra esses também possam se apre- anos de diálise ou naqueles com lon-
sentar na amiloidose AL sistêmica. go prazo de comprometimento renal
As formas liquenoides e maculares crônico grave. Vinte a trinta por cen-
são distintas e acreditam-se que to dos pacientes com 3 anos de iní-
sejam derivadas da queratina ou cio de diálise com evolução para in-
de proteínas relacionadas; suficiência renal em estágio terminal
apresenta depósitos de amiloides de
• Vias aéreas: quando presentes na
β2-microglobulina.
árvore brônquica quase sempre é
decorrente de amiloidose AL lo-
calizada, assim como os nódulos Amiloidose sistêmica relacionada
amiloides solitários ou múltiplos à idade (senil)
dentro do tecido pulmonar;
Frequentemente é conhecida como
• Trato urogenital: os depósitos amiloidose cardíaca senil ou amiloi-
urogenitais quase sempre são dose sistêmica senil (ASS), visto que
achados acidentais, mas pode-se ocorre quase exclusivamente em ido-
apresentar clinicamente como he- sos, sendo rara antes dos 60 anos.
matúria ou, menos comumente, Acomete, principalmente, indivíduos
por obstrução. do sexo masculino com, pelo menos,
70 anos. A doença ocorre por depósi-
tos sistêmicos microscópicos de ami-
Amiloidose relacionada à diálise
loides da transtirretina senil (TTR) do
Esse é um tipo de amiloidose que tipo selvagem. Mais comumente en-
ocorre em pacientes com insuficiência volve coração (predominando clinica-
renal crônica dependente de diálise mente a miocardiopatia restritiva),
e é uma doença que tem predileção parede de vasos sanguíneos, músculo
por estruturas articulares e periarti- liso e estriado, tecido gorduroso, pa-
culares. A proteína precursora da fi- pilas renais e paredes alveolares. Di-
brila amiloide é a β2-microglobulina, ferencia-se da ATTR hereditária (por
que é expressa por todas as células mutações no gene TTR) por raramen-
nucleadas e é normalmente filtrada te afetar baço e glomérulos renais. O
livremente pelos glomérulos e, em cérebro não está envolvido nesse tipo
seguida, reabsorvida e cataboliza- de amiloidose. Inicialmente o quadro
da pelas células tubulares proximais. pode se abrir por acometimento arti-
Assim, a diminuição da função renal culares (como síndrome do túnel do
leva a um aumento da concentração carpo) antes dos sintomas cardíacos.
AMILOIDOSE 9

Além disso, depósitos amiloides gas- síndromes hereditárias periódicas de


trointestinais também podem ser en- febre. Quanto às mutações, essa le-
contrados em biópsia retal. Compa- vam a diferentes tipos hereditários
rado com o acometimento cardíaco de amiloidose, cada qual com um
por amiloidose AL, esses pacientes padrão característico de manifes-
sobrevivem por mais tempo e, muitas tações. Essas doenças apresentam
vezes, são assintomáticos. um padrão dominante autossômico
e está presente clinicamente em vá-
rios momentos, desde a adolescên-
7. AMILOIDOSES cia à velhice, mas principalmente na
HEREDITÁRIAS idade adulta. A forma mais comum
Causadas por depósitos de fibri- é causada pelas variantes da TTR e
las amiloides derivados de proteínas costuma se apresentar como a sín-
geneticamente variantes e está as- drome da polineuropatia amiloide fa-
sociada a mutações em vários ge- miliar com polineuropatia periférica e
nes. Além das mutações proteicas, neuropatia autonômica. As proteínas
situações que promovam fibrilogê- com mutações genéticas associadas
nese também tornam o indivíduo a depósitos de amiloide estão descri-
susceptível à amiloidose, como em tas abaixo:

Transtirretina Cadeia α do fibrinogênio A

Cistatina C Apolipoproteína AI

Gelsolina Apolipoproteína AII (muito rara)

Lisozima Microglobulina-β2 (muito rara)

Polineuropatia amiloide familiar variantes de TTR estão associadas à


(PAF) doença, sendo as fibrilas amiloides
derivadas de uma mistura de proteí-
Essa é uma variante da amiloidose
na TTR variante e do tipo selvagem. É
transtirretina (ATTR), associada à he-
uma doença progressiva e incapaci-
terozigose para mutações pontuais
tante, com graus variáveis de envolvi-
no gene para TTR. O pico de início da
mento amiloide visceral. Muitas vezes
doença ocorre entra a terceira e séti-
a única característica clínica decorre
ma décadas. Mais de 100 formas de
do acometimento cardíaco.
AMILOIDOSE 10

