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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE GESTÃO DOS RECURSOS NATURAIS E


MINERALOGIA

ELSA MANUEL ANTÓNIO WERUZANE

CRITÉRIO PARA A DETERMINAÇÃO DA GRAVE LESÃO DO


INTERESSE PUBLICO CONCRETAMENTE PROSSEGUIDO NOS
TERMOS PREVISTOS PELO ARTIGO 132º, N.º 1 DA ALÍNEA B)
DA LPPAC

Trabalho de investigação individual da cadeira de Contencioso Administrativo do Curso


de Direito, 4º Ano, Período Laboral, por orientação do docente da cadeira dr. Justo
Mulembwe.

TETE
NOVEMBRO DE 2021
Índice
Introdução...................................................................................................................................................3

Critérios para a determinação da grave lesão do interesse público concretamente prosseguido, nos termos
previstos pelo artigo 132 do nr1 da al.b) da LPPAC....................................................................................4

Interesse público e Grave lesão na Administração Pública......................................................................4

Critérios aplicáveis para a determinação.................................................................................................8

Conclusão....................................................................................................................................................9

Bibliografia................................................................................................................................................10
Introdução
Neste presente trabalho abordar-se-á sobre a questão dos critérios para a
determinação da grave lesão do interesse público concretamente prosseguido, nos termos
previstos pelo artigo 132 do nr1 da al.b) da LPPAC, pois para que o Tribunal possa satisfazer o
pedido de suspensão da eficácia de um acto administrativo formulado por um particular têm de
verificar-se, além dos pressupostos genéricos do recurso contencioso, determinados requisitos
específicos que a lei expressamente exige para o efeito. São três, de acordo com o art. 132 da
LPPAC que dispõe o seguinte: “a suspensão da eficácia do acto recorrido é concedida pelo
Tribunal quando se verifiquem os seguintes requisitos: A execução do acto cause provavelmente
prejuízo de difícil reparação para orequerente ou para os interesses que este defenda ou venha a
defender no recurso; A suspensão não determine grave lesão do interesse público; Do processo
não resultem fortes indícios da ilegalidade da interposição do recurso.”

Portanto o que nos interessa para o trabalho em causa é a inexistência de grave


lesão do interesse público, pois para ser concedida a suspensão da eficácia de um acto
administrativo, é indispensável, segundo a nossa lei, que se verifique um requisito negativo – que
a concessão da suspensão “não determine grave lesão do interesse público”. Aqui o Tribunal tem
de ponderar se o diferimento da execução do acto para depois da sentença – ou seja, para dali a
meses ou anos – provoca ou não um prejuízo grave para o interesse público (132 do nr1 da al.b)
da LPPAC).

3
Critérios para a determinação da grave lesão do interesse público concretamente
prosseguido, nos termos previstos pelo artigo 132 do nr1 da al.b) da LPPAC
Para melhor compreensão de todos critérios usados para a determinação da grave
lesão do interesse público concretamente prosseguido, nos termos previstos pelo artigo 132 do
nr1 da al.b) da LPPAC, é extremamente essencial conhecer de antemão os conceitos de interesse
público e de lesão grave. Pois sem esses conceitos os critérios seram totalmente ininteligíveis.

Interesse público e Grave lesão na Administração Pública


Segundo Amaral, no Direito Administrativo a grave lesão traduz-se num dano
irreparável do interesse público, isto é, um prejuízo de interesse público que não pode ser
reparado, corrigido ou emendado de qualquer outra forma na administração pública1.

O conceito de interesse público é muito amplo, por isso constitui matéria de


extrema dificuldade entre os doutrinadores. Ainda não se conseguiu definir ao certo o que seria
interesse público, caracterizando, desse modo, um conceito indeterminado. Os significados
variam, pois há aqueles que entendem que é um interesse contraposto ao interesse individual,
outros defendem que é a somatória de interesses individuais, passando pela soma de bens e
serviços, bem como, o conjunto de necessidades humanas indispensáveis na vida do particular.

