Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
Ao elaborar o seu material inovador, completo e moderno, o Hexag considerou como principal diferencial sua exclusiva metodologia em pe-
ríodo integral, com aulas e Estudo Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado. O material didático é composto por 6 cadernos
de aula e 107 livros, totalizando uma coleção com 113 exemplares. O conteúdo dos livros é organizado por aulas temáticas. Cada assunto
contém uma rica teoria que contempla, de forma objetiva e transversal, as reais necessidades dos alunos, dispensando qualquer tipo de
material alternativo complementar. Para melhorar a aprendizagem, as aulas possuem seções específicas com determinadas finalidades. A
seguir, apresentamos cada seção:
De forma simples, resumida e dinâmica, essa seção foi desenvol- Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu
vida para sinalizar os assuntos mais abordados no Enem e nos distanciamento da realidade cotidiana, o que dificulta a compreensão
principais vestibulares voltados para o curso de Medicina em todo de determinados conceitos e impede o aprofundamento nos temas
o território nacional. para além da superficial memorização de fórmulas ou regras. Para
evitar bloqueios na aprendizagem dos conteúdos, foi desenvolvida
a seção “Vivenciando“. Como o próprio nome já aponta, há uma
preocupação em levar aos nossos alunos a clareza das relações entre
aquilo que eles aprendem e aquilo com que eles têm contato em
teoria seu dia a dia.
Herlan Fellini
1
© Hexag Sistema de Ensino, 2018
Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2020
Todos os direitos reservados.
Autores
Eduardo Antônio Dimas
Tiago Rozante
Diretor-geral
Herlan Fellini
Diretor editorial
Pedro Tadeu Vader Batista
Coordenador-geral
Raphael de Souza Motta
Editoração eletrônica
Arthur Tahan Miguel Torres
Matheus Franco da Silveira
Raphael de Souza Motta
Raphael Campos Silva
Imagens
Freepik (https://www.freepik.com)
Shutterstock (https://www.shutterstock.com)
ISBN: 978-65-88825-09-9
Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusivo
o ensino. Caso exista algum texto a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à dis-
posição para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos
direitos sobre as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições.
O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para fins didáticos, não repre-
sentando qualquer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora.
2020
Todos os direitos reservados para Hexag Sistema de Ensino.
Rua Luís Góis, 853 – Mirandópolis – São Paulo – SP
CEP: 04043-300
Telefone: (11) 3259-5005
www.hexag.com.br
contato@hexag.com.br
2
SUMÁRIO
HISTÓRIA
HISTÓRIA GERAL
Aulas 27 e 28: Revolução francesa 6
Aulas 29 e 30: Era Napoleônica e o Congresso de Viena 18
Aulas 31 e 32: Revoluções de 1830 e 1848 e Segunda Revolução Industrial 28
Aulas 33 e 34: Ideologias do século XIX, Imperialismo e Neocolonialismo 40
HISTÓRIA DO BRASIL
Aulas 27 e 28: República oligárquica: aspectos políticos e econômicos 54
Aulas 29 e 30: República oligárquica: movimentos sociais 70
Aulas 31 e 32: Crise da república oligárquica e Revolução de 1930 87
Aulas 33 e 34: Era Vargas: governos provisório e constitucional 103
3
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
H8 Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes
grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, fa-
vorecendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
4
HISTÓRIA GERAL:
Incidência do tema nas principais provas
Aborda as principais transformações socio- Questões sobre Revolução Francesa, Congresso de Viena,
lógicas e materiais da Segunda Revolução Segunda Revolução Industrial e as ideologias do século XIX
têm sido abordadas com enfoque nas estruturas sociais,
Industrial, exigindo capacidade de interpre-
econômicas e culturais.
tação textual aliada a conhecimentos pouco
aprofundados sobre o assunto. É aconselhá-
vel manter-se atentos aos temas
da atualidade.
Nos dois últimos anos, as interações dos aspec- Não são abordadas diretamente questões de História, mas A análise das estruturas sociais, econômicas e culturais da
tos culturais, econômicos e sociais associados à há um grau de interdisciplinaridade que permite o uso dos Revolução Francesa, Congresso de Viena, Segunda Revo-
Revolução Francesa, Segunda Revolução Indus- conhecimentos históricos para auxílio da resolução das lução Industrial e das ideologias do século XIX costumam
trial e ideologias do século XIX costumam ser questões e escrita da redação. ser temas apresentados em combinação com textos e
abordados com a utilização de textos longos. principalmente imagens.
Prova desafiadora nos últimos vestibulares, com pre- Os últimos vestibulares apresentaram uma Os últimos vestibulares abordaram as temáticas Percebe-se que o vestibular não tem contemplado
sença dos temas presentes neste livro, a abordagem tendência em abranger temas relacionados à Revolução Francesa, Era Napoleônica e Congresso com frequência os temas abordados neste livro.
prioriza uma integração entre Medicina e História, História do Brasil. Entretanto, o caráter da prova de Viena, Segunda Revolução Industrial e ideolo- Entretanto, o caráter da prova exige um domínio
principalmente voltada para temas como vacinas e exige um domínio amplo de interpretação textual gias do século XIX, por meio de uma correlação amplo de interpretação textual e estabelecimento de
disseminação de doenças. e estabelecimento de conexões entre diferentes entre os aspectos sociais, econômicos e políticos. conexões entre diferentes áreas do conhecimento.
áreas do conhecimento.
UFMG
Aborda as temáticas Revolução Francesa e ideolo- A banca do vestibular privilegia que o candi- Não são contemplados diretamente temas de
gias do século XIX, por meio das correlações entre dato realize análises e interpretações sobre História, entretanto, há um grau de interdiscipli-
os aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais. diferentes processos históricos e perceba suas naridade que permite o uso dos conhecimentos
Utiliza textos introdutórios, charges e imagens em continuidades e rupturas. Assim, utiliza textos in- históricos para auxílio da resolução das questões e
suas questões. trodutórios e imagens para elaborar as questões escrita da redação.
sobre as temáticas estudadas.
O vestibular solicita análises de estruturas Não há uma divisão clara entre História e O vestibular elabora questões de múltipla
históricas em suas questões, que propõem Geografia, que são abordadas como Estudos escolha direcionadas aos candidatos que pre-
uma reflexão sobre as temáticas elencadas Sociais, portanto, não existem definições tendem uma vaga nos cursos de Enfermagem,
estabelecendo relações com o mundo específicas de tema, mas sim um grau elevado Biomedicina e Medicina. Há uma tendência em
contemporâneo. Utiliza trechos de textos e de interdisciplinaridade. Há uma tendência em abordar temas contemporâneos.
imagens, de forma mesclada, em abordar temas contemporâneos.
suas questões.
5
AULAS REVOLUÇÃO FRANCESA
27 E 28 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 13,
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4, 5 e 6 HABILIDADES: 14, 16, 17, 18, 20, 22, 23,
24, 25, 26, 28 e 29
2. A FRANÇA
PRÉ-REVOLUCIONÁRIA
E OS FATORES DA REVOLUÇÃO
2.1. A sociedade francesa
Na sociedade francesa se misturavam o Absolutismo e as
divisões feudais. A população se estruturava em três esta-
mentos: Primeiro Estado, Segundo Estado e Terceiro Estado.
O Primeiro Estado era formado pelo clero, que continha
cerca de 120 mil religiosos. O alto clero representava os
interesses do Absolutismo, enquanto os membros do baixo
clero defendiam ideais iluministas, como o abade Sieyés.
O Segundo Estado era constituído pela nobreza e possuía
1. INTRODUÇÃO cerca de 350 mil componentes. O Segundo Estado se dividia
em nobreza palaciana, formada por quatro mil nobres
A Revolução Francesa se tornou um marco histórico do mun- que compunham a Corte; nobreza provincial, que ain-
do ocidental e um símbolo do término do Antigo Regime. da se mantinha em seus antigos latifúndios explorando os
Trata-se do período em que os ideais burgueses e iluministas servos de acordo com regras feudais, como talha, corveia e
se disseminaram pela Europa e, posteriormente, pelo mundo. banalidades; e nobreza de toga, composta por burgueses
A partir do século XVII e durante o século XVIII, a burguesia que ganharam ou compraram títulos nobiliárquicos e se de-
dava sinais de que não aceitava mais a continuidade do Ab- dicavam aos negócios administrativos e judiciários.
solutismo, do mercantilismo e da sociedade estamental, que O alto clero e a nobreza eram isentos da maioria dos im-
impunham limitações ao desenvolvimento do capitalismo. A postos, recebiam pensões, doações e outros privilégios do
ideologia burguesa já estava presente nas revoluções ingle- poder real. O nobres, donos de seus próprios tribunais, mo-
sas, Puritana e Republicana, de 1640, e Gloriosa, de 1688, nopolizavam os postos de oficiais do exército e da marinha.
que implantara a Monarquia Constitucional no Reino Unido.
A independência dos Estados Unidos também fazia parte
desse contexto. Além de promover uma separação pioneira
em relação à metrópole, instituiu a República e a divisão dos
três poderes. A Revolução Industrial inglesa mostrou que as
técnicas produtivas capitalistas e sua imposição à disciplina-
rização do trabalhador promoviam a aceleração da acumula-
ção do capital, ao mesmo tempo em que derrubavam barrei-
ras impostas pelo Mercantilismo. Cabia à burguesia construir
um mundo que fosse capaz de assegurar as conquistas da
classe e garantir a permanência da reprodução do capital.
Para isso, a burguesia precisava assumir o poder político e
determinar as leis que lhe proporcionassem a dominação O TERCEIRO ESTADO REPRESENTADO POR UM CAMPONÊS
econômica e os mecanismos de dominação. CARREGANDO O PRIMEIRO E O SEGUNDO ESTADO NAS COSTAS.
6
O Terceiro Estado compreendia 98% da população1. nobreza, os coelhos se reproduziam tão rapidamente que
Era quem sustentava, mediante pagamento de inúmeros consumiam o que não havia sido destruído pela seca.
impostos, o luxo abusivo dos estamentos anteriores e fi- A fome também chegou às cidades, onde a subprodução
nanciava toda a estrutura parasitária do Antigo Regime agrícola elevou drasticamente os preços dos gêneros alimen-
francês. Sua composição era complexa. As porções urba- tícios. Gastando mais com a alimentação, a população das
nas se aproximavam das classes sociais atuais. Havia a alta cidades deixou de comprar manufaturados, cujas fábricas
burguesia, formada por banqueiros, financistas e grandes dispensaram seus empregados. Multidões de pedintes e fa-
empresários; a média burguesia, constituída por profissio- mintos passaram a povoar as cidades francesas. Em meio a
nais liberais, como médicos, dentistas, professores, advoga- essa crise e às condições deploráveis da população, os há-
dos, etc.; e a pequena burguesia, composta de artesãos e bitos dispendiosos da nobreza, particularmente da nobreza
pequenos comerciantes, cujos ideais eram mais radicais do palaciana, não recuaram.
que os da elite capitalista, que, no futuro, viria a fortalecer o
Em 1786, o governo do rei assinou o Tratado Eden-Rayne-
governo dos jacobinos. Por fim, havia os pobres urbanos, os
val, diminuindo as taxas alfandegárias sobre os produtos
sans-culottes2 – camada social heterogênea de artesãos,
primários exportados para a Inglaterra. Em contrapartida,
aprendizes e proletários. No processo revolucionário, saí-
a França diminuiria suas tarifas para as mercadorias indus-
ram armados em defesa de um novo mundo.
trializadas britânicas, principalmente as têxteis. Com isso, a
No campo, havia muitíssimos camponeses, cerca de 80% de burguesia francesa sofreu um forte abalo diante da concor-
toda a população. Nas camadas mais privilegiadas estavam rência inglesa. As manufaturas têxteis francesas não supor-
os grandes fazendeiros, que exploravam suas propriedades taram a concorrência e várias delas faliram, aumentando o
mediante trabalho assalariado; havia também os campone- desemprego e a miséria.
ses proprietários de pequenas áreas cultivadas com a ajuda O rei Luis XVI iniciava assim uma série de tentativas de re-
de sua família. Uma pequena parcela – aproximadamente formas econômicas e sociais para salvar a França, mas todas
um milhão de pessoas – vivia na condição de servos. elas encontravam sempre forte resistência dos setores sociais.
7
2.5. A nobreza
Uma parte da nobreza, desejosa de reaver seus antigos
direitos feudais em plenitude, e outra parte, composta de
parentes próximos do rei, como seu primo, o duque de Or-
leans, pleiteavam seu direito ao trono com base em ques-
tões de linhagem familiar, e muitos nobres estavam des-
contentes por considerarem seus privilégios insuficientes
ou desejarem cargos palacianos. Essa nobreza conspirava
secreta ou abertamente contra o rei, utilizando-se, muitas
vezes com demagogia, de legítimos direitos e necessidades
burguesas ou populares.
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Aliados aos burgueses, havia membros de classe média
DOCUMENTÁRIO Revolução
urbana, profissionais liberais e intelectuais. Esse foi o caso,
Francesa History Channel
por exemplo, do advogado Maxime Robespierre, do aven-
tureiro Georges Danton e do médico Jean Paul Marat. Mais
tarde, eles e muitos outros desses ressentidos com o Abso-
lutismo se tornariam os participantes e líderes mais radicais 2.6. A influência do iluminismo
do processo revolucionário. A arma ideológica da Revolução Francesa, mediante a qual
a burguesia conseguiu a hegemonia de pensamento e ga-
rantiu o apoio do Terceiro estado, foi a filosofia iluminista.
O contato direto com os filósofos da Ilustração e com suas
ideias permitiu à classe burguesa transformar seus interes-
ses particulares em interesses gerais de toda a sociedade
francesa. A luta contra o Absolutismo, o mercantilismo e os
privilégios sociais do clero e da nobreza também interessava
aos camponeses, aos artesãos e a outras camadas sociais.
3. PROCESSO REVOLUCIONÁRIO
multimídia: vídeo Em virtude da grave crise que se abateu sobre a Fran-
FONTE: YOUTUBE ça, Luis XVI criou a Assembleia dos Notáveis, apoia-
da por reformistas como Necker, Turgot e Breinne. Eles
MARIA ANTONIETA (2006)
propuseram uma taxação sobre a nobreza e o clero no
O filme conta a história da jovem rainha da Fran-
intuito de cobrir o deficit do Estado e financiar projetos
ça do século XVIII, Maria Antonieta. A princesa
que melhorassem a vida do Terceiro Estado. Essa propos-
austríaca Maria Antonieta (Kirsten Dunst) é en-
ta, no entanto, foi recusada pela elite do Antigo Regime,
viada ainda adolescente à França para se casar
que não aceitava pagar esses impostos. Essa recusa foi
com o príncipe Luis XVI (Jason Schwartzman), co-
chamada de Revolta Nobiliárquica. Pressionado pelo con-
mo parte de um acordo entre os países. Na corte
junto da sociedade, o rei Luis XVI convocou, em 1789, a
de Versalhes ela é envolvida em rígidas regras de
Assembleia dos Estados Gerais. Tratava-se de uma
etiqueta, ferrenhas disputas familiares e fofocas
instituição política formada por representantes dos três
insuportáveis, mundo em que nunca se sentiu
confortável. Praticamente exilada, decide criar Estados para assessorar o monarca em momentos de cri-
um universo à parte dentro daquela corte, no se, mas que não se reunia desde 1614. Foi nesse ambien-
qual pode se divertir e aproveitar sua juventude. te que eclodiu a Revolução Francesa.
Só que, fora das paredes do palácio, a revolução O Terceiro Estado apoiou a Assembleia dos Estados Ge-
não pode mais esperar para explodir. Passando rais, pois acreditava que, nas eleições internas, com seus
por uma grande turbulência, Antonieta perdeu 578 representantes, teria a maioria dos votos. O clero te-
um filho em plena Revolução Francesa. ria 291 delegados, dos quais 200 eram do baixo clero;
a nobreza teria 270 delegados, dos quais 90 eram da
8
nobreza iluminada (influenciada pelas ideias iluministas).
Entretanto, a votação seria por Estado e não por “cabe- 4. AS FASES DA REVOLUÇÃO
ça”, o que daria a vitória aos dois estamentos apoiadores
do Antigo Regime. 4.1. A Assembleia Nacional
Com a recusa do clero e da nobreza de estabelecerem um e a monarquia constitucional
acordo na votação, o Terceiro Estado se reuniu algumas (1789–1792)
semanas depois e se declarou em Assembleia Nacional
Constituinte. Os representantes juraram permanecer jun-
tos até a elaboração e a votação de uma Constituição para
a França, atitude que ficou conhecida como o Juramento
da Sala do Jogo da Pela, em 20 de junho de 1789, e mar-
cou o início da Revolução Francesa.
9
Em 1790, com a criação da Constituição Civil do Clero, que forças da Áustria e da Prússia, e o partido jacobino assumiu
nacionalizava as propriedades da Igreja a favor do Estado, o poder republicano ao guilhotinar o rei Luis XVI, em 21 de
o Antigo Regime levou outro golpe. Com isso, constituiu-se janeiro de 1793, depois de um julgamento forjado a portas
um lastro que permitiu ao governo emitir moeda e pagar fechadas e cheio de arbitrariedades.
o deficit público. Alguns membros do clero, como Sieyés,
apoiaram a atitude. Uma parcela dele, no entanto, não
aceitou e fugiu para países ainda absolutistas.
Em 1791, a monarquia constitucional foi legalmente im-
plantada pela promulgação da Constituição Liberal, inspi-
rada nos ideais iluministas da burguesia. No entanto, se a
nova Constituição representava um avanço em relação ao
Absolutismo do Antigo Regime, ela deixava a desejar em
relação às aspirações radicais dos sans-culottes, uma vez
que o voto era censitário, ou seja, baseado na renda, im-
possibilitando o direito de voto a uma parcela significativa
da população. As reivindicações das camadas pobres não
DETENÇÃO DE LUIS XVI E SUA FAMÍLIA, EM VARENNES, 1791.
foram satisfeitas, como a distribuição de riquezas e o fim
da escravidão nas colônias.
No parlamento francês, os deputados se dividiram em facções
que identificavam os grupos políticos separados ideologica-
mente. À direita, na parte de baixo da Assembleia, estavam
os girondinos, representantes da alta burguesia e influencia-
dos pelas ideias de Montesquieu. Os girondinos apoiavam a
liberdade econômica e a instauração da divisão social própria
do capitalismo. À esquerda, estavam os jacobinos, também
denominados “montanha”, uma vez que se sentavam no lo-
cal mais alto. Liderados por Robespierre, foram fortalecidos
multimídia: livros
pelos cordeliers, mais radicais, Danton e Marat. Os jacobinos
A Revolução Francesa, de Carlos Guilherme
representavam a pequena burguesia e as camadas populares,
Mota
defendiam a República, o voto masculino universal e o tabe-
A Revolução Francesa, um dos momentos
lamento de preços. Posteriormente, quando representantes da
mais críticos da história da humanidade, deu
direita girondina precisavam negociar assuntos políticos com os
início a um novo período, inaugurando os tem-
jacobinos, eles se dirigiam ao centro, denominado “pântano”,
pos modernos. A narrativa apresentada nesse
para gerar a falsa sensação de que eram neutros.
livro acompanha todos os acontecimentos da
Com o poder político cada vez mais nas mãos do parla- Revolução Francesa junto ao protagonista Jo-
mento, o rei Luis XVI tentou fugir para a Áustria com o aquim – um estudante brasileiro que chega a
intuito de se aliar militarmente ao imperador austríaco Paris justamente nos momentos iniciais da Re-
e retornar à França reavendo seu poder absolutista. Foi volução Francesa e acaba aderindo à luta pela
descoberto em Varennes, preso e levado a Paris. Em razão liberdade, igualdade e fraternidade.
desse fato, bem como da disseminação dos ideais liberais
na Europa de 1792, os reis absolutistas da Áustria e da
Prússia formaram uma coligação para invadir a França,
com o apoio da nobreza emigrada liderada pelo duque
4.2. Convenção (1792–1794)
Brunswick. Em retaliação, a população parisiense, liderada A guerra da França liberal contra a Áustria e a Prússia, de-
por Danton e Marat, promoveu o massacre de setembro: fensoras do Absolutismo, a tentativa de fuga do rei Luis
invadiu o palácio das Tulherias e matou nobres, exigindo XVI, a indefinição do governo burguês e a vitória do exér-
novas eleições por voto universal. Enfraquecida, restou à cito popular dos sans-culottes sobre as forças do Antigo
família real francesa torcer pela vitória dos países adeptos Regime provocaram a radicalização popular capitaneada
do Antigo Regime, bem como pela burguesia girondina, pelos jacobinos.
que temia a vitória eleitoral dos jacobinos, cada vez mais Nesse contexto de extremos, foi realizada uma eleição
próximos dos sans-culottes. O exército francês venceu as nacional, em que as forças de esquerda venceram com a
10
implantação do voto universal masculino, ou seja, o sufrá- Os jacobinos criaram então o Comitê de Salvação Pú-
gio universal: direito de voto a todos os cidadãos homens blica, órgão radical do governo encarregado de implantar
e maiores de 21 anos, independentemente da renda. Em o tabelamento de preços pela lei do máximo, numa ten-
consequência, as ideias de Rousseau se difundiram e a agi- tativa de conter a inflação. Mesmo contando com o apoio
tação popular se disseminou por todo o território francês, dos sans-culottes, a lei foi criticada pelos comerciantes,
tornando peculiar a Revolução Francesa, uma vez que as pois comprometia a margem de lucro da burguesia, que
revoluções burguesas inglesas não haviam sido popula- defendia os princípios do liberalismo de não intervenção
res. De maioria jacobina, o novo parlamento implantou na do Estado na economia.
França a República, em 22 de setembro de 1792, cujos
O Comitê de Salvação Pública esboçou a implantação do
novos mandatários foram os radicais Danton, Marat e Sain-
ensino público, estimulou o aumento dos salários, lega-
t-Just, sob a liderança de Robespierre, o “incorruptível”.
lizou e aumentou a reforma agrária, capitaneada pelos
No entanto, a morte do rei Luis XVI não consolidou as ex-servos na área rural, e promoveu a abolição da escra-
mudanças jacobinas, pois se formou uma coligação de vidão nas colônias.
países com o objetivo de invadir a França revolucionária.
A radicalização de Robespierre também afetava a cultura
Essa coligação era formada por países absolutistas pode-
e a religião. O governo revolucionário tentou implantar o
rosos, como Áustria, Prússia, Rússia, Espanha e Inglaterra
“culto” a uma nova religião baseada no deísmo, que cul-
e deixou os franceses apreensivos. Embora a Inglaterra já
tuaria o Ser Supremo mediante uma ética racional. Criou
tivesse passado pela revolução burguesa liberal, sua parti-
também o Museu do Louvre, a Escola Politécnica e o Con-
cipação na coligação justificava-se apenas pelos interesses
servatório, bem como um novo calendário, em que o ano
econômicos, pois pretendia evitar a concorrência com os
da proclamação da República passou a ser considerado o
possíveis produtos manufaturados que o novo sistema ca-
ano I e os meses receberam novas denominações de acor-
pitalista francês pudesse produzir.
do com as estações do ano, as condições climáticas e o
A ironia da morte do rei na guilhotina, e um ano mais tarde período das colheitas agrícolas.
da rainha Maria Antonieta e de tantos milhares de france-
Calendário Revolucionário
ses, incluindo muitos revolucionários que iniciaram o movi-
mento, é que o governo revolucionário fazia isso em nome Estação Ordem Mês Ocorrência Duração
de ideais iluministas, como a igualdade jurídica, o amplo colheita
1.º vindimário de uvas 21/9 – 20/10
direito de defesa legal e a transparência total nos proces-
(vindima)
sos judiciais. Contudo, nada disso ocorria nos “processos” Outono brumas,
2.º brumário 21/10 – 20/11
que levaram diversas pessoas à guilhotina, chamada na névoa
época por seus adeptos de “a navalha nacional”. 3.º frimário
geada (do
21/11 – 20/12
fr. frimas)
4.º nivoso neve 21/12 – 20/1
Inverno 5.º pluvioso chuva 21/1 – 20/2
6.º ventoso vento 21/2 – 20/3
germinação
7.º germinal 21/3 – 20/4
dos vegetais
Primavera
8.º floreal flores 21/4 – 20/5
9.º prairial pradarias 21/5 – 20/6
colheita (do
10.º messidor 21/6 – 20/7
lat. messe)
Verão calor (do
11.º temidor 21/7 – 20/8
gr. therme)
12.º frutidor frutas 21/8 – 20/9
4.3. O terror
MAXIMILIEN DE ROBESPIERRE
Como as invasões estrangeiras, a Revolta da Vendeia e a
Outra questão enfrentada pelos jacobinos foi uma grande oposição burguesa estavam pondo em risco o programa po-
revolta popular ocorrida em Vendeia, com a participação pular, os jacobinos radicalizaram mais ainda a Revolução e
de camponeses, artesãos, nobres e clérigos. A revolta de- implantaram o Tribunal Revolucionário, que processou,
monstrava que a Revolução não era tão popular como que- julgou e condenou sumariamente à guilhotina supostos
ria parecer. Esse movimento foi brutalmente reprimido pelo inimigos do governo. Esse momento de massacre, que con-
governo central e seus representantes regionais. tou com o apoio dos sans-culottes, foi chamado de grande
11
terror ou terror jacobino. Ele insuflava o ódio popular ao Para consolidar os privilégios burgueses, foi criada uma
guilhotinar representantes do Antigo Regime e da burguesia. nova Constituição: a Constituição do Ano III (1795), que
Enquanto os girondinos eram mortos, a burguesia do “pân- extinguiu o tabelamento de preços, fez voltar a escravidão
tano” (centro) apoiava os jacobinos numa aliança tática, nas colônias, esvaziou o Comitê de Salvação Pública e des-
mas não ideológica, com o intuito de não ser guilhotinada. moralizou o Tribunal Revolucionário. O voto universal foi
Apesar de existir a defesa dos ideais populares no interior do substituído pelo censitário, para revolta dos sans-culottes.
governo e de o exército ter derrotado as forças da coligação O diretório extinguiu a lei do máximo e franqueou a volta
absolutista estrangeira e reprimido a Revolta da Vendeia, di- da elevação de preços das mercadorias populares, promo-
vergências internas enfraqueceram o governo dos jacobinos. vendo o retorno da liberdade econômica própria do libera-
O grupo dos indulgentes, liderado por Danton, desejava a lismo e da lei da oferta e da procura do liberal Adam Smith.
diminuição do terror, uma vez que a oposição já tinha sido A estrutura política ficou nas mãos de cinco diretores,
debelada; os hebertistas, por sua vez, desejavam radicalizar cujo papel era chefiar o Poder Executivo. O Legislativo era
ainda mais o terror. Essas divergências se acentuaram com a composto pelo Conselho de Anciãos e pelo Conselho dos
morte do radical Marat, atribuída a Danton. 500, modelo que criou condições para o enfraquecimento
Robespierre liderou uma perseguição abusiva às duas fac- do governo. Os diretores brigavam entre si pela defesa de
ções. Por receio de que ambas pudessem sair do controle, seus interesses e pelo poder. Não conseguiam barrar a cor-
foram todos guilhotinados. Os sans-culottes, amedronta- rupção nem eram eficientes na administração pública e na
dos com o aumento da violência, deixaram de apoiar os construção das obras públicas.
jacobinos, que ficaram isolados no poder. O liberalismo econômico era total. Em virtude da inflação
crescente, os preços subiam descontroladamente, penali-
zando as camadas mais pobres da sociedade. A corrupção
era generalizada. Comentava-se que agentes do governo
vendiam armas do exército francês para os países em guer-
ra contra a França.
