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TERAPIAS E TÉCNICAS
DE 3ª ONDA
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2. Motivo da busca pelo atendimento: frente a uma proposta de fazer uma
palestra no seu trabalho, na qual percebeu que seu desempenho poderia
ser testado, sentiu um nível de ansiedade exagerado e a necessidade de
aprender a lidar com isso. Além da situação específica, percebe ansiedade
exagerada em várias áreas da sua vida, o que traz diversas consequências
e sofrimento.
a) História familiar: sua gravidez foi uma surpresa para os pais, pois
tinham enfrentado dificuldades para engravidar e até desistido de
tentar por um tempo. Ficaram felizes com sua vinda, mas estavam
passando por um momento de grande dificuldade financeira. Relação
com os pais sempre foi satisfatória, mas com muita rigidez,
principalmente após o nascimento da sua irmã. Ficava responsável
por cuidar dela, o que trazia muita ansiedade, pois não queria
decepcionar ou ter alguma punição dos pais por fazer algo
inadequado. Tem bom relacionamento com a irmã, considerando-a
sua melhor amiga.
b) História escolar: com a melhora da vida financeira dos pais na sua
infância, teve oportunidade de estudar em uma das melhores escolas
da sua região, sempre com um desempenho acima da média e pôde
fazer diversas aulas extracurriculares, aprendendo línguas e
praticando esportes. Passou em seu primeiro vestibular para Medicina
em uma universidade pública. O período do curso foi muito
tumultuado, devido à quantidade de matérias e ao nível de cobrança
que tinha sobre seu desempenho, mas nunca reprovou. Passou na
residência de sua escolha logo após se formar.
c) História social: tem dificuldade de fazer amigos. Seu grupo atualmente
é limitado a amigas de infância, que fez na época do colégio, e sua
irmã, que considera sua melhor amiga. Gosta dos colegas de trabalho
e mantém boa relação, mas não considera isso uma amizade, pois
não se encontra com eles fora do ambiente de trabalho, apesar dos
convites dos colegas.
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d) História sexual: heterossexual, é casada há 10 anos, após 3 anos de
namoro e 1 de noivado. Seu primeiro e único relacionamento sexual
foi com o marido. Diz não se incomodar por isso e considera sua vida
sexual atual satisfatória.
5. Lista de problemas
6. Diagnóstico teórico
Crença nuclear:
“Sou inadequada”.
Pressupostos subjacentes:
“Se não souber conduzir tal caso, sou uma profissional incapaz”.
“Pessoas que não conseguem falar bem em público serão julgadas como inadequadas”.
Estratégia compensatória:
Evitação: fecha-se na sala para não ter que dar orientações, não prepara a palestra, falta no
dia marcado.
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SITUAÇÃO 1 SITUAÇÃO 2 SITUAÇÃO 3
Dirigindo para o trabalho. Fiquei sabendo que preciso Aluno vem tirar uma dúvida
dar uma palestra em duas sobre uma conduta
semanas. específica.
8. Pontos fortes e recursos: possui grande dedicação a tudo que faz. Gosta
muito de sua profissão porque se importa em sentir que fez uma diferença
para tornar a vida dos outros melhor. Apoio do marido e da irmã no
processo terapêutico. Forte nível de espiritualidade. Ótima capacidade
intelectual e de abstração.
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9. Crenças que podem interferir no atendimento: medo de buscar um
tratamento psiquiátrico, por não querer ficar dependente de remédios.
Sente-se falha por não conseguir lidar com suas questões sozinha.
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cabeça. Além da observação e treino da atenção, o indivíduo é encorajado a abrir-
se para a experiência como ela é, encorajando a aceitação dos estados como um
todo, inclusive dos momentos que ele se distrai com seus pensamentos ou outros
sons no seu ambiente.
No caso de Monica, a técnica foi aplicada com o objetivo principal de treinar
estar com esses estados internos, principalmente estados de ansiedade, sem que
sua primeira resposta seja buscar algum tipo de evitação, que é sua estratégia
mais frequente, como pudemos perceber na conceitualização.
Após o exercício, é feita uma reflexão com o cliente sobre sua experiência.
Para Monica, ficou clara a presença de crenças disfuncionais sobre a própria
ansiedade, como sendo uma emoção que foge do seu controle total e é sinônimo
de fraqueza. Essas crenças também dificultavam a normalização dos seus
estados internos, aumentando a tendência a um comportamento evitativo.
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Aprender a dar forma a seus pensamentos auxiliou Monica a conseguir se
aperfeiçoar na defusão cognitiva. Ou seja, no momento em que pensamentos
relacionados à ansiedade e às sensações de inutilidade surgem, ela consegue
observá-los como somente cognições que surgem em momentos de ansiedade e
que, principalmente, não são necessariamente verdade ou uma visão realista
sobre ela mesma. Com isso, ela conseguiu diminuir seu desconforto e aumentou
sua capacidade de exposição, se abrindo mais para tirar dúvidas dos alunos e se
colocar em atendimentos complexos.
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sentido que essa emoção venha, entre outros motivos, para levá-la a melhorar e
buscar maior segurança na sua postura profissional.
