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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS - ICHS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

AGUSTINA VILLANUEBA

URBANIZAÇÃO NEOLIBERAL EM CUIABÁ E CONFLITOS NA PRODUÇÃO


DO ESPAÇO URBANO.

CUIABÁ-MT

Ano 2016
ii
AGUSTINA VILLANUEBA

URBANIZAÇÃO NEOLIBERAL EM CUIABA E CONFLITOS NA PRODUÇÃO


DO ESPAÇO URBANO.

Orientador: Prof. Dr. Cornélio Silvano Vilarinho Neto.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Geografia da Universidade Federal
de Mato Grosso, na Área de Pesquisa Ambiente e
Desenvolvimento, como requisito para a obtenção
do título de Mestre.

CUIABÁ-MT

Ano 2016

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iv
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AGRADECIMENTOS

Este trabalho foi fruto de grande esforço profissional e pessoal, devido a


dificuldade de me encontar vivendo fora de meu “lugar”, minha zona de comodidade,
minha cidade, meu pais, minha casa. Eu tive que me incomodar para escrever e
conhecer outra realidade, comer diferente por quase dos anos, ter sofrido e desfrutr o
calor cuiabano.Vindo de uma região mais bem fria e cinza.
Agradeço muitíssimo ao professor Cornélio S.Vilharinho Neto, meu orientador,
que com muita boa vontade, me escolho, desde o primeiro dia. Ele contribuiu e me
apresento um “mundo novo” para min-Mato Grosso- ao qual eu tinha pouco contato.
Com todas as dificuldades e toda a sua paciência, me ajudou a evoluir bastante, mesmo
que ainda tenha um longo caminho pela frente.
A o Programa de Mestrado em Geografia da UFMT, de abrir a possibilidade de
ter estrangeiros em seu Programa e por todos os papeis que ajudaram a apresentar nos
primeiros dias de minha chegada e a boa disposição e respeito de todos os professores.
Aos colegas de Mestrado, que me receberam muito bem,tendo muita paciência
pela barreira idiomática-cultural, etc. São todos boas e bonitas pessoas que me ajudaram
sempre, a os amigxs e comunidade autochamados“os latinos “ sem eles não teria sido
possível a minha estadia aqui, formarom parte de minha família e fizeram ainda mais
calourosa minha vida aqui. Ao povo cuiabano, em todos lugares eles estavam sempre
preocupados por meu bem estar, perguntando Você está bem? Você gosta? Ao Brasil
em geral por ser assim: tão Brasil.....
A minha mãe e pai que sofreram um pouquinho a distância, mas que sempre me
apoiaram em minha decisão de mudar-me a 2.500 km de distância. a minha a irmã Erica
que me veio a “visitar” duas vezes , meu irmão Joaquin por existir e a meus amigos da
vida por sempre estar comigo apesar da distância. E a uma doença que eu tive chamada
Síndrome de Guillain-Barré que me ajudo para tomar corajem de curtir a vida!

vi
“La manera como se
presentan las cosas no es
la manera como son; y si
las cosas fueran como se presentan
la ciencia entera
sobraría." K. Marx

vii
RESUMO

O presente trabalho permite compreender as novas lógicas da cidade neoliberal


e o papel desempenhado pelo espaço na reprodução do capital. Os espaços urbanos
estruturam-se em função das novas necessidades do capital, que aí encontra a melhor
forma para sua reprodução, dentro de um marco de valorização financeira e especulação
imobiliária. Neste contexto, estudamos quais foram as estratégias de reestruturação
urbana em um trecho da bacia do Córrego do Barbado, em Cuiabá - capital do Estado de
Mato Grosso - e a ação dos principais agentes intervenientes na produção desse espaço.
Analisamos também como a crescente inserção do espaço nas estratégias de acumulação
do capital tem reflexo profundo na sua produção, e como, por sua vez, estrutura as
desigualdades. Essas desigualdades podem ser observadas no trecho do Barbado, onde
existe uma concorrência pelo uso do espaço entre os atores hegemônicos - estado
neoliberal - e os moradores da cidade. Portanto, a problemática desta dissertação
perpassa pelo conflito entre a produção do espaço capitalista e suas contradições. A
discussão do papel do Estado insere-se nesta pesquisa para demonstrar que o Estado
Neoliberal é um dos principais agentes frente à produção do espaço. Remete-se à ideia
do Estado como controlador, produtor e (re) produtor do espaço urbano, por meio de
suas estratégias, ações e ferramentas, controladas por uma determinada
elite. Entendemos aqui que a sociedade urbana é marcada por intensos conflitos que
envolvem a produção do espaço. Os conflitos que queremos salientar são,
principalmente, as disputas territoriais, a luta pelo espaço, baseadas nas relações de
apropriação e dominação do espaço urbano, já que a apropriação do espaço funciona
assim como um instrumento de dominação, de controle das classes sociais mais
desfavorecidas.
Palavras- chave: Espaço urbano- Conflitos- Córrego do Barbado- Estado Neoliberal.

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RESUMEN

El presente trabajo busca comprender las nuevas lógicas de la ciudad neoliberal


y el papel desempeñado por el espacio en la reproducción del capital. Los espacios
urbanos se estructuran, en función de las nuevas necesidades del capital que encuentra
en la ciudad una de las mejores formas para su producción y re- producción, dentro del
marco de valorización financiera y especulación inmobiliaria. En este contexto,
estudiamos cuáles fueron las estrategias de re- estructuración urbana en un trecho de la
cuenca de Barbado, em Cuiabá- capital del Estado de Mato Grosso-. Como también la
acción de los principales agentes intervinientes de la producción de ese espacio.
Analisamos también cómo la creciente inserción del espacio en las estrategias de
acumulación del capital está relejada en su producción y cómo , a su vez, estructura
desiguales.Esas desigualdades se pueden observar en el trecho de Barbado donde existe
una competencia por el uso del espacio entre los actores hegemónicos- estado
neoliberal- y los habitantes de la ciudad . Por lo tanto, la problemática de esta
disertación pasa por el conflicto entre la producción del espacio capitalista y sus
contradicciones. La discusión del papel del Estado se inserta en esta investigación, para
demostrar que el Estado neoliberal es uno de los principales agentes frente a la
producción del espacio. Esta concepción nos remite a la idea de el Estado como un ente
controlador, productor y (re) productor del espacio urbano, a través de sus estrategias,
acciones y herramientas controladas por una determinada elite. Entendemos aquí que la
sociedad urbana es marcada por intensos conflictos que envuelven la producción del
espacio. Siendo asi, los conflictos que queremos remarcar son principalmente las
disputas territoriales, la lucha por el espacio urbano, basadas en las relaciones de
apropiación y dominación del espacio, ya que la apropiación del espacio funciona como
un instrumento de dominación, de control de las clases sociales mas desfavorecidas.

Palabras claves: Espacio urbano- Conflictos- Arroyo de Barbado- Estado Neoliberal

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Agecopa- Agência Estadual de Execução dos Projetos da Copa do Mundo do Pantanal.

APP- Areas de Preservação Permanente.

CPA- Centro Político Administrativo.

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

IPDU- Instituto de Planejamento e Desenvolvimento Urbano.

MT- Mato Grosso.

PMCMV- Programa Habitacional Federal Minha Casa, Minha Vida.

PT- Partido dos Trabalhadores.

PIB- Produto Interno Bruto.

SECOPA- Secretaria Extraordinária da Copa.

SEPLAN/MT-Secretaria de Estado de Planejamento de Coordenação Geral de Mato


Grosso.

UAMB- União Cuiabana de Associações de Moradores de Bairros.

Uhs- Unidades habitacionais.

UFMT- Universidade Federal de Mato Grosso.

x
LISTA DE FOTOS E FIGURAS

FIGURA 1 – Localização do município de Cuiabá ..................................................31

FIGURA 2.Evolução Urbana de Cuiabá....................................................................38

FIGURA 3. Crescimento vertical da cidade de Cuiabá..............................................41

FIGURA 4 . Eixos de movilidade na bacia do Barbado. Ano 2014...........................70

FIGURA 5. Espacialização do Residencial Altos do Parque I e II e


Novo Parque Etapa I e II – Cuiabá/MT…………………………………………….81

FIGURA 6. Àreas de estudo e comparação histórica................................................85

FOTO 1. Área desapropiada. Margens do Corrego do Barbado. Cuiabá-MT...........74

FOTO 2. Padronização da construção em Res. Altos do Parque II………………...83

FOTO 3.Cartazos na entrada Residencial Altos do Parque.………………………..83

FOTO 4. Transporte urbano no Redidencial ............................................................90

FOTO 5. Má qualidade dos equipamentos públicos no Residencial…………........90

FOTO 6 . Entrada ao Residencial.............................................................................97

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LISTA DE MAPAS E TABELAS

TABELA 1. Evolução do PIB em Cuiabá ..................................................................35

MAPA 1 – Evolução do perímetro urbano de Cuiabá. ..............................................39

MAPA 2 - .Obras da Copa do Mundo 2014 e População segundo renda...................58

MAPA 3- A evolução urbana da Bacia do Córrego Barbado - Cuiabá – MT............68

MAPA 4- Bairros afetados pelas desapropriações......................................................72

MAPA 5- Visualização da distância entre os bairros estudados.................................88

MAPA 6 - Localização dos Serviços de Saúde e Educação nos Bairros Estudados...91

xii
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 3
CONTEXTO DA PESQUISA ................................................................................... 4
APROXIMAÇÃO A NOSSO OBJETO DE ESTUDO .............................................. 6
CONTEÚDO........................................................................................................... 10
Capítulo 1:Fundamentos Teóricos e Procedimientos Metodológiocos ......................... 13
1.1 Sobre a importância de utilizar e estudar os conceitos na pesquisa geográfica .... 14
1.2 A preocupação por o espaço .............................................................................. 16
1.3 A luta pela apropriação do espaço geográfico: Territórios em disputa. .............. 21
1.4. Lugar, a categoria para conhecer o Território e suas singularidades. ................. 25
Capítulo 2 Caracterização do Estado de Mato Grosso e Contexto Econômico Atual.....29
2.1 A formação do estado de Mato Grosso ............................................................... 31
2.2 O processo da evolução urbana da cidade de Cuiabá .......................................... 38
2.3 Caracterizações do contexto pós- neoliberal na America Latina (2004-2014) ..... 43
2.4 O neoliberlismo e o pos- neoliberalismo ............................................................ 44
2.5 O novo desenvolvimentismo .............................................................................. 47
2.6 A importância crescente do espaço urbano para a acumulação capitalista. ......... 49
Capítulo 3: A produção do Espaço na Cidade Neoliberal............................................. 55
3.1. Reestruturação urbana em Cuiabá ..................................................................... 57
3.2. Produção do espaço na área do córrego do Barbado- Cuiabá/ MT ..................... 61
3.3 O papel do estado e as desapropiações ............................................................... 76
Capítulo 4 Esaços Vividos. Territoritórios Construidos.: ............................................. 83
4.1 As ações do Estado e sua relação com a segregação espacial.............................. 89
4.2. Os ex moradores do Barbado. Entre a periferização e o sonho da casa própria.. 96
Capítulo 5 Considerações Finais: .............................................................................. 101
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 111

2
INTRODUÇÃO

La geografía que hacemos


debe ser una geografía de
los pueblos…debe estar
cosida en el tejido de la vida
diaria con profundas raíces
en los manantiales de la
conciencia popular, debe
abrir canales de
comunicación, socavar las
visiones particularistas del
mundo, y afrontar o
subvertir el poder de las
clases dominantes o del
Estado.
(HARVEY, 2001)1

1
Harvey “Espacios del Capital”. 2007.

3
CONTEXTO DA PESQUISA

Escrevo para abrir um debate. Escrevo sem ter certezas. Trago para o debate a
dúvida, germe da curiosidade para encontrar sentido, discutir e provocar os leitores
desta dissertação. Não é minha intenção aprofundar muito sobre a questão do que é
ciência, como se faz e nem quem pode fazer, mas sim, considero pertinente trazer
algumas reflexões acerca das formas de fazer ciência nos momentos atuais e colocar
meu posicionamento frente a como inicia-se minha pesquisa. O que vou pesquisar?
Constituirá uma aproximação à realidade? Contribuirá ao conhecimento científico?
Pesquisar, para quê? Para quem? Qual é a importância da pesquisa realizada atualmente
por pesquisadores dos cursos de pós-graduação?
Questiona-se aqui a recente prática acadêmica que, por buscar índices de
produção preestabelecidos, esquece o real objetivo de sua existência: gerar
conhecimento e procurar outras verdades além das já estabelecidas, ou ao menos
questioná-las. O objetivo desse modo produtivista é gerar a produção de artigos e textos,
pelo simples fato destes pontuarem e garantirem boas notas aos programas de pós-
graduação, aprofundando os índices “produtivos” impostos. Dessa maneira, as
pesquisas vão perdendo sentido, mas, não se enganem! A ciência não é isso.
Em nosso entender, a pesquisa tem como objetivo fundamental descobrir uma
“realidade”. A pesquisa questiona o que nos é apresentado como “realidade”, já que
como cientistas é nossa tarefa tentar entendê-la, questioná-la para assim, poder
transformá-la. Também, a pesquisa tem uma importante função social. Segundo Pires
(2008, p. 75), “A pesquisa é construída a partir da práxis: do vivido, das relações
afetivas, das trocas entre experiências do saber acadêmico e do senso comum, da
dramatização dos conflitos ambientais e territoriais”.
Dessa forma, comecei a pesquisa quando cheguei à Cuiabá - na práxis -,
vivendo a cidade em meu cotidiano e procurando tentar entender a realidade de Mato
Grosso e de Cuiabá em particular. Buscando leituras e encontrando dentro do marco do
Programa de Pós-Graduação em Geografia, o ambiente ótimo para começar o desafio de
estabelecer uma relação com a cidade.
Em primeiro lugar o momento foi de problematizar, já que, quase sem
exceção, toda investigação surge para resolver uma questão e desvendar um problema.
Intensa curiosidade que impulsiona as aspirações pessoais e modifica a vida desses
indivíduos que, em cientistas transformados, passam suas horas revelando este ou

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aquele mistério. Neste caso, as perguntas iniciais foram destinadas para tentar entender
o mais próximo para mim: o espaço urbano. As perguntas iniciais foram: por que há
pessoas que podem escolher onde viver e outras não? Por que é tão difícil o acesso à
terra urbana em áreas estratégicas das cidades? Por que sempre são os mesmos setores
da população, os que são retirados de seus lugares, sem pensar em sua identidade e sua
vinculação com seu território? Estas perguntas fazem parte do problema científico deste
trabalho e para dar sentido à investigação, tendo como objetivo descobrir as lógicas
desvendadas desta urbanização neoliberal cada vez mais “perversa”.
Todavia, todas essas afirmações do vivido têm que ser acompanhadas por uma
teoria, já que é indispensável a abordagem científica. Teoria não é especulação, mas
sim, um conjunto de princípios fundamentais que se constituem em instrumento
científico apropriado na procura e, principalmente, na explicação dos fatos. Ambos,
teoria e fato, são objetos de interesse dos cientistas: ao acaso, a teoria não é produzida
por uma inter-relação constante entre teoria e fato? Segundo Lakatos (2003, p. 115),
A teoria serve como sistema de conceptualização e de classificação
dos fatos - um fato não é somente uma observação prática ao acaso,
mas também uma afirmativa empiricamente verificada sobre o
fenômeno em pauta: dessa forma, engloba tanto as observações
científicas quanto um quadro de referência teórico conhecido, no qual
essas observações se enquadram.

Portanto, a teoria ensina que para cada realidade espacial, cabe até criar teorias
específicas, tal é o nível das diversidades das organizações espaciais que se constroem
de forma peculiar, da especificidade do lugar até sua reestruturação permanente. A
teoria impõe salientar que não deve se restringir apenas à mente dos pensadores e
intelectuais, senão também de grande parte da população.
Para além de problematizar criticamente o espaço existente, que começaremos
esta pesquisa, entendemos que as verdades encontradas serão parciais e sujeitas ao
ponto de vista da pesquisadora, neste caso. Toda verdade parcial não adquire seu
verdadeiro significado se não é pelas ideias permeadas no lugar e as ideias-bagagem que
carregava anteriormente.
Silveira (2014, p. 149) salienta o seguinte: “El camino del conocimiento surge
así como una oscilación perpetua entre las partes y el todo que deben iluminarse
mutuamente". Sendo assim, a construção e o desenvolvimento do conhecimento pode
ser considerado como uma inter-relação entre as partes e o todo entre a teoria e a
prática.

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Diante deste cenário, esta pesquisa encontra-se inserida pela inquietude, de
uma geógrafa argentina, pesquisadora e viajante dessas terras interioranas, que tenta
explicar a realidade de um lugar desconhecido, carregada de “ferramentas e
conhecimentos” próprios para afrontar o desafio de (re)conhecer e aproximar-se do
objeto de estudo.

APROXIMAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

A dimensão espacial tornou-se um dos mais importantes estudos não só da


dinâmica de acumulação capitalista, mas também para explicar a reprodução da vida em
si. O papel desempenhado pelo espaço na reprodução do capital é cada vez mais um
assunto estudado pelas ciências sociais em geral e pela geografia em particular. Na
geografia, temos que reivindicar os estudos que colocam o espaço como categoria
fundamental para explicar os atuais conflitos que acontecem tanto na área urbana quanto
na área rural.
Atualmente, como parte dos processos de reprodução do capitalismo, assiste-se
ao desenvolvimento de grandes transformações territoriais que mudam a organização, o
funcionamento e a produção do espaço das cidades, assim como sua apropriação
cotidiana. Por conseguinte, o presente trabalho traz uma análise das lógicas de produção
do espaço urbano que se apresentam dentro do marco dos processos atuais de
reestruturação política e econômico-produtiva, a partir da financeirização da economia e
do avanço das políticas neoliberais na cidade, concordando com Correa (2013, p. 43)
quando diz:
A produção do espaço é consequência da ação de agentes sociais
concretos, históricos, dotados de interesses, estratégias e práticas
espaciais próprias, portadores de contradições e geradores de conflitos
entre eles mesmos e com outros segmentos da sociedade, então esse
choque das distintas lógicas e interesses se sobrepõem, produzindo
conflitos e tensões dentro do espaço geográfico.

Nesse sentido, o conceito de produção do espaço ocorre através das relações


sociais complexas que também são relações de produção. Cabe lembrar que na
sociedade capitalista, a cidade é o espaço constantemente modificado de acordo com os
interesses de uma série de agentes: os proprietários dos meios de produção; os
proprietários do solo; os promotores imobiliários; as empresas de construção; os órgãos
públicos, entre outros.

6
Neste contexto, é necessário pensar a realidade, problematizá-la, entender o
espaço urbano por meio das práticas socioespaciais que são materializadas através do
tempo e das práticas, revelando as relações sociais de nossa sociedade capitalista e do
processo de formação em particular. Marx (in Netto, 2012, p. 170) afirma que sem
entender o processo histórico, onde a economia foi gestada, não se identifica as relações
reais da sociedade.

O que é a sociedade, qualquer que seja a sua forma? O produto da


ação recíproca dos homens. Os homens podem escolher, livremente,
esta ou aquela forma social? Nada disso. A um determinado estágio de
desenvolvimento das faculdades produtivas dos homens corresponde
determinada forma de comércio e de consumo. As determinadas fases
de desenvolvimento da produção, do comércio e do consumo
correspondem determinadas formas de constituição social,
determinada organização da família, das ordens ou das classes; numa
palavra, uma determinada sociedade civil. A uma determinada
sociedade civil, um determinado estado político, que não é mais que a
expressão oficial da sociedade civil. [...] As suas (dos homens)
relações materiais formam a base de todas as suas relações. (Grifo
nosso)

Na mesma linha do autor, entendemos que a sociedade é constituída por


relações socias que se realizam concretamente enquanto relações espaciais. Neste
sentido, a análise do espaço aponta um processo de produção/reprodução da sociedade
em sua totalidade.
Já Santos (1996) vê o espaço como uma totalidade que está sempre em
movimento, sempre se recriando e formando uma nova totalidade. A totalidade é onde
percebemos os sujeitos sociais, suas relações com a luta de classes, tensões e
contradições, o lugar de luta, entre outros. De modo que durante o percurso desta
pesquisa, entende-se a cidade não só como objeto estático, mas como um processo, que
transcende o objeto de estudo e é vinculado com o meio, sua economia e seus
produtores. A cidade é o centro da decisão política do urbano. O conceito de urbano
compreende o espaço em sua complexidade. Como diz Lefebvre (1991, p. 57): “A
cidade intensifica, organizando a exploração de toda a sociedade. Isto é dizer que ela
não é o lugar passivo da produção ou da concentração dos capitais, mas sim, que o
urbano intervém como tal na produção”.
Portanto, o urbano é o local de conflito entre as classes sociais que disputam a
apropriação do espaço, lócus das relações sociais de produção, que geram grande
desigualdade na organização do espaço. Por isso, entendemos a política urbana e o
planejamento como atividades operacionalizadas destinados a "dominar e submeter a

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sua urbanização ordem e prática urbana", e os mecanismos institucionais que
naturalizam escondendo uma estratégia de classe. Lefebvre (1972, p.156).
Nesta perspectiva, a pesquisa pretende abordar a importância do espaço para
compreender a complexidade do urbano e da cidade. Entendemos aqui que a sociedade
urbana é marcada por intensos conflitos que envolvem a produção do espaço, sendo este
o ponto fundamental para iniciar nossa análise. Tal como manifesta Carlos, (2001, p.
36):
A construção de cidade hoje, revela a dupla tendência entre a
imposição de um “espaço que se quer moderno”, logo homogêneo e
monumental, definido, ou melhor, “desenhado” como espaço que
abriga construções em altura associadas a uma rede de comunicação
densa e rápida, e de outro , “as condições de possibilidade”, que se
referem à valorização da vida (que se acham à espreita, de modo
compensatório), revelando uma luta intensa em torno dos modos de
apropriação do espaço e do tempo na metrópole - um processo que
ocorre de modo profundamente desigual, revelando - se em seus
fragmentos.

Nas linhas citadas, a autora manifesta que na cidade convivem duas lógicas,
uma que dá prioridade às formas espaciais homogêneas, um espaço urbano que coloca
como prioridade a circulação de pessoas e mercadorias e a outra, tem a ver com a
reprodução da vida, com a utilização de espaços públicos e que favorecem e incentivam
a ideia da cidade como um local de encontro. Trazendo estas considerações para o
empírico, a problemática desta dissertação perpassa pelo conflito entre a produção do
território capitalista e o território produzido e habitado pelos cidadãos.
Neste contexto, estudamos quais foram as estratégias de reestruturação urbana
em um trecho da bacia do Córrego do Barbado, em Cuiabá (capital do Estado de Mato
Grosso) e a ação dos principais agentes intervenientes na produção do espaço urbano
cuiabano. As tensões existentes e o conflito pela concorrência do solo nessa área em
particular, remete-nos a uma disputa territorial entre as diversas frações do capital e por
outro lado, encontram-se as pessoas que necessitam construir seus espaços e territórios
para garantir suas existências.
Esses conflitos urbanos, que são territoriais, originam-se quando existe uma
apropriação física do território, a qual previamente considera-se pertencente a um grupo
social determinado e que logo tem apropriado por outro agente produtor do espaço. Os
mencionados conflitos são protagonizados pelos principais grupos de atores que
interferem na construção da cidade: os empresários capitalistas, os promotores
imobiliários, o Estado em seu papel de planejador e articulador de interesses.
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O Estado de Mato Grosso, integrado às mudanças que vêm ocorrendo nos
últimos tempos na região Centro-Oeste, tornou-se um estado atrativo para os grandes
investidores, pois o mesmo atende às exigências e interesses do capital. Um estado que
anos atrás tinha signos de atraso, nos dias atuais se encontra totalmente inserido,
“perifericamente”, na economia global, com Cuiabá como grande receptora e mudando
para paradigmas urbanos mais modernos.
Escolhemos o território da bacia do Córrego do Barbado, já que constitui uma
área que é disputada pelos diversos setores e atores da sociedade formados por duas
territorialidades bem diferentes. Uma territorialidade é formada por um grupo de
famílias que há 20 anos moravam nas margens do córrego em situação de ilegalidade e
outra territorialidade é formada por interesses de fazer uma reestruturação urbana com
objetivo de realizar obras que favoreça mobilidade urbana para a cidade.
Sendo assim, esta pesquisa teve como objetivo fundamental, analisar a
produção do espaço urbano nesse trecho do Barbado e os conflitos que acarretam
intensificar um modelo de urbanização neoliberal que estrutura as desigualdades
socioterritoriais nas cidades. Analisamos também como o papel do estado na realização
das obras favorece e aprofunda um modelo de expansão de cidade.
Conforme este objetivo, a metodologia do trabalho vai seguir os alinhamentos
de uma análise integral da cidade em diferentes planos como o econômico, o político e o
social. Concordamos com Carlos (2001, p. 74, 75) quando nos ensina a melhor forma
para analisar a produção do espaço urbano:
Podemos adiantar que a análise da produção do espaço deve captar o
processo em movimento e, no mundo moderno, esta orientação
sinaliza a articulação indissociável de três planos: o econômico (a
cidade produzida como condição de realização da produção do capital
- convém não esquecer que a reprodução das frações de capital se
realiza através da produção do espaço), o político (a cidade produzida
como espaço de dominação pelo Estado na medida em que este
domina a sociedade através da produção de um espaço normatizado);
e o social (a cidade produzida como prática sócio-espacial, isto é,
elemento central da reprodução da vida humana).

A partir destes três planos, entenderemos a cidade e interpretaremos a produção


urbana e estrutura o trabalho em sua totalidade, embora a totalidade em si nunca seja
alcançada, pois a sociedade está em constante movimento, em constante vir a ser. Sendo
assim, procuramos compreender a produção do espaço urbano cuiabano em seu
movimento, buscando a explicação dentro de uma totalidade aberta, em diferentes
escalas geográficas (bairro, cidade, estado, país).

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CONTEÚDO

Esta dissertação abordará em primeiro lugar uma análise teórica sobre o espaço
geográfico, territorial e de lugar. Os mencionados conceitos nos ajudaram durante a
pesquisa e se converteram nas principais ferramentas para alcançar o entendimento da
realidade. Salientamos utilizar os conceitos como a base de toda ciência e a escolha dos
mesmos como uma obrigação ideológica e de método por parte do pesquisador. O
espaço geográfico como uma totalidade maior onde cabe a formação do Estado de Mato
Grosso, o espaço urbano cuiabano e as territorialidades do bairro. Finalmente, será o
conceito de lugar o que nos ajudará a entender os eventos e conflitos, a partir das falas
dos moradores que foram remanejados e as experiências no novo lugar de destino.
Em resumo, o primeiro capítulo trata dos fundamentos teórico-metodológicos
deste trabalho inseridos dentro do método do materialismo-histórico-dialético. Essa
postura nos imprime uma responsabilidade de posicionarmos criticamente e
politicamente em relação ao mundo. Dessa forma, é na Geografia crítica que está nossa
base para ler o mundo, lembrando que as Ciências Humanas e Sociais, nesta
perspectiva, têm um propósito interpretativo, visando à compreensão da sociedade. Este
capítulo também vai permitir refletir sobre os conceitos a serem utilizados e a
importância que tem a geografia como ciência explicativa. O diálogo com a leitura
marxista construirá um pensamento geográfico crítico e permitirá dispor de rica
ferramenta intelectual e política como investimento para entender a sociedade do capital
e o capitalismo no século XXI e, consequentemente, as relações sociais e as formas
espaciais.
No capítulo II analisamos a formação do Estado de Mato Grosso e sua capital,
fazendo um esforço para compreender a cidade de Cuiabá e sua formação, localização
geográfica, processo de reestruturação e crescimento urbano, estudando as práticas
socioespaciais que são materializadas no espaço através do tempo, e como as mesmas -
as intervenções urbanas – encontram-se inseridas na nova fase de internacionalização do
capital. Realizamos uma breve caracterização desse novo contexto chamado pós-
neoliberal- neodesenvolvimentista, na região da América Latina, através de novas forças
políticas de corte populista, a partir da assunção de certos governos na região. Permite-
se observar uma mudança com relação às décadas anteriores (1980-1990), com as
políticas sociais, as crises e a recessão econômica que vinham sofrendo os países da

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América do Sul (especialmente Argentina e Brasil, as maiores economias da região).
Mas também, observando uma série de continuidades e aprofundamento de um
capitalismo periférico e dependente dos países do Sul do continente. Com tudo isso,
chegamos a refletir como esse modelo de crescimento adotado pelas economias latino-
americanas - com base extrativista dos recursos naturais - coloca no centro, o espaço
como elemento principal da reprodução do capital.
No capítulo III, estudamos a produção do espaço urbano no contexto do avanço
das políticas neoliberais na cidade, caracterizando a reestruturação urbana em Cuiabá.
Pode-se dizer que o permanente processo de renovação urbana criou as bases espaciais
de produção através da substituição, renovação e ruptura das estruturas preexistentes.
No caso de Cuiabá, essa possibilidade de renovação urbana e seus impactos vêm ser
refletida por diferentes variáveis. O mais recente foi a escolha de ser cidade sede da
Copa do Mundo de 2014, a outra é o avanço da verticalização, a construção de
numerosos prédios destinados não só para utilização de moradia, senão também de
prédios comerciais destinados a concretizar os planos do “agronegócio”. Pode-se dizer
que há reestruturação urbana, vista de uma forma empreendedorista de cidade guiada
pelas políticas neoliberais e com o papel do estado como grande mediador entre o
capital e o espaço.
No mesmo capítulo, apresentaremos como foi o processo de ocupação do
Córrego do Barbado, problematizando a regularização fundiária na área e como a
construção da Avenida Parque do Barbado traz como consequência, a desapropriação de
numerosas famílias. Analisamos o papel do Estado, remetendo-se à ideia do Estado
como controlador, produtor e (re) produtor do espaço urbano.
O último capítulo caracteriza-se mais como uma crítica ao remanejamento e a
periferizacão da população nos Novos Complexos Habitacionais e as consequências
disso. Traz também uma reflexão acerca das formas de fazer a cidade pelos setores mais
vulneráveis. Atualmente, a crescente mercantilização do espaço urbano gera um efeito
que tende a limitar as possibilidades de acesso aos setores populares à cidade. Converter
a moradia em valor de troca e especulação faz com que o sonho da casa própria para a
maioria da população seja um desejo cada vez mais longe de alcançar. Portanto, neste
capítulo trazemos os relatos das pessoas do bairro Castelo Branco e suas experiências
afim de ter uma casa própria.
Nesta pesquisa, tentou-se entender a cidade contemporânea não só como algo
dado, porque entendemos a cidade como espaço produzido por quem o habita, tanto em

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seus aspectos de infraestrutura, econômicos, sociais e culturalmente através de
processos históricos, os quais estão em constante mudança. Essa forma de entender a
cidade é uma questão de método, onde olhamos a cidade não só como um produto dos
agentes capitalistas, mas também construída por sujeitos revolucionários. Por este
motivo, necessitamos resgatar os estudos de economia da cidade, já que o deslocamento
da economia política pela análise cultural contém consequências negativas para obter
uma ação política dentro dela. Na América Latina, a luta pela cidade precisa de um
encontro com a teoria e exige um posicionamento político. O desenvolvimento da
temática nos obriga a elaborar um “modo de pensar a cidade” e o urbano através da
geografia crítica, tendo como aspecto principal, a possibilidade de superação do
contexto de fragmentação que a cidade vive, na atualidade.