Cercado de agiotas, corruptos e especuladores, o governo
do Diretório não tinha a confiança de ninguém, nem mes-
mo da alta burguesia a quem representava. Ela sabia que,
por meio dele, não conseguiria manter o poder, sem contar
os inúmeros inimigos internos e externos. De um lado, as
camadas populares e os jacobinos desejavam um governo
popular; de outro, o clero e a nobreza tentavam restaurar
o Absolutismo; e, externamente, os países absolutistas, li-
ROBESPIERRE É CONDUZIDO À GUILHOTINA. derados pela Inglaterra, ameaçavam impedir uma futura
Girondinos sobreviventes do terror se aliaram aos depu- concorrência industrial francesa.
tados do “pântano” e articularam um golpe. Robespierre Em 1795, foi abortado um golpe realista em Paris. No ano
apelou às massas populares de Paris. No entanto, os he- seguinte, foi sufocado um movimento popular de tendên-
bertistas, que poderiam mobilizá-las, estavam mortos, e cia socialista, a Conjuração dos Iguais, cujo líder, Graco Ba-
os sans-culottes não responderam ao seu chamado. Ro- beuf, defendia a soberania popular e a supressão da pro-
bespierre e os líderes jacobinos foram guilhotinados. Era priedade privada. Preso, Babeuf foi guilhotinado em 1797.
o golpe do Nove Termidor, de 27 de junho de 1794, tam-
O Diretório percebeu seu profundo isolamento político das
bém conhecido como Reação Termidoriana, que marcou a
queda da convenção jacobina e a volta da alta burguesia massas populares. A única instituição que poderia proteger
girondina ao poder. seus interesses seria a ala do exército, liderada pelo jovem
e popular general Napoleão Bonaparte. Quando da Revo-
lução, ele era um simples tenente, mas tornou-se general
4.4. Diretório (1794–1799) de brigada aos 24 anos. Depois de um breve período de
Com a alta burguesia no poder, representada politicamen- entusiasmo pelos jacobinos, afastou-se de sua paixão juve-
te pelos girondinos, foi instaurada uma República que des- nil. Ajudou a Revolução a combater os países absolutistas
truiu os avanços sociais consolidados pelos jacobinos, bem que haviam invadido a França e fora o responsável pelo
como as possibilidades de retorno das forças retrógradas fracasso do golpe realista de 1795, o que o tornou confiá-
do Antigo Regime. vel aos olhos da alta burguesia.
12
popular dos sans-culottes nas ruas de Paris e a luta dos cam-
poneses no Grande Medo criaram situações em que as pro-
postas da esquerda jacobina puseram em risco tanto a con-
tinuidade do Antigo Regime quanto a vitória da burguesia.
Com efeito, elas serviram de inspiração para que os ideais
democráticos, na concepção liberal ou popular, e adequados
aos avanços e à continuidade expansionista do capitalismo,
fossem desejados e reivindicados pelas populações de ou-
tros países como uma possibilidade.
Em termos políticos e sociais, a Revolução Francesa criou
um paradoxo que foi repetido em outros movimentos ins-
pirados diretamente por ela, como as Revoluções Liberais
de 1830 e 1848, a Comuna de Paris de 1871, a Revolução
Russa de 1917 e a ascensão do fascismo e do nazismo.
Esse paradoxo está ligado aos próprios ideiais de democra-
cia, liberdade e participação social popular.
GRACO BABEUF
Tudo ocorre bem quando setores da sociedade concordam
Enviado ao Egito para tentar interferir nos interesses do plenamente com o “grupo revolucionário” que assume o
império inglês, o exército de Napoleão foi cercado pela poder desse processo de mudança e se submetem a ele
marinha inglesa. Enquanto isso, os exércitos franceses iam irrestritamente; no entanto, em caso de divergência, discor-
sendo derrotados na Europa. dância ou desobediência, os indivíduos e os grupos sociais
Napoleão deixou seu exército no Egito. Seguido de alguns são duramente reprimidos e massacrados em nome da
generais fiéis, reembarcou para a França, onde, com o apoio mesma liberdade que estão tentando consolidar.
de dois diretores, de toda a alta burguesia e dos sans-culot-
tes, que o viam como uma espécie de salvador da pátria,
assumiu o poder no Golpe 18 Brumário, em novembro de
1799. Esse fato gerou o início de uma pacificação interna e a
consolidação dos interesses da burguesia francesa.
multimídia: livros
A Era das Revoluções, de Eric J. Hobsbawm
Nesse livro, Eric Hobsbawn mostra como a
Revolução Francesa e a Revolução Industrial
inglesa abriram o caminho para a renascença
das ciências, da filosofia, da religião e das ar-
tes, mas não conseguiram resolver os impas-
ses criados pelas fortes contradições sociais,
que transformaram o período numa conturba-
da fase de movimentos revolucionários.
4.5. Conclusão
A radicalização que caracterizou a Revolução Francesa dife-
rencia esse evento histórico da Revolução Gloriosa, de 1688,
na Inglaterra, e da Independência dos EUA. A participação
13
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS
A guilhotina foi utilizada durante a Revolução Francesa para aplicar a pena de morte por decapitação. O aparelho
é constituído de uma grande armação reta (aproximadamente 4 m de altura), na qual é suspensa uma lâmina
losangular pesada (de cerca de 40 kg). As medidas e o peso indicados são os das normas francesas. A lâmina é
guiada à parte superior da armação por uma corda e fica mantida no alto até que a cabeça do condenado seja
colocada sobre uma barra que a impede de se mover. A força aplicada sobre o pescoço do executado chega a 400 N,
considerando a aceleração gravitacional de 10 m/s².
14
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM
Habilidade
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na
10 transformação da realidade histórico-geográfica.
Por meio de discursos, leis, documentos e imagens, a Habilidade 10 exige do candidato a capacidade de analisar a im-
portância dos movimentos sociais e políticos na transformação da realidade histórica. Trata-se de uma habilidade muito
cobrada pelo vestibular, principalmente em eventos históricos de grande ruptura, como a Revolução Francesa (1789).
Para solucionar a questão, o candidato deve ser capaz de captar o teor ideológico e reconhecer os principais intelectuais
desses movimentos. Quase sempre, os excertos apresentados são fundamentais para a resolução, o que exige capacida-
de de interpretação de texto. Assim, diante desses grandes eventos históricos, o aluno não deverá simplesmente se ater
à sequência dos fatos, mas também estudar os atores históricos e as suas respectivas ideologias.
Modelo
(Enem) Em nosso país queremos substituir o egoísmo pela moral, a honra pela probidade, os usos pelos princípios, as
conveniências pelos deveres, a tirania da moda pelo império da razão, o desprezo à desgraça pelo desprezo ao vício,
a insolência pelo orgulho, a vaidade pela grandeza de alma, o amor ao dinheiro pelo amor à glória, a boa companhia
pelas boas pessoas, a intriga pelo mérito, o espirituoso pelo gênio, o brilho pela verdade, o tédio da volúpia pelo
encanto da felicidade, a mesquinharia dos grandes pela grandeza do homem.
HUNT, L. REVOLUÇÃO FRANCESA E VIDA PRIVADA. IN: PERROT, M. (ORG.) HISTÓRIA DA VIDA PRIVADA: DA REVOLUÇÃO
FRANCESA À PRIMEIRA GUERRA. VOL. 4. SÃO PAULO: COMPANHIA DAS LETRAS, 1991 (ADAPTADO).
O discurso de Robespierre, de 5 de fevereiro de 1794, do qual o trecho transcrito é parte, relaciona-se a qual dos
grupos político-sociais envolvidos na Revolução Francesa?
a) À alta burguesia, que desejava participar do poder legislativo francês como força política dominante.
b) Ao clero francês, que desejava justiça social e era ligado à alta burguesia.
c) A militares oriundos da pequena e média burguesia, que derrotaram as potências rivais e queriam reorganizar a França
internamente.
d) À nobreza esclarecida, que, em função do seu contato com os intelectuais iluministas, desejava extinguir o Absolutismo francês.
e) Aos representantes da pequena e média burguesia e das camadas populares, que desejavam justiça social e direitos políticos.
Análise expositiva - Habilidade 10: Robespierre foi o principal líder jacobino e comandou o governo da
E França entre 1792 e 1794, durante a Revolução. Considerado um líder popular, era advogado e membro de
uma pequena burguesia arruinada financeiramente. Defendeu medidas de controle econômico e de geração
de empregos, assim como a ampliação dos direitos políticos a todos os homens, independentemente da renda.
Alternativa E
15
DIAGRAMA DE IDEIAS
REVOLUÇÃO
FRANCESA ORDEM SOCIAL DO
ABSOLUTISMO
ESTOPIM
FASES DA
REVOLUÇÃO
MEDIDAS
FORMAÇÃO DE FACÇÕES POLÍTICAS
• DECLARAÇÃO DOS DIREITOS
DO HOMEM E DO CIDADÃO JACOBINOS PÂNTANO GIRONDINOS
• CONSTITUIÇÃO CIVIL DO CLERO • ESQUERDA
• CONSTITUIÇÃO LIBERAL E • RADICAIS
• DIREITA
VOTO CENSITÁRIO • “SANS
• CENTRO • LIBERAIS
INVASÃO DA ÁUSTRIA E DA CULLOTES”
• ALTA BURGUESIA
PRÚSSIA - DERROTADAS • PEQUENAS
FUGA DO REI BURGUESIAS
16
DIAGRAMA DE IDEIAS
MEDIDAS CARACTERÍSTICAS
• NOVA CONSTITUIÇÃO • CORRUPÇÃO
• REVOGAÇÃO DE MEDIDAS JACOBINAS • INFLAÇÃO
• PREÇOS REGULADOS PELO MERCADO • TENSÕES POLÍTICAS
(LIBERALISMO ECONÔMICO) • INVASÕES ESTRANGEIRAS
• PODER EXECUTIVO - 5 DIRETORES GOLPE DE 18 BRUMÁRIO (1799)
• EXÉRCITO TOMA O PODER
• LIDERANCA DE NAPOLEÃO BONAPARTE
17
AULAS ERA NAPOLEÔNICA E O CONGRESSO DE VIENA
29 E 30 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 13, 14,
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4, 5 e 6 HABILIDADES: 16, 17, 18, 20, 22, 23, 24,
25, 26, 28 e 29
18
terras em que trabalhavam, Napoleão tomou várias me-
didas para legalizar essas propriedades, o que lhe rendeu
1.3. Império (1804–1814)
imensa popularidade em todo o interior da França.
A crise financeira foi controlada pela fundação do Banco
da França (1800), que passou a exercer o controle da emis-
são de papel-moeda (franco), reduzindo o processo infla-
cionário. Além disso, o banco financiou a estrutura admi-
nistrativa do governo, as obras públicas e, principalmente,
as indústrias, que tornaram a França um país capitalista
eficiente e competitivo.
Napoleão também se preocupou com o tema da educa-
ção popular. Ele sabia que o desenvolvimento industrial
da França dependia da formação de uma abundante mão
de obra minimamente qualificada. O ensino secundário
foi organizado com a finalidade de instruir funcionários
para o Estado.
Para governar a França, Napoleão usou o plebiscito. Todas
as decisões importantes do primeiro-cônsul eram subme-
tidas ao referendo popular pelo voto universal. Assim, ele
conseguiu o apoio do homem comum. No entanto, para
que esse mecanismo político funcionasse a favor do go- NAPOLEÃO I EM REGALIA, DE FRANÇOIS GÉRARD. 1805. PALÁCIO DE VERSALHES.
verno, era preciso garantir a boa imagem dos governantes
e, principalmente, silenciar quem discordasse do governo. Consolidada internamente a Revolução e vencida a resistên-
Para isso, Napoleão censurou todos os jornais que se opu- cia dos inimigos externos, Napoleão garantiu o apoio da
nham a sua política e criou um poderoso aparato policial burguesia, do exército e dos camponeses. Fortalecido, não
destinado a reprimir qualquer oposição. hesitou em dar mais um passo para a exaltação de sua per-
sonalidade. Em 1804, foi promulgada a Constituição do ano
Considerado por Napoleão sua obra mais importante, XII, aprovada em plebiscito pela imensa maioria da popula-
o Código Civil garantia os princípios de cidadania bur- ção francesa, que substituía o regime de Consulado pelo de
gueses, baseados na liberdade individual, de trabalho e de Império. Napoleão foi coroado na Catedral de Notre-Dame
consciência, e reiterava as propostas iluministas do Estado sob o título de Napoleão I, Imperador dos franceses. Um
laico e da igualdade jurídica. Inspirado no Direito Roma- imperador que defenderia os ideais da República.
no e ratificado em 1804, o Código garantiu o direito de
propriedade, proibiu as greves operárias e a organização Napoleão legalizou a reforma agrária, contribuindo para
sindical e regulamentou os procedimentos civis e criminais a expansão agrícola e para a melhoria do padrão de vida
relacionados à família. de camponeses e pequenos proprietários rurais; financiou
generosamente as indústrias, que passaram a buscar um
Outra medida política importante de Bonaparte foi sua mercado consumidor fora de suas fronteiras; realizou obras
aproximação com a Igreja Católica. Apoiado pelo papa públicas que revitalizaram a infraestrutura, como abertura
Pio VII, criou a Concordata (1801), que permitia o controle de canais, reconstrução de portos, construção de estradas
do papa sobre o clero francês em troca de sua proteção e e embelezamento das cidades. A essas medidas soma-se
de sua inserção no Estado bonapartista. O papa aceitou o a transformação do ensino de História e Filosofia, dirigido
confisco dos bens eclesiásticos, e o Estado ficou proibido aos jovens, em doutrinação político-ideológica. Essa reali-
de interferir no culto; os bispos, indicados pelo governo e dade político-ideológica, vigiada por uma eficiente censu-
investidos nas funções religiosas pelo papa, prestariam ju- ra, confirmou, na consciência dos sans-culottes, a sensação
ramento de fidelidade ao governo; as bulas só entrariam de que Napoleão Bonaparte era invencível, o “salvador da
em vigor depois de aprovadas por Napoleão. pátria”, uma Joana D’Arc de calças.
Em 1802, graças ao êxito da política interna e externa de A ação política do império napoleônico foi arbitrária: limitou
Napoleão, foi estabelecida a hereditariedade do Consula- as conquistas estabelecidas pela Revolução, a liberdade indi-
do: o primeiro-cônsul recebeu do Senado o direito de indi- vidual e de pensamento; jornais e revistas foram censurados.
car seu sucessor. Tratava-se, na realidade, da implantação Como nos tempos do Absolutismo, um cidadão poderia ser
da monarquia hereditária. encarcerado por qualquer motivo e sem explicação.
19
Apesar do despotismo napoleônico, o Absolutismo não foi monarquias absolutistas europeias partidárias do Antigo
restaurado, dadas as diferenças históricas das duas formas Regime e defensoras dos privilégios aristocráticos e de
de poder político: o império napoleônico era essencialmen- reformas mais conservadoras, derrotar a França era uma
te burguês, atendia às necessidades e aos interesses da questão de sobrevivência, uma garantia de que os ideais
burguesia – a “paz social” e a liberdade de comércio e da Revolução Francesa não teriam sucesso no continente
desenvolvimento industrial. A nobreza do novo regime pro- europeu.
vinha da burguesia: parentes do imperador, generais, gran-
A suspeita de que os franceses estavam se preparando
des comerciantes, banqueiros e industriais. Seus títulos, no
para invadir a Inglaterra fez com que os ingleses restabele-
entanto, não lhes conferiam privilégios como no Antigo
cessem a aliança com a Rússia, governada então por Ale-
Regime, uma vez que, perante a lei, os novos nobres eram
xandre I. Com a adesão da Áustria, da Suécia e de Nápoles,
iguais aos demais cidadãos.
estava formada a Terceira Coligação antifrancesa (1803).
A França, por sua vez, ganhou o apoio da Espanha, cuja
esquadra de guerra se juntou aos navios franceses para
enfrentar a Marinha inglesa. Mesmo assim, a poderosa es-
quadra britânica, comandada pelo almirante Nelson, saiu-
-se vitoriosa na famosa Batalha de Trafalgar (1805), que
impediu a invasão da Inglaterra por Napoleão.
© Everett Historical/Shutterstock
multimídia: livros
Napoleão: sua vida, suas batalhas, seu império,
de David Chanteranne e Emmanuelle Popot
Napoleão Bonaparte é um dos maiores líderes 1805 NAPOLEON AT AUSTERLITZ, DE ERNEST MEISSONIER
(1815–1891). 1908. A GRANDE LINHA DA CAVALARIA E
da História. Famoso por seu surpreendente su- ARTILHARIA FRANCEZA DURANTE BATALHA EM AUSTERLITZ.
cesso no campo de batalha, contribuiu para a
França tornar-se a maior potência continental Em terra, porém, a superioridade francesa era indiscutível.
imperial desde Roma. Sua influência duradou- Nas batalhas de Ulm, na Prússia, e em Austerlitz, no Sacro
ra estende-se além da esfera militar, moldan- Império Romano-Germânico, Napoleão derrotou as tropas
do a Europa que conhecemos hoje. Esse livro austríacas e russas. Napoleão suprimiu o que restava do
dá uma ideia sem precedentes da mente do Sacro Império Romano-Germânico e criou, em 1806, a
homem extraordinário que, com um início Confederação do Reno, que reunia a maioria dos Estados
modesto na Córsega, tornou-se imperador da alemães, dos quais Napoleão se autodenominou “prote-
França e de seu vasto império. O livro examina tor”. Com a Confederação do Reno manteve-se a frag-
as batalhas que fizeram dele uma lenda e ana- mentação política dos alemães, agora controlados pelos
lisa as reformas políticas e sociais que realizou franceses.
e que revolucionaram o mundo ocidental.
Em 1806, Napoleão decretou o Bloqueio Continental
contra a Inglaterra, acreditando que, ao fechar o acesso
dos ingleses aos mercados europeus, poderia provocar
1.4. Política externa uma crise na indústria inglesa e, consequentemente, uma
A paz com a Inglaterra foi passageira. A França havia es- crise social sem tamanho. O decreto proibia os países eu-
tabelecido uma política protecionista que prejudicava o ropeus sob domínio francês ou aliados da França de adqui-
comércio inglês. A Inglaterra, por sua vez, recusava-se a rirem produtos ingleses ou de receberem embarcações da
abandonar Malta e Egito, como ficara decidido na Paz de Inglaterra em seus portos.
Amiens. Para os ingleses, a luta contra os franceses torna- No mesmo ano, Inglaterra, Rússia e Prússia formaram a
va-se inevitável, dada a concorrência comercial e industrial Quarta Coligação. A Prússia foi rapidamente derrotada na
nos mercados europeus. Além disso, o exemplo francês po- Batalha de Iena (Prússia), e os russos caíram em 1807,
deria instigar na Inglaterra o levante das camadas pobres nas Batalhas de Eylau e Friedland (Prússia). Pela Paz de
da população, que, desde a Revolução Gloriosa de 1688, Tilsit, a Prússia foi desmembrada e a Rússia tornou-se
mantinham-se sujeita ao controle da burguesia. Para as aliada da França.
20
Países aliados da Inglaterra tentaram resistir às pressões a negociar diretamente com Portugal. Mas isso não era
francesas para aderir ao Bloqueio Continental. Foi o caso o suficiente.
de Portugal, que, por esse motivo, foi invadido por Napo- Os espanhóis enfrentavam uma grave crise política, fato que
leão. Em 1807, a Corte portuguesa foi obrigada a fugir favoreceu a ocupação da Espanha pelas tropas francesas. Em
para o Brasil com o apoio inglês. A mudança da coroa 1808, a Espanha passou a ser governada por José I, irmão de
portuguesa para o Brasil facilitou as atividades econô- Napoleão.
micas da Inglaterra, uma vez que os ingleses passaram
Com a derrota da Quarta Coligação e a invasão da Pe- Diversas nações europeias, por sua vez, sentiam falta do
nínsula Ibérica, Napoleão tornou-se o grande senhor da mercado inglês para o qual, antes, exportavam seus pro-
Europa continental. Os territórios não diretamente domi- dutos primários em troca das manufaturas inglesas. Essas
nados pelo imperador estavam entregues a aliados e fami- nações passaram a comerciar clandestinamente com os
liares. Seus irmão José era rei de Nápoles e Espanha, seu ingleses, burlando a vigilância francesa, ao mesmo tempo
irmão Luís era rei da Holanda, e seu irmão Jerônimo era em que tramavam seu rompimento com o Império.
rei da Vestfália. Por onde seus exércitos passavam, a velha
Para agravar a situação, Inglaterra, Áustria, Prússia e Sué-
ordem era destruída: implantavam-se constituições, divul-
cia formaram, em 1809, a Quinta Coligação, mais uma vez
gava-se o Código Civil e modernizavam-se as estruturas
derrotada por Napoleão. Mesmo vitorioso, as fissuras do
econômicas.
Império cresciam cada vez mais.
21
Napoleão cedeu às dificuldades e resolveu retirar-se para
sucumbir a um novo e poderoso inimigo: o inverno russo.
1.6. O Governo dos Cem Dias (1815)
Do gigantesco exército que invadira o território da Rússia, A restauração monárquica favoreceu o retorno à França de
apenas 10 mil homens retornaram com vida. nobres e membros do alto clero que haviam sido despoja-
dos e exilados pela Revolução. Esse período foi marcado
pela violência e arbitrariedade desses nobres e ficou co-
nhecido como Terror Branco. Paralelamente às persegui-
ções e massacres, o clero e os nobres exigiam a devolução
das terras confiscadas durante a Revolução, o que causou
uma explosão de revoltas camponesas.
Em Elba, Napoleão acompanhava atentamente a evolução
dos acontecimentos. Em 1815, julgou que o momento era
propício para fugir da ilha e avançar sobre o território fran-
cês à frente de sua guarda pessoal de 1,2 mil homens.
Na caminhada até Paris, era saudado por todos e aliava-se
aos exércitos enviados para detê-lo, bem como aos antigos
NAPOLEÃO SE RETIRA DE MOSCOU, DE ADOLPH NORTHERN.
revolucionários. Tratava-se de defender a Revolução, as li-
Inglaterra, Áustria, Prússia e Rússia formaram a Sexta Coli- berdades burguesas e a propriedade camponesa contra os
gação, incentivadas pelo enfraquecimento do Império Na- Bourbon, o clero e a nobreza emigrada. Depois de 20 dias
poleônico, mais visível depois do grande fracasso da campa- de marcha sem disparar um só tiro, Napoleão estava em
nha da Rússia. Em março de 1813, Napoleão foi derrotado Paris, instalado nas Tulherias. Luís XVIII fugiu para a Bél-
na Batalha de Leipzig; um ano depois, os exércitos da Sexta gica, e Napoleão conseguiu pela segunda vez o poder, no
Coligação tomaram Paris, e Napoleão foi obrigado a abdicar. qual se manteria por mais cem dias.
