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Abstract: This research aims to examine some literary aspects in the book of
Jonah, as well to verify intertextual relations between the text of Jn 3: 7-4:2 and Ex
32-34, analyzing the ironic aspects present in the connections among these two
narratives, mainly, in the connection between the prophets Jonah and Moses,
where it stands out the ironic form that the author presents Jonah’s actions.
1
Possui graduação em Teologia pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (2011), Pós-
Graduação em Teologia Bíblica pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (2012), Mestre
e Doutorando em Estudos Judaicos e Árabes pela Universidade de São Paulo. Atualmente é
professor do Centro Universitário Adventista de São Paulo. Tem experiência na área de Teologia.
Atua, principalmente, na seguinte linha temática: Bíblia Hebraica, Hebraico Bíblico, Teologia da
Aliança, Profetismo, Intertextualidade Bíblica e Diálogo Inter-Religioso.
2
Graduando nos cursos de Teologia e Letras pela Universidade Adventista de São Paulo (UNASP-
EC).
1 INTRODUÇÃO
Jonas é também uma obra que se destaca na literatura profética por conta de
sua riqueza literária, “repleta de tramas, ironias e temas fascinantes” (KIM, 2007,
p. 497). Além disso, Paul Kim acrescenta que, recentemente, os estudiosos dos
“Doze Profetas” (referindo-se aos “profetas menores”) tem dedicado maior
atenção aos aspectos que transcendem cada livro em si, analisando palavras-
chave, alusões e temas que fazem conexão com outros livros da Bíblia Hebraica
(KIM, 2007, p. 497-498).
por fim, será realizado um exame das relações intertextuais presentes na mesma.
2 CARACTERÍSTICAS DA NARRATIVA
Limburg (1993, p. 22-23) observa que, além de Jonas, somente oito livros na
Bíblia Hebraica começam com a conjunção hebraica vav ( )וe o verbo - ָהי ָה-
“ser”/“acontecer”. Em todos os casos, aparecem, introduzindo um livro narrativo
ou uma seção narrativa dentro de algum livro. Deste modo, o autor argumenta
que “o vayehí no início do livro de Jonas sugere ao leitor ou ouvinte que uma
narrativa – ou história – vem a seguir”3. O livro também incorpora elementos da
poesia, estilo utilizado para descrever a oração feita pelo profeta dentro do grande
peixe (Jn 2). Contudo, o recurso utilizado na maior parte do livro é a narrativa.
Para Frank Page (1995, p. 204), existe uma aproximação entre a narrativa
de Jonas e as narrativas dos profetas contidas nos livros históricos (cf. 1Rs 17-
19). Uriel Simon argumenta que a semelhança entre os registros das aventuras de
Jonas e dos profetas Elias e Eliseu, por exemplo, talvez pudesse ter incorporado
Jonas no livro de Reis (SIMON, 1999, p. xiv). Porém, segundo o autor, a diferença
entre Jonas e esses profetas, está no fato de a missão de Jonas destinar-se para
uma cidade gentílica muito distante, e não a Israel, como é o caso de Elias e
Eliseu4.
3
Js 1:1; Jz 1:1; 13:2; 17:1; 19:1; 1 Sm 1:1; 2 Sm 1:1; Rt 1:1; Est 1.1.
4
A preocupação dos livros históricos está ligada com os acontecimentos diretamente relacionados
a história de Israel. Isto não significa que “gentios” ocupam um papel inferior dentro história
Israelita. Temos vários exemplos (Urias, Rute, Raabe, etc) que mostram o contrário, não-Israelitas
que se tornam importantes no desenvolvimento das narrativas. No caso de Jonas, toda a narrativa
é desenrolada sem referências claras a nação Israelita.
5
O autor utiliza a palavra “gap” para explicar a falta de informação (omissão de informações)
dentro das narrativas bíblicas. Para Sternberg “A gap is lack of information about the world - an
event, motive, causal link, character trait, plot structure, law of probability - contrived by a temporal
displacement” (1985, p. 235).