12
Capítulo 1:
Fundamentos
Teóricos e
Procedimientos
Metodológiocos

“Para poder encontrarse, primero hay


que tener el coraje de perderse”
(Graffiti na cidade de La Paz, Bolívia).

13
1.1 Sobre a importância de utilizar e estudar os conceitos na pesquisa geográfica

Quando um pesquisador começa abordar uma temática deve definir com clareza
as construções metodológicas que vão ser utilizadas em sua pesquisa. Se pensarmos que
para entender a realidade, precisamos erguer “edifícios” que nos permitam enxergar
melhor; os “tijolos” fundamentais serão os conceitos a utilizar, afirma Santos (1996 p.
74).
A definição do significado do conceito é um exercício intelectual do
movimento entre o abstrato e o concreto ou do movimento entre o
método (pensamento pensante), a teoria (pensamento pensado) e a
realidade. É a intencionalidade que vincula o sujeito ao objeto, ou o
pensador e o conceito pensado.

Isto quer dizer que, serão, através das lentes metodológicas- método- e a
estrutura de conceitos a utilizar formamos um esquema para aproximarnos a nosso
objeto de estudos.Assim todo conhiecimnto é produzido pelo ser humano com
determinada finalidade. Portanto, o conhecimento nunca é neutro, ainda mais, está
comprometido com o perfil ideológico e o discurso do pesquisador. Porém, exige-se um
posicionamento teórico, este posicionamento é fruto de nossa concepção de mundo e da
sociedade. Neste contexto, Fernandez (2008 p. 288) manifesta o seguinte;

Os conceitos ganham significados diferentes, de acordo com as


teorias, os métodos e as instituições. Pensadores vinculados a
diferentes correntes teóricas, como por exemplo, o Positivismo, o
Neopositivismo, o Materialismo Histórico, a Fenomenologia elaboram
distintas significações dos conceitos de Espaço e Território para
realizarem diferentes interpretações.

Nota-se que o papel dos conceitos em cada método vai ser bem diferente. Essas
reflexões e questionamentos são importantes sobre a forma em que se constrói o
conhecimento cientifico, o qual aparece em nossa ciência com o advento da Geografia
Critica. É a Geografia Crítica e ou Marxista que rompe a neutralidade no estudo da
Geografia, pela criticidade à cojuntura social, econômica e política do mundo,
estabelecendo uma visão critica frente aos problemas e interesses que permeiam as
relações de poder e propõe a pro - atividade frente às causas socias injustas. Sobre o
papel da geografia crítica, Moreira (1982, p.47) afirma que:
Pode-se dizer que a Geografia Crítica é uma frente, onde obedecendo
a objetivos e princípios comuns, convivem propostas díspares. Assim,
não se trata de um conjunto monolítico, mas, ao contrário, de um
agrupamento de perspectivas diferenciadas. A unidade da Geografia

14
Crítica manifesta-se na postura de oposição a uma realidade social e
espacial contraditória e injusta, fazendo-se do conhecimento
geográfico uma arma de combate à situação existente. É uma unidade
de propósitos dada pelo posicionamento social, pela concepção de
ciência como momento da práxis, por uma aceitação plena e explícita
do conteúdo político do discurso geográfico.

A diversidade a pluralidade de pensamentos, opiniões, critérios, se aproxima


coexistir simultaneamente em nossa ciência e na vida acadêmica em geral.De modo que
a adoção de uma perspectiva de compreender os fenômenos de estudo envolve a escolha
de quadros de referência e suas filiações histórico-políticos. Desta forma é na Geografia
crítica que está nossa base para ler o mundo, lembrando que as Ciências Humanas e
Sociais tem como propósito interpretativo a compreensão da sociedade. Assim, as
ciências sociais mostram um interesse tendencioso na explicação dos problemas e dos
conceitos.
Em consequência a escolha da geografía critica diferenciando de outras
correntes de pensamento geográfico traz uma explicação diferente a outras correntes da
geografia e se caracteriza por realizar uma critica do modo capitalista de produção.
Godoy (2010 p.154) refere-se as principais diferenças do seguinte modo:

O conflito que se armou entre as propostas da geografia crítica e as


concepções da geografia funcionalista estavam centrados, sobretudo,
nas opostas visões de mundo entre os que pretendiam desenvolver
uma geografia em defesa do desenvolvimento capitalista e, por tanto,
um discurso em defesa dos interesses da classe dominante, e os que
pretendiam construir uma geografia que fosse em si mesma, uma
crítica às desigualdades sociais produzidas pelo desenvolvimento
contraditório do modo de produção capitalista.

Com a escolha da geografia crítica buscamos mostrar a produção do espaço


urbano e suas injustiças.Pensá-lo como um produto social e político, como uma “arena”
de conflitos produzidos e contextualizados pelo modo capitalista de produção.
Sendo assim a presente análise geográfico tem como objetivo geral analisar a
produção do espaço urbano no trecho do Barbado e os conflictos que acarrea
intensificar um modelo de urbanização neoliberal que estrutura as desigualdades
socióterritoriais nas cidades. Assim, a "produção do espaço" torna-se uma categoria
central de análise permitindo-nos uma abordagem para as dinâmicas urbanas atuais,
para entender bem a processos que moldam as cidades, os diversos atores sociais que
produzem e materiais ligações com processos econômicos-políticos.

15
Para alcançarmos o objetivo geral, posto anteriormente, pretende-se entender a
importância do espaço, dentro do marco dos processos atuais de reestruturação
económica e produtiva a partir do avanço das políticas neoliberais.Analizar as
estratégias de urbanização pelo Estado e pelo capital na produção do espaço urbano
cuiabano. A partir daí, refletiremos sobre a realidade contemporânea da cidade que
passa por crescente processo de intervenções urbanas, principalmente de mobilidade,
em virtude da Copa do Mundo 2014. Esses investimentos públicos e privados incidem
na mercantilização do solo urbano acarretando a desintegração da vida dos moradores
nos lugares escolhidos para as intervençãoes aprofundando as desigualdades sociais.
Concomitantemente pesquisamos sobre os processos de expropriação e desapropriação
do bairro Castelo Branco e o conflito entre a produção do espaço capitalista e o espaço
produzido e habitado pelos cidadãos.
Em quanto à metodologia o trabalho tem abordagens e estratégias diferentes e
complementares que envolvem: a) o estudo da bibliografia pertinente em livros, artigos,
legislações e jornais de grande circulação, acrescido de um levantamento de
documentos sobre a cidade de Cuiabá; b) pesquisa de campo através de visitas in loco
em diversos pontos da cidade associada à nossa análise. Além disso, realizamos
entrevistas com os moradores da nova área de urbanização, líderes de bairros e
servidores de algumas secretarias da prefeitura municipal, para atender os objetivos
específicos de nossa pesquiza.
Por razões de tempo e possibilidades materiales foi necessário seleccionar uma
mostra das 20 familias remanejadas. Dado o nosso objetivo o criterio de escolha teve a
ver com as possibilidades de contactar os sujeitos, grupos de representatividade do caso,
em termos qualitativos, mas não quantitativos. Dimos proridade as família que
expressou publicamente mais fortemente no conflito com a situação de transferência.
Como assim nos encontros que ocorreram espontaneamente em nas duas visitas feitas
com objetivo de conhecer o novo Bairro. Neste sentido, temos dirigido nossas
entrevistas tanto para jovens como para adultos, porque acreditamos que ambos tiveram
diferentes experiências sobre viver no Residencial.

1.2 A preocupação por o espaço


El espacio ha sido conformado y moldeado a
través de elementos históricos y naturales, pero
siempre este ha sido un proceso político. El
espacio es político e ideológico es un producto
lleno de ideologías. El espacio que parece ser
homogéneo, que parece ser completamente

16
objetivo en su forma pura, así como lo
estimamos es un producto social como todo, el
espacio es un producto histórico
(LEFEBVRE, 1976)2

Confrontado com a necessidade de abordar uma realidade, a compreensão do


espaço geográfico se tornará essencial.Desde o fim do século XIX, a Geografia tem se
desenvolvido sob diversos enfoques científicos, cada um dos quais é atravessado por
diferentes conceitos e por um método de aproximação a seu objeto do estudo. Em cada
novo paradigma, o espaço geográfico tem sido tratado de diferentes maneiras: como um
determinante, como um possibilitante, como um contenedor de relações e recursos,
como una construção social, e como uma representação simbólica mais relacionada com
as percepções mental e dos indivíduos. Por isso que acreditamos ser necessário
esclarecer como o espaço é visto pelas distintas escolas de pensamento. Desta maneira,
destacam- se as geografias de filosofia positivista (geografia quantitativa, geografia
analítica), as geografias baseadas no sujeito (geografia humanística e posmoderna); e as
de filosofia radical (geografia marxista e anarquista). Estas correntes de pensamento
com seus paradigmas correspondentes têm coexistido em tempos diferentes e formam a
base de nossa ciência.
Nas perspectivas teóricas de corte positivista, o espaço é passivo frente as ações
humanas, ele é um palco onde acontecem os fenômenos, e segundo Godoy (2010 p.
155).
No século XIX, a concepção de um conhecimento apoiado na
descrição dos lugares, colocou a geografia sob a égide da análise
regional: uma ciência empírica, descritiva e de síntese. Uma primeira
manifestação dessa filiação positivista de nossa ciência está na
redução da realidade ao mundo dos sentidos, isto é, em circunscrever
todo trabalho científico ao domínio da aparência dos fenômenos.

Portanto, o espaço geográfico, segundo a escola positivista coloca o foco na


descrição, medição e localização do mesmo, ou seja, o espaço não participa, não atua,
não intervém na construção do fenômeno.Salvo por algumas mudanças em sua
aparência. Mas, o espaço continua igual. Pode- se dizer que o espaço cumpre um papel
passivo frente as transformações e não constitui um conceito explicativo.
Por outro lado, entender os espaços geográficos do o ponto de vista das relações
que existem entre a economia, a cultura, a política e as condições físico-naturais,
constitui exemplos da mudança da geografia tradicional com outra maneira de fazer

2
Lefebvre, H. Espacio y política, península, Barcelona, 1976.

17
geografia. Entretanto, para a geografia baseada no sujeito (geografia humanística e
posmoderna) o espaço é visto como uma perspectiva mais social, as subjetividades e as
percepções individuais, os constituem a base da formação do espaço geográfico.
Portanto os indivíduos através da apropriação do espaço, dao sentido aos lugares. Esta
nova maneira de entender o espaço geográfico vem destruir o enfoque “frio e medível”
da escola positivista e talvez até superár-ló. Afirma Beltrán (2013, p 14)

El espacio es, pues, vivencia, experiencia cotidiana, resignificación a


partir de la propia interacción del individuo. Los individuos
particularmente considerados fabulan sobre el espacio, llenan de
sentido los lugares y al nombrarlos imprimen una naturaleza ulterior,
más rica, más compleja.

Mas, cabe refletir se o espaço é uma produção social que surge de uma prática
do cotidiano; qual é o ator ou atores que organizam esse espaço?Ele segue a alguma
lógica? Tem uma superestrutura que vai além das relações do cotidiano? A melhor
resposta a essas interrogações é oferecida por Marx quando diz que são nossas relações,
as relações de produção.

[...] na produção social da própria vida, os homens contraem relações


determinadas, necessárias e independentes de sua vontade, relações de
produção estas que correspondem a uma etapa determinada de
desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. A totalidade
dessas relações de produção forma a estrutura econômica da
sociedade, a base real sobre a qual levanta uma superestrutura jurídica
e política, e à qual correspondem formas sociais determinadas da
consciência. O modo de produção da vida material condiciona o
processo em geral de vida social, político e espiritual. Não é a
consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, é
o seu ser social que determina sua consciência.
(MARX, 1859-1982, P. 25 apud CASTELO, 2012) ·.

A concepçõe das relações sociais e das relações de produção dentro do espaço


irão aparecer com a irrupção do marxismo na geografia na década de 1970 com o
surgimento da geografia crítica. Segundo Segato, (2006) apud Beltrán, (2013 p.141).

La corriente crítica conocida como geografía radical, revolucionó la


visión sobre el espacio destruyendo el simplismo fisicalista e
instaurando en el centro del debate la construcción social del espacio
como un proceso social complejo y dialectico. Gracias a ello, la
percepción del espacio se ha enriquecido y se ha nutrido de lo cultural,
lo político y lo económico; con todo ello, el espacio se ha vuelto
político y territorio, se ha convertido en teatro de la lucha por el poder
que es influenciado e influencia la acción social.

18
Assim, entende-se o espaço geográfico produto e condicionador das relações
sociais, o que implica pensar na relação dialética sociedade/ espaço (um se realizando
no outro e através do outro) Portanto, o espaço é uma parte da produção da sociedade
produto das inter-relações, ou seja, está em processo de formação, em constante
transformação, nunca como algo dado. Como frisa Santos(1996 p. 26-27) acerca da
dimensão espacial na reprodução da sociedade.

El espacio reproduce la totalidad social en la medida en que esas


transformaciones son determinadas por necesidades sociales,
económicas y políticas. Así, el espacio se reproduce en el interior de la
totalidad, cuando evoluciona en función del modo de producción y de
sus momentos sucesivos.

O conceito do modo de produção capitalista é um conceito teórico, que não é um


objeto existente no sentido estrito (o modo de produção capitalista não existe no sentido
estrito, só existem formações sociais que domina o modo de produção capitalista).Mas
no entanto, é essencial para o conhecimento de qualquer formação social sob o domínio
deste modo de produção capitalista.Não tem modo de produção sem espaço, nem tem
espaço sem a dominação de um modo de produção.
Então, cabe refletir: é o espaço a totalidade? E o modo de produção a
singularidade dento dos espaços geográficos? Santos (1982 p. 14) em “Espaço e
Sociedade” responde da seguinte maneira.A totalidade abstrata, que é o modo de
produção, é feito na totalidade concreta, que é a formação social, ou seja,” os modos de
produção tornam-se concretos em uma base territorial historicamente determinada”.
Portanto, o espaço geográfico está constituído de totalidades, mas a sua vez
também é uma totalidade formada por totalidades submetidas a um período
determinado. Silveira, (2014 p.148) afirma o seguinte; “es en su realidad concreta y
dinámica el proceso histórico el que nos deja ver la formación social, la cual se refiere
a una sociedad históricamente determinada en su movimiento”.
Outra autora que também contribui para esta discussão é Massey (2008, p. 89),
quando afirma que o espaço deve ser entendido como uma produção aberta e contínua,
chamando a atenção para a incorporação da ideia de movimento, de contínua construção
do espaço. A autora entende o espaço como “uma multiplicidade discreta, cujos
elementos, porém, estão, eles próprios, impregnados de temporalidade”. Dessa maneira
voltamos á citação de Lefebvre onde manifesta que o espaço é um produto histórico.

19
Com respeito a esta relação entre espaço e tempo no espaço geográfico, Pires (2008
p.70) diz que:
Neste contexto, o espaço geográfico é a coexistência das formas
herdadas, reconstruídas sob uma nova organização com formas novas
em construção, ou seja, é a coexistência do passado e do presente ou de
um passado reconstituído no presente. È na totalidade complexa-o
tempo/espaço- que poderá ser estabelecida a relação sistêmica,
garantindo ações simultâneas entre partes e todo, entre local e global.

A relação entre -espaço / tempo- e entre o global /local- nos dá a entender que o
espaço não é sempre o mesmo, porque ele, responde a uma construção ao longo do
tempo, e também de intervenções fora do local. Desta forma, num mesmo espaço
coabitam tempos diferentes, resultando daí diversas inserções do lugar no sistema ou na
rede mundial (mundo globalizado).
Neste sentido, a cidade contém revelando ações passadas, a qual se constrói nas
tramas do presente resultado dos agentes que atuam nele. Quando pensamos na cidade
não podemos esquecer que ela, não só expressa a estrutura social presente, como
também o resultado de cada período, como afirma Carlos (2007 p.40).
A possibilidade do entendimento do espaço geográfico enquanto
produto histórico e social abre perspectivas para analisar as relações
sociais a partir de sua materialização espacial, o que significa dizer
que a atividade social teria o espaço como condição de sua realização.
Deste modo, as relações sociais realizam-se concretamente através de
uma articulação espaço-tempo, o que ilumina o plano do vivido, ou
seja, a vida cotidiana e o lugar. Assim, as reproduções de relações
sociais materializam-se em um espaço apropriado para este fim, e a
vida, no plano do cotidiano do habitante, constitui-se no lugar
produzido para esta finalidade e é nesta medida que o lugar da vida
constitui uma identidade habitante-lugar.

No lugar materializa as relações de ordem próxima – relação cotidiana, de


grupos sociais e de ordem distante – do Estado, e das Intuições. A cidadania envolve o
sentido que se tem desse espaço e do lugar em que se estabelecem as relações sociais. O
espaço se torna social pela apropriação através do uso social, da simultaneidade, do
encontro, da reunião, potencializando as ações humanas para além dos aspectos
econômicos e político.
Por su parte, o espaço para Santos (2008, p. 63), “ é formado por um conjunto
indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de
ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se
dá”. Fica claro que o espaço para o autor é sempre este conjunto, que está
constantemente interagindo, com os objetos condicionando as ações e as ações criando

20
novos objetos e dotando-os de funcionalidades. Também, as modificações no espaço
não são homogêneas, elas são heterógenas e se confundem paradoxalmente no tempo e
espaço, sendo que diversos vestígios do passado se mantém na paisagem dos lugares
criando identidades e referências. Estas são chamadas de rugosidades, definidas por
Santos (2002 p.140) quando afirma:
Chamemos de rugosidade ao que fica do passado como forma, espaço
construído, paisagem, o que resta do processo de supressão,
acumulação, superposição, com que as coisas se substituem e
acumulam em todos os lugares. As rugosidades se apresentam como
formas isoladas ou como arranjos.

Um exemplo do que foi abordado anteriormente, pode se observar no centro


antigo da cidade de Cuiabá, cujas formas das ruas estreitas refletem a formação social
da época da mineração, século XVIII. As formas das ruas deixam uma “marca
histórica” -rugosidades- impressa no espaço e constituem um conjunto indissociável do
espaço-tempo e as relações que se constroem no cotidiano desse lugar
Embora, há de se considerar que a produção do espaço urbano contemporâneo é
marcada pela produção alienada. O espaço, lugar do cidadão, se torna cada vez mais
ocupado pelas estratégias de mercado e do Estado, a casa, a terra, a cidade, entra no
circuito das trocas e assim o espaçoé pulverizado e generalizado mundialmente pelo
modo de produção capitalista.Segundo De Jong (2001p51):

El espacio como producto social es cada vez menos el resultado


exclusivo de la sociedad que lo habita, de su estilo propio de
organización de la circulación, de sus formas de asentamiento, de la
tecnología propia utilizada para dominar los recursos y las distancias.
Es por el contrario, el resultado del sistema social de alcance
globalizado con su correlato de formas de dominación y sus efectos
sobre esas y otras variables de alta respuesta en la organización del
territorio.

Pode se dizer que as configurações resultantes dessas formas em qua a


sociedade habita um espaço através do espaço construído imprimidas na paisagem
urbana, tanto isoladas como em forma de arranjo formam parte de um movimento
ininterrupto chamado processo de produção do espaço e de territórios. (Grifo nosso)

1.3 A luta pela apropriação do espaço geográfico: Territórios em disputa.

“O território se conquista”, sendo assim


“luta social convertida em espaço”
(ZAMBRANO 2001 P. 31)

21
Neste trabalho, adotaremos ao território como um conceito que possibilita
entender a luta pelo solo urbano nas margens do córrego do Barbado, já que a formação
desse território tem a ver com muitos processos particulares da cidade tanto de sua
formação e evolução e com atuação dos diferentes atores sociais. O território, entenda-
se da seguinte maneira

O território não é apenas o resultado da superposição de um conjunto


de sistemas naturais e um conjunto de sistemas de coisas criadas pelo
homem. O território é o chão e mais a população, isto é, uma
identidade, o fato e o sentimento de pertencer àquilo que nos
pertence. O território é à base do trabalho, da residência, das trocas
materiais e espirituais e da vida, sobre os quais ele influi. Quando se
fala em território deve-se, pois, de logo, entender que se está falando
em território usado, utilizado por uma dada população. (SANTOS,
2001 p.97-98)

Essa projeção faz cada grupo social das suas relações das suas necessidades, de
organização do trabalho, cultura e poder em um espaço é o que transforma o espaço de
experiência e produção em um território. A apropiação e transformação do espaço por
meio de uma sociedade envolve a construção de um território, a sua utilização,ou seja o
território usado. A questão da projeção em um espaço de certas estruturas também está
em obras de Claude Raffestein, para quem o território é o resultado de uma ação
realizada por um determinado ator que concreta ou abstratamente. Assim, o autor afirma
que "o território é formado a partir do espaço". Dessa maneira Raffestein, (1993, p. 166)
diz.
O território se forma a partir do espaço, por isso ele se apoia no
espaço, mas não é espaço. É uma produção, a partir do espaço.
Qualquer projeto no espaço que é expresso por uma representação
revela a imagem desejada de um território, de um local de relações.
Não podemos esquecer que o território é produzido pela ação do
homem no espaço, onde a sua configuração revela tanto as relações de
produção como as relações de poder, ou seja, de sua existência.

O territorio ligado as relações de poder é novo na geografía, ja que durante


grande parte do século XX,o conceito de território se preocupaba mais por ser uma
ferramenta que girava em torno da defesa da soberania territorial, questões de fronteiras
e competição para ocupar espaços considerados estratégicos. O conceito de território
encontrava- se associado a uma delimitação fixa e a uma defesa da propriedade privada.
Desenvolvido sob o signo do utilitarismo e com base na economia
neoclássica.Portanto,o território serviu como um conceito fundamental na expansão do
capitalismo

22
Nota- se nas abordagens territoriais tradicionais predominam uma acepção do
termo como uma unidade geográfica determinada como limites fixos, quer dizer que
supõe pensar em espaços delimitados. “Registre-se que, no século XIX, já estava
presente o entendimento natural de território, no bojo do conceito de espaço vital de
Frederich Ratzel” pois, Ratzel sustentaba que o Estado surge quando uma sociedade se
organiza para defender seu território, sendo essa sua função primordial (LIMA 2012).
Fernandez (2008 p.280) realiza a critica a essa forma de olhar o territoria quando diz:

Quando o território é concebido como uno, ou seja, apenas como


espaço de governança e se ignora os diferentes territórios que existem
no interior do espaço de governança, temos então uma concepção
reducionista de território, um conceito de território que serve mais
como instrumento de dominação por meio das políticas neoliberais.

De modo que falar de território como uma visão estática limita- nos, já que na
atualidade existem numerosos exemplos que desafiam essa teoria. Os territórios hoje
não respondem só a limites nacionais. Observa- se, também que dentro do território não
operam só atores que vivem no lugar e que “habitam” o mesmo, pois existem atores que
podem exercer territorialidade sem o fato necessário de morar nele e ser parte ativa da
construção desse território.
Concordamos com Souza, (2013) quando diz, que “o território inscrito no
espaço geográfico é essencialmente marcado por relações de poder”. Serão através das
distintas relações de diferentes atores- estados locais, agentes privados, movimentos
sociais- que vão se criando novas territorialidades. Com tudo isto pode se dizer que a
construção territorial do espaço não constitui uma apropriação individual, sendo uma
relação social contraditória onde as lutas pelo poder e a própria formação econômica
joga um papel primordial. Poderíamos dizer, então que o território é uma relação de
dominação e apropriação da sociedade e por um determinado setor dessa sociedade.
Por sua parte, Fernandez, (2008 p.279) traz aqui uma outra chave para entendê-
lo:o território como categoria explicativa dos diversos conflitos que se dão dentro dos
distintos espaços geográficos. O autor manifesta o seguinte:

[..] é necessário lembrar seus atributos:cada território é uma


totalidade, por exemplo: os territórios de um país, de um estado, de
um município ou de uma propriedade são totalidades diferenciadas
pelas relações sociais e escalas geográficas. Essas totalidades são
multidimensionais e só são completas neste sentido, ou seja,
relacionando sempre a dimensão política com todas as outras
dimensões: social, ambiental, cultural, econômica etc. Compreender

23
essas relações é essencial para conhecermos as leituras territoriais
realizadas por estudiosos de diversas áreas do conhecimento.

Então, para poder compreender o que é um território é preciso considerá-lo


como produto do trabalho de uma sociedade, com toda a sua complexidade econômica e
cultural. Neste contexto vale lembrar Oliveira (1999 p.74) quando afirma que:

O território deve ser apreendido como síntese contraditória, como


totalidade concreta do processo/modo de
produção/distribuição/circulação/consumo e suas articulações e
mediações superestruturais (políticas, ideológicas, simbólicas, etc.) em
que o Estado desempenha a função de regulação. O território é, assim
produto concreto da luta de classe travada pela sociedade no processo
de produção.

De modo que o território é, então, antes de tudo uma espécie de relação social,
política e simbólica que liga o homem a sua terra e, simultaneamente, estabelece sua
identidade cultural. Na geografia numerosos autores trabalham com o conceito de
território como una concepção idealista que carregam ao território um valor simbólico.
Em palavras de Lima (2012 p. 129) “o sentimento de pertença e a identidade cultural,
endossada a través de símbolos, constroem ou desconstroem o território.”O sentimento
de pertenencia a um lugar forma territorialidad. Santos (2001 p.62) explica no seguinte
parrafo essa ligação com o território desta maneira.

[..] uma territorialidade absoluta, no sentido de que, em todas as


manifestações essenciais de sua existência, os moradores pertenciam
àquilo que lhes pertencia, isto é, o território. Isso criava um sentido de
identidade entre as pessoas e o seu espaço geográfico, que lhes
atribuía, em função da produção necessária à sobrevivência do grupo,
uma noção particular de limites, acarretando, paralelamente, uma
compartimentação do espaço, o que também produzia uma idéia de
domínio. Para manter a identidade e os limites, era preciso ter clara
essa idéia de domínio, de poder.

Nestas condições, compreende-se que maneira o significado político do


território traduz um modo de recorte e de controle do espaço, garantindo sua
especificidade, e serve como instrumento, ou argumento para a permanência e a
reprodução dos grupos humanos que o ocupam. Este vínculo do home com o espaço
ocupado nos remete à discussão sobre identidade territorial. Haesbaert (2007) é enfático
ao afirmar que a identidade territorial somente se efetiva quando se torna elemento
central para a identificação e ação política de um grupo social e este se reconhece de
alguma forma, como participante de um espaço e de uma sociedade comum. A
propósito da territorialidade é definida por Sack Apud Haesbert (2007 P. 37) como” a
24
tentativa por um indivíduo ou grupo para obter / afetar, influenciar e controlar as
pessoas, fenômenos e relações, por meio da delimitação e afirmar o controle sobre uma
área geográfica”
A reflexão esboçada pelo auotor nós leva a pensar que, a formação de
territórios necessariamente traz um processo de fragmentação do espaço. Os seres
necessitam construir seus espaços e territórios para garantirem suas existências, ou seja
seu: lugar. Nesse sentido, a cidade torna-se um emaranhado de múltiplos territórios que
se apresentam em grande e pequena escala. Essas divisões são produzidos pela
diversidade de possibilidades de consumo e habitação no espaço urbano.
O território na cidade pode ser refletido pelo bairro, por que estudar o bairro
como um território? Porque um bairro é um espaço delimitado, mais os limites não são
fixos, sendo, mas bem culturais, econômicos e identitários e dominado, sobretudo pelas
relações de poder.
Analogamente, fica claro que, para além do “território”, outros conceitos
geográficos podem e devem ser convocados a prestar sua contribuição: como o caso de
“lugar” que talvez, nós ajude a explicar ainda mais a ligação que se tem com um
determinado território e como espaço importante na resistência diante o avanço de
outras territorialidades “universalizantes”, já que vale dizer, tal que a territorialidade de
um bairro se inscreve no universo da moradia, relacionando- se, no sentido do habitat
do usuário associado ao uso cotidiano do bairro.