Ele foi preso na ilha mediterrânea de Elba, e o governo fran- Ele organizou as tropas e avançou contra os aliados que
cês foi confiado ao rei absolutista Luis XVIII, da dinastia dos estabeleceram a Sétima Coligação com o objetivo de
Bourbons, irmão do guilhotinado Luis XVI. enfrentá-lo antes que invadissem a França. Entretanto, Na-
poleão não conseguiu reconstruir seu exército com a mes-
ma eficácia anterior e foi destruído na Batalha de Waterloo
pela Áustria e pelo exército inglês, liderado por Wellington,
que o encarcerou até a morte natural na remota ilha de
Santa Helena, no Atlântico sul.
O período napoleônico consolidou a Revolução Francesa, à
medida que firmou o poder da burguesia e criou as condi-
ções de desenvolvimento da propriedade privada burgue-
sa, mesmo tendo limitado ou suprimido certos princípios
defendidos pela Revolução.
Na Europa, Napoleão foi o responsável pela expansão dos
ideais de modernização política e econômica da burguesia.
Por onde seus exércitos passavam, os últimos redutos do
feudalismo e do Absolutismo eram destruídos, implanta-
va-se a liberdade de comércio, as sociedades privilegiadas
desapareciam, desmistificava-se a balela do direito divino
dos reis. Napoleão fazia e desfazia reis da mesma forma
que nomeava ou demitia funcionários.
A prisão e a morte de Napoleão frearam os ideais bur-
gueses, que seriam recuperados no século XIX, quando
das revoluções liberais e nacionais, que levaram nova-
mente a Europa a trilhar o caminho da ideologia e da
NAPOLEÃO ABDICANDO EM FONTAINEBLEAU, DE PAUL
economia capitalista e a se distanciar definitivamente do
DELAROCHE. 1855. MUSEU DE FINAS ARTES, LEIPZIG. Antigo Regime.
22
2. CONGRESSO DE VIENA (1814-1815)
23
2.1. A Europa depois do Congresso de Viena
24
O apogeu dessa aliança foi marcado por intervenções mili- Além da ausência da Inglaterra, outro duro golpe na Santa
tares que esmagaram os movimentos liberais ou naciona- Aliança foi a proclamação da Doutrina Monroe, em 1823,
listas ocorridos em alguns países da Europa. Em 1819, a pelos EUA. Baseando-se no lema “a América para os ame-
Santa Aliança reprimiu os nacionalistas que lutavam pela ricanos”, essa doutrina tinha como princípio fundamental
unificação da Alemanha; em 1821 e 1822, interveio em que o Novo Mundo deveria solucionar seus problemas in-
Nápoles e na Espanha para combater os liberais que luta- ternos sem nenhuma intervenção das potências europeias.
vam contra o Absolutismo. À luz desse princípio, o governo dos EUA passou a consi-
derar ato de guerra qualquer agressão estrangeira a um
A Inglaterra não participou dessas empreitadas, pois dis-
país americano. O golpe final na política da Santa Aliança
cordava dos planos da Santa Aliança de restaurar o antigo
veio com o triunfo de novas revoluções liberais na Europa
colonialismo na América. Os novos países independentes
a partir de 1830.
no continente americano aderiram ao livre comércio e
abriram seus mercados aos produtos industriais ingleses. A
restauração do pacto colonial nessas áreas seria extrema-
mente prejudicial aos interesses comerciais ingleses.
A Rússia é atravessada por quatro climas: ártico, subártico, temperado e subtropical. As estações podem ser ca-
racterizadas da seguinte maneira: inverno longo e nevoso; primavera temperada; verão curto e quente; e outono
chuvoso. Essas características variam muito por região. A Sibéria, no norte do país, é a região mais fria. Registram-se
temperaturas no inverno da ordem dos –40 °C ou –50 °C, às vezes chegando aos –60 °C ou até menos. No sul, o
clima é mais quente, havendo campos e estepes onde as temperaturas chegam aos –8 °C.
Nesse clima inóspito, o exército de Napoleão foi brutalmente vencido e obrigado a recuar até a Europa central. A
obra Guerra e Paz, de Liev Tolstoi, narra esse evento com rara precisão e beleza.
25
DIAGRAMA DE IDEIAS
CARACTERÍSTICAS MEDIDAS
CARACTERÍSTICAS MEDIDAS
POLÍTICA EXTERNA
• 1812 - DERROTA NA RÚSSIA
• VITÓRIAS SOBRE AS COLIGAÇÕES ATÉ 1809
• 1813 - DERROTA NA BATALHA DE LEIPZIG
• BLOQUEIO CONTINENTAL ATÉ 1805
• 1814 - OCUPAÇÃO DE PARIS
• CONTROLE SOBRE O TERRITÓRIO EUROPEU
E EXÍLIO DE NAPOLEÃO
• ENFRAQUECIMENTO
• DERROTAS NA ESPANHA
• BOICOTE AO BLOQUEIO CONTINENTAL
26
DIAGRAMA DE IDEIAS
• RETORNO DE NAPOLEÃO
• IMAGEM DE DEFENSOR DA REVOLUÇÃO
GOVERNO DOS
C • DERROTADO NA BATALHA DE WATERLOO
CEM DIAS (1815)
POR INGLATERRA E ÁUSTRIA
• EXÍLIO NA ILHA DE SANTA HELENA
OBJETIVO PRINCÍPIOS
ESTABELECER O ANTIGO REGIME • RESTAURAÇÃO
• LEGITIMIDADE
PARTICIPANTES • EQUILÍBRIO EUROPEU
INGLATERRA, ÁUSTRIA, PRÚSSIA E RÚSSIA
MEDIDAS
• REDEFINIÇÃO DE FRONTEIRAS
• SANTA ALIANÇA • UNIDADE MILITAR
OPOSIÇÃO • LUTA CONTRAGRUPOS LIBERAIS
• INGLATERRA • RECOLONIZAÇÃO DA AMÉRICA
• ESTADOS UNIDOS
27
REVOLUÇÕES DE 1830 E 1848 E
AULAS SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
31 E 32 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 13, 14,
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4, 5 e 6 HABILIDADES: 16, 17, 18, 20, 22, 23, 24,
25, 26, 28 e 29
1. INTRODUÇÃO
No início do século XIX, forças sob o comando da burguesia
liberal, inspiradas pela Revolução Francesa e lideradas por
Napoleão Bonaparte, invadiram grande parte da Europa,
enfraquecendo o Antigo Regime. Com a derrota de Napo-
leão em Waterloo, configurou-se um ambiente propício ao
retorno das casas reais absolutistas, cenário em que ocorreu
o conservador Congresso de Viena, que recusou os ideais
revolucionários. Entretanto, as forças de oposição se rea-
gruparam e passaram a se rebelar contra o próprio regime
absolutista. Foi o caso da deflagração da Revolução Liberal
do Porto (1820), em Portugal, que estabeleceu a monarquia
constitucional e subordinou o poder do rei João VI ao parla-
mento lusitano. Em outras regiões europeias, desenhava-se
o mesmo cenário de busca pela liberdade. Contudo, como o
Congresso de Viena havia legitimado as invasões territoriais
de Áustria, Prússia e Rússia sobre algumas regiões da Euro-
pa, a luta pelo ideal de liberdade e pelo liberalismo burguês CARLOS X
passou a incluir também a luta pela independência daquelas
Em 1814, com a volta dos Bourbon e a coroação de Luis
regiões, acendendo a luz do nacionalismo.
XVIII, e depois da derrota de Napoleão na Batalha de Leipzig
(1813), inaugurou-se o período de restauração na França.
2. REVOLUÇÕES DE 1830 Interrompida em 1815 pelo governo dos Cem Dias, a res-
tauração foi retomada após a derrota definitiva de Napoleão
em Waterloo.
2.1. A França pós-Napoleão
A restauração na França não significou a volta à política
absolutista. A partir de 1815, Luis XVIII adotou uma polí-
tica de meio termo, procurando conciliar a restauração do
Absolutismo com a manutenção de algumas conquistas da
Revolução de 1789, como a igualdade jurídica dos cida-
dãos franceses. O rei outorgou uma constituição instauran-
do uma assembleia que seria eleita pelo voto censitário.
Luis XVIII governou com o apoio dos ultrarrealistas – adep-
tos ferrenhos do Antigo Regime –, que queriam restabele-
cer o Absolutismo de origem divina dos reis. Inspirados pelo
chamado “terror branco”, passaram a perseguir os liberais,
partidários da Revolução Francesa, e os bonapartistas por
meio de ações que se caracterizaram como verdadeiros
massacres. Os excessos cometidos pelos ultrarrealistas
obrigaram Luis XVIII a dissolver a Câmara e convocar no-
vas eleições, vencidas pelos constitucionalistas, partidários
LUÍS XVIII
da plena aplicação da Constituição.
28
Depois da morte de Luis XVIII, em 1824, ascendeu ao trono
seu irmão Carlos X, chefe do partido ultrarrealista, que, em
1830, apoiado pela nobreza, desfechou um golpe de Estado
com a intenção de aniquilar a oposição liberal burguesa e
restaurar o Absolutismo no país. Em julho daquele ano, de-
cretou a dissolução da Assembleia, a abolição da liberdade
de imprensa, o aumento do censo eleitoral e uma lei que
previa a indenização dos nobres cujos bens tivessem sido
confiscados durante a Revolução.
multimídia: livros
Essas medidas de caráter absolutista foram criticadas
pelo povo parisiense nas ruas durante os “três dias glo- Tocqueville, Burke, Paine: Revolução, democra-
riosos”. Nas barricadas erguidas pelos populares, lutou- cia e tradição, de Ricardo Luiz de Souza
-se contra as tropas fiéis ao rei. Na madrugada do dia A obra Tocqueville, Burke, Paine: Revolução,
29 de julho de 1830, a revolução mais uma vez triunfou democracia e tradição apresenta uma análise
na França. Carlos X, temendo o mesmo fim de Luis XVI, comparativa do pensamento de Alexis de To-
fugiu para a Inglaterra, deixando o trono para seu neto cqueville, Edmund Burke e Thomas Paine, três
menor de idade. clássicos do pensamento político que escreve-
ram a partir de uma mesma temática: o pro-
cesso de surgimento da democracia contem-
porânea nos movimentos revolucionários da
Revolução Francesa, da independência dos Es-
tados Unidos e das revoluções de 1830 e 1848.
29
3. REVOLUÇÕES DE 1848: Em relação ao governo anterior, quase não ocorreram
progressos sociais: direito de voto muito pouco ampliado,
A “PRIMAVERA DOS POVOS” imprensa censurada e oposição reprimida. Não obstante,
a França conseguiu um desenvolvimento industrial acele-
rado, fortalecendo a burguesia industrial e comercial. Por
outro lado, a situação dos operários era de extrema misé-
ria, de baixos salários e de jornada de trabalho com mais
de 14 horas diárias.
Os oposicionistas ao governo de Luís Filipe organizaram-se
em vários partidos: legitimista, constituído pela nobreza, de-
sejosa de restaurar o poder dos Bourbon, depostos em 1830;
bonapartista, formado pela pequena burguesia e liderado
por Luís Bonaparte, sobrinho de Napoleão; socialista, com-
posto de diversas facções que procuravam organizar a classe
operária; republicano, de tendência nacionalista, que encon-
trava apoio entre a classe média e os profissionais liberais.
BARRICADAS NAS RUAS DE PARIS DURANTE A REVOLUÇÃO O povo francês não se sentia satisfeito com o elitismo liberal
DE JUNHO DE 1848, DE HORACE VERNET.
do governo de Luís Filipe e passou a tentar derrubá-lo. Como
a burguesia percebeu a impossibilidade da permanência do
3.1. Causas rei, passou a discutir sua substituição, que ocorreu após o
De modo geral, foram três as causas das revoluções de líder do governo ter reprimido um “banquete” da oposição.
1848: o liberalismo, contrário às limitações impostas
pelo Absolutismo; o nacionalismo, que procurou unir po-
liticamente os povos de mesma origem e cultura; e o so-
cialismo, força nova, nascida nos movimentos de 1830,
que pregava a igualdade social e econômica por meio de
reformas radicais.
Além dessas, podem ser mencionadas também como cau-
sas das revoluções de 1848:
as péssimas colheitas na Europa, entre 1846 e 1848,
fazendo com que os preços dos produtos agrícolas su-
bissem muito, agravando a situação das camadas mais
pobres;
a crise na indústria – principalmente têxtil – e a crise
agrícola, que desencadearam o empobrecimento dos
camponeses e a diminuição do consumo de tecidos,
gerando superprodução e desemprego.
A crise variou de país para país. Na Itália e na Irlanda, foi
principalmente agrária; na Inglaterra e na Prússia, foi mais LUÍS FILIPE, O “REI BURGUÊS”
industrial. O proletariado parisiense se rebelou, seguido pela popu-
lação da cidade e por alguns setores da Guarda Nacional.
3.2. A revolução na França Foram três dias de luta nas barricadas. No dia 24 de fe-
vereiro, Luís Filipe abdicou. Foi estabelecido um governo
Quando Luís Filipe assumiu o poder, um político francês co-
provisório que, por sua vez, proclamou a República.
mentou: “De hoje em diante governarão os banqueiros”.
Ele tinha razão. Todas as frações da burguesia – pequenos O governo provisório constituído por republicanos, socia-
burgueses, industriais, comerciantes etc. – haviam partici- listas e bonapartistas assinalou o início da Segunda Repú-
pado da luta contra o poder absolutista e a velha aristocra- blica Francesa. O novo governo era presidido pelo poeta
cia, mas quem assumiu o poder foi apenas uma parte da Lamartine, republicano liberal, ao lado de Louis Blanc, mi-
burguesia ligada ao capital financeiro. nistro do Trabalho e porta-voz da corrente socialista.
30
Sob pressão dos trabalhadores, foram criadas as oficinas No âmbito social, empreendeu vigoroso programa de mo-
nacionais, empresas dirigidas e sustentadas pelo Estado. dernização do país, com a construção de estradas de ferro,
Para pagar os salários dos trabalhadores dessas oficinas, os portos, canais e estradas. O prefeito Haussmann mudou a
impostos foram elevados, o que provocou uma crise ainda fisionomia de Paris, ampliando suas avenidas e reurbani-
maior na economia francesa. As oficinas foram fechadas. zando a cidade.
Nesse ambiente de radicalização, a II República foi im-
plantada. O voto universal foi instituído, para temor da
burguesia, embora fosse imprescindível para que ela obti-
vesse o apoio da população e não se mantivesse isolada,
permitindo o crescimento político dos grupos radicais. Um
governo híbrido formado de liberais e radicais foi criado,
mas, em virtude das divergências internas, sua ação ficou
impossível. A burguesia aproveitou-se da situação para in-
dicar o sobrinho de Napoleão Bonaparte para a presidên-
cia do país, graças à sua popularidade, herdada do tio, e O ARCO DO TRIUNFO, INICIADO DURANTE O GOVERNO DE NAPOLEÃO III
às suas ligações com o pensamento liberal. Luís Bonaparte (1853–1870), E A PARIS DOS BULEVARES (AVENIDAS),
IMPLANTADA PELO BARÃO HAUSSMANN, PREFEITO DA CIDADE.
venceu a eleição pelo voto universal e a burguesia conti-
nuou a controlar a administração pública.
multimídia: livros
Lembranças de 1848: As Jornadas Revolucio-
nárias em Paris, de Alexis de Tocqueville
O ano é 1848. Ao longo de um inverno rigo-
roso, agitações políticas e sociais espalham-se
pela França. A população de Paris, centro da
monarquia, subleva-se no final de fevereiro,
forçando a fuga do rei Luís Filipe. Contudo,
uma reação conservadora logo se impõe no
governo republicano e na Assembleia Consti-
tuinte. No mês de junho, operários levantam
barricadas em uma revolução socialista, cuja
repressão resulta na morte de quase 5 mil
pessoas. Em Lembranças de 1848, Alexis de
NAPOLEÃO III Tocqueville oferece seu testemunho daquele
Em 1851, a burguesia percebeu que existia a possibilidade momento da história da França e de toda a
de o governo de Luís Napoleão acabar devido à radicaliza- Europa, reconstituindo os fatos e persona-
ção da República. Assim, uma facção da burguesia apoiou- gens da revolução, desde seu ponto de vista
-o numa espécie de segundo golpe de 18 de brumário, que de cidadão, deputado e ministro do “partido
implantou um plebiscito e tornou-o “imperador” com o da ordem”. O autor retrata o emaranhado de
título de Napoleão III no Segundo Império. Eram os facções em luta pelo poder durante a Segunda
mesmos passos do tio com o apoio do povo. República, sem se deixar iludir pelo olhar en-
viesado de membro de uma aristocrática famí-
O Segundo Império se caracterizou pelo cesarismo de Na-
lia, e denuncia o artificialismo e a teatralidade
poleão III, que governou ditatorialmente por meio de diver-
da política.
sos plebiscitos.
31
A burguesia passou a desfrutar de um governo estável e A Itália e a Alemanha tiveram de lutar por sua unificação.
moderado que incentivou o desenvolvimento industrial e A Hungria foi obrigada a lutar contra o domínio austríaco.
científico, período em que floresceu o Positivismo e a Se-
As repercussões das revoluções de 1848 foram tão amplas
gunda Revolução Industrial.
que atingiram o Brasil, inspirando a denominada Revolu-
ção Praieira em Pernambuco.
4. A SEGUNDA REVOLUÇÃO
INDUSTRIAL
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
32
o motor de combustão interna, inventado por Ni-
kolaus Otto e aperfeiçoado por Rudolf Diesel, que abriu
4.2. A expansão da
caminho para a utilização do petróleo em larga es- Revolução Industrial
cala; ele passou a ser utilizado como força motriz em A Bélgica foi o primeiro país da Europa Continental a
navios e locomotivas, criando também condições para industrializar-se rapidamente no século XIX, industrializa-
o surgimento do automóvel e do avião. ção essa facilitada graças ao carvão e ao ferro, resultado
Enquanto a primeira fase da Revolução Industrial do sé- do investimento de capitais ingleses e da proximidade do
grande mercado europeu.
culo XVIII se concentrou na produção de bens de con-
sumo, principalmente de têxteis de algodão, na segunda A revolução industrial na Alemanha foi impulsionada
fase, a indústria pesada passou a ser o centro do sis- pela unificação. A integração do mercado interno, o ferro
tema produtivo. A produção de aço superou a de ferro, da Alsácia-Lorena e a indenização de guerra (franco-prus-
e os preços caíram consideravelmente. O descobrimen- siana) paga pela França levaram a Alemanha a um acelera-
to dos processos eletrolíticos estimulou a produção de do desenvolvimento econômico: em menos de meio século
alumínio. Na indústria química, o grande avanço foi ela ascendeu à condição de primeira potência industrial da
representado pela obtenção de métodos mais baratos Europa Continental.
para a produção de soda e ácido sulfúrico, substâncias Na Itália, a unificação política realizada em 1870, à se-
importantes para a fabricação de papel e explosivos e melhança da alemã, impulsionou, embora tardiamente, a
para a vulcanização da borracha. industrialização do país, que se limitou ao Norte, enquanto
O desenvolvimento acelerado dos meios de transporte o Sul continuou essencialmente agrário.
também representou uma verdadeira revolução. A cons- Na França, houve uma lenta transformação, acelerada a
trução e expansão das ferrovias exigiram que os bancos partir de 1848. A falta de carvão, a estagnação demográfi-
e as companhias de ações mobilizassem os capitais. ca e o investimento de seus capitais no exterior limitaram
Esse processo estimulou a dinamização da produção o avanço industrial. Lá se criou uma cultura burguesa que
de ferro, dormentes, cimento, locomotivas e vagões. Em unia à industrialização um estilo de vida alegre e luxuo-
1808, a invenção do barco a vapor por Robert Fulton so denominado Belle Èpoque, particularmente no que se
transformou a navegação marítima. As ligações transo- referia à moda no cotidiano – vestimenta e etiquetas. A
ceânicas ganharam impulso depois de 1838, com a in- burguesia francesa financiou feiras científicas e festas. A
venção da hélice. construção da Torre Eiffel funcionou como propaganda da
A agricultura se adaptou às novas condições impostas pela qualidade do aço de siderurgia do próprio Eiffel. A potência
sociedade de massa, que incorporou novos produtos e no- imperialista francesa explorou as regiões africanas da Tuní-
vos instrumentos de trabalho e intensificou os rendimen- sia, da Argélia, da Somaliândia Francesa e de Madagascar,
tos, adequando a produção ao mercado consumidor. e, na Ásia, da península coreana e a da Indochina.
33
dos Hannover, era extremamente ligada à burguesia, que
a elegera como porta-voz de seus valores industriais, angli-
canos e calvinistas. A Grã-Bretanha já exercia o predomínio
na navegação internacional, produtora que era de 80% da
produção mundial de navios. Controlava áreas africanas –
Egito, Sudão, Nigéria, Serra Leoa, Costa do Ouro – e, pos-
teriormente, comprou a África do Sul da Holanda. Na Ásia,
o Reino Unido invadiu grande parte da China e da Índia.
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
II Revolução Industrial
34
Industrial, surgiram grandes conglomerados econômicos e no decorrer do século XIX. Com a Revolução Industrial, as
subprodutos típicos desse novo sistema: trustes, cartéis e pessoas passaram a viajar em trens a vapor que alcança-
holdings. vam a velocidade de 150 km por hora e em navios também
movidos a vapor.
Trustes: formam-se graças à eliminação ou A Revolução Industrial introduziu o conceito de progresso,
absorção de pequenos concorrentes por grandes inúmeros benefícios materiais e conforto às pessoas. No
empresas, produtoras de determinadas merca- século XIX, a burguesia inglesa já contava com iluminação
dorias, que passam a monopolizar a produção, o a gás, cortinas e tapetes adquiridos nos grandes magazines
preço e o mercado. São regularmente resultado que surgiram em Londres e em Paris a partir de 1840. As
da fusão de empresas do mesmo ramo. percepções e os hábitos da vida cotidiana foram afetados
pela máquina fotográfica, o gramofone, a máquina de es-
Cartéis: são formados mediante acordo entre
crever, as porcelanas inglesas, etc.
grandes empresas que, para evitarem os des-
gastes da concorrência, convencionam entre si Antonio S. G. Meucci criou um protótipo do telefone e
formas de manutenção dos preços e de divisão vendeu sua criação a Alexander Graham Bell, que o aper-
dos mercados, deixando sempre a salvo a auto- feiçoou e, em 1876, patenteou-o como invenção sua. So-
nomia de cada uma delas. mente em 2002, o Congresso dos Estados Unidos aprovou
uma resolução reconhecendo Meucci como o verdadeiro
Holding : consiste na assunção do controle de inventor do telefone.
uma grande companhia sobre inúmeras outras
por meio da compra da maior parte de suas
ações, o que lhe permite passar a atuar de forma
coordenada.
35
crianças – algumas com apenas cinco anos. Os salários eram
baixíssimos e não permitiam que os trabalhadores aproveit-
assem as maravilhas da sociedade industrial.
36
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS
Desde o século XIX houve um processo profundo e sistemático de consolidação de trustes e holdings na economia
mundial. Os trustes são a fusão de várias empresas, de modo a formar um monopólio com o intuito de dominar
determinada oferta de produtos e/ou serviços. Também é possível definir truste como uma organização empresarial
de grande poder de pressão no mercado.
A existência desses conglomerados leva à confusão dos consumidores, uma vez que muitas das marcas disponíveis
nas prateleiras dos supermercados aparentam ser concorrentes, embora sejam de uma mesma empresa. A imagem
a seguir demonstra claramente como funciona a concentração de marcas em torno desses poderosos grupos em-
presariais.
37
DIAGRAMA DE IDEIAS
1848 - A “PRIMAVERA
FRANÇA (1848)
DOS POVOS”
FATORES ESTOPIM
• CRISE AGRÍCOLA • EXPLORAÇÃO DOS OPERÁRIOS
• CRISE INDUSTRIAL • PARTIDOS
• FORTALECIMENTO DO SOCIALISMO • BONAPARTISTA
• SOCIALISTA
• REPUBLICANO
REVOLTA OPERÁRIA
• II REPÚBLICA
• GOVERNO INSTÁVEL
• BURGUESIA APOIA LUÍS BONAPARTE
• 1851 - GOLPE
(O 18 BRUMÁRIO DE LUÍS BONAPARTE)
38
DIAGRAMA DE IDEIAS
2ª REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
CARACTERÍSTICAS CONSEQUÊNCIAS
39
IDEOLOGIAS DO SÉCULO XIX,
AULAS IMPERIALISMO E NEOCOLONIALISMO
33 E 34 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 13, 14,
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4, 5 e 6 HABILIDADES: 16, 17, 18, 20, 22, 23, 24,
25, 26, 28 e 29
1. IDEOLOGIAS DO SÉCULO XIX universo físico, a economia seria governada por “leis
naturais” que determinariam e condicionariam os
negócios. A economia se autorregularia e se autogo-
1.1. Introdução vernaria naturalmente sem a necessidade de qualquer
O processo de industrialização e urbanização ocorrido na interferência do Estado.
