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PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

MÓDULO: TEMAS ATUAIS E POLÊMICOS DO PROCESSO DO TRABALHO

Professora: Elisabete Vido

1. Material pré-aula

a. Tema

Diálogo das Fontes entre o Direito Empresarial e o Direito Processual


do Trabalho.

b. Noções Gerais

Em artigo publicado, o jurista José Ricardo Alvarez Vianna assevera


que “não raras vezes o operador do Direito se vê diante de uma série
de comandos normativos, muitos deles contraditórios e conflitantes
entre si, cuja solução nem sempre encontra resposta adequada pelos
critérios tradicionais de superação de antinomias. Outras vezes,
mesmo quando os métodos clássicos fornecem uma resposta jurídica
tecnicamente correta, esta pode conduzir a resultados incoerentes e
em confronto com as diretrizes do sistema, em especial com os
fundamentos Constitucionais, o que não deixa de representar um
retrocesso.

É neste cenário de inumeráveis Fontes do Direito, sobretudo leis,


contendo em seu interior regras e princípios, com suas
características, finalidades e efeitos próprios e, por vezes,
contraditórios que emerge a Teoria do Diálogo das Fontes, a orientar
o intérprete e aplicador do Direito em busca da decisão "correta" ou,
ao menos, da "constitucionalmente adequada”1.

O Desembargador Sergio Pinto Martins leciona que o estudo das


fontes do Direito pode ter várias acepções, como sua origem,


1
VIANNA, José Ricardo Alvarez. A teoria do diálogo das fontes. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-
4862, Teresina, ano 16, n. 2755, 16 jan. 2011. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/18279>.
Acesso em: 3 nov. 2018.

fundamento de validade das normas jurídicas e a própria


2
exteriorização do Direito .

Fontes Materiais referem-se aos fatores sociais, econômicos,


políticos, filosóficos e históricos que deram origem ao direito
influenciando na criação das normas jurídicas.

Fontes Formais, de acordo com Bezerra Leite, são entendidas como


as formas de manifestação do Direito no sistema jurídico, pertinentes
assim à exteriorização das normas jurídicas3.

São aquelas que lhe conferem o caráter de direito positivo. Noutro


falar, as fontes formais são aquelas que estão positivadas no
ordenamento jurídico.

Quando tratamos das fontes formais do Direito Processual do


Trabalho, devemos analisar as normas que regulam o processo
trabalhista em si, bem como as normas que regem a relação jurídica
material em discussão no processo judicial.

Martins leciona ainda que as fontes podem ser classificadas em


heterônomas e autônomas.

Fontes Heterônomas são as impostas por agente externo. Exemplos:


constituição, leis, decretos, sentença normativa, regulamento de
empresa, quando unilateral.

Por sua vez, fontes autônomas são as elaboradas pelos próprios


interessados. Exemplos: costume, a convenção e o acordo coletivo,
regulamento de empresa (quando bilateral), contrato de trabalho4.

No Direito Empresarial, além do Código Comercial (normas sobre o


comércio marítimo) e do Código Civil (normas empresariais gerais),
bem como o Código de Processo Civil, podemos destacar outros
diplomas legislativos que também ostentam fontes formais primárias.


2
MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho: Doutrina e Prática Forense. 39ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2017. p.73.
3
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 14ª ed. São Paulo: Saraiva,
2016, p. 40.
4
MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho: Doutrina e Prática Forense. 39ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2017. p.74.

Não se trata de um código, mas de microssistemas legislativos que se


limitam a disciplinar uma área específica desse ramo do direito.
Podem ser citadas, por exemplo, a Lei 8.934/1994, que trata do
registro de empresas; a Lei 6.404/1976, que trata das sociedades por
ações; Lei Complementar 123/2006, que trata das microempresas e
empresas de pequeno porte; a Lei 11.101/2005, que trata dos
procedimentos de falência e de recuperação de empresas; dentre
outras.

De um modo geral, tanto para o Direito Processual do Trabalho, como


para o Direito Empresarial, a lei e a jurisprudência figuram como
fontes formais Estatais do Direito, enquanto a doutrina, os costumes
e os negócios jurídicos são fontes formais não estatais.

O certo é, que não raras vezes as Fontes do Direito entram em


colisão entre si. Como se sabem existem métodos e critérios jurídicos
próprios para sanar essas contradições.

No caso de conflito de leis, verdadeiras antinomias, temos três


critérios para solucionar o conflito:

a) Critério temporal – a lei posterior revoga a anterior, devendo a lei


posterior prevalecer sobre a anterior;
b) Critério Hierárquico – a lei superior prevalece sobre a inferior,
como o caso da Constituição perante as demais disposições
normativas;
c) Critério especial – a lei de conteúdo especial, especifico, prevalece
sobre a lei de conteúdo genérico.

Ocorre que muitas vezes esses critérios podem não propiciar soluções
jurídicas que se revelem adequadas ao tema estudado, e nesse
cenário, em que as técnicas de solução de conflitos falham em nos
dar uma solução social adequada é que emerge a Teoria do Diálogo
das Fontes.

A Teoria do Diálogo entre as Fontes foi trazida para o Brasil pela


professora Cláudia Lima Marques, e sua aplicação tem sido muito
observada em situações que envolvem o Direito Civil e outra área do
Direito.

A solução apontada pela Teoria do Diálogo das Fontes, ao se deparar


com situações que se sujeitam à aplicação concomitante de duas ou
mais leis, não passa por especialidade, temporalidade ou nível
hierárquico, mas partem da análise da situação fática, buscando-se
identificar a finalidade e a essência do bem jurídico, objeto da lide,
para formular em um processo simbólico, a solução que o caso
reclama, de acordo com os parâmetros jurídicos que regem a
matéria, em sintonia com princípios constitucionais.