Polineuropatia amiloide familiar • Já em relação a mutações na apo-


com neuropatia craniana lipoproteína AI (constituinte im-
predominante portante da lipoproteína de alta
densidade), as síndromes clínicas
É uma forma dominante muito rara de
resultantes variam, mas estão as-
amiloidose hereditária que se apre-
sociadas a depósitos substanciais
senta no início ou mais tardiamente na
de amiloide no fígado, baço e nos
vida adulta. O gene mutante respon-
rins. Algumas mutações estão as-
sável codifica uma forma variante de
sociadas à miocardiopatia predo-
gelsolina, que é uma proteína modula-
minante. Outras consequências
dora da actina. A doença se manifesta
clínicas são infertilidade masculina
com neuropatia craniana, distrofia cor-
e lesões de pele.
neana granular e com uma leve neuro-
patia periférica distal. Pode haver aco- • O amiloide hereditário da cadeia α
metimento cutâneo, renal ou cardíaco, do fibrinogênio A, na maioria dos
mas geralmente são restritas e a ex- pacientes, se apresenta no final
pectativa de vida se aproxima do nor- da meia-idade com proteinúria ou
mal. O distúrbio é progressivamente hipertensão e progride para insu-
desfigurante e muito estressante nos ficiência renal em estágio terminal
estágios tardios da doença. nos 5 anos seguintes. O depósito
amiloide ocorre nos rins, no baço e,
às vezes, no fígado (porém assin-
Amiloidose sistêmica hereditária tomático nos dois últimos).
não neuropática
É causada por mutações nos genes SE LIGA! A prevalência dos tipos mais
da lisozima, apolipoproteína AI e pela comuns de amiloidose varia entre dife-
cadeia α do fibrinogênio A. É extre- rentes partes do mundo. Nos países de-
senvolvidos, a AL é o tipo mais comum
mamente rara, sendo que muitos pa-
de amiloidose sistêmica, enquanto nos
cientes afetados não possuem histó- países em desenvolvimento a amiloi-
ria familiar. dose AA é mais frequente. Este é um
resultado provável de um maior ônus
• A amiloidose sistêmica hereditária de doenças infecciosas crônicas, como
por lisozima, na maioria dos indiví- tuberculose, hanseníase e osteomieli-
duos, sem manifesta na meia-idade te nesta última. Nas duas formas mais
comuns de amiloidose sistêmica, amiloi-
com proteinúria e comprometimen- dose primária (AL) e secundária (AA), os
to renal lentamente progressivo. principais locais de deposição de ami-
Em geral há depósitos amiloides loide clinicamente importante estão nos
rins, coração e fígado.
substanciais no fígado, no baço, no
trato gastrointestinal superior.
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AMILOIDOSES

ADQUIRIDAS HEREDITÁRIAS

Amiloidose AA Polineuropatia amiloide familiar (PAF)

Amiloidose AL PAF com neuropatia craniana predominante

Amiloidose relacionada à diálise Não neuropática

Amiloidose senil
relatadas em associação à amiloidose
AA é extensa, sendo as mais comuns:
8. AMILOIDOSE AA
Múltiplas condições inflamatórias
crônicas, entre elas reumatológicas, Artrite reumatoide
infecciosas crônicas e outras têm
sido associadas ao desenvolvimento
de amiloide AA. O sistema orgânico
mais comum envolvido nessa forma
de amiloidose é o rim, embora outros Espondilite anquilosante
sistemas orgânicos também sejam
frequentemente afetados. Durante o
século 20, a amiloidose AA tornou-
-se menos comum e a contribuição
do amiloide AA para grandes séries Artrite idiopática juvenil

de amiloidose diminui gradualmente.


As causas subjacentes da inflamação
crônica também mudaram, as artrites
inflamatórias tornaram-se a causa
Febre familiar do mediterrâneo
mais comum, substituindo infecções
crônicas, particularmente tuberculose
e osteomielite. Apesar de a incidên-
cia vim diminuindo a cada ano, a lista DISPONÍVEL EM: Aula SanarFlix (amiloidoses)

de condições inflamatórias crônicas


AMILOIDOSE 12

Manifestações clínicas
Pode afetar uma variedade de órgão,
incluindo rins e coração. O acometi-
mento renal é responsável por apro-
ximadamente 90% nas amiloidoses
AA, sendo que os pacientes iniciam
o quadro apresentando proteinúria
inespecífica causada pelo depósi-
to glomerular. A síndrome nefrótica,
muitas vezes, pode se desenvolver
antes da progressão para o estágio
final de insuficiência renal. Hematúria,
defeitos tubulares, diabetes insípidus
nefrogênico raramente ocorrem. O
tamanho do rim geralmente é normal,
mas pode estar aumentado ou, nos
casos mais avançados, reduzido.
A segunda manifestação mais co-
mum da doença é a chamada orga-
Figura 3. Esquema ilustrativo dos órgãos mais acome-
nomegalia, como hepatomegalia ou, tidos na amiloidose AA
ocasionalmente, bócio na tireoide,
com ou sem anormalidade renal. O
envolvimento histológico cardíaco é SE LIGA! O prognóstico da doença está
intimamente relacionado ao grau de dis-
frequente, mas raramente resulta em função renal e à efetividade do tratamen-
insuficiência cardíaca. Já a disfunção to do distúrbio inflamatório subjacente.
gastrointestinal é comum na doença Na presença de inflamação persistente
não controlada, 50% dos pacientes com
avançada, apresentando-se, predo-
amiloidose AA morrem em 10 anos, ao
minantemente, com diarreia e san- tempo que se a resposta da fase aguda
gramento ocasional. puder ser persistentemente suprimida,
a proteinúria pode regredir, a função re-
nal pode ser preservada e o prognóstico
melhora substancialmente.