1.4. Lugar, a categoria para conhecer o Território e suas singularidades.

O problema da redefinição do lugar emerge como uma necessidade diante do


processo de globalização, que se realiza, hoje, de forma mais acelerada do que em
outros momentos da história.Apresentaremos a reflexão de Freire (1995, p.25) como
chave para começar pensar o lugar
Antes de tornar-me um cidadão do mundo, fui e sou um cidadão
do Recife, a que chegei a partir do meu quintal, a que se
juntaram ruas, bairros, cidades. Quanto mais enraizado na
minha localidade, tanto mais possibilidades tenho de espraiar,
me mundializar. Nenguém se torna local a partir do universal.O
caminho existencial é o inverso. Eu não sou antes brasileiro
para depois ser recifense. Sou primeiro recifense,
pernambucano, nordestino. Depois, brasileiro, latino-americano,
gente do mundo.

25
O problema da redefinição do lugar emerge como uma necessidade diante do
processo de globalização, que se realiza, hoje, de forma mais acelerada do que em
outros momentos da história.um palco de grandes transformações que a sua vez são
velozes, qualitativas e simultâneas.De modo que, na construção social do espaço, o
conceito de lugar começa um jogo que se contrapõe o conceito de espaço homogêneo,
ilimitado e absoluto.
O conceito de lugar foi, desde a década de 1970, fortemente influenciado pela
corrente chamada de Geografia Humanística, nas Ciências Humanas e na geografia, em
particular. Os lugares são assim constituídos pelas relações sociais projetadas no espaço
e estão diretamente relacionadas a como vivenciamos os espaços através da experiência
pessoal e intransferível que é o instrumento dos nossos corpos e seus sentidos. É por
meio da escala do lugar que compreenderemos a produção da cidade, nas práticas
sociais cotidianas, que evidencia as determinações de outros agentes, processos e
escalas.Como afirma (LEFEBVRE apud CARLOS, 1992 p.23)

A vida cotidiana nos revela a aparência da cidade, as formas espaciais,


a ordem, a fragmentação, a racionalidade que “escondem” a as
relações sociais, o com o cotidiano é uma construção: a sociedade se
organiza e constrói seu cotidiano seguindo uma ordem. No cotidiano,
a separação homem-natureza, o exacerbamento do individualismo, a
fragmentação dos indivíduos, ideias e trabalho aparecem com toda a
força”. Ao compreendermos as relações sociais presentes no
cotidiano, a partir das formas, das aparências, da repetição, o
cotidiano, também se apresenta como “lugar da confrontação que
emerge na luta entre o permanente e o mutável” (grifo do autor)

Em outras palavras, o cotidiano contém “a reprodução das relações de


produção”. Para a autora, no espaço estão as possibilidades abertas pelas práticas
espaciais através das lutas que emergem no cotidiano.Será no cotidiano que se poderá
refletir as diferenças, as lutas urbanas.Por esse. Motivo é primordial conceber o
cotidiano nesta per perspectiva, servindo à análise da realidade. Por su parte Ortigoza
(2010 p. 159) traz também uma afirmação sobre o cotidiano e diz

A partir do cotidiano não generalizamos o domínio do mundial no


lugar, pois necessariamente estaremos considerando o viver (que está
no plano social) e o vivido (que está no plano pessoal) e encontrando
nessas relações mútuas e identificação dos indivíduos com sua
história, que é local.

É nesse sentido que a escala territorial do bairro do local, toma grande relevância
na análise empreendida, à medida que possibilita uma maior visibilidade dos dramas e

26
dos conflitos sociais enredados no lugar atinentes à reprodução social e às
transformações urbanas. Segundo Carlos, (2001 p. 35)

[..] a porção do espaço apropiável para a vida, revelando o


plano da microescala: o bairro, a praça, a rua, o pequeno e
restrito comércio que pipoca na metrópole, aproximando seus
moradores, que podem ser mais do que pontos de troca de
mercadorias, pois criam possibilidades de encontro e guardam
uma significação como elementos de sociabilidade.
Utilizaremos a escala do bairro para entender os vínculos que
tem a população com o território o com o lugar, dado que é o
bairro que constitui na circunscrição espacial do habitar, da
vivência e das múltiplas relações para a identificação dos
processos da vida urbana, pela qual o bairro implode, provocar
impactos substanciais nas formas de uso e apropriação desse
espaço.

Na vida prática cotidiana se manifesta concretamente a concentração da riqueza,


do poder e da propriedade – manifestando pelas desigualdades nas formas de acesso à
moradia e aos espaços urbanos (mercantilizados), aos transportes urbanos, que expressa
a separação do cidadão da centralidade, do seu local de trabalho, cultura e lazer.
Reivindica- se ao lugar e o bairro como o lugar mais próximo para as pessoas, como
possibilidade de resistir as dinâmicas desumanizantes do capital como lugar de encontro
por sobre todas as coisas.Ressalta- se a importância do lugar para o entendimento das
resistências sociais desenvolvidas contra a globalização neoliberal, e reivindica neste
sentido o papel jugado pelos movimentos identitários que fazem um uso potenciado de
seu caracter local para projectar sua luta contra o global, o lugar resulta central para a
circulação de pessoas e de capital . (ESCOBAR apud BELTRAN, 2013)
Por consiguente, observa- se a importancia de reivindicar a importância do local
para projetar-lo e defender-lo ante as tendências de mudar os “lugares” em âmbitos
desumanizados e expostos a tendências mundializadadoras. Conforme afirma Massey
(2000, p. 179), “há muito mais coisas determinando nossa vivência do espaço do que o
capital', acreditamos que a experiência cotidiana dos lugares sofra variações de acordo
com as características de cada grupo ali presente”.
Estudar como foi o processo de ocupação da bacia do córrego há muito tempo
em forma de assentamentos informais vai nos dar como esse lugar perde frente a outras
lógicas que vem com a ideia de apagar as identidades locais e as de lugar provocando
tensões contra outras lógicas mais globais o da mesma forma estaduais ou formal.
Segundo Silveira (2004 p. 160)

27
No podemos dejar de señalar que se dan tensiones permanentes entre:
la lógica de los fragmentos que se vacían de su función anterior pero
permanecen como formas; los lugares y la formación socioespacial; la
formación socioespacial y el período o el modo de producción; los
eventos de la globalización -regidos por actores capaces de crear una
extensión planetaria- y las formas en los lugares. Como resultados de
esas tensiones, encontramos la modernización selectiva, la
diferenciación geográfica, la valorización desigual.

Neste sentido o espaço é fragmentado para conferir a reprodução ampliada do


capital e gera as contradições espaciais, aprofundando as desigualdades:A análise da
relação global-local pode contribuir para que possamos entender o papel do espaço
hoje.Tornase necessario conhecer o movimento do universal para o particular e do
particular para o universal para compreender a lógica que forma os espaços, percebendo
a sua influência na experiência cotidiana das pessoas. Santos (1996) define ao lugar
como uma dimensão da existência que se manifesta através de um cotidiano
compartilhado entre as pessoas, as instituições que traz relações tanto de cooperação
ecomo de conflito. As tensões, o choque formarão novos lugares, novas totalidades
fragmentos de cidade, formas, diferenciadas em um mesmo espaço geográfico, e essas
mudanças do lugar faz diferenciar- se de outros bairros, cidades, etc.
Resulta-nos uma boa opção fechar o presente capitulo com a frase de Milton
Santos onde explica a importância de nossa ciência e a intenção de encarar os trabalhos
de geografia a partir da aplicação dos conceitos anteriormente mencionados.

A Geografia alcança neste fim de século a sua era de ouro, porque a


geograficidade se impõe como condição histórica, na medida em que
nada considerado essencial hoje se faz no mundo que não seja a partir
do conhecimento do que é Território. O Território é o lugar em que
desembocam todas as ações, todas as paixões, todos os poderes, todas
as forças, todas as fraquezas, isto é onde a história do homem
plenamente se realiza a partir das manifestações da sua existência. A
Geografia passa a ser aquela disciplina mais capaz de mostrar os
dramas do mundo, da nação, do lugar.
(SANTOS, 2002, P. 9).

O autor nos leva pensar a importância da geografia para explicar os conflitos da


actualidad, através do conceito de território. É no território onde acontecem as relações
socias , as relações de poder de apropiação. Também é o territorio um conceito
construido , de lógicas e relações passadas, mas que está sendo mudada no presente com
novas territorialidades que vislumbram um futuro destruindo cada vez mais as lógicas
que tem que ver com o vinculo ao mais próximo das pessoas, a seu lugar. Mudando as

28
práticas cotidianas da população.Por isso mesmo, serão a partir dos estudos geográficos
que devemos enfrentar e permitirmos um saber capaz de compreender essas
transformações no espaço e no territórios e ajudar a problematizar e transformar o
mundo. Entender o espaço como un espaço a disputar, constitui uma ferramenta de
poder á população para defender um território, ou nosso lugar.
Lefebvre (1991) diz que “somente o proletariado pode utilizar sua própia força
para transformar sua realidade. Só ele pode investir sua atividade social e política para
realizar a sociedade urbana desejada ao renovar o sentido das atividades produtivas e
criadoras. Si a sociedade urbana interviene no urbano, a cidade passa então a ter um
valor de uso e não um valor de troca e de lucro e torna- se um espaço político sobre
tudas as outras dimensãoes.

29
Capítulo 2:
Caracterização
do Estado de
Mato Grosso e
Contexto
Econômico
Atual

Nosso problema teórico e prático é do reconstruir o espaço


para que não seja o veículo de desigualdades sociais e, ao
mesmo tempo, reconstruir a sociedade para que não se criem ou
preservem desigualdades sociais. Em outras palavras, trata-se
de reestruturar a sociedade e dar uma outra função aos objetos
geográficos concebidos com um fim capitalista, ao mesmo
tempo em que os novos objetos espaciais já devem nascer com
uma finalidade social. (SANTOS Apud GOMES, 1991, p.71)

30
O espaço, ao longo da sua produção, passou a fazer parte dos circuitos de
valorização do capital, seja pela mercantilização da terra, seja por seu parcelamento ou,
como vem ocorrendo mais recentemente, por sua crescente inclusão nos circuitos de
circulação do capital financeiro. Segundo Lefebvre (1999 p.142), em 1970, afirmou
uma crescente dependência do capitalismo em relação à produção e ao consumo do
espaço nas últimas décadas, pois:

[...] o capitalismo parece esgotar-se. Ele encontrou um novo alento na


conquista do espaço, em termos triviais na especulação imobiliária,
nas grandes obras (dentro e fora das cidades), na compra e venda do
espaço. E isso à escala mundial. (...) A estratégia vai mais longe que a
simples venda, pedaço por pedaço, do espaço. Ela não só faz o espaço
entrar na produção da mais-valia, ela visa uma reorganização
completa da produção subordinada aos centros de informação e
decisão.

Em concordância com as palavras anteriormente citadas, vejamos a continuação


como as estratégias do capitalismo mercantil, em um primeiro momento, e em seguida o
capital financeiro dominado pelo agronegócio foi desenvolvendo, principalmente no
Oeste Brasileiro, mas precisamente na ocupação do Estado de Mato Grosso e na cidade
de Cuiabá em particular.
Uma pequena análise será indispensável à compreensão do território, da forma
que se apresenta hoje, começaremos desde o surgimento do Estado de Mato Grosso a
partir da invasão do território espanhol na América pelos portugueses, que esteve ligado
ao processo de dominação econômica internacional no período colonial com uma
política mercantil dos colonizadores portugueses. E até nos tempos atuais com a política
econômica capitalista que torna a “terra” tanto a urbana quanto a agrária a principal
mercadoria para produzir e reproduzir o próprio capital.

2.1 A formação do estado de Mato Grosso

Mato Grosso situa- se na região Centro- Oeste do Brasil, tem como limites os
estados da Amazonas, e Pará ao Norte; Tocantins e Goiás a Este; Mato Grosso do Sul
pelo Sul; Rondônia e Bolívia ao Oeste. Na seguinte Figura n°1 ilustra a localização
geografica do estado de Mato Grosso e de Cuiabá em particular

31
Figura 1. Localização de Cuiabá. (Sem Escala) Fonte: IBGE, 2010. Modificado: Almeida.G, 2015

Mato Grosso ocupa una superfície de 903.357,9 km² e sua ocupação se deu
predominantemente pela exploração econômica de ouro, a empresa mercantil das
bandeiras em busca de índios para servirem de escravos estava disposta a chegar aos
confins do continente, através da navegação fluvial ao subirem o rio Coxipo e
descobriram ouro no leito, no local denominado de Forquilha, hoje Coxipó de Ouro.
Portanto, a motivação econômica sem dúvida foi o principal impulso para
ocupação desta região pelos portugueses, mas não podemos nos esquecer das intenções
geopolíticas da coroa, em disputa com a Espanha, Portugal buscava ocupar o máximo
possível do território sul-americano, desrespeitando o Tratado de Tordesilhas.
Mas, sobretudo a genesis se deu por causa da descoberta de regiões mineiras em
Mato Grosso e Goiás e somada à possibilidade de união do norte ao sul do Brasil pela
conquista da bacia da Prata, esta região torna-se um espaço importante e foi
rapidamente colonizada. Encontrado ouro nas Minas de Cuiabá em 1719 e depois nas
Minas do Sutil em 1722 e sua divulgação pela colônia, um intenso fluxo de migração
começa a chegar em Cuiabá. A ideia de conseguir ouro em grande quantidade e com
facilidade mobilizou enormes contingentes que além da mineração começaram a
realizar outras atividades na vila, como a agricultura.
Com a descoberta do ouro, a notícia se espalhou por tudo Brasil e chegavam às
Minas do Cuiabá pessoas de quase todos os cantos do País. “Portanto, foi o ouro a base
econômica para o surgimento da cidade de Cuiabá quanto do Estado de Mato Grosso”
(VILARINHO NETO, 2009 p. 17).

32
Neste contexto que efetivamente começou o processo de organização do espaço
do Estado de Mato Grosso, constituindo - se numa grande fronteira agrícola em
constante expansão. “Sabe- se que esse projeto de ocupação da fronteira Oeste do Brasil
foi iniciado por Getúlio Vargas (década de 1940), com a chamada “Marcha para o
Oeste”, onde visava integrar economicamente a Amazônia ao resto do País” Souza
(2013 p.13). Pode- se dizer que a história da produção do espaço de Mato Grosso foi
pautada por vários acontecimentos, mas, sobretudo a causa de

[..]a uma série de políticas federais de promoção do desenvolvimiento


do interior do Brasil sumado com o discurso getulista de “Marcha para
o Oeste” na década de 30, e principalmente a construção de Brasília
na década de 60, foram factores importantes para o desenvolvimento
da região Centro -Oeste, por meio da melhoria da infraestrutura local e
incentivo à migração, que passou e se dar de forma intensa na década
de 70, com correntes provenientes, em sua maior parte, das regiões
Sul e Sudeste do País Michelini, (2012p. 23)

Esses fatos contribuíram para a transformação significativa a partir dos anos de


1960 e 1970, uma parceria entre o poder público federal (ditadura militar), empresários
do setor imobiliário e setores do agronegócio que se unem para ocupar de forma
capitalista o oeste brasileiro, fato que acarretou profundas modificações espaciais e
promoveu o seu desenvolvimento socioeconômico e sua inserção no conjunto da
economia nacional.
[..]Ao estado de Mato Grosso as repostas para essas necessidades
forma ofertadas na medida em que possuía recursos naturais, o
momento histórico era favorável e a construção de Brasilia implicou a
implementação de um novo sistema rodoviário nacional, facilitando o
fator acessibilidade, como construção das rodoviárias Transamazônica
(BR-230), Perimetral Norte (BR-210), Cuiabá- Santarém (BR-163),
Cuiabá- Porto Velho (BR-210). (ZAMPARONI, 2011p. 175)

Constata- se que toda essa implementação na economia estadual continua


excluindo os mesmos favorecidos economicamente do processo produtivo. Porfim, a
concretização da ocupação desta região se dá graças ao desenvolvimento tecnológico e
de infraestrutura com um forte alinhamento dos interesses internacionais e nacionais.
Volochko (2013 p.2) traz a seguinte reflexão:

A base dessa articulação entre o espaço mato-grossense e as


economias nacional e mundial vem se dando por meio da expansão
das atividades de produção agropecuária no campo, um processo que
realiza uma agroindustrialização da produção agrícola – com ampla
utilização de meios científico-tecnológicos tais como máquinas e
insumos, fertilizantes, defensivos, sementes transgênicas, sistemas

33
informatizados de monitoramento das etapas produtivas por sistema
de GPS, e também de inovações quanto ao financiamento,
armazenagem e transporte da produção – e que tem resultando num
processo de aprofundamento da concentração fundiária no campo e
nas cidades, produzindo desigualdades socioespaciais em diversas
escalas, implicando também a transformação de amplos espaços de
cerrado e da Amazônia, que assim se tornam espaços altamente
financeirizados, mundializados e urbanizados.

Na mesma linha ensina Harvey (2005, p. 52) ao analisar a produção do espaço


pelo capital, colocam em evidência todas as condições que permitiram a ocupação do
território mato-grossense:

A racionalização geográfica do processo produtivo depende, em parte,


da estrutura mutável dos recursos de transporte, das matérias-primas e
das demandas do mercado em relação à indústria, e da tendência
inerente à aglomeração e à concentração da parte do próprio capital.
No entanto, essa tendência exige, para sustentá-la, a inovação
tecnológica.

As profundas mudanças desencadeadas no sistema produtivo e a globalização da


economia contribuíram para a tecnificação tanto da oferta quanto da demanda no
campo, como diz Vilarinho Neto (2009 p. 36):
Resalte-se que em Mato Grosso vem se acentuando cada vez mais a
interdependência entre a expansão do processo de modernização da
agricultura, vinculado ao capital privado, e a consolidação de uma
infraestrutura de armazenagem controlada por particulares.

Com essa colocação, o autor traz como os fluxos da internalização da economia


se espacializa no Estado de Mato Grosso como o processo da modernização da
agricultura e a inserção do Estado vai manifestando- se no espaço.Neste contexto , Mato
Grosso vem experimentando, nas últimas décadas, um crescimento relevante no tocante
à ocupação, transformação, produção e reprodução no arranjo espacial gerando novas
territorialidades, em especial em sua paisagem natural com a introdução da soja
acompanhada do agronegócio, como afirma Zamparoni (2011 p.176)

Na década de 1970, no processo de “modernização do campo”, o


Estado estimulou, também, a colonização particular. Essa política de
ocupação territorial possibilitou a transferência em massa de
significativos contingentes de agricultores de outras regiões do país,
principalmente do Sul e Centro Sul que adquiriram seus lotes nas
colonizadoras, após se desfazerem de suas terras de trabalho em seus
estados de origem.

34
É importante não esquecer que a suma da modernização na agricultura junto a o
processo de colonização de terras foi indispensável para o crescimento de Mato Grosso.
Pensamos que o processo de urbanização encerra uma série de dinâmicas ligadas à
reprodução espacial do capitalismo no Brasil e situa a produção do agronegócio como
elemento fundamental para a formação desta região.
A urbanização ocorreu pelo crescimento de cidades mais antigas, mas
também pela formação de novos centros urbanos que vieram a se
tornar sedes de novos municípios emancipados nas últimas décadas”
(DANTONA, DEL GALLO 2011 p. 109)

Na misma linha, Vilharino Neto, (2009 p. 13) reafirma que:

Somente a partir dos anos de 1970 Mato Grosso integrou a área de


fronteira agrícola, fomentando um intenso fluxo migratório,
fomentador de criação de novos Municipios, consequentemente, de
novas cidades além de incrementar o crescimento das cidades
existentes.

Por fim, explica-se o urbano produzido na relação com o agrário, a partir da


expansão da fronteira agrícola (modernização conservadora do campo), que em certas
regiões de Mato Grosso se impõe como motor transformador dos espaços e como nova
força produtiva como afirma Volocko (2013 p.9)

A acelerada urbanização gera um efeito econômico de concentração e


atração tanto de capitais como de força de trabalho nova – migrantes
não mais tanto da região sul e sim da região nordeste –, tornando
possível a abertura de uma nova fronteira não mais apenas agrícola,
porém, sobretudo, urbana.

Nota- se que a produção do espaço urbano e agrário dentro do Estado, vinculado


à expansão da fronteira agrícola dos anos de 1970 redimensionada pelo agronegócio a
partir dos anos de 1990 junto a crescente atuação do Estado e a dominação do capital
financeiro nacional e internacional configura uma reprodução geográfica desigual. Hoje,
o Estado de Mato Grosso com o seu processo de urbanização em ritmo intensivo,
transformou-se num espaço urbano de forma desigual. Pois uma parte significativa de
seus habitantes está vivendo com carências, devido à falta de emprego, sendo este um
dos elementos que contribui para o aumento da violência na sociedade mato-grossense
que, no momento atual, encontra-se de maneira alarmante, principalmente, nos centros
urbanos de maior porte. (VILHARINO NETO, 2009)

35
Segundo dados da Prefeitura de Cuiabá em seu Plano Estratégico 3Com 98,13%
de taxa de urbanização, a capital do Estado de Mato Grosso possui déficit habitacional
em torno de 22.062, sendo 19.580 de déficit UHs Zona Urbana e 2.482 de déficit UHs
Zona Rural. Além disso, 24.128 lotes carecem de Regularização Fundiária, sendo que
em torno de 75 mil pessoas vivem nestes bairros.
Embora que os dados econômicos absolutos e objetivos refletem um crescimento
econômico dentro do Estado. Segundo relatos do Secretário de Fazenda, Valter Albano
apun Vilarinho Neto (2009 p.31) a economia de Mato-grossense encontra-se por acima
da media nacional
Durante o período de 1985/1995, a economia mato-grossense cresceu
4,9 a contra 1,7% da economia brasileira como um todo. A
agropecuária obteve uma variação positiva de seu PIB de 2, 6 a contra
1, 3 da economia brasileira como um toda a industria, 4,8% (queda de
1, 8 na média nacional); e os serviços 4,3 (3,2 no Brasil).

Apesar disso, a cidade de Cuiabá tem o maior Produto Interno Bruto (PIB) do
Estado de Mato Grosso, na ordem de R$ 12.841 bilhões, em 2010 (IBGE, 2010)
representando 18,54% do PIB total do Estado, cuja variação de 2006-2010 foi de
19,4%, crescendo, nesse período, menos do que o Brasil, Mato Grosso e Campo
Grande, conforme a tabela 1.
Tabela 1. Evolução do PIB em Cuiabá

As taxas de crescimento econômico seguiram crescendo e durante a década


2000/2010. Segundo a matéria publicada em novembro de 2010 pelo site só noticias e
em base dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

Mato Grosso tem também o 2º maior PIB/per capita do Centro-Oeste,


com R$ 17.927. Só Notícias apurou que o IBGE constatou, no
acumulado da série 1995-2008, que Mato Grosso, com taxa de
128,4%, foi o Estado com maior crescimento em termos reais, quase

3
Cuiabá. Plano Estratégico Município de Cuiabá 2013 – 2023. Cuiabá-MT/2013

36
três vezes o crescimento médio nacional (47%). Observando os
períodos 1995-2002 e 2002-2008, apenas no segundo o Estado, com
taxa de 46%, foi superado pelo Tocantins, que obteve a maior taxa de
crescimento, 47%.4

De um modo geral, verifica-se que o maior crescimento é resultado do setor


agropecuário é principalmente das coletas do principal produto do agronegócio: a soja e
as divisas que ela genere.
Quando relacionamos o crescimento econômico em Mato Grosso, com os dados
de desigualdade e pobreza não se pode deixar de considerar que os valores tanto de
pobreza e desigualdade tem melhorado, mas ainda existem certos números que alarmam
e que não se vê refletidos na sociedade. Segundo Vieira5(2014) em entrevista ao jornal
Diário de Cuiabá traz a seguinte reflexão.
Os níveis de pobreza e desigualdade ainda são elevados em Mato
Grosso, embora venham declinando nos últimos anos. Neste artigo
consideramos pobres aqueles que vivem em domicílios com renda
inferior a meio salário mínimo por morador (em média). Tomando por
base a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2006,
cerca de 28% da população estadual pode ser considerada pobre por
esse critério. Isso representa aproximadamente 780 mil pessoas
naquele ano. 6

Segundo Vieira a taxa de pobreza seria de 38%, e haveria pelo menos 280 mil
pessoas pobres a mais na população. Ou seja, o contingente de pobres passaria a um
milhão de pessoas. Mais impressionante é que a população em extrema pobreza (renda
até 1/4 do salário mínimo por morador) seria 20%.
Constate- se nas últimas três décadas o Estado de Mato Grosso passou por
profundas transformações no que se refere à utilização de seu espaço. Cabe refletir que
atualmente o Estado está completamente inserido no modelo econômico mundial como
polo de atração para a realização de agronegócios. Conforme dados do IBGE, o Estado
de Mato Grosso é o maior produtor de soja do Brasil com grande concentração de terra,
monocultura e poder, pois o modelo de produção gera o sistema de organização
política. Neste sentido o Estado está em frente das reestruturações, já que no é mais esse
estado de Fronteira o Estado encontra- se em uma encruzilhada; onde tem que revisar
como é que aproveitará as transformações do capitalismo neste inicio de milênio. Com

4
Fonte: http://www.aces.org.br/Noticias/Ver/746MT. Acesso em: 20/04/2015.
5
Edmar Augusto Vieira é gestor governamental na SEPLAN/MT.
6
Fonte: http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=341469 Aceso em 09/07/2015

37
um crescimento de sua economia com record históricos, cabe- se perguntar o
agronegócio vai servir para aprofundar o modelo econômico neoliberal dominado pelos
bancos, pelo capital financeiro e pelas transnacionais? O território vai ser entregue para
esses agentes? Ou vai se aproveitar os recursos e o crescimento econômico para
desenvolver os índices sociais?Porém, um grande desafio é colocado à sociedade toda
de Mato Grosso, o crescimento econômico do Estado permitirá a superação do modelo
nacional- desenvolvimentista dirigida pelo Estado Federal? Segundo Zibechi (2012 p.
17)

O Brasil é um dos poucos países do mundo que está escapando da


condição de periferia. Tem muitas cosas a su favor: tamanho,
riquezas, população e, sobretudo vontade politica, imprescindível para
transformar as potencialidades em fatos. Não basta ser a sexta
economía do planeta nem figurar entre os primeiros do mundo em
recursos como hidrelectricidade, hidrocarbonateros, água doce,
biodiversidade, agrocombustíveis, urânio, minéiro de ferro e outros
bens comuns. A abundância, por si só, não se assegura a
independência nem a soberania de nenhuma nação.

Neste panorama, se trata de lançar luz sobre a novidade que supõe, para os
povos sul- américanos em particular, a presença de um vizinho com posibilidade de
convertir-se em potência regional. O ascenso do Brasil como potência regional e global
vem da mãos dadas com o nascimento de um novo bloco de poder que não só está
reconfigurando o carácter do conflito nesse país, mas também na região.

2.2 O processo da evolução urbana da cidade de Cuiabá

No contexto de formação a produção e reprodução do espaço mato-grossense, a


cidade de Cuiabá, capital do Estado, fundada em 1719, anterior à constituição do
Estado, passou por um processo de evolução urbana por meio do processo de
descentralização mesclado com o aumento da população, veja figura 2 abaixo.
Os incentivos para povoar o Oeste brasileiro levaram a cidade de Cuiabá a
destacar-se como uma das capitais brasileiras que mais cresceu nas últimas décadas.
Uma cidade que apresentava uma população total de aproximadamente 50 mil
habitantes até 1960. Duplicou este número em 10 anos chegando a mais de 100 mil
habitantes em 1970, continuando a se intensificar com levas de migrantes durante as
décadas de 1970 e 1980, já em 1991 Cuiabá vai apresentar mais de 400 mil habitantes
conforme mostra figura 2. A figura demonstra como foi vertiginoso- a partir dos anos

38
1960- o crescimento populacional da cidade de Cuiabá. O aumento populacional
acarreta mudanças quantitativas e qualitativas na dinâmica da cidade, entre elas o
aumento do perímetro urbano, reformas urbanas e a vivenciar “o sonho de
modernidade”. Em palavras de Amedi (2012, p. 43):

Portanto, entende-se a modernização que ocorreu em Cuiabá, ao longo


dos anos 60 e 70, como produto do processo de expansão capitalista
sob o controle político do regime militar. Cuiabá figurou nesse
processo como cidade estratégica para a política desenvolvimentista
do Governo Federal, inserindo-se na movimentação de capitais para a
Amazônia. O papel da cidade seria o de eixo de passagem dos fluxos
migratórios. Um entreposto pelo qual os colonos, que chegariam ao
norte do país para colonizar o imenso vazio, teriam de passar.

