Aula 13
Michael Procopio
AULA 13
CRIMES CONTRA A VIDA
1191486
Sumário
Sumário ...................................................................................................................................... 2
1 – Considerações Iniciais .......................................................................................................... 3
2 – Os crimes contra a vida ........................................................................................................ 4
3 – Homicídio ............................................................................................................................. 5
3.1 – Homicídio Simples .............................................................................................................. 8
3.2– Homicídio Privilegiado .......................................................................................................... 8
3.3 – Homicídio Qualificado ........................................................................................................ 10
3.4 – Homicídio Qualificado: Feminicídio ...................................................................................... 16
3.5 – Homicídio Doloso Majorado ................................................................................................ 19
3.6 – Homicídio Culposo ............................................................................................................ 21
4 – Induzimento, Instigação ou Auxilio ao Suicídio .................................................................. 24
5 – Infanticídio ......................................................................................................................... 26
6 – Aborto ................................................................................................................................ 28
6.1 – Autoaborto e aborto consentido .......................................................................................... 28
6.2 – Aborto sem consentimento da gestante ............................................................................... 29
6.3 – Aborto com consentimento da gestante........................................................................... 29
6.4 – Aborto Majorado ............................................................................................................... 30
6.4 – Aborto Legal .................................................................................................................... 31
7 – Questões Objetivas ............................................................................................................. 34
6.1 – Lista de Questões sem Comentários .................................................................................... 34
6.2 – Gabarito .......................................................................................................................... 49
6.3 – Lista de Questões com Comentários .................................................................................... 49
7 – Questão Dissertativa .......................................................................................................... 87
8 - Destaques da Legislação e da Jurisprudência ...................................................................... 89
9 – Resumo..............................................................................................................................118
Induzimento,
Os crimes contra a
Homícidio Instigação ou
vida
Auxílio ao Suicídio
Infanticído Aborto
Os crimes contra a vida são aqueles que, quando dolosos, são da competência
do Tribunal do Júri. Portanto, temos mais uma razão didática para seu estudo
separado. Veremos os crimes de homicídio, de induzimento, instigação ou auxílio
ao suicídio, infanticídio e aborto.
Espero que a aula seja didática e abrangente. Nosso estudo, como sempre, deve
ser aprofundado, para que a prova nos pareça leve. Realmente desejo que a
modificação do tema, com o início da Parte Especial, renove a motivação e o
entusiasmo, mesmo porque os crimes em espécie são matérias mais ligadas ao
nosso dia a dia, inclusive em filmes, seriados e noticiários.
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3 – Homicídio
O crime de homicídio está previsto no artigo 121 do Código Penal, sendo
denominado, por Nelson Hungria, de “o crime por excelência”. É a morte de um
ser humano (vida extrauterina) por outro.
Referido dispositivo legal prevê as figuras do homicídio doloso simples, do
homicídio doloso privilegiado, do homicídio doloso qualificado, do feminicídio, do
homicídio culposo, do homicídio culposo majorado, do homicídio doloso majorado
e do feminicídio majorado. Vejamos seu teor:
Homicídio simples
Art. 121. Matar alguem:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
Caso de diminuição de pena
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral,
ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o
juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Homicídio qualificado
§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo futil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou
cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou
torne impossivel a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
Feminicídio
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal,
integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da
função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:
I - violência doméstica e familiar;
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
Homicídio culposo
§ 3º Se o homicídio é culposo:
Pena - detenção, de um a três anos.
Aumento de pena
Sobre a escolha da fração, o juiz deve se guiar pela influência que o motivo teve,
a própria relevância do motivo para o autor ou, ainda, a intensidade da injusta
provocação da vítima, e o grau de abalo emocional causado no réu:
“(...) CAUSA ESPECIAL DE DIMINUIÇÃO PREVISTA NO ART. 121, § 1º DO CP.
PRIVILÉGIO. FRAÇÃO DE REDUÇÃO. IDONEIDADE. CIRCUNSTÂNCIAS
CONCRETAS. 1. A escolha da fração de redução de pena deve ser aferida
com base nas circunstâncias fáticas que levaram ao reconhecimento
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou
cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou
torne impossivel a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
Feminicídio
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal,
integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da
função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
As qualificadoras são causas especiais que determinam uma pena maior, mais
gravosa. Referem-se aos motivos determinantes do crime e aos meios e modos
de sua execução. A qualificadora implica em um novo limite mínimo e um novo
teto para a pena abstratamente prevista, sendo que no caso a pena será de
reclusão é de doze a trinta anos.
O homicídio qualificado é crime hediondo, tanto em sua forma tentada quanto na
consumada, conforme determina o artigo 1º, inciso I, da Lei 8.072/90:
Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei
no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados:
I – homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda
que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2o, incisos I, II, III,
IV, V, VI e VII); (...)
deve ser estendida a todos os agentes. Entretanto, a matéria não está pacificada
e há divergência na própria Corte:
“(...) 3. No homicídio mercenário, a qualificadora da paga ou promessa de
recompensa é elementar do tipo qualificado, comunicando-se ao mandante do
delito. (...)” (STJ, AgInt no REsp 1681816/GO, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Sexta
Turma, DJe 15/05/2018).