Como bem disse Celso Antônio Bandeira de Mello, “ao se pensar em interesse
público, pensa-se, habitualmente, em uma categoria contraposta à de interesse privado,
individual, isto é, ao interesse pessoal de cada um. Acerta-se em dizer que se constitui no
interesse do todo, ou seja, do próprio conjunto social, assim como acerta-se também em
sublinhar que não se confunde com a somatória dos interesses individuais, peculiares de cada
qual. Dizer isto, entretanto, é dizer muito pouco para compreender-se verdadeiramente o que é
interesse público”.

1
AMARAL, Diogo Freitas do, "Curso de Direito Administrativo" Vol.2, 2ª Edição, 2012

SOUSA, Marcelo Rebelo / MATOS, André Salgado , " Direito Administrativo Geral, Introdução e Princípios
Fundamentais", Tomo I, 2ª Edição

4
Hector Jorge Escola coloca o tema de forma muito precisa ao afirmar que “a
noção de bem-estar geral encontra seu correlato jurídico na idéia de ‘interesse público’, a qual
pode ser concretizada, agora, sob o fundamento de que existe o interesse público quando, nele,
uma maioria de indivíduos, e em definitivo, cada um pode reconhecer e extrair do mesmo seu
interesse individual (Gordillo), pessoal, direto e atual ou potencial. O interesse público, assim
entendido, é não só a soma de uma maioria de interesses coincidentes, pessoais, diretos, atuais ou
eventuais, mas também o resultado de um interesse emergente da existência da vida em
comunidade, no qual a maioria dos indivíduos reconhece, também, um interesse próprio e
direto”2.

Noberto Bobbio, por sua vez, sustenta a idéia do primado do público, que se
desenvolveu como forma de reação contra a concepção liberal do Estado e que se funda sobre a
“irredutibilidade do bem comum à soma dos bens individuais”, pode assumir diversas formas
“segundo o diverso modo através do qual é entendido o ente coletivo – a nação, a classe, a
comunidade do povo – a favor do qual o indivíduo deve renunciar à própria autonomia”, em
todas essas formas, “é comum a idéia que as guia, resolvível no seguinte princípio: o todo vem
das partes”. Acrescenta o autor que se trata de “uma idéia aristotélica e mais tarde, séculos
depois, hegeliana; segundo ela, a totalidade tem fins não reduzíveis à soma dos fins dos membros
singulares que a compõem e o bem da totalidade, uma vez alcançado, transforma-se no bem das
suas partes, ou, com outras palavras, o máximo bem dos sujeitos é o efeito não da perseguição,
através do esforço pessoal e do antagonismo, do próprio bem por parte de cada um, mas da
contribuição que cada um juntamente com os demais dá solidariamente ao bem comum segundo
as regras que a comunidade toda, ou o grupo dirigente que a representa (por simulação ou na
realidade), se impôs através de seus órgãos autocráticos ou órgãos democráticos”.

Maria Sylvia Zanella Di Pietro, ao tratar de interesse público, dispõe o seguinte:


“as normas de direito público, embora protejam reflexamente o interesse individual, tem o
objetivo primordial de atender ao interesse público, ao bem-estar coletivo. Além disso, pode-se

2
CORREIA, Sérvulo, "Noções de Direito Administrativo"

GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 11º edição. Editora Saraiva. São Paulo, 2006. p. 18.

5
dizer que o direito público somente começou a se desenvolver quando, depois de superados o
primado do Direito Civil (que durou muitos séculos) e o individualismo que tomou conta dos
vários setores da ciência, inclusive a do Direito, substituiu-se a idéia do homem com fim único
do direito (própria do individualismo) pelo princípio que hoje serve de fundamento para todo o
direito público e que vincula a Administração em todas as suas decisões: o de que os interesses
públicos tem supremacia sobre os individuais”.

Assevera a ilustre doutrinadora que, já em fins do século XIX, começaram a surgir


reações contra o individualismo jurídico, como decorrência das profundas transformações
ocorridas nas ordens econômica, social e política, provocadas pelos próprios resultados funestos
daquele individualismo exacerbado. O Direito deixou de ser apenas instrumento de garantia dos
direitos do indivíduo e passou a ser visto como meio para consecução da justiça social, do bem
comum, do bem-estar coletivo. Celso Antônio Bandeira de Mello discorre muito bem sobre o
tema quando sustenta que, na verdade, o interesse público, o interesse do todo, do conjunto
social, nada mais é que a dimensão pública dos interesses individuais, ou seja, dos interesses de
cada indivíduo enquanto partícipe da Sociedade (entificada juridicamente no Estado), nisto se
abrigando também o depósito intertemporal destes mesmos interesses, vale dizer, já agora,
encarados eles em sua continuidade histórica, tendo em vista a sucessividade das gerações de
seus nacionais.3

Assim, define o doutrinador que “o interesse público deve ser conceituado como o
interesse resultante do conjunto dos interesses que os indivíduos pessoalmente têm quando
considerados em sua qualidade de membros da Sociedade e pelo simples fato de o serem”.