EVO LUÇÃO PO PULACIO NAL DE CUIAB Á 1791 -


2013
Ano População
569.830

483.346
433.335

212.984

14.543 35.987 17.815 57.860 100.865

1791 1872 1890 1960 1970 1980 1996 2000 2013

Figura 2. Evolução Urbana de Cuiabá. Fonte: Prefeitura de Cuiabá, 2007.- Organizado por VILLANUEBA (2015)

O cresimento urbano foi marcado por características concentradoras, tendo em


vista que as Regiões Sudeste e a Região Sul, concentraram a maior contigente
pouplacional de forma mais vigorosa, recebendo a maior parte dos recursos
governamentais para prevê-las de infraestrutura. Cuiabá como capital do Estado, não
estava estruturada para receber tamanho contingente,e os problemas urbanos sofridos
começarom aparecer. Durante a decada de 1970, era dificil encontrar habitação
disponível, tanto na capital, como a vizhina, Várzea Grande. Faltava tudo, desde infrae-
estrutura (agua, luz , pavimentação, etc) equipamentos públicos e serviços (escolas,
hospitais, creches). As pessoas , especialmente as mais humildes, se instalaram em
loteamentos clandestinos, em áreas “griladas” , em áreas de preservação permanente
(APP).

39
Espacialmente o processo de ocupação de Cuiabá se deu no eixo que liga o
Porto, às margens do Rio Cuiabá, e a igreja do Rosário e São Benedito seguindo o
antigo córrego da Prainha, hoje, canalizado e encoberto pela AvenidaTenente Coronel
Duarte (Av. XV de Novembro). Até os anos de 1930 a cidade fica contida nestas
imediações, veja a seguir no mapa seguinte. Nos anos setenta do século passado a área
urbana de Cuiabá não se estendia muito para além dos limites físicos definidos pelo anel
viário da Avenida Miguel Sutil vem mostrado no mapa 1, que na época era a perimetral
da cidade. A cidade é então planejada para crescer em diferentes eixos de expansão. A
Av. Rubens de Mendonça coma a criação do Centro Político e Administrativo e a Av.
Fernando Côrrea com a construção da Universidade Federal de Mato Grosso.
A partir da observação do mapa 1 - Evolução do perímetro urbano-, pode se
notar como Cuiabá cresceu segundo leis feitas pela prefeitura. Também, Vilarinho Neto
(2015, s/r) comenta como foi o crescimento na década dos anos 1940 e 1950.

A lei sancionada em 1948, o Poder Público municipal, através da Lei nº 11,


autorizou a doação de um terreno no entorno da Avenida Getúlio Vargas,
lado direito direção centro bairro, para a construção do primeiro núcleo
habitacional da cidade, denominado bairro Popular, hoje área central da
cidade e a ironia é um dos locais do metro quadro dos mais caros da cidade, a
construção desse bairro proporcionou a consolidação do espaço urbano em
torno da Avenida.

Embora, as maiores mudanças da paisagem urbana ocurrese a partir da década


de 1980. A expansão urbana da cidade foi vinculada ao processo de verticalização ao
longo da Avenida Historiador Rubens de Mendoça.
Por su parte a década de 1980 e inicio da década de 1990 a expansão da cidade
está relacionada aos condomínios verticais e horizontais principalmente próximos aos
shoppings centers. Em quanto aos eixos de crescimento Av. Fernando Corrêa e Av
Rubens de Mendoça, coincidem também como os principais eixos da atual
reestructuração urbana.

40
Mapa 1- Evolução do perímetro urbano e eixos de crescimento. Fonte: Prefeitura de Cuiabá, 2007. Modificado: Almeida,G. 2015.

41
Embora, as maiores mudanças da paisagem urbana ocurrese a partir da década
de 1980. A expansão urbana da cidade foi vinculada ao processo de verticalização ao
longo da Avenida Historiador Rubens de Mendoça.
Por su parte a década de 1980 e inicio da década de 1990 a expansão da cidade
está relacionada aos condomínios verticais e horizontais principalmente próximos aos
shoppings centers. Em quanto aos eixos de crescimento Av. Fernando Corrêa e Av
Rubens de Mendoça, coincidem também como os principais eixos da atual
reestructuração urbana.
A cidade deve ser preparada para atuar neste novo cénario global e então as
antigas formas de planejamento são substituidas pelas estratégias de atuação no
território. Espaços antigos são renovados, hotéis estrelados e aeroportos internacionais,
centro de eventos, etc são construidos para que vários espaços se valorizem, trazendo
lucro a especuladores imóbiliarios. A cidade deixa de ser apenas o local onde as pessoas
interagem, trabalham e vivenciam seu cotidiano, para se transformas, em mercadoria
onde o uso da imagem e da cultura local são fatores chave para “vender” a cidade e suas
especificidades. (MARICATO, 2002)
Na seguinte fotografia permita- se visualizar a nova imagen da cidade de
Cuiaba, notandose tanto o aumento da verticalização na cidade como as mudanças com
respeito as décadas anteriores.O crescimento vertical que vem acontecendo em Cuiabá
verifica que toda a cidade se encontra inserida numa sociedade de consumo e
supervalorização do solo urbano, sobre esta tematica aprofundaremos mais no capítulo
3. A seguir explicamos o contexto econômico onde ocurrem as mencionadas
transformações.

42
Figura 3. Crescimento vertical da cidade Cuiabá. Fonte: VILHARINO NETO, 2015.

2.3 Caracterizações do contexto pós- neoliberal na America Latina (2004-2014)

A dinâmica gerada pelo processo da globalização e ajuste estrutural das últimas


décadas na América Latina tem sufrido os seus sérios efeitos nos países sul-
americanos. As mudanças nas estruturas produtivas, a intensificação primária da
economia e a apertura dos mercados adaptando às demandas contemporâneas globais
deixo um notável colapso social na vida dos moradores dos diferentes países latino-
americanos.
Na segunda metade dos anos 2000, um conjunto de eventos marcantes, como por
exemplo, a retomada do crescimento com distribuição da renda no Brasil e na América
do Sul contribuiu para o ressurgimento de antigos paradigmas de políticas econômicas
de inclusão e re- destribação dos ingressos, após mais de duas décadas de hegemonia de
políticas de inspiração liberal na região. Desde 2008, a crise financeira global e os
impasses do desenvolvimento nas economias centrais deram força, pelo menos nos
países periféricos, à busca e consolidação de novos perfis de política econômica.
En la actualidad, el capitalismo neoliberal en América Latina atraviesa
una segunda fase, caracterizada por la generalización de un modelo
extractivo-exportador, que apunta a consolidar y ampliar aún más las
brechas sociales entre los países del norte y del sur, en base a la
extracción de recursos naturales no renovables. Svampa, (2008 p.15)

43
De modo que nas seguintes paginas realizamos uma descrição deste novo
período histórico.

2.4 O neoliberlismo e o pos- neoliberalismo

A era neoliberal, que começou na América Latina por uma chamada década
perdida- década dos anos 1980-, pôs fim a uma concepção de sociedade e uma visão de
cidade que se intensifica um processo de crescente fragmentação e exclusão social.

O neoliberalismo surgiu na América Latina com a instauração da


autocracia burguesa nos anos 1970. Em 1973, a via chilena para o
socialismo foi interrompida pelo golpe liderado pelo general Pinochet,
que implementou medidas neoliberais propostas por economistas
monetaristas da escola de Chicago. Em 1976, o golpe na Argentina fez
algo parecido no campo da economia, bem como na violação dos
direitos humanos. A segunda fase do neoliberalismo no continente
ocorreu nos anos 1980, quando presidentes foram eleitos com uma
plataforma tipicamente liberal. Desta forma, ao contrário dos anos
1970, o neoliberalismo (res) surgiu na região a partir de pleitos
eleitorais da democracia representativa. Castelo, (2012 p.623)

A partir de então e até o início do século XXI, a agenda política da região girou
em torno do Consenso de Washington, que previa uma série de medidas-privatização e
abertura das suas economias, principalmente com a redução do papel do Estado e ajuste
estrutural, ou seja, a implementação do neoliberalismo.Como bem afirma Castelo (2012
p.623)
Em essência, as medidas do Consenso representaram a vitória
político-cultural da burguesia rentista e prepararam o terreno para a
inserção da América Latina na etapa contemporânea do imperialismo,
na qual a região se torna uma plataforma de valorização dos capitais
estrangeiros por meio de compras e expropriações maciças de bens
públicos e da especulação financeira.

Durante os anos noventa foi gerado condições institucionais, legais e


macroeconômicas que favoreceram a desregulamentação, privatização e investimento
estrangeiro direto ea redução das políticas sociais, afirmando a supremacia do mercado
sobre o Estado. De modo que os danos sociais da agenda neoliberal foram sentidos com
maior intensidade em Brasil, México e Argentina viram as cadeias dos parques
produtivos serem desmontadas e alguns setores desnacionalizados. O aumento de
desemprego, a desvalorização de suas moedas, suas economias endividadas junto a uma

44
crise social importante foram as primeiras sinais do desgaste do neoliberalismo. Explica
Feliz (2007 s/r) .
La crisis de la convertibilidad dio lugar a una nueva etapa en el
desarrollo capitalista en America Latina,la misma puede ser
caracterizada como pos neoliberal en tanto se monta sobre los
resultados del proceso político anterior y constituye una nueva forma
estabilizada de desarrollo capitalista periférico.

Nota- se o nascimento de uma nova etapa na América Latina.Depois do


esgotarse o “modelo”imposto por o Concenso de Washington para a região. Novas
lideranzas resurgem .O ano 1998 foi o ano que marcou um ponto de viragem político na
região. A vitória nas eleições de Hugo Chávez na Venezuela e o início do fim do
Programa de Convertibilidade na Argentina naquele mesmo ano começam a vislumbrar
novas movimentações em nossa América.

Diante desses primeiros sinais do desgaste do neoliberalismo, percebeu-


se uma dupla movimentação na política regional: de um lado, as classes
dominantes readequaram o seu projeto de supremacia, incorporando
uma agenda de intervenção focalizada nas expressões mais explosivas
da “questão social”, naquilo que se convencionou chamar de social-
liberalismo; assim, a supremacia burguesa ganhou novo fôlego (que se
mostra cada vez mais exaurido) e persiste até hoje. De outro, uma
mobilização política das classes subalternas antagônica ao
neoliberalismo levou à derrubada de governantes alinhados ao
Consenso de Washington (Argentina, Bolívia, Equador, Peru) e à
eleição de coalizações partidárias com posições antineoliberais
(Venezuela, Brasil, Argentina, Bolívia, Equador, Uruguai). Em alguns
casos, as lideranças não mantiveram a sua linha de resistência após a
posse e aderiram ao neoliberalismo por intermédio do social-
liberalismo: o governo Lula é o caso mais emblemático dessa adesão ao
projeto de supremacia burguesa. Em outras situações, a resistência
popular radicalizou-se e desencadeou processos guiados pelo socialismo
del siglo XXI, como a revolução bolivariana na Venezuela. Castelo
(2012 p. 624)

Vale dizer que no Brasil, a chegada entrada do Partido dos Trabalhadores (PT)
ao Poder Central foi um pacto selado com as novas e antigas classes dominantes: capital
financeiro e suas novas frações rentistas e o agro business. A nova fase do
desenvolvimento capitalista inaugurada no governo do PT foi comemorada pelas classes
dominantes é notório o papel do intervencionismo estatal positivo na configuração de
uma modalidade do capitalismo. (BOSCHI 2010)
O governo do PT assumiu dentro de um quadro extremamente restritivo de forte
tendência inflacionária, altos patamares da dívida externa e com o Estado bastante
desaparelhado em vista de uma reforma administrativa inconclusa e do intenso processo

45
de privatizações. Boschi, (2010 p. 2) traz a seguinte reflexão acerca dos novos papeis
que exercem os estados nacionais da América latina neste “novo” período.

É bem verdade que um conjunto de políticas anticíclicas de caráter e


mergencial foi adotado em vários países, inclusive no Brasil,
evidenciando a possível re tomada de um papel mais ativo do Estado
do ponto de vista da regulação e de mecanismos de intervenção em
geral.Mas desta feita, alguns dos países emergentes, na América
Latina e no caso específico do Brasil, foram pioneiros neste papel,
com a adoção de políticas de cunho intervencionista e
desenvolvimentista na esteira de fracassadas reformas de mercado
guiadas pelos princípios do Consenso de Washington.

Porem, o neoliberalismo experimenta uma nova fase do desenvolvimento


capitalista que se nos inicia sob a direção dos governos Lula e Dilma como diz Castelo
(2012 p. 614).

Na esteira das transformações estruturais, constata-se o surgimento de


uma ideologia que se propõe como guia dos rumos do
desenvolvimento capitalista brasileiro, o novo desenvolvimentismo. A
partir do segundo mandato do governo Lula (2007-10), com o
aumento das taxas de crescimento econômico e a tímida melhora de
alguns indicadores sociais, a ideologia desenvolvimentista voltou
repaginada à cena — acoplada dos prefixos “novo” e “social” — e
tornou-se o tema da moda no Brasil. A nova fase do desenvolvimento
capitalista inaugurada nos governos do Partido dos Trabalhadores
(PT) foi comemorada pelas classes dominantes.

Pelo lado da Argentina, a reconfiguração hegemônica de setores dominantes se


deu através da força política - kirchnerismo- que assumiu em maio de 2003. As classes
dominantes argentinas forçou a entrada do país para o período neo- desenvolvimentista
construindo o novo projeto de desenvolvimento sobre as bases estabelecidas pelo
neoliberalismo, sem muita mudança na matriz produtiva.
Entender essa fase, como pos-neoliberal envolve reconhecer as fortes
continuidades estruturais que ocorrem no padrão de acumulação capitalista, apesar das
alterações de fundo que também pode ser observada. Conforme encontra- se diante o
fim do ciclo de neoliberalismo e o início de uma nova era pode ser chamado pos-
neoliberal. Neste sentido, a caracterização de pós- neoliberalismo nos ajuda para
caracterizar esta nova etapa que começa a parir da década dos anos 2000 já que se
apresenta como uma continuidade das políticas neoliberal, mas também com algumas
rupturas da etapa anterior. Nota- se a emergência de uma fase pós-neoliberal na
América Latina está associada, ainda que sob diferentes matizes ideológicos, à ideia de

46
expansão de políticas sociais e a retomada do papel do Estado na formulação e de
incentivo a estratégias de desenvolvimento econômico. Feliz (2007 s/r) explica melhor
como foi o quebre e o giro pós- neoliberal quando diz:

Por fin, los veinticinco años de la etapa neoliberal han concluido. Lo


han hecho –sin embargo– dejando una profunda marca en la sociedad
:(a) un dominio determinante del gran capital transnacional, (b) la
consolidación de la posición periférica del ciclo del capital local en el
ciclo del capital global basada en la preeminencia de la estrategia del
saqueo de las riquezas naturales y (c) la precarización y
superexplotación estructural de la fuerza de trabajo. Estos elementos
dan cuenta de la continuidad y consolidación del ciclo de la
dependencia.

As palavras de Feliz, acima citadas nos explica que para o autor o limite mais
importante que enfrenta hoje o modelo capitalista na América Latina é a consolidação
de um padrão de acumulação de caráter dependente e periférico baseado no saqueou dos
recursos naturais (extrativismo) no marco de uma economia transnacionalizada. Esta
situação representa um obstáculo significativo às posibilidades de avançar num projeito
de mudança social uma vez que envolve a formação de uma forte correlação a favor do
bloco dominante social burguesa e seus aliados internacionais.

2.5 O novo desenvolvimentismo

O novo desenvolvimentismo tem atraído a atenção de muitos analistas latino-


americanos. As discussões sobre esta abordagem incluem caracterizações de modelos
econômicos, estratégias geopolíticas e processos sociais.Nos últimos anos na região de
América Latina, com maior notoriedade em Brasil e Argentina, um modelo de
desenvolvimento econômico que incorpora algumas características do
desenvolvimentismo está emergindo. Mais e melhor estado, a expansão das políticas
sociais e mercadointernismo parecem ser as principais características deste periodo.
Pode- se dizer que o novo desenvolvimentismo surgiu no século XXI após o
neoliberalismo experimentar sinais de esgotamento e se (re) construir como um projeto
político de superação do neoliberalismo.Embora reconheçam a existência de
similaridades entre as políticas econômicas neoliberais e neodesenvolvimentistas.
Segundo Costelo (2012 p.630)

Hoje, o novo desenvolvimentismo reduz as lutas de classes ao


controle das políticas externa econômica e social para operar uma

47
transição lenta e gradual do neoliberalismo para uma quarta fase do
desenvolvimentismo. A grande política é, portanto, esvaziada do seu
poder transformador, dando lugar a uma política de gestão técnica dos
recursos orçamentários, como se a distribuição da riqueza nacional e a
apropriação da mais-valia não se tratasse de uma questão de
organização e força das classes sociais.

Seguindo na mesma linha do autor, vale dizer que e errado observar os governos
de centro-esquerda que respondem a esse modelo como como um prelúdio do
socialismo.E negar e substituir a avaliação do registros de lutas sociais de proximidade
ou afastamento do industrialismo capitalista.Alias que tem que se respeitar as
particularidades nacionais e discutir as experiências contrastantes de cada país. Neste
período a gravidade das receitas agro-exportação continuaram dissuadir
reindustrialização e expansão da demanda se virou para o telhado de um sistema
financeiro que absorve grande parte do excedente. A intervenção do Estado e as
políticas econômicas heterodoxas não foram suficientes para reduzir as difere diferenças
entre a população. A economia brasileira cresceu com o aumento do consumo, a dívida
do boom das commodities médio e grande porte. Mas o nível de investimento foi baixo
a estagnação industrial persistiu também chegou a um ponto crítico em energia,
comunicações e transportes.Essas mesmas contradições ter visto mais claramente na
Argentina.
Contudo, na segunda metade dos anos 2000, um conjunto de eventos marcantes,
como o foi a retomada do crescimento com distribuição da renda no Brasil e na América
do Sul contribuiu para o ressurgimento de antigos paradigmas de políticas econômicas,
tais como as políticas de inclusão social, após mais de duas décadas de hegemonia de
políticas de inspiração liberal na região.
O pensamento econômico brasileiro, a partir do novo
desenvolvimentismo, recolocou em tela alguns grandes temas
nacionais, como soberania externa, integração regional e inserção na
divisão internacional do trabalho, industrialização e inovação
tecnológica, distribuição de renda, nova classe média etc. Estes temas,
todavia, aparecem em larga medida esvaziados do seu conteúdo crítico
e analítico para justificar uma razão de governo. O debate dos novo-
desenvolvimentistas é unilateralmente estabelecido com os
neoliberais, ignorando-se uma ampla gama de trabalhos críticos à nova
etapa do desenvolvimento capitalista brasileiro. (CASTELO, 2003
p.629-630)

Por fim, cabe refletir que sim bem o neo desenvolventismo tem características
particulares não conseguiu fazer uma transformação na escala produtiva dos países em

48
onde assumiram governos populistas muito embora, o caso do Brasil. Com o neo-
desenvolvimentismo petista tem fortalecido o monocultivo e a produção de
commodities –soja, cana-de-açúcar, pinho- e dos bens manufaturados para exportação -
cortes animais, etanol, resina de celulose, sucos.
Então, o Brasil sofisticou processos gerais do modo capitalista de produção.
Porem, o novo ciclo econômico por que passa o País e a região explicados
anteriormente, trazem no espaço urbano pelo menos dois elementos que marcam a
constituição de um novo cenário: 1) a integração dos trabalhadores no mercado de
consumo (inclusive da mercadoria “casa”). Uma parte do boom em questão habitacional
e de urbanização atual tem que ver com o Programa Federal Minha Casa, Minha Vida
(PFMCMV), que oferece hipotecas subsidiadas ás famílias das classes socioeconômica
“C”, o setor que se faz chamar como a “nova classe meia” e que é, de fato, uma classe
socialmente heterogênea que se define em términos de níveis de ingressos - que ainda
são bem baixos e, 2) a inserção da acumulação urbana brasileira nos circuitos
financeiros globais que constitui uma mudança em tudo o território. Vemos como o
território da cidade torna- se cada vez mais importante na acumulação deste período do
modo de produção capitalista.
Neste marco do neo desenvolvimentismo, a produção do habitat e da moradia
estão regidas para demandas tanto das classes dominantes (bairros fechados-Alpaville)
como para população de baixa renda com demandas de infraestrutura pública por parte
das empresas construtoras.

2.6 A importância crescente do espaço urbano para a acumulação capitalista.

Ao largo de tudo este capitulo tentamos explicar sem muito aprofundamento as


características e especificidades do capitalismo na América Latina e o brasileiro em
particular tentando caracterizar como se dão as mudanças depois dos sinais de
esgotamento do neoliberalismo na região.
Na atualidade o sistema global do capital assume hoje um caráter sócio-histórico
particular e a globalização, como mundialização do capital e como processo
civilizatório humano-genérico, assume o caráter de um sistema global de controle do
capital financeiro, de um capital fictício e rentista parasitário, ou aquele capital que
busca sua valorização de modo fictício (ALVES, 2006).

49
De maneira que, a lógica rentista que impregna hoje em dia a produção de
alimentos através do predomínio dos pools de sementes e os produtos derivados em os
mercados financeiros, a produção do habitat através dos fideicomissos imobiliários, a
produção mineira e a financiarização dos mercados mundiais de commodities, o
consumo popular a partir da generalização dos cartões de crédito e o crédito “na rua”
(através dos locais que emprestam dinheiro com muita facilidade com juros bem altos)
são exemplos de que nesta última década tem se acrescentado a financiarização da
economia. (FELIZ, 2014).
Autores como Arantes e Fiz (2012, s/r) tentam explicar esta financiarização da
economia no espaço urbano através do mercado imobiliário.
Por sua vez, o circuito imobiliário é igualmente uma das conexões
fundamentais da financeirização da economia e do capital fictício (em
suas várias formas e, agora, na de ações de empresas imobiliárias
S.A.) com a base real da produção do valor e de acumulação física de
riqueza no território, aliada a formas de acumulação por despossessão,
de privatização de fundos públicos e da riqueza social.

A financiarização da economia tem mudado definitivamente as formas de fazer


cidade. Hoje, as cidades brasileiras vivem um cenário que não pode ser mais definido e
compreendido no interior dos paradigmas que marcaram o crescimento urbano dos anos
1960-1980. Com a nova fase de internacionalização do capital a dinâmica socioespacial
das cidades sofreu grandes alterações. Segundo De Mattos (2007 p. 87)

La creciente velocidad con la que mueven enormes masas de capital,


el debilitamiento de la intervención estatal en la gestión urbana y la
competencia entre ciudades que buscan atraer inversiones han
potenciado la importancia de los negocios inmobiliarios en el
desarrollo urbano. El fenómeno, de alcance mundial, se verifica en
diversas ciudades de América Latina. Estas inversiones se orientan a
construir grandes complejos comerciales, modernos edificios de
oficinas y lujosas residencias que, aunque pueden contribuir al
crecimiento de la ciudad, también profundizan la fragmentación y las
desigualdades territoriales”;

Por tanto a cidade, em sua forma, é produtora de economias, é força produtiva,


em palavras de Carlos (2007 p. 65);

Do ponto de vista da reprodução do capital, a metrópole transforma-se


na “cidade dos negócios”, no centro da rede de lugares que se
estrutura no nível do mundial com mudanças constantes nas formas.
Neste momento a prática sócio-espacial se redefine no quadro da
mundialidade e é neste contexto que se constitui a sociedade urbana,
impondo novos padrões de comportamento a partir da construção de
uma nova urbanidade a partir da predominância do objeto (nas

50
relações sociais) e da emergência de um individualismo de massa,
bem como a criação de uma ideologia que contempla a mercadoria
transformada em signo que vai permear e redefinir as relações sociais.

Nota- se que o Brasil sofisticou processos gerais do modelo capitalista de


produção, em que o solo urbano é transformado em ativo financeiro. O proprietário
fundiário, monopolista de uma porção de terra da cidade, transforma-se em uma fração
de classe portadora de capital dinheiro. Brandão (2010 p.64) neste contexto afirma que;

A renda da terra, captalizada a determinada taxa de juros, assume a


forma de títulos de propriedade em circulação e o papel do capital
portador de juros, uma espécie de capital fictício (promovido por a
monetarização, o desenvolvimento do sistema de crédito e a
necessidade de abrir a terra como um campo livre para o fluxo
contínuo do movimento de capital).

Por conseguinte, a terra, agora é considerada como “capital” e, portanto, os


investimentos feitos estão ligados aos investimentos desse capital em outros setores
econômicos. Nessa perspectiva, por exemplo, em um momento de altas taxas de juros, o
capital pode "sair" do mercado de terras e atuar no circuito financeiro. Por outro lado,
em tempos inflacionários, que tem servido como uma forma de poupança,
especialmente para o pequeno capital. Esta inter-relação entre a terra e os aspectos
econômicos faz que o processo de análise seja muito complexo. Portanto, não se pode
compreender o funcionamento do mercado de terras sem entender a economia da cidade
- com suas múltiplas relações - e sua necessidade de apoio para as suas atividades. Por
exemplo, nos últimos anos, em um contexto de estabilidade e necessidade do capital
internacional de realizar ações na América Latina, a construção da cidade volta a ser
rentável e, assim, fazer investimentos na mesma.
Neste sentido “os capitais buscam, assim, um circuito secundário, baseado na
mercantilização da terra e do habitat”. Em um intento de explicação do que acontece
com o capital no sector urbano traz nos Saravia (2015 p.15) a seguinte reflexão;

A terra se constituiria, portanto, como uma mercadoria diferente, à


medida que sua produção não incorpora trabalho e o capital
imobiliário seria um falso capital, já que a origem de sua valorização
não estaria na atividade produtiva, mas na monopolização do acesso à
condição indispensável àquela atividade.

Isto explica como diante das necessidades impostas pela reprodução do capital, o
espaço produzido socialmente é transformando mercadoria durante o processo de

51
produção-é apropriação. Trata-se do que Harvey (1992) denominou como circuito
secundário de acumulação do capital que se diferencia justamente por produzir bens
imóveis, a partir do próprio ambiente e caracterizando uma (re) produção do espaço.
De modo que o modelo econômico -apoiado na acumulação baseado no sistema
extrativista agro- mineiro na região de América Latina produza grandes excedentes de
capital líquido, os quais uma boa proporção é absorvida pelo mercado imobiliário
urbano. Nas duas últimas décadas, podemos ver tanto Cuiabá e outras cidades no Brasil
e na Argentina novas formas de apropriação dos espaços inerentes à racionalidade de
um sistema capitalista que está recebendo um grande excedente na sua economia
regional; o agronegócio. Os investimentos foram direcionados principalmente para
atividades que permitem, neste momento histórico, a reprodução mais eficaz do capital:
terra e à moradia.
Nesse caso,para a cidade de Cuiabá o capital financeiro associado ao capital do
agronegócio, atendendo a uma nova demanda da economia - o crescimento do setor de
serviços - precisa, para se desenvolver, uma aliança dos empreendedores imobiliários
com o poder municipal garantindo a gestão da cidade dentro dos padrões necessários
para a reprodução continuada do capital. Lendo os objetivos do plan Estatégico de
Cuiaba para o ano 2013 o 2023 encontramos a seguuinte citação
Finalmente, o Plano Estratégico de Longo Prazo para Cuiabá
terá, na próxima década, o desafio de garantir o
desenvolvimento sustentável, por meio de políticas públicas
efetivas, visando o bem-estar do cidadão e transformar
Cuiabá na Capital do Pantanal e do Agronegócio. Este é o
desafio de todos nós.7

Carlos (2007 p.78) explica esta situação da seguinte maneira “Os capitais
encontram aí um tipo de refúgio para uma aplicação de rendimento seguro – em um Pais
de economia instável – em relação ao conjunto dos ativos passíveis de aplicação
financeira”.E encontram no Estado o parceiro ideal para ajudar a esses planos
desenvolver.
Os grandes projetos em curso – entre operações urbanas e obras de preparação
das cidades para a Copa do Mundo e as Olimpíadas – abrem frentes de expansão
imobiliária e atração de investimentos, flexibilizando e excepcionalizando normas e leis.
São os megaeventos que marcam, simbólica e concretamente, a entrada das cidades do
país no circuito dos territórios globais. Trazendo o teórico para Cuiabá, a realização da
7
Cuiabá. Plano Estratégico Município de cuiabá 2013 – 2023. Cuiabá-MT/2013 p.41

52
Copa do Mundo de 2014 foi um ápice deste processo que projetou á cidade em um
cenário internacional, permitindo tanto a entrada de recursos federais para obras como
visitantes de diversos países e diferentes regiões brasileiras.
Desta maneira produze- se uma intensificação da mercantilização do espaço
urbano, o que levou a preços de terra e aumento habitação de modo superlativo,
produzindo, por sua vez, ocorre um impacto significativo sobre os modos de habitar a
cidade por diferentes setores sociais.
Os grandes projetos urbanos realizados através da abertura de grandes vias,
empreendimentos imobiliários, as intervenções pontuais, os megaeventos, o avanço da
verticalização, e tantos outros com grande expressão territorial e econômica,
viabilizados por investimentos públicos e privados, criam novas formas de produção do
espaço e contribuem para a valorização imobiliária e a reprodução das desigualdades
sociais nas grandes cidades. Na mesma linha Souza (2013 p. 131) realiza as seguintes
considerações de sobre o chamado “neoliberalismo urbano”:

Esse “neoliberalismo urbano”, marcado por um estilo de gestão e de


planejamento que ficou conhecido como “empresarialista” ou
“empreendedorista”, se caracteriza, maciçamente, pelo deslocamento e
desplazementos de populações pobres, na esteira de processos ditos de
“gentrificação” que buscam revalorizar determinadas partes do espaço
urbano, mormente áreas centrais. Seja em conexão com megaeventos
esportivos ou não, tais processos de revalorização capitalista do
espaço urbano têm-se servido de todo um vocabulário, com a ajuda do
qual tenta-se difundir um discurso de legitimação e persuasão.