“(...) V - No homicídio, a qualificadora de ter sido o delito praticado mediante
paga ou promessa de recompensa é circunstância de caráter pessoal e, portanto,
ex vi art. 30 do C.P., incomunicável. Recurso especial parcialmente provido
para restabelecer a qualificadora de motivo fútil na decisão de pronúncia. (...)”
(STJ, REsp 1415502/MG, Rel. Min. Felix Fischer, Quinta Turma, DJe 17/02/2017).
O motivo torpe é o motivo repugnante, vil, abjeto, desprezível.
A vingança vem sendo compreendida pelo STJ como um motivo torpe:
“(...) 2. No caso, a prisão preventiva está justificada, pois a decisão que a impôs
delineou o modus operandi empregado na conduta delitiva, revelador da
periculosidade do recorrente, consistente na prática, em tese, de tentativa de
homicídio mediante emprego de arma de fogo, delito qualificado por motivo
torpe, consubstanciado em vingança em razão de a vítima ter realizado
denúncias que levaram à prisão do chefe do tráfico da localidade. Tais
circunstâncias denotam sua periculosidade e a necessidade da segregação como
forma de acautelar a ordem pública. (...)” (STJ, RHC 90941/PE, Rel. Min. Antonio
Saldanha Palheiro, Sexta Turma, DJe 04/06/2018).
Entretanto, o STJ já decidiu que a vingança pode ou não configurar motivo torpe,
a depender do caso concreto:
“(...) 2. Para se afastar qualificadoras da pronúncia, é fundamental que sua
impropriedade seja manifesta. A vingança, per se, pode não ou representar
motivo torpe - tudo a depender do caso concreto. O debate acerca dos
lineamentos do recurso que impossibilitou a defesa também enseja profundo
mergulho no plano fático-probatória. Desta forma, o exame de tais questões
refoge aos limites de cognição do habeas corpus. (...)” (STJ, HC 126.730/SP, Rel.
Min. Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, Julgado em 10/11/2009).
II – Motivo fútil.
É o motivo que demonstra desproporção em relação ao crime praticado.
Caracteriza-se quando o delito consubstancie razão frívola, mesquinha,
insignificante.
✓ E se o crime for praticado com ausência de motivo? O homicídio é
qualificado ou simples?
Existe divergência doutrinária, mas o STJ entende não ser admissível a
configuração do crime praticado sem motivo como qualificado por motivo torpe:
federal discute com o vizinho por causa do muro que divide os respectivos
imóveis, eventual homicídio pratica pelo último não será qualificado pela
circunstância em estudo.
Temos um caso de referência aos artigos 142 e 144 da Constituição Federal, que
tratam, respectivamente, das Forças Armadas e da Segurança Pública. Vejamos
o que diz o caput do artigo 142 e o caput e § 8º do artigo 144:
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica,
são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e
na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa
da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei
e da ordem.
(...)
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é
exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
(...)
§ 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus
bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei.
(...)
§ 10. A segurança viária, exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade
das pessoas e do seu patrimônio nas vias públicas:
I - compreende a educação, engenharia e fiscalização de trânsito, além de outras atividades
previstas em lei, que assegurem ao cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente; e
II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, aos respectivos
órgãos ou entidades executivos e seus agentes de trânsito, estruturados em Carreira, na
forma da lei.
Percebam que a qualificadora exige que o crime tenha sido cometido por razões
da condição de sexo feminino. Por isso, a doutrina aponta que não se trata de
femicídio, ou seja, de crime específico em que a mulher é a vítima. É
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido
com a ofendida, independentemente de coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de
orientação sexual.
Aumento de pena
§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de
inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar
imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para
evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3
(um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior
de 60 (sessenta) anos.
(...)
§ 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado
por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por
grupo de extermínio.
➢ Perdão Judicial
O artigo 121, § 5º, do Código Penal prevê a possibilidade de concessão de perdão
judicial no crime culposo. Como visto, o perdão judicial é causa de extinção da
punibilidade, vinculada ao princípio da desnecessidade da pena:
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as
conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção
penal se torne desnecessária.
Não se pune a tentativa de se matar, mas a norma penal tutela a vida alheia,
não aceitando que o agente dê a ideia, reforce o projeto ou forneça algum auxílio
material para que um terceiro se mate.
O sujeito ativo do crime pode ser qualquer pessoa. Entretanto, o sujeito passivo
deve ser pessoa capaz de compreensão, sob pena de se configurar o homicídio.
Caso o agente induza, por exemplo, uma criança a beber veneno, deverá
responder pela prática de homicídio, já que a vítima não possuía capacidade de
compreender o que estava fazendo.
A conduta deve se dirigir a pessoa determinada ou a pessoas determinadas. Se
a conduta se voltar a pessoas indeterminadas, pode-se configurar o delito de
incitação ao crime, previsto no artigo 286 do Código Penal.
Os núcleos do tipo possuem os seguintes significados:
❑ Induzimento: o agente cria na vítima a ideia.
❑ Instigação: o agente reforça uma ideia preexistente.
❑ Auxilio: o agente presta assistência material à vítima.
O auxílio material deve ser acessório, se o agente praticar atos executórios, pode-
se configurar o crime de homicídio. Por exemplo, se o agente fornece a corda
para que o sujeito se enforque, temos auxílio ao suicídio. Se ele empurra o sujeito
para que a corda o enforque, o crime é o de homicídio.