Diagnóstico
A biópsia do tecido é necessária
para confirmar a presença de depó-
sito amiloide, embora o diagnóstico
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de amiloidose AA possa ser sugeri- Biópsia


do por características clínicas e pela
Em todos os pacientes com suspeita
presença de doença reumática ou
de amiloidose AA é recomendado bi-
reumática inflamatória predisponente
ópsia de tecido para confirmação da
(como síndrome nefrótica que ocor-
presença de depósitos amiloides. A
re no cenário de artrite reumática de
gordura abdominal é um local, geral-
longa duração). Além disso, exames
mente, seguro e sensível para a bióp-
laboratoriais podem ser necessários
sia inicial. Pode-se também realizar a
para excluir outras condições.
biópsia diretamente do órgão clinica-
mente envolvido.

Figura 4. Na primeira imagem uma micrografia de glomérulo normal. Na segunda imagem uma micrografia de ami-
loidose glomerular com material amorfo nodular (setas). Na terceira imagem, uma biópsia renal com mancha verme-
lha do Congo vista sob luz polarizada, levando a uma birrefringência verde (setas brancas) dos depósitos amiloides
intersticiais. DISPONÍVEL EM: https://www.uptodate.com/contents/image?imageKey=NEPH%2F63840~NEPH%-
2F78183~NEPH%2F54148~NEPH%2F75254&topicKey=RHEUM%2F5602&search=amiloidose&rank=8~150&-
source=see_link
AMILOIDOSE 14

SAIBA MAIS!
Para os diversos tipos de amiloidoses, atualmente, três tipos de biópsia de primeira linha
são comumente realizados: (1) biópsia do trato gastrointestinal: retal ou gastroduodenal; (2)
biópsia da glândula salivar labial (LSG); e (3) biópsia subcutânea de aspiração de gordura
abdominal (AFA).

BIÓPSIA

Renal Retal

Gastroduodenal Glândula
Gordura salivar
abdominal

Figura 5. DISPONÍVEL EM: Aula SanarFlix (amiloidoses)

A cintilografia com o componente


amiloide sérico (SAP) marcado com
radioisótopo também é uma técnica
útil de triagem para suspeita de amiloi-
dose. Já os testes laboratoriais, como
dosagens sérias de PCR e VHS con-
tribuem para avaliar uma resposta de
fase aguda e determinação de esta-
do inflamatório, mas possuem pouco
papel na confirmação do diagnóstico.
Possuem uma utilidade maior, por
exemplo, para afastar amiloidose AL
por meio de testes para imunoglobu-
linas monoclonais no soro.

Tratamento Figura 6. Cintilografias anteriores do corpo inteiro com o componen-


te sérico do amiloide P (SAP) radiomarcado, demonstrando regressão
A terapia preferida da amiloido- dos depósitos de amiloide AL em 5 anos após quimioterapia. Ao
diagnóstico em (a) o traçador SAP localizado nos depósitos amiloides
se AA é o controle da doença AL no fígado, baço e ossos desse paciente, mostrava hepatomegalia
inflamatória subjacente e, por- na apresentação. Em (b) a cintilografia mostra regressão do amiloide,
principalmente no fígado que retornou ao tamanho normal. DISPONÍ-
tanto, supressão quase completa VEL EM: Hochberg, MC et al. Reumatologia. 6ª edição
AMILOIDOSE 15

da produção sérica de proteína amiloi- imunossupressão deve ser inespecí-


de AA. O tratamento precisa ser es- fica (de TNF-α, IL-1 e IL-6), enquanto
pecífico para a doença subjacente, por nas síndromes febris periódicas, ne-
esse motivo as abordagens farmacoló- cessita de uma inibição altamente es-
gicas variam de acordo com a fisiopa- pecífica (de IL-1). A terapia profilática
tologia. Na artrite reumatoide, espon- regular com colchicina, por exemplo,
diloartrite e artrite juvenil idiopática, a é altamente efetiva na supressão da
Febre Familiar do Mediterrâneo e evita
AMILOIDOSE AA quase que completamente o desen-
volvimento da amiloidose AA. Doses
de 0,6 a 1,2 mg/dia em adultos reduzi-
AMILOIDOSE ram a incidência de doença renal clíni-
SISTÊMICA ca (incluindo a prevenção de recorrên-
REATIVA
cia no transplante renal) e estabilizou a

CAUSAS SUBJACENTES DIAGNÓSTICO MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

+
Doença crônica
Artrite reumatoide Proteinúria
inflamatória

Características
Espondilite anquilosante Síndrome nefrótica
clínicas

Biópsia com presença de


Artrite idiopática juvenil (AIJ) Hepatomegalia
depósitos amiloides AA

*Cintilografia
Febre Familiar do Mediterrâneo Bócio
(opcional/evolução)

Aumento ou diminuição do rim


ORGÃOS ENVOLVIDOS TRATAMENTO

Insuficiência cardíaca rara


Rins Controle da doença

Fígado Colchicina (FFM) taxa de filtração glomerular em


pacientes com proteinúria leve.
Tireoide
O tratamento cirúrgico inclui, princi-
palmente, excisão de massas amiloi-
Trato gastrointestinal des localizadas e excisão de tumores
secretores de citocinas.
Coração
AMILOIDOSE 16