Europa ocidental na primeira metade do século XIX estru- Liberdade de contrato – o montante do salário e a
turou as duas classes fundamentais da moderna sociedade extensão da jornada de trabalho, de acordo com os
capitalista: a burguesia e o proletariado. Com a Revolução economistas clássicos, deveriam ser fixados livremen-
Industrial, a burguesia se tornou a classe economicamente te por meio da negociação direta entre empregador e
dominante da sociedade europeia. A partir da Revolução empregado, sem nenhuma interferência do Estado, da
Francesa, os burgueses conquistaram poder político em legislação ou dos sindicatos.
diversos países do continente. Coube ao proletariado a
condição de classe subalterna. Os operários enfrentavam Liberdade de comércio e produção – a função principal
longas e extenuantes jornadas de trabalho, recebiam salá- do Estado deveria ser a manutenção da ordem, a pre-
rios aviltantes e sofriam de fome crônica. servação da paz e a proteção da propriedade privada;
seria intolerável sua interferência no mundo privado
O operariado vivia confinado em cortiços e era margina- dos negócios.
lizado politicamente, pois o voto era censitário e suas rei-
vindicações eram reprimidas pelo Estado. Essa realidade Inviolabilidade da propriedade privada e individualis-
inspirou obras literárias do francês Victor Hugo e do inglês mo econômico – a propriedade privada seria um direito
Charles Dickens. O livro A situação da classe trabalhadora natural do ser humano, sagrado e inviolável; nesse sen-
na Inglaterra, de Frederich Engels, constrói um impressio- tido, o que é herdado ou adquirido confere ao indiví-
nante relato da vida dos trabalhadores ingleses a partir de duo o direito de usá-lo em seu proveito com o objetivo
farta documentação e da observação do próprio autor. Es- de ampliar seus bens e aumentar sua riqueza. Para os
sas condições configuravam uma vida miserável e faziam economistas clássicos, não haveria conflito entre os in-
do proletariado industrial uma classe economicamente teresses particulares do indivíduo e os interesses gerais
explorada, socialmente marginalizada, sem acesso ou par- da sociedade. Toda atividade econômica que resultasse
ticipação nas instituições políticas governamentais. em benefício pessoal, beneficiaria, por extensão, a so-
ciedade em seu conjunto.
Nesse contexto característico da primeira metade do século
XIX, inúmeros pensadores e intelectuais ligados à burgue-
sia e ao proletariado elaboraram novas doutrinas econô- 1.3. Economistas clássicos
micas e sociais profundamente vinculadas ao processo de
industrialização: o liberalismo e o socialismo.
1.2. Liberalismo
Durante a Revolução Industrial, os interesses dos burgueses
foram defendidos pelos economistas liberais (também de-
nominados clássicos), que produziram uma série de teorias
justificadoras do capitalismo e da não intervenção do Estado.
Dentre os princípios do liberalismo é possível destacar:
Não intervenção do Estado na economia – obediência ADAM SMITH DAVID RICARDO
às leis naturais da economia. Da mesma forma que o
40
THOMAS MALTHUS DESENHO DE DOIS LUDISTAS DESTRUINDO UMA MÁQUINA DE TEAR EM 1812.
O filósofo e pensador dos temas referentes à economia, o O ludismo ocorreu na Inglaterra entre os anos de 1811
escocês Adam Smith (1723-1790), é considerado o criador e 1812. Os trabalhadores passaram a responsabilizar as
da teoria econômica. Seus princípios estão sistematizados na máquina pela perda do emprego e pela redução do preço
obra A riqueza das nações (1776), que destaca a liberdade das mercadorias. Assim, eles passaram a destruí-las, pelo
econômica como pressuposto da iniciativa privada, a livre que ficaram conhecidos como “quebradores de máqui-
concorrência como reguladora do mercado, o crescimento nas”. Os ludistas foram rapidamente derrotados. No en-
econômico e a divisão do trabalho como propulsores do de- tanto, os operários se conscientizaram da necessidade de
senvolvimento e do bem-estar da nação e a acumulação do buscar outras alternativas reivindicatórias, traçando ca-
capital como fonte do desenvolvimento econômico. minhos que conquistassem direitos trabalhistas efetivos.
Após várias constatações de que os governos e o Parla-
David Ricardo (1772-1823) foi um estudioso e defen- mento não demonstravam interesse algum na defesa dos
sor da economia liberal clássica, contribuindo de modo
trabalhadores, passaram a reivindicar o direito ao voto
fundamental para a constituição da ciência econômica.
para que pudessem eleger os legisladores e, assim, influir
Sua principal obra, Princípios de economia política e tri-
na elaboração de uma legislação que não favorecesse
butação (1817), destaca a teoria do valor-trabalho, as re-
apenas os patrões.
lações entre o lucro e os salários – teoria da distribuição –,
o comércio internacional e os temas monetários. Para eleger seus representantes no Parlamento, os traba-
lhadores necessitavam fortalecer seus sindicatos, à época
Thomas Malthus (1766-1834) é considerado o “pai”
apenas uma evolução das antigas associações de jornalei-
da demografia e responsável por uma teoria a respeito
ros. Assim, organizaram-se até formarem as denominadas
do controle populacional, o malthusianismo. Sua principal
Trade Unions.
hipótese, publicada no Ensaio sobre o princípio da popu-
lação (1798), diz respeito às populações que crescem em Foram muitos os abaixo-assinados enviados ao Parlamen-
progressão geométrica, enquanto os meios de subsistência to até que, em 1838, a classe dos trabalhadores, repre-
crescem em progressão aritmética. Desse modo, qualquer sentada pela Associação Geral dos Operários de Londres,
melhoria no padrão de vida das populações pobres seria remeteu ao Parlamento seu programa sintetizado na Car-
impossível, pois geraria escassez e conflitos sociais. ta do Povo. As principais reivindicações do Movimento
Cartista eram:
1.4. Cartismo e ludismo “1. Sufrágio universal para os homens; 2. Pagamento aos
membros eleitos da Câmara dos Comuns (o que tornaria
possível aos pobres candidatarem-se ao posto); 3. Parla-
mentos anuais; 4. Nenhuma restrição censitária para os
candidatos; 5. Sufrágio secreto, para evitar intimidações; 6.
Igualdade dos distritos eleitorais.”
(LEO HUBERMAN. HISTORIA DA RIQUEZA DO HOMEM. 15. ED.,
TRAD.RIO DE JANEIRO: ZAHAR, 1979, P. 201).
41
1.5. Socialismo viam a transformação social como um produto da livre ini-
ciativa e da transformação da consciência dos homens.
O pensamento socialista é produto das transformações
O socialismo utópico também se caracterizou por tenta-
operadas pela Revolução Industrial: o nascimento da gran-
tivas de criar uma nova sociedade baseada na harmonia
de indústria, da classe operária e da exploração do traba-
entre os homens. Entretanto, seus idealizadores desconhe-
lho assalariado criada pelo capitalismo.
ciam a estrutura da própria sociedade capitalista, motivo
Para resolver os problemas criados pela industrialização, os pelo qual suas ideias tornaram-se ineficazes.
pensadores socialistas buscavam soluções econômicas e
sociais diferentes das apresentadas pelos economistas clás-
sicos. Enquanto os liberais acreditavam no progresso contí-
nuo da humanidade impulsionado pela livre concorrência,
os pensadores socialistas, sob o ponto de vista da miséria
da classe operária, criticavam sistematicamente o capitalis-
mo, apontando suas falhas e procurando corrigi-las. Nesse
sentido, a doutrina liberal do individualismo degeneraria em
egoísmo, prejudicando a vida em sociedade. A criação de
uma nova sociedade baseada na cooperação e não na com-
petição centrava as reivindicações dos socialistas. SAINT-SIMON ROBERT OWEN
O socialismo deve ser compreendido como um conjunto de O industrial britânico Robert Owen (1771-1858) defen-
doutrinas que procuravam promover o bem comum como dia a ideia da construção de uma indústria fraterna. Para
resultado de transformações da sociedade capitalista, seja ele, as outras industrias seguiriam o exemplo. Owen ten-
por meio de reformas na sociedade, seja por meio de uma tou pôr em prática suas ideias em sua fábrica na Escócia e
revolução social. na comunidade de New Harmony nos EUA. Ele reduziu a
jornada de trabalho, aumentou os salários e melhorou as
condições de vida dos trabalhadores, experiências que fra-
1.5.1. Origens do socialismo cassaram diante dos obstáculos impostos pelo capitalismo.
A ideia de uma distribuição equitativa de bens na socieda-
O francês Saint-Simon (1760-1825) projetou as bases
de foi defendida por Thomas Morus, o autor renascentista
de uma nova sociedade, fundada na associação dos pro-
de Utopia (1516). Durante a Revolução Francesa, certos
dutores (cooperativas) e na soberania do trabalho. Nessa
ideais socialistas – como o de que os bens deveriam ser
sociedade, todos produziriam, e o governo de alguns ho-
coletivos – tomaram forma com as propostas de Rousseau, mens sobre os outros seria substituído pela administração
Marat, Hebert e, sobretudo, de Graco Babeuf. conjunta de todos sobre a produção.
De acordo com Babeuf, a propriedade privada era a origem
de todos os desacertos sociais. A Conspiração dos Iguais
(1796), liderada por ele, representou uma busca desespe-
rada de fazer uma revolução igualitarista dentro da Revo-
lução Francesa.
Contudo, as origens mais claras do socialismo estão nas
críticas às condições subumanas a que foram submetidos
os trabalhadores no processo de consolidação do capitalis-
mo como sistema econômico, político e social.
42
poria fim à miséria. Com cerca de 1,6 mil pessoas, esses À luz de seus estudos filosóficos, os alemães Karl Marx
falanstérios seriam organizados de acordo com as neces- (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) definiram
sidades humanas. As pessoas se dedicariam às tarefas de o proletariado como classe revolucionária para a derruba-
que gostassem, produzindo o que trouxesse prazer a elas da do Estado capitalista. Se a sociedade capitalista detinha
e aos outros. As experiências de criação de falanstérios na suas próprias regras, elas deveriam ser conhecidas e anali-
França e nos EUA fracassaram inteiramente. sadas cientificamente sob o crivo da história e da economia
política. Conhecidos a natureza e o funcionamento da so-
O socialista francês Louis Blanc (1811-1882) defendeu a
ciedade capitalista, seria possível pensar em uma maneira
criação de oficinas nacionais, associações profissionais de
de superá-la.
trabalhadores de um mesmo ramo, financiadas pelo Esta-
do para controlar a produção industrial. O lucro resultante Em fevereiro de 1848, publicaram o Manifesto Comunista,
seria dividido em três partes: a primeira pagaria o Estado; a no qual defendem a luta de classes como causa para a
segunda, seria distribuída aos associados; e a terceira seria evolução dos sistemas econômicos, estabelecem a crítica
usada para fins assistenciais. Essa ideia foi posta em prática ao socialismo utópico e traçam um programa político con-
na Revolução de 1848, na França, quando houve uma co- clamando as classes trabalhadoras a uma revolução para a
ligação de liberais e socialistas para derrubar a Monarquia. derrubada do sistema capitalista.
Com o deficit criado pelas oficinas nacionais e o rompi-
Em 1867, é publicado O capital – Análise crítica da produ-
mento da coligação entre liberais e socialistas, o Estado
ção capitalista (primeiro volume). Os volumes dois e três
fechou as oficinas e passou a perseguir os socialistas.
foram publicados por Engels depois da morte de Marx. O
quarto foi publicado por Karl Kaustsky.
1.5.3. Socialismo científico
Nessa obra, Marx e Engels dedicam-se ao estudo da ori-
gem, do desenvolvimento e do funcionamento do capi-
talismo, detalhando a complexidade desse sistema, das
instituições econômicas do passado e do presente, com o
objetivo de descobrir a ordenação e a dinâmica da socie-
dade capitalista.
43
nobreza ao derrubar o Antigo Regime durante a Re-
volução Francesa. Ao proletariado caberia protagoni-
zar uma revolução social que criaria condições para a
transformação da sociedade capitalista e burguesa em
um novo tipo de sociedade. Segundo Marx, a libertação
da classe trabalhadora deveria ser uma obra dos pró-
prios trabalhadores.
O socialismo seria uma fase de transição para
o comunismo – da luta entre as classes operária
e burguesa surgiria a sociedade socialista, em que o
proletariado apoderar-se-ia do poder político (dita-
dura do proletariado) e converteria em proprie- KARL KAUTSKY
dade coletiva os meios de produção pertencentes à
burguesia. Nessa sociedade socialista, ainda haveria
Estado e a diferença entre trabalho manual e inte-
lectual. O socialismo seria a fase de transição, a fase
da passagem do capitalismo para o comunismo, que
seria baseado na propriedade social dos meios de
produção (fábricas, terras, bancos, etc.), no fim da
exploração do homem pelo homem, na construção
de uma sociedade sem classes e no desaparecimento
gradual do Estado. multimídia: livros
Mais-valia – de acordo com Marx, a mais-valia seria
a diferença entre o volume da riqueza produzida pelo A riqueza das nações, de Adam Smith, Coleção
trabalhador e o montante do salário recebido pelo Clássicos de Ouro
trabalho realizado. Como o salário é sempre inferior A riqueza das nações é considerada a obra
à riqueza produzida, essa diferença, correspondente fundadora da ciência econômica. Escrito no
ao trabalho não pago, daria origem ao lucro obtido século XVIII, o clássico de Adam Smith gerou
pelos capitalistas. O processo de acumulação de ri- uma série de mudanças nas políticas econô-
quezas pela burguesia teria por base a exploração do micas. O livro aborda temas como o acúmulo
trabalho. de riqueza, a divisão do trabalho e os siste-
mas de economia. Até hoje é grande referên-
1.6. Social-democracia cia entre os estudiosos de todo o mundo. A
edição integral impressiona pelo conteúdo e
Entre os dias 22 e 27 de maio de 1875, foi realizado na principalmente por sua extensão. Essa versão
cidade alemã de Gotha o Congresso de Gotha, em que condensada traz uma criteriosa seleção dos
ocorreu a junção dos dois maiores partidos operários ale- cinco livros originais e mantém a essência da
mães: o Partido Operário Social-Democrata e a União Geral obra-prima de Smith.
dos Operários Alemães, que, após a unificação, passaram
a se chamar Partido Operário Socialista da Alemanha. Al-
guns socialistas defenderam a proposta de que o parla- 1.7. Anarquismo
mento seria eficaz na expansão do socialismo, desde que Pierre-Joseph Proudhon (1808-1865), Mikhail Baku-
o proletariado fosse vencendo paulatinamente as eleições, nin (1814-1876) e Piotr Kropotkin (1842-1921) enca-
de modo que as leis e o Estado fossem controlados pelo ravam a autoridade, fosse burguesa ou proletária, como
proletariado sem o derramamento de sangue, próprio de nociva para a implantação da verdadeira liberdade. Em
uma revolução. razão disso, passaram a defender a ideologia de que qual-
Segundo Karl Kautsky (1854-1938), teórico político ale- quer tipo de governo ou poder, parlamentar ou sindical,
mão e um dos fundadores da ideologia social-democrata, deveria ser extinto, bem como a propriedade capitalista
“social-democracia é um partido revolucionário e não um (privada) ou socialista (coletiva). A vida humana deveria
partido que faz revolução”, o que transmite a sensação de organizar-se em comunidades autônomas e autogeridas. O
legalidade e de reformas. anarcossindicalismo italiano pregava a revolução operária
44
voltada para a estrutura sindical, que seria extinta poste- obrigados a se engajar nos exércitos nacionais para a de-
riormente. fesa da pátria. A III Internacional, em 1919, ocorreu em
Moscou e representou o controle soviético sobre grande
parte da esquerda mundial.
2. O NEOCOLONIALISMO
MIKHAIL BAKUNIN
1.8. As Internacionais
45
para os excedentes industriais, além de novas regiões onde
pudessem investir com lucros significativos seus capitais
disponíveis.
Esse mecanismo era indispensável para aliviar a Europa
dos capitais excedentes, que, se fossem investidos na Euro-
pa, agravariam a Grande Depressão e intensificariam a ten-
dência de os países industrializados na Europa continental
adotarem medidas protecionistas, fechando seus mercados
e tornando a situação ainda pior.
Outro fator tornava a política colonialista atraente para os THE WHITE MAN’S BURDEN (APOLOGIES TO KIPLING),
governos europeus: a possibilidade de transferir, como co- 1899, DE VICTOR GILLAM. REVISTA JUDGE.
lonos, um número significativo de sua população para as
Dentre essas teorias, talvez a mais conhecida seja o da-
novas regiões conquistadas, resolvendo, assim, o problema
rwinismo social, que explica, à luz dos estudos de Char-
do excedente populacional, que crescia em ritmo acelerado.
les Darwin sobre a evolução das espécies, as conquistas
Além disso, o operariado europeu, insatisfeito com suas pre-
dos homens de acordo com seus ganhos econômicos e
cárias condições de vida e de trabalho, agitava a Europa ao
sociais como resultado da “sobrevivência do mais apto”.
comandar inúmeros movimentos sociais. Os governos euro-
peus perceberam que a exploração colonial poderia possibi- Não raramente, os “desígnios divinos” e a defesa do
litar melhoria no padrão de vida da classe operária do velho cristianismo confundiam-se com os interesses dos capi-
continente, enfraquecendo, assim, os levantes populares. talistas, de modo que “salvar as almas” dos nativos das
colônias era sinônimo da necessidade de transformá-los
No plano político, os Estados europeus estavam preocu-
em empregados das grandes plantações administradas
pados em aumentar seus contingentes militares a fim de
pelos europeus.
fortalecerem suas respectivas posições frente às demais
potências. Com as colônias, contariam com maior disponi-
bilidade de recursos e aumento dos contingentes militares. 2.3. Características do
neocolonialismo
2.2. Teorias do neocolonialismo
A propaganda a favor dos interesses imperialistas, vitais
para o desenvolvimento do capitalismo, deu origem a
uma série de teorias pseudocientíficas, muito populares
a partir da segunda metade do século XIX. Essas teorias
buscavam justificar a conquista e a colonização de outros
povos pelos europeus.
Em geral, elas tendiam a estabelecer uma hierarquia rígi-
da entre os diferentes povos, classificados como “mais”
ou “menos” civilizados ou evoluídos. Nessa hierarquia, o
primeiro lugar era ocupado pela sociedade europeia, cujo
funcionamento deveria servir de modelo ideal para o resto IMPERIALISMO NA ÁSIA
do mundo. Essa concepção é denominada eurocentrismo. Com exceção de alguns portos comerciais, até o fim do
Em 1899, o poeta Rudyard Kipling, de volta à Inglaterra século XVIII, a Ásia não tinha sofrido influências ocidentais.
depois de uma demorada estada nos Estados Unidos, pu- No transcorrer do século XIX, essa situação modificou-se
blicou um poema cujo impacto até hoje repercute. The whi- radicalmente: os países ocidentais passaram do simples
comércio nos portos à política de zonas de influência, pro-
te man burden (O fardo do homem branco) entrou para a
movendo uma verdadeira partilha do Oriente.
história como um chamamento à conquista imperialista do
mundo pelos estadunidenses e europeus. De acordo com Em 1763, os ingleses tomaram a Índia aos franceses e
o poema, o domínio do planeta seria uma missão que de- encarregaram uma companhia de explorá-la. Em 1858,
veria ser assumida como um fardo por todos os homens os cipaios (nativos que serviam nos exércitos coloniais) se
brancos, uma obrigação dos civilizados, em contraposição revoltaram devido ao fato de a Índia ter sido integrada ao
aos selvagens e bárbaros. Império Britânico.
46
vezes maior do que a Bélgica, foi conservada sob domínio
pessoal do rei, que a vendeu, em 1908, ao próprio governo
belga por uma enorme quantia.
Diversos países europeus se lançaram à aventura africana.
A França conquistou a Argélia, a Tunísia, a África Ocidental
Francesa, a África Equatorial Francesa, a Costa Francesa
dos Somalis e Madagascar. Os ingleses dominaram o Egito,
o Sudão anglo-egípcio, a África Oriental Inglesa, a Rodésia,
a União Sul-Africana, a Nigéria, a Costa do Ouro e Ser-
ra Leoa. A Alemanha, que entrou tardiamente na corrida
colonial, tomou Camarões, o Sudoeste Africano e a África
Oriental Alemã. A Itália conquistou o litoral da Líbia, a Eri-
treia e a Somália Italiana. Os antigos países colonizadores
da Europa, Portugal e Espanha, ficaram com porções redu-
zidas: a Espanha, com o Marrocos espanhol, o rio de Ouro
Na China, a Guerra do Ópio (1840-1842), provocada e a Guiné Espanhola; Portugal, com Moçambique, Angola
pela destruição de carregamentos ingleses de ópio, permi- e a Guiné Portuguesa.
tiu a conquista de Hong Kong e de outros portos, principal-
mente os de Xangai e Namquim. Outras expedições milita- A colonização africana
res foram organizadas com o pretexto de punir os chineses
pela morte de missionários, e novos portos foram abertos.
Depois de vencida pela Inglaterra, a China foi obrigada por
muitas outras potências capitalistas a dar um tratamento
privilegiado aos seus negócios. No final do século XIX,
nada menos que sete países dividiam entre si os fabulosos
lucros da dominação imperialista na China: Inglaterra, Ale-
manha, Japão, Estados Unidos, França e Itália.
A reação contra a invasão da China partiu de uma asso-
ciação secreta, a Sociedade dos Punhos Harmoniosos e
Justiceiros, que, por meio de atentados, lutava contra os
estrangeiros residentes em terras chinesas. As nações eu-
ropeias organizaram uma expedição conjunta para punir
essa sociedade e o governo chinês, que a apoiava. Nasceu
disso a Guerra dos Boxers (1899- 1900). Depois de mais
uma derrota, a China foi inteiramente dominada pelas po-
tências ocidentais.
O ponto de partida para a corrida colonial na África foi dado
Na segunda metade do século XIX, o sudeste asiático (In- pela Conferência de Berlim (1884–1885), da qual parti-
dochina) foi reduzido à condição de colônia francesa. Em ciparam todos os países colonialistas, que estipularam entre
1863, a França estendeu seus domínios na região e conver- si os princípios reguladores do que se convencionou chamar
teu o Camboja em seu protetorado. “partilha da África”. A Conferência impunha às potências co-
lonizadoras a necessidade de ocupação efetiva, demarcação
2.4. A partilha colonial da África e notificação de suas posses aos participantes da partilha.
Apesar de alguns territórios africanos já pertencerem a euro-
peus antes de 1870, foi só a partir de então que o imperialis- 2.5. Consequências do
mo reinou naquele continente. Em 1876, apenas 10,8% do neocolonialismo
território africano estava dominado por Estados colonialistas.
Depois da Conferência de Berlim ocorreu a ocupação e
Em 1900, esse número chegou a incríveis 90,4%.
exploração do imenso território africano, que foi palco de
Um dos pioneiros da dominação sobre a África foi o rei uma das mais sangrentas páginas da história do colonialis-
belga Leopoldo II, que, em 1876, tomou posse de todo o mo europeu. A população local foi escravizada e obrigada
território do rio Congo. Essa região, aproximadamente dez a trabalhar nas explorações organizadas pelas companhias
47
europeias. Milhares de pessoas morreram vítimas da fome,
do trabalho forçado, das doenças trazidas pelos brancos e
dos massacres coletivos promovidos contra as aldeias que
se rebelavam.
Na medida em que representou a ocidentalização do mun-
do, a colonização destruiu estruturas sociais tradicionais –
que muitas vezes não puderam ser recompostas. No Sudeste
asiático, milhares de alqueires, antes dedicados à plantação
de arroz para a autossuficiência dos povos locais, foram
transformados em imensas fazendas produtoras de borracha
para exportação. Na Índia, o artesanato foi destruído.
Pela primeira vez na história, o mundo encontrava-se in-
teiramente partilhado, direta ou indiretamente, e submisso
às grandes potências europeias e aos Estados Unidos. Em
1905, estavam conquistados: 90,4% da África, 56,6% da
Ásia, 100% da Austrália, 27,2% da América e 98,9% da
Polinésia. A partir de então, não haveria novas apropriações,
uma vez que já não existiam territórios sem dono. As grandes
potências passaram a viver uma situação de choque perma-
nente entre si na tentativa de expandir suas áreas de dom-
inação econômica e política. Esse choque de imperialismos
terminaria por deflagrar a Primeira Guerra Mundial.
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Zulu
Zulu é um filme épico de guerra, baseado em fa-
tos reais, que retrata a batalha de Rorke’s Drift,
ocorrida entre o exército britânico e os Zulus em
janeiro de 1879, período em que o neocolonia-
lismo estava a todo o vapor.
O filme retrata a epopeia de um pequeno regi-
mento britânico, formado por cerca de 150 sol-
dados – muitos dos quais doentes e feridos em
um hospital de campo –, que, com sucesso, con-
segue deter uma força de cerca de 4 mil guer-
reiros Zulu. O filme é protagonizado por Stanley
Baker e apresenta Michael Caine em seu primei-
ro papel principal.
48
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS
A divisão política da África não reflete os limites territoriais das etnias africanas, uma vez que é fruto da divisão
realizada pelas potências coloniais europeias na Conferência de Berlim, do ano de 1885.
Atualmente, a África é o continente mais fragmentado do mundo, formado por 54 países. A maioria dos países
africanos alcançou sua independência somente depois do processo de descolonização, iniciado depois da Segunda
Guerra Mundial. As lutas anticolonização africanas, as rivalidades étnicas, frequentemente atiçadas pelos antigos
colonizadores, e o jogo político do período da Guerra Fria, fizeram do continente um palco de conflitos sangrentos
durante toda a segunda metade do século XX.