Pode-se dizer que, em uma relação jurídica em que existam normas


trabalhistas e normas civilistas incidindo com igual força, devemos
utilizar aquela que melhor represente as aspirações Constitucionais,
ainda que essa norma se encontre prevista no Código Civil, no Código
de Processo Civil, ou em outros diplomas, e seja aparentemente
contrária à CLT.

Ao estudarmos e aplicarmos o Direito Processual do Trabalho,


devemos sempre lembrar do Princípio da Norma mais favorável,
diretamente derivado do Princípio da Proteção. Segundo esse
princípio quanto instrumentos vigorarem ao mesmo tempo e voltados
a regulamentação do mesmo caso concreto, aplicar-se-á aquele que
for mais favorável ao trabalhador.

Lembrando sempre que as fontes do direito não devem ser


apreendidas e interpretadas literal ou isoladamente, mas ao revés,
devem refletir e materializar os fins sociais a que elas dirigem,
conforme entendimento do art. 5º da Lei de Introdução:

Art. 5o Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a


que ela se dirige e às exigências do bem comum.

No entanto, não quer dizer que o magistrado poderá criar um direito


novo para decidir a lide submetida à sua análise, gerando assim, uma
forte sensação de insegurança jurídica.

O raciocínio do Diálogo das Fontes ressalta que o magistrado para


chegar à decisão correspondente deverá fundamentá-la, externando-

a de forma expressa e racional às partes, a teor do que dispõe o art.


93, IX da CF.

Como nos ensina Mauro Schiavi, para escolher dentre duas regras a
mais efetiva, o intérprete deve se valer dos princípios da equidade,
razoabilidade e proporcionalidade.

Por sua vez, vale dizer que, uma maior aproximação do Processo do
Trabalho com o Processo Civil não desfigura a principiologia do
Processo trabalhista. Ao contrário, possibilita evolução conjunta da
ciência processual. Propiciar ao juiz do trabalho maior flexibilidade
em aplicar fontes diferentes, freia arbitrariedades, com suporte na
equidade e nos amplos poderes de direção do processo conferidos
pelo art. 765 da CLT5.

O juiz do trabalho aplica e interpreta as diferentes fontes normativas


de forma adaptada às contingencias do Direito Processual do
Trabalho.

Do diálogo deverá emergir uma solução para o problema concreto


que se enquadre nos parâmetros Constitucionais, sendo assim não há
que se falar em subjetividade e insegurança jurídica, o Diálogo das
Fontes não se operacionaliza de maneira arbitrária, mas como base
nas premissas, valores e fundamentos presentes na Constituição, que
devem ficar expressos no conteúdo de sua decisão.

A moderna doutrina vem defendendo esse diálogo entre diferentes


fontes, a fim de buscar, por meio de interpretação sistemática
teleológica, os benefícios obtidos na legislação civilista para aplicá-los
ao Processo do Trabalho. Não pode mais o juiz trabalhista ignorar
normas mais efetivas que a CLT, e omitir-se sob o argumento de que
legislação trabalhista não é omissa, uma vez que estão em jogo
interesses maiores, como a importância de um Direito Processual
Trabalhista, como instrumento célere, efetivo, confiável, que garanta
a efetividade da legislação processual e a dignidade da pessoa
humana.


5
SCHIAVI, Mauro. A reforma trabalhista e o processo do trabalho: aspectos processuais da Lei n.
13.467/17. 1ª ed. São Paulo: LTr, 2017. p.46.

Nesse contexto, entende o Tribunal Superior do Trabalho pela


aplicação de diversas regras civilistas ao processo trabalhista. Sendo
assim, a título de estudo, vamos analisar alguns dispositivos que são
por vezes aplicados conjuntamente no Processo do Trabalho.

O conceito de empresário está disposto no art. 966 do CC, in verbis:

Art. 966. Considera-se empresário quem exerce


profissionalmente atividade econômica organizada para a
produção ou a circulação de bens ou de serviços. Parágrafo
único. Não se considera empresário quem exerce profissão
intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda
com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o
exercício da profissão constituir elemento de empresa.

Sobre o tema, importante apresentar o texto do artigo 2º da CLT:

Art. 2º - Considera-se empregador a empresa, individual ou


coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica,
admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço.
§ 1º - Equiparam-se ao empregador, para os efeitos
exclusivos da relação de emprego, os profissionais liberais,
as instituições de beneficência, as associações recreativas ou
outras instituições sem fins lucrativos, que admitirem
trabalhadores como empregados.
§ 2o Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora,
cada uma delas, personalidade jurídica própria, estiverem
sob a direção, controle ou administração de outra, ou ainda
quando, mesmo guardando cada uma sua autonomia,
integrem grupo econômico, serão responsáveis
solidariamente pelas obrigações decorrentes da relação de
emprego. (Redação dada pela Lei nº 13.467, de
2017) (Vigência)
o
§ 3 Não caracteriza grupo econômico a mera identidade de
sócios, sendo necessárias, para a configuração do grupo, a
demonstração do interesse integrado, a efetiva comunhão de
interesses e a atuação conjunta das empresas dele
integrantes. (Incluído pela Lei nº 13.467, de
2017) (Vigência)

O descumprimento das obrigações trabalhistas pelo empresário, é


tema e ato de importante discurso, uma vez que sua ocorrência pode
acarretar tanto na rescisão indireta do contrato de trabalho, quanto
impactar à responsabilidade não só da sociedade, mas também de
seus sócios.

No tocante à rescisão indireta, tem-se que o pagamento do salário ao


empregado pelo empregador é a principal obrigação decorrente da
relação contratual, e o seu inadimplemento implica na aplicação da
alínea d do art. 483, CLT.