9. AMILOIDOSE AL acometidos. Em alguns pacientes,


apenas um órgão é afetado, enquan-
Como mencionado anteriormente, a
to em outros há amplo envolvimento
amiloidose AL é uma amiloidose de
de vários sistemas. Entretanto, ape-
cadeia leve de imunoglobulina (AL)
sar de múltiplo envolvimento, é im-
na qual as fibrilas são compostas por
portante identificar o local dominante
fragmentos de cadeias leves mo-
de envolvimento.
noclonais. Decorre da discrasia das
células plasmáticas, sendo que os O envolvimento renal acomete cer-
pacientes afetados podem ter ami- ca de 70% dos pacientes com ami-
loidose isolada ou associada a ou- loidose AL, sendo que na maioria
tras discrasias de células plasmáticas das vezes cursam com proteinúria
(como mieloma múltiplo, macroglo- assintomática ou então uma síndro-
bulinemia de Waldenstrom). Todas me nefrótica clinicamente aparente
as formas de amiloidose sistêmica em 50% dos casos. A amiloidose AL
nas quais as fibrilas são derivadas de renal tem as mesmas manifestações
cadeias leves monoclonais, indepen- da amiloidose AA renal, mas com um
dentemente da natureza do distúrbio prognóstico pior.
subjacente das células plasmáticas O envolvimento cardíaco, principal-
(por exemplo, gamopatia monoclonal mente a cardiomiopatia restritiva, é
de significado indeterminado, mielo- observado em cerca de 60% dos pa-
ma múltiplo ou macroglobulinemia de cientes e é tipicamente caracterizado
Waldenstrom) são consideradas ami- pelo espessamento do septo inter-
loidose AL. A amiloidose AL é um dis- ventricular e da parede ventricular,
túrbio incomum e a incidência exata como visto na figura do tópico “ami-
é desconhecida. Sabe-se que ocor- loidose cardíaca”, logo abaixo. Essa é
re mais em indivíduos idosos, sendo uma alteração que pode levar a dis-
a idade média no diagnóstico de 64 função sistólica ou diastólica e aos
anos e menos de 5% dos pacientes sintomas de insuficiência cardíaca.
têm menos de 40 anos. Além disso, Outras manifestações incluem mor-
há uma predominância masculina, te súbita ou síncope devido a arrit-
com uma incidência de 65 a 70% das mia ou bloqueio cardíaco e raramente
amiloidose AL. angina ou infarto devido ao acúmulo
dos depósitos amiloides nas artérias
coronárias. A elevação de peptídeo
Manifestações clínicas
natriurético cerebral (BNP) no soro
A apresentação clínica da amiloidose N-terminal são observados antes do
AL, assim como nas outras, depende início da insuficiência cardíaca clínica
do número e da natureza dos órgãos
AMILOIDOSE 17

e são um marcador do envolvimento e pseudo-obstrução intestinal decor-


cardíaco. rente da dismotilidade.
A neuropatia periférica sensorial e A macroglossia e envolvimento de
motora, também chamada de mista outros músculos também podem
(20%) e/ou neuropatia autonômica ocorrer pela infiltração amiloide dos
(15%) é uma característica proemi- músculos esqueléticos, causando
nente na amiloidose AL. Sintomas aumento visível (pseudo-hipertrofia).
de dormência, parestesia e dor são A língua grande (macroglossia) com
os mais observados. A compressão presença de entalhes laterais na lín-
dos nervos periféricos, especialmen- gua por impacto nos dentes é quase
te o nervo mediano dentro do túnel patognomônico de amiloidose AL.
do carpo pode causar alterações sen- Artropatias, apesar de não comuns,
soriais mais localizadas. Além disso, também podem se desenvolver pelo
sintomas de disfunção intestinal, da mesmo motivo, principalmente em
bexiga e achados de hipotensão or- região de articulação glenoumeral e/
tostática também podem ocorrer se- ou infiltração amiloide em membrana
cundário a danos no sistema nervoso sinovial de estruturas circundantes. O
autônomo. sinal do ombro em almofada mostra-
A organomegalia, como a hepato- da abaixo é um exemplo de artropatia.
megalia, com ou sem esplenome-
galia, é observada em até 70% dos
pacientes. Em 25% dos casos vêm
acompanhada com o aumento sérico
das enzimas hepáticas e com um pa-
drão colestático.
O envolvimento gastrointestinal clíni-
co é raro, ocorrendo em apenas 1%
dos pacientes. Porém, em biópsias
gastrointestinais o achado de depó-
sito amiloide é quase sempre positi-
vo, por se tratar de uma doença sis- Figura 7. Macroglossia em um paciente com amiloidose
AL, com elevações causadas pelo entalhe dos dentes.
têmica. Quando sintomáticos, esses DISPONÍVEL EM: Hochberg, MC et al. Reumatologia. 6ª
pacientes tendem a cursar com san- edição
gramentos (pela fragilidade vascular
e perda de respostas vasomotoras
à lesão), gastroparesia, constipação,
crescimento bacteriano, má absorção
AMILOIDOSE 18

Figura 8. Sinal de ombros em almofada (“shoulder pad sign”) decorrente de depósitos amiloides em articulação gle-
noumeral. DISPONÍVEL EM: https://pt.qwe.wiki/wiki/Shoulder_pad_sign