O continente, por ter sido considerado mero território colonial, foi fragmentado sem levar em conta os valores, religi-
ões e tradições de seus povos. A divisão artificial criada trouxe problemas para administrar os instáveis e nada coesos
novos territórios, gerando graves distúrbios socioeconômicos enraizados na economia exportadora de matéria-pri-
ma, como miséria da população, alto índice de mortalidade, abandono, violência, corrupção, fome, desorganização,
guerras civis tribais, golpes de estado, além de conflitos étnicos e religiosos.
49
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM
Habilidade
Analisar a ação dos Estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de
08 problemas de ordem econômico-social.
A Habilidade 8 versa sobre a ação dos Estados nacionais, tanto sobre as dinâmicas populacionais quanto sobre proble-
mas econômicos e sociais. No específico caso da questão a seguir, trata-se de questões econômicas.
A ação militar, combinada a estratégias diplomáticas, reorganiza fronteiras e zonas de interesses geopolíticos, trans-
formando dramaticamente a vida de grandes contingentes populacionais. Assim, é importante que o candidato saiba
compreender os principais interesses econômicos e políticos das nações europeias no período tratado. Como é comum
no Enem, textos são apresentados como suporte à resolução das questões.
Modelo
(Enem) O continente africano em seu conjunto apresenta 44% de suas fronteiras apoiadas em meridianos e paralelos;
30% por linhas retas e arqueadas, e apenas 26% se referem a limites naturais que geralmente coincidem com os de
locais de habitação dos grupos étnicos.
(MARTIN, A.R. FRONTEIRAS E NAÇÕES. SÃO PAULO: CONTEXTO, 1998.)
Diferente do continente americano, onde quase que a totalidade das fronteiras obedecem a limites naturais, a África
apresenta as características citadas em virtude, principalmente:
a) da sua recente demarcação, que contou com térmicas cartográficas antes desconhecidas;
b) dos interesses de países europeus preocupados com a partilha dos seus recursos naturais;
c) das extensas áreas desérticas que dificultam a demarcação dos “limites naturais”;
d) da natureza nômade das populações africanas, especialmente aquelas oriundas da África subsaariana;
e) da grande extensão longitudinal, o que demandaria enormes gastos para demarcação.
Análise expositiva - Habilidade 8: A maior parte das fronteiras políticas da África atual foi definida no
B processo de “partilha”, no Congresso de Berlim, em 1884/1885, convocado por Bismark, em que as grandes
potências europeias definiram seus domínios sem levar em conta os limites naturais ou as divisões étnicas pre-
sentes nesses territórios.
Alternativa B
50
DIAGRAMA DE IDEIAS
PRECEDENTES
IDEOLOGIAS DO SÉC. XIX
• REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
• FORMAÇÃO DO PROTELARIADO
• REVOLUÇÃO FRANCESA
• CONSOLIDAÇÃO DO PODER
BURGUÊS NA EUROPA
• EXPLORAÇÃO DO TRABALHO
LIBERALISMO
• ADAM SMITH PRINCÍPIOS
• DAVID RICARDO • NÃO INTERVENÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA
• THOMAS MALTHUS • LIBERDADE DE CONTRATO
• LIBERDADE DE COMÉRCIO E PRODUÇÃO
• DEFESA DA PROPRIEDADE PRIVADA
• INDIVIDUALISMO ECONÔMICO
SOCIALISMO
• CRÍTICA AO LIBERALISMO SOCIALISMO UTÓPICO CARACTERÍSTICAS
• CRÍTICA AO CAPITALISMO • ROBERT OWEN • SOCIALISMO POR
• DEFESA DA SUPERAÇÃO • CHARLES FOURIER MEIO DE REFORMAS
DO CAPITALISMO • SAINT SIMON • DESCONHECIMENTO
• LUIS BLANC DO FUNCIONAMENTO
DO CAPITALISMO
SOCIALISMO CIENTÍFICO CARACTERÍSTICAS
(MARXISMO) • CONHECIMENTO DO FUNDAMENTO DO CAPITALISMO
• KARL MARX • DEFESA DE MUDANÇA SOCIAL RADICAL
• FRIEDERICH ENGELS
PRINCÍPIOS
• MATERIALISMO HISTÓRICO
• LUTA DE CLASSES É O MOTOR DA HISTÓRIA
• O PROLETARIADO É O AGENTE REVOLUCIONÁRIO
• O SOCIALISMO É UMA FASE DE TRANSIÇÃO PARA O COMUNISMO
• DITADURA DO PROLETARIADO
• MAIS-VALIA
SOCIAL-DEMOCRACIA
• KARL KAUTSKY PRINCÍPIOS
• SOCIALISMO VIA REFORMAS DO CAPITALISMO
• ATUAÇÃO PARLAMENTAR COMO ESTRATÉGIA
51
DIAGRAMA DE IDEIAS
ANARQUISMO
• PIERRE PROUDHON PRINCÍPIOS
• MIKHAIL BAKUNIN • REVOLUÇÃO SOCIAL RADICAL
• PIOTR KROPOTKIN • O PROLETARIADO É AGENTE REVOLUCIONÁRIO
• DESTRUIÇÃO DO ESTADO
• FORMAÇÃO DE COMUNIDADES AUTOGERIDAS
INTERNACIONAIS
• ORGANIZAÇÃO DE TRABALHADORES EUROPEUS • I INTERNACIONAL (1864)
• PROPOSTAS DE ATUAÇÃO EM COMUM • II INTERNACIONAL (1889 - 1916)
• III INTERNACIONAL (1919)
NEOCOLONIALISMO FATORES
52
HISTÓRIA DO BRASIL:
Incidência do tema nas principais provas
Aborda a luta por direitos sociais, dando ênfa- As temáticas das Revoluções de 1930 e 1932, Governos
se à questão abolicionista. Também costuma Provisório e Constitucional de Vargas são abordadas por meio
da interação dos aspectos econômicos, sociais e culturais. Para
discutir o conceito de cidadania e as relações
tanto, utiliza-se de imagens e textos para compor as questões.
políticas na República Velha.
Com forte teor de análise social, econômica e Existe um grau de interdisciplinaridade que permite o uso Aborda aspectos sociais, econômicos e culturais que perme-
cultural, a prova fornece um desafio, quando da dos conhecimentos históricos para auxílio da resolução das aram o período da República Oligárquica, e as interações de
temática da República Oligárquica e os Governos questões e escrita da redação, no qual paralelos podem tais aspectos nos Governos Provisório e Constitucional de
Provisório e Constitucional de Vargas. Vale ser traçados sobre a importância desses processos na Getúlio Vargas. Elabora questões com uso de textos como
estudar os processos históricos relacionados construção da República Brasileira. auxílio para a pergunta.
aos períodos.
Prova desafiadora nos últimos anos, com presença Nos últimos dois anos, o vestibular apresentou Os últimos vestibulares abordaram as temáticas Nos últimos três anos, os temas República Oligárqui-
dos temas presentes neste livro, a abordagem uma tendência em abranger temas relacionados República Oligárquica, Revoluções de 1930 e ca e Governos Provisório e Constitucional de Vargas
prioriza uma integração entre Medicina e História, à História do Brasil. Percebe-se uma ênfase em 1932, Governos Provisório e Constitucional de têm tido presença e exigem análise de documentos
principalmente voltada para temas como as vacinas questões relacionadas ao período da República Vargas, por meio de uma correlação entre os escritos e debates historiográficos.
e suas interações com a população durante a Oligárquica e aos Governos Provisório e Consti- aspectos sociais, econômicos e políticos.
República Oligárquica. tucional de Vargas.
UFMG
Há um tema determinado pela própria organização A banca do vestibular privilegia que o candidato Não são contemplados diretamente temas de
do vestibular que percorre toda a prova e nele realize análises e interpretações sobre diferentes História, entretanto, há um grau de interdiscipli-
pode-se englobar as temáticas abordadas neste processos históricos. Assim, utiliza textos naridade que permite o uso dos conhecimentos
livro, por meio da associação entre aspectos sociais, introdutórios, trechos de registros documentais históricos para auxílio da resolução das questões e
econômicos e políticos. e imagens para elaborar as questões sobre as escrita da redação.
temáticas abordadas.
O vestibular realiza análises de estruturas Percebe-se uma tendência em abranger temas O vestibular elabora questões de múltipla
históricas brasileiras em suas questões, que relacionados à História do Brasil, mas há um escolha direcionadas aos candidatos que pre-
propõem uma reflexão sobre temas com grau de interdisciplinaridade que permite o uso tendem uma vaga nos cursos de Enfermagem,
pertinência contemporânea, como preconceito dos conhecimentos históricos para auxílio da Biomedicina e Medicina. Há uma tendência em
e desigualdade social. Percebe-se que as resolução das questões e escrita da redação. abordar temas contemporâneos.
alternativas são relativamente
longas.
53
AULAS REPÚBLICA OLIGÁRQUICA: ASPECTOS
27 E 28 POLÍTICOS E ECONÔMICOS
1, 7, 8, 12, 13, 14, 15, 16,
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5 HABILIDADES:
17, 18, 19, 21, 22 e 24.
“CORONÉIS” E GRANDES CAFEICULTORES: TÍPICOS REPRESENTANTES DAS ELITES DURANTE A REPÚBLICA OLIGÁRQUICA.
1. A ASCENSÃO DAS OLIGARQUIAS atrativos devido ao surto industrial, não faltaram proble-
mas resultantes da urbanização acelerada sem que os go-
A retomada do poder pelas oligarquias rurais iniciada no vernos fossem capazes de resolver a falta de saneamento
governo Prudente de Morais, primeiro presidente civil elei- e de políticas eficientes no combate a problemas de saúde
to diretamente, consolidou-se no governo de Campos Sal- pública, aumento da violência urbana, favelização, etc. O
les, quando se estruturou um vigoroso sistema político de crescimento populacional, proveniente em grande parte do
colaboração em instâncias municipais, estaduais e federais êxodo rural, resultou em uma macrocefalia urbana e favo-
com a finalidade de garantir o predomínio do grupo hege- receu a formação de um grande exército de reserva de mão
mônico no poder. de obra, que resultou em diminuição dos salários.
Não obstante os inúmeros problemas sociais e econômicos Nesse ambiente de deterioração das condições de vida da
marcantes naquela fase da República, ocorreu um franco população pobre e da falta de regulamentação dos salários
favorecimento aos grupos oligárquicos, especialmente aos pelo Estado e de leis que regulamentassem as relações en-
cafeicultores. A política econômica promovia a defesa do tre capital e trabalho, nasceram as contestações inspiradas
setor agroexportador, principalmente com a valorização nos movimentos anarquistas e socialistas trazidos da Eu-
artificial do café, prática constante naquele período, desen- ropa pelos imigrantes europeus. As reivindicações exigiam
corajava investimentos em outras áreas e contribuía para o
melhores condições de vida e de trabalho para o proleta-
agravamento de problemas econômicos, como a recessão,
riado que se formava, o que contribuiu para a criação de
a inflação e o crescimento da dívida externa.
uma pauta de reivindicações e de ações da classe operária
No início do século passado, o espaço urbano do Rio de no Brasil. Nesse contexto também ocorreram movimentos
Janeiro vivenciava problemas conhecidos já no final do sé- sociais que procuraram resistir e enfrentar a ação arbitrá-
culo XIX. Nas cidades do Sudeste, que se tornavam polos ria e o descaso das autoridades. Foi o caso da Guerra de
54
Canudos, da Revolta da Vacina, da Revolta da Chibata e Na política externa, o governo se caracterizou pela restau-
da Guerra do Contestado. Estava claro para boa parte da ração das relações diplomáticas com Portugal, rompidas no
população que o Estado Republicano não havia sido cons- governo Floriano Peixoto em virtude da concessão de asilo
tituído para todos os brasileiros. aos participantes da Revolta da Armada. Com mediação
dos portugueses, os ingleses devolveram ao Brasil a Ilha
de Trindade, no litoral capixaba, ocupada em 1895. Com a
Argentina foi solucionada a Questão de Palmas, território
localizado entre os estados do Paraná e de Santa Catari-
na, cuja definição de fronteiras causara litígio entre os dois
países. Levada a questão à arbitragem internacional do
presidente estadunidense Grover Cleveland, a decisão foi
favorável ao Brasil, representado pelo Barão do Rio Branco.
Foi estabelecido que os rios Pepiry-Guaçu e Santo Antônio
seriam limites do território de Palmas.
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Conhecendo os Presidentes - Ep.
03: Prudente de Morais
2. GOVERNO DE PRUDENTE DE
MORAIS (1894-1898)
Prudente de Morais, um cafeicultor paulista, foi o primeiro
presidente civil do Brasil eleito pelo voto direto. Conhecido
como “pacificador”, foi responsável pela pacificação do
Rio Grande do Sul, onde ainda havia focos de tensão entre
republicanos e federalistas. Ele anistiou os participantes da
Revolta da Armada e encerrou definitivamente a questão.
Por outro lado, sufocou com bastante violência o movimen-
to messiânico de Canudos.
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Colônia Cecília - Uma História de
Amor e Utopia _ Episódio 1
3. GOVERNO DE CAMPOS
SALLES (1898-1902)
Antes da posse, o presidente eleito Campos Salles viajou
à Europa, acompanhado de Joaquim Murtinho, seu fu-
turo Ministro da Fazenda, com o objetivo de renegociar
a dívida externa brasileira e obter um novo empréstimo
para sanar as dificuldades econômicas que enfrentaria ao
PRUDENTE DE MORAIS assumir o governo.
55
3.1. O Funding loan
A negociação com banqueiros e credores ingleses levou
à assinatura do Funding Loan. Tratava-se da concessão
de um novo empréstimo ao Brasil e da fixação de novos
prazos para a quitação do montante da dívida. Durante
3 anos o Brasil pagaria parcelas sem juros. Depois disso,
teria mais 50 anos para terminar de pagar o empréstimo
com juros. Num total de 63 anos, o Brasil deveria passar
os 13 anos iniciais sem contrair novos empréstimos. Além
disso, deveria cortar gastos públicos, combater a inflação
mediante contenção da emissão monetária e da retirada
de dinheiro de circulação e oferecer as rendas da alfân-
dega do Rio de Janeiro como garantia para o pagamento
da dívida. Caso isso não fosse suficiente, a Companhia de
CAMPOS SALLES
Abastecimento de Água do Rio de Janeiro seria entregue
A alta inflação e a crise das finanças públicas enfrentadas ao Banco Rothschild.
pelo Brasil tiveram origem nas constantes emissões e gas-
tos dos governos anteriores, especialmente para reprimir
revoltas, como a Revolução Federalista e a Revolta da Ar-
mada, enfrentadas por Floriano Peixoto, e a Guerra de Ca-
nudos, ocorrida no governo de Prudente de Morais.
56
a ser exercido em prol dos interesses das oligarquias agrá- O domínio das oligarquias paulista e mineira na esfera
rias paulista e mineira. federal foi apoiado pelas oligarquias dos demais estados
Na Primeira República, a estrutura de poder incluía com rela- graças ao fisiologismo da “política dos governadores”.
tiva consonância “coronéis” (latifundiários regionais influen-
tes e poderosos), oligarquias estaduais e governo federal. Os
cafeicultores de São Paulo e Minas Gerais se alternavam na
presidência da República, fase política denominada “café
com leite”. Mais ricos e maiores produtores e exportadores
de café, os dois estados reuniam mais de um terço da popu-
lação brasileira e o maior colégio eleitoral do país.
multimídia: música
Café com Leite – Fernando
57
O presidente, apoiado pelas oligarquias estaduais, preo- da criação da Guarda Nacional. Os latifundiários compravam
cupava-se apenas em governar e implementar projetos a patente de coronel para organizar, armar e comandar sua
de interesse das elites e dos seus vários setores. Força milícia. Passado de pai para filho, posteriormente o título se
política e policial-militar para reprimir os opositores é o popularizou como referência aos grandes fazendeiros.
que não lhe faltava. O projeto político republicano bra-
sileiro de liberdade, igualdade e fraternidade seletivas se
tornava plenamente vitorioso.
multimídia: livros
Coronelismo, enxada e voto --
– Victor Nunes Leal
Um dos marcos inaugurais da moderna ciência
política no Brasil, Coronelismo, enxada e voto
continua pleno de validade mais de sessenta
anos após sua primeira publicação – a des-
peito do desaparecimento quase completo do
CHARGE. STORNI REVISTA CARETA. O MONTE REPRESENTA A país agrário que o inspirou. O rigor demonstra-
EXCLUSÃO POLÍTICA. A CADEIRA PRESIDENCIAL SOB VIGILÂNCIA DOS
“CAFÉ COM LEITE”. ESTADOS TENTAM, SEM SUCESSO, ALCANÇÁ- do por Victor Nunes Leal em sua interpretação
LA (DISPONÍVEL EM: <PORTALDOPROFESSOR.MEC.GOV.BR>). de documentos históricos, legislações e dados
estatísticos (então novidade nos trabalhos de
3.4. Coronelismo ciências humanas realizados no país); a escrita
fluente, livre de empáfia bacharelesca e torne-
O coronelismo foi uma das bases fundamentais de sus- ada segundo a melhor tradição do ensaísmo
tentação do domínio oligárquico na Primeira República ou de interpretação nacional; os insights inéditos
República Velha. Tratava-se de um mandonismo local, com sobre a estrutura sistêmica do coronelismo,
o poder e o controle políticos exercidos pelos grandes pro- que transcendia o âmbito do mandonismo
prietários rurais (“coronéis”) em suas regiões. O corone- local para entranhar-se nos mais elevados es-
lismo corresponde ainda ao papel exercido pelos grandes calões da República: diversos são os méritos
proprietários rurais, políticos influentes, patrões, padrinhos deste livro, concebido como tese de concurso
de casamento ou batismo a quem todos deviam favores para a cátedra de política da antiga Universi-
e obediência e que não hesitavam em usar a força para dade do Brasil (atual UFRJ), onde Nunes Leal
conseguir seus objetivos. ensinou entre 1943 e 1969.
Em sua região, cada “coronel” arranjava empregos e os
mais variados benefícios para elementos de sua clientela
(daí a política de “clientelismo”), tornando-se compadre 3.5. “Voto de cabresto”
de uma infinidade de pessoas. Nessa estrutura do favor e
A área de influência e controle político dos “coronéis” era
do compadrio, os protegidos de um “coronel” deviam a ele
denominada “curral eleitoral”. Nele, todos acompa-
principalmente fidelidade política, manifestada, em espe-
nhavam as determinações políticas do “coronel” e eram
cial, no momento das eleições. Essa conjugação entre o “co-
obrigados a votar nele ou no seu candidato. Era o chama-
ronelismo”, o “clientelismo” e o “compadrio” estabelecia do “voto de cabresto”, favorecido pela Constituição de
uma intricada trama de favores entre as pessoas, marcando 1891, que estabelecera o voto aberto: o eleitor manifes-
decisivamente as relações entre elas e as práticas políticas. tava publicamente seu voto. Não era possível contrariar a
Apesar de o mandonismo dos grandes proprietários rurais vontade do “coronel”, principalmente em seus domínios.
vir do Período Colonial, o termo “coronel“ passou a ser utili- A força dos “coronéis” foi fundamental para explicar as
zado de maneira frequente no Período Regencial, em virtude fraudes no processo eleitoral da República Velha.
58
votos Política do café com leite (federal)
e apoio verbas e autonomia
político
Política dos governadores (estadual)
votos verbas e poder
4. GOVERNO RODRIGUES
ALVES (1902–1906)
ELA – É O ZÉ BESTA?
ELE – NÃO, É O ZÉ BURRO! 4.1. A reforma urbana:
-“Na charge de Storni para a revista Careta (1927), uma o “bota-abaixo”
das mais famosas fraudes eleitorais da Primeira República, Rodrigues Alves havia sido ministro da Fazenda de Prudente
o voto de cabresto, recebe a devida crítica. O eleitor recebia de Morais e foi eleito presidente pela coligação dos partidos
um papel com o nome do candidato escolhido pelo coronel Republicano Paulista e Republicano Mineiro, que venceram
da região e apenas o depositava na urna.” sem dificuldades. Já na campanha eleitoral, Rodrigues Alves
(DISPONÍVEL EM: <REVISTADEHISTORIA.COM.BR>. ACESSO EM: 8 MAR. 2015). deixou claro que seu governo se limitaria basicamente ao
saneamento e à urbanização da cidade do Rio de Janeiro. Os
recursos foram obtidos junto a credores internacionais sem
Eleições “a bico de pena” grandes dificuldades, uma vez que o país vinha cumprindo o
acordo assinado pelo ex-presidente Campos Salles.
O presidente entregou ao prefeito do Rio de Janeiro, Pereira
Passos, o comando da execução do projeto de saneamento
e urbanização da cidade, que alargou ruas e avenidas e abriu
outras tantas. Os cortiços do centro da cidade foram demo-
DETALHE DA CHARGE “COMO SE FAZ UMA ELEIÇÃO”.
AMARO. REVISTA DA SEMANA, N.° 495, 1909.
lidos (“bota-abaixo”) e deram lugar a ruas e praças, e seus
RIO DE JANEIRO. BIBLIOTECA NACIONAL. moradores foram despejados e deslocados para a periferia.
Nesse paraíso das oligarquias, predominavam as prá-
ticas eleitorais fraudulentas. Nenhum coronel aceita-
va perder uma eleição. Os eleitores eram coagidos,
comprados, aliciados ou excluídos. Não havia eleição
limpa. O voto podia ser fraudado antes da eleição, na
hora da votação ou no momento da apuração.
É dessa época a chamada “eleição a bico de pena”,
pela qual os mesários é que escolhiam os eleitos, ates-
tando o resultado da eleição mediante a elaboração de
atas fraudulentas. Era comum o voto de pessoas mor-
tas e de eleitores fictícios. RODRIGUES ALVES
Nessa época, o coronel retinha os títulos eleitorais e o
eleitor não sabia em quem votava. Se alguém se atre-
vesse a perguntar ao coronel em quem tinha votado,
o coronel respondia que não podia revelar porque o
voto era “secreto”.
DISPONÍVEL EM: <BLOGSOESTADO.COM/
FLAVIOBRAGA>. ACESSO EM: 8 MAR. 2015.
59
A demolição dos cortiços fez subir os aluguéis e desagra- empréstimos para a valorização do café. Entretanto, vol-
dou as camadas populares urbanas, entre as quais o presi- taram atrás assim que bancos estadunidenses e alemães
dente perdia cada vez mais popularidade. começaram a conceder os empréstimos. Entre 1905 e 1910
foram retiradas do mercado 8,5 milhões de sacas, graças
aos financiamentos oficiais e ao capital internacional.
As consequências da política de valorização do café foram
amplas. Algumas delas apareceram já nos primeiros momen-
tos de sua aplicação. A nação como um todo continuou a
pagar os prejuízos do café (“socialização das perdas”), sob
a alegação de manter o nível de renda nacional. Contudo,
essa política se revelou desastrosa em longo prazo. As com-
pras do produto acabaram por gerar um aumento da dívida
externa e uma persistente inflação. A manutenção de preços
artificiais no mercado internacional estimulou a produção
multimídia: vídeo cafeeira por países concorrentes do Brasil.
FONTE: YOUTUBE
Chapeleiros (1983) 4.3. A Questão do Acre (1901–1903)
Com essa medida, foi fixado um preço mínimo para a saca O território acreano pertencia à Bolívia, mas o látex de suas
de café, e os governos dos três estados se compromete- florestas vinha sendo explorado por brasileiros, especial-
ram a realizar empréstimos no exterior com o intuito de mente por nordestinos retirantes da seca e do desemprego.
comprar e estocar o excedente de café não vendido. Com Em 1901, as tensões agitaram a região. O governo boliviano
isso, calculava-se obter a baixa de preços no mercado in- concedeu a exploração dos seringais acreanos a uma empre-
ternacional e garantir o lucro dos cafeicultores. Também foi sa estadunidense, a Bolivian Sindicate of New York, e passou
tomada a decisão de limitar o plantio de novos pés de café a expulsar os brasileiros e a defender a região. Brasileiros e
e estimular o consumo interno do produto. bolivianos entraram em conflito. Sob a liderança de Plácido
Flutuações (%) da participação do café na de Castro, os bolivianos declararam a independência do Acre.
pauta de exportações do Brasil, 1889-1929 O Brasil passou a negociar com a Bolívia a compra do terri-
100 tório. As negociações foram encabeçadas pelo ministro das
Relações Exteriores, o Barão do Rio Branco, e levaram em
75
1903 à assinatura de um acordo entre os dois países: o Tra-
% 50 tado de Petrópolis. A Bolívia cederia o território do Acre ao
25
Brasil em troca de uma indenização de dois milhões de libras
esterlinas e do compromisso brasileiro de construir a estrada
0 de ferro Madeira-Marmoré, que permitiria o escoamento da
1889 1898 1911 1914 1919 1924
1897 1910 1913 1918 1923 1929 produção boliviana em direção ao oceano Atlântico.