Com relação à responsabilidade, apesar de ser originariamente da


sociedade, pode ser transferida aos seus sócios mediante a
desconsideração da personalidade jurídica.

Quanto ao tema, devemos lembrar que a pessoa jurídica não se


confunde com a de seu sócio, tampouco sociedade comercial se
confunde com seus administradores ou acionistas. Não obstante, a lei
atribui ao sócio a responsabilidade patrimonial, nos termos dos arts.
789 e 790, II do CPC:

Art. 789. O devedor responde com todos os seus bens


presentes e futuros para o cumprimento de suas obrigações,
salvo as restrições estabelecidas em lei.

Art. 790. São sujeitos à execução os bens:


(...)
II - do sócio, nos termos da lei;
(...)

De tal forma, os bens dos sócios podem ser chamados para


responder pela execução, uma vez que a responsabilidade do sócio é
patrimonial. Não se trata de despersonalização, mas de
desconsideração temporária da personalidade jurídica, com a
finalidade única de atingir o patrimônio pessoal do sócio.

O primeiro diploma legal a disciplinar a possibilidade de


desconsideração da personalidade jurídica a ser utilizado na Justiça
do Trabalho foi o art. 10 do Decreto 3.708/19. Posteriormente, foi

substituído pelo Código Nacional Tributário, que disciplinou a questão


no art. 135 do CTN:

Art. 135. São pessoalmente responsáveis pelos créditos


correspondentes a obrigações tributárias resultantes de atos
praticados com excesso de poderes ou infração de lei,
contrato social ou estatutos:
I - as pessoas referidas no artigo anterior;
II - os mandatários, prepostos e empregados;
III - os diretores, gerentes ou representantes de pessoas
jurídicas de direito privado.

Atualmente a matéria encontra-se regulamentada pelo art. 28 do


Código de Defesa do Consumidor e pelo art. 50 do Código Civil:

Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica


da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver
abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou
ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A
desconsideração também será efetivada quando houver
falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade
da pessoa jurídica provocados por má administração.
§ 1° (Vetado).
§ 2° As sociedades integrantes dos grupos societários e as
sociedades controladas, são subsidiariamente responsáveis
pelas obrigações decorrentes deste código.
§ 3° As sociedades consorciadas são solidariamente
responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código.
§ 4° As sociedades coligadas só responderão por culpa.
§ 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica
sempre que sua personalidade for, de alguma forma,
obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos
consumidores.

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica,


caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão
patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou
do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo,
que os efeitos de certas e determinadas relações de

obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos


administradores ou sócios da pessoa jurídica.

Atualmente, após a Reforma Trabalhista o legislador entendeu por


bem inserir tal capítulo na própria CLT, que assim regulamenta o
tema:

Art. 855-A. Aplica-se ao processo do trabalho o incidente de


desconsideração da personalidade jurídica previsto nos arts.
133 a 137 da Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 -
Código de Processo Civil. (Incluído pela Lei nº
13.467, de 2017)
§ 1o Da decisão interlocutória que acolher ou rejeitar o
incidente: (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)
I - na fase de cognição, não cabe recurso de imediato, na
forma do § 1o do art. 893 desta
Consolidação; (Incluído pela Lei nº 13.467,
de 2017)
II - na fase de execução, cabe agravo de petição,
independentemente de garantia do
juízo; (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)
III - cabe agravo interno se proferida pelo relator em
incidente instaurado originariamente no
tribunal. (Incluído pela Lei nº 13.467, de
2017)
§ 2o A instauração do incidente suspenderá o processo, sem
prejuízo de concessão da tutela de urgência de natureza
cautelar de que trata o art. 301 da Lei no 13.105, de 16 de
março de 2015 (Código de Processo Civil) (Incluído pela Lei
nº 13.467, de 2017)

No Código de Processo Civil temos:

Art. 133. O incidente de desconsideração da personalidade


jurídica será instaurado a pedido da parte ou do Ministério
Público, quando lhe couber intervir no processo.
§ 1o O pedido de desconsideração da personalidade jurídica
observará os pressupostos previstos em lei.

§ 2o Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese de


desconsideração inversa da personalidade jurídica.

Art. 134. O incidente de desconsideração é cabível em todas


as fases do processo de conhecimento, no cumprimento de
sentença e na execução fundada em título executivo
extrajudicial.
§ 1o A instauração do incidente será imediatamente
comunicada ao distribuidor para as anotações devidas.
§ 2o Dispensa-se a instauração do incidente se a
desconsideração da personalidade jurídica for requerida na
petição inicial, hipótese em que será citado o sócio ou a
pessoa jurídica.
§ 3o A instauração do incidente suspenderá o processo, salvo
na hipótese do § 2o.
§ 4o O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos
pressupostos legais específicos para desconsideração da
personalidade jurídica.

Art. 135. Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica


será citado para manifestar-se e requerer as provas cabíveis
no prazo de 15 (quinze) dias.

Art. 136. Concluída a instrução, se necessária, o incidente


será resolvido por decisão interlocutória.
Parágrafo único. Se a decisão for proferida pelo relator, cabe
agravo interno.

Art. 137. Acolhido o pedido de desconsideração, a alienação


ou a oneração de bens, havida em fraude de execução, será
ineficaz em relação ao requerente.