O delito de instigação, induzimento ou auxílio ao suicídio é crime de ação múltipla,
isto é, possui mais de um núcleo do tipo, sendo que basta que a conduta do
agente se subsuma a um dos verbos nucleares para sua configuração.
Pode ser comissivo ou omissivo impróprio, quando o sujeito tiver o dever de
garantidor. Há divergência se, no caso de colaboração moral, é cabível a conduta
omissiva. O elemento subjetivo é o dolo.
Se a vítima nem tenta se matar ou apenas sofre lesão leve, não há crime, para
o entendimento majoritário. Só há relevância penal se a vítima sofrer lesão
corporal de natureza grave ou se ela efetivamente consegue se matar. Seguindo
este entendimento, a tentativa não é juridicamente possível.
Nelson Hungria, entretanto, defendeu o entendimento de que o crime de consuma
com a própria instigação, induzimento ou o auxílio. Deste modo, a morte ou a
lesão corporal de natureza grave consistiriam em condição objetiva de
procedibilidade.
Forma majorada
O crime possui causas de aumento de pena, previstas no parágrafo único do
artigo 122:
Parágrafo único - A pena é duplicada:
Aumento de pena
I - se o crime é praticado por motivo egoístico;
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.
5 – Infanticídio
O crime de infanticídio está previsto no artigo 123 do Código Penal, nos seguintes
termos:
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou
logo após:
Pena - detenção, de dois a seis anos.
6 – Aborto
O aborto é o crime que tutela a vida humana extrauterina, possuindo mais de
uma modalidade, sendo possível que também haja a tutela da vida ou da
incolumidade física da gestante.
Haverá a causa de aumento de pena, nos casos dos crimes dos artigos 125 e 126
do Código Penal, as modalidades de aborto provocados por terceiros. O delito
será majorado no caso de haver o resultado de lesão corporal de natureza grave
ou morte da gestante.
A norma acima mencionada não abrange o autoaborto nem o aborto consentido.
A pena deve ser aumentada de um terço no caso de ser causada lesão corporal
de natureza grave na gestante. Se sobrevier, como resultado do abordo
provocado por terceiro, a morte da gestante, a pena deve ser duplicada.
As majorantes são figuras preterdolosas, razão pela qual o aborto é realizado a
título de dolo, enquanto o resultado advém por culpa.
✓ No caso de aborto tentado e resultado, provocado de forma culposa,
da morte da gestante, qual a tipificação?
Fernando Capez entende ser o caso de responder por aborto qualificado
consumado, pois o resultado que configura a majorante já dá causa à
consumação do crime, tal qual ocorre no latrocínio. Nelson Hungria, por sua vez,
defende que não se admite a tentativa de crime preterdoloso quanto ao resultado
culposo não realizado. Entretanto, no caso de o resultado ocorrer e o aborto,
praticado de forma dolosa, não se consumar, o agente deve responder por
tentativa de abordo majorado pela morte ou tentativa de aborto majorado pelo
resultado de lesão corporal de natureza grave, a depender do resultado
provocado.
A incidência dos resultados previstos no artigo 127 do CP para o partícipe do
autoaborto e do aborto consentido comporta diferentes soluções, a depender do
entendimento doutrinário adotado:
• O partícipe responde por lesão corporal culposa ou homicídio culposo.
• O partícipe responde pela sua participação no aborto consentido ou
autoaborto.
• O partícipe responde por lesão corporal culposa ou homicídio culposo e pela
sua participação no aborto consentido ou autoaborto.
Concurso de
Crime Descrição
pessoas
Vale destacar, ainda, que houve decisão da Primeira Turma do STF de considerar
não tipificado o crime se a interrupção ocorrer nos três primeiros meses de
gravidez:
“(...) 3. Em segundo lugar, é preciso conferir interpretação conforme a
Constituição aos próprios arts. 124 a 126 do Código Penal – que tipificam
o crime de aborto – para excluir do seu âmbito de incidência a
interrupção voluntária da gestação efetivada no primeiro trimestre. A
criminalização, nessa hipótese, viola diversos direitos fundamentais da mulher,
bem como o princípio da proporcionalidade. 4. A criminalização é incompatível
com os seguintes direitos fundamentais: os direitos sexuais e reprodutivos da
mulher, que não pode ser obrigada pelo Estado a manter uma gestação
indesejada; a autonomia da mulher, que deve conservar o direito de fazer suas
escolhas existenciais; a integridade física e psíquica da gestante, que é quem
sofre, no seu corpo e no seu psiquismo, os efeitos da gravidez; e a igualdade da
mulher, já que homens não engravidam e, portanto, a equiparação plena de
Questões doutrinárias?
❑ Aborto majorado pela lesão corporal grave X lesão corporal qualificada pelo
aborto.
❑ Aborto X Lesão corporal qualificada pela aceleração de parto.
❑ Aborto de gêmeos: concurso formal.