FREIRE, AMÉRICO. HISTÓRIA EM CURSO – O BRASIL E SUAS RELAÇÕES COM O No governo Rodrigues Alves foram definidas ainda questões
MUNDO OCIDENTAL. RIO DE JANEIRO, BRASIL: FGV/CPFOC, 2004, P.257.
territoriais e fronteiriças com a Inglaterra (Guiana), Holanda
Num primeiro momento, os banqueiros ingleses, em es- (Suriname) e Peru, também com a decisiva atuação do Barão
pecial os da Casa Rothschild, recusaram-se a conceder do Rio Branco na defesa dos interesses brasileiros.
60
5. GOVERNO AFONSO
PENA (1906-1909)
Como ditava a política da época, o mineiro Afonso Pena
assumiu a presidência com o objetivo de favorecer os ca-
feicultores. Pena apoiou o Convênio de Taubaté e criou a
Caixa de Conversão, cujo objetivo era manter o câmbio em
baixas cotações a fim de beneficiar as exportações de café.
Para atender à crescente necessidade de mão de obra nos
cafezais, o presidente incrementou a política imigratória
europeia sob o lema “governar é povoar”. Para favorecer o
multimídia: vídeo
escoamento da produção de café, foram construídos, am- FONTE: YOUTUBE
pliados e modernizados portos e ferrovias. Conhecendo os Presidentes
- Ep. 04: Campos Sales
O governo adquiriu dois novos navios para fortalecer a Ma-
rinha, batizados de São Paulo e Minas Gerais, e o Exército
foi beneficiado com a construção de novos quartéis e a
compra de armamentos. 6. GOVERNO NILO PEÇANHA
Em 1907, o Brasil participou da Conferência de Paz na ci-
dade de Haia, na Holanda, em que o Brasil foi representa-
(1909-1910)
do pelo jurista Rui Barbosa. O governo de Nilo Peçanha foi marcado pela criação do
Serviço de Proteção ao Índio (SPI), cujo comando foi entre-
Em 1908, com o objetivo da apresentar a nova cidade do gue ao marechal Cândido Mariano da Silva Rondon. Mais
Rio de Janeiro depois das obras de modernização e sanea- marcante, no entanto, foi a cisão da “política do café com
mento, uma exposição na capital comemorou o centenário leite”, que fez com que o PRP e o PRM apoiassem candi-
da Abertura dos Portos. datos diferentes.
Afonso Pena morreu em 1909, antes de concluir seu man-
dato, e, uma vez cumprido mais da metade de seu manda-
to, foi sucedido pelo vice-presidente Nilo Peçanha.
NILO PEÇANHA
61
Pressionado por Pinheiro Machado, o presidente Nilo Peça- Além dessas revoltas, ocorreram movimentos sediciosos
nha deu apoio a Hermes da Fonseca, o que praticamente no Ceará, na Bahia e em Pernambuco, como resultado da
garantiu sua vitória graças às fraudes eleitorais. “política das salvações”. Os problemas enfrentados foram
responsáveis pela instabilidade que marcou o governo de
Hermes da Fonseca. Durante o maior período de seu qua-
driênio, ele manteve o país sob estado de sítio.
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Conhecendo os Presidentes - multimídia: vídeo
Ep. 05: Rodrigues Alves
FONTE: YOUTUBE
62
Exército interveio, não sem contar com confrontos armados. no Teatro Amazonas, construído com mármore italiano pe-
Havia algum tempo que os militares desejavam o confronto los “barões da borracha”.
do general Dantas Barreto com Rosa e Silva, que dominava As exportações chegaram ao apogeu entre os anos de 1910
a política regional desde 1896. e 1912. Depois veio a concorrência das eficientes plantações
no Ceilão e na Malásia, pelos ingleses, e na Indonésia, pelos
holandeses. Rapidamente a produção brasileira passou a ter
um papel insignificante. Em 1919, com 423 mil toneladas
produzidas no mundo, o Brasil participou com apenas 34
mil toneladas. A produção mundial de borracha passou a ser
dominada pelas colônias europeias na Ásia, e o marasmo
econômico voltou a tomar conta da Amazônia.
© guentermanaus/Shutterstock
multimídia: música
Cabala Eleitoral – Bahiano & Cadete9
7.2. A borracha
TEATRO AMAZONAS
© jcsmilly/Shutterstock
63
candidato de oposição. Venceslau Brás foi eleito sem di-
ficuldades, o que representou a volta da “política do café
com leite” ao controle do poder público federal.
VENCESLAU BRÁS
64
De acordo com as regras constitucionais vigentes, o vice
deveria assumir interinamente e convocar novas eleições,
uma vez que o presidente eleito não havia cumprido mais
da metade de seu mandato.
Para as novas eleições, as oligarquias paulista e mineira in-
dicaram o paraibano Epitácio Pessoa como candidato pela
coligação PRP/PRM. Ele venceu Rui Barbosa e assumiu o
poder em 1919.
multimídia: livros De modo geral, esses governos – sem desconsiderar os con-
textos e as peculiaridades de cada um – enxergavam a so-
O Brasil na Primeira Guerra Mundial ciedade exclusivamente do ponto de vista do principal grupo
– Carlos Daróz social que representavam: os grandes produtores rurais e de
Poucos conhecem a participação brasileira produtos exportáveis de alto rendimento, como café, leite,
no primeiro grande conflito do século pas- carne, cacau, açúcar, algodão, entre outros, não se esquec-
sado. A Primeira Guerra Mundial chegou ao endo daqueles que comandaram a extração da borracha e
Brasil pelo mar, quando navios mercantes dos banqueiros e proprietários das grandes casas comerciais
brasileiros começaram a ser afundados por exportadoras e importadoras dos grandes centros urbanos.
submarinos alemães, que desenvolviam uma
campanha de bloqueio naval contra a nave-
gação Aliada. Diante dos ataques, o Brasil re-
conheceu estar em estado de guerra contra a
aliança liderada pela Alemanha e uniu-se ao
esforço internacional contra os germânicos.
65
multimídia: música
Com que Roupa – Noel Rosa
Devido aos avanços tecnológicos da Segunda Revolução Industrial e da descoberta do processo de vulcanização por
Charles Goodyear em 1838, a borracha passou a ser mais cobiçada. Depois da descoberta desse novo processo de
transformação, no qual a borracha é misturada ao enxofre e queimada, ela passou a ter maior resistência, tornan-
do-se muito mais útil em diversos setores industriais. Assim, o látex, seiva extraída do tronco da seringueira, passou
a ser um ótimo produto de exportação, desejado pelos países em franco desenvolvimento industrial. Com isso, a
região amazônica na fronteira entre o Brasil e a Bolívia, repleta de seringueiras, tornou-se zona de litígio entre essas
duas nações. Depois de alguns anos de conflitos e intervenções diplomáticas, o Brasil comprou o Acre da Bolívia por
meio do Tratado de Petrópolis (1903), pagando aos bolivianos 2 milhões de libras esterlinas. Isso conferiu ao Brasil
a sua delimitação territorial atual.
LÁTEX EXTRAÍDO DO TRONCO DA SERINGUEIRA, TÉCNICA RUDIMENTAR USADA ATÉ OS DIAS DE HOJE.
66
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM
Habilidade
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de
14 natureza histórico-geográfica acerca das instituições sociais, políticas e econômicas.
O aluno do Hexag deve ter percebido a recorrência com que a Habilidade 14 é exigida pelo Enem. Muitas questões
trazem excertos escritos por intelectuais ou figuras proeminentes da história brasileira sobre os mais variados assuntos
sobre os quais se posicionaram.
É imprescindível, principalmente em História do Brasil, que o aluno compreenda os principais embates intelectuais sobre
aspectos da cultura e da política brasileira, como prerrogativas constitucionais, institucionais e ideológicas. Compreender
a dinâmica política dos principais períodos de nossa história é fundamental. Nesse sentido, uma boa capacidade de
leitura também é essencial para assinalar a alternativa correta.
Modelo
(Enem) Nos Estados, entretanto, se instalavam as oligarquias, de cujo perigo já nos advertia Saint-Hilaire, e sob o
disfarce do que se chamou “a política dos governadores”. Em círculos concêntricos, esse sistema vem cumular no
próprio poder central que é o sol do nosso sistema.
PRADO, P. RETRATO DO BRASIL. RIO DE JANEIRO: JOSÉ OLYMPIO, 1972.
A crítica presente no texto remete ao acordo que fundamentou o regime republicano brasileiro durante as três pri-
meiras décadas do século XX e fortaleceu o(a):
a) poder militar, enquanto fiador da ordem econômica;
b) presidencialismo, com o objetivo de limitar o poder dos coronéis;
c) domínio de grupos regionais sobre a ordem federativa;
d) intervenção nos Estados, autorizada pelas normas constitucionais;
e) isonomia do governo federal no tratamento das disputas locais.
Análise expositiva - Habilidade 14: A “política dos governadores” foi uma aliança formada entre os pres-
C identes da república, os governadores e os coronéis no Brasil durante a República Velha. Essa política, baseada
no apoio mútuo entre as partes envolvidas, garantia o aumento do poder de influência dos líderes regionais, isto
é, dos coronéis.
Alternativa C
67
DIAGRAMA DE IDEIAS
REPÚBLICA OLIGÁRQUICA
ASPECTOS ECONÔMICOS E SOCIAIS
CARACTERÍSTICAS
INSTRUMENTOS
EXPOENTE
DE DOMÍNIO
• POLÍTICA DO “CAFÉ COM LEI- • AGRÍCOLA
TE” (NÍVEL FEDERAL) • EXPORTAÇÃO
• POLÍTICA DOS GOVERNADO- • EMPRÉSTIMOS ESTRANGEIROS
RES (NÍVEL ESTADUAL) • INÍCIO DA INDUSTRIALIZAÇÃO
• CORONELISMO (NÍVEL MUNICIPAL)
• VOTO DE CABRESTO
PRESIDENTES
68
DIAGRAMA DE IDEIAS
69
REPÚBLICA OLIGÁRQUICA:
AULAS
MOVIMENTOS SOCIAIS
29 E 30
2, 4, 8, 9, 10, 12, 13, 14,
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3, 4 e 5 HABILIDADES:
15, 18, 22, 23 e 24
70
dívidas e um casamento malsucedido. Antes de ser abando-
nado pela mulher, chegou a trabalhar como professor primá-
rio e caixeiro. Mudou-se de Ipu, no Ceará, para o interior da
Bahia, onde passou a viver como beato, vagando pelo sertão
e pregando o Evangelho de Jesus Cristo.
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
71
A fama da comunidade espalhava-se e o número de habi- mais incomodados, desejavam acabar com aquela comuni-
tantes crescia. Estatísticas oficiais dão conta de que havia dade, que passaram a chamar de Canudos. Conselheiro e
aproximadamente trinta mil habitantes e cinco mil casas. seus seguidores foram acusados e estigmatizados de mo-
Até mesmo fazendeiros da vizinhança iam ao arraial ouvir narquistas e fanáticos, assassinos e ladrões, hereges e cri-
as pregações de Conselheiro, que considerava o governo minosos. Estavam criadas as justificativas para a repressão
da República ilegítimo, sem garantia divina. Com ele, a e a extinção de Canudos.
Igreja perdia espaço.
O primeiro motivo para a repressão resultou de um inci-
dente relacionado à compra de madeiras. A madeira neces-
sária para a construção da nova igreja do Arraial de Belo
Monte foi comprada e paga adiantadamente na cidade
de Juazeiro da Bahia. Como o comerciante demorou para
entregá-la, os homens da comunidade se propuseram a
buscá-la à força. As autoridades locais supervalorizaram o
incidente e pediram proteção ao governo do estado, que,
com o objetivo de intimidar os moradores do arraial, enviou
uma tropa com cem homens da Polícia Militar. A tropa foi
multimídia: livros humilhada e derrotada.
Padre Cícero ( Poder, guerra e fé no sertão), de
Lira Neto
Padre Cícero é o resultado de dez anos de pes-
quisa de Lira Neto, autor de livros como O Ini-
migo do Rei: Uma biografia de José de Alencar
e Maysa: só numa multidão de amores, que
deu origem à minissérie da tv Globo. Nessa
biografia, uma das mais aguardadas do ano, o
autor se debruça sobre a vida do mais amado
e controvertido líder religioso que o Brasil já
teve: Cícero Romão Batista, o Padim Ciço dos
romeiros e fiéis.
Baseado em documentos raros e inéditos, o
autor reconta, com riqueza de detalhes, os
noventa anos de vida do sacerdote, desde seu
nascimento no sertão cearense até a consa- A CARICATURA DE ANGELO AGOSTINI, VEÍCULO DE PROPAGANDA
gração como líder popular. Santo para alguns, REPUBLICANA DURANTE O IMPÉRIO, RETRATA CONSELHEIRO COM
UM SÉQUITO DE BUFÕES ARMADOS COM VELHOS BACAMARTES
impostor para outros, nessa biografia o padre
TENTANDO “BARRAR” A REPÚBLICA. REVISTA ILUSTRADA.
Cícero é alvo de um olhar preciso, que desfaz
equívocos históricos e ajuda a enxergar o ho- Uma nova expedição foi enviada, formada por 600 homens
mem por trás do mito. da Polícia Militar e do Exército, armada com metralhadoras
e dois canhões. A expedição foi facilmente derrotada pelos
conselheiristas.
1.1.2. O messianismo A derrota repercutiu em todo o país. Então, tropas federais
O movimento social de Canudos se caracterizou pela inten- foram mandadas à Bahia para combater os sertanejos de
sa religiosidade. O fenômeno costuma ser explicado a par- Canudos. Eram 1,2 mil homens sob o comando do coronel
tir de seu contexto de miséria e crise, no qual é comum o Moreira César, o “Corta-Cabeças”, assim conhecido graças
crescimento da religiosidade junto à massa popular, geran- à violência com que havia reprimido os rebeldes da Revo-
do movimentos messiânicos que prometem mudanças lução Federalista em Santa Catarina. Arrogante e vaidoso,
radicais na Terra e salvação eterna no Céu. Moreira César subestimou as forças rebeldes e cometeu
erros táticos infantis. Ele e sua tropa foram dizimados pelos
1.1.3. A repressão sertanejos, que se apoderaram das armas e munições dos
Latifundiários e autoridades eclesiásticas e civis, cada vez derrotados e se fortaleceram ainda mais.
72
O agravamento da situação no interior baiano refletia dire- profundamente emocionante e trágica; mas cerramo-la
tamente no poder público federal. Políticos florianistas acu- vacilante e sem brilhos...”
savam o presidente Prudente de Morais de incompetência (SÃO PAULO: EDIOURO, 2003. P. 544).
e fraqueza. Além disso, sedes de jornais considerados mo-
narquistas foram invadidas e depredadas em São Paulo e
no Rio de Janeiro.
Uma nova expedição militar foi enviada a Canudos, com
mais de 7 mil homens, comandados pelo general Arthur
Oscar e o próprio Ministro da Guerra, marechal Carlos Ma-
chado Bitencourt.
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
73
comunidade crescia gradativamente, não sem preocupar
as lideranças políticas e religiosas locais, uma vez que as
comparações com Canudos eram inevitáveis. A reação do
governo federal, das elites e da própria Igreja não tardou.
Urgia uma intervenção imediata no local.
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
O Arraial - animação de Otto Guerra
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Com o fim das obras da estrada de ferro, o contingente de
Corisco & Dadá, de Rosemberg Cariry
desempregados em condições precárias criou um cenário
Para se vingar de um homem que ele pensa que o
ideal para difusão de ideais messiânicos. Foi quando surgiu
traiu, o cangaceiro Corisco (Chico Díaz), conhecido
o líder José Maria (nome falso, como revelariam mais tarde
como “Diabo Loiro”, vinga-se raptando a filha do
as autoridades). Aproveitando-se da presença de monges
suposto traidor, Dadá (Dira Paes), de 12 anos. Com
missionários na região, José Maria tomou o nome de um
o tempo, ela se integra ao bando de Corisco e se
deles e passou a usá-lo. afeiçoa a ele, tornando-se sua mulher. O grupo vai
Camponeses expropriados de suas terras e desempregados percorrendo os sertões, tentando se livrar das ar-
dispuseram-se a seguir José Maria e a formar uma comuni- madilhas de Zé Rufino, chefe da polícia.
dade, única alternativa de vida para eles. A população da
74
Nessa intriga, o presidente cearense Franco Rabelo armou
1.3. Revolta de Juazeiro e mandou um batalhão da polícia a Juazeiro para prender
Ceará (1914) padre Cícero. Um grande número de seguidores do padre
Governo Hermes da Fonseca pegou em armas para enfrentar os policias com o apoio de
vários “coronéis” aciolistas.
A política salvacionista foi a principal causa da Revolta de
Juazeiro. O marechal Hermes da Fonseca decidiu intervir no Ocorreram combates violentos em todo o estado, com
estado do Ceará com o objetivo de neutralizar o poder das desvantagem para as forças rabelistas. O levante foi tão
oligarquias mais poderosas da região, controladas pelo se- violento, que o governo federal cedeu, retirando o inter-
nador Pinheiro Machado, político com bastante influência ventor Franco Rabelo e devolvendo o governo do estado
sobre os “coronéis” do Norte e Nordeste brasileiros. aos Acioly.
1.4. O Cangaço
1.4.1. Nordeste (1870-1940)
O cangaço foi uma forma de banditismo social que se
espalhou pelo Nordeste brasileiro entre 1870 e 1940.
Nas últimas décadas do século XIX, a sociedade nordestina
passava por uma grave crise, motivada por inúmeros con-
flitos: imprecisão dos limites geográficos entre as fazendas;
disputas pelos pastos de melhor qualidade; desentendi-
multimídia: vídeo mentos sobre heranças, cuja único herdeiro, conforme o
FONTE: YOUTUBE morgadio, era o filho mais velho do proprietário. Nesses
Conhecendo os Presidentes - Ep. confrontos, todos os parentes eram convocados e armados
08: Hermes da Fonseca para auxiliar a vítima perseguida.
PADRE CÍCERO
Até o último quartel do século XIX, o sertão foi dominado
Com bastante influência junto ao senador Pinheiro Macha- pela luta entre famílias, o que impedia a ação de grupos
do, padre Cícero começou a armar a deposição de Rabelo. armados independentes. No final do século, porém, essa
75
dinâmica sertaneja mudou. A grande seca de 1877-1879
levou à diminuição do contingente populacional em fun-
ção das doenças e da fome. Aos pobres restava migrar
ou se submeter aos assaltos. Foi nessa oportunidade que,
oprimidos pelos “coronéis”, abandonados pelas autorida-
des governamentais e castigados pela seca, os bandos de
cangaceiros, até então controlados pelos proprietários, co-
meçaram a agir por conta própria.
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
multimídia: música
Viva Meu Padim – Luís Gonzaga
76
“Mas Lampião nunca escolheu aliados em função da
classe social”, diz o antropólogo Villela. “Pobres e ri-
cos, oprimidos e opressores, todos eram bons desde
que satisfizessem suas exigências. Todos eram inimi-
gos desde que se opusessem a seus propósitos.”
O historiador inglês Eric Hobsbawm chegou a classi-
ficá-lo como um “bandido social” – não exatamente
um Robin Hood, mas um tipo vingador. “Sua justiça
LAMPIÃO E SEU BANDO social consiste na destruição”, diz Hobsbawm, que
foi criticado pela avaliação. Billy Chandler, por exem-
plo, acha que Lampião só poderia ser considerado
um bandido social por ter raízes em um ambiente
injusto, nunca por se preocupar com a justiça social.
Villela concorda. Para ele, Lampião resistiu a um tipo
de migração vergonhosa, a migração do medo, que
empurrava para longe gente ameaçada por inimi-
gos ou pela polícia. Para não passar por covarde,
assumiu o nomadismo e a violência. As boas ações
seriam um “escudo ético”, na opinião de Frederico
Pernambucano de Mello, superintendente de Docu-
multimídia: vídeo mentação da Fundação Joaquim Nabuco, de Recife.
Lampião, apesar de perverso, queria ser visto como
FONTE: YOUTUBE um homem bom.
Baile perfumado, de Lírio Ferreira e Paulo DISPONÍVEL EM: <IAR.UNICAMP.BR>. ACESSO EM: 7 MAR. 2015
Caldas
Amigo íntimo do Padre Cícero (Jofre Soares), o
mascate libanês Benjamin Abrahão (Duda Mam-
berti) decide filmar Lampião (Luís Carlos Vascon-
celos) e todo seu bando, pois acredita que es-
se filme o deixará muito rico. Depois de alguns
contatos iniciais, ele conversa diretamente com o
famoso cangaceiro e expõe sua ideia, mas os so-
nhos do mascate são prejudicados pela ditadura
do Estado Novo.
77
2. OS MOVIMENTOS Para combater a febre amarela, era necessário eliminar os
focos de mosquitos nas casas. Com esse objetivo, formou-se
SOCIAIS URBANOS uma brigada composta por funcionários do Departamento
de Saúde conhecida como “mata-mosquitos”, que visitava
as casas e, muito frequentemente, invadia-as sob o pretexto
2.1. Revolta da Vacina de que as pessoas não facilitavam o acesso, revoltando ain-
Rio de Janeiro (1904) da mais a população. Nesse contexto, não se pode ignorar a
sistemática política de arbitrariedades realizada pela gestão
Governo Rodrigues Alves Pereira Passos contra a população pobre, que desconfiava
As precárias condições de higiene e a falta de saneamento das políticas governamentais e de seus agentes.
não eram os únicos problemas do Rio de Janeiro no início do O combate à varíola seria realizado graças à vacinação em
século XX. No entanto, eram responsáveis pela grande quan- massa da população. Já revoltada com as ações do governo
tidade de ratos, baratas, mosquitos e outros insetos, bem e amedrontada pela oposição, que mais a desinformava do
como por agentes transmissores de várias enfermidades. As que esclarecia, afirmando, por exemplo, que a vacina causaria
maravilhas naturais da capital da República contrastavam a doença em vez de evitá-la, a população passou a se recusar
com o lixo e as condições precárias de sobrevivência da a receber as brigadas sanitárias e a vacina. Por causa desse
maioria da população, especialmente das camadas pobres, impasse, o governo conseguiu a aprovação no Congresso de
que mais sofriam com a proliferação de doenças. uma lei que tornava a vacinação obrigatória e permitia que
Não adiantava apenas promover o saneamento e a urbaniza- as brigadas sanitárias invadissem as casas para efetuá-la,
ção da cidade. Eram necessárias ações de combate a epide- desrespeitando direitos individuais e a propriedade privada.
mias, como varíola, febre amarela e leptospirose. A situação
do Rio de Janeiro manchava a imagem da cidade no exterior,
a ponto de navios vindos da Europa evitarem o porto carioca
para preservar a saúde de tripulantes e passageiros.
O presidente Rodrigues Alves encarregou o sanitarista
Oswaldo Cruz de zelar pela saúde pública e combater
as epidemias que assolavam a cidade, complementando as
ações urbanísticas. É importante destacar que a população,
especialmente a de baixa renda, moradora dos cortiços de-
molidos ou não, ou dos prédios que deviam dar lugar a
ruas mais largas e praças, estava revoltada com o governo
e não aceitaria suas medidas. Além disso, a oposição fazia
campanhas abertas contra as medidas governamentais. O
poder público, por sua vez, cometeu a grande falha de não
esclarecer a população, preferindo usar a força para aplicar
as medidas sanitaristas.
OSWALDO CRUZ
multimídia: música
CAPA DA REVISTA O MALHO, 1904. A POPULAÇÃO REVOLTA-SE
Rato, Rato – Casemiro Rocha & Claudino Costa CONTRAOSWALDO CRUZ, DE BIGODES E MONTADO EM UMA SERINGA
(DISPONÍVEL EM: <PORTALDOPROFESSOR.MEC.GOV.BR>).
78
multimídia: livros
A Revolta da Vacina, de Nicolau Sevcenko multimídia: vídeo
O autor reconstitui os episódios da maior FONTE: YOUTUBE
convulsão social da cidade do Rio de Janei-
Conhecendo os Presidentes
ro, durante a campanha de vacinação contra
- Ep. 06: Afonso Pena
a varíola (1904). Por trás da reforma urbana,
percebe-se a profunda situação de exclusão
social. A saúde pública caminha junto ao uso
autoritário da ciência. Com posfácio inédito 2.2. Revolta da Chibata
de Sevcenko, mapas, fotos de Augusto Malta
e Marc Ferrez e charges da época. Rio de Janeiro (1910)
Governo Hermes da Fonseca
79
Baía de Guanabara: o Bahia e o Deodoro. Os amotinados Cobras, conhecida como Revolta do Batalhão Naval. O go-
assassinaram o capitão Batista das Neves, responsável pela verno agiu com energia e rapidez: sufocou o movimento e
punição ao marinheiro morto, e apontaram os canhões dos ordenou a prisão dos revoltosos. Muitos deles morreram
navios para a cidade do Rio de Janeiro, ameaçando bom- em virtude dos maus tratos e da violência.
bardeá-la caso o governo Hermes da Fonseca não atendes-
se suas exigências, enviadas mediante um manifesto. Entre
elas constavam o fim dos castigos corporais na Marinha,
o aumento do soldo (remuneração) dos marinheiros e a
melhoria da alimentação nas embarcações, consideradas
de péssima qualidade.
multimídia: livros
O Cortiço, de Aluísio Azevedo
O cortiço, publicado em 1890, é considerado
uma obra-prima do Naturalismo brasileiro.