Manifestações cutâneas,
como púrpuras em região
periorbital (olhos de guaxi-
nim), não são manifestações
comuns, mas podem ocorrer
após realização de manobra
de Valsalva ou por trauma
menor. Quando presentes são
altamente características de
amiloidose AL. Outros sinais
incluem espessamento cero-
so, hematomas fáceis (equi- Figura 9. Nesse paciente com amiloidose AL, os depósitos amiloides
moses) e nódulos ou placas. são vistos abaixo do nariz, ao redor dos lábios e nas pálpebras. Essas
lesões são cerosas e elevadas, e apresentam hemorragia caracterís-
tica. Este paciente também teve artrite amiloide grave e, eventual-
mente, desenvolveu uma discrasia maligna das células plasmáticas.
DISPONÍVEL EM: https://www.uptodate.com/contents/image?ima-
geKey=RHEUM%2F51684&topicKey=HEME%2F6668&search=a-
miloidose&rank=2~150&source=see_link
AMILOIDOSE 19

Diagnóstico
A suspeita da amiloidose AL deve ser
feita em casos de pacientes que se
apresentem com o quadro:
• Proteinúria não diabética;
• Cardiomiopatia restritiva ou in-
suficiência cardíaca congestiva
inexplicável;
• NT-proBNP aumentado na do-
ença de doença cardíaca primária
conhecida;
• Edema inexplicado, hepatoesple-
nomegalia ou síndrome do túnel
do carpo;
• Púrpura inexplicável de face ou
Figura 10. Contusões e equimoses fáceis da pele
na amiloidose AL DISPONÍVEL EM: https://www. pescoço;
uptodate.com/contents/image?imageKey=HEME%-
2F69541&topicKey=HEME%2F6668&search=a- • Macroglossia.
miloidose&rank=2~150&source=see_link

SAIBA MAIS!
A amiloidose AL pode estar diretamente relacionada a diátese hemorrágica. Os mecanismos
propostos incluem deficiência de fator X devido à ligação a fibrilas amiloides, principalmente
no fígado e baço; diminuição da síntese de fatores de coagulação em pacientes com doença
hepática avançada; e doença de Von Willebrand adquirida. Pacientes que não apresentam
nenhuma anormalidade em teste de coagulação, a explicação pode ser simplesmente pela
infiltração amiloide de vasos sanguíneos.

Assim, a avaliação inicial desse pa- de gordura abdominal e biópsia de


ciente deve consistir em eletroforese medula óssea, devido à sua facilida-
de proteínas no soro e na urina com de, conveniência e alto rendimento
imunofixação, análise da razão de ca- são considerados como os primeiros
deia leve (light chain) no soro e uma procedimentos em suspeita de ami-
aspiração de gordura abdominal e bi- loidose AL. Um ou ambos são positi-
ópsia da medula óssea. O aspirado vos em 90% dos pacientes. Porém se
AMILOIDOSE 20

ainda houver suspeita, em casos de possuem alta taxa de sucesso, como:


aspirado e biópsia negativos, o órgão aspirado de gordura abdominal (60 a
afetado deve ser biopsiado. A biópsia 80%), biópsia retal (50 a 70%), bióp-
renal ou hepática é positiva em mais sia de medula óssea (50 a 55%) ou
de 90% dos casos, no entanto, pro- biópsia de pele (50%).
cedimentos menos invasivos também

SAIBA MAIS!
Biópsia gengival muitas vezes não é realizada por ser desconfortável para o paciente e as bi-
ópsias da pele, geralmente, são negativas, a menos que haja envolvimento clínico ou se uma
quantidade considerável de gordura é retirada com a pele.

Tratamento clonal é adequadamente suprimida,


enquanto a macroglossia e função
Como a amiloidose AL é um distúrbio
nervosa periférica tende a melhorar
clonal das células plasmáticas, ela é
de modo lento, quando melhoram.
tratada com quimioterapia para erra-
dicar o clone subjacente. O objetivo Todos os pacientes com amiloidose
do tratamento é suprimir cadeias le- AL recém-diagnosticada precisam
ves monoclonais amiloidogênicas, a ser avaliados para determinar a elegi-
fim de retardar ou interromper a do- bilidade para o transplante autólogo
ença. Entretanto, muitos pacientes de células hematopoiéticas (TCH).
apresentam doença multissistêmica Para pacientes não elegíveis ou mes-
avançada e toleram pobremente a mo elegíveis, a quimioterapia com
quimioterapia. Para avaliar o efeito da melfalana, dexametasona e novos
quimioterapia, são utilizadas medi- medicamentos como bortezomibe e
das quantitativas de cadeias livres no lenalidomida podem ser utilizados a
soro usando imunoensaio Freelite. A fim de conter a doença. Hoje em dia,
quimioterapia deve ser realizada in- muito estudos estão sendo positivos
dividualmente para cada indivíduo, a para o esquema à base de bortezo-
fim de garantir um equilíbrio entre o mibe, podendo ser com ciclofosfa-
ideal da remissão completa da doen- mida, bortezomibe e dexametasona
ça clonal subjacente e minimizar a to- (CyBorD) ou bortezomibe, melfalano
xicidade e a mortalidade relacionadas e dexametasona. Qualquer um dos
ao tratamento. A proteinúria e a fun- dois esquemas escolhidos é feito em
ção hepática frequentemente melho- ciclo de 28 dias.
ram gradualmente quando a doença
AMILOIDOSE 21