7 – Questões Objetivas
Q31. CESPE/MPE-SC/MPE-SC/2016
Em relação à dosimetria, segundo consta no entendimento da Súmula 443
do Superior Tribunal de Justiça, o aumento na terceira fase de aplicação da
pena no crime de roubo circunstanciado não exige fundamentação efetiva,
sendo suficiente para sua exasperação a indicação da quantidade de
majorantes.
o Certo
o Errado
Q32. CESPE/MPE-SC/MPE-SC/2016
A Súmula Vinculante 26 do Supremo Tribunal Federal, dispõe que para efeito
de livramento condicional no cumprimento de pena por crime hediondo, ou
equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do art. 2º
da Lei n. 8.072/90 (Crimes Hediondos), sem prejuízo de avaliar se o
condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do
benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a
realização de exame criminológico.
o Certo
o Errado
6.2 – Gabarito
Q1. ERRADA Q14. D Q27. C
Q2. D Q15. A Q28. B
Q3. D Q16. D Q29. A
Q4. A Q17. B Q30. A
Q5. B Q18. C Q31. ERRADA
Q6. A Q19. B Q32. ERRADA
Q7. A Q20. C Q33. D
Q8. B Q21. B Q34. C
Q9. D Q22. B Q35. E
Q10. E Q23. A
Q11. E Q24. B
Q12. D Q25. B
Q13. D Q26. D
Comentários
A alternativa D está correta e é o gabarito da questão. No caso em que o agente
cometa crime na vigência do livramento, há a prorrogação do período de prova
até o julgamento definitivo, o que impede o juiz de julgar extinta a pena. É o que
se compreende por meio da leitura do art. 89 do Código Penal, que dispõe:
Art. 89 - O juiz não poderá declarar extinta a pena, enquanto não passar em julgado a
sentença em processo a que responde o liberado, por crime cometido na vigência do
livramento.
Comentários
A alternativa A está incorreta. De acordo com Súmula 440 do STJ, neste caso,
é vedado o estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o que
cabível em sanção imposta. Vejamos o inteiro teor do enunciado:
Súmula 440 - Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime
prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na
gravidade abstrata do delito.
Este artigo não foi estudado por ser matéria de Direito Processual Penal.
Comentários
Comentários:
Deste modo, a condenação anterior apenas servirá como mau antecedente, caso
transite em julgado após o novo fato, mas antes da sentença.
Comentários:
A alternativa A está correta. O STJ entende ser possível a compensação da
atenuante da confissão espontânea com a agravante da reincidência, por
exemplo, tendo a tese sido firmada em sede de recurso repetitivo:
RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA (ART. 543-C DO CPC). PENAL.
DOSIMETRIA. CONFISSÃO ESPONTÂNEA E REINCIDÊNCIA. COMPENSAÇÃO.
POSSIBILIDADE. 1. É possível, na segunda fase da dosimetria da pena, a compensação da
atenuante da confissão espontânea com a agravante da reincidência. 2. Recurso especial
provido. (REsp 1341370/MT, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, TERCEIRA SEÇÃO,
julgado em 10/04/2013, DJe 17/04/2013)
Comentários:
A alternativa D está correta. O art. 44, § 4º do Código Penal traz esta previsão
nos exatos termos da alternativa:
Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de
liberdade, quando:
§ 4º A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando
ocorrer o descumprimento injustificado da restrição imposta. No cálculo da pena
privativa de liberdade a executar será deduzido o tempo cumprido da pena restritiva de
direitos, respeitado o saldo mínimo de trinta dias de detenção ou reclusão
Comentários:
O Item I está incorreto. Crimes políticos são aqueles que se voltam contra a
ordem política, devendo estar presente a motivação política do agente. No caso
do Direito Penal brasileiro, estão previstos na Lei de Segurança Nacional, Lei nº
7.170/83.
O item III está incorreto. Para o cálculo de período depurador de cinco anos,
computa-se o período de sursis e do livramento condicional.
Art. 64 - Para efeito de reincidência:
I - não prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento ou extinção da
pena e a infração posterior tiver decorrido período de tempo superior a 5 (cinco) anos,
computado o período de prova da suspensão ou do livramento condicional, se não
ocorrer revogação;
A alternativa D está correta. É o que dispõe o art. 44, III do Código Penal:
Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de
liberdade, quando:
III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado,
bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente.
Tráfico de pessoas
Hediondo
Tráfico de pessoas
A alternativa E está incorreta. Neste caso, a pena de um ano de prisão pode ser
substituída por uma pena restritiva de direitos, nos termos do artigo 44, § 1º, do
CP:
§ 2o Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por
multa ou por uma pena restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena privativa
de liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos e multa ou por duas
restritivas de direitos
Para deixar mais claro, ainda que a confissão seja parcial, se o juiz fundamentar
a condenação com base nela, o indivíduo fará jus à incidência da atenuante. De
igual forma, se o agente posteriormente se retratar e, mesmo assim, for um dos
elementos utilizados na sentença. Portanto, a confissão espontânea realizada
perante a autoridade policial pode atenuar a pena, ainda que o agente se retrate
perante o juiz, desde que este a utilize como elemento de convencimento para a
condenação. É o que decidiu recentemente o STJ:
“(...) 4. A Jurisprudência deste Tribunal Superior firmou-se no sentido de que incide a
atenuante prevista no art. 65, III, "d", quando a confissão do acusado, ainda que retratada
ou parcial, seja utilizada para fundamentar a sua condenação, como ocorreu no caso em
apreço. Súmula 545 do STJ. (...)” (STJ, HC 433722/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Quinta
Turma, DJe 22/05/2018).