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Terapeuta e cliente também chegaram à conclusão de que essa voz foi
internalizada a partir da postura dos seus pais e do medo que sentia da punição
na possibilidade de tirar uma nota mais baixa ou de não conseguir cuidar direito
da sua irmã, por exemplo.
O segundo momento desse exercício envolve a estimulação da voz
compassiva. Monica foi orientada a formular algumas frases que capturam a
essência da sua voz compassiva e escrever uma mensagem para ela mesma, que
pode ser utilizada como cartão lembrete para ser lido antes de começar seu dia
de trabalho.
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reduzir ativações intensas e encorajar o surgimento de outros estados
emocionais.
Parte-se do princípio de que toda emoção leva a uma ação mais automática
do indivíduo. Com a ansiedade, existe a tendência de ele buscar a fuga de
situações que provocam essa emoção, o que, além de aumentar o nível da
sensação, principalmente situações futuras parecidas, também deixa o indivíduo
mais distante de agir de acordo com seus valores.
Ou seja, para situações profissionais, Monica foi encorajada a perceber os
momentos que a ansiedade e, mais profundamente, o medo de ser inadequada
vinham mais fortes. Após nomear para si mesma a emoção que sentia no
momento e perceber que seu nível está intenso, ela lembrava que sua linguagem
corporal envolve querer se retirar da situação, inclusive em sua própria postura
mais retraída nesses momentos.
Com isso, ela se comprometeu a mudar sua postura para uma que a faz
sentir-se mais confiante, com os ombros para trás e a cabeça mais elevada,
percebendo se fazia alguma diferença. Monica conseguiu perceber que acabava
sentindo-se mais calma e conseguia utilizar habilidades de mindfulness
aprendidas anteriormente para conseguir construir seus raciocínios com clareza
e responder aos alunos de maneira mais segura.
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através de perguntas que ajudam no entendimento do terapeuta e na reflexão do
paciente sobre a sua maneira de pensar sobre as emoções.
Entre as dimensões analisadas, Monica se identificou com crenças
relacionadas ao controle, a vergonha, compreensibilidade e racionalidade.
Quadro 2 – Crenças
COMPREENSIBILIDADE Julgava que a ansiedade era uma emoção que não fazia
sentido, principalmente com o peso da responsabilidade de ser
médica e preceptora. Por conta disso, buscava a fuga de
situações que traziam essa ansiedade.
VERGONHA Sentia que ela, como médica, não podia ficar ansiosa frente a
situações de sua prática, principalmente em relação aos
colegas e alunos, por conta do nível de responsabilidade de
seu papel profissional. Tinha medo do que eles poderiam
pensar sobre ela.
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Leahy propõe a utilização de um poema de Rumi (1997), chamado A casa
de hóspedes, para explorar com o cliente a possibilidade de abertura a diversos
estados emocionais e como todos eles possuem uma função. Esse poema
também está incluso no protocolo de Terapia Cognitiva Baseada em Mindfulness
(MBCT), explorado em aulas anteriores.
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Uma vez entendido isso, a terapeuta conduziu a cliente em um exercício
de imagem com o objetivo de aumentar a capacidade de acolhimento de seu modo
criança vulnerável desamparada. O exercício consiste em pedir para o cliente se
imaginar encontrando uma criança na rua após um dia de trabalho, retornando
para sua casa. Ao chegar mais perto, ela percebe que a criança está sozinha e
chorando.
Com isso, a terapeuta foi estimulando Monica a falar sobre como se sentia,
na imagem, ao ver a criança nesse estado e o que tinha vontade de fazer. Ela
relatou querer pegar a criança no colo. Ela também foi instruída a perguntar para
a criança o que aconteceu.
Nesse momento, a terapeuta responde como se fosse uma criança falando,
contando uma história parecida com a própria história de vida de Monica nas
situações que não se sentia acolhida. Ao perceber a semelhança das histórias,
Monica se emocionou e foi encorajada a atender a necessidade de acolhimento
da criança, pegando no colo e abraçando para que ela pudesse se sentir melhor.
Para fechar, a terapeuta estimulou Monica a exercitar uma respiração em
ritmo mais lento para a regulação emocional e, aos poucos, voltar para o ambiente
presente, abrindo seus olhos, para conversarem sobre sua experiência. A cliente
conseguiu perceber que tinha capacidade de ser acolhedora com a criança da
imagem e, por consequência, com seu modo criança nos momentos que não se
sentia acolhida como gostaria. Uma vez que ela começou a atender mais essa
necessidade, percebeu diferenças em como se sentia nos momentos que não
agia de maneira perfeita. Com essa sensação de segurança em relação a si
mesma, começou a se expor com mais confiança e reduziu comportamentos em
busca da evitação.
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REFERÊNCIAS
HARRIS, R. Watch your thinking. In: _____. ACT Made Simple: an easy-to-read
primer on acceptance and commitment therapy. United States: New Harbinger,
2009.
_____. Know what matters. In: _____. ACT made simple: an easy-to-read primer
on acceptance and commitment therapy. United States: New Harbinger, 2009.
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