6
Segue o texto da autora na íntegra:“The biblical story, which claims to be a historical narrative, is
naturally bound to the chronological sequence, yet nevertheless, it contains some deviations from
it, and they are always significant and functional”.
7
Todas as citações que estão em língua estrangeira, são traduções do autor deste trabalho.
8
“[...]a striking narrative device the writer has used in constructing his story, namely, his deliberate
omission of certain events from their proper chronological sequence only to introduce them later
where their presence is seen to have much greater force and impact”.
9
Ao criar no leitor este envolvimento com o texto, Landes argumenta que quando a omissão é
preenchida o leitor é surpreendido e percebe que sua suposição inicial estava errada. O autor
declara: “[...] given the unique and awesome nature of Yahweh’s command, the most obvious
reasons one might think of for wanting to turn in the opposite direction would hardly include the real
motivation we are presented in 4:2” (1967, p. 14).
10
“The narrator’s silence, then, does not deprive his characters of complexity and depth; indeed, it
involves the reader’s independent consideration, which sometimes produces unexpected results”.
11
“First, though not much longer than some of the other sequences through which we have been
twisting, it is the only biblical instance where a surprise gap controls the reader’s progress over a
whole book”
2.2 IRONIA
E. M. Good em seu livro “Irony in the Old Testament”, afirmou que “ironia,
assim como o amor, é mais facilmente percebida do que definida” (GOOD, 1981,
p. 13). No entanto, isto não anula a busca por alguns aspectos que possam ajudar
a perceber a ironia em um texto. Lilian Klein (1989, p. 195-196) observa alguns
elementos básicos da ironia baseando-se na obra de D. C. Muecke, “The
Compass of Irony”. Na análise da autora são identificados três requisitos da ironia:
(1) ela acontece em dois níveis, (2) existe oposição entre estes dois níveis, e (3)
há geralmente a presença do elemento de ignorância ou inocência. Os dois níveis
12
Simon argumenta: “The Book of Jonah, the, is not an ironic satire. Furthermore, what irony it does
contain is not particularly biting. It looks down on the hero and painfully exposes his failures, but it
is forgiving: It sets the hero in his proper place without humiliating him and restores him to his
dignity without abasing him” (SIMON, 1999, p. xxii).
Conhecimento = Ironista
Ignorância = Vítima
13
Fizemos uma adaptação do esquema encontrado em (KLEIN, 1989, p. 196).
14
“Reader response plays inevitable role in constructing and perceiving ironies, but it is both
intellectually unsound and unethical to argue that the testimony of authors and texts is fully and
only constructed by the reader”,
15
“Irony invites the reader’s complicity in the rejection of the surface meaning of the matter being
communicated and invites participation in the creation of a new meaning that simultaneously relies
on and moves beyond that which has been stated. And whether ominously or teasingly , irony
threatens the interpretive disenfranchisement of any unperspicacious reader who fails properly to
decipher the text’s invitation”.
16
A expressão utilizada pela autora é “speaker irony”, um termo de difícil tradução. Escolhemos
traduzir como “ironia do orador”.
17
Texto na íntegra: “Dramatic irony may have a speaker or an ‘actant’ who knows less than the
audience and is not aware of involvement in the irony”.
18
“Dramatic irony is distinguished from speaker and situation irony in that the reader alone
observes the play between two poles”.
19
“The victim of dramatic irony does not fully comprehend the implications of his own words (or
situation)”.
John Holbert (1981, p. 69) destaca que enquanto o profeta desce para fugir
24
Destaca-se também que a primeira ocorrência no v.5 é um “temor” que leva os marinheiros a
clamar “cada um a seu deus”, além disso, depois da confissão de Jonas em 1:9 todas as
ocorrências aparecem ligadas a Yahweh. Diferentemente dos marinheiros, o temor de Jonas à
Deus não o faz clamar. Somente no capítulo 2 é que ele irá fazer isso. No entanto, seu clamor não
está ligado aos marinheiros nem à nínive, é voltada apenas para si mesmo: “Na minha angústia
clamei ao SENHOR” (Jn 2:2).