Q31. CESPE/MPE-SC/MPE-SC/2016
Em relação à dosimetria, segundo consta no entendimento da Súmula 443
do Superior Tribunal de Justiça, o aumento na terceira fase de aplicação da
pena no crime de roubo circunstanciado não exige fundamentação efetiva,
sendo suficiente para sua exasperação a indicação da quantidade de
majorantes.
o Certo
o Errado
Comentários:
A assertiva está errada. O aumento na terceira fase de aplicação da pena no
crime de roubo circunstanciado exige fundamentação efetiva. Este é o
entendimento consolidado por meio Súmula 443 do STJ:
O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de roubo circunstanciado exige
fundamentação concreta, não sendo suficiente para a sua exasperação a mera indicação do
número de majorantes.
Q32. CESPE/MPE-SC/MPE-SC/2016
A Súmula Vinculante 26 do Supremo Tribunal Federal, dispõe que para efeito
de livramento condicional no cumprimento de pena por crime hediondo, ou
equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do art. 2º
da Lei n. 8.072/90 (Crimes Hediondos), sem prejuízo de avaliar se o
A alternativa B está incorreta. O Art. 33, §2º, alínea c, do Código Penal dispõe
que o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro)
anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto.
Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto.
A de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a
regime fechado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva,
segundo o mérito do condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as
hipóteses de transferência a regime mais rigoroso: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá,
desde o início, cumpri-la em regime aberto.
7 – Questão Dissertativa
Q1. FCC/DPE-RS/Defensor Público/2014
Caio cumpriu penas privativas de liberdade por duas condenações: a
primeira, consistente em três anos de reclusão, em regime fechado (fixada
a pena no mínimo legal, sem agravantes ou atenuantes), pela prática do
crime de tráfico ilícito de drogas (artigo 12 da lei 6368/76), perpetrado em
1º de abril de 2005, quando ostentava a condição de primário e bons
antecedentes e , até então, não havia envolvimento com qualquer atividade
criminosa; a segunda, de 7 meses de detenção, em crime semiaberto
(reconhecida a reincidência), pela posse da substância entorpecente para
uso próprio (artigo 16 da lei 6368/76), praticada em 16 de janeiro de 2006.
Tais condenações transitaram em julgado antes do início da execução.
Durante o cumprimento das penas, Caio envolveu-se em evento disciplinar
no interior de estabelecimento prisional localizado no estado do Rio Grande
do Sul. Na ocasião, foi acusado de possuir um carregador de bateria de
telefone celular. Para esclarecimento do fato, Caio e o agente penitenciário
que apreendeu o objeto foram ouvidos pelo Chefe da Divisão de Segurança
do presídio. Não houve acompanhamento de defesa técnica. Entendendo
aquela autoridade a ocorrência de infração disciplinar de natureza grave,
remeteu o depoimento do preso e do servidor ao Juízo da Execução Penal.
Tão logo recebida a documentação na Vara de Execuções Penais, foi
aprazada audiência para oitiva de Caio. Na solenidade, estavam presentes o
Ministério Público e a Defensoria Pública, ocasião em que o apenado
reconheceu o que é o objeto citado estava na sua posse. Em gabinete, no
mês de dezembro de 2010, afastadas teses defensivas arguidas, o
magistrado reconheceu a prática de falta disciplinar de natureza grave,
determinando a perda de todos os dias remidos (no total de 21 dias) de
remição, e a mudança data base para progressão de regime e livramento
condicional (fixando-se na data da apreensão do objeto). Não houve
determinação de regressão de regime, uma vez que o preso já se encontrava
no regime fechado. A Defensoria Pública foi intimada da decisão somente
em janeiro de 2013, data em que a situação jurídica do preso está sendo
analisada. Independentemente do dia do início do cumprimento das penas e
descartada qualquer hipótese de prescrição ou seu término, considerando as
informações acima, responda como Defensor Público, fundamentadamente:
(HC 134193, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 26/10/2016,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-252 DIVULG 25-11-2016 PUBLIC 28-11-2016)
HC 433404/STJ: a culpabilidade do agente consiste no juízo da censura ou reprovação em
relação à conduta do agente
PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. INADEQUAÇÃO.
ROUBO. DOSIMETRIA. PENA-BASE ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. CULPABILIDADE
ACENTUADA. MAIOR GRAU DE CENSURA EVIDENCIADO. PERSONALIDADE DO AGENTE.
CARÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA. CONFISSÃO ESPONTÂNEA PARCIAL.
MANIFESTAÇÃO DO RÉU SOPESADA NA FORMAÇÃO DO JUÍZO CONDENATÓRIO.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA 545/STJ. FLAGRANTE ILEGALIDADE EVIDENCIADA. REGIME
PRISIONAL FECHADO. PENA-BASE ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. CIRCUNSTÂNCIA JUDICIAL
EDcl no HC 413204/STJ: posição pacífica do Superior Tribunal de Justiça de que, após o decurso
do lustro, a condenação anterior já transitada em julgado pode ser utilizada como mau
antecedente do agente, sendo vedado apenas que determine o reconhecimento da reincidência.
PROCESSUAL PENAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO HABEAS CORPUS. OMISSÃO
QUANTO A CONFIGURAÇÃO DE MAUS ANTECEDENTES. OCORRÊNCIA. ACÓRDÃO
CONDENATÓRIO RESTABELECIDO. EMBARGOS ACOLHIDOS COM EFEITO INFRINGENTES.