Mauro Schiavi nos ensina que a teoria da desconsideração da


personalidade jurídica pode ser classificada em subjetiva e objetiva, a
saber6:

Pela teoria subjetiva, também conhecida como Teoria Maior da


desconsideração, os bens dos sócios podem ser atingidos quando:


6
SCHIAVI, Mauro. A reforma trabalhista e o processo do trabalho: aspectos processuais da Lei n.
13.467/17. 1ª ed. São Paulo: LTr, 2017. p.46.

a) A pessoa jurídica não apresentar bens suficientes para pagar suas


dívidas;
b) Atos praticados pelo sócio com abuso do poder, desvio de
finalidade, confusão patrimonial, ou má-fé;

Por sua vez pela teoria objetiva, ou Menor, encampada pela doutrina
e jurisprudência trabalhista, a desconsideração da personalidade
jurídica que disciplina a execução dos bens do sócio, é possível
independentemente dos atos praticados por este, ou por haver abuso
de poder. Basta a pessoa jurídica não possuir bens suficientes para o
pagamento de suas dívidas, para ter o início da execução dos bens do
sócio.

O presente entendimento se justifica em razão da hipossuficiência do


trabalhador, da dificuldade que apresenta o reclamante em
demonstrar a má-fé do empregador, bem como do caráter alimentar
da verba trabalhista.

A professora Elisabete Vido, apontando estudo do professor Mauro


Schiavi, afirma ainda que se aplica ao direito do trabalho a teoria
objetiva, podendo a desconsideração da personalidade jurídica
ocorrer de ofício (Art. 878, CLT) mediante decisão interlocutória
devidamente fundamentada (art. 93, IX, da Constituição
7
Federal/1988) .

Dessa forma, a desconsideração da personalidade jurídica para o


Direito do Trabalho termina por ser a derradeira forma para quitar ou
diminuir o prejuízo causado ao trabalhador.

É nesse exato sentido o esclarecimento do jurista Ives Gandra da


Silva Martins Filho :

“Mas a evolução jurídica verificada após a Revolução


Industrial, com o surgimento do Direito do Trabalho, foi no
sentido de se desconsiderar a personalidade jurídica da
empresa, para atingir os sócios do empreendimento, quando
insuficientes os bens sociais para satisfazer o crédito


7
VIDO, Elisabete. Curso de Direito Empresarial. 6ª ed. São Paulo: RT, 2018.

trabalhista, cuja natureza alimentar e dada a situação de


hipossuficiente do empregado, explicariam essa intervenção
radical nos cânones tradicionais do Direito Civil e Comercial.”

A desconsideração da personalidade jurídica no processo trabalhista


poderá ser levada a efeito em qualquer fase do processo. Não
obstante, o sócio tem o direito de invocar o benefício de ordem,
requerendo que seja excutidos primeiramente os bens da sociedade,
é o que preconiza o art. 795, do CPC:

Art. 795. Os bens particulares dos sócios não respondem


pelas dívidas da sociedade, senão nos casos previstos em lei.
§ 1o O sócio réu, quando responsável pelo pagamento da
dívida da sociedade, tem o direito de exigir que primeiro
sejam excutidos os bens da sociedade.
§ 2o Incumbe ao sócio que alegar o benefício do § 1o nomear
quantos bens da sociedade situados na mesma comarca,
livres e desembargados, bastem para pagar o débito.
§ 3o O sócio que pagar a dívida poderá executar a sociedade
nos autos do mesmo processo.
§ 4o Para a desconsideração da personalidade jurídica é
obrigatória a observância do incidente previsto neste Código.

Sendo assim, a responsabilidade do sócio será subsidiária em face da


pessoa jurídica, no entanto, será solidária entre os sócios, sendo que
cada um deles responderá pela integralidade da dívida, independente
do montante das cotas de cada um na participação societária. Aquele
que pagou integralmente poderá se voltar em face dos demais sócios.

Quanto às sociedades anônimas, é possível a responsabilização dos


diretores e administradores, não sendo possível a responsabilização
dos acionistas, art. 158 da Lei 6.404/76:

Art. 158. O administrador não é pessoalmente responsável


pelas obrigações que contrair em nome da sociedade e em
virtude de ato regular de gestão; responde, porém,
civilmente, pelos prejuízos que causar, quando proceder:
I - dentro de suas atribuições ou poderes, com culpa ou dolo;
II - com violação da lei ou do estatuto.

§ 1º O administrador não é responsável por atos ilícitos de


outros administradores, salvo se com eles for conivente, se
negligenciar em descobri-los ou se, deles tendo
conhecimento, deixar de agir para impedir a sua prática.
Exime-se de responsabilidade o administrador dissidente que
faça consignar sua divergência em ata de reunião do órgão
de administração ou, não sendo possível, dela dê ciência
imediata e por escrito ao órgão da administração, no
conselho fiscal, se em funcionamento, ou à assembléia-geral.
§ 2º Os administradores são solidariamente responsáveis
pelos prejuízos causados em virtude do não cumprimento
dos deveres impostos por lei para assegurar o funcionamento
normal da companhia, ainda que, pelo estatuto, tais deveres
não caibam a todos eles.
§ 3º Nas companhias abertas, a responsabilidade de que
trata o § 2º ficará restrita, ressalvado o disposto no § 4º, aos
administradores que, por disposição do estatuto, tenham
atribuição específica de dar cumprimento àqueles deveres.
§ 4º O administrador que, tendo conhecimento do não
cumprimento desses deveres por seu predecessor, ou pelo
administrador competente nos termos do § 3º, deixar de
comunicar o fato a assembléia-geral, tornar-se-á por ele
solidariamente responsável.
§ 5º Responderá solidariamente com o administrador quem,
com o fim de obter vantagem para si ou para outrem,
concorrer para a prática de ato com violação da lei ou do
estatuto.