25
Confira: LANDES, G. M. The “Three Days and Three Nights” motif in Jonah 2:1 JBL 86
(1967), p. 446-450. Neste artigo, o autor entra na discussão sobre o que a expressão “três dias e
três noites” de fato significa dentro da narrativa. Landes observa as outras ocorrências desta
expressão na Bíblia Hebraica, bem como na comparação com o mito sumeriano “The Descent of
Inanna to the Neither World”, e conclui que esta expressão parece indicar um período de tempo
concreto. Outro fator que poderia apoiar esta interpretação está na relação estrutural do livro, que
aponta uma relação entre os capítulos 3 e 1. Em ambos os casos, Jonas é “menos religioso” do
que gentios. Desta forma, a descrição do tamanho da cidade, não é utilizada apenas para
enfatizar o seu tamanho em si, mas também para criar um contraste com o profeta de Yahweh.
James Ackerman também enxerga uma relação entre “grande peixe” e a “grande cidade de
Nínive”, mas com implicações diferentes (cf. ALTER, 1997, p. 257).
Phyllis Trible, autora que propõe uma orientação dos eventos do livro de
Jonas, segue o mesmo padrão de outros estudiosos quanto à divisão do livro em
duas partes (Jn 1-2 e 3-4). A autora chama essas partes de “cenas”, e acrescenta
uma série de subdivisões que compõem a estrutura geral de cada cena. Estas
subdivisões são nomeadas de “episódios” e é desta forma que Trible organiza os
acontecimentos do livro de Jonas.
Tendo esta divisão como base, a perícope sob análise (Jn 3:7-4:2) desta
pesquisa está inserida na subdivisão da “resposta individual” do rei de Nínive e
segue até a “oração de Jonas”.
Além disso, há uma série de paralelos no que diz respeito ao conteúdo das
duas orações. George M. Landes pontua pelo menos três relações principais: (1)
ambas fazem referência a uma angústia anterior experimentada por Jonas, (2)
ambas estão preocupadas com a ação de livramento ocasionada por YHWH, (3)
ambas concluem com uma resposta do orador à ação misericordiosa de Deus
(LANDES, 1967, p. 17).
ações de Deus: “temeram ao extremo” (Jn. 1:16 - )י ְִראָ ֥ה גְד ָֹול֖ה.
4 PALAVRAS-CHAVE
30
Texto na íntegra: “This phrase, too, tolls like a bell through the book of Jonah (1:2; 3:2, 3; 4:11),
to be given a twist in its last occurrence.”
preocupação do narrador. Para Wolff (1986, p. 148), “o leitor não deveria fazer
aritmética. Ele deveria se perder em admiração, para que então ele possa
absorver os eventos que se seguem de uma forma apropriada”31.
Outra palavra que parece “jogar” com seu significado dentro do enredo se
encontra entre as cinco palavras do sermão de Jonas à cidade de Nínive (Jn 3:4).
A palavra “subvertida” nehpaket - נֶהְפָּ ֽכֶתda raíz hpk ָהפַך- aparece uma única vez
em todo o livro, no tronco nifal (voz passiva) feminino singular (DAVIDSON, 2014,
p. 538), podendo significar, portanto, “ser subvertida/arruinada” (Gn 19:25, 29; Dt
29:23; Isa 13:19 Jr 20:16; 49:18; 50:40; Am 4:11; Lm 4:6) ou “voltar-se/mudar-se”
trazendo a ideia de mudança de disposição (1 Sm 10:6, 9; Jr 31: 13; Ne 13:2; Êx
14:5; Os 11:8; Est 9:22) (DAVIDSON, 2014, p. 210; WOLFF, 1986, p. 149;
BANKS, 1966, p. 80). De acordo com Wolff (1986, p. 149) “na brevidade precisa
da mensagem de Jonas cada palavra tem peso”33. O autor ainda argumenta que a
última palavra do discurso do profeta tem um peso ainda maior, contudo,
exercendo uma declaração objetiva de destruição. Embora Wolff concorde com a
possibilidade do verbo hpk estar ligado ao arrependimento, segundo ele, o uso de
hpk nestes termos não faria muito sentido com o que acontece no restante da
31
“The reader is not supposed to do arithmetic. He is supposed to be lost in astonishment, so that
can take in the events that follow in appropriate way”.