Cabe destacar que a produção da cidade neoliberal caracteriza- se por uma serie
de caracteristicas como a expulsão ou desplazamentos dos pobres para outros sectores
da cidade, a fins de revalorizar zonas estratégicas da cidade. Esse processo vão da mão
com a implementação de métodos de planejamento estratégico e marketing urbano,
mecanismos altamente mundializados. Tal como dizem diversos estudos estes processos
ocorrem em diferentes países América Latina, transformando as áreas centrais e os
centros históricos de cidades tão variados tamanho e hierarquia como pode ser a Cidade
do México, Buenos Aires, Bogotá, Salvador da Bahía, ou La Antigua (Guatemala). 8
Cabe se resaltar, que a urbanização brasileira ocorreu de maneira rápida e
intensiva, e sobretudo nos tempos atuais, e encontra-se fundamentada e subordinada a

8
VerAyelén (2010) para Buenos Aires; Delgadillo (2008) para Ciudad de México; Lulle y De Urbina
(2010) para Bogotá; Pires y Lima(2010) para Juiz de Fora; ou Rothfuss (2007) para Salvador (Bahía).

53
modelos de cidades que em muitos casos, vêm priorizando os interesses do capital,
advindos pela superestrutura da globalização neoliberal.
A mudança no quadro do poder mundial com crescente importância
dos países emergentes e consequente crescimento do emprego formal
não implica necessariamente cidades melhores. No Brasil podemos
dizer que a sociedade está menos desigual embora ainda constitua em
uma das mais desiguais do mundo. Mas esa melhoria social e
econômica que se reflete no consumo não se reflete nas cidades
( MARICATO, 2011 p. 76)

No caso brasileiro, as cidades refletem, nitidamente, o engendramento do


desenvolvimento capitalista, pois a classe social de melhor poder aquisitivo reside em
locais privilegiados da cidade, em relação à oferta dos serviços urbanos e lazer, em
geral.O acesso diferenciado à terra urbana entre as diferentes classes sociais interfere de
forma significativa na produção do espaço urbano, como assinala Santos (1989, p. 195):
“As cidades dependem muito das estruturas jurídicas da propriedade do solo urbano, da
importância do papel do Estado ou de organismos interessados na construção, e também
da organização da indústria da construção.”

No seguinte capitulo analisaremos como a produção do espaço urbano de Cuiabá


e as intervenções urbanas serviram para consolidar um modelo de urbanização
capitalista baseado no valor de troca e destituído do valor de uso do espaço. Reforçando
uma visão fragmentada da cidade.Trazendo elementos para trazer a discussão como o
papel do estado local como grande mediador e parceiro dos agentes imobiliários,
construtoras, ajudando a contribuir com uma visão de mercantilização da cidade. Tanto
assim que o espelho da absorção de capital pelo desenvolvimento urbano está causando
numerosos conflitos em torno da ocupação dos territórios pertencentes a os setores de
baixa renda que nelas puderam vivem por muitos anos.

54
Capítulo 3:
A produção
do Espaço
na Cidade
Neoliberal.

Reflexiones urbanas al fin del milenio.


La Ciudad.
La ciudad jubilosa, toda en flores.
Pronto terminará: una moda,
una fase, la época, vida.La dulzura y
el terror de la disolución final.
“Que caigan las primeras bombas sin demora”
Czeslaw Milosz.
(Premio Nobel de Literatura, 1995)

55
No capítulo anterior permitiu-se ressaltar a importância do espaço na lógica da
reprodução do capital. Observa-se como as cidades estão se convertendo em espaços
preferidos do capital para se reproduzir, sendo disputados na economia global. Smith
(2010, p. 15) salienta como esses espaços urbanos vão se transformando através da nova
fase do capital.

No es solamente el espacio el que está siendo reestructurado bajo los


auspicios del nuevo globalismo, sino el conjunto de la estructura de
las escalas espaciales, de lo global a lo local. En esta reestructuración,
de naturaleza política, a la escala urbana se vuelven a asignar
funciones como lugar de reproducción social. Cada día aumenta la
presión sobre los gobiernos municipales para que se desentiendan de
sus responsabilidades en la reproducción social a escala local, al
tiempo que se van cada vez mas envueltos en una aguda competencia
sin precedentes por las inversiones de capital en el seno del mercado
global.

Smith discute também como as lógicas globais pressionam cada vez mais os
“lugares”. O moderno e o global estão competindo pelo uso social e, geralmente em
escalas locais, o mediador nessas disputas tem sido o Estado. Na mesma linha, o autor
afirma que, “la globalización llevó al establecimiento de una relación nueva entre las
ciudades y la economía global que hasta cierto grado plantea el Estado Nacional”. Smith
(2008, p.17). Nessa nova relação, Harvey (2007) desmitifica a ideia errada que durante
a etapa neoliberal o Estado esteve “ausente” na construção de cidades.

El estado-nación sigue siendo un regulador del trabajo absolutamente


fundamental. La idea de que éste está disminuyendo o desapareciendo
o como centro de autoridad en la edad de la globalización en una idea
ridícula, que en realidad nos distrae del hecho que el Estado- Nación
está en la actualidad más dedicado que nunca a crear un clima de
negocios benigno para la inversión, lo cual significa justamente
controlar y reprimir tremendamente activo en el campo de las
relaciones capital-trabajo. Harvey (2007, p. 26). (Grifo nosso).

Portanto, o modo de produção capitalista é uma relação específica entre o


capital e o trabalho, mas o espaço compõe a parte mais importante nas análises. Nunca
antes como na etapa atual, pôde se observar que o papel do Estado em parceria com o
capital, criam novos espaços que sirvam à lógica de circulação. De modo que o capital
não é uma dinâmica desterritorializada, embora o ritmo rápido na hora da produção tem
alcançado apagar e recortar as velocidades de circulação e giro, presentando a rede
informática como o “espaço” de circulação do valor.

56
3.1. Reestruturação urbana em Cuiabá

Como já mencionado, a associação entre o capital imobiliário e o poder público


através do discurso modernista, consegue justificar-se como opção para uma
reestruturação urbana, embora o que esteja defendendo sejam ações políticas, éticas e
estéticas alinhadas a um projeto elitista que visa uma cidade urbanizada para um
determinado grupo. Beltrán Spósito (2007, p. 3) define o termo “reestruturação” como
aquele determinado pelo amplo e profundo conjunto de mudanças, no que “concernem
os processos de estruturação urbana e das cidades”.
Note-se que em Cuiabá aconteceu, entre os anos de 1960 a 1980, uma
importante transformação urbana a partir do discurso de modernização. Arruda (2002)
mostra como o Governo de MT e a prefeitura de Cuiabá criaram um discurso em torno
da modernização que possui um significado estreito, uma estética que imita os grandes
centros políticos: arquitetura modernista; abertura de grandes vias e um zoneamento
racionalista. A favor de um progresso capitalista desenvolvimentista, a autora comenta:

Os cuiabanos deviam se sentir participantes deste mundo de avanço


científico e tecnológico vendo grandes máquinas desfilarem pela
cidade. Durante as comemorações do aniversário de Cuiabá, em 1964,
a prefeitura exibiu as máquinas usadas nas transformações
urbanísticas: dois tratores, um caminhão basculante, um carro de
bombeiros, um rolo compressor e demais equipamentos de
pavimentação asfáltica. A exibição dessas máquinas que tinham por
função abrir caminhos, tornando-os mais planos, regulares, fáceis de
se trafegar, anunciava um tempo de expansão em que a velocidade
tinha um papel fundamental. A cidade crescia, os espaços se
alargavam, as distâncias diminuíam. Arruda (2002, p. 42).

O trabalho da pesquisadora demonstra como o discurso da “modernidade” foi


sendo implantado em Cuiabá, conquistando o poder político necessário para justificar as
transformações espaciais na cidade que o capital econômico precisava, tais como:
aberturas de vias, canalização dos córregos, substituição de boa parte do centro histórico
por novas edificações, criação de bairros operários distantes, verticalização de
determinadas regiões, etc. Estes discursos conseguem justificar a manutenção de uma
forte hierarquia socioeconômica-espacial, pois nunca foi pensado um projeto de
inclusão socioespacial para a cidade como um todo. Nas palavras de Carlos (2007, p.
66),

57
[...] estas transformações não atingem a metrópole como um todo,
apenas partes dela e, mesmo assim, com intensidades diferenciadas,
produzindo uma hierarquização dos lugares da cidade com o
estabelecimento de uma nova divisão sócio-espacial do trabalho.
Nesse contexto, assistimos à constituição de novas centralidades e o
esvaziamento de outras, em função dos novos usos como
consequência das mudanças nos setores econômicos.

Assim, a renovação urbana se inscreve em um conjunto de estratégias políticas,


mobiliárias e financeiras com orientação significativa no processo de reprodução
espacial, o qual, converge para o aprofundamento da segregação e hierarquização
espacial a partir da destruição da morfologia de áreas da metrópole, que ameaça e
transforma a vida urbana na medida em que reorienta usos e funções dos lugares da
cidade, expulsa a população para a periferia ou, quem pode pagar, para bairros próximos
ao centro.
O poder público financia as obras com o discurso de modernização das
cidades, o lucro vai para os proprietários de terras urbanas que ganham com a
especulação imobiliária. A classe trabalhadora não ganha em mobilidade pública, em
espaços públicos democráticos ou acesso a algum tipo de moradia digna. Este modelo
de urbanização é assinalado por Arantes (et.al 2000, p. 8):

Trata-se da transposição para o espaço urbano - público até segunda


ordem - dos conceitos e metodologias do planejamento estratégico
empresarial, elaborados originalmente na Harvard Business School.
Do que resulta em um projeto de cidade paradoxalmente articulado
por três analogias constitutivas: a cidade é uma mercadoria e como tal
está à venda num mercado em que outras cidades igualmente são
vendidas; a cidade é uma empresa, e como tal resume-se a
unanimidade de gestão e de negócios; a cidade enfim é uma pátria,
entendamos uma marca com a qual devem se identificar seus usuários,
cuja fidelidade ao produto, vendido como civismo, requer algo como o
exercício bonapartista do poder municipal.

Há muitos anos, em um famoso texto, Engels (1875 apud NESBITT, 2008, p.


416) já denunciava a fragmentação social no espaço urbano quando definiu: “A cidade é
construída de modo tão peculiar que uma pessoa pode morar nela durante anos e anos, ir
e vir todos os dias e nunca passar perto de um bairro operário ou mesmo de operários
[...]”. Dessa forma, colocando em evidência a divisão social do trabalho no espaço
urbano e como os grupos sociais delimitam sua ocupação em determinados trechos e
pontos da cidade.
Importante deixarmos claro quem são os agentes sociais que atuam na
transformação do espaço. A reprodução capitalista no território depende de promotores

58
concretos. Estes agentes sociais capitalistas atuam em diferentes escalas,
internacionalmente é a FIFA em parceria com os agentes do setor público nacional
(federal) e local (estaduais e municipais) e claro, os empresários do setor imobiliário
que atuam de modo a conseguir privilégios para atuarem nas intervenções urbanas que
reforçam o caráter segregador da cidade. Os grandes projetos urbanos realizados através
da abertura de grandes vias, empreendimentos imobiliários, a reabilitação das áreas
portuárias, as intervenções pontuais, os megaeventos e tantos outros com grande
expressão territorial e econômica, viabilizados por investimentos públicos e privados,
criam novas formas de produção do espaço e contribuem para a valorização imobiliária
e a reprodução das desigualdades sociais nas grandes cidades brasileiras.
Vejamos no seguinte mapa o processo de renovação urbana sofrida na cidade
de Cuiabá, a partir das obras de mobilidade que trouxe a Copa do Mundo do ano de
2014. Note- se, no mapa n 2 a seguir, as principais obras da Copa: o estádio Arena
Pantanal e os dois viadutos. Coincidentemente, as obras se localizam em áreas de
consumo da cidade, tanto o viaduto da Avenida do CPA, nas imediações do Shopping
Pantanal, quanto o viaduto da Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT - ao lado
do Shopping 3 Américas, e a Arena Pantanal, localizando-se onde concentra um público
de renda alta e média-alta, acrescentando com a construção, uma notável
supervalorização da área. Pode-se observar no mapa n 2, os principais eixos de
investimento coincidente com as Avenidas Fernando Correia, Av. Miguel Sutil e Av.
Rubens de Mendonça. Para mais esclarecimento sobre o tema, Carlos (2007, p.76-77)
destaca:
Deste modo, a renovação urbana, no momento atual, estabelece uma
estratégia espacial de dominação em aliança com setores econômicos,
que de um lado revela a imposição do setor imobiliário como
elemento dinâmico da economia, tornando patente a mobilização da
riqueza fundiária e imobiliária, compreendida com extensão do
capitalismo financeiro; e de outro, as transformações recentes da
economia capitalista, a entrada do setor da construção civil no circuito
industrial moderno.

Este discurso da reestruturação urbana evidencia uma ocupação desigual da


terra - onde a população de renda baixa tende a habitar locais no entorno da cidade - e
demonstrando um processo perverso de criação de áreas de reserva de valor para a
especulação imobiliária, destinada a atender a alocação do capital.

59
Mapa 2.Obras da Copa do Mundo 2014 e população segundo renda.

Fonte: Prefeitura de Cuiabá. IPDU, 2007 Cuiabá. IPDU, 2007 e Google Earth (2015). Modificado. Almeida. G

60
Trazendo o que fora mencionado para a cidade de Cuiabá e fazendo uma
relação com as principais obras implantadas por ocasião da Copa do Mundo de 2014,
pode-se dizer que as obras não buscaram unir a cidade como um todo, mas apenas
atender as regiões já valorizadas. As principais obras de mobilidade urbana foram
previstas na Av. Miguel Sutil, Av. Fernando Côrrea da Costa e Av. Rubens de
Mendonça, com especial atenção aos trechos de cruzamentos dos shoppings centers,
com a perspectiva de implantação do VLT que busca valorizar o trecho do aeroporto até
o Centro Político Administrativo. Estas regiões são, segundo os dados da prefeitura
municipal, as que possuem maiores rendas (Mapa 2). Desta maneira, para Vilarinho
Neto (2007, p.43), “O processo brasileiro de urbanização segue a lógica do capital, onde
a concentração de renda está nas mãos de poucos provocando, assim, também a
concentração espacial nas mãos de algumas poucas parcelas da população urbana”.
Com a realização da Copa do Mundo de 2014 na cidade de Cuiabá e as
intervenções urbanas que se seguiram, serviram para consolidar um modelo de
urbanização capitalista baseado no valor de troca e destituída do valor de uso do espaço,
reforçando uma visão fragmentada da cidade.
As propostas de reestruturação urbana na cidade serviram como fenômenos de
mercantilização do espaço e de fortalecimento do processo de desigualdade espacial, na
medida em que priorizaram determinadas áreas em detrimento de outras, atendendo a
determinados grupos sociais. Defendemos que a escolha da cidade de Cuiabá como sede
da Copa de 2014 acabou por aprofundar as contradições das relações sociais,
evidenciando o processo de segregação socioespacial.
Uma das estratégias fundamentais para se conseguir concretizar as
intervenções urbanas e ganhar a força política necessária está no discurso da
modernização, sustentado pelo poder público (nacional e estadual) em conjunto com a
mídia e o empresariado, mas que em essência escondem um planejamento inadequado,
sem participação popular, classista e que reforça uma Cuiabá desumana. Trata-se no
fundo da materialização no solo urbano das relações neoliberais de desregulamentação,
privatização dos bens públicos urbanos e apropriação privada dos investimentos
públicos. Segundo Vainer diz (2014, p. 76):

Estão emergindo dos megaeventos, cidades mais desiguais,


socialmente mais segregadas, nas quais os eventuais benefícios dos
investimentos realizados são apropriados pelas camadas de renda

61
média e alta, mas sobretudo pelos detentores da propriedade fundiária
e pelos capitais da promoção imobiliária.

O que acontece na prática é que a dimensão fundiária da terra que é desigual se


agrava, pois, as transformações geradas pelos megaeventos vão no sentido de ressaltar o
valor de troca do solo urbano e não promovem uma política que permita a apropriação
do valor de uso pela população. Este projeto neoliberal é hegemônico no discurso sobre
a cidade e vai dialeticamente transformando as relações sociais e espaciais que
interferem na forma de apropriação socioterritorial e cotidiana das cidades. Estas
transformações da cidade vão no sentido oposto de uma cidade cidadã. Harvey (2007)
ao explicar este processo relaciona fatos históricos, econômicos e sociais para indicar
como a “reurbanização dos espaços” é uma tática do capital a fim de se reproduzir. Já
para Cicolella (2008, p. 1),

Los procesos de reestructuración económica global están dando lugar,


en los últimos años, al rediseño de la relación entre sociedad,
economía y espacio, generando nuevas estructuras territoriales de
producción, gestión, circulación y consumo, así como nuevas formas
de fragmentación y segregación socioterritorial.

Santos (2004) ao refletir sobre “reestruturação”, argumenta que existe uma


seletividade imposta pelo capital, por intermédio das técnicas, criando novas formas no
espaço geográfico e, consequentemente, novas relações. O paradoxo é que entre a
produção coletiva do capital e apropriação individual do lucro no processo produtivo,
ampliado através das técnicas, reforça as distâncias sociais e ainda afirma:

Quanto mais o processo produtivo é complexo, mais as forças


materiais e intelectuais necessárias ao trabalho são desenvolvidas, e
maiores são as cidades. Mas a proximidade física não elimina o
distanciamento social, nem tampouco facilita os contatos humanos
não-funcionais. A proximidade física é indispensável à reprodução da
estrutura social. A crescente separação entre classes agrava a distância
social. Os homens vivem cada vez mais amontoados lado a lado em
aglomerações monstruosas, mas estão isolados uns dos outros. Santos
(2004, p. 33).

Porém, esse processo de “reurbanização” não é produzido de forma solidária,


humana e buscando união social, mas possui forte apelo comercial e como descrito por
Savage e Warde (1993), tem como alvo final uma alteração drástica na paisagem, na
estrutura fundiária, na circulação de pessoas. Tudo isso para garantir que as relações
sociais que se darão nestes espaços serão apenas entre grupos similares.

62
Carlos (2001, p. 33) ao analisar os projetos que transformam o espaço urbano,
esclarece como estes processos de transformação da morfologia urbana acabam por
alterar as relações socioespaciais:

A construção das vias rápidas, pontes, viadutos, linhas de metrô,


fragmenta o espaço urbano, mudando a relação dos cidadãos com a
cidade. Aqui as transformações do espaço vividas pela destruição da
memória social, dão-se em virtude da liquidação dos referenciais
individuais e coletivos, produzindo a fragmentação da identidade, a
perda da memória social, pois os elementos conhecidos e
reconhecidos impressos na paisagem da metrópole se esfumam.

Desse modo, os projetos urbanos, passam a ter a essência de uma política


urbana fragmentada, sendo que as cidades atuais fragmentam a sociedade, em vez de
reuni-la. Neste contexto, o espaço geográfico ganha novos contornos, novas
características, novas definições. A propósito desta situação, observa Sposito (1999, p.
22) que

A prevalência dos interesses individuais sobre os coletivos no interior


das cidades expressão do acirramento desse processo seletivo de
acesso aos territórios urbanos, resultando não apenas de uma
diferenciação a esse acesso, mas uma cisão socioespacial, decorrente
da convivência e do conflito nos espaços urbanos entre os que podem
pagar e os que não têm condições monetárias para acesso à cidade. O
espaço aparece como mercadoria, apesar de suas especificidades,
produzido e vendido enquanto solo urbano, cujo conteúdo escapa aos
indivíduos.

Nesta condição, o espaço produzido enquanto mercadoria, entra no circuito da


troca, atraindo capitais que migram de um setor da economia para outro. Isso explica a
emergência de uma nova lógica associada a uma nova forma de dominação do espaço
que se reproduz ordenando e direcionando a ocupação, fragmentando e tornando os
espaços trocáveis a partir de operações que se realizam no mercado. Deste modo, o
espaço é produzido e reproduzido enquanto mercadoria reprodutível, como afirma
Carlos (2007 p.73).

A ocupação do espaço da cidade, submetida à existência da


propriedade privada do solo urbano, é produto da expansão da
urbanização capitalista apoiada na generalização do valor de troca no
espaço, fazendo com que o acesso à cidade seja mediado
necessariamente, pelo mercado imobiliário.

63
O uso submetido no mundo moderno à propriedade privada, ao império da
troca, reproduz o espaço como mercadoria cambiável e como consequência, delimitando
os espaços passíveis de apropriação e revelando a fragmentação imposta pelo sentido e
amplitude da generalização da propriedade privada do solo urbano. Como consequência,
a vida se normatiza em espaços reduzidos a uma função específica que esvazia as
possibilidades de apropriação. Porém, o uso do espaço na cidade subordina-se cada vez
mais à troca e a reprodução do valor de troca, submetendo-o às necessidades do
mercado imobiliário. Portanto, o solo torna-se uma mercadoria diferenciada, tornando-
se alvo de intensa disputa, principalmente nas grandes cidades, onde o solo adquire alto
valor. Carlos (2001, s/r) afirma que
A produção do espaço se realiza sob a égide da propriedade privada
do solo urbano; onde o espaço fragmentado é vendido em pedaços
tornando-se intercambiável a partir de operações que se realizam
através e no mercado; tendencialmente produzido enquanto
mercadoria, deste modo, o espaço entra no circuito da troca,
generalizando-se na sua dimensão de mercadoria.

Impõe-se, desta forma, um significado à cidade no qual a propriedade privada


delimita e esvazia as possibilidades da realização da vida humana. A cidade é produzida
enquanto mercadoria, englobando o espaço privado (a casa) e as práticas espaciais
produzidas pelo habitar (sociabilidade e produção espacial). Neste sentido, o acesso aos
lugares da cidade fica submetido à ditadura do mercado, promovendo a extrema
separação dos momentos da vida cotidiana.
A ação discriminadora do mercado gera um modelo de cidade, cada vez mais
exclusiva e só para um determinado grupo de pessoas que pode pagar . O acesso a terra,
o solo urbano para morar, gera efeitos diferenciadores na população. É o mercado de
terras o encarregado de hipervalorizar certas áreas, pois obedece à lógica dos
proprietários e especuladores imobiliários que propõem um elevado preço do solo
urbano, levando ao agravamento do déficit habitacional que, segundo Beltrán (2013
p.23):

El mercado se pretendió el máximo ordenador de las diversas


demandas de los habitantes de cada espacio, el Estado nacional, y su
regulación estaba por fuera también de sus posibilidades; lo
internacional se volvió interioridad y emergió con ello un mundo
desterritorializado, donde la resistencia al capital era difícil, en tanto
difícil era la ubicación de sus lugares de acción, sus dinámicas de
producción (...)

64
Nota-se que a produção do espaço se faz sob o escudo da propriedade privada
do solo urbano, onde o espaço fragmentado é vendido em pedaços, tornando-se
intercambiável a partir de operações que se realizam através do mercado. Carlos (2007
p.27) faz a seguinte reflexão:
Assim, o acesso ao espaço na cidade está preso e submetido ao
mercado no qual a propriedade privada do solo urbano aparece como
condição do desenvolvimento do capitalismo. A existência da
propriedade privada significa a divisão e parcelarização da cidade,
bem como a profunda desigualdade do processo de produção do
espaço urbano, fato que se percebe de forma clara e inequívoca no
plano da vida cotidiana inicialmente revelada no ato de morar, que
coloca o habitante diante da existência real da propriedade privada do
solo urbano.

A "tese" em questão baseia-se nada mais nas contradições recorrentes entre o


valor de uso que o lugar representa para os seus habitantes e o valor de troca com que
ele se apresenta para aqueles interessados em extrair dele um benefício econômico
qualquer, sobretudo na forma de uma renda exclusiva. As estratégias da produção do
espaço urbano contemporâneo se realizam imbricada pelas relações legais instituídas
pelo Estado, sendo assim, há possibilidades de análise das táticas dos setores
econômicos e do poder público de utilizar as prerrogativas legais para manutenção de
seus privilégios, naturalizando-os e ao mesmo tempo, negando o acesso aos direitos
para a maioria da sociedade. Já Harvey (1980) expõe que para o entendimento da
produção do espaço, sobretudo do espaço urbano, deve-se levar em consideração o
monopólio de uma classe, o que exclui principalmente os pobres da propriedade
fundiária do espaço urbano.
A questão fundiária é uma grande preocupação do município. Cuiabá é uma
cidade que possui uma estrutura fundiária irregular que é fruto de diversos fatores:
crescimento explosivo a partir dos anos de 1960, mencionado anteriormente, que não se
preocupou com a população pobre, nem tampouco pela concentração da terra em poucas
mãos, fomentando a falta de democratização nas políticas públicas. A falta de moradia
nas décadas de 1970, 1980 e 1990 fez com que áreas desocupadas da cidade fossem
ocupadas por pessoas que não conseguiam comprar um lote ou uma casa, e acabavam
vendo nas imensas áreas vazias da cidade uma opção para fixar suas residências. O
processo de “grilagem” de lotes em Cuiabá foi bem organizado neste período e consistia
na organização das famílias sem moradia que limpavam a área, demarcavam os lotes

65
mais ou menos e providenciavam as ligações clandestinas de água e de luz. A ocupação
não se deu apenas em áreas privadas, mas também públicas e de proteção ambiental.
Segundo entrevista realizada no dia 19 de maio de 2015, o atual Secretário de
Regulação Fundiária da Prefeitura de Cuiabá, Erivelton Nunes, afirmou:

Cuiabá inteira praticamente cresceu de forma desordenada e em


processo de ocupação. E ele mesmo pergunta - se “que aconteceu com
a regularização fundiária? Porque nenhum gestor gosta de mexer com
a regularização fundiária? Porque ela consta de muitos conflitos
jurídicos, muitos interesses específicos. Ela é complexa de se fazer,
tem que ter uma vontade política e uma coragem, para poder fazer
[......] Para ter regularização fundiária, eu fui ver como é a realidade
do país com a regularização fundiária, visitei 3, 4 estados e você vê
que 80% do país não é regularizado. (E.N- Diretor de Regularização
Fundiária).