Apesar da influência notável de Émile Zola, o
multimídia: livros
vigor e a originalidade da narrativa que abor-
A Revolta Da Chibata, de Edmar Morel dou os problemas sociais de fins do século
A nova edição do livro que cunhou o termo XIX, possuindo como “cenário” principal um
“Revolta da Chibata” reúne documentos, en- cortiço, são perceptíveis. Pintor de variada ga-
trevistas, artigos e fotos sobre a história da re- leria de tipos e da representação do cotidiano,
belião na Marinha de Guerra, em 1910, lidera- Aluísio Azevedo ficou conhecido por seu traço
da por João Cândido, o Almirante Negro, que forte e principalmente por personificar a fase
tinha o objetivo de acabar com os castigos naturalista brasileira.
corporais aos marinheiros e, num plano mais
elevado, instaurar justiça social e dignidade na
sociedade brasileira da época. 2.3. Greve geral de 1917
São Paulo (origem)
80
fumaça frequentes. As precárias condições de moradia as-
sociadas à péssima alimentação provocavam doenças nos
operários e em seus familiares, causando elevados índices
de mortalidade.
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Conhecendo os Presidentes -
Ep. 09: Venceslau Brás
OPERÁRIOS E ANARQUISTAS MARCHAM PORTANDO BANDEIRAS
NEGRAS PELA CIDADE DE SÃO PAULO, NA GREVE DE 1917.
1918 144 117 171 TRABALHADORES CRUZAM OS BRAÇOS EM UMA FÁBRICA EM SÃO PAULO.
1919 148 123 209 Em sinal de protesto, operários de outras fábricas aderiram
1920 163 146 188 ao movimento e a paralisação transformou-se em greve ge-
SIMONSEN, R. C. A EVOLUÇÃO INDUSTRIAL DO BRASIL. 1939.
ral, permitindo que os operários fizessem diversas exigências:
Os estrangeiros compunham a maioria do operariado da- libertação de todas as pessoas detidas devido à greve;
quele período e conheciam as ideias socialistas e anarquis- respeito ao direito de associação dos trabalhadores;
tas, base da prática sindical e anarcossindicalista, voltada
proibição do trabalho de menores de 14 anos nas fá-
para a pressão sobre os patrões com o objetivo de obter
bricas e oficinas;
melhores salários e condições de trabalho, bem como leis
trabalhistas que assegurassem, entre outras reivindicações, abolição do trabalho noturno para mulheres;
a diminuição das jornadas de trabalho, a regulamentação aumento de 35% nos salários inferiores a $5.000 e de
do trabalho feminino e a proibição do trabalho infantil. 25% para os mais elevados; e
A situação dos operários, a falta de uma legislação tra- jornada diária de oito horas.
balhista e a eclosão da Revolução Russa de 1917 podem
ser apontadas como as principais causas da eclosão de O movimento grevista espalhou-se pelos estados de São
uma greve geral dos operários paulistas. Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Minas Gerais,
Bahia e Rio Grande do Sul.
A greve foi iniciada por um grupo de operários de uma
tecelagem, que decidiu paralisar o trabalho para prote- Depois de violenta repressão policial e de complexas ne-
star contra o aumento da jornada de trabalho na fábrica. gociações, foi selado um acordo que pôs fim à greve: os
Entre vários distúrbios, um sapateiro anarquista chamado salários seriam aumentados em 20% e os grevistas presos
Antônio Martinez foi assassinado pela polícia. O fato seriam libertados sem sofrer retaliação.
provocou a paralisação de outras fábricas, e o enterro do Ainda que a República Militar e Oligárquica tenha se
sapateiro foi acompanhado por cerca de dez mil pessoas. constituído como um golpe político, criando um Estado
81
dissociado dos interesses de grande parte da sociedade,
isso não significou que segmentos rurais e urbanos dessa
sociedade ficassem passivos e deixassem de lutar para
viver em um país mais justo.
multimídia: sites
www.sohistoria.com.br/ef2/canudos/
www.infoescola.com/historia/guer-
ra-do-contestado/
multimídia: vídeo brasilescola.uol.com.br/historiab/revol-
FONTE: YOUTUBE ta-chibata.htm
Conhecendo os Presidentes portal.fiocruz.br/pt-br/node/473
- Ep. 07: Nilo Peçanha
82
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS
No final do século XIX e início do XX, o quadro de atraso nas políticas brasileiras de saneamento fez com que o
Brasil fosse muito desprestigiado no cenário de atração de turistas internacionais, pois doenças como febre amarela,
dengue, leptospirose e varíola eram corriqueiras em todo o país, mas, principalmente, na capital federal, o Rio de
Janeiro. Somado a esse problema de saúde pública a necessidade de reurbanizar as principais cidades brasileiras,
conferindo a elas ares de modernidade, o prefeito do Rio de Janeiro, Pereira Passos, inspirou-se na reforma urbana
de Paris e decidiu modernizar a capital.
A reforma do “Bota-Abaixo”, como ficou conhecida, tentou criar uma falsa impressão de um Rio de Janeiro mo-
derno e sem pobreza, pois os moradores dos cortiços derrubados seriam realocados para os morros (origem das
favelas). Nesse mesmo momento, o Brasil passava por uma reforma sanitarista, chefiada pelo médico sanitarista
Oswaldo Cruz, que decidiu erradicar doenças cotidianas da realidade nacional, obrigando agentes a borrifarem
veneno nas casas das pessoas para matar os mosquitos e instituindo a vacinação obrigatória. Todas essas transfor-
mações simultâneas no cenário fluminense levaram à eclosão da Revolta da Vacina em 1904.
83
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM
Habilidade
Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver proble-
12 mas sociais.
A justiça tem como um de seus componentes o conjunto de leis de uma determinada nação. O código penal, no caso
brasileiro, exprime e tipifica um conjunto de ações indesejáveis e suas respectivas punições. Entretanto, o conjunto de
valores expressos na lei não é completamente neutro, ou seja, pode representar a visão de certo grupo social.
A Habilidade 12 exige esse tipo de compreensão dos alunos. Requer a capacidade de compreender o teor das constitui-
ções brasileiras e de reconhecer ideologias impostas no ordenamento jurídico. A questão a seguir demonstra o precon-
ceito das elites brasileiras em relação às práticas culturais das populações de origem africana. Vê-se que o Código Penal
em questão é de 1890, ou seja, dois anos depois da Lei Áurea.
Modelo
(Enem) O artigo 402 do Código Penal Brasileiro de 1890 dizia:
Fazer nas ruas e praças públicas exercícios de agilidade e destreza corporal, conhecidos pela denominação de capoei-
ragem: andar em correrias, com armas ou instrumentos capazes de produzir uma lesão corporal, provocando tumulto
ou desordens.
Pena: prisão de dois a seis meses.
SOARES, C.E.L. A NEGREGADA INSTITUIÇÃO – OS CAPOEIRAS NO RIO DE JANEIRO:
1850-1890. RIO DE JANEIRO: SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA, 1994 (ADAPTADO).
O artigo do primeiro Código Penal Republicano naturaliza medidas socialmente excludentes. Nesse contexto, tal
regulamento expressava:
a) a manutenção de parte da legislação do império com vistas ao controle da criminalidade urbana;
b) a defesa do retorno do cativeiro e escravidão pelos primeiros governos do período republicano;
c) o caráter disciplinador de uma sociedade industrializada, desejosa de um equilíbrio entre progresso e civilização;
d) a criminalização de práticas culturais e a persistência de valores que vinculavam certos grupos ao passado de escravidão;
e) o poder do regime escravista, que mantinha os negros como categoria social inferior, discriminada e segregada.
Análise expositiva - Habilidade 12: Ao observar os artigos citados, percebe-se a preocupação em crimi-
D nalizar atitudes comuns a uma parcela da população negra, como a capoeira, vista pela elite branca como uma
ameaça. É interessante notar que o Código foi elaborado apenas dois anos depois do fim da escravidão e reflete a
necessidade da criação de novos mecanismos, teoricamente democráticos, que mantivessem a população negra
e suas expressões culturais marginalizadas.
Alternativa D
84
DIAGRAMA DE IDEIAS
REPÚBLICA OLIGÁRQUICA
MOVIMENTOS SOCIAIS
CANUDOS
(BAHIA: 1893-1897)
• LIDERANÇA: ANTÔNIO CONSELHEIRO
• CONTEXTO: POBREZA NO CAMPO, SECAS, ARBÍTRIOS DAS ELITES
• CARACTERÍSTICAS: MESSIANISMO, MOVIMENTO RELIGIOSO E CAMPONÊS
• REIVINDICAÇÃO: FORMAÇÃO DE ARRAIAL INDEPENDENTE
• FINALIZAÇÃO: DERROTADO PELAS TROPAS FEDERAIS APÓS RESISTÊNCIA
CONTESTADO
(PARANÁ E SANTA CATARINA: 1912-1916)
• LIDERANÇA: JOSÉ MARIA
• CONTEXTO: POBREZA NO CAMPO, CONSTRUÇÃO DE ESTRADA DE FERRO
• CARACTERÍSTICAS: MESSIANISMO, MOVIMENTO RELIGIOSO E CAMPONÊS
• REIVINDICAÇÃO: FORMAÇÃO DE COMUNIDADE NA REGIÃO
• FINALIZAÇÃO: DERROTADO PELAS TROPAS FEDERAIS
CANGAÇO
(NORDESTE: 1870-1940)
• LIDERANÇA: GRUPOS DIVERSOS, PRINCIPAL GRUPO LIDERADO POR LAMPIÃO
• CONTEXTO: POBREZA RURAL, SECAS
• CARACTERÍSTICAS: MOVIMENTOS DISPERSOS, BANDITISMO SOCIAL
• FINALIZAÇÃO: DERROTA DE CANGACEIROS LOCAIS, FIM DO CAN-
GAÇO APÓS A DERROTA DE LAMPIÃO, EM 1938
85
DIAGRAMA DE IDEIAS
REVOLTA DA VACINA
(RIO DE JANEIRO: 1904)
• CONTEXTO: POBREZA URBANA, PROLIFERAÇÃO DE DOEN-
ÇAS, REPRESSÃO SOCIAL, VACINAÇÃO OBRIGATÓRIA
• REIVINDICAÇÃO: FIM DA VACINAÇÃO OBRIGATÓRIA
• FINALIZAÇÃO: ESTADO DE SÍTIO E FIM DA VACINAÇÃO OBRIGATÓRIA
REVOLTA DA CHIBATA
(RIO DE JANEIRO: 1910)
• LIDERANÇA: JOÃO CÂNDIDO, O ALMIRANTE NEGRO
• CONTEXTO: PUNIÇÕES FÍSICAS NA MARINHA, RACISMO ESTRUTURAL
• CARACTERÍSTICAS: CONFLITOS RACIAL E SOCIAL, BAIXA PATENTE MILITAR
• REIVINDICAÇÃO: FIM DOS CASTIGOS CORPORAIS,
AUMENTO DO SOLDO, MELHOR ALIMENTAÇÃO
• FINALIZAÇÃO: DERROTADA PELAS TROPAS FEDERAIS
86
CRISE DA REPÚBLICA OLIGÁRQUICA
AULAS
E REVOLUÇÃO DE 1930
31 E 32
2, 3, 5, 9, 10, 11, 13, 15,
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3 e 5 HABILIDADES:
22 e 25
multimídia: livros
A Revolução de 1930: Historiografia e História,
de Boris Fausto
Um episódio histórico de profundas consequ-
ências na configuração do Brasil contemporâ-
neo, destrinchado pelo maior especialista no
período. Um clássico da historiografia brasilei- multimídia: vídeo
ra em nova edição, revista e com novo prefácio
do autor. FONTE: YOUTUBE
Conhecendo os Presidentes -
Ep. 10: Delfim Moreira
Em relação ao poder político, é importante analisar como
as autoridades se comportavam e quais suas ações para o
Trata-se um longo processo tecido no exercício do poder polí-
enfrentamento de problemas sociais e econômicos naque-
tico que se transfigurou na história da “Revolução de 1930”.
le período.
As inúmeras revisões historiográficas, por sua vez, não são
Desde o final do século XIX, o Brasil vivia um processo de capazes de realizar uma leitura daquele período como de
transformações econômicas, sociais, políticas e culturais que contribuição e voz de outras propostas políticas que, no en-
se acentuou na década de 1910 e possibilitou a organização tanto, foram sufocadas e posteriormente apagadas do dis-
de grupos sociais questionadores e de oposição ao poder curso oficial e da memória histórica. As práticas econômicas
das oligarquias tradicionais (grupos sociais dominantes). As e políticas continuaram as mesmas, e a classe operária – um
87
elemento histórico novo – foi aos poucos sendo reconhecida. que, além de contar com a participação de diversos países,
Os objetos de sua luta, como os direitos trabalhistas, foram procurou apresentar as principais riquezas do Brasil e esti-
incorporados à legislação como uma “dádiva” do governo, mular a relação de vários negócios com o objetivo de atrair
que despontava como uma nova fase da trajetória histórica investimentos estrangeiros.
brasileira a partir da década de 1930, especialmente com a
A década de 1920 foi marcada pelo processo de declínio
ascensão de Vargas ao poder.
do domínio oligárquico, que passou a ser contestado pela
burguesia industrial em desenvolvimento, uma fração da
2. GOVERNO EPITÁCIO própria classe dominante, mas com novos interesses e
ambições. O operariado e as camadas médias urbanas
PESSOA (1919-1922) apresentavam suas reivindicações e organizavam-se po-
liticamente. O movimento tenentista e a Semana de Arte
Ao assumir a presidência da República, Epitácio Pessoa
Moderna são exemplos das inquietações daquele período.
pediu um empréstimo aos EUA para promover a remo-
delação do centro do Rio de Janeiro. Mais tarde, recorreu O desenvolvimento industrial brasileiro durante e após a
a um novo empréstimo destinado à construção de ferro- Primeira Guerra Mundial (1914-1918) propiciou o cres-
vias, açudes e barragens no Nordeste com o objetivo de cimento econômico da burguesia industrial e da classe
combater a seca na região. operária e um processo de urbanização que viabilizou o
crescimento das camadas médias urbanas. Esses segmen-
tos sociais contestavam o domínio oligárquico de diversas
maneiras.
A burguesia industrial, contrária às constantes políticas
de valorização do café, exigia mais participação política.
O movimento operário exigia leis trabalhistas e con-
testava as medidas de valorização do café, que promo-
viam o aumento de impostos e a inflação desenfreada,
causadora da corrosão dos salários.
As camadas urbanas se revoltavam contra as fraudes
eleitorais, a inflação e os altos impostos, reflexos das
políticas de valorização do café.
EPITÁCIO PESSOA
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
O decreto de banimento da Família Imperial, assinado no
Governo Provisório do Marechal Deodoro da Fonseca, foi Conhecendo os Presidentes -
revogado em 1920 e os restos mortais do imperador D. Ep. 11: Epitácio Pessoa
Pedro II e da imperatriz Tereza Cristina foram transferidos
para Petrópolis. No mesmo ano, foi criada a primeira uni-
versidade brasileira, atual Universidade Federal do Rio de 2.1. Semana de Arte Moderna (1922)
janeiro (UFRJ). A Semana de Arte Moderna ocorreu entre os dias 11 e 18
Em 1922, para comemorar o centenário da independência, de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo. Foi
foi realizada a Exposição Internacional do Rio de Janeiro, o ponto culminante do movimento modernista em franco
88
desenvolvimento. Entre seus promotores e participantes es-
tavam os pintores Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Di Ca-
valcante; os escritores Mario de Andrade, Menotti Del Pichia,
Graça Aranha, Manuel Bandeira e Oswald de Andrade; o
músico Heitor Villa-Lobos; e o escultor Victor Brecheret.
multimídia: livros
22 por 22: A semana da Arte Moderna, de
Maria Eugenia Boa Ventura
22 por 22 é uma coletânea de artigos na ver-
são original. Traz à tona a polêmica artística
travada em 1922, em torno da implantação do
modernismo no Brasil. Divulgados na imprensa
durante aquele ano, sobretudo em São Paulo,
CAPA DO CATÁLOGO DA EXPOSIÇÃO DA SEMANA DE 22, DE DI CAVALCANTI.
os artigos apresentam um debate acirrado, in-
tensificado pela realização da Semana de Arte
O movimento modernista foi a resposta dos artistas bra- Moderna e prolongado pelo “ano do Centená-
sileiros às mudanças nas artes, ocorridas desde o fim da rio”, com a publicação de Paulicéia Desvairada,
Primeira Guerra Mundial, marcadas pelo surgimento dos de Mário de Andrade, O Homem e a Morte, de
movimentos de vanguarda: futurismo, expressionismo, Menotte del Picchia, e da revista Klaxon.
cubismo e dadaísmo. O cinema passara a ser produzido
para as massas, e o rádio, as máquinas e os automóveis
estavam cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas. Os artistas brasileiros encaravam o movimento modernista
como uma forma de representar, na cultura e nas artes, to-
das as transformações observadas na realidade, bem como
criar padrões culturais genuinamente nacionais, rompen-
do parcialmente com os padrões europeus. O movimento
também foi porta-voz de críticas à sociedade burguesa e
de protestos contra a situação política do país.
89
cor e perspectiva, consequências lógicas do desenho,
cujos enigmas só agora está tentando decifrar.
90
Num primeiro momento, acreditava-se que a Revolução apresentava-se com uma missão salvadora, defenden-
Russa de 1917 fosse anarquista. À medida que chega- do o voto secreto, a reforma do ensino – que deveria
vam notícias mais precisas, o movimento operário passou tornar-se gratuito – e o fim da socialização das perdas,
a debater a necessidade de organizar ou não um partido reivindicações que coincidiam com os interesses das ca-
semelhante ao soviético. Dessas discussões, surgiu o Parti- madas médias urbanas. O tenentismo defendia também
do Comunista do Brasil. Em julho de 1922, depois de inú- a autonomia do poder Judiciário e a defesa dos recursos
meras reuniões preparatórias, foi realizado o congresso de naturais do país.
sua fundação. Representando 73 filiados, reuniram-se nove Os tenentes advogavam a necessidade de uma centraliza-
delegados sob as lideranças de Astrogildo Pereira, Leônidas ção política e administrativa, com uma total subordinação
de Resende e Cristiano Cordeiro. Durante três dias foram dos estados ao governo central e, como não acreditassem
discutidos e aprovados os princípios do Comintern1 e foi que as eleições diretas conseguiriam eliminar os vícios das
eleito um comitê central. instituições republicanas, pregavam a intervenção do Exér-
cito para salvar o país, afirmando que as reformas do Esta-
do e da sociedade somente se tornariam possíveis através
de um extremo autoritarismo governamental. (MEIRA,
Antônio Carlos. Brasil recuperando a nossa história. São
Paulo: FTD, 1998, p 183).
multimídia: música
Já Quebrou – Frederico Rocha
multimídia: livros
2.3. Tenentismo Tenentes: Guerra Civil Brasileira, de Pedro Doria
O livro conta a história da crise política que
O movimento tenentista nasceu na baixa oficialidade do desencadeou uma guerra civil no Brasil. É com
Exército, congregando especialmente tenentes recém-sa- maestria de estilo, unindo o rigor da investi-
ídos da Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, gação histórica minuciosa à experiência de
e capitães recém-promovidos ao posto, insatisfeitos com repórter tarimbado, que Pedro Doria recria o
a realidade política, econômica e social do país, com a cenário que deflagrou o movimento tenentis-
situação dos militares e com a demora das promoções ta na década de 1920 e retrata personagens,
no Exército. apresentando por meio de sua caracterização
A renovação iniciada no Exército agravou as divisões entre o espírito de outro tempo. Narrado em forma
“velhos” e “novos” oficiais. Os “velhos”, geralmente de de thriller, Tenentes apresenta a história da cri-
patente superior, estavam acomodados ao sistema oligár- se política que desencadeou uma guerra civil
quico e ao papel pouco importante nele desempenhado sem precedentes no país, em um tempo nem
pelas Forças Armadas. Os “novos”, por sua vez, culpavam tão distante em que essas crises se resolviam
a organização política pela situação de atraso do país e rei- de outro jeito.
vindicavam, para a corporação militar, um papel de relevo
na condução dos negócios públicos. O movimento tenentista era nacionalista e se caracte-
O tenentismo contestava os vícios políticos, a corrupção, rizava pela falta de uma ideologia definida, uma vez
as fraudes eleitorais, o voto de cabresto e o domínio oli- que era constituído por várias correntes ideológicas. Os
gárquico que marcavam a República Velha. O movimento principais levantes tenentistas foram a Revolta do Forte
1. É o termo com que se designa a Terceira Internacional Comuni- de Copacabana (18 do Forte, 5 de julho de 1922), a Re-
sta (1919-1943), ou seja, a organização internacional fundada por volta Paulista (5 de agosto de 1924) e a Coluna Prestes
Lenin e pelo Partido Comunista Soviético para reunir os partidos
comunistas de diferentes países. (1924-1927).
91
sua candidatura. Não atendidos, assumiram a oposição e
declararam que não aceitariam a posse de Artur Bernardes
caso ele vencesse as eleições.
E Artur Bernardes venceu. Ao final, as frustrações longa-
mente acumuladas eclodiram na Revolta do Forte de Co-
pacabana em 1922.
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
92
sob comando de Euclides da Fonseca, filho do Marechal Eram 17 homens liderados pelo tenente Siqueira Campos,
Hermes da Fonseca, imediatamente apoiado por outras que marcharam pela Avenida Atlântica, onde receberam a
guarnições militares do Rio de Janeiro e do Mato Grosso. adesão do civil Otávio Corrêa.
Os 18 do forte de Copacabana marcharam para se en-
contrar com as tropas federais designadas para conter o
movimento. Houve troca de tiros, e os rebeldes foram mor-
tos. Sobreviveram apenas os tenentes Siqueira Campos e
Eduardo Gomes.
93
No Rio Grande do Sul, ocorreu a Revolução Libertadora
de 1923, liderada por Assis Brasil – fundador da Aliança
Libertadora –, em oposição ao oligarca Borges de Medei-
ros, velho patriarca do Partido Republicano Gaúcho. Me-
deiros controlou o poder político no estado e se beneficiou
da Constituição gaúcha, que permitia reeleições ilimitadas
para a presidência do estado. Depois de intensos comba-
tes, foi firmado o Pacto de Pedras Altas, que confirmou Bor-
ges de Medeiros na presidência do estado sem direito a
nova reeleição, que foi retirada da Constituição do estado.
ARTUR BERNARDES
multimídia: livros
São Paulo deve ser destruída, de Moacir As-
sunção
O livro trata do bombardeio impiedoso da
segunda maior cidade do país para conter o
levante da antiga Força Pública de São Paulo.
Os desdobramentos dessa revolta, iniciada em
5 de julho de 1924, foram dramáticos para a
população civil. O governo do presidente Ar-
thur Bernardes cercou a capital paulista com
um anel de ferro e fogo. A artilharia pesada
do Exército atirava de hora em hora contra
fábricas e bairros proletários, na tentativa de
jogar o povo e os operários contra as tropas
amotinadas. Centenas de edificações foram
destruídas ou gravemente danificadas pelos
canhões enviados de trem do Rio de Janeiro.
BORGES DE MEDEIROS
94
O governo de Artur Bernardes começou em meio a uma Durante pouco mais de dois anos percorrendo o interior do
crise econômica internacional e sob exigências dos cafei- país e combatendo as forças governamentais e oligárquicas,
cultores por uma nova valorização dos preços do café. O a Coluna se deslocou aproximadamente 25 mil quilômetros
custo de vida subia cada vez mais, derrubando a populari- pelo território de nove estados. Além de combater as tropas
dade do governo, que se tornava cada vez mais repressivo. designadas para destruí-la, a Coluna Prestes tentava cons-
O estado de sítio durou quase todo o quadriênio, e aos cientizar a população rural dos vícios e males do domínio
opositores do governo foi negada qualquer forma de tré- oligárquico e derrubar o presidente Artur Bernardes.
gua ou anistia.
Nos quartéis, as conspirações continuaram e resultaram
em um novo levante armado. Em São Paulo, em 5 de julho
de 1924, diversas guarnições rebelaram-se sob o coman-
do dos generais Isidoro Dias Lopes e Miguel Costa e dos
tenentes Joaquim Távora, Juarez Távora e Eduardo Gomes.
Os rebeldes forçaram a fuga do governador Carlos de
Campos e ocuparam a cidade durante 22 dias, exigindo a
derrubada de Bernardes e uma Constituinte com mudan-
ças políticas, como o voto secreto.
No entanto, não conseguindo suportar as pressões das tro-
pas legalistas, munidas de aviões de combate, os rebeldes LUÍS CARLOS PRESTES É O TERCEIRO, SENTADO, DA ESQUERDA PARA A DIREITA.
foram obrigados a fugir para o Sul, onde se encontraram Marcha da Coluna Prestes
com os revoltosos do Rio Grande do Sul.
multimídia: música
Batalhas mais importantes
A Moda da Revolução – Cornélio Pires & Arlin- Coluna Prestes (ida)
Coluna Prestes (volta)
do Santana Périplo de Siqueira Campos
Marcha da Coluna Paulista
95
4. GOVERNO WASHINGTON ele atribuída, tornou-se símbolo do seu governo, embora
sua autoria nunca tenha sido comprovada. Washigton Luís
LUÍS (1926-1930) aprovou a Lei Celerada, que estabelecia repressão às ati-
vidades políticas e sindicais operárias, particularmente às
ligadas aos comunistas, por considerá-las nocivas à ordem
social e econômica.
multimídia: música
O Barbado foi-se – Almirante
96
processo eleitoral para a escolha do novo presidente da Re-
pública. Segundo o acordo da política do “café com leite”,
o presidente Washington Luís, que pertencia ao PRP, deveria
indicar um candidato do PRM, o presidente de Minas Gerais,
Antônio Carlos de Andrada.