32
“God is as concerned about Nineveh’s miseries as he is angry at its evils, and the book’s
audience did not have to wait until the end of Jonah 3 to gain a sense of that fact”.
33
“In the concise brevity of Jonah’s message every word has weight”
Phyllis Trible em seu livro “Rethorical Criticism: Context, Method and the
Book of Jonah” (1994), assim como Wolff (1986, p.149), observa que o anúncio do
profeta, “ainda quarenta dias e Nínive será subvertida” (Jn. 3:4) parece sugerir um
juízo claro. No entanto, a autora em comento acrescenta que deve-se considerar
que embora as palavras de Jonas não incluam um clamor por arrependimento ou
condições para mudança da sentença divina, aos ouvidos dos ninivitas as
palavras do profeta são entendidas como uma possibilidade de livramento
(TRIBLE, 1994, p. 190)34. Segundo Trible (1994, p. 190) “neste caso, a audiência
dentro da história, e não o autor do lado de fora, controla o significado do texto”35.
Ela afirma:
34
Trible enfatiza que em nenhum momento da história Deus diz para o profeta qual deve ser as
palavras de sua pregação. Sendo assim, como deve-se receber as palavras de Jonas? Por conta
dessa omissão, é alimentado no leitor uma dúvida sobre a veracidade das palavras do profeta
(TRIBLE, 1994, p. 180). Assim, o leitor é convidado para explorar os significados possíveis.
35
“In this case, the audience within the story, and not the author outside, controls the meaning of
the text”.
36
“Through acts of penance and repentance Nineveh overturns, as Jonah predicted but not as he
intended. Paradoxically his prophecy is both true and false. Perspective and interpretation make
the difference. From the Ninevites’ perspective the prophecy offers the hope, though not the
guarantee, of repentance human and divine. From God’s perspective their repentance overturns
divine evil to bring deliverance. From Jonah’s perspective, the divine deliverance overturns his
prophecy to discredit it. The reversal makes him angry and so leads to a confrontation with God in
the next episode”.
Em seu artigo intitulado “Jonah Read Intertextually”, Paul Kim faz uma
análise das implicações intertextuais do livro de Jonas em paralelo à outras
histórias. Ele explora quatro conexões demonstrando como a mudança de motivo,
ações, temas, entre as histórias, conduzem o leitor a perceber a ironia no caráter
distinto (oposto) dos eventos presentes em Jonas38. Como consequência dessa
percepção, Kim observa que alguns estudiosos têm rotulado Jonas numa espécie
de “paródia profética” anti-Abraão (Jn 4:5; Gn 19: 27-28), anti-Elias (Jn 1:3; 4:1-9;
1 Rs 19: 3-10) e anti-Noé (KIM, 2007, p. 503). Embora não seja uma preocupação
deste trabalho categorizar a relação entre Jonas e Moisés, iremos analisar a ironia
nos contrastes entre estas narrativas, conforme sugeridos pela intertextualidade.
Relação 1
Jn 3: 10
ִי־שׁבוּ ִמדַּ ְר ָכּ֣ם ה ָָר ָ ֑עה ַויּ ָ ִ֣נּחֶם ָה ֱאֹל ִ֗הים עַל־ה ָָר ָע֛ה
֖ ָ שׂי ֶ֔הם כּ
ֵ ֽת־מ ֲע
֣ ַ ֶַו ַיּ ְ֤רא הָ ֽ ֱאֹלהִים֙ א
שׁר־דִּ בֶּ ֥ר ַלעֲשׂ ֹות־ל ֶ ָ֖הם וְֹל֥ א ע ָָשֽׂה׃
ֶ
ֲא
“Viu Deus o que fizeram, como se converteram do seu mau caminho; e Deus se
arrependeu do mal que tinha dito que faria e não o fez” (ARA).