I - São cabíveis embargos declaratórios quando houver, na decisão embargada, qualquer
contradição, omissão ou obscuridade a ser sanada. Podem também ser admitidos para a
correção de eventual erro material, consoante entendimento preconizado pela doutrina e
jurisprudência, sendo possível, excepcionalmente, a alteração ou modificação do decisum
embargado.
II - Assiste razão ao Parquet Federal, uma vez que está devidamente demonstrado na
certidão de fl. 94 que o v. acórdão condenatório não incorreu em qualquer ilegalidade, pois
a anotação criminal referente ao processo n. 7006993-82.2003.8.26.0050, que transitou
em julgado em 28/9/2005, configura, no presente caso, maus antecedentes, o que afasta
de plano a incidência da Súmula n. 444 desta Corte Superior.
III - A jurisprudência deste Tribunal é assente no sentido de que as condenações alcançadas
pelo período depurador de 5 anos, como no presente caso, previsto no art. 64, inciso I, do
Código Penal, afastam os efeitos da reincidência, mas não impedem a configuração de maus
antecedentes, permitindo, assim, o aumento da pena-base acima do mínimo legal.
Embargos de declaração acolhido, com efeitos infringentes, para sanar a omissão e não
conhecer do habeas corpus, com o fim de restabelecer o acórdão condenatório proferido
pelo eg. Tribunal de origem em grau de apelação.
9 – Resumo
Para finalizar o estudo da matéria, trazemos um
resumo dos principais aspectos estudados ao longo
da aula. Sugerimos que esse resumo seja estudado
sempre previamente ao início da aula seguinte,
como forma de “refrescar” a memória. Além disso, segundo a organização de
estudos de vocês, a cada ciclo de estudos é fundamental retomar esses resumos.
Caso encontrem dificuldade em compreender alguma informação, não deixem de
retornar à aula.
Sanção Penal
É a coação ou a resposta do Estado imposta àqueles que violam as normas penais incriminadoras.
Cuida-se de gênero, do qual são espécies:
Pena: é a sanção imposta pelo Estado ao condenado pela prática de infração penal,
que consiste na privação ou restrição de determinados bens jurídicos do agente.
A utilização das penas, pelo Estado, como forma de coerção no que se refere às normas penais,
possui uma finalidade. Em relação à finalidade que possuem as penas, surgiram diversas teorias
que procuram fundamentá-las e dar-lhes significado:
- Princípio da legalidade
- Princípio da Anterioridade
- Princípio da Personalidade
- Princípio da Individualização
- Princípio da Inderrogabilidade
- Princípio da Proporcionalidade
- Princípio da Humanidade
Justiça Restaurativa
Penas em espécie
A Constituição Federal já prevê as penas possíveis em seu artigo 5º, inciso XLVI, que trata da
individualização da pena. O artigo 32, do Código Penal, por sua vez, traz as espécies de pena,
classificando-as em três grupos: privativas de liberdade, restritivas de direitos e de multa.
Assim, temos três grandes grupos de penas, consistentes nas privativas de liberdade, nas
restritivas de direitos e nas penas de multas. Enquanto as penas privativas de liberdade são
Penas Vedadas.
Assim como prevê as penas que são permitidas, a Constituição Federal também apresenta a lista
das penas que são vedadas. A Constituição proíbe as penas de morte, de caráter perpétuo, de
trabalhos forçado e, de forma genérica, as que sejam cruéis. A única exceção que a Constituição
faz é em relação à pena de morte, para a qual se admite a aplicação em caso de guerra declarada.
Vejamos cada uma das vedações:
Quanto aos efeitos extrapenais, previstos nos artigos 91 e 92 do Código Penal, não se aplicam à
pena de prisão. Os efeitos são reservados para os casos de reclusão e detenção, exceto no que
se refere à incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, que é reservada
apenas para os crimes dolosos, sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou
A aplicação da pena é chamada de dosimetria, por envolver o cálculo da pena nos termos do
método trifásico. Começando pela pena privativa de liberdade, sua fixação, pelo juiz, deve ter
como parâmetros os limites mínimo e máximo previstos na lei e ser realizado em três fases. O
método trifásico se inicia com a fase das circunstâncias judiciais, prevista no artigo 59 do Código
Penal. Na sequência, há a aplicação das agravantes e das atenuantes, com a estipulação da pena
intermediária. Por fim, a terceira fase envolve a aplicação das causas de aumento e de diminuição
de pena. É o que prevê o artigo 68 do Código Penal, que institui o sistema trifásico de cálculo da
pena.
✓ 1ª Fase
✓ 2ª Fase
Agravantes: estão previstas no artigo 61 do Código Penal, o que ressalva que sua aplicação na
segunda fase depende de o delito não prever a circunstância como elementar ou qualificadora do
crime.
