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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO MESQUITA FILHO” -

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

DISCENTE: Ícaro Busch Molon Rigo RA: 201221403


DOCENTE: Prof. Dr. Marcelo Passini Mariano
DISCIPLINA: Metodologia das Relações Internacionais
CURSO: Relações Internacionais - 2°ano (Noturno)

APONTAMENTO - Como se faz uma tese de Umberto Eco

1. O que é uma tese?


1.1. Segundo o autor, uma tese “consiste num trabalho datilografado, com extensão
média variando entre cem e quatrocentas laudas, no qual o estudante aborda
um problema relacionado com o ramo de estudos em que pretende formar-se”
(p. 1, §1)
1.1.1. O objetivo principal é, muitas vezes, levantar um debate a partir da
produção e elaboração da tese.
1.1.2. O relator é o responsável por atestar a qualidade da pesquisa. A nota
pode variar de 66 à 110, com louvor.
1.2. O PhD encaminha o estudante à vida acadêmica. As pesquisas em cima das
teses demandam tempo.
1.2.1. Por quê?
1.2.1.1. “É necessário ‘descobrir’ algo que ainda não foi dito por eles.
Quando se fala em ‘descoberta’, em especial no campo
humanista, não cogitamos de invenções revolucionárias como a
descoberta da fissão do átomo, a teoria da relatividade ou uma
vacina contra o câncer: podem ser descobertas mais modestas,
considerando-se resultado ‘científico’ até mesmo uma maneira
nova de ler e entender um texto clássico, a identificação de um
manuscrito que lança nova luz sobre a biografia de um autor,
uma reorganização e releitura de estudos precedentes que
conduzem a maturação e sistematização das idéias que se
encontravam dispersas em outros textos. Em qualquer caso, o
estudioso deve produzir um trabalho que, teoricamente, os
outros estudiosos do ramo não deveriam ignorar, porquanto diz
algo de novo sobre o assunto” (p. 2, §4)
1.3. Existem teses de pesquisa e teses de compilação. (p. 2-3)
1.3.1. A tese de compilação tem como objetivo elencar e demonstrar,
criticamente, os pontos de vistas e análises abordadas pelas obras de
estudo de determinada área, oferecendo um olhar diferenciado àquelas
pessoas que não estudaram tal tema com profundidade.
1.3.2. A escolha entre uma e outra deve-se à maturidade e à capacidade de
execução do pesquisador, considerando-se fatores como tempo,
dinheiro e trabalho extra pesquisa, por exemplo.
1.3.3. O fato de você produzir uma tese de compilação não o restringe de
produzir uma tese de pesquisa e vice-versa. (p. 3, §4)
2. A quem o livro é destinado? (p. 4, §1-3)
2.1. Destina-se àqueles que têm o interesse de se dedicar ao estudo, mesmo que por
algumas horas do dia, e que sua tese possa lhe dar, de certa forma, uma
satisfação intelectual e que os sirva para o período pós-formatura. É destacado
com veemência a importância de um trabalho sério.
2.2. Metáfora da coleção de figurinhas: “basta fixar o tema, os critérios de
catalogação, os limites históricos da coleção” (p. 4, §3)
3. Como uma tese pode servir também após a formatura:
3.1. Duas maneiras: fazer dela um princípio de pesquisa mais ampla (tendo
interesse e oportunidade para isso);
3.2. Elaborar uma tese significa: “(l) identificar um tema preciso; (2) recolher
documentação sobre ele; (3) pôr em ordem estes documentos; (4) reexaminar
em primeira mão o tema a luz da documentação recolhida; (5) dar forma
orgânica a todas as reflexões precedentes; (6) empenhar-se para que' o leitor
compreenda o que se quis dizer e possa. se for o caso. recorrer a mesma
documentação a fim de retomar o tema por conta própria” (p. 5, §1-2)
3.2.1. Ou seja, é aprender a pôr ordem às suas ideias, desenvolvendo-as de
forma metódica, a fim de que qualquer outro leitor possa entender o
caminho ao qual se está trilhando para chegar à análise. “É como
exercitar a memória” (p. 5, §2-4). O significado da produção da tese se
encontra, de forma específica, na página 5 e no parágrafo 2.
3.2.2. “Trabalhando-se bem. não existe tema que seja verdadeiramente
estúpido” (p. 5, §4), sempre se pode tirar conclusões úteis de qualquer
tema.
4. As quatro regras:
4.1. Partem do princípio de que haja uma ajuda mútua entre o candidato e o