97
toda a bancada paraibana que apoiara a Aliança Liberal e ao
descontentamento popular com a crise econômica causada
pela Grande Depressão de 1929, servindo como justificativa
para a mobilização armada contra o governo federal.
multimídia: sites
www.historiadobrasil.net/
mundoestranho.abril.com.br/
semana-arte-moderna.info/
multimídia: música
Rebentô a Revolução – Mandi
98
multimídia: música
Seu Julinho Vem – Francisco Alves
A Semana de Arte Moderna, ocorrida em fevereiro de 1922, trouxe um novo paradigma para a literatura e as artes
brasileiras. O Modernismo rompeu com as artes puras europeias, que eram copiadas pelos artistas brasileiros antes
de 1922. A partir desse momento, estabeleceu-se o que Oswald de Andrade (um dos idealizadores da Semana)
chamou de “antropofagia cultural”, ou seja, o Brasil precisava “devorar” as influências externas, mas criar nessa
“digestão” uma arte com elementos de valorização do nacional, exaltando cenários e realidades brasileiras. A Se-
mana de Arte Moderna, apesar de ter ocorrido em 1922, teve seus efeitos mantidos por toda a conturbada década
de 1920 no Brasil.
99
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM
Habilidade
15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
A Habilidade 15 contempla diversos objetos de conflitos históricos. No caso da História, destacam-se os sociais, políticos
e econômicos. O candidato deve ter uma compreensão histórica para além da memorização de datas e eventos. A prova
exige a capacidade de analisar diferentes propostas, ideologias e concepções políticas de movimentos sociais, partidos
políticos ou líderes em geral.
A Habilidade 15 é exigida principalmente em relação a temas que abordam momentos de transição histórica, pois neles
há maior relevância das posições políticas e ideológicas dos agentes políticos. No caso da questão a seguir, observa-se
um discurso de Vargas quando de sua posse como chefe do Governo Provisório, em 1930, fato que pôs fim à chamada
República Oligárquica (1894-1930).
Modelo
(Enem) O trabalho de recomposição que nos espera não admite medidas contemporizadoras. Implica o reajustamento
social e econômico de todos os rumos até aqui seguidos. Comecemos por desmontar a máquina do favoritismo para-
sitário, com toda sua descendência espúria.
(Discurso de posse de Getúlio Vargas como chefe do Governo Provisório, pronunciado em 3 de novembro de 1930.)
FILHO, I.A. BRASIL, 500 ANOS EM DOCUMENTO. RIO DE JANEIRO: MAUAD, 1999 (ADAPTADO).
Em seu discurso de posse, como forma de legitimar o regime político implantado em 1930, Getúlio Vargas estabelece
uma crítica ao:
a) funcionamento regular dos partidos político;
b) controle político exercido pelas oligarquias estaduais;
c) centralismo presente na constituição então em vigor;
d) mecanismo jurídico que impedia as fraudes eleitorais;
e) imobilismo popular nos processos político-eleitorais.
Análise expositiva - Habilidade 15: Na fala “desmontar a máquina do favoritismo parasitário, com toda
B a sua descendência espúria”, Getúlio faz uma crítica direta à política dos governadores e ao coronelismo, que,
através da manipulação eleitoral, favorecia as oligarquias estaduais a ficarem no poder.
Alternativa B
100
DIAGRAMA DE IDEIAS
CARACTERÍSTICAS
OS 18 DO FORTE DE
TENENTISMO
COPACABANA (1922)
101
DIAGRAMA DE IDEIAS
GOVERNO
• INSTABILIDADE POLÍTICA
ARTUR BERNARDES
• ESTADO DE SÍTIO
1922-1926
REVOLUÇÃO
ESTOPIM
DE 1930
102
AULAS ERA VARGAS: GOVERNOS
33 E 34 PROVISÓRIO E CONSTITUCIONAL
COMPETÊNCIAS: 1, 2, 3 e 5 HABILIDADES: 4, 10, 13, 15, 21, 22 e 26
multimídia: música
O meu viva eu quero dar – Cornélio Pires, Ma-
riano & Caçula
103
candidato vitorioso, Júlio Prestes, permitindo a ascensão de a suspensão parcial da Constituição de 1891;
Getúlio Vargas à chefia do Governo Provisório. O golpe de
o fechamento do Congresso Nacional, das assembleias
Estado transfigurado de ato revolucionário, como foi cons-
legislativas e das câmaras municipais;
truído pela memória e sua realimentação no tempo, trans-
formou-se na história inquestionável desse período, isto é, a destituição dos presidentes de todos os estados e a
estava inaugurada a Era Vargas. indicação de interventores ligados ao Movimento Te-
nentista para os respectivos governos, exceto em Mi-
A histórica frase atribuída a Antônio Carlos de Andrada
nas Gerais, uma vez que o governador Olegário Maciel
contribuiu para o movimento das oligarquias dissidentes:
havia apoiado a Revolução de 1930;
“Façamos a revolução antes que o povo a faça”. Essa frase
resume a atuação das frações e facções da classe domi- a formação de um ministério por representantes dos
nante, em especial mineiros, gaúchos e paraibanos, apoia- grupos políticos vencedores: Afrânio de Melo Franco,
dos por novos setores sociais, como a burguesia industrial Exterior; Oswaldo Aranha, Justiça; Assis Brasil, Agricul-
e a classe média urbana, além do Movimento Tenentista. tura; José Maria Whitaker, Fazenda; general Leite de
Depois de assumir a chefia do Governo Provisório, Getúlio Castro, Exército; e almirante Isaías Noronha, Marinha;
permaneceu no poder até 1945. Assim, a Era Vargas pode a criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comér-
ser dividida em três fases: cio, cuja chefia foi entregue ao gaúcho Lindolfo Collor,
Governo Provisório (1930-1934) e do Ministério da Educação e Saúde, sob a chefia de
Francisco Campos.
Governo Constitucional (1934-1937)
Outra medida importante do novo governo foi a criação do
Estado Novo (1937-1945) Conselho Nacional do Café (CNC), que passaria a controlar
O período todo foi caracterizado por grandes mudanças a produção e o comércio do principal produto de exporta-
na estrutura econômica, social e política do país. O Brasil ção brasileiro no período. Esse fato possibilitou certo acor-
se industrializou, a burguesia nacional passou a ter força do com os representantes da oligarquia cafeeira.
política crescente e as camadas urbanas ganharam maior
peso eleitoral. Foram criadas as primeiras leis trabalhistas e
as mulheres puderam participar da vida política nacional.
multimídia: livros
Vidas Secas, de Graciliano Ramos
Em Vidas Secas, o autor se mostra mais hu-
mano, sentimental e compreensivo, acompa-
multimídia: música nhando o pobre vaqueiro Fabiano e sua família
com simpatia e uma compaixão indisfarçáveis.
G-e-Gê (Seu Getúlio) – Almirante Além de ser o mais humano e comovente dos
livros de ficção de Graciliano Ramos, Vida Se-
cas é o que contém maior sentimento da terra
nordestina, daquela parte que é áspera, dura e
2. GOVERNO PROVISÓRIO cruel, sem deixar de ser amada pelos que a ela
estão ligados teluricamente. O que impulsiona
(1930-1934) os seres dessa novela, o que lhes marca a fisio-
nomia e os caracteres, é o fenômeno da seca.
Em 3 de novembro de 1930, um mês depois da Revo- Vida Secas representa ainda uma evolução na
lução, a junta militar que assumira o poder transferiu a obra de Graciliano Ramos quanto ao estilo e à
chefia do Governo Provisório a Getúlio Vargas, que ime- qualidade estritamente literária.
diatamente decretou:
104
Por causa da crise de 1929, os preços internacionais e as Paralelamente à transformação das reivindicações traba-
exportações de café sofreram quedas constantes e acen- lhistas em leis, o governo cerceava a liberdade sindical,
tuadas, o que levou o Governo Provisório a intervir na concentrando em suas mãos o papel de controlador dessa
economia, reduzindo a oferta do produto para manter os atividade e determinando aos funcionários do Ministério
preços. Entre 1931 e 1944, foram queimadas e jogadas no que participassem das assembleias dos sindicatos. A lega-
mar aproximadamente 30 milhões de sacas de café. Com a lidade de um sindicato dependia do reconhecimento do
diminuição da oferta do produto, mantiveram-se os preços. Ministério do Trabalho, que poderia cassá-lo caso se verifi-
O governo criou tributos sobre a exportação do café para casse o descumprimento de uma série de normas. Durante
ajudar a financiar as políticas de sua valorização. o governo Vargas, o Estado absorveu as organizações tra-
balhistas, principalmente os sindicatos recém-criados. Os
combativos sindicatos urbanos das duas primeiras décadas
do século XX tiveram seus espaços de luta ocupados pas-
so a passo por uma estrutura sindical corporativista, que
passou a controlar e a desmobilizar o movimento operário.
105
estadual, uma vez que o estado passou a ser governado por A coalizão entre o Partido Republicano Paulista e o Partido
um interventor nomeado pelo governo “revolucionário”, o Democrático sustentou a formação da Frente Única Pau-
tenente João Alberto. lista (FUP), que se tornou porta-voz das reivindicações de
reconstitucionalização e de autonomia administrava para o
estado de São Paulo. Além disso, a FUP passou a articular
com os meios militares e as entidades de classe paulistas
a preparação de um movimento armado contra o Governo
Provisório.
Na tentativa de contornar a situação, Vargas nomeou um
civil paulista, o diplomata Pedro de Toledo, como inter-
ventor do estado, atendendo a uma das reivindicações
da FUP.
Em fevereiro de 1932, foi apresentado o novo Código Elei-
toral e foram marcadas as eleições para maio de 1933.
multimídia: música O recuo de Vargas não foi suficiente para aplacar a exal-
tação da FUP e dos paulistas, que promoviam grandes
Paulistinha querida – Januário de Oliveira e Ar-
manifestações contra o Governo Provisório, reivindicando
naldo Pescuma
a imediata volta do país à normalidade constitucional. Em
uma dessas manifestações, no dia 23 de maio de 1932,
soldados fiéis a Vargas atiraram contra a multidão reuni-
Logo que assumiu a chefia do Governo Provisório, Getú- da na Praça da República e mataram quatro estudantes
lio Vargas nomeou João Alberto interventor de São Paulo, secundaristas: Mário Martins de Almeida, Euclides Bueno
em substituição ao general Hastinfilo de Moura, ligado ao Miragaia, Dráusio Marcondes de Souza e Antônio Américo
Partido Democrático (PD), que havia apoiado a Revolução Camargo de Andrade.
de 30. Essa medida afastou o PD de Vargas e definiu sua
aliança com o PRP em oposição ao Governo Provisório.
Juntos, os dois partidos passaram a exigir a convocação
de eleições e a imediata reconstitucionalização do Brasil.
multimídia: livros
São Paulo 1932, de Marco Cabral dos Santos
e André Mota
A cidade de São Paulo ostenta múltiplos signos
de celebração da “guerra civil” de 1932. Duas
de suas maiores avenidas foram batizadas com
datas que fazem alusão ao conflito: 9 de julho
e 23 de maio. Naquilo que diz respeito direta-
mente à revolução e a seus desdobramentos
simbólicos, a construção do evento acabou se
tornando o grande mito da história estadual,
cuja memória começou a ser construída ime-
diatamente após a deflagração da guerra. Esse
livro procura estudar e refletir sobre esse perí-
odo através da análise minuciosa dos historia-
dores Marco Cabral dos Santos e André Mota.
CARTAS DO MOVIMENTO CONTRA A DITADURA GETULISTA
106
MULTIDÃO PROTESTA CONTRA O ASSASSINATO DOS
ESTUDANTES MMDC. SÃO PAULO, 1932.
CARTAZ DA CAMPANHA “OURO PARA O BEM DE SÃO PAULO”
As iniciais dos nomes dos estudantes assassinados pelas
forças governamentais formaram a sigla do movimento: As forças legalistas de Getúlio partiram de Minas Gerais e
MMDC. Em julho, o comando das forças paulistas foi as- bloquearam o porto de Santos, facilitando a repressão. Em
sumido pelo general Isidoro Dias Lopes, que desencadeou 1o de outubro, os paulistas se renderam. Apesar da derrota
a Revolução Constitucionalista de 1932, apoiada pelo ge- militar, seus objetivos políticos foram atendidos: em 1933,
neral mato-grossense Bertoldo Kliger e pelos presidentes ocoreram eleições para a formação de uma Assembleia
de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, Olegário Maciel e Nacional Constituinte, responsável pela promulgação, em
Flores da Cunha. 1934, de uma nova Constituição para o Brasil.
multimídia: música
Para a frente paulistas – Arnaldo Pescuma
107
Eleita em 1933, a Assembleia Nacional Constituinte foi do contexto europeu. A polarização provocou intensos
presidida pelo deputado mineiro Antônio Carlos de Andra- conflitos e disputas ideológicas no país entre a Ação Inte-
da e promulgou a nova Constituição em julho de 1934. gralista Brasileira (AIB) e a Aliança Nacional Libertadora
(ANL).
A terceira Constituição brasileira, a segunda da República,
era baseada na Constituição alemã da República de Wei-
mar e tinha como características: NOVO REGIME... NOVA ROUPA
- A nova roupa, Excelência.
regime presidencialista, com mandato presidencial de -Um pouquinho apertada...
quatro anos sem direito a reeleição; Os movimentos...
compreende?
extinção do cargo de vice-presidente; Nássara. Suplemento de
Bom Humor (1934)
representação estadual no Congresso por dois senado-
res, com mandato de oito anos, e por um número de
deputados proporcional à população do estado, com
mandato de quatro anos;
voto secreto e universal para ambos os sexos, alfabeti-
zados e maiores de 18 anos; 3.1. Ação Integralista
voto profissional (deputados classistas) escolhidos pe- Brasileira (AIB)
los sindicatos; Fundada em 1932 por Plínio Salgado, a Ação Integralis-
criação da Justiça Eleitoral; ta Brasileira pregava o combate brutal ao comunismo, o
nacionalismo extremado e a formação de um Estado to-
ensino primário obrigatório e gratuito;
talitário. Extremamente conservadores e intolerantes, os
obrigatoriedade de as empresas estrangeiras emprega- integralistas defendiam a disciplina, a hierarquia social e
rem no mínimo 2/3 de brasileiros; a censura. Tinham como lema: “Deus, pátria e família”.
monopólio do Estado dos recursos hidrominerais; Os integrantes do movimento vestiam camisas verdes que
exibiam a letra grega ∑ (sigma, correspondente ao nosso
nacionalização das companhias de seguro estrangeiras; S) e cumprimentavam-se com a saudação “anauê” (salve).
criação da Lei de Segurança Nacional e instituição do Inspirados pelo fascismo europeu, defendiam o monoparti-
mandado de segurança; darismo e o regime totalitário de governo.
Incorporação das leis trabalhistas – limitação da jor-
nada de trabalho para oito horas diárias, salário míni-
mo, descanso semanal obrigatório, férias remuneradas,
indenização para demissão sem justa causa e licença-
-maternidade de sessenta dias para as mulheres.
Nas disposições transitórias da Constituição de 1934, ficou
determinado que o primeiro presidente depois da promul-
gação da Carta deveria ser eleito de maneira indireta pela
própria Assembleia Nacional Constituinte. Getúlio Vargas
foi o escolhido e assumiu o cargo de Presidente Constituin-
te do Brasil, com direito a governar até 1938. Assim, Getú-
lio Vargas passou da ilegitimidade à legitimidade eleitoral
como presidente da República.
3. GOVERNO CONSTITUCIONAL
(1934-1937)
O início da década de 1930 no Brasil foi marcado pela
polarização ideológica entre esquerda e direita, que
defendiam respectivamente o comunismo e o fascismo,
reflexo interno da situação internacional, principalmente CAPA DA REVISTA ANAUÊ!, ÓRGÃO OFICIAL DA AIB.
108
PLÍNIO SALGADO (CENTRO). multimídia: música
3.2. Aliança Nacional Galinha Verde – Marilú
Libertadora (ANL)
A ANL era uma frente ampla antifascista que reunia diver-
sas tendências: sociais-democratas, socialistas, anarquistas,
3.3. Intentona Comunista de 1935
comunistas, sindicalistas e antigos membros do tenentis- Em reação ao fechamento da ANL, seus membros passa-
mo. Liderada por Luís Carlos Prestes, a ANL tinha como ram a atuar na clandestinidade e a organizar, com o apoio
lemas: “Pão, terra e liberdade” e “Todo poder à ANL”. Seu do Partido Comunista, um golpe para derrubar Getúlio
programa político defendia a: Vargas da presidência e preparar a implantação do comu-
nismo no Brasil.
nacionalização de empresas estrangeiras;
suspensão do pagamento da dívida externa;
realização de reforma agrária;
extensão dos direitos trabalhistas ao campo;
criação de um governo popular.
Além de antifascista, a ANL opunha-se ao governo autori-
tário de Vargas, que, baseado na Lei de Segurança Nacio-
nal, determinou, em julho de 1935, depois do discurso de
Prestes com críticas ao governo, o fechamento da ANL e a multimídia: livros
prisão de vários de seus líderes.
A Insurreição da ANL Em 1935 – Relatório
Bellens Porto, de Marly Vianna
A insurreição armada de militares integrantes
da Aliança Nacional Libertadora (coalizão apar-
tidária, formada pelas mais diversas lideranças,
a favor da democracia e pela emancipação do
povo brasileiro de forças fascistas e do jugo
estrangeiro), em novembro de 1935, passou à
história do Brasil como um dos principais fatos
políticos do século XX.
109
ANL. Desorganizados, sem armas e sem o apoio esperado, A criança nasceu na Alemanha, recebeu o nome de Anita
os revoltosos foram sufocados sem resistência, e diversos Leocádia Benário Prestes e foi entregue à avó paterna por
líderes comunistas foram presos, como Agildo Barata e Ál- autoridades nazistas. Olga Benário continuou presa e mor-
varo de Souza, além de lideranças operárias, sindicalistas reu assassinada na câmara de gás, em 1942, no campo de
e políticos. extermínio de Bernburg.
110
golpe, instalou-se a censura e avançaram as perseguições políticas e a tortura. Iniciava o flerte de Vargas com a Alemanha
nazista, observado de perto pelos Estados Unidos.
(NOVAES, CARLOS EDUARDO; LOBO, CÉSAR. HISTÓRIA DO BRASIL PARA PRINCIPIANTES. SÃO PAULO: ÁTICA, 2003, P. 228.)
multimídia: livros
multimídia: sites A tentação fascista no Brasil, de Hélgio Trin-
dade
acervo.oglobo.globo.com/fatos-historicos/ Esse livro de Hélgio Trindade, professor emérito
voto-feminino-conquistado-nos-anos- da UFRGS, cumpre a promessa de trazer a pú-
30-mas-direito-do-analfabeto-sai-so- blico a análise de um conjunto de entrevistas
em-1985-14128281 inéditas feitas pelo autor, entre maio de 1969
oglobo.globo.com/cultura/livros/a-in- e setembro de 1970, com dirigentes nacionais,
surreicao-de-1935-nem-intentona-mui- regionais, locais e militantes, pouco mais de
to-menos-comunista-18436022 quatro décadas após a publicação, em 1974,
historiadomundo.uol.com.br/idade-contem- do primeiro livro: Integralismo: o fascismo brasi-
poranea/a-simbologia-do-integralismo.htm leiro da década de 30.
acervo.estadao.com.br/noticias/topicos,rev-
olucao-de-1932,892,0.htm
www.sohistoria.com.br/ef2/canudos/
www.infoescola.com/historia/guer-
ra-do-contestado/
brasilescola.uol.com.br/historiab/revol-
ta-chibata.htm
portal.fiocruz.br/pt-br/node/473
111
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS
MULHER EXERCENDO O SEU DIREITO DE VOTO PELA PRIMEIRA VEZ EM PLEITO REALIZADO EM 1933.
112
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM
Habilidade
25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Em relação aos direitos conquistados, há aqueles que se identificam como civis, políticos ou sociais, sendo os direitos
trabalhistas enquadrados como os últimos. A questão da inclusão de diretos sociais ganhou relevância no Brasil a partir
do século XX, principalmente depois da Revolução de 1930, período muito cobrado pelo Enem. O candidato deve ser
capaz de reconhecer avanços e retrocessos, bem como o teor dessas mudanças jurídicas.
A questão em destaque trata especificamente do período citado, reiterando que nele ocorreu uma série de avanços em
relação aos direitos do trabalhador.
O candidato, na maioria das vezes, vai se deparar com excertos acadêmicos, charges, leis e artigos de jornal como supor-
te às questões, sendo imprescindível a leitura atenta do que for apresentado.
Modelo
(Enem) De março de 1931 a fevereiro de 1940, foram decretadas mais de 150 leis novas de proteção social e de
regulamentação do trabalho em todos os seus setores.
Todas elas têm sido simplesmente uma dádiva do governo. Desde aí, o trabalhador brasileiro encontra nos quadros
gerais do regime o seu verdadeiro lugar.
DANTAS, M. A FORÇA NACIONALIZADORA DO ESTADO NOVO. RIO DE JANEIRO: DIP, 1942. APUD BERCITO, S.R. NOS
TEMPOS DE GETÚLIO: DA REVOLUÇÃO DE 30 AO FIM DO ESTADO NOVO. SÃO PAULO: ATUAL, 1990.
A adoção de novas políticas públicas e as mudanças jurídico-institucionais ocorridas no Brasil, com a ascensão de Ge-
túlio Vargas ao poder, evidenciam o papel histórico de certas lideranças e a importância das lutas sociais na conquista
da cidadania. Desse processo resultou a:
a) criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, que garantiu ao operariado autonomia para o exercício de
atividades sindicais;
b) legislação previdenciária, que proibiu migrantes de ocuparem cargos de direção nos sindicatos;
c) criação da Justiça do Trabalho, para coibir ideologias consideradas perturbadoras da “harmonia social”;
d) legislação trabalhista que atendeu reivindicações dos operários, garantindo-lhes vários direitos e formas de proteção;
e) decretação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que impediu o controle estatal sobre as atividades políticas da
classe operária.
Análise expositiva - Habilidade 25: A questão apresenta uma delimitação cronológica, até 1940, que exclui
D a CLT, elaborada em 1943 e ampliou a ingerência do Estado nas questões trabalhistas, prática adotada pelo
Governo Vargas desde seu início.
A política trabalhista de Vargas é um dos aspectos mais lembrados desse período. De um lado, garantiu direitos
aos trabalhadores, de outro, porém, teve como objetivo manter o controle sobre a organização operária. A re-
pressão às “ideologias perturbadoras” ficou a cargo da repressão policial e não do Ministério do Trabalho.
Alternativa D
113
DIAGRAMA DE IDEIAS
ERA VARGAS
GOVERNO PROVISÓRIO E CONSTITUCIONAL
GOVERNO CENTRALIZADOR | NACIONALISTA | CORPORATIVISTA
REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA
CONSTITUIÇÃO DE 1934
DE SÃO PAULO (1932)
• LIDERANÇA: FRENTE ÚNICA PAULISTA • PRESIDENCIALISTA
(FUP) [OLIGARQUIA PAULISTA] • TRÊS PODERES
• REIVINDICAÇÕES: NOVA • VOTO UNIVERSAL (MASCULINO E FEMININO
CONSTITUIÇÃO FEDERAL PARA ALFABETIZADOS)
• CONSEQUÊNCIAS: DERROTA MILITAR • VOTO PROFISSIONAL
• PROMULGAÇÃO DE NOVA CONSTITUIÇÃO • CRIAÇÃO DA LEI DE SEGURANÇA NACIONAL
• NACIONALIZAÇÃO DE SETORES
• ELEIÇÕES INDIRETAS NAQUELE ANO
114
DIAGRAMA DE IDEIAS
POLARIZAÇÃO
IDEOLÓGICA
ALIANÇA NACIONAL LIBERTADORA (ANL) AÇÃO INTEGRALISTA BRASILEIRA (AIB)
• ESQUERDA • DIREITA
• ANTIFASCISTA • FASCISTA
• FRENTE POPULAR (COMUNISTAS • ESTADO TOTALITÁRIO
VS
E PROGRESSISTAS) • HIERARQUIA SOCIAL
• REFORMA AGRÁRIA • CENSURA
• NACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS • LÍDER: PLÍNIO SALGADO
• LÍDER: LUÍS CARLOS PRESTES
INTENTONA
PLANO COHEN
COMUNISTA (1935)
• LEVANTE E TENTATIVA DE GOLPE • 1937: PROXIMIDADE DAS ELEIÇÕES
• NATAL, RECIFE E RIO DE JANEIRO • CONSPIRAÇÃO COMUNISTA
• PRISÃO DOS ENVOLVIDOS INVENTADA PELO GOVERNO
• ESTADO DE SÍTIO • ESTADO DE SÍTIO
• JUSTIFICATIVA PARA O GOLPE
DO ESTADO NOVO
115