- Reincidência: é a agravante que determina a elevação da pena em razão de
cometimento anterior de crime pelo agente, desde que haja trânsito em julgado
e dentro de determinado período. No caso de cometimento de novo crime, só
a prática de crime anterior, seja no Brasil ou no exterior, enseja a reincidência,
nos termos do dispositivo acima transcrito. Se o indivíduo comete contravenção
penal, a prática de crime anterior, no Brasil ou no exterior, ou de contravenção
penal, no Brasil, ele se torna reincidente, desde que já haja o trânsito em
julgado da condenação pretérita. O nosso Direito adota o sistema da
temporariedade da reincidência. Isto significa que o delito só ensejará a
reincidência do agente, caso ele pratique novo fato delitivo, dentro de
determinado prazo. Referido lapso temporal é denominado de período
depurador, que é de um lustro, um quinquênio ou, de modo mais simples, de
cinco anos. O transcurso do período depurador é uma das hipóteses de não
configuração da reincidência, nos termos do artigo 64 do Código Penal.
Portanto, decorridos cinco anos do cumprimento ou extinção da pena,
computados neste prazo o da suspensão condicional da penal (sursis) e o do
Atenuantes
O Código Penal prevê, no seu artigo 65, as situações que atenuam a pena. O inciso I cuida da
chamada menoridade relativa e da senilidade, que determinam a incidência de atenuante no caso
de o agente ser menor de 21 anos de idade, ou maior de 70 anos de idade, na data de sentença.
Ademais, estudamos que o erro de proibição não se confunde com o desconhecimento da lei. A
ignorância da lei, que não afasta a culpabilidade, pode, entretanto, atenuar a pena, nos termos
do artigo 65, II, do Código Penal. Também atenua a pena o agente ter cometido o crime por
motivo de relevante valor social, que é aquele de interesse da coletividade. Do mesmo modo,
configura a atenuante o relevante valor moral, que se refere a um valor pessoal do agente. Há
atenuante de pena se o agente procurar, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após
o cometimento do crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as consequências, ou ter, antes do
julgamento, reparado o dano. Percebam que a hipótese é mais ampla que o arrependimento
posterior, que é causa de diminuição de pena, de um a dois terços, e não deve ser confundido
com a atenuante. Incide a minorante apenas nos crimes cometidos sem violência ou grave
ameaça à pessoa, se o agente, voluntariamente, reparar o dano ou restituir a coisa até o
recebimento da denúncia ou da queixa. Também atenua a pena o sujeito ter cometido o crime
sob coação resistível ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, desde que não seja
o caso de aparente legalidade. A pena também deve ser atenuada no caso de o crime ter sido
cometido sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima. Quando a
confissão espontânea for utilizada para a formação do convencimento do julgador, o réu fará jus
à atenuante prevista no artigo 65, III, d, do Código Penal. O STJ possui enunciado a respeito, a
Súmula 545. Para deixar mais claro, ainda que a confissão seja parcial, se o juiz fundamentar a
condenação com base nela, o indivíduo fará jus à incidência da atenuante. De igual forma, se o
agente posteriormente se retratar e, mesmo assim, for um dos elementos utilizados na sentença.
Portanto, a confissão espontânea realizada perante a autoridade policial pode atenuar a pena,
Já vimos que o STJ tem entendido que não é necessário que o juiz adote uma fração fixa de
aumento e de diminuição na segunda fase da dosimetria, apesar de entender recomendável. De
todo modo, existem algumas circunstâncias que devem preponderar sobre as outras, conforme
prescreve o artigo 67 do Código Penal. São preponderantes as circunstâncias que envolvem os
motivos do crime, a personalidade do agente e a reincidência. Percebam que todas elas são
subjetivas. A reincidência, portanto, é uma agravante que é tida como preponderante. Surgiu,
então, a controvérsia sobre a sua possibilidade de compensação com a confissão espontânea, que
é circunstância subjetiva. O STJ pacificou, no âmbito da própria Corte, que a compensação é
possível.
✓ 3ª Fase
Para o cumprimento de pena, temos mais de um regime no Código Penal: o fechado, o aberto e
o semiaberto. O sistema é o progressivo, ou seja, o agente deve, conforme o seu mérito, ir do
regime mais gravoso ao menos restrito ao longo da execução da pena. Entretanto, caso pratique
falta grave ou sobrevenham novas condenações, é possível que o indivíduo sofra a regressão do
regime, passando do mais leve àquele mais grave. O juiz, na sentença, fixa o regime inicial de
cumprimento de pena, que, como visto, poderá se alterar durante a execução. Ele poderá fazer
jus à progressão, poderá sofrer a regressão, assim como pode ter a unificação com nova pena
que fará com que se altere o regime. O artigo 33, caput e § 1º, do Código Penal prevê os regimes
de cumprimento de pena e o local de cumprimento. O regime fechado refere-se à execução da
pena privativa de liberdade em estabelecimento de segurança máxima ou média, conforme as
regras do artigo 34 do Código Penal. Por sua vez, o regime semiaberto implica no cumprimento
da pena privativa de liberdade em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar. Seu
regramento está no artigo 35 do Código Penal. Por fim, o regime aberto traduz-se no cumprimento
da pena privativa de liberdade em casa de albergado ou estabelecimento adequado, consoante a
disciplina do artigo 36 do Código Penal. Para a fixação do regime inicial de cumprimento de pena,
o juiz deverá observar o regramento do artigo 33, §§ 2º e 3º. Como já dito, o juiz fixa o regime
inicial de cumprimento de pena, sendo que a execução deve ser forma progressiva, do sistema
mais rigoroso para o menos rigoroso, conforme o mérito do executado e o cumprimento de
Penas restritivas de direitos: são classificadas como reais e pessoais, conforme atinjam de
forma mais direta o patrimônio ou a liberdade do indivíduo. Representam, como penas
alternativas que são, uma alternativa ao encarceramento, que consubstancia maior restrição aos
direitos do condenado. Estão elencadas no artigo 43 do CP. As restritivas de direitos reais são a
prestação pecuniária e a perda de bens e valores. Por sua vez, as penas restritivas de direitos
pessoais são a prestação de serviços à comunidade, a interdição temporária de direitos e a
limitação de fim de semana.