AMILOIDOSE AL

A mais comum – 65 anos


Derivadas de cadeias leves da imunoglobulina monoclonal
Pode ser sistêmica ou localizada

DISTÚRBIOS SUBJACENTES MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

Mieloma múltiplo Proteinúria Síndrome do túnel do carpo

Macroglobulinemia de
Síndrome nefrótica Disautonomia
Waldenstrom

Gamopatia monoclonal de
Hepatomegalia Macroglossia
significado indeterminado

Cardiomiopatia restritiva Olhos de guaxinim


TRATAMENTO

Polineuropatia Sinal do ombro em almofada


Quimioterapia

Dexametasona,
DIAGNÓSTICO
melfalana, bortezomibe

Transplante autólogo de células Eletroforese de proteínas no soro


hematopoiéticas (TCH) e na urina, com imunofixação
Aspirado de gordura
abdominal e/ou biópsia
Análise de cadeia leve no soro
10. SISTEMAS
ORGÂNICOS
Amiloidose cardíaca (AC)
A acometimento dos sistemas orgâni-
cos decorrente de amiloidose varia de Existem mais de 30 tipos de proteínas
acordo com o tipo da proteína precur- amiloides conhecidas, mas somente
sora, da distribuição tecidual e a quan- cinco, frequentemente, promovem a
tidade de deposição de amiloide, como deposição de fibrila amiloide no es-
vimos anteriormente. De forma geral, os paço extracelular do coração, levando
envolvimentos mais comuns são cardía- a cardiomiopatia restritiva. São elas:
co, renal, gastrointestinal e cutâneo. imunoglobulina de cadeia leve (AL),
imunoglobulina de cadeia pesada,
transtirretina (ATTR), amiloide sérica
AMILOIDOSE 22

A e apolipoproteína AI. De acordo com • Edema nos membros inferiores;


o tipo de proteína fibrilar depositado, a
• Pressão venosa jugular (PVJ)
amiloidose cardíaca possui diferentes
elevada;
cursos clínicos, prognóstico e formas
distintas de tratamento. A AC relacio- • Congestão hepática, ascite e disp-
nada a depósitos de AL é responsável neia, causadas pela cardiomiopa-
por cerca de 70% dos casos. AL junta- tia restritiva com insuficiência ven-
mente com a ATTR (adquirida ou here- tricular direita predominante;
ditária) determinam mais de 95% das • Sinais e sintomas de baixo débito
AC. A idade média de apresentação cardíaco, por exemplo, pressão de
da AC é diferente, dependendo do tipo pulso diminuída e reabastecimen-
de amiloidose. Pacientes com amiloi- to capilar diminuído (sendo carac-
dose cardíaca de cadeia leve (AL) ge- terísticas de doença avançada);
ralmente apresentam em idade ≥40
anos. Pacientes com amiloidose cardí- • A angina é incomum, embora a
aca ATTR geralmente apresentam em disfunção microvascular seja um
idade ≥60 anos e, geralmente, > 70 achado frequente.
anos. Vale ressaltar, ainda, que a apre-
sentação clínica de pacientes com AC SE LIGA! Deve-se suspeitar de AC
por AL é geralmente pior em relação quando hipertrofia de ventrículo esquer-
aos pacientes com AC por ATTR, mui- do (HVE) inexplicada; estenose aórtica
com características associadas à ami-
to provável pela cardio-citotoxicidade loidose cardíaca; insuficiência cardíaca e
das cadeias leve amiloidogênicas. sinais ou sintomas de AL ou ATTR.
A amiloidose cardíaca geralmente
apresenta sintomas e sinais como:

Figura 11. Visão em eixo longo de um ecocardiograma 2D mostrando hipertrofia ventricular esquerda concêntrica, folhetos
valvares mitral e aórtica espessados ​​e dilatação do átrio esquerdo. DISPONÍVEL EM: https://www.uptodate.com/contents/
image?imageKey=CARD%2F64330&topicKey=HEME%2F6668&search=amiloidose&rank=2~150&source=see_link
AMILOIDOSE 23

Amiloidose renal com CAPD. A deposição recorrente de


amiloide no transplante ocorre em 20
As manifestações clínicas da doença
a 33% dos casos devido à atividade
renal variam com o local e o grau de
continuada da doença subjacente.
envolvimento. Proteinúria e síndro-
me nefrótica, bem como insuficiência
renal, são comuns na amiloidose AL Amiloidose cutânea
e AA e rara na ATTR. No entanto, a
deposição primária pode ser limita- A deposição de amiloide na pele pode
da aos vasos sanguíneos ou túbulos; ocorrer como um distúrbio limitado
esses pacientes apresentam insufici- pela pele (amiloidose cutânea localiza-
ência renal com pouca ou nenhuma da primária e amiloidose cutânea loca-
proteinúria. A doença renal em estágio lizada secundária). A amiloidose cutâ-
terminal é a causa da morte em uma nea também pode ocorrer como uma
minoria de pacientes. Pacientes com manifestação de amiloidose sistêmica,
amiloidose renal que evoluem para mais frequentemente na amiloidose
doença renal terminal (DRT) podem da cadeia leve da imunoglobulina (AL).
ser tratados com diálise ou transplan- Entretanto, os tipos de amiloide que
te renal. A hemodiálise e a diálise pe- estão associados a amiloidose cutânea
ritoneal ambulatorial contínua (CAPD) são AK, AL, AA, microglobulina β-2 e
parecem ser igualmente eficazes, com ATTR. Abaixo estão descritos os tipos
os fatores limitantes sendo o grau de de amiloides que estão relacionados a
deposição extrarrenal de amiloide, hi- amiloidose cutânea localizada ou de-
potensão com hemodiálise e peritonite corrente de amiloidose sistêmica.

