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Psicóloga, mestranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia do
Desenvolvimento e da Aprendizagem da Unesp – Universidade Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita Filho”, Campus de Bauru.
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Psicóloga, formada pela Unesp – Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho”, Campus de Bauru.
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Psicólogo, Professor Assistente Doutor do Departamento de Psicologia da Unesp
– Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de Bauru.
Área de atuação: Psicologia Organizacional e do Trabalho.
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Psicólogo, Professor Assistente Doutor do Departamento de Psicologia da Unesp
– Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de Bauru.
Área de atuação: Psicologia Organizacional e do Trabalho.
BENITES, A. C.; CAMARGO, I. S.; GOULART JÚNIOR, E.; CAMARGO, M. L. Relação entre transtorno 86
do ciclo vigília-sono e trabalho noturno: desafios à segurança e saúde do trabalhador. R. Laborativa.
v. 2, n. 2, p. 86-107, out./2013. http://ojs.unesp.br/index. php/rlaborativa.
Resumo: O trabalho e a organização laboral influenciam a
evolução do processo saúde-doença estabelecendo um nexo
causal da doença com o trabalho. O presente estudo teve
por objetivo verificar a presença do transtorno do ciclo
vigília-sono devido a fatores não orgânicos, identificando
possíveis efeitos na saúde física, mental, no social e nas
relações familiares de dez vigias noturnos de uma instituição
pública de ensino superior. Verificou-se que 80% dos
entrevistados apresentaram um ou mais dos sintomas que
correspondem aos critérios para o diagnóstico. Salienta-se a
necessidade de diagnóstico especializado, acompanhamento
médico, psicológico e social para esta população.
1. Introdução
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vínculos estáveis, os quais experienciam também a insegurança e a
competição que estão presentes no mercado contemporâneo.
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Para Franco, Druck e Seligmann-Silva (2010), a precarização do
trabalho resulta de um processo histórico, sendo assim, passível de
modificação. As autoras argumentam que dessa precarização do trabalho,
resultam altos índices de acidentes e processos de adoecimento, que, por
meio de ações preventivas poderiam ser minimizados.
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ritmicidade de eventos bioquímicos, fisiológicos e comportamentais e
como consequências, destacam a privação do sono que se reflete na sua
qualidade de vida, na saúde e no desempenho de suas atividades laborais.
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Mediante uma revisão sistemática de literatura, Gemelli, Hilleshein e
Lautert (2008) verificaram que os efeitos do trabalho em turno sobre a
saúde dos trabalhadores assim se apresentam: alterações
cardiovasculares (27%), na qualidade do sono e estado de alerta (19%),
alterações metabólicas (10,8%), dificuldade de relacionamento familiar e
insatisfação no trabalho (10,8%), erros humanos e acidentes de trabalho
(8,1%), na saúde masculina (8,1%) e outros assuntos (16,2%).
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prejudicar suas relações interpessoais e desencadear o uso da
automedicação para dormir.
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É importante destacar que o transtorno vigília-sono pode ser
acompanhado de outros prejuízos à saúde como, por exemplo, o uso de
substâncias para ficar acordado, ou remédios para conseguir dormir, que
podem agravar ainda mais o quadro de sintomas. Além disso, ainda de
acordo com a OMS – Organização Mundial da Saúde (1997), os
trabalhadores em turnos ou noturnos estão mais sujeitos a sofrerem de
doenças cardiovasculares, gastrointestinais e transtornos mentais, as
quais podem prejudicar ainda mais sua vida profissional e pessoal. As
informações sobre os transtornos do sono descritos no documento do
Ministério da Saúde do Brasil (2001), supracitado, são corroboradas pelas
informações presentes no Manual de Diagnóstico Estatístico de
Transtornos Mentais (DSM-IV-TR) da Associação Psiquiátrica Americana
(APA, 2003).
2. Método
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dirigidas ao sujeito considerado manifestante do transtorno do ciclo
vigilia-sono, sendo que destas dezenove questões, 5 são abertas e catorze
fechadas. Como complemento ao procedimento de coleta de informações,
o instrumento apresenta 4 questões fechadas dirigidas aos possíveis
companheiros de quarto do sujeito pesquisado (esse complemento do
instrumento não foi por nós utilizado no presente estudo).