Substituição e requisitos
Os requisitos para a substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos
foram trazidos pelo legislador no artigo 44 do Código Penal.
Em determinas hipóteses, é possível também que a pena restritiva de direitos seja convertida em
privativa de liberdade. É o que prevê o artigo 181 da Lei de Execução Penal.
Pena de Multa
Revogação obrigatória
Revogação facultativa
Cassação
A Lei de Execução Penal, em seu artigo 161, prevê a possibilidade de o benefício do sursis ser
cassado. Isto ocorre quando o beneficiário, intimado para a audiência admonitória, não
comparece. Assim, o benefício é considerado sem efeito e a pena privativa de liberdade deve ser
executada. Deste modo, há cassação quando o beneficiário recusa o sursis, quando não
Extinção
Por fim, a extinção se dá com o fim do prazo do período de prova, desde que não tenha havido a
revogação do benefício. É o que estipula o artigo 62 do Código Penal.
Livramento condicional
Condições
A concessão do livramento condicional ocorre em um ato solene, presidido pelo juiz e denominado
de audiência admonitória. É expedida uma carta de livramento, na qual consta que o condenado
recebeu referido benefício. As formalidades estão previstas nos artigos 136 a 138 da Lei nº
7.210/84, a Lei de Execução Penal.
Revogação obrigatória
Há hipóteses em que o benefício deve ser obrigatoriamente revogado pelo juiz. Isto se dá quando
o sentenciado vem a ser condenado definitivamente a pena privativa de liberdade:
O artigo 84 é o que determina a soma das penas a que foi condenado o sujeito, por diferentes
delitos, para fins de averiguação se ele cumpriu a fração estipulada a concessão do livramento.
Revogação facultativa
Em alguns casos, o juiz pode decidir, de acordo com as especificidades da situação, se revoga ou
não o livramento condicional. É o que ocorre se o liberado deixar de cumprir as condições
impostas na sentença ou se ele for condenado definitivamente pela prática de infração penal a
uma pena diversa da privativa de liberdade (pena restritiva de direitos ou pena de multa). A
revogação facultativa é regulada pelo artigo 87 do Código Penal.
Efeitos da revogação
Tendo havido a revogação, seja ela facultativa ou obrigatório, há algumas consequências para o
beneficiário, nos termos do artigo 88 do CP. Deste modo, a revogação do LC sempre gera a
vedação de nova concessão. Ademais, o tempo em que o liberado esteve solto não se computa
como pena cumprida, salvo se a revogação ocorrer em virtude de crime praticado anteriormente.
Neste caso, o juiz observa se a nova pena, somada à que está sendo executada, permite a
continuidade do LC, isto é, verifica se, mesmo com a soma das penas, ainda assim o executado
atingiu o lapso temporal exigido. Se não atingiu, o juiz revoga o benefício, mas o tempo em que
ele esteve solto será considerado como pena cumprida. Busca a lei, com isso, diferenciar o
indivíduo que comete crime durante o benefício ou descumpre as condições, o que demonstra
descompromisso com o livramento antecipado que lhe foi concedido, daquele que nada fez
durante o período de livramento, mas que havia cometido outro delito antes e viu suas penas
serem somadas, o que implicou na revogação do seu benefício.
É possível a prorrogação do benefício, mesmo porque, nos casos de revogação pela prática de
crime ou contravenção penal, a lei exige o trânsito em julgado. Portanto, enquanto não for julgado
definitivamente o caso, o juiz pode prorrogar o prazo do livramento.
Suspensão
Além da prorrogação do prazo do livramento condicional, o juiz pode terminar sua suspensão.
Com a suspensão do prazo, o indivíduo é preso, voltando a cumprir a pena privativa de liberdade.
A suspensão, portanto, autoriza o recolhimento cautelar, dentro dos limites da pena aplicada. O
STJ entende que a revogação ou a suspensão do livramento condicional depende de decisão
judicial, não ocorrendo de forma automática.
Extinção
10 - Considerações Finais
Este é o fim de mais uma aula nossa. Ressalto que estudamos a teoria geral da
pena, sem adentrar no estudo mais específico da Lei de Execução Penal, que é
parte da disciplina de Direito Penal Especial (Legislação Penal Extravagante).
Espero que tenham compreendido melhor as penas previstas em nosso
ordenamento, sua aplicação pelo juiz e sua execução.
Quaisquer sugestões são bem-vindas e, apesar de elaborada com muito rigor,
toda aula pode ser aperfeiçoada a partir de contribuições. O contato pode ser
feito pelo fórum, por e-mail ou pelo Instragram.
Até a próxima aula. Forte abraço e meus desejos de sempre de sucesso!
Michael Procopio.
procopioavelar@gmail.com
professor.procopio