AMILOIDOSE CUTÂNEA LOCALIZADA

Amiloidose cutânea localizada primária:


Amiloidose macular (AK)
Amiloidose liquenoide (AK)
Amiloidose nodular (AL)
Amiloidose cutânea primária familiar (AK)

Amiloidose cutânea localizada secundária (predomínio de AK)

Os depósitos amiloides na amiloidose A amiloidose macular se apresenta


macular e no líquen amiloidótico são por placas finas e hiperpigmentadas,
derivados de proteínas de filamentos geralmente contendo estrias cinza-a-
intermediários de queratina. cinzentadas onduladas e, geralmente,
AMILOIDOSE 24

pruriginosas. Os locais típicos de pruriginosas e que coalescem para


apresentação são região escapu- formar placas com aparência ondula-
lar e superfície extensora dos mem- da. As placas geralmente são locali-
bros. Já o líquen amiloidótico aparece zadas em superfícies extensoras dos
como pápulas discretas, cor da pele membros, principalmente em região
a hiperpigmentadas, escamosas, de canela.

A B

Figura 12. A imagem A representa amiloidose macular e B amiloidose liquenoide. DISPONÍVEIS EM: ht-
tps://www.uptodate.com/contents/image?imageKey=DERM%2F94945~DERM%2F94944~DERM%-
2F94972&topicKey=DERM%2F13759&search=amiloidose&rank=10~150&source=see_link e https://www.
uptodate.com/contents/image?imageKey=DERM%2F109622~DERM%2F109623~DERM%2F109624~-
DERM%2F94971~DERM%2F94969&topicKey=DERM%2F13759&search=amiloidose&rank=10~150&source=see_link

A amiloidose nodular (também co-


nhecida como amiloidose tumefativa)
é rara, ocorrendo com menos frequ-
ência do que a amiloidose macular e a
amiloidose liquenoide. Decorre de ca-
deias leves da imunoglobulina, como
já visto. Se apresenta como nódulos
ou placas cerosas, não pruriginosas,
solitárias ou múltiplas e se localizam,
principalmente, na cabeça, tronco ou
extremidades.
Figura 13. Placas cerosas nos pés em um paciente
com amiloidose nodular. DISPONÍVEL EM: https://
www.uptodate.com/contents/image?imageKey=DER-
M%2F109625~DERM%2F109626&topicKey=DER-
M%2F13759&search=amiloidose&rank=10~150&-
source=see_link
AMILOIDOSE 25

AMILOIDOSE SISTÊMICA DE ENVOLVIMENTO CUTÂNEO

Amiloidose de cadeia leve de imunoglobulina (AL)

Amiloidose AA

Amiloidose relacionada à diálise (microglobulina-β2)

Amiloidose hereditária (ATTR mais comum)

Cerca de 40% dos pacientes com região de junções mucocutâneas,


amiloidose AL sistêmica apresen- como órbitas, narinas, lábios e ge-
tam manifestações cutâneas. A le- nitálias. Aparecimento de púrpuras
sões mais comuns incluem pápulas também são comuns, decorrente da
brilhantes ou com aparência de cera, fragilidade dos vasos pelo depósito
que parecem translucidas e podem vascular de amiloides, principalmente
se assemelhar a vesículas ou peque- em pálpebras.
nas bolhas. Tendem a aparecer em

A B

Figura 14. Em A, múltiplas máculas purpúricas periorbitais. Em B, presença de púrpuras em região de junção muco-
-cutânea, além do achado de macroglossia com entalhes em região lateral. DISPONÍVEL EM: https://www.uptodate.
com/contents/image?imageKey=DERM%2F77887~RHEUM%2F51684&topicKey=DERM%2F13759&search=a-
miloidose&rank=10~150&source=see_link e https://www.uptodate.com/contents/image?imageKey=DERM%-
2F65060~HEME%2F79126&topicKey=DERM%2F13759&search=amiloidose&rank=10~150&source=see_link
AMILOIDOSE 26