Com relação às sociedades sem fins lucrativos e entidades


filantrópicas, em que pese opiniões contrárias, Mauro Schiavi leciona
que também é possível a desconsideração em face do princípio da
despersonalização do empregador trazida pelo art. 2º da CLT, e
também por estarem inseridos na categoria de empregadores por
equiparação. Sendo, entretanto, necessário que o magistrado atue
com maior sensibilidade, analisando as circunstâncias do caso
concreto, bem como os poderes de cada sócio ou administrador,
dentre de tais entidades 8.


8 8
SCHIAVI, Mauro. A reforma trabalhista e o processo do trabalho: aspectos processuais da Lei n.
13.467/17. 1ª ed. São Paulo: LTr, 2017. p.126.

Não somente a responsabilidade pessoal do sócio pode ser alcançada


pelo descumprimento das obrigações trabalhistas, mas também a
tomadora de serviços.

Isto porque a jurisprudência pacífica do Tribunal Superior do Trabalho


é exatamente neste sentido, o que, inclusive, gerou a edição da
Súmula 331, que em seu inciso IV dispõe expressamente que:

Súmula nº 331 do TST


CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. LEGALIDADE
(nova redação do item IV e inseridos os itens V e VI à
redação) - Res. 174/2011, DEJT divulgado em 27, 30 e
31.05.2011
I - A contratação de trabalhadores por empresa interposta é
ilegal, formando-se o vínculo diretamente com o tomador dos
serviços, salvo no caso de trabalho temporário (Lei nº 6.019,
de 03.01.1974).
II - A contratação irregular de trabalhador, mediante
empresa interposta, não gera vínculo de emprego com os
órgãos da Administração Pública direta, indireta ou
fundacional (art. 37, II, da CF/1988).
III - Não forma vínculo de emprego com o tomador a
contratação de serviços de vigilância (Lei nº 7.102, de
20.06.1983) e de conservação e limpeza, bem como a de
serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador,
desde que inexistente a pessoalidade e a subordinação
direta.
IV - O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte
do empregador, implica a responsabilidade subsidiária do
tomador dos serviços quanto àquelas obrigações, desde que
haja participado da relação processual e conste também do
título executivo judicial.
V - Os entes integrantes da Administração Pública direta e
indireta respondem subsidiariamente, nas mesmas condições
do item IV, caso evidenciada a sua conduta culposa no
cumprimento das obrigações da Lei n.º 8.666, de
21.06.1993, especialmente na fiscalização do cumprimento
das obrigações contratuais e legais da prestadora de serviço
como empregadora. A aludida responsabilidade não decorre
de mero inadimplemento das obrigações trabalhistas

assumidas pela empresa regularmente contratada.


VI – A responsabilidade subsidiária do tomador de serviços
abrange todas as verbas decorrentes da condenação
referentes ao período da prestação laboral.

Tema muito importante é o da responsabilidade dos sócios, como


vimos com a sociedade anônima. Na sociedade comum, a
responsabilidade dos sócios é solidária e ilimitada pelas dívidas
sociais e, como não há personalidade jurídica, o ideal é que os sócios
sejam atingidos diretamente pelos credores da sociedade .

A Professora Elisabete Vido assevera em sua obra que na sociedade


simples, existem duas posições referentes à responsabilidade dos
sócios. A primeira aduz que trata-se de uma decisão dos sócios, que
poderão responder ou não de forma subsidiária pelas dívidas
societárias, dependendo da redação do contrato social. A segunda,
com a qual a Professora concorda, a responsabilidade não depende
de livre escolha dos sócios, e sim do tipo societário adotado, tal fato
significaria que necessariamente haveria responsabilidade subsidiária,
podendo os sócios deliberarem se entre eles existe ou não
responsabilidade solidária.

A mestre Elisabete Vido leciona que no caso da sociedade limitada, a


responsabilidade é ilimitada por todas as obrigações assumidas, mas
os sócios respondem de forma limitada e subsidiária pelas obrigações
sociais9.

Por fim, importa trazer que o Tribunal Superior do Trabalho, por meio
da Instrução Normativa 39 de 2016 admitiu a possibilidade da
aplicabilidade do incidente de desconsideração da pessoa jurídica no
processo do trabalho, com algumas adaptações:

Art. 6° Aplica-se ao Processo do Trabalho o incidente de


desconsideração da personalidade jurídica regulado no
Código de Processo Civil (arts. 133 a 137), assegurada a
iniciativa também do juiz do trabalho na fase de execução
(CLT, art. 878).


9
VIDO, Elisabete. Curso de Direito Empresarial. 6ª ed. São Paulo: RT, 2018.

§ 1º Da decisão interlocutória que acolher ou rejeitar o


incidente:
I – na fase de cognição, não cabe recurso de imediato, na
forma do art. 893, § 1º da CLT;
II – na fase de execução, cabe agravo de petição,
independentemente de garantia do juízo;
III – cabe agravo interno se proferida pelo Relator, em
incidente instaurado originariamente no tribunal (CPC, art.
932, inciso VI).
§ 2º A instauração do incidente suspenderá o processo, sem
prejuízo de concessão da tutela de urgência de natureza
cautelar de que trata o art. 301 do CPC.

Outra inovação trazida pela Reforma Trabalhista é a responsabilidade


do sócio retirante:

Art. 10-A. O sócio retirante responde subsidiariamente pelas


obrigações trabalhistas da sociedade relativas ao período em
que figurou como sócio, somente em ações ajuizadas até
dois anos depois de averbada a modificação do contrato,
observada a seguinte ordem de
preferência: (Incluído pela Lei nº 13.467, de
2017) (Vigência)
I - a empresa devedora; (Incluído pela Lei nº
13.467, de 2017) (Vigência)
II - os sócios atuais; e (Incluído pela Lei nº
13.467, de 2017) (Vigência)
III - os sócios retirantes. (Incluído pela Lei nº
13.467, de 2017) (Vigência)
Parágrafo único. O sócio retirante responderá solidariamente
com os demais quando ficar comprovada fraude na alteração
societária decorrente da modificação do
contrato. (Incluído pela Lei nº 13.467, de
2017) (Vigência)
O mesmo dispõe os artigos 1.003 e 1032 do Código Civil:
Art. 1.003. A cessão total ou parcial de quota, sem a
correspondente modificação do contrato social com o
consentimento dos demais sócios, não terá eficácia quanto a
estes e à sociedade.