Como já referenciado, uma das restrições mais importantes de acesso ao solo


urbano é a regularização fundiária. Hoje, em Cuiabá, existem numerosos bairros que
não contam com ela e que se encontra em uma disputa para consegui-la. Segundo a
matéria jornalistíca publicada em março de 2015 pelo site Folhamax:

Mais de 40% dos bairros de Cuiabá são irregulares conforme a


Secretaria de Cidades do Município. Porém, a União Cuiabana de
Associações de Moradores de Bairros (Uamb) afirma que o número de
comunidades não regularizadas atinge 65% da cidade. Além da
ausência de regularização fundiária, a Secretaria e a Ucamb alertam
para a existência de uma ‘indústria’ de invasões na capital. [...]
Ausência de escolas e creches, serviços básicos como água e energia
elétrica precários e a quase inexistência de saneamento básico são
alguns dos problemas que afetam as comunidades irregulares em
Cuiabá. “Noventa e nove por cento não possui esgoto sanitário”,
afirma o presidente da Ucamb, Édio Martins de Souza. Essas
demandas surgem pela falta de documentação que impede
investimentos na infraestrutura do local. “A prefeitura não emplaca
recursos Federais sem documentos”, lamenta. O problema da
regularização fundiária é antigo e gera insegurança para a população.
Segundo Édio de Souza, há abairramentos que já somam 80 anos de
existência e que ainda não foram regularizados. “O bairro Alvorada,
por exemplo, tem mais de 50 anos, já o Ribeirão do Lipa ultrapassa 80
de existência e nenhum deles são regularizados”, revela9

9
Fonte: http://folhamax.com.br/cidades/mais-de-40-dos-bairros-de-cuiaba-sao-irregulares/23766. Acesso
em: 20/04/2015

66
Portanto, a regularização fundiária constitui a principal luta dos moradores.
Esta (des)regularização que notamos em Cuiabá e em várias cidades brasileiras faz parte
de uma política urbana tecnocrática que nunca se importou com a população que migrou
para as cidades em busca de empregos. Para Maricato (2001, p. 51): “É impossível
esperar que uma sociedade como a nossa, radicalmente desigual e autoritária, baseada
em relações de privilégio e arbitrariedade, possa produzir cidades que não tenham essas
características”. A fala da autora deixa claro que este problema está presente em quase
todas as cidades brasileiras.
Como na produção capitalista, os que possuem a propriedade dos meios de
produção são os que controlam os processos e capitalizam seus benefícios; na cidade
são os proprietários do solo que colocam seus bens no mercado e especulam movidos
pela lógica da obtenção do lucro. Como afirma Carlos (2004, p. 27), “A existência da
propriedade privada significa a divisão e fragmentação da cidade, assim como uma
profunda desigualdade no processo de produção do espaço urbano”. Portanto, o solo
torna-se uma mercadoria diferenciada, tornando-se alvo de intensa disputa,
principalmente nas grandes cidades, onde o solo adquire alto valor. Sendo assim, as
consequências do modelo de produção econômica estão presentes na estrutura fundiária
e podem apresentar-se de muitas formas, entre elas: a fragmentação do espaço, os
conflitos, as pressões políticas por privilégios, entre outras.
Conforme aponta Rodrigues (2007), a cidade-mercadoria não é trocável no
“mercado como um objeto”. Não se transmite, em tese, a “propriedade da cidade em sua
totalidade”. O que se vende são fragmentos de lugares, polos de investimentos para
capitalistas nacionais e estrangeiros com o objetivo de aumentarem lucros, rendas e
juros. Os fragmentos de lugares para eventos, atividades turísticas e de investimento,
visando a incorporação imobiliária de bairros nobres, de condomínios murados e, como
totalidade, a cidade-mercadoria vende imagem de prefeitos como “gestores”
capitalistas. Nas democracias eleitorais, simbolicamente um prefeito entrega ao novo a
“chave da cidade”, mas não a “propriedade da cidade”.
Atualmente, o processo de crescimento da cidade está ligado aos interesses
particulares do setor dos promotores urbanos que tem prosperado de maneira
exponencial na cidade. Sendo assim, que o desenvolvimento imobiliário convertesse em
um dos pilares de crescimento da economia urbana local, constituindo-se em um dos
principais veículos de acumulação do capital do urbanismo neoliberal. Harvey (2008).
O capital imobiliário mantém profissionais para o acompanhamento do orçamento

67
público e de legislação urbanística já que eles incidem nos preços das localizações e,
portanto, na valorização ou desvalorização de terrenos. Carlos (2007, p. 15) afirma que;

[...] a morfologia urbana é cada vez mais produto de estratégias


políticas que impõem uma ordem repressiva em que as diferenças são,
constantemente, esmagadas em nome do progresso. Com este
procedimento se encobre os interesses imobiliários que permitem o
deslocamento e a expulsão dos moradores indesejáveis dos “lugares
valorizados” pelos atos decorrentes do planejamento urbano.

É importante ressaltar que pela falta de protagonismo por parte do Estado,


cedendo e deixando em mãos dos privados, o modelo de cidade acrescenta as
desigualdades. Pois, quanto maior o controle na produção imobiliária (particularmente a
habitacional) pela lógica do mercado, maior será o nível de fragmentação do espaço e
de segregação socioespacial na cidade.
Conforme o que foi apresentado, com o protagonista da propriedade privada da
terra, a atuação dos agentes imobiliários e as lógicas nada tem a ver com o uso social da
cidade. Santos (1997, p. 51) observa que “[...] o espaço é hoje um sistema de objetos
cada vez mais artificiais, povoado por sistemas de ações igualmente imbuídas de
artificialidade, e cada vez mais tendentes a fins estranhos ao lugar e a seus habitantes”.
Observa-se que nas lógicas neoliberais, o espaço que era produzido pelas ações
humanas para moradia assumiu diferentes fins para a própria sociedade. Neste caso,
Volochko (2012, p.16) traz a seguinte reflexão:

A tendência mundial está no fato de que os espaços são cada vez


menos espaços sociais e de socialização e cada vez mais espaços
fragmentados, especializados, funcionalizáveis, porque
intercambiáveis na lógica global e homogeneizante da troca e da
propriedade privada. Tais espaços tendem a totalizar os planos da
vida, e cada vez mais os espaços da moradia se confundem com outros
espaços produtivos, num mix imobiliário residência/escritório que
esvazia o morar como ato improdutivo efetivando-o como mais um
negócio a ser empreendido, mais um serviço que a metrópole moderna
e mundial deve oferecer aos seus moradores-clientes que demandam
esta forma “moderna” de morar.

Contudo, pode se dizer que na prática não existe ocupação neutra do espaço e
nem espaço sem algum grupo exercendo poder sobre ele. Sempre que se ocupa, que se
edifica é para alguém, com recursos de alguém e para determinadas finalidades e
interesses. Mesmo a aparente desordem das cidades dos países periféricos está

68
compreendida dentro de uma lógica de produção do espaço e de uma perspectiva sobre
o mundo.

3.2. Produção do espaço na área do Córrego do Barbado - Cuiabá/ MT

A produção do espaço geográfico iniciou-se com a apropriação, dominação e


transformação da natureza pelo homem como estratégia de reprodução para sua
existência. Assim, organizado em sociedade, o espaço é resultado de numerosos agentes
que se materializam no espaço através das diversas técnicas e estratégias. Como diz
Santos (1996), “o ato de produzir equivale ao ato de produzir espaço”.
Em Cuiabá, a ocupação sem ordem e a falta de políticas públicas de
preservação fizeram com que alguns setores da população começassem a ocupar certas
áreas da cidade denominadas áreas de risco, como mostra Zamparoni (2011, p. 177),

A maior parte das áreas de risco às enchentes localizam - se às


margens do rio Cuiabá e adjacências. Essa ocupação é formada por
grilos, invasões, propriedades sem documentação legalizada junto aos
órgãos de planejamento do município. Grande parte da população de
baixa renda vive nestas localidades.

A ocupação das referidas áreas evidencia que a oportunidade de uma vida com
qualidade não se apresenta da mesma forma para todos, assim, parte da população,
especialmente dos setores menos favorecidos economicamente, residem em locais
impróprios para moradia, por oferecerem riscos à vida, especialmente nas encostas e
margens de rios, como nas Áreas de Preservação Permanente - APP´s.
Em especial, a ocupação recente da Bacia do Barbado, tributário do Rio
Cuiabá, foi marcada com a construção do Centro Político Administrativo (CPA) na
década de 1970, na porção nordeste da cidade na região das cabeceiras do córrego
e com a instalação da UFMT na área central da bacia. Historicamente, existiam
ocupações de chácaras e sítios com uma estrada de terra para o distrito do Coxipó, ou
seja, uma área com características rurais. Hoje, o Córrego do Barbado com 9.400 metros
de extensão comanda a bacia, totalmente inserida no perímetro urbano. Bordest (2003,
p. 51). Segundo a mesma autora, a sub-bacia do Córrego do Barbado conta com 22
bairros, 11 são regulares e 11 oriundos de ocupações. Por enquanto, as ocupações
irregulares são áreas que não deveriam ser ocupadas devido as condições inapropriadas
do solo para construção de moradias ou por estarem próximas ou mesmo, margeando ao
Córrego.

69
Como correlato, a sub-bacia do Barbado é um espaço heterogêneo, marcado
por fortes contradições sociais, tal como diz Rossetto, (2012, p. 41):

Os contrastes sociais estão presentes ao longo de toda a sub-bacia, que


acomoda habitações de alto padrão, condomínios fechados como o
Alphaville e dois shoppings centers em bairros com infraestrutura de
água, energia, linha de ônibus, pavimentação asfáltica, assim como
bairros informais sem pavimentação e onde o abastecimento de água e
energia é precário. Um espaço, portanto, heterogêneo e marcado por
fortes contradições sociais que, configura como o perfil característico
do espaço urbano brasileiro.

No período recente, o córrego tem apresentado contínuas mudanças, sendo que


ainda é receptáculo de pessoas que chegam à área para morar. Em habitações precárias
e, por sua vez, também com a instalação dos dois shoppings centers: Três Américas e
Pantanal, constituíram dois vetores de expansão urbana que se instalaram nessa sub-
bacia, gerando assim, grandes empreendimentos imobiliários. A seguir, o Mapa 3 reflete
a evolução urbana do mencionado córrego. Observa-se que foi na década de 1960 que
começou a ocupação do córrego, em concordância com o aumento do crescimento
desordenado e sem planejamento da cidade. Também pode se observar no período
recente de 2001 – 2008, a instalação de pessoas na localidade, em grande maioria em
situação precária, o que aprofunda a informalidade existente no ambiente urbano,
desafiando a gestão pública a encontrar soluções para o problema.
A cidade de Cuiabá está inserida no momento atual em um contínuo
crescimento, motivado pelo desenvolvimento econômico do Estado e mudanças pela
realização de obras de engenharia para a Copa do Mundo de 2014. Novas avenidas
serão construídas e muitas obras de infraestrutura consideradas necessárias para melhor
organização do espaço urbano, dentre elas a Avenida Parque do Barbado, já prevista no
Plano Diretor da cidade, que será paralela ao curso médio do Córrego do Barbado.
Nesse sentido, a mencionada área vem apresentando significativas mudanças,
entre elas a constução dos eixos para aumentar a mobilidade é um dado fundamental.
Com a construção da Avenida das Torres já se tem uma referência de crescimento na
área. Segundo Colet (2012, p. 29),
[...] iniciada no ano de 2007, interligando o bairro Pedra 90 à Avenida
Gonçalves Antunes de Barros (Jurumirim), próximo ao Córrego do
Barbado, acarretou mudanças significativas no espaço urbano da
cidade, estimulando o surgimento de novos empreendimentos
imobiliários.

70
Mapa 3- A evolução urbana da Bacia do Córrego Barbado - Cuiabá – MT

71

Fonte: Adaptado do Perfil Socioeconômico de Cuiabá, Vol. IV (2009) (Colet, 2012 p. 29)
p.23)
A figura n°4 apresenta os principais eixos de mobilidade no córrego e em
vermelho a avenida projetada “Parque do Barbado”, podendo-se observar assim, a
importância dela na integração de certas áreas da cidade, enquanto a Avenida Parque do
Barbado será construída para interligar as avenidas Fernando Correa da Costa,
Arquimedes Pereira Lima (Estrada do Moinho), Dante de Oliveira (Av. dos
Trabalhadores), Gonçalo Antunes de Barros (Jurumirim) e Avenida Vereador Juliano
Costa Marques. Segundo Colet (2012, p. 23),

A obra da Av. Parque do Barbado envolverá muitas desapropriações


de edificações nas áreas de APP- Áreas de Preservação Permanente.
Esta tem o objetivo de desafogar o trânsito da Av. Miguel Sutil e se
integrará como uma importante via na cidade.

Dita obra envolvera algumas desapropriações de famílias localizadas nas


margens do córrego em APP´s, onde ocorrem episódios de enchentes e alagamentos na
estação chuvosa. A informalidade existente no ambiente urbano desafia a gestão pública
a encontrar soluções para o problema. Na maioria dos casos, os Estados locais escolhem
a opção de remanejar a população, contrariamente à busca de soluções no lugar. Os
bairros que seriam afetados pelas desapropriações são, principalmente: Bela Vista,
Castelo Branco, Pedregal e Renascer (Ver mapa 4, p. 72).

Figura 4 –Eixos de movilidade na bacia do Barbado. Fonte: Imagem de Satélite Ano 2014.Google Earth. 72
Os Bairros Bela Vista, Castelo Branco, Pedregal e Renascer estão situados em
regiões nobres do espaço urbano de Cuiabá. Contudo, as suas características naturais,
estruturais, econômicas e sociais se aproximam da realidade das áreas periféricas, mas
em um contexto urbano com elementos de infraestrutura privilegiada que oferta acesso a
diversas áreas nobres da cidade. No entanto, algumas de suas características aproximam
das paisagens das áreas periféricas, locais em que a população de menor renda tem
acesso à posse do solo urbano.
O diagnóstico feito pela SECOPA em parceria com a UFMT mostrou que ao
longo do percurso delimitado para a construção da Avenida Parque do Barbado, serão
impactadas aproximadamente 579 famílias, o que envolve cerca de 1.695 pessoas que
residem em 445 casas.
Em nosso trabalho de campo, realizado especificamente nos trechos de
desapropriações, ainda existia a incerteza por parte dos moradores ante o possível
remanejamento (os habitantes entrevistados foram especificamente do Bairro Castelo
Branco). Nas entrevistas, priorizou-se a pergunta: quais são as suas preocupações com a
construção da Avenida Parque do Barbado?” A grande maioria dos entrevistados
mostrou apreensão com a nova realidade e as ações do poder público, que estão
expressas em algumas respostas:
Se nós vamos sair daqui, para onde vamos? Aqui tem tudo perto,
escola, tem parentes aqui no bairro. Tem trabalho aqui perto, e tem a
questão da igreja”. (C.L.S- Bairro Castelo Branco)10
Se tirar nós daqui, como vamos sobreviver? Dona Auxiliadora lava a
roupa aqui em casa. Aqui é tudo perto, shopping, amigos, centro.
Meus filhos podem andar tranquilos no bairro. Fico preocupada com o
sustento”. (J. R M. S- Bairro Castelo Branco).
Tirar e deixar a gente em um lugar que não seja próximo, porque aqui
tá perto do centro”. (L.C.O- Bairro Castelo Branco).

Dessa forma, com base nos resultados das informações coletadas in loco, nas
principais falas é frequente a afirmação que o entrevistado, “sente-se feliz morando no
Bairro”. Entre os fatores citados para justificar tal afirmativa está o nascimento dos
filhos, o crescimento e a multiplicação das famílias, que se percebem nucleares e
extensas. Também, muitas famílias mencionam elementos do universo simbólico que
permeiam os valores humanos e os sentimentos forjados nas instituições como a família,

10
Entrevista realizada por ONÉLIA, C, R; ZAMPARONI, C. A. G. P. em Diagnóstico Socioeconômico
da Implantação da Avenida Parque do Barbado - Cuiabá/MT (relatório) Coordenação __ Cuiabá, MT:
Universidade Federal de Mato Grosso; Secretaria da Copa. Governo do Estado de Mato Grosso. 2012.
(Volume I e II).

73
igrejas, escolas e creches, associações e outros setores como no comércio, nas ruas,
quintais e moradias.
Grande parte da população entrevistada demonstrou angústia com a questão da
agilização nas informações sobre as condições que envolvem o remanejamento. Desse
modo, espera-se por parte dos órgãos de gestão e decisão pública, que o processo de
remanejamento da população investigada, seja realizado com base na realidade
socioeconômica da população local, de forma que garanta a dignidade de todas as
pessoas envolvidas, que elas recebam locais de residência, moradias e relações
familiares e de amizades próximas às que possuem agora.

74
Mapa 4. Bairros afetados pelas desapropriações

Fonte: Estudo de Impacto Socioeconômico da implantação da Avenida Parque do Barbado – Cuiabá – MT, 2011

75
3.3 O papel do estado e as desapropiações

Depois do percorrido por os bairros afetados pela construção da Avenida parque


do Barbado, consultamos com o Estado munipal, através de seu Secretario de
regularização fundiária o Senhor Eribelton Nunez o que esta acontecendo na área do
Barbado. O secretario comenta o seguinte;

Recentemente, se tratando desse córrego do Barbado, recentemente a gente


fez uma desapropriação de aquele espaço de Castelo Branco onde passa o
córrego do Brabado, agora está todo bonito, a gente urbanizou lá coloco
grama, hoje essas famílias estão todas na unidade habitacional residenciais
chamados Altos do Parque II (E.J. N- Director de Regularização Fundiaria)

Na entrevista o secretario reconheceu que efetivamente foram remanejados cerca


de 20 familias para os conjuntos habitacionais Altos do Parque II situados na zona Sul
da cidade. Ele constitui um conjunto residencial do Programa Habitacional do Governo
Federal “Minha Casa, Minha Vida”.Sendo tudas as familias, suegundo a Prefeitura de
baixa renda e instaladas no início do trecho da Avenida Jururum. A seguir a foto n°1
ilustra a antga área ocupada por ditas familias.
Percebe-se a alteração do local pela retirada de algumas residências antes ali
alocadas, e a instalação de blocos de concreto para a canalização do córrego junto do
aterro sobre a APP. Esse trecho obteve modificações repentinas, e pequenas se
relacionado ao trecho todo, algumas desapropriações foram efetuadas, mas nenhum
manifesto de moradores na mídia foi notificado. Dessa forma podemos inferir que a
realização dessas obras realizadas por partes, pode ser uma estratégia das entidades
locais para que sejam cumpridas sem o alarde da população envolvida.

76
Foto 1. Área desapropiada. Margens do Córrego do Barbado. Cuiabá-MT

Foto: Junho 2015

Voltando ao discurso oficial em quanto à temática da desapropiação e como foi a


reação dos vizinhos frente a expropriação o mencionado Secretadio falou o seguinte;

Existiu muita resistência das pessoas de sair de aquele lugar, pois já criaram
um vinculo ne? . A gente precisa à trabalhadora social deve fazer um trabalho
mais de conscientização, porque ali esta na vera de um córrego, tem muitas
pessoas vulneráveis, a saúde também esta vulnerável, até pode pegar algumas
doenças, com a moradia precária, existiam muitas barracas de madeira, tem
que fazer muita convença a pessoa, que também existe um projeto do poder
público que não pode perder o recurso”. (E.J.N- Director de Regularização
Fundiaria)

Na fala do atual Secretario de regularização Fundaria justifica a relocalização a


causa da informalidade urbana que existia na área. Nota- se que a informalidade urbana
é tomada como uma desculpa para começar a desterritorialização em espaços
disputados por duas lógicas . Esses espaços, constituim pontos estratégicos para a
reprodução do capital, e que com a "desculpa" para resolver o problema da habitação
tem acontecido processos sucessivos de expropriação aos sujeitos ais pobres da ordem
capitalista, sob a forma de deslocalização, a reinstalação, a erradicação da informalidade

77
urbana, entre outros. Ultimamente, a liberação de terra bem localizada para
empreendimentos e grandes negócios tem levado a um aumento exponencial de
remoções forçadas de assentamentos populares, muitos com décadas de existência,
especialmente nas encostas e margens de rios, terras fiscais, etc. incrementam os
conflitos urbanos. Estes exemplos, encontramos em todas as cidades da América Latina.
Segundo Beltrán (2013 p.26) a relocalização é uma estratégia do capital para se
reinventar e lutar contras as lógicas do local.

Relocalizar la resistencia contra lo globalizado era reivindicar la


preeminencia de la política del lugar para desde allí transformar la
dominación del capitalismo globalizado y, en la práctica local, ganar la
posibilidad de proyectar la resistencia al mundo global para negociar, o
presionar, acciones de justicia social por fuera de los mecanismo
institucionalizados que el capital había creado a su acomodo.

Aquele tipo de “relocalização” é claramente opressora, que desrespeita a


dignidade de pessoas humildes e implica desqualificar a vida e as memórias de quem
construiu e habita um lugar: um espaço deixa de ser um bairro popular para passar o
processo de “revitalização”. Tais termos são típicos de um discurso técnico que tira a
identidade de um bairro para facilitar a desterritorialização- e as intervenções no
substrato e na paisagem que propiciarão uma revalorização capitalista do espaço, com o
valor de troca subvertendo o valor de uso aos espaços geográficos.
Por suparte,Carlos (2007 p.76) explica os processos de deslocalização em geral
como um pretexto da renovação urbana da cidade e acaba dizendo
Assim, sob a forma da renovação urbana, as transformações necessárias para
a reprodução do capital aparecem travestidas de necessidade social imposta
pelo Estado enquanto “interesse público“, criando a representação necessária
capaz de dissimular os conflitos de interesses. Este é o sentido do discurso da
“modernização necessária ao crescimento”, a partir do qual se estabelece a
lógica que sustenta o consenso em torno do deslocamento das favelas,
expulsando-se a população residente e destruindo-se bairros inteiros da
metrópole. É assim que o processo de mercantilização do espaço, como
condição da reprodução do capital, só pode se realizar, em um determinado
momento do processo de urbanização, pela mediação do Estado, feita através
de mecanismos de gestão.

Este processo se deu na área estudada que com a “desculpa” da regularização


fundiária e melhorar as condiciones de vida dos moradores foi tirado essa população a
fins de melhorar o trafego de carros na cidade e ligar áreas estratégicas da cidade.
Retirar a os moradores do ex- bairro Castelo Branco para o sector pode ser cruel, para
os moradores mais antigos a deslocalização é particularmente até mais violento. Eles
veem a morte de seu bairro diante dos seus olhos, onde seus filhos nasceram e tem seu

78
trabalho. Existe a violência urbana, o bullying territorial. A grande maioria da
população pode ser vítima do fenômeno manipulado pelos grandes interesses. Em unos
dos comentários dos vizinhos revela- se essa preocupação
Por fim, pode- se dizer que hoje o espaço está cada vez mais voltado para os
interesses privados que para os interesses dos moradores da cidade. Concordando com
Vilarinho Neto (2013 p.9) quando diz:

A concepção do espaço se comprende através de e poderes assimétricos


torna-se assim parte do esclarecimento das múltiplas ordens relacionais, tanto
internamente como externamente, entre o local e o global, nos permitindo
pensar sobre a emergência de novas conformações dos domínios territoriais
pelos novos usos globalizados.

Contudo, grande parte dos moradores dessas áreas reside há mais de 20 anos, o
que lhes deu tempo suficiente para criar vínculos e apego pelo local e por suas
moradias, sejam vínculos religiosos, empregatícios, amistosos, familiares, entre outros.
Por isso exige-se que sejam levadas em conta, as necessidades dessas famílias. A
começar pelo fato de que o direito à habitação e necessidade do cumprimento das leis só
veio a calhar com a proposta do projeto.
Porem, estudando a importância que os lugares possuem para criação de
identidades e na construção das relações e contato entre as pessoas, imprimindo na
paisagem e na memória os registros do espaço ao longo do tempo (rugosidade) , vão
entender os esforços para as modificações estruturais nos processo de “reurbanização”
existentes através das operações urbanas. Infelizmente, desterritorializando os
moradores de rua e expulsando-os para outros espaços sem se ter a menor intenção de
aproximação com esta população não vai ser possível os ganhos para nossa sociedade.
Portanto, a exposição dos exemplos que estão acontecendo em nossas cidades e uma
obrigação do cientista social.
Em relação ao sucedido no trecho do Brabado, retirar os moradores do bairro
Castelo Branco para o sector Sul da cidade, segundo nosso ponto de vista, foi um ato
cruel. Deslocalizar alrededor de 20 famílias desde uma área quasi central para a zona
Sul da cidade bem mais longe, traz como consequência varias mudanças na vida
cotidiana dessas famílias .Para os moradores mais antigos, a deslocalização é
particularmente até mais violento, já que eles veem a morte de seu bairro diante dos
seus olhos, onde seus filhos nasceram e tem seu trabalho atualmente.
Nota- se frente as falas dos vizinhos como a população é tomado como um
objeto, tornando-se algo que pode se tirar. Tirar, ou por analogia descartar a alguma

79
“outra cidade” longe de todo, distante de seu local de trabalho, de suas raízes, de seu
lugar.O deslocamento dessas famílias para o conjunto de habitações Altos do Parque II
localizados na zona sul da cidade, permitiu uma solução para as famílias assentadas de
ter uma moradia formal, aceso a regularização fundiária, etc. Mas cabe perguntar se não
seria possível o remanejamento dessas famílias para zonas mais perto de essa área,
Deveriam, necessariamente, afastar a população para a zona Sul da cidade, sem
infraestrutura e longe de tudo? Porquê?
Atualmente, a população urbana que ocupa as APPs vive em conflito com os
aspectos legais que integram os instrumentos de proteção ambiental. Por isso, são
necessários estudos que busquem alternativas de conciliação entre esses interesses.
Nota- se o papel do Estado aparentemente como mero aprovador de projetos dos
sectores empresariais da cidade.Na essência está ligado com a classe dominante e tem a
intenção de solucionar o acceso de moradia forma dessas famílias nas imediações do
córrego e aproveitando o recurso federal dos programas habitacionais para remanejar
essa população.
Os moradores perto do córrego asseveram que políticos aparecem pelo bairro e
prometem fazer do lugar um paraíso, mas quando são eleitos, desaparecem para
sempre.Na fala informal, os vizinhos reinvindicam que já se viu uma enorme quantidade
de projetos e promessas de urbanização do entorno do córrego de Barbado, mas ficou
apenas na promessa. Isso evidencia a intenção do estado de incentivar e planejar e
colocar atenção a certas áreas e não outras.
Percebe-se que é evidenciado nitidamente que o Estado é apenas mais um
agente que produz o espaço social, ainda que, na essência de sua atuação, há
o comando dirigente de determinada classe que detém o poder, sendo o
espaço material construído pelo produto de atividades privadas, como os
promotores e incorporadores imobiliários (SERPA. 2011p. 42).

Generalmente, a intervenção do Estado no urbano tem como finalidade, a


grandes rasgos, apoiar a acumulação do capital nas cidades, assím como assegurar a
reprodução do sistema através de sua mediação em os conflitos sociais que se gemeram
como consequência das contradições inerentes ao sistema capitalista.

O Estado produz o espaço regulador e ordenador que tende a estabelecer-se


no seio do mundial reproduzindo a oposição centro-periferia que se estende
das grandes capitais e cidades mundiais até as regiões dos países em
desenvolvimento, o que significa a dominação de centros sobre o espaço
dominado que exercem controle do ponto de vista organizacional
administrativo, jurídico, fiscal e político sobre as periferias, condenandoas e
submetendo-as as estratégias globais do estado. Estratégias de poder

80
fundados no aparelho estatal enquadram territórios e populações
reproduzindo um espaço de confrontos e conflitos. (CARLOS, 2007 p.28)

Estes conflitos urbanos que são territoriais originam-se quando existe uma
apropriação física do território, a qual previamente considera-se pertencente a um grupo
social determinado e que logo tem apropriado por outro agente produtor do espaço. Esse
espaço sobre todo na atualidade, esta estruturado segundo interesses hegemônicos, por o
qual os conflitos se presentam de maneira constante e protagonizados pelos principais
grupos de atores que intervém na construção da cidade.Os empresários capitalistas, os
promotores imobiliários, e também o Estado em seu papel de planejador e articulador de
interesses e as diferentes estratégias dos cidadãos para aceder ao solo e a moradia.
A forma em a que se desenvolvem os conflitos permite compreender os
diferentes e heterogêneos modos em os que os atores accionam e se apropriam do
espaço urbano, o mesmo possibilita desnaturar e questionar as visões homogenizantes
dos processos sociais dando lugar aos processos –locais e históricos- de produção de
conflitos, da dominação e da resistência. Assim, no contexto da produção política e
ideológica do espaço urbano, as estratégias de localização são também aplicadas e
regulamentadas pelos estados.
O Estado capitalista para Corrêa (2010, p. 46), desempenha múltiplos papéis em
relação à produção do espaço, ele constituiu-se enquanto “arena na qual, diferentes
interesses e conflitos se enfrentam”. Dentre as ações do Estado têm-se: de “establecer
marco jurídico (leis, normas, regras); taxação e controle da propriedade fundiária;
oferecer condições para atuação de outros agentes sociais” (Idem, 46), na produção do
espaço urbano, através de instalação de infraestruturas por exemplo.
Assim, como sob a forma da renovação urbana, as transformações necessárias
para a reprodução do capital aparecem travestidas de necessidade social imposta pelo
Estado enquanto “interesse público“, criando a representação necessária capaz de
dissimular os conflitos de interesses.
Este processo deixa claro que a produção do espaço urbano no Brasil obedece às
regras básicas do capital, na utilização do mesmo, para as ofertas de todos os serviços
urbanos. Parafraseando a (WHITAKER FERREIRA, 2005, p.1)

As cidades brasileiras são hoje a expressão urbana de uma sociedade que nunca
conseguiu superar sua herança colonial para construir uma nação que
distribuísse de forma mais eqüitativa suas riquezas e, mais recentemente, viu
sobrepor-se à essa matriz arcaica uma nova roupagem de modernidade “global”
que só fez exacerbar suas dramáticas injustiças. Mas o que se destaca nesse
processo são dois fatores que estão na base do entendimento das dinâmicas de

81
segregação sócio-espacial urbana: o conceito de localização e a participação do
Estado, representando no Brasil os interesses das elites, na formulação e
implementação das políticas públicas de urbanização. No Brasil, desde as
primeiras ondas de crescimento das nossas cidades, na virada do século XIX
para o XX, todas as grandes intervenções urbanas promovidas pelo Poder
Público foram, salvo raras exceções, destinadas a produzir melhorias
exclusivamente para os bairros das classes dominantes.

Trazendo estas considerações para o empírico em Cuiabá, observamos e


analisamos que a construção da Avenida Parque do Barbado se insere dentro de um
marco de reestruturação urbana, entendido num modelo de cidade que dá prioridade à
circulação de pessoas e mercadorias e a certos atores envolvidos. Em geral, a favor de
um progresso capitalista desenvolvimentista da cidade que beneficia as classes
dominantes.

82
Capítulo 4:
Espaços
Vividos e
Territoritórios
Construidos.

“Nadie libera a nadie, ni nadie se libera solo.


Los hombres se liberan en comunión…()
Su lucha solo tiene sentido cuando los oprimidos
no se transforman en opresores de sus opresores,
sino en restauradores de la humanidad de ambos.
Paulo Freire, 1970.