Êx. 32:14
38
Por exemplo, comparando Jonas e Noé e a repetição do tema da destruição no prazo de
“quarenta dias”, Kim afirma: “Here the thematic irony is that, whereas these forty days were period
of the destruction in Genesis, this period turns out to be the time of repentance and deliverance in
Jonah” (KIM, 2007, p.501). Outro exemplo da interpretação de Kim está na relação entre
embarcação nas duas histórias. Ele afirma: “The irony is that whereas Noah was safe in the ark,
Jonah became the cause of danger in the ship. Noah was rescued in the end, yet Jonah was
thrown out of the ship” (KIM, 2007, p. 502).
ַל־ה ָר ָ֔עה ֲא ֶ ֥שׁר דִּ ֶ ֖בּר ַלע ֲ֥שׂ ֹות ְלע ַֽמּ ֹו׃
֣ ָ ְהו֑ה ע
ָ
ַויּ ָ ִ֖נּחֶם י
lembre ( )זָכַרde que eles são herdeiros das promessas feitas aos patriarcas (Êx.
32: 12-13). Imediatamente, o narrador descreve que a intercessão de Moisés foi
efetiva (DOZEMAN, 1989, p. 220), pois no v. 14 é dito: “Então se arrependeu o
SENHOR do mal que dissera que havia de fazer ao povo”.
39
As palavras repetidas que destacamos: “caminho” ( )דָּ ַרך, “voltar” ( )שׁוּב, “mau” ( ) ָרע, “arrepender”
( )נָחַם, “Deus” ()אֱֹלהִים. Estas palavras aparecem tanto no pedido do rei de Nínive (Jn. 3:9) quanto
na reação divina no v.10.
40
Sweeney acrescenta que a reação divina à conversão de Nínive se assemelha ao relato criativo
de Gn. 1. “[...]Jon 3:10 relates Yhwh’s observation of the Ninevites’ repentance and Yhwh’s
decision not to carry out the punishment. The wording of the verse deliberately plays upon the
formulaic statements concerning Yhwh at creation, viz., “When G—d saw what they did (literally,
Wolff ainda observa uma relação entre a progressão presente nas duas
histórias e o oráculo profético de Jeremias, indicando a condicionalidade do juízo
divino sobre qualquer nação (Jr 18:7-8). Para o autor, o texto de Jeremias é o
único que contém a mesma progressão de três períodos aplicados para uma
nação não israelita: palavra de julgamento, arrependimento e retração (WOLFF,
1986, p. 154)41.
Apesar de Moisés ter o seu pedido atendido (Êx 32:14), ele percebe no
restante do capítulo 32 a indignação de Deus quanto à atitude do povo. O diálogo
entre Deus e Moisés continua, e a narrativa avança para a seu clímax em Êx 34,
onde Moisés presencia a revelação de Deus e o firmamento de uma nova aliança
entre Deus e Israel. Comentando acerca desta seção do livro de Êxodo (32-34), T.
Dozeman destaca o aspecto determinante da narrativa como sendo o
misericordioso caráter divino. Ele pontua:
42
“In fact, it is the ability of Yahweh to repent of evil in Exodus 32 that allows the story to continue
and reach its culmination in Exodus 34. Thus, the very structure of the narrative suggests that the
ability to avert justified destruction and to prolong life is inextricably related to the gracious
character of Yahweh”.
Relação 2
Jn 4:2
ַויּ ִתְ ַפּ ֵ֨לּל ֶאל־י ְה ֜ ָוה וַיּ ֹא ַ֗מר ָא ָנּ֤ה י ְהוָה֙ הֲֹלוא־ ֶז֣ה דְ ב ִָ֗רי עַד־הֱי ֹותִ ֙י עַל־אַדְ ָמתִ֔ י עַל־כֵּ ֥ן
שׁה ִכּ֣י י ָדַ֗ עְתִּ י ִכּ֤י ַאתָּ ה֙ אֵ ֽל־חַנּ֣ וּן ו ְַר ֔חוּם ֶ ֤א ֶרְך ַא ַ֙פּי ִם֙ ו ְַרב־ ֶ֔חסֶד
ָ ִק ַ ֖דּ ְמתִּ י ִלב ְ֣ר ֹ ַח תַּ ְר ִ ֑שׁי
ְונ ָ ִ֖חם עַל־ה ָָר ָעֽה׃
“E orou ao SENHOR e disse: Ah! SENHOR! Não foi isso o que eu disse, estando
ainda na minha terra? Por isso, me adiantei, fugindo para Társis, pois sabia que
és Deus clemente e misericordioso, e tardio em irar-se, e grande em benignidade,
e que te arrependes do mal” (ARA).