3. Resultados e Discussão
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Os participantes do estudo (dez servidores) são do sexo masculino
com idades entre 31 a 63 anos, sendo que 60% desta amostra se
encontra na faixa de 57 a 63 anos de idade, o que mostra que grande
parte do quadro de servidores que exercem essa função são idosos. Em
sua maioria são casados, sendo apenas um servidor viúvo. A faixa de
renda familiar foi entre 0 a 4 salários mínimos se destacou em 70% dos
participantes, em contraposição aos outros 30% que declararam renda de
4 a 8 salários mínimos. Esta faixa salarial que se destacou se relaciona
com a queixa de 10% dos participantes que relataram o salário como uma
dificuldade encontrada no exercício do trabalho. Apenas 20% dos
participantes relataram não ter uma religião, em contraposição aos 80%
que declararam ser católicos (40%) e evangélicos (40%). Quanto à
escolaridade, 60% possuem o ensino médio, 10% o ensino superior
incompleto, 10% o ensino superior, 10% o ensino fundamental e 10% o
ensino fundamental incompleto. Todos os participantes relataram ter filhos
e em relação à moradia, 70% relataram morar com esposa e filho(s), o
que evidencia que apesar da rotina de trabalho no período noturno, estes
servidores mantêm uma estrutura e relacionamento familiar.
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Conforme representado pelo Gráfico 1, houve maior incidência de
relatos apontando a falta de pessoal (80%), falta e/ou problemas com os
equipamentos de segurança (60%) e condições físicas do local de trabalho
(70%), como algumas das dificuldades encontradas na rotina de trabalho.
As demais categorias apareceram de forma isolada, mas também são
significativas para a compreensão do modo com que o trabalho está sendo
organizado e do quanto este influencia a saúde do servidor. Portanto, é
imprescindível avaliar as condições oferecidas no ambiente de trabalho e o
quanto estas afetam a saúde do trabalhador.
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sensação de insegurança (60%), medo (30%) e solidão (20%). As demais
categorias apareceram de forma isolada, mas se mostraram significativas.
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fora de casa e, dentre estas, 80% trabalham em horário regular (durante
o dia todo) e 20% trabalham em horário noturno (em escala de 12 por 36
horas). Em relação à rotina profissional dos filhos, 50% relataram ter
filhos que trabalham, sendo que todos exercem suas atividades
profissionais no período diurno. Estes dados nos possibilitam inferir que o
turno de trabalho noturno pode prejudicar a dinâmica familiar dos
pesquisados, não possibilitando a convivência diária nos momentos em
que a família está em casa. Em contrapartida, o fato dos familiares
trabalharem nos horários de repouso dos servidores favorece que o sono
não seja interrompido.
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social e os demais colocaram que o horário de trabalho interfere no
relacionamento social (20%), já que não podem comparecer a todos os
encontros com os amigos aos finais de semana.
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transtorno do ciclo vigília-sono se refere à dificuldade de concentração
durante o horário de vigília (FIORELLI, 2002).
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Gráfico 3. Como descrevem a rotina do sono. Fonte: in loco.
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(TOC) e depressão após sofrerem assalto. Estes dados corroboram o que
aponta a literatura a respeito do que o turno noturno e sua má adaptação
pode acarretar, gerando alterações orgânicas como agravamento de
doenças, suscetibilidade a agentes nocivos, cansaço, envelhecimento
precoce, sofrimento mental e alterações gastrointestinais (SIMÕES;
MARQUES; ROCHA, 2010).
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Brasil (2001), o que demanda a realização de um acompanhamento
especializado periódico e realização de uma avaliação aprofundada.
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trabalho; propiciar melhores cuidados de saúde como exames médicos
periódicos relacionados à problemática do trabalho noturno.
5. Considerações Finais
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Quanto à ocorrência de acidente de trabalho, entre os 50% que
declararam ter vivenciado ao menos um acidente de trabalho, verificou-se
que a experiência do assalto no Campus, em junho de 2011, foi a mais
significativa, a qual afetou a continuidade da execução das atividades
posteriores e desencadeou necessidade de encaminhamentos para
profissionais especializados.
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apresentarem doenças mentais e cardiovasculares que prejudicam ainda
mais a qualidade de vida dos mesmos, tanto no âmbito pessoal quanto no
âmbito profissional.
6. Referências
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IZU, M. et al. Trabalho noturno como fator de risco na carcinogênese. Ciencia y
Enfermería, Concepción, v. 17, n. 3, p. 83-95, dic. 2011. Disponível em:
<http://www.scielo.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0717-
95532011000300008&lng=es&nrm=iso>. Acesso em: 02 set. 2013.
BENITES, A. C.; CAMARGO, I. S.; GOULART JÚNIOR, E.; CAMARGO, M. L. Relação entre transtorno 107
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