Envolvimento cutâneo em amiloidose ou infarto, fragilidade vascular ou


AA e associada à diálise são raras. Em lesões na mucosa.
relação às amiloidoses hereditárias, a
• Má absorção: pode ocorrer devido
mais comum é a ATTR. Essa última se
a infiltração da mucosa, insufici-
manifesta cicatrizes atróficas, úlceras
ência pancreática ou crescimento
persistentes ou petéquias.
bacteriano e apresentam perda de
peso, diarreia ou esteatorreia.
Amiloidose gastrointestinal • Gastroenteropatia com per-
A amiloidose do trato gastrointestinal da de proteínas: vai se apresen-
pode ser limitada ao intestino ou parte tar com diarreia, edema, ascite,
do envolvimento sistêmico. A doença derrame pleural ou pericárdio,
gastrointestinal está presente em até com evidências laboratoriais de
60% dos pacientes com AA. Em re- hipoalbuminemia.
lação à AL, o envolvimento do trato • Dismotilidade gástrica crônica: sín-
gastrointestinal parece ser menos co- drome menos frequente. Os pa-
mum, ocorrendo em 1 a 8% dos pa- cientes se apresentam com cons-
cientes. Na amiloidose senil, apesar tipação, náuseas, vômitos, dor
do envolvimento cardíaco ser o mais abdominal, inchaço ou pseudo-
comum, o envolvimento do trato gas- -obstrução crônica.
trointestinal também é comum.
A doença gastrointestinal na amiloi-
dose resulta da infiltração da muco-
sa ou da infiltração neuromuscular.
Além disso, uma neuropatia autonô-
mica extrínseca também pode afetar
a função intestinal. Os locais mais co-
muns de infiltração da mucosa são a
segunda parte do duodeno (100%), o
estômago e o colo (> 90%) e o esôfa-
go (aproximadamente 70%).
O paciente com amiloidose do trato Figura 15. Biópsia endoscópica do epitélio duo-
gastrointestinal geralmente apresen- denal nodular corado com hematoxilina e eosi-
na. Observe o depósito amorfo rosa na lâmina
ta uma das quatro síndromes: própria (seta). DISPONÍVEL EM: https://www.
uptodate.com/contents/image?imageKey=GAST%-
• Sangramento gastrointestinal: pre- 2F81395~GAST%2F73928~GAST%2F58003&-
sente em 25 a 45% dos pacientes, topicKey=GAST%2F2642&search=amiloido-
se&rank=6~150&source=see_link
podendo ser causado por isquemia
AMILOIDOSE 27

SE LIGA! A amiloidose hepática pode ser observada em


até 90% dos pacientes com amiloidose AL e 60% nos pa-
cientes com amiloidose AA. As manifestações clínicas são,
geralmente, leves, sendo a hepatomegalia (57 a 83%) e
fosfatase alcalina elevada (86%) os achados mais comuns.
Outros sintomas (inespecíficos) são mais comuns, como fa-
diga, perda peso e anorexia devido a amiloidose sistêmica.
Doença hepática crônica e hipertensão portal são raras.

Abaixo estão descritos os exames complementares,


respectivos, para avaliar o envolvimento clínico dos
órgãos.

RIM

Urina de 24 h, eletroforese de proteínas, creatinina, albumina sérica e TFG estimada

CORAÇÃO

Troponina T, NT-proBNP, ecocardiograma e ECG

FÍGADO

Fosfatase alcalina, USG ou TC em casos de suspeita clínica de envolvimento

SISTEMA DE COAGULAÇÃO

Níveis do fator X, tempo de protrombina (TP) e tempo parcial de tromboplastina (TPP)


AMILOIDOSE 28

SISTEMAS ORGÂNICOS

AMILOIDOSE CARDÍACA AMILOIDOSE CUTÂNEA

AL (70%) ATTR AA APO I LOCALIZADA

Cardiomiopatia restritiva PRIMÁRIA

Insuficiência ventricular esquerda Macular (AK) Liquenoide (AK)

Edema de MMII PVJ elevada Nodular (AL) Familiar (AK)

Congestão Sinais e sintomas


SECUNDÁRIA (predomínio AK)
hepática, ascite de baixo débito

Dispneia Angina (incomum) SISTÊMICA

ATTR AL AA Microglobulina β2
AMILOIDOSE RENAL

AL AA ATTR (rara) AMILOIDOSE GASTROINTESTINAL

Proteinúria e síndrome nefrótica AA AL ASS (senil)

Evolução para DR terminal Sangramento gastrointestinal

Diálise ou transplante renal Má absorção

Gastroenteropatia

Dismotilidade gástrica
AMILOIDOSE 29

AMILOIDOSE AL AMILOIDOSE AA

Mais comum ≈ 65 anos CAUSAS SUBJACENTES

Deposição
Light chain de uma A + proteína
de proteínas Artrite reumatoide
imunoglobulina monoclonal precursora
amiloides

NOMEN- AIJ FFM


DEFINIÇÃO
CAUSAS SUBJACENTES CLATURA

Espondiloartrite anquilosante
Síndrome nefrótica

AMILOIDOSES
Hepatomegalia MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

Cardiomiopatia restritiva Síndrome nefrótica


BIÓPSIAS

Polineuropatia Hepatomegalia

Renal
Aumento ou diminuição do rim
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Renal Glândulas Gordura
salivares abdominal
Glândulas
salivares Insuficiência cardíaca rara
Síndrome nefrótica
Renal Glândulas Gordura
salivares abdominal
Gordura
Renal Gordura
Glândulasabdominal
Hepatomegalia Reto TRATAMENTO
salivares abdominal
Gastroduodenal
Renal Glândulas Gordura
abdominal
Cardiomiopatia Glândulas Gordura
salivares
Renalrestritiva Gastroduodenal
Reto
Controle da doença
Gastroduodenal
salivares abdominal

Gastroduodenal Reto
Polineuropatia Colchicina em casos de FFM
Reto
Gastroduodenal Reto
Macroglossia
Gastroduodenal Reto

Artropatias
AMILOIDOSE 30

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
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Gorevic, PD. Treatment of AA (secondary) amyloidosis. Uptodate, 2020.
AMILOIDOSE 31

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