Parágrafo único. Até dois anos depois de averbada a


modificação do contrato, responde o cedente solidariamente
com o cessionário, perante a sociedade e terceiros, pelas
obrigações que tinha como sócio.

Art. 1.032. A retirada, exclusão ou morte do sócio, não o


exime, ou a seus herdeiros, da responsabilidade pelas
obrigações sociais anteriores, até dois anos após averbada a
resolução da sociedade; nem nos dois primeiros casos, pelas
posteriores e em igual prazo, enquanto não se requerer a
averbação.

Parte da doutrina se mostrava relutante em aplicar o disposto no art.


1.003 do Código Civil, argumentando que a responsabilidade
trabalhista deveria persistir mesmo após os dois anos, pois o sócio
retirante estava na sociedade à época da prestação dos serviços e
usufruiu da mão de obra do trabalhador.

Por outro lado, outros argumentavam que diante da omissão da CLT,


referido artigo aplicava-se integralmente no processo trabalhista,
compatibilizando-se com os princípios que regem a execução
trabalhista, com a dignidade da pessoa humana e os meios menos
gravosos da execução.

O art. 10-A veio para enterrar de vez essa discussão, fixando a


responsabilidade subsidiária do sócio retirante pelo período em que
figurou na sociedade, mas limitando às ações trabalhistas ajuizadas
até dois anos da data da retirada, estabelecendo também a
responsabilidade solidária em caso de fraude.

Quanto à responsabilidade da empresa do grupo econômico na


execução, art. 2º, §2º da CLT temos:

Art. 2º - Considera-se empregador a empresa, individual ou


coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica,
admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço.
(...)
§ 2o Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora,
cada uma delas, personalidade jurídica própria, estiverem
sob a direção, controle ou administração de outra, ou ainda

quando, mesmo guardando cada uma sua autonomia,


integrem grupo econômico, serão responsáveis
solidariamente pelas obrigações decorrentes da relação de
emprego. (Redação dada pela Lei nº 13.467, de
2017) (Vigência)
o
§ 3 Não caracteriza grupo econômico a mera identidade de
sócios, sendo necessárias, para a configuração do grupo, a
demonstração do interesse integrado, a efetiva comunhão de
interesses e a atuação conjunta das empresas dele
integrantes. (Incluído pela Lei nº 13.467, de
2017) (Vigência)

Dessa forma, a responsabilidade será solidária entre as empresas que


integram o grupo econômico. Desse modo, o empregado poderá
exigir de qualquer de um das empresas do grupo, a integralidade do
seu crédito.

Outro tema de suma importância é a execução contra massa falida ou


empresa em recuperação judicial. O douto Carlos Henrique Bezerra
Leite leciona que não é pacífico o entendimento acerca da
competência da Justiça do Trabalho quando no polo passivo está a
massa falida. O Desembargador explica que há três correntes que se
ocupam do problema, quais sejam:

A primeira, tradicional, sustenta que, se no curso do processo de


execução sobrevier decreto de falência do devedor, a execução dos
créditos trabalhistas é atraída automaticamente pelo juízo universal
da falência, devendo neste prosseguir o feito.

A segunda corrente advoga que o art. 114 da CF confere à Justiça do


Trabalho a competência para executar as suas próprias decisões,
excluindo, assim, o juízo universal da falência, pouco importando que
a quebra tenha ocorrido antes ou depois dos atos de constrição dos
bens do devedor. Além disso, os créditos trabalhistas, por serem
privilegiados, prescindem da habilitação no juízo universal da
falência.

A terceira e última corrente é eclética, pois se posiciona de acordo


com o momento dos atos de constrição. Vale dizer, os bens do
devedor penhorados antes da decretação da falência não serão

alcançáveis pelo juízo falimentar, por aplicação analógica da Súmula


44 do antigo TFR. Todavia, se os atos de conscrição (penhora)
ocorrerem após a quebra, cessa a competência da Justiça do
Trabalho, devendo o juiz do trabalho expedir certidão de habilitação
legal do crédito trabalhista junto à massa falimentar, ou seja, perante
o juízo falimentar.

Quanto à questão do reconhecimento da sucessão empresarial na


execução, temos na CLT:

Art. 448-A. Caracterizada a sucessão empresarial ou de


empregadores prevista nos arts. 10 e 448 desta
Consolidação, as obrigações trabalhistas, inclusive as
contraídas à época em que os empregados trabalhavam para
a empresa sucedida, são de responsabilidade do
sucessor. (Incluído pela Lei nº 13.467, de
2017)
Parágrafo único. A empresa sucedida responderá
solidariamente com a sucessora quando ficar comprovada
fraude na transferência. (Incluído pela Lei nº
13.467, de 2017)

A sucessão de empregadores vem regulada pelos arts. 10 e 448 da


CLT e consiste no instituto trabalhista em que ocorre a transferência
de empresa ou estabelecimento, com completa transmissão de
crédito e assunção de dívidas trabalhistas entre alienante e
adquirente envolvidos.

Como regra, o sucessor responderá pela integralidade da dívida,


salvo em caso de fraude, em que a empresa sucedida responderá
solidariamente (arts. 9º da CLT, e 942 do CC).