Êx 34:6
“E, passando o SENHOR por diante dele, clamou: SENHOR, SENHOR Deus
43
Phyllis Trible, em sua análise deste verso (4:1), acrescenta outros dois contrastes. Ela
argumenta que a repetição da raíz ח ָָרהtanto em Jn 3:9 (“furor de sua ira” - ) ֵמח ֲ֥ר ֹון א ַ֖פּ ֹוquanto em
4:1 sugere um jogo de palavras que contrasta firmemente o caráter de Jonas e o de Deus, pois é
exatamente do que Deus se afasta que agora inflama Jonas. Ela também pontua que o último
contraste tem que ver com a relação entre Jonas e os ninivitas. Eles se convertem de seus maus
caminhos (3:10); Jonas, se inflama ( )ח ָָרהcom o mal (( )רעעTRIBLE, 1994, p. 197).
mesmo”.
O que nos surpreende ainda mais é que sua declaração é consciente: “pois
eu sabia” (Jn 4:2). Jonas está decidido de que sabe o que está fazendo (talvez
isto o torne ainda mais ignorante). A palavra “sabia” - י ָדַ֗ עְתִּ י- aparece circundada
por duas partículas - ִכּ֣י- que de acordo com Trible, produz uma ênfase através do
ritmo47 (TRIBLE, 1994, p. 200). Este verbo י ָדַ עaparece de forma significativa em
Êxodo 33 e o seu uso em comparação com o uso de Jonas fortalece o contraste
entre os dois profetas. Em seu diálogo com YHWH, várias vezes Moisés expressa
o desejo de saber o que fazer (33:5, 12, 16): “rogo-te que me faças saber ()י ָדַ ע
46
“These self-justifying words ironically testify to divine mercy.”
47
Outra sugestão dada por ela é que em outras ocorrências como em Gn 22:12; Êx 18:11 e 1 Rs
17:24, parece apontar para uma expressão clímax (TRIBLE, 1994, p. 200).
neste momento o teu caminho, para que eu te conheça ([ )י ָדַ ע...]” (Êx 33:13).
48
“He reproves Heaven by stating that he does not consider the divine attribute of mercy to be
praiseworthy”.
James Ackerman sugere que uma das críticas principais de todo o livro
está relacionada com as incongruências que acompanham as ações de Jonas.
Para o autor: “a história satirizou Jonas como um profeta cuja piedade está fora
de sincronia com seu comportamento” (ALTER, 1997, p. 258). Todavia, através da
intertextualidade, pode-se acrescentar ainda que a crítica do autor à Jonas não se
dá apenas no nível de seu comportamento, mas também naquilo que ele deveria
fazer e não faz.
Apesar de Jonas pela primeira vez declarar saber o que está fazendo, há
ainda um tom de ignorância em seu discurso. Ao protestar contra a misericórdia
de Deus ele acaba se colocando em uma situação complicada. Isto se dá por
duas razões. Primeiramente, no livro como um todo Jonas mesmo é objeto da
misericórdia divina. Mesmo em desobediência ele é favorecido por Deus diversas
vezes. Além do mais, à luz da narrativa de Êxodo, seu protesto se torna ainda
mais injustificável, pois naquela ocasião, seu povo só não fora destruído por
causa do mesmo atributo divino: a misericórdia.
6 CONCLUSÃO
Nessa pesquisa foi realizada uma breve análise sobre duas características
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