83
Partindo da premissa de que o espaço é uma construção social e histórica,
política e ideológica, decidimos analisar como são configurados os processos de
produção do espaço nos Complexos Residenciais e dentro deles, especificamente
focando o processo realizado pelos moradores transferidos do bairro Castelo Branco. A
partir desta perspectiva, analisamos como é o processo de produção do espaço em Altos
do Parque II, desde as representações e práticas espaciais por parte dos moradores do
lugar, que resultam nas experiências vivenciadas por eles que se mudaram para o novo
bairro. Esta visão se contrapõe a visão racional de "espaço" de acordo com Lefebvre, do
“espaço concedido” por parte do Estado e as duas dimensões que compõem a concepção
deste. Há uma estreita ligação entre sujeito/espaço, portanto, supõe uma dimensão
simbólica a partir da frequência da vida cotidiana, de crenças e valores, que variam de
acordo com os contextos, grupos sociais e idade.
Os ex-moradores do bairro Castelo Branco foram remanejados efetivamente
para o Conjunto Habitacional Altos do Parque II, situado na zona sul de Cuiabá. O novo
bairro conforma o Conjunto Residencial Altos do Parque, de habitação popular do
Programa Federal “Minha Casa, Minha Vida”, que foi destinado a famílias com renda
mensal de 0 a 3 salários mínimos e também, famílias que moravam em zona de risco.

Figura 5: Espacialização do Residencial Altos do Parque I e II e Novo Parque


Etapa I e II – Cuiabá/MT

Fonte: Google, 2014. Obs: Sem escala. Organização: VILLANUEBA, A. 2015.

Na figura anterior (figura 5), verifica-se a quantidade de novas casas e a


padronização da construção. Essa homogeneização do residencial é uma forma que se
desenha no espaço, a fim de facilitar os trâmites burocráticos (aprovação do projeto
residencial), bem como para maior celeridade da produção e maior lucro para a

84
construtora. A seguir, explicaremos como o Programa constitui uma mistura entre o
sonho da casa própria e uma estratégia do Estado para paliar a crise mundial e
sobretudo, um grande negócio para as principais construtoras do país, incentivando,
portanto, o crescimento do mercado imobiliário.
O pacote federal habitacional lançado em abril de 2009, com a meta de
construção de um milhão de moradias, tem sido apresentado como uma das principais
ações do governo Lula em reação à crise econômica internacional – ao estimular a
criação de empregos e de investimentos no setor da construção –, e também como uma
política social em grande escala. Arantes; Fix (2009). O objetivo declarado do governo
federal é dirigir o setor imobiliário para atender à demanda habitacional de baixa renda,
que o mercado por si só não alcança, ou seja, é fazer o mercado habitacional finalmente
incorporar setores que até então não tiveram como adquirir a mercadoria, moradia, de
modo regular e formal. Segundo Ferreira (2012, p. 9), o pacote habitacional “Minha
Casa, Minha Vida”,

É um programa dos governos Lula e Dilma que responde a uma


demanda do empresariado da construção civil, desconsiderando o
papel que os governos municipais e estaduais podem (e devem) ter na
formulação e implementação de uma política habitacional mais ampla,
que inclua produção de novas moradias, estoque de terras,
urbanização, regularização fundiária e planejamento urbano. Pouca se
integra ao Sistema Nacional de Habitação (SNHIS) e ao Plano
Nacional de Habitação.

Em virtude do que foi descrito anteriormente, pode-se dizer que o pacote alçou
a habitação a um "problema nacional" de primeira ordem, mas o definiu segundo
critérios do capital ou da fração do capital representada pelo circuito imobiliário, e
também do poder. Arantes e Fix (2012, p. 9), realizam uma reflexão interessante sobre
este projeto ao dizer que,

Impressiona, no pacote do governo Lula, a capacidade de articular um


problema social real, a falta de moradias, à mobilização conformista
do imaginário popular, o que lhe trará dividendos políticos e eleitorais,
assim como aos interesses capitalistas – seja nos ganhos especulativos
com a renda fundiária, seja na produção do valor, em um setor
abundante em mais-valia absoluta. O circuito imobiliário é rico em
combinações de diferentes modalidades de acumulação, rentismo,
expropriação, captura de fundos públicos e espoliação urbana.

Nota-se a associação entre o capital imobiliário e o poder público através do


discurso real da necessidade de moradia por parte da população e consegue justificar-se
85
como uma estratégia alinhada a um projeto elitista que constitui em negócio para
poucos, ou seja, para as empresas construtoras e agentes imobiliários que aproveitaram
a construção dos Residenciais para elevar e realizar vendas perto das áreas dos terrenos.
Porém, o uso do espaço na cidade subordina-se cada vez mais a troca e a reprodução do
valor deste, submetendo o uso às necessidades do mercado imobiliário (ver Anexos I e
II).
Em Cuiabá, assim como em muitas outras cidades brasileiras, loteamentos e
conjuntos habitacionais de interesse social foram vetores de expansão da área urbana.
Pois, a partir da implantação destes programas, em terrenos longínquos dos locais de
maior concentração de trabalho, houve o deslocamento de grande parcela da população
de baixa renda e, consequentemente, de equipamentos e serviços públicos em áreas que
extrapolavam os limites do perímetro urbano, desta forma que se aumenta o valor do
solo na zona.
As fotos a seguir mostram a padronização da construção (ver foto 2).
Considera-se que a padronização das casas é uma decisão do Estado Federal, impondo a
homogeneização das casas à vida cotidiana dos moradores. Aliás, no trabalho de campo
pôde-se observar numerosas transformações nas casas. Na foto 2, observa-se a presença
de muros, o que permite perceber a presença de setores com maior nível de renda ou por
razões que têm a ver com a segurança do bairro, por ser uma área completamente nova
para a grande maioria da população.
Foto 2. Padronização da construção. Foto 3. Cartazos na entrada
Res. Altos do Parque II Res. Altos do Parque

Foto: VILLANUEBA, A. 2014 Foto: VILLANUEBA, A. 2014

Na outra foto (ver foto 3), permite-se observar na entrada do Conjunto


Residencial, os cartazes da obra feita pelo Governo Federal com o financiamento da

86
Caixa Econômica. O Residencial conta com duas etapas em diferentes módulos
construtivos. No trabalho de campo, realizado em novembro de 2014, percebeu-se a
realização de obras de outro conjunto Residencial, “Novo Parque”, para venda maior
que a do Altos do Parque. A empresa responsável pela construção das 638 unidades
habitacionais do Residencial Altos do Parque II é a Empresa Lumen, a mesma que se
observa no cartaz. Também permite-se ver outro cartaz com a visualização de outro
agente na produção desse espaço, o agente imobiliário. Além disso, verifica-se a venda
de terrenos no Bairro Atalaya, perto do Residencial.
Neste contexto, produz-se uma nova urbanização em uma área até então fora
do perímetro urbano (área rural), produzindo assim a descontinuidade da área urbana
dita “consolidada”, onde ainda existem grandes áreas sem lotear à espera de
valorização, tal como explicamos anteriormente.
Pode-se dizer que o setor sul da cidade está se convertendo em um polo de
atração, tanto para projetos de conjuntos habitacionais como de Alphavilles, entre
outros. As palavras de Vilharino Neto (2015 s/r) clarificam como se dá este processo,

Neste contexto vale lembrar que a supervalorização do solo urbano da


cidade de Cuiabá tem na essência a intervenção do Estado na
produção de um novo espaço urbano para dar continuidade à
ampliação do capital, porque o solo urbano deixa de significar o valor
de uso e passa a significar o valor de troca, relacionando-se apenas ao
capital.

Será através da localização de núcleos habitacionais que a ação do Estado se


faz presente ao intensificar cada vez mais o processo de segregação, que está se
acentuando no espaço urbano da cidade de Cuiabá. Dessa forma, os espaços periféricos
estabelecidos de acordo com a lógica da acumulação surgem como espaços vazios,
esvaziados de seus outros conteúdos, de sua história anterior.
Esse processo faz parte dos programas habitacionais do Governo Federal, tanto
para “os mais pobres entre os empobrecidos” quanto para “frações inferiores da classe
média”, juntamente com as obras de mobilidade urbana para a Copa do Mundo de 2014,
conferindo um novo ciclo de negociabilidade de terras. Os espaços periféricos, desse
modo, são constantemente reproduzidos com a finalidade de servirem como um banco
de ativos desvalorizados para receber os excedentes do capital. Eles figuram numa
estratégia de reprodução ampliada do capital como uma espécie de fundo de reserva
para a expansão deste.

87
Observa-se na seguinte figura (ver figura 6) a comparação entre os anos de
2010 a 2014 nas áreas de estudo. Ressalta-se o vazio que existia na imagem do atual
Residencial “Altos do Parque”, no ano de 2010, quatro anos antes. A transformação de
uma área quase rural para uma urbana, com serviços como luz, água e transporte, traz
melhorias em infraestrutura com recursos públicos e contribuíram ao processo de
revalorização do solo urbano, com fins lucrativos privados.
As outras imagens correspondem à área do Barbado, onde se pode vislumbrar os
telhados das casas que residiam as pessoas que foram deslocadas e na outra, no ano de
2014 com a área antigamente ocupada, e atualmente com projetos de realizar uma
arborização até a Avenida Jurumirim.
A ausência de uma visão integrada tem gerado efeitos contraditórios nas cidades,
pois os próprios investimentos governamentais nas cidades provocam a exclusão
socioterritorial dos menos favorecidos. Segundo Carlos (2007, p. 69),
Uma nova relação espaço-tempo, uma nova relação Estado-espaço,
com o Estado conciliando as estratégias das formas com o imperativo
territorial de equilíbrio necessário à reprodução do poder e
componente essencial do mercado, coloca a gestão do espaço como
problema. Esse conjunto de contradições nos leva a questionar as
estratégias espaciais impostas pelo poder público através de suas
prioridades.

Na mesma linha de raciocínio da autora citada acima, Cuiabá não deveria ter
crescido para o Setor Sul sem antes realizar uma mudança da base fundiária na cidade.
A suposta “escassez do espaço” nas proximidades do centro requer a liberação de
amplas parcelas do espaço ocupado - na sua área de expansão - visando a criação de
uma “área livre” para novos usos necessário à expansão da atividade econômica, bem
como a supressão dos direitos conferidos aos proprietários urbanos. Esse processo foi a
problemática estudada com os moradores que tiveram que ser remanejados da área do
Córrego do Barbado.
É assim que a extrapolação do crescimento urbano, a área considerada
“periférica”, tornou-se central, sendo constituídas por bairros de classe média e de
classe de baixo poder aquisitivo, que passaram a ser objetos de intervenção do Estado.
Com isso, a cidade é tomada com uma sucessão de bairros periféricos desprovidos de
infraestrutura e equipamentos urbanos onde os moradores da periferia, muito embora
fazendo parte da “população urbana”, na verdade não participa daquilo que a cidade traz
de lúdico, lazer, de conforto, passando a se constituir somente em força de trabalho
necessária à acumulação capitalista que se realiza, sobretudo nos espaços urbanos.

88
Figura 6. Áreas de estudo e comparação histórica

4.1

89
4. 1 – As ações do Estado e sua relação com a segregação espacial

Uma das características desses novos complexos habitacionais é a localização


periférica, preferida pelos promotores em decorrência dos custos mais baixos da terra, porém,
geralmente a localização acaba gerando outros problemas, como o agravamento da
mobilidade urbana e a extensão exagerada dos perímetros urbanos. A segregação
socioespacial é produto da produção do espaço urbano desigual, fundamentado na apropriação
privada da produção coletiva (a cidade).
De acordo com Maricato (2001), as periferias urbanas são áreas de concentração de
moradias da população de baixa renda, carente dos serviços básicos essenciais que,
consequentemente, sofre os efeitos dos longos deslocamentos para o trabalho, o consumo e o
lazer, vivendo num sistema de autoconstrução que se reproduz ao produzir casas em lugares
sem infraestrutura, onde geralmente as condições gerais de reprodução do espaço urbano são
ruins.
A produção segregada do espaço produz cotidianamente a privação do indivíduo, de
suas vontades, de suas realizações humanas, do conteúdo social, de seus direitos, pois na
prática socioespacial, a cidade (como mercadoria) é vivida com estranhamento. A segregação
é a negação do urbano e da vida urbana. Seu fundamento é a existência da propriedade
privada do solo urbano, que diferencia o acesso do cidadão à moradia, produzindo a
fragmentação dos elementos da prática socioespacial urbana e separando os lugares da vida.
A periferização não é um processo natural, senão um processo construído, de
invenção imobiliária em áreas de baixa renda, favorecida por uma estrutura de propriedade da
terra, historicamente concentrada em um processo em que o Estado não dá para exercer
controle real na produção e reprodução.
Atente-se que as famílias que estavam morando nas proximidades do Córrego do
Barbado, localizavam-se na zona Norte da cidade e foram transladadas para a zona Sul,
distanciando-se em linha reta, 11,47 km da área onde eles moravam (ver mapa 5), registrando
quase a mesma distância até ao centro da cidade, quando antigamente a distância até ao centro
era de 2.34 km. Também se pode observar os numerosos eixos de comunicação e ligação que
tinham nas imediações do córrego (Av. Dante de Oliveira, Av. Jurumirim, Av. Historiador
Rubens de Mendonça, Av. das Torres, Av. Arquimedes Pereira Lima, Av. Miguel Sutil). Cabe
ressaltar que a localização dos Complexos Residenciais se encontra fora do perímetro urbano
da cidade. No mapa seguinte, mostra a distância entre os dois bairros e o centro, podendo
observar que os moradores que residiam na área do Córrego ficavam bem perto tanto da zona

90
central como de numerosos eixos de comunicação e integração com a cidade, contrariamente
a dos Complexos.
Desse modo, aprofunda-se tanto a segregação urbana quanto a desigualdade pelas
pautas de localização espacial como pelas assimetrias em términos da provisão dos diversos
serviços urbanos, a localização urbana e o acesso à infraestrutura, serviços que constituem um
componente relevante para a caracterização das desigualdades. Os equipamentos sociais
mínimos, a infraestrutura, os serviços básicos e as habitações, são fornecidos a partir de uma
visão reducionistas que restringe o habitat para uma dimensão material, e longe de seu senso
de ato social de vida.
Na prática, viver nas proximidades do centro elimina os gastos de transporte e
possibilitava um acesso mais amplo ao mercado de trabalho urbano, bem como facilitando a
manutenção da âncora social construída pelo tempo de permanência no lugar. Na fala de um
morador ante a pergunta de como a distância afetou o seu cotidiano, ele respondeu o seguinte:
“A coisa mais difícil aqui é estar tão longe e desconectado de tudo o que somos, isolado ...
(L., 35anos, 5 filhos)”.
Outra das consequências da periferização é no tocante à acessibilidade. A área
destinada à instalação dos novos bairros, necessariamente precisa de um bom sistema de
transporte público. Em entrevista com o Diretor de Transporte da Secretaria Municipal de
Transportes Urbanos11, ele reconhece as dificuldades para fornecer transporte público a esses
Conjuntos novos e a outro correspondente também aos Residenciais do PMCMV.
“Olha só. Dois bairros que a gente tem dificuldade com o pessoal, é o Alice
Novack e Altos do Parque, porquê? São dois bairros, criados de pessos que
vieram de áreas carentes. Se você for lá no Santa Terezinha, você vai vê que
lá é diferente, no Santa Terezinha se você for lá, vai ver tudo os carros na
garagem. Você vai, no outro lá, é? Na Av. das Torres?! Então, antes do
Aricá. No Salvador Costa Marques, teve problema lá, e resolvemos o
problema lá, é a mesma briga do Alice, uns querem o ônibus que vem pela
Meirelles, outros querem que o ônibus vem pelo Espigão [...] O Aricá
também reclama mais aquelas pessoas estão numa situação mais
privilegiada. Agora você vai lá de manhã, lá no Altos do Parque, para você
vê uma coisa. Mais é muita gente de ônibus. Nós tiramos uma linha de
ônibus, que atendia o Jardim Pauliceia e o Real Parque, e ampliamos. Tinha
dois ônibus lá, levamos a linha lá no Altos do Parque. E sabe quantos carros
que tem lá? De dois carros, já tá em sete carros, baseado na quantidade de
passageiros. Além disso, [...] As 5:00 horas da tarde sai um ônibus do
Raimundo Pinheiro, só pra levar os alunos do Altos do Parque, sai de lá
lotado. Porque? O ônibus que vinha do centro não dava conta, ficava metade
dos alunos dentro e metade fora, os pais começaram a reclamar, então
resolvemos colocar um carro que sai direto da porta da escola só pra atender
esses alunos, e também a escola do Maria Dimpina e outras escolas daquela
região” (L.P.Q.- Diretor de Transportes).

11
Realizada por Thays Marino no dia 24 de abril de 2015.

91
Mapa 5. Visualização da distância entre os bairros estudados.

92
O trabalho de campo permitiu verificar que o transporte percorre a totalidade do
bairro (ver foto 4). Também se verificou um ônibus especial depois das 17:00 horas que chega
com uma numerosa quantidade de crianças, possivelmente regressando das escolas. A
principal problemática é o quanto o transporte demora do centro até o Residencial, em horário
de pico tardando mais de uma hora. Por outro lado, os moradores, aliás, encontram-se em
desconformidade com o serviço de transporte e também denunciam a má qualidade do
residencial. Na foto 5, permite-se observar que a única área destinada à instalação de
equipamentos públicos do residencial construído é a “área de esportes”, que conta com uma
quadra com problemas estruturais, segundo os moradores. Isso mostra que os materiais
utilizados e os trabalhos realizados não foram de boa qualidade, implicando diretamente na
maior lucratividade da construtora.

Foto 4. Transporte urbano no Redidencial Foto 5. Má qualidade dos equipamentos


públicos no Residencial.

Foto, ViLLANUEBA, A.2015 Foto: VILLANUEBA, A. 2015

Outra situação que mostra o não planejamento por parte da esfera Municipal, foi a
ausência de uma instituição de ensino no interior do bairro. Segundo o site da prefeitura está
se construindo uma unidade de ensino no Altos do Parque, que irá atender aproximadamente
300 alunos, desde a educação infantil de 4 e 5 anos até o 3º ano do ensino fundamental. A
obra encontra-se em fase final e a previsão é que comece a atender a comunidade no primeiro
semestre deste ano, 201612.
O mapa a seguir (ver mapa 6) permite observar qual é a localização atual dos
serviços de saúde e educação mais próximos das duas áreas. Partimos do reconhecimento da
existência dos serviços públicos como um direito que o Estado deve garantir a todos os

12
Ver http://www.cuiaba.mt.gov.br/educacao/prefeitura-constroi-escola-no-residencial-altos-do-parque-em-
tempo-recorde/11105

93
cidadãos. Os equipamentos coletivos referentes à saúde e à educação têm sido considerados
como nodos de pontos de oferta ou serviços que servem a uma população demandante
localizada de forma irregular em uma superfície mais ou menos extensa. Os aspectos de
acesso e cobertura e os equipamentos nos permitem realizar uma primeira aproximação ao
estudo dos distintos níveis de acessibilidade e as brechas existentes, gerando fragmentações
no espaço urbano.
Verifique-se no mapa que a localização das creches e escolas na área do bairro
Castelo Branco se encontra localizada a uma distância muito mais perto no bairro e com um
número bem maior de escolas e creches na área que foram deslocalizadas. Tanto assim que a
escola mais próxima, “Raimundo Pinheiro”, está localizada na Avenida Fernando Correia a
uma distância considerável dos Conjuntos Habitacionais. Quanto ao serviço público de saúde,
o Hospital Júlio Miller também se encontra a uma distância maior de quando os moradores
viviam em torno do Córrego do Barbado.
Por enquanto, novas relações se estabelecem nas diferentes apropriações do espaço
geográfico, onde a separação das classes sociais é clara na nova área urbana da cidade,
podendo-se observar que a cidade e o urbano têm a capacidade de influenciar na organização
da sociedade. Torna-se necessário que se discuta o acesso aos diferentes equipamentos
urbanos, ao lazer, à reunião, à informação pelos diferentes atores sociais ou, como este acesso
se dá de forma desigual. Segundo Linares (2008), as desigualdades sociais urbanas são
produtos da soma do desvanecimento das redes sociais e a fragmentação da sociedade, que
mediante o desenvolvimento geográfico desigual vão provocando a inferioridade do setor da
população, materializando-se no território, mediante condições desfavoráveis enquanto à
seguridade, bem-estar material, acesso etc. As desigualdades produzidas dentro de um espaço
social impõem novas desigualdades, que permitiram descobrir novas fragmentações, novas
contradições, novas dialéticas. Segundo Souza (2003, p. 20),

A vida urbana na cidade, especialmente nas grandes cidades, é vista como


um espaço de oportunidades e satisfação de necessidades básicas, mas,
também, como estressante, poluída e perigosa, com diversos conflitos e
problemas graves que afetam a qualidade de vida de seus habitantes. Esses
problemas foram os resultados do processo de consolidação das áreas
urbanas como espaços importantes para expansão do capitalismo e
reprodução da vida social. Os conflitos e problemas urbanos comportam
dimensões éticas, sociais, filosóficas, físicas, culturais e econômicas.

94
Mapa 6.Localização dos Serviços de Saúde e Educação nos Bairros Estudados

95
As cidades, além de trazer em seus espaços as marcas da economia, as relações
sociais e culturais, também representam o território disputado pelos agentes sociais mais
importantes, os moradores.

4.2. Os ex-moradores do Barbado: entre a periferização e o sonho da casa própria

Os atuais habitantes do Residencial Altos do Parque têm “aceitado” a deslocalização


por muitas razões. Em primeiro lugar, a "decisão" era um produto do processo de
deslocalização obrigatória operado pelo município e caracterizado pela implantação de várias
estratégias de manipulação e pressão sobre o assunto envolvido. Manipulação, porque as
pessoas remanejadas não podiam mais viver em uma área de zona de risco de enchentes, e a
causa do discurso do estado que alegou que era o melhor para suas vidas. O Estado estava
fornecendo uma oportunidade de se integrar na sociedade que eles não poderiam perder.
Pressão, porque todos aqueles que duvidaram ou não querem o acesso foram influenciados a
tomar a decisão "certa" através de estratégias coação ou extorsão, segundo o relato de alguns
moradores: “Eu não queria vir, mas bom. Eu estava com medo, eu tinha a minha mulher e os
meus filhos, o que que eu faria? "(J., 55 anos, 2 filhos).
Possuir uma casa era um desejo de muitos. O que é o desejo? É a busca de uma
pessoa a fim de alcançar a estabilidade e o enraizamento, uma utopia que se move na
imaginação de habitantes das cidades contemporâneas. Lindon (2005).

É um teto. Eu sou uma mãe de 5 filhos e deixar o bairro significava ter o


próprio teto que sempre eu sonhei. (L., 35 anos, 5 filhos)
É difícil ... por exemplo, para muitos de nós nos custou muito para vir aqui
... Eu nasci lá, mas você tem que pensar em alguma coisa melhor para as
crianças. (M., 53 anos, 4 filhos)

Pensamos que, longe de querer negar suas habitações lá no bairro, estas respostas
estão sendo construídas a partir do que Lindon (2005) chama de mito da casa própria. Para a
autora, a própria casa está configurada como um mito, como uma verdade “fantasiosa” com
autoestima e valor emocional. “No início, não queria, mas depois vi que era uma casa, minha
mãe disse que nunca iria ter uma casa ... não havia outra ... e nós viemos ...” (M. 21anos).
As histórias encontradas hoje daqueles que vivem nos Conjuntos Residenciais são,
principalmente, da importância de se ter um abrigo, uma casa que não é inundada e que lhes
dá algum tipo de segurança: “hoje a maioria das pessoas que nunca tiveram nada, agora tem
um teto, onde dormir bem, onde a casa não está cheia de água ...” (A., 40 anos, 4 filhos).

96
A casa assegura-lhes ter uma propriedade a ser usada para venda quando surgir uma
oportunidade e um capital; um capital que suporta a esperança de encontrar um lugar melhor
para viver. Assim, a particular mudança por parte dos ex-moradores do Bairro Castelo Branco
para o setor Sul da cidade (a partir de uma área quase central para outra área urbana
periférica) influencia suas práticas de reprodução e traz algumas consequências no modo de
apropriação de lugares.
Assim, as casas são entregues como produtos "beneficiários" de uma concepção
remota do direito à moradia e uma participação adequada na sua construção. Isto é, a
intervenção do Estado no espaço, seja diretamente através da construção de infraestrutura,
seja através das políticas urbanas que incentivam o deslocamento das atividades, transforma a
função dos lugares, consequência do movimento de valorização/desvalorização destes.
O relato da experiência de viver no Residencial é diferente de acordo com cada
sujeito. Antes da mudança, os ex-moradores do Castelo Branco viam o novo bairro como um
espaço concebido, um sonho realizado, um desejo, uma utopia. No entanto, a distância
comparada ao outro bairro mudou suas relações e sua vida cotidiana. Eles veem desaparecer
as redes sociais que estes sujeitos tiveram, o que limitava as suas interações e oportunidades.
Pode-se dizer que os novos bairros não estão sendo um espaço de referência de
identidade para os indivíduos que já estão morando lá há quase dois anos, não se torna um
espaço de reconhecimento e afirmação de suas identidades. O Altos do Parque é o lugar onde
"eles viviam", mas que desejam sair. Percebe-se este desejo, apesar de sua âncora atual,
porque não sentem nenhum apego ao lugar. O estar vivendo lá e avaliar a "casa" como boa,
não implica no enraizamento pelo lugar. No cotidiano, eles começaram a ser parte integrante
desse espaço, que até agora tinha sido um modelo de um construtor. Assim, a imagem
previamente elaborada a partir de abstração, começou a ser construída pela experiência de
viver coletivamente.
Nessa perspectiva, a apropriação da moradia, a convivência comunitária no bairro e
a apropriação coletiva do espaço público são partes do processo de subversão da produção
mercadológica da cidade a fim de construção, onde o valor de uso prevaleça sobre o valor de
troca, possibilitando a construção de uma nova sociedade, superando as desigualdades
socioespaciais, a propriedade privada da terra e as estruturas mantenedoras do modo
capitalista de produção.
A apropriação de determinado espaço para habitar é co-constitutivo da construção de
territorialidades sociais, entendidas como a imbricação de condições sociais e materiais da
existência de produção de relações sociais. Fernandez (2008). Embora pareça natural nossa

97
maneira de espacializar, é evidente que a forma em que ocupamos o espaço está fortemente
ligada ao processo de produção. Carlos (2004, p. 4) explica que:

O processo de produção do espaço baseado no relacionamento de trabalho


entre homens e natureza permanece como uma relação que deve ser
entendido nas suas diversas determinações. A produção da vida não envolve
apenas a reprodução de bens para a satisfação das necessidades materiais,
mas também é a produção da humanidade do homem o que significa ser um
espaço social, na medida em que é a realização do ser social sobre processo
histórico.

Pensar o espaço urbano como produção social, entendido então desde as práticas,
produções e reproduções que se dão dentro do marco da cidade, pensada e habitada desde um
modelo de exclusão, é primordial para compreender as estruturas que se entretecem nela.
Portanto, pensar os assentamentos urbanos como fenômenos sociais constitui um ponto de
partida para entender a cidade e o urbano em sua totalidade. Observar e compreender este
processo de produção de espaço pelos setores populares, por exemplo, implica considerar
várias dimensões: econômicas, políticas, culturais, urbanas, entre outras.
Afirma- se que os habitantes dos assentamentos são produtores de habitat popular. A
ocupação da terra aparece como a única opção para acessar este habitat e ter um lugar
"decente" para as famílias. Essa maneira de viver redefine novas maneiras de tornar a cidade,
habitá-la, consumí- la e até construí-la, de modo que o habitante se converte em sujeitos com
capacidades de negociar e apropriar, além de ser reconhecido como parte da cidade formal.
No caso de Cuiabá, a maior parte das áreas de risco localizam-se às margens do rio
Cuiabá e dos córregos da cidade, onde a ocupação é feita por pessoas de baixo poder
aquisitivo, portanto, não possui o título da propriedade.

A ocupação desordenada das APP´s pela população mais carente


economicamente se deu em função do processo de evolução urbana e
exclusão social combinado com o descompasso com a aplicação da
legislação fragilizando essas importantes áreas ambientais. Nesta esteira
desta análise, muitas vezes, a população que ocupa estas áreas, é
responsabilizada pela transgressão às leis vigentes. Zamparoni; Rosseto
(2012, p. 170).

Isso traz a existência, em primeiro lugar, dos cidadãos que vivem na cidade planejada
“formal” e, por outro lado, os “populares” que não podem exercer títulos claros e estão à
mercê de decisões, por vezes arbitrárias, a burocracia e os políticos locais. Este processo é o
que está acontecendo na atualidade nas imediações dos numerosos córregos da cidade e em
todas as zonas que não possuem a regularização fundiária.