Eventual cláusula de irresponsabilidade da empresa sucessora pelos


débitos trabalhistas da empresa sucedida não tem validade perante a
legislação trabalhista, uma vez que as normas trabalhistas são de
ordem pública.

c. Legislação

Lei de Introdução ao Código Civil – art. 5º;


Constituição Federal de 1988 – art. 93, IX, 114;
Consolidação das Leis do Trabalho – art. 2º, 10, 10-A, 448, 448-A,
765, 855-A;
Código Civil – 50, 942, 966, 1.003, 1032;
Código de Processo Civil – art. 133 ao 137, 789, 790, 795;
Código de defesa do Consumidor – art. 28;
Súmulas do TST – 331;
Lei 6.404 de 1976;
Instrução Normativa 39 de 2016;

d. Julgados/Informativos

TST - AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA


AIRR 1691420155190064 (TST)
Data de publicação: 24/11/2017
Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA.
EXECUÇÃO. BENEFÍCIO DE ORDEM.
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA DA
EMPRESA. responsabilidade dos sócios. Nega-se provimento a
agravo de instrumento quando suas razões, mediante as quais se
pretende demonstrar que o recurso de revista atende aos
pressupostos de admissibilidade inscritos no art. 896 da CLT , não
conseguem infirmar os fundamentos do despacho agravado. Agravo
de Instrumento a que se nega provimento. (TST – AIRR:
1691420155190064, Relator: João Batista Brito Pereira, Data de
Julgamento: 22/11/2017, 5ª Turma, Data de Publicação: DEJT
24/11/2017).

TST - AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA


Ag-AIRR 1008520035020060 (TST)
Data de publicação: 26/10/2018
Ementa: AGRAVO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE
REVISTA - DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA
DA EMPRESA EXECUTADA - PROSSEGUIMENTO DA EXECUÇÃO
CONTRA A FAZENDA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO -
CONDIÇÃO DE ACIONISTA DA VASP.

O Tribunal Regional decidiu , em consonância com a jurisprudência


desta Corte , no sentido de que a Justiça do Trabalho é competente
para executar decisões nas quais houve redirecionamento executório
contra acionista da massa falida, caso dos autos. Precedentes.
Agravo desprovido. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE
JURÍDICA - TÍTULO EXECUTIVO QUE NÃO INCLUIU A FAZENDA
PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO – COISA JULGADA - OFENSA
DIRETA E LITERAL À CONSTITUIÇÃO FEDERAL NÃO CONFIGURADA.
Nos termos do art. 896, § 2º, da CLT, a admissibilidade do recurso de
revista em processo de execução só é possível com a demonstração
inequívoca de literal e frontal violação de preceito constitucional, o
que não ocorre quando se discute desconsideração da
personalidade jurídica, disciplinada por legislação
infraconstitucional - arts. 592 e 596 do CPC/73 , 50 e 990 do Código
Civil. Agravo desprovido. fls. PROCESSO Nº TST-Ag-AIRR-100-
85.2003.5.02.0060 Firmado por assinatura digital em 23/10/2018
pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-
2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
( TST – Ag-AIRR: 1008520035020060, Data de Julgamento:
23/10/2018, Data de Publicação: DEJT 26/10/2018).

TST - AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA


AIRR 1989002620055020016 (TST)
Data de publicação: 21/09/2018
Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.
EXECUÇÃO. RECURSO DE REVISTA REGIDO PELO CPC/2015 E PELA
INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 40/2016 DO TST. FRAUDE À EXECUÇÃO.
NÃO CARACTERIZAÇÃO. PENHORA DE BEM DO SÓCIO. ALIENAÇÃO
ANTES DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA
DA EMPRESA. INEXISTÊNCIA DE OFENSA DIRETA E LITERAL AO
ARTIGO 5º , INCISOS XXXV E LIV , DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL .
Consta do acórdão regional que, ao contrário do pretendido pelo
exequente, não ficou configurada fraude à execução, uma vez que "o
direcionamento da execução contra a figura do sócio alienante se deu
somente em 2011, cerca de um ano após a venda do imóvel cuja
fraude o agravante pretende ver reconhecida". O Regional consignou
que, "à época da venda, o sócio alienante não fazia parte do polo
passivo da lide, não havendo impedimento legal para que se
desfizesse de bens constantes de seu acervo patrimonial", frisando

que "não há nos autos, quaisquer indícios de que o agravado tenha


agido de má-fé". Esta Corte superior tem adotado o entendimento de
que a transferência de imóvel de sócio antes da desconsideração da
personalidade jurídica da empresa, como in casu, não configura
fraude à execução. A discussão relativa à configuração de fraude à
execução, além de envolver a aplicação e a interpretação de normas
infraconstitucionais, no caso, o artigo 792 , inciso IV , do CPC/2015 ,
o que não se amolda à previsão contida no artigo 896 , § 2º , da CLT
, passaria pela análise da valoração do quadro fático probatório dos
autos feita pelas esferas ordinárias, procedimento vedado a esta
instância recursal de natureza extraordinária, conforme preconizado
na Súmula nº 126 do TST. Não há, portanto, como constatar ofensa
direta e literal ao art. 5º , incisos XXXV e LIV , da Constituição
Federal . Agravo de instrumento desprovido. (TST – AIRR:
1989002620055020016 (TST), Relator: José Roberto Freire Pimenta,
Data de Julgamento: 19/09/2018, 2º Turma, Data de Publicação:
DEJT 21/09/2018)

TRT-6 - Recurso Ordinário RO 00012185920175060201 (TRT-


6)
Data de publicação: 13/06/2018
Ementa: PROCESSO DO TRABALHO. DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE JURÍDICA DA EMPRESA.
A inserção do art. 855 - A da CLT , após a reforma trabalhista, faz
expressa alusão aos arts. 133 a 137 , do CPC que autorizam a parte
autora a requerer incidentalmente a desconsideração da
personalidade jurídica em qualquer fase do processo, inclusive na
fase de conhecimento. Recurso provido. (Processo: RO - 0001218-
59.2017.5.06.0201, Redator: Martha Cristina do Nascimento
Cantalice, Data de julgamento: 13/06/2018, Segunda Turma, Data
da assinatura: 13/06/2018) ( TRT-6 – RO: 00012185920175060201,
Data de Julgamento: 13/06/2018, Segunda Turma)

TST - AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA


AIRR 5071320165070023 (TST)
Data de publicação: 31/08/2018

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA .


RECURSO REGIDO PELO CPC/2015 E PELA IN Nº 40/2016 DO TST E
INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015 /2014 . SUCESSÃO
TRABALHISTA CONFIGURADA. RESPONSABILIDADE DA EMPRESA
SUCESSORA. No caso destes autos, concluiu o Regional, com apoio
na prova documental, ter ficado caracterizada a sucessão de
empregadores, regulada pelos artigos 10 e 448 da CLT , na medida
em que, além de ser incontroversa a aquisição da rádio sucedida pela
sucessora, ora reclamada, conforme consta no contrato de compra e
venda juntado aos autos, não ocorreu solução de continuidade na
prestação de serviços pelo empregado , além de que os contratos de
arrendamento trazidos à colação não abrangeram todo o lapso
reclamado, o que evidencia que o liame empregatício entre as partes
litigantes jamais foi rompido. Dessa forma, configurada a sucessão
trabalhista, nos termos previstos nos artigos 10 e 448 da CLT , tem-
se que , regra geral, transfere-se para o sucessor a exclusiva
responsabilidade pelo adimplemento e pela execução dos contratos
de trabalho da empresa sucedida, impondo a quem for o empregador
o ônus pelos contratos já existentes à época em que se deu a
sucessão. Impende, salientar, por oportuno, que a transferência do
estabelecimento por contrato de arrendamento não afasta a
possibilidade de configuração da sucessão empresarial, visto que a
proteção instituída pelos artigos 10 e 448 da CLT deve prevalecer,
ficando verificada a continuidade na prestação de serviços. Ressalte-
se, por fim, que para se chegar a entendimento diverso, como
pretende a agravante, ao insistir com a tese de que a sucessão
trabalhista não teria sido configurada, seria necessário o reexame do
conjunto fático-probatório, procedimento vedado a esta instância de
natureza extraordinária, conforme dispõe a Súmula nº 126 do
Tribunal Superior do Trabalho . Agravo de instrumento desprovido.
(TST – AIRR: 5071320165070023, Relator: José Roberto Freire
Pimenta, Data de Julgamento: 29/08/2018, 2ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 31/08/2018)

e. Leitura Sugerida

PEREIRA, Leone. Manual de Processo do Trabalho. 5ª ed. São Paulo:


Saraiva, 2017.

Instrução Normativa nº 39/2016. Dispõe sobre as normas do Código


de Processo Civil de 2015 aplicáveis e inaplicáveis ao Processo do
Trabalho, de forma não exaustiva. Disponível em:
http://www.tst.jus.br/documents/10157/429ac88e-9b78-41e5-ae28-
2a5f8a27f1fe

SCHIAVI, Mauro. A reforma trabalhista e o processo do trabalho:


aspectos processuais da Lei n. 13.467/17. 1ª ed. São Paulo: LTr,
2017.

TRINDADE, Rodrigo. Reforma trabalhista – 10 novos princípios do


direito empresarial do trabalho. ANAMATRA IV – Disponível em:
http://www.amatra4.org.br/79-uncategorised/1249-reforma-
trabalhista-10-novos-principios-do-direito-empresarial-do-trabalho

VIANNA, José Ricardo Alvarez. A teoria do diálogo das fontes.


Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 16, n.
2755, 16 jan. 2011. Disponível em:
<https://jus.com.br/artigos/18279>. Acesso em: 3 nov. 2018.

VIDO, Elisabete. Curso de Direito Empresarial. 6ª ed. São Paulo: RT,


2018.

f. Leitura Complementar

CLAUS, Ben-Hur Silveira. O incidente de desconsideração da


personalidade jurídica previsto no CPC 2015 e o Direito Processual do
Trabalho. TRT 7. Disponível em: http://www.enamat.gov.br/wp-
content/uploads/2015/11/TD14_Ben_Hur_Silveira_Claus_4_O-
incidente-de-desconsideração-da-personalidade-jur%C3%ADdica-
previsto-no-novo-CPC.pdf

FREIRE E SILVA, Bruno. O novo CPC e o Processo do Trabalho. 2ª ed.


São Paulo: LTr, 2016.

GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito Processual do


Trabalho. 6ª ed. Rio de Janeiro: GEN Forense, 2017 – Capítulos 23 e
29.

MARINONI, Luiz Guilherme. Novo Código de Processo Civil


Comentado. São Paulo: Editora RT, 2015.

MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho: Doutrina


e Prática Forense. 39ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017.

NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do


Trabalho. 29ª ed. São Paulo: Saraiva, 2014.

NETO, José Affonso Dallegrave; GOULART, Rodrigo Fortunato. Novo


CPC e o Processo do Trabalho. 2ª ed., São Paulo: LTr, 2016.

SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 12ª


ed. São Paulo: LTr, 2017.

SILVA NETO, Manoel Jorge e. Constituição e Processo do Trabalho.


São Paulo: LTr, 2007.

WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Breves Comentários ao Código de


Processo Civil. São Paulo: Editora RT, 2015.

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