professor; o candidato tem de ser movido pelo interesse de uma pesquisa bem
executada e o professor deve estar disposto a ajudá-lo.
4.2. “1) Que o tema responda aos interesses do candidato (ligado tanto ao tipo de
exame quanto às suas leituras, sua atitude política, cultural ou religiosa). 2)
Que as fontes de consulta sejam acessíveis, isto é, estejam ao alcance material
do candidato; 3) Que as fontes de consulta sejam manejáveis, ou seja, estejam
a alcance cultural do candidato; 4) Que a quadra metodológica da pesquisa
esteja ao alcance da experiência do candidato.” (p. 6)
5. Teses monográficas versus Teses panorâmicas:
5.1. O autor adverte sobre temas muito abrangentes: por conterem grande
conglomerado de fatos, torna-se bastante provável que certos pontos escapem
ou sejam pouco desenvolvidos na pesquisa, dando brecha para que o relator
questione de forma veemente ou até critique.
5.1.1. A especificação dos estudos produzem temas mais valiosos.
5.1.2. Tomar cuidado com a utilização de conceitos (ex. símbolo; conceitos
que podem ter compreensões pessoais diversas).
5.2. Por outro lado, uma tese muito restrita poderia limitar-se pelo pouco material
que o pesquisador poderia encontrar.
5.3. O melhor seria um meio-termo; explicado na p. 9, § 2.
5.3.1. Uma tese panorâmica sem se tornar rigorosamente monográfica.
5.3.1.1. “Que fazer uma tese rigorosamente monográfica não significa
perder de vista o panorama” (p. 10, §3).
6. Tese histórica versus Tese teórica:
6.1. O campo das Relações Internacionais pode desenvolver teses de ambos os
tipos.
6.2. “Uma tese teórica é aquela que se propõe atacar um problema abstrato, que
pode já ter sido ou não objeto de outras reflexões: natureza da vontade
humana, o conceito de liberdade, a noção de papel social, a existência de
Deus, o código genético” (p. 11, §2).
6.3. Teses históricas têm certas armadilhas;
6.3.1. O pesquisador pode acabar por produzir teses, acerca de temas que
requerem páginas e mais páginas de retóricas (Deus, liberdade, etc.),
demasiadamente sucintas. (p. 11, §3-4)
6.3.2. Humildade científica: uma virtude dos orgulhosos.
6.3.2.1. Sempre tomar de apoio outros autores - metáfora do anão no
ombro dos gigantes. (p. 11-12)
7. Temas antigo versus Temas contemporâneos:
7.1. Autores contemporâneos são sempre mais difíceis.
7.1.1. Bibliografia mais reduzida e, por vezes, não organizada, seu
pensamento pode ainda não estar maduro o suficiente e falta de
perspectiva podem tornar o trabalho mais difícil.
7.2. O autor antigo, por mais que induza uma leitura mais cansativa, tem um
quadro bibliográfico completo e, dessa forma, consegue abastecer as
necessidades de pesquisa do aluno. “Contudo, se a tese for entendida como a
ocasião para aprender a elaborar uma pesquisa, o autor antigo coloca maiores
obstáculos” (p. 13, §4)
7.3. Conselho do autor: “Trabalhe sobre um contemporânea como se fosse um
antigo, e vice-versa. Será mais agradável e você fará um trabalho mais sério”
(p. 13, §7)
8. O tempo para se produzir uma tese: não mais que 3 anos e não menos que 6 meses;
isso pode ser condicionado pelas 4 regras básicas supracitadas.
8.1. Requisitos para uma boa tese de 6 meses:
8.1.1. “1) o tema deve ser circunscrito; 2) o tema deve ser, se possível, atual,
não exigindo bibliografia que remete aos gregos; ou deve ser tema
marginal, sobre o qual pouca coisa foi escrita; 3) todos os documentos
devem estar disponíveis num local determinado.” (p. 16)
8.1.2. Lembrando que a produção em 6 meses deve ser algo não usual.
9. As teses e línguas estrangeiras.
9.1. Não se faz necessário saber línguas estrangeiras para produzir uma tese.
9.2. A própria tese pode ser um condicionante para o aluno começar a estudar a
língua em questão.
9.3. O problema principal, segundo o autor, é: “Preciso escolher uma tese que não
implique o conhecimento de línguas que não sei ou que não estou disposto a
aprender” (p. 17, §7).
9.4. Pontos a serem levados em consideração com a relação tese-língua
estrangeira:
9.4.1. 1) Autores estrangeiros que sejam centro das teses devem ser lidos em
sua língua de origem. (p. 17-18, §8-1)
9.4.2. 2) “Não se pode fazer uma tese sobre determinado assunto se as obras