98
Por conseguinte, o domínio do espaço é fundamental no cotidiano dos grupos, que
em geral é imposto pelos grupos dominantes por meio das formas e dos usos impostos às
formas. Mas ao mesmo tempo, existem alguns exemplos de resistência de grupos quanto ao
que é imposto a eles e, essa resistência pode vir a se materializar por meio da criação de novos
métodos ou das novas funções e usos atribuídos às formas já existentes. Aqui, podemos citar
como exemplo as diferentes formas de apropriação ilegal de moradias na cidade como as
favelas, a invasão de prédios públicos, os movimentos sociais e outros, que representam uma
forma de resistência ao que está sendo concebido no espaço. O espaço, portanto, é construído
e reconstruído pela experiência cotidiana das pessoas, tendo estas também sua reprodução
influenciada pelo próprio espaço.
Finalmente, o sociólogo Robert Park define a cidade por um viés mais humano ao
dizer que ela é,
É “a tentativa mais bem-sucedida do homem de reconstruir o mundo em que
vive o mais próximo do seu desejo”. Mas, se a cidade é o mundo que o
homem criou, doravante ela é o mundo onde ele está condenado a viver.
Assim, indiretamente, e sem qualquer percepção clara da natureza da sua
tarefa, ao construir a cidade o homem reconstruiu a si mesmo.

Portanto, o que queremos enfatizar nesta discussão é o quanto é importante o


domínio e a apropriação do território pelos usuários desse espaço. Hoje os conflitos que
ocorrem na cidade são principalmente na disputa entre as necessidades da população de
reprodução da vida (realização humana) e reprodução do capital (troca/mercadoria). O
conflito de interesse que cerca uma parcela da cidade acaba revelando e/ou amplificando uma
“cidade legal”13 e uma cidade “informal”- com bairros formados de ocupações ilegais - e o
investimento público em certas áreas, geralmente é para beneficiar certos interesses
capitalistas (agentes de imobiliárias) ou de grupos políticos ligados à sociedade política
regional, com a valorização fundiária. Por efeito, a cidade se apresenta como um espaço
marcado por crises, mas também por possibilidades de superação.
Para os pesquisados, é fundamental mencionar o “direito à cidade”, já que a
reestruturação urbana empossada pelo capitalismo financeiro e o modelo neoliberal, ao
mesmo tempo em que é levado à privatização dos serviços públicos e limitado o acesso do
cidadão às decisões sobre a cidade. A "cidade como direito" que permite acesso universal a
todos, se contrapõe ao neoliberalismo que quer a privatização de equipamentos públicos e
políticas de atendimento setorial. Mas, a cidade como direito, tem o pressuposto de direito
coletivo, o predomínio do valor de uso da cidade.

13
Cidade legal é um termo utilizado por Raquel Rolink para se referir a parte da cidade onde existe infraestrutura
adequada, onde as leis urbanísticas são cobradas pela prefeitura e respeitada pelos moradores e as residências
possuem estrutura pública, registrada em cartório como manda o Código Civil.
99
Voltamos a falar aqui sobre a contradição fundamental existente na
reprodução do espaço urbano: o espaço como condição da reprodução
econômica e o espaço como condição de reprodução da vida na metrópole.
Posta esta contradição fundamental, o espaço urbano torna-se um campo de
luta, onde se instaura uma luta dos diferentes agentes pelo espaço, pelo solo
urbano. Estabelece-se, portanto, um conflito entre o espaço abstrato,
concebido pelos interesses e necessidades do capital, e o espaço vivido,
fragmentado pelas estratégias dos diferentes atores sociais, percebido pelo
indivíduo através de sua vida cotidiana. Carlos (2005, p. 291).

É fundamental compreender que a espacialidade da cidade se produz por dois vieses:


o primeiro, pelo sentido de realização de grandes estratégicas político-econômicas, de ordem
do planejamento estatal e investimentos privados do capital imobiliário e empresarial anterior
e o segundo, pela conformação de territórios alternativos. Nesse sentido, a ação de resistência
localizada no "lugar" pode tornar-se a possibilidade real de manter a dinâmica desigual da
globalização neoliberal e exploradora.
Na seguinte foto encontra-se a entrada do novo Residencial, onde os vizinhos têm
que se apropriar dele para resistir à dinâmica desumana da apropriação e produção do espaço
urbano. Tem que construir seu território, já que deixou de ser um espaço percebido pelos
agentes estatais para ser vivido pelos agentes produtores do espaço.

Foto n° 6. Entrada ao Residencial

Foto. VILLANUEBA, A 2015.

100
Capítulo 5:
Considerações
Finais.

Vereda de olhar e apreensão –


Cerrado e cerradeiros !
De Olhos Abertos!
O próprio cerrado está abrindo os olhos
sobre os horrores que são praticados
dentro do seu coração!
Os animais estão de olhos arregalados,
espantados
as árvores estão abrindo os seus olhos,
os frutos estão criando olhos
até os galhos secos viraram olhos.
Só o bicho homem não quer ver!
Ninguém é mais cego do que aquele
que não quer ver.
Projeto Alerta

101
Atualmente, como parte dos processos de reprodução do capitalismo, se há
desenvolvido importantes transformações territoriais que mudam tanto a organização e
funcionamento das cidades, como também na produção do espaço urbano, e sua apropriação
cotidiana. A cidade dos dias atuais apresenta novas formas de organizar seus espaços em
função, especialmente, das necessidades econômicas, políticas e culturais. A dialética central
das relações políticas e sociais capitalistas se reproduzem- no espaço urbano, manifestando-
se assim com força a exclusão e o desigual aceso tanto aos serviços materiais como a
possibilidade de construir relações sociais.
Segundo Carlos, (2004) a predominância do financeiro nas estratégias de acumulação
capitalista tem a produção do espaço como uma das condições de sua realização. Portanto, em
um primero momento o presente trabalho permitiu compreender as caracteristicas da cidade
neoliberal e as lógicas de produção do espaço urbano cuiabano com foco nas transformações
que sufreram um trecho do Córrego do Barbado.
O espaço asume hoje sume importância fundamental, ja que na atualidad cada ponto
no espaço tem efectiva ou potencial importância. Ao mundializar a produção, as
possibilidades de cada lugar se multiplican. Novas relações se estabelecem nas diferentes
apropriações do espaço geográfico. Para o estado de Mato grosso, antigamente ignorado,
sendo um estado de “frontera” do capital, esse processo é considerado relativamente
novo.Salientamos o papel desempenhado pelo espaço na reprodução do capital na atual fase
do modelo de produção capitalista.
Para se pensar o espaço geográfico como categoria de análise da realidade é
primordial desvendar o que significa tal conceito. É primordial conceber o espaço geográfico
como o ámbito onde acontem ar relações de produção. E assim poderemos enxergar as
relações do espaço e movimentos sociais na materialidade, compreendendo o espaço
geográfico como uma estrutura de controle, de limite à ação e de convite à ação (SANTOS,
1996). Sendo a estrutura de controle estabelecida pela classe dominante e o convite à ação,
pela mediação social. Através de estudar as transformações e as relações com o contexto
global explicaremos as mudanças no lugar.
Por esse motivo e foi abordado neste trabalho a pequenha descripção dos processos de
reestruturação política e económica-produtiva a partir da finanziarização da economia e o
avanço das políticas neoliberais na cidade para explicar as principais açãoes dos principais
agentes intervenientes de produção do espaço urbano cuiabano. Analisamos também como a

102
crescente inserção do espaço nas estratégias de acumulação do capital tem reflexo profundo
na sua produção, e como, por sua vez, estrutura as desigualdades
Caracterizamos a etapa econômica e histórica como período pos- neoliberal e neo-
desenvolvimentista que nasce a partir das crises acontecidas nos principais economias de
nosso continente, como resultado da aplicação de políticas neoliberais e sua consequente
crises sociais e política.
Para o caso brasileiro, durante o governo neoliberal e especialmente no primeiro
mandato de Fernando Henrique Cardoso nos anos 1990 as medidas econômicas de corte
neoliberais foram vendidas como necessárias para modernizar institucionalmente a economia
brasileira e viabilizar sua inserção na nova economia globalizada. Seus gestores, no entanto,
sabiam que o fundamental era colocar o Brasil no circuito da valorização financeira. Por seu
turno foram os anos 2000 o sinônimo da consolidação da posição brasileira no capitalismo
financeirizado, a partir da ascensão de Lula ao governo federal (2003).

Luiz Inácio Lula da Silva llegó al gobierno brasileño en 2003, empujado por las
grandes huelgas de los 1970 que contribuyeron decisivamente a derrotar a la
dictadura militar y por las campañas presidenciales de 1989 y sucesivas, que fueron
proyectando al Partido de los Trabajadores como una fuerza electoral. Un gran
ascenso obrero y popular creó un bloque social entre los obreros industriales, los
campesinos pobres y sectores de las clases medias (comunidades cristianas de base,
grupos de izquierda tradicional o revolucionaria) pero Lula llegó a la presidencia de
Brasil cuando estaba terminando esa primera ola ascendente de resistencia a las
políticas neoliberales. (ALMEYRA; 2015 s/r)

Almeyra analiza que com assunção de lideres em nossa região formada por pessoas
não pertencentes às classes dominantes tradicionais se deu como uma “onda” no continente
latino-americano - Hugo Chávez em Venezuela em 1998, Néstor Kirchner em 2003 na
Argentina, Evo Morales, na Bolívia, e Tabaré Vázquez, no Uruguai, em 2005, Rafael Correa,
no Equador, em 2007- iniciou-se uma mudança de época e um giro nas políticas dos governos
dos anos noventa alinhados historicamente aos Estados Unidos e as receitas do Banco
Mundial e aos organismos internacionais de crédito. No entanto, ditos governos
“progressistas” dirigem países capitalistas dependentes, produtores de matérias prima e que ue
ao longo das décadas de administração não conseguiram aprofundar mudanças nas bases do
poder das burguesias locais e do capital financeiro internacional. Por esse motivo
denominamos ao período histórico iniciado no ano 2003 como pós- neoliberal já que ainda, a
pesar de ter alguma diferença com os governos e políticas neoliberais, a matriz econômica de
nossos países segue dependendo das matérias primas e do contexto internacional com
aplicação de política neo-desenvolvimentista, extrativista e sem ter analisados o custo
ambiental, social, e político.

103
Observa- se América Latina um continente com diversos territórios, que limita
delinear uma teoria homogenia para todos os países. Hoje, a América Latina está mais
disputada do que nunca. Na reta final do ano, houve uma surpresa para o que tinha sido o
século XXI em materia de política. É a primeira vez que um governo progressista na região
perdeu uma eleição presidencial. A restauração conservadora na Argentina ganhou liderada
por Mauricio Macri. Na Venezuela, embora que não se tenha perdido o executivo,o passado 6
dedezembro de 2015 a Revolução Bolivariana também sofreu um grande revés eleitoral na
Assembleia Nacional. Depois de uma década de recuperação de setores estratégicos e garantes
dos direitos sociais com políticas econômicas redistributivas, melhorando os padrões de vida
em muitas dimensões (incluindo o consumo) na maioria dos países da região.Após estes anos
nasce uma nova fase de mudanças dentro desta mudança de época. Já não se pode afirmar que
a oposição de direita regional não sabe ganhar eleições. Neste contexto pode se perceber
alterações relevantes de políticas eficazes nas condições de vida para a maioria foram
insuficiente em alguns países a ter o apoio da maioria nas urnas (eleição presidencial e
parlamentar na Argentina, na Venezuela).
Trazendo o anteriormente falado para o caso do Brasil, após dez anos de crescimento
constante, que se consolidou como uma potência regional e como um jogador cada vez mais
importante no cenário internacional, o Brasil, em 2009, iniciou um processo de deterioração
econômica e política, que em 2015 tornou-se a crise. A região como um todo tem sido
profundamente afetado pela queda nas exportações.Isso demostra a fragilidade da recuperação
sustentada no modelo de crescimento baseado nas exportações. Neste contexto abre se uma
nova fase para nossa região.
Neste sentido com base no reconhecimento do contexto econômico atual, o presente
trabalho permitiu compreender as novas lógicas da cidade neoliberal e os conflitos que se dão
dentro do espaço urbano, como consequência da reprodução do capital. O que pretendimos,
portanto, enfatizar foi a discussão sobre a importância do domínio e da apropriação do
território pelos usuários de qualquer espaço. Trazemos, aqui, o espaço urbano como o
principal palco onde ocorrem as tensões e os conflitos na disputa territorial entre as diversas
frações do capital e os moradores do lugar.
Nesta perspectiva, ressalta-se a importância da nossa área de estudos, compreendida
como um espaço de choque entre dois territórios com duas lógicas diferentes: o território
como necessidade de reprodução da vida (realização humana) e o território como reprodução
do capital (troca/mercadoria). Neste contexto, o controle do espaço funciona como um
instrumento de domínio sobre as classes sociais mais desfavorecidas.

104
Observamos e analisamos que a construção da Avenida Parque do Barbado se insere
dentro de um marco de reestruturação urbana, entendido num modelo de cidade que dá
prioridade à circulação de pessoas e mercadorias e a certos atores envolvidos. Em geral, a
favor de um progresso capitalista desenvolvimentista da cidade. Em Cuiabá esse discurso de
renovação e modernização vem da escolha da cidade como uma das sedes da Copa do Mundo
de 2014. O evento de envergadura internacional trouxe consigo intervenções urbanas que
reforçaram a fragmentação da cidade, na medida em que são priorizadas certas áreas em
detrimento de outras. Neste contexto da vida urbana, qualquer investimento, seja para a
comunidade, seja um conjunto habitacional, seja um centro de saúde, seja um centro
comercial, ou como no caso do nosso estúdio -obra de mobilidade- encontra- se sujeita a uma
carga ideológica e ante a ação e mediação do Estado para a realização da mesma.
Em resumo, a construção de dita avenida na área do Barbado acarretaria três principais
impactos. O primeiro está relacionado às desapropriações necessárias para a execução do
projeto da obra, um impacto que se pode observar na mudança dos vizinhos de uma área bem
localizada para outra bem mais longe na zona Sul da cidade. De fato, a população ali instalada
reside de forma irregular, sob a APP do córrego, em más condições de vida, onde a
declividade da área contribui para a ação dos processos erosivos, constituindo sérios riscos de
desabamento das moradias ali construídas. Dito remanejamento, segundo nosso ponto de
vista, requer um estudo de sítios possíveis para o alojamento das pessoas ja que o
reassentamento de uma população deslocada por um empreendimento pode desfazer toda rede
de relações comunitárias, causar o desaparecimento de pontos de encontro ou referenciais de
memória”. Por ese motivo é que é verdadeiramente importante os vínculos territoriais das
pessoas instaladas em seu lugar. (AB’SABER 1994)
O segundo impacto importante, relacionado com o meio socioeconômico, prende-se
com o objetivo de aumentar a mobilidade urbana, melhorando o fluxo do tráfego de
automóveis e interligando duas importantes regiões econômicas da cidade. É um impacto
considerado positivo no discurso da justificativa do projeto da avenida. Em sua proposta
inicial, a Avenida Parque do Barbado seria uma das avenidas que interligariam a Via
Estrutural Circular Norte, cujo objetivo é fazer uma integração viária entre os municípios de
Cuiabá e Várzea Grande. Na verdade, a justificativa é que seria projetada para dar mais
fluidez ao trânsito da cidade, ligando a região do CPA com o Coxipó.Passando por cinco
grandes avenidas. A Avenida Parque do Barbado será construída para interligar as avenidas
Fernando Correa da Costa, Arquimedes Pereira Lima (Estrada do Moinho), Dante de Oliveira
(Avenida dos Trabalhadores), Gonçalo Antunes de Barros (Jurumirim) e Avenida Vereador
Juliano Costa Marques, obra necessária para melhorar a comunicação entre as duas cidades.
105
Por fim, pode se dizer que o projeto da Avenida do Barbado é um projeto grande de
renovação urbana. A avenida é um projeto enquadrado nas obras de mobilidade e renovação
urbana que vem sofrendo a cidade, que estão na mesma linha com o discurso da
“modernização necessária ao crescimento”, segundo o discurso oficial. A partir do qual se
estabelece a lógica que sustenta o consenso em torno do deslocamento das favelas,
expulsando-se a população residente e destruindo-se bairros inteiros nas cidades de tudo
Brasil e também em outros países da região. O discurso do urbanismo e da modernização da
cidade é constantemente utilizado pelo Estado para modificação das áreas de interesse do
capital.
Destacamos a realização do evento futebolístico Copa do Mundo 2014 em Cuiabá,
influenciou diretamente no direcionamento de obras de mobilidade urbana tanto na cidade de
Cuiabá como de Varza Grandec valorizando ainda mais algumas áreas em detrimento de
outras.Esse processo não acontece isoladamente faz que na cidade entrasse nas estratégias dos
grandes proprietários de terras/incorporadora/construtoras que aliados ao programa anticrise
(de 2008) do Governo Federal MCMV encontraram no espaço urbano, em especial na
periferia terreno para um novo ciclo de comercialização imobiliária, intensificando as
desigualdades sociais e aprofundando cisão na vida social.
A maioria destes novos empreendimentos foram localizados em áreas periférico que,
historicamente, tiveram altas taxas de população segregados e pobres. Desta forma, o
programa Minha Casa, Minha Vida consolida na verdade, a segregação residencial existente,
enfatizando as características de fragmentação apresentado pela cidade de Cuiabá.
Nesse sentido, aqueles que estudam as relações sociais no espaço urbano sustentam
que o estabelecimento de população em lugares segregados tem um papel importante a
população envolvida, ja que a sua vez as situações de desintegração e desvantagem são
reforçada por um quadro de integração territorial, que não permite a interação social entre
diferentes classes sociais, reduzindo, entre outras coisas, as oportunidades para as pessoas se-
relacionar.Fernández afirma
Los habitantes son trasladados a zonas alejadas del centro y su nueva ubicación
disminuye la posibilidad de que experimentar interacciones heterogéneas que la
anterior proximidad al centro les otorgaba. Elespacio de la interacción social se
reduce de tal modo al marco de relaciones que puedan establecerse en el nuevo
asentamiento. Lejos de avanzar en el camino de atenuar la segregación
socioeconómica residencial, con este tipo de intervenciones se la acentúa.”
(FERNÁNDEZ, 2005 p. 247-248).

Isto é particularmente importante em nosso estudo, tendo em conta que as antigas


casas dos moradores estavam localizados em bairros populares heterogêneos, favorecendo a
mobilidade e interação social. Neste sentido, a transferências envolvem uma perda dessas

106
possibilidades. As famílias desapropriadas coincidentemente moravam em as habitações onde
se encontram grande número de propriedades irregulares, caracterizadas por uma ocupação
desordenada resultante da dinâmica de um crescimento urbano desigual, onde por
imposbilidade financeira e falta de opções, famílias ali se alocaram em área proibida e zonas
de risco.
Aqui, assiste-se a uma transferência de parte população residente, com a desculpa da
regularização fundiária e melhoria de condições de vida, uma vez que habita em área
considerada de risco. Esta deslocação para novos complexos residenciais, situados no setor
Sul da cidade, é promovida pelo Estado Municipal, ao abrigo do Programa Habitacional
“Minha Casa, Minha Vida”,financiado pelo Governo Federal. O que permitiu uma solução
para as famílias assentadas de ter uma moradia formal, acceso a regularização fundiária,
etc.Mas, cabe perguntar se não fosse possível o remanejamento de esse pessoal para zonas
mais perto de essa área, deviam necessariamente tirar a população para a zona Sul da cidade,
sem infraestrutura e longe de tudo? Por quê?
A localização do novo Residencial , distante das zonas urbanizadas da cidade ( e
também do antigo bairro) reforçou a necessidade de desenvolver novas práticas espaciais para
satisfazer as necessidades básicas aumentó as despesa em transporte e afetou as possibilidades
dos sujetos para a incorporação ao mercado do trabalho,devido à distância das antigas fontes
de emprego. Neste sentido, descobrimos que a maioria das histórias referem-se à distância
física e social de morar nos Complexos Residenciais e como a nova situação imposta por o
Estado, mudo seu cotidiano.
Neste período atual, podemos reconhecer em o Estado um agente fomentador da
chamada periferia, pois constitui o agente facilitador de crédito imobiliário, a traves do
Programa de habitação, incentivando com isso a ocupação de novos espaços pela população
não solvente principalmente na periferia da cidade.
Observa- se que os diversos programas de habitação que se tem implementado
atualmente parecem ser ambiciosos em termos absolutos e quantitativos, muito embora
estejam próximos a solucionar o problema de acesso a terra e moradia.. É através do estado
municipal em parceria com as empresas construtoras e os donos dos terrenos que compram
terrenos baratos para a zona sul, já que são baratos porque carecem de infraestrutura. Segundo
Maritaco (2009)
(.) os conjuntos habitacionais tem sido construídos em terras baratas a longas
distâncias. Portanto, levar a cidade até eles resulta socialmente muito caro mas essa
lógica de extensão da cidade alimenta aquilo que ocupa o lugar central da
desigualdade urbana: a valorização imobiliária e fundiária. Grandes fortunas no
Brasil se fazem sobre a renda imobiliária que decorre do crescimento urbano mas
especialmente do investimento público sobre certas áreas da cidade.. Diferentemente
de pão, automóvel, medicamentos, a habitação é uma mercadoria especial. Parte
107
dessa complexidade deriva da sua relação com a terra. Cada moradia urbana exige
um pedaço de terra para sua realização. E não se trata de terra nua. Trata-se de terra
urbanizada, isto é, terra ligada às redes de água, energia, esgoto, drenagem,
transporte coletivo além de equipamentos de educação, saúde, abastecimento, etc.14

O acesso diferenciado à terra urbana entre as diferentes classes sociais interfere de


forma significativa na produção do espaço urbano, como assinala Santos (1996, p. 195): as
cidades dependem muito das estruturas jurídicas da propriedade do solo urbano, da
importância do papel do Estado ou de organismos interessados na construção. Na América
Latina nas últimas décadas, o Estado agiu apenas como produtor de oportunas grandes
projectos urbanos, deixando a capital privado (financeiro, imobiliário) o papel de liderança da
estruturação territorial, com um enorme poder.
Hoje o crescimento da cidade brasileira encontra se ligada, maiormente aos interesses
particulares do setor dos promotores urbanos que tem prosperado de maneira exponencial na
cidade. Desta forma o desenvolvimento imobiliário tem se convertido em um dos pilares para
paliar as crises, que por sua vez, constitui um dos principais veículos de acumulação do
capital e do urbanismo neoliberal.
Pode- se pensar que a urbanização tem desempenado um papel crucial na absorção do
excesso do capital e o tem feito em escala geográfica cada vez miss grande, mas a um o preço
de destruição criativa que comporta privar as massas urbanas de qualquer direto á cidade, ou
seja, na medida em que a cidade se torna um grande negócio para o capital. As leis de
mercado passam a ditar as regras do ordenamento da configuração socioespacial urbanas, com
efeitos devastadores para a boa parte de sua população. Sendo assim que a produção do
espaço se insere na lógica da produção capitalista que transforma toda a produção em
mercadoria, até da moradia.
Em geral, o que se observa é que permanece até hoje uma sobreposição do valor de
troca sobre o valor de uso quando se trata do valor e da renda do solo, e que a reprodução do
espaço capitalista se dá a partir da priorização do valor de troca em detrimento do valor de uso
e das suas possibilidades, o que vai permitir a reprodução ampliada do capital, gerando
conflitos e contradições na luta pelo solo urbano.
Na cidade a posse da terra sempre foi utilizada como ferramenta de controle das
classes sociais mais desfavorecidas, que dependiam da terra para garantir sua sobrevivência, o

14
No Brasil, a maioria da população urbana de baixa renda está excluída da cidade formal. Segundo dados de
MARICATO (2009) entre 30 e 50% das moradias nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Belo
Horizonte são ilegais.” Excluídos do mercado privado legal que monopoliza as boas localizações a população de
baixa renda ocupa o que sobra: mangues, várzeas, morros , dunas, matas, etc, estendendo-se ilegalmente por uma
imensa periferia”.

108
que aponta a intensa contradição na reprodução do espaço. Visto que a terra sempre esteve
concentrada nas mãos de poucos proprietários, que adquiriam assim grande importância
política no local. Haja vista que, a formação espacial brasileira sempre esteve baseada na
posse da terra, e a transição para uma economia urbana vai gerar intensos conflitos no espaço
urbano.
Por conseguinte, debater quem são os proprietários das terras urbanas e como o solo é
ocupado é um dos pontos fundamentais para compreensão de que tipos de cidade estão
falando, crescimento da cidade, mobilidade urbana, e o papel que a cidade desempenha como
local de encontro.
Hoje, o motor do processo de produção espacial da cidade é determinado pelo conflito
a partir das contradições inerentes às diferenças de necessidades e de pontos de vista de uma
sociedade de classes, manifesta na propriedade privada do solo e, consequentemente, no seu
uso. A forma em a que se desenvolvem os conflitos permite compreender os diferentes e
heterogêneos modos em os que os atores accionam e se apropriam do espaço urbano, o
mesmo possibilita desnaturalizar e questionar as visões homogenizantes dos processos sociais
dando lugar aos processos –locais e históricos- de produção de conflitos, da dominação e da
resistência. Neste sentido Svampa (2008 p.16) fala o seguinte.

Estos conflictos se insertan en una dinámica multiescalar, en la cual “lo global” y


“lo local” se presentan como un proceso en el que se cristalizan, de un lado, alianzas
entre Empresas Transnacionales y Estados que promueven un determinado modelo
de desarrollo y, de otro lado, resistencias de las comunidades locales que no
comparten tal modelo, ni los estilos de vida que éste impone.

Os choques entre esses dois territórios merecem o estudo das diferentes escalas de
poder e apropriação pelos diferentes atores da produção do espaço. Os conflitos que queremos
salientar são principalmente as disputas territoriais, a luta pelo espaço, baseadas nas relações
de apropriação e dominação do espaço urbano, já que a apropiação do espaço funciona assim
como um instrumento de dominação, de controle das classes sociais mais desfavorecidas. A
cidade se apresenta como un espaço marcado por crises, mas também por possibilidades de
sua superação.

Portanto, o objetivo deste estudo foi o de abordar a análise do espaço urbano


contemporâneo e suas diversas áreas através de uma proposta teóricametodológica que
questiona o processo social pelo qual ele é produzido. Neste contexto, estudamos quais foram

109
as estratégias de reestruturação urbana em um trecho da bacia do Córrego do Barbado, em
Cuiabá e a ação dos principais agentes intervenientes na produção do espaço urbano.

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altos-do-parque-em-tempo-recorde/11105. Acceso Janeiro 2016.

DIARIO CUIABÁ. Desigualdade e Pobreza em Mato Grosso http:


//diariodecuiaba.com.brdetalhe.php?cod=341469%20MÍDIA%20NEWS . Acceso Julho 2015

FOLHA MAX. Mais de 40 dos bairros de Cuiabá são irregulares. http:


//folhamax.com.br/ciudades/ mais-de-40-dos-bairros-de-cuiaba-sao-irregulares/23766.Acceso
Abril 2015.

118
Anexos

119
ANEXO I e II. Preço das Casas do Residencial Altos do Parque- Cuiaba/MT.

Anexo I

Parque Cuiabá - Cuiabá, MT


RESIDENCIAL ALTOS DO PARQUE
Em construção - entregue em 2015. A partir de R$ 99.937,00
Residencial com 2 quartos. Dentro do minha casa minha vida, podendo ganhar um subsídios
de até R$ 17.000,00.
Região do coxipó, estrada de Santo Antonio Próximo do cemintério, próximo Parque Cuiabá.
Deixe seu cadastro caso tenha interesse se surgir unidades.
Casa.
Dormitórios 2
Suítes -
Banheiros 1
Vagas Na Garagem 2
Área Total 240 m²
Área Construída 51 m²
Área Útil 240 m²
Casa
Dormitórios 3
Suítes –
Banheiros1
Vagas Na Garagem. 2
Área Total.240 m²
Área Construída 60 m²
Área Útil.240 m²
Casa
Dormitórios. 2
Suítes 1
Banheiros 1
Vagas Na Garagem. 2
Área Total 240 m²
Área Construída 63 m²
Área Útil 240 m²

120
Corretor responsável

LORIVAL
LORIVAL CONSULTOR IMOBILIÁRIO

Fonte: http://www.lorivalcorretordeimoveis.com.br/imovel/24567-residencial-altos-do-parque-parque-
cuiaba-cuiaba-mt/.

Anexo II

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Lançamento Novo Altos do Parque
(ANÚNCIO DE EMPRESA)

Inserido em: 5 Dezembro 09:42.

R$153.000

121
A partir de: R$153.000
 Simular financiamento
21 - Residencial aberto Altos do Parque.
Residencial aberto de Casas com toda infraestrutura: área privativa: 81,69m² - área total:
240m² - 2 quartos, 1 wc social, sala, cozinha, área de serviço, 1 vaga de garagem.
Localização: Rodovia Palmiro Paes de Barro
Próximo: depois do Parque Cuiabá, na frente do Altos do Parque do lado esquerdo, perto do
Hospital Júlio Muller e Supermercado Comper. (Sentido Santo Antônio de Leverger) -
Cuiabá/MT
Valor: R$ 153.000,00 – (A entrada são 3.000,00 e o que o banco não financiar será em 10x. O
ITBI E REGISTRO é por conta da Construtora). A prestação será sempre 30% da sua renda
bruta o pro soluto e mais 2 balões no valor do decimo. Renda à partir de R$ 1.800,00, no
Programa Minha Casa, Minha Vida.
Entrega Prevista: 18 meses após assinar com o banco.
Localização
 Município: Cuiabá
 CEP do imóvel: 78000-000
Código do anúncio: 52801296

Fonte: http://mt.olx.com.br/regiao-de-cuiaba/lancamentos/lancamento-novo-altos-do-parque-52801296

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