Segundo o professor Gustavo Binenbojm, deve o administrador, à luz das


circunstâncias peculiares ao caso concreto, bem como dos valores constitucionais concorrentes,
alcançar solução ótima que realize ao máximo cada um dos interesses públicos em jogo. Como
resultado de um tal raciocínio de ponderação, tem-se aquilo que convencionamos chamar de
melhor interesse público, ou seja, o fim legítimo que orienta a atuação da Administração Pública.
3
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. Editora Malheiros. 32º edição. São Paulo, 2006. p.
ÁVILA, Humberto. Teoria dos Princípios. 9ª ed. Editora Malheiros. São Paulo, 2009.103.

6
Continua o professor dizendo que o melhor interesse público só pode ser obtido a
partir de um procedimento racional que envolve a disciplina constitucional de interesses
individuais e coletivos específicos, bem como um juízo de ponderação que permita a realização
de todos eles na maior extensão possível. O instrumento deste raciocínio ponderativo é o
postulado da proporcionalidade.

Diante disso, podemos notar a variedade de conceitos entre os doutrinadores.


Entretanto, ficou visível que, enquanto o particular busca a satisfação do seu interesse individual,
por outro lado existe um grupo de pessoas, a que damos o nome de coletividade, que também
busca a satisfação dos interesses de todas essas pessoas inseridas nessa coletividade. Ressalta-se
que, quem tem o dever de satisfazer os interesses dessa coletividade é a Administração Pública,
lembrando que é um objetivo que deve sempre ser seguido por ela, caso contrário, não
estaríamos falando em interesse público, ocasionando, dessa forma, em desvio de finalidade
pública.

Como bem adverte Raquel de Carvalho, a única superioridade que se entende


legítima é aquela pertinente ao interesse comum do conjunto de cidadãos em relação ao interesse
individual de cada uma das pessoas que integram uma dada sociedade4.

Por fim, vale elucidar melhor a idéia de interesse público com as palavras de
Maria Sylvia Zanella Di Pietro ao assinalar que, em nome do primado do interesse público,
inúmeras transformações ocorreram: houve uma ampliação das atividades assumidas pelo Estado
para atender às necessidades coletivas, com a conseqüente ampliação do próprio conceito de
serviço público. O mesmo ocorreu com o poder de polícia do Estado, que deixou de impor
obrigações apenas negativas (não fazer) visando resguardar a ordem pública, e passou a impor
obrigações positivas, além de ampliar o seu campo de atuação, que passou a abranger, além da
ordem pública, também a ordem econômica e social. Surgem, no plano constitucional, novos
preceitos que revelam a interferência crescente do Estado na vida econômica e no direito de
propriedade. Assim, são as normas que permitem a desapropriação para a justa distribuição da

4
BARROSO, Luis Roberto. Prefacio à obra Interesses Públicos versus Interesses Privados: desconstruindo o
princípio de supremacia do interesse público. 2ª tiragem. Editora Lúmen Júris. Rio de Janeiro, 2007.

7
propriedade. Cresce a preocupação com os interesses difusos, como o meio ambiente e o
patrimônio histórico e artístico nacional.

Portanto, o princípio do interesse público está na base de todas as funções do


Estado, por isso ele constitui fundamento essencial em todos os ramos de direito público.
Ademais o Estado tem o dever de perseguir a realização do interesse público, o qual representa
um princípio basilar de uma sociedade democrática. Cabe ainda ressaltar que, todo ato
administrativo deve ter uma finalidade, isto é, exposição de qual interesse pretende-se atingir,
além disso, este ato deve ser pautado pela motivação e legalidade5.