mais importantes a seu respeito foram escritas numa língua que
ignoramos” (p. 18, §2)
9.4.3. 3) “Não se pode fazer uma tese sobre um autor ou sobre um tema lendo
apenas obras escritas nas línguas que conhecemos” (p; 18, §3)
9.5. Conclusão importantíssima: antes de se fechar o tema de pesquisa, faz-se
necessário debruçar-se na bibliografia a ser trabalhada para avaliar se há
qualquer impasse linguístico.
10. Tese “científica” ou tese política.
10.1. Nas universidades, segundo o autor, um estudo é científico quando responde
aos seguintes requisitos: (p. 22-25)
10.1.1. “O estudo debruça-se sobre um objeto reconhecível, definido de tal
maneira que seja reconhecível igualmente pelos outros”. (p. 22, §2)
10.1.1.1. Caso a sua existência e análise não seja um consenso,
estabelecendo-se como uma questão de opinião - exemplo do
Centauro - deve-se utilizar de uma abordagem pré-existente
acerca disso - a mitologia clássica, estabelecer um cenário
teórico em que tal tema se encaixe, a partir de pesquisas, ou
considerar e concluir que já existem provas suficientes que
demonstram que eles de fato existem.
10.1.2. “O estudo deve dizer do objeto algo que ainda não foi dito ou rever sob
uma óptica diferente do que já se disse”. (p. 23, §2)
10.1.3. “O estudo deve ser útil aos demais”. (p. 23, §3)
10.1.3.1. “Um trabalho é científico se acrescentar algo ao que a
comunidade já sabia. e se todos os futuros trabalhos sobre o
mesmo tema tiverem que levá-lo em conta, ao menos em
teoria”
10.1.4. “Requisito fundamental: “o estudo deve fornecer elementos para a
verificação e a contestação das hipóteses apresentadas e, portanto, para
uma continuidade pública” (p. 23, §2)
10.1.4.1. Fornecer provas, contar como ocorreu a pesquisa, informar a
maneira de como replicá-la e informar qual seria o principal
ponto de refutação.
10.1.5. Os requisitos da cientificidade podem se aplicar a qualquer análise e
desenvolvimento de pesquisa.
10.2. Segundo o autor: “Não existe oposição entre tese científica e tese política. Por
um lado, pode-se dizer que todo trabalho científico na medida em que
contribui para o desenvolvimento do conhecimento geral tem sempre um valor
político positivo [...]; mas, por outro, cumpre dizer que toda empresa política
com possibilidade de êxito deve possuir uma base de seriedade científica”. (p.
25, §5)
11. Temas histórico-teóricos ou experiências “quentes”?
11.1. Em suma, o aluno deverá realizar o que se sentir mais confortável.
11.1.1. Cuidado com a pesquisa experimental; elas devem seguir padrões e
diretrizes tradicionais de métodos de coleta de dados para que tenham
um resultado verídico. (p. 25-26)
12. Como transformar um assunto de atualidade em tema científico?
12.1. Antes de tudo, devem-se delimitar os âmbitos geográficos e cronológicos do
estudo. Deixá-los explícitos.
12.2. Abordar todos os corpos presentes nessa determinada época e nesse
determinado local. Caso sejam muitos, explicitar os critérios de escolha da
amostra.
12.2.1. Ainda se pode partir de um ponto existente para a elaboração de um
ponto ideal (nesse caso o projeto deve ser orgânico e realista).
12.3. Em seguida, tornar públicos os parâmetros de definição do tema proposto
(exemplo utilizado: rádio livre). Tornar publicamente identificável o objeto de
estudo.
12.4. Descrever a estrutura econômica, política ou jurídica dos corpos analisados.
Assim, se constrói uma análise fidedigna.
12.4.1. Obter dados a partir de fontes confiáveis.
12.4.1.1. Entrevistar pessoas ligadas ao tema de análise.
12.4.1.2. Boletins de análise - boletins de escuta - são partes
fundamentais de uma elaboração de pesquisa. Conhecer aquilo
que se está analisando.
12.5. Após isso, a pesquisa pode tomar alguns rumos diferentes listados nas páginas
31 e 32.
12.5.1. Demonstram que até mesmo temas com pouca bibliografia e acervo
para pesquisa podem ser estudados de forma decente.

REFERÊNCIAS

ECO, Umberto. Que é uma tese e para que serve. In: Como Se Faz Uma Tese. São Paulo:
Editora Perspectiva, 2008. p. 1-6
ECO, Umberto. A Escolha do Tema. In: Como Se Faz Uma Tese. São Paulo: Editora
Perspectiva, 2008. p. 7-34

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