Critérios aplicáveis para a determinação


Depois de tudo exposto acima, cabe agora trazer os critérios para a determinação
da grave lesão do interesse público concretamente prosseguido, nos termos previstos pelo artigo
132 do nr1 da al.b) da LPPAC, que são: Primeiro Critério: Quando cause dano irreparável
naquilo que o povo quer ver preservado, devido um conjunto de valores anteriores e para isso
haveria amplos debates políticos e pela sua análise no caso concreto, em um contexto específico,
existirá uma maior facilidade em perceber o interesse público; Segundo Critério: Quando cause
dano irreparável naquilo que define metas de execução, com o intuito de assegurar e regular o
funcionamento da economia e metas de realização que se referem ao conteúdo prático de
interesse público, como a educação, a defesa, entre outros; Terceiro Critério: Quando cause
dano irreparável naquilo que está em consonância com os valores supremos impostos pelo
estado. Perspectiva típica de Estados Democráticos

Conclusão
Neste trabalho concluí-se que os critérios para a determinação da grave lesão do
interesse público concretamente prosseguido, nos termos previstos pelo artigo 132 do nr1 da
al.b) da LPPAC são meramente exemplicativos visto que o interesse público é um conceito
muito amplo, por isso constitui matéria de extrema dificuldade entre os doutrinadores pois, ainda
não se conseguiu definir ao certo o que seria interesse público, caracterizando, desse modo, um

5
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 19º edição. Editora Malheiros. São Paulo,
2005.

8
conceito indeterminado. Portanto a lei confere aos particulares que recorram ou tencionem
recorre de um acto administrativo definitivo e executório perante um Tribunal Administrativo o
direito de pedirem ao juiz a suspensão da eficácia do acto, desde que se verifiquem determinados
requisitos. Se o Tribunal decretar a suspensão, isso significa que o acto administrativo em causa
fica suspenso – isto é, não produz quaisquer efeitos – durante todo o tempo que levar a julgar o
recurso contencioso de anulação, e só retomará a sua eficácia se e quando o Tribunal, decidindo
o recurso, negar razão ao recorrente, recusando-se a anular o acto recorrido.

Para evitar que a anulação tardia do acto recorrido já não traga qualquer benefício
útil ao recorrente, a lei prevê o instituto da suspensão da eficácia dos actos administrativos:
mediante este meio processual acessório, o Tribunal, se se verificarem os requisitos legalmente
exigidos, determina logo de início a ineficácia do acto, e isso impede que a Administração,
usando do privilégio da execução prévia, o execute antes da sentença. O acto, se o Tribunal
decidir suspender a sua eficácia, não será executado enquanto durar o processo; e, no final, ou o
Tribunal anula o acto e este já não pode ser executado contra o particular, ou o Tribunal nega
provimento ao recurso, confirmando o acto recorrido, e só então é que a Administração poderá
executar o acto. É o meio processual acessório pelo qual o particular pede ao Tribunal que
ordene a ineficácia temporária de um acto administrativo, de que se interpôs ou vai interpor-se
recurso contencioso de anulação, a fim de evitar os prejuízos que para o particular adviriam da
execução imediata do acto.

Bibliografia
AMARAL, Diogo Freitas do, "Curso de Direito Administrativo" Vol.2, 2ª Edição, 2012

SOUSA, Marcelo Rebelo / MATOS, André Salgado , " Direito Administrativo Geral, Introdução
e Princípios Fundamentais", Tomo I, 2ª Edição

CORREIA, Sérvulo , "Noções de Direito Administrativo"

9
GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 11º edição. Editora Saraiva. São Paulo, 2006. p.
18.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. Editora Malheiros. 32º edição. São
Paulo, 2006. p. 103.

CARVALHO, Raquel Melo Urbano de. Curso de Direito Administrativo. Editora Jus Podivrm.
Salvador, 2008, pag. 72.

ÁVILA, Humberto. Teoria dos Princípios. 9ª ed. Editora Malheiros. São Paulo, 2009.

BARROSO, Luis Roberto. Prefacio à obra Interesses Públicos versus Interesses Privados:
desconstruindo o princípio de supremacia do interesse público. 2ª tiragem. Editora Lúmen Júris.
Rio de Janeiro, 2007.

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 19º edição. Editora
Malheiros. São Paulo, 2005.

10

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