Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
Capa: DTTENORIO
Revisão: Natália Dias e Victoria Gomes
Diagramação: Natália Dias
Ele aperta meu ombro e solta uma risada baixa quando está de pé.
— Eles vão falar disso a semana toda, você sabe — diz divertido,
afastando-se de mim em busca de água.
— Da próxima vez, não cai com tanta facilidade e isso não vai ser
um problema.
Richard está nervoso. Meu irmão tenta disfarçar, mas as rugas que
se formam em sua testa não abrem espaço para dúvida. De pé ao seu
lado com os braços cruzados, assisto enquanto tamborila os dedos na
mesa, confere a hora no relógio de pulso, se remexe na cadeira. Elijah
está atrasado, e duvido que seja acidental.
Quando o homem finalmente chega, acompanhado dos seus
próprios guardas, tem um sorriso grande no rosto, como se estivesse se
encontrando com um grande amigo.
Percorro o olhar pelo seu rosto, tentando desvendar o que ele quer
na expressão despreocupada. As rugas da idade começam a aparecer
pela pele escura, os olhos experientes podem até estar recobertos de
tranquilidade, mas não escondem o brilho malicioso.
Seus olhos vêm até mim, e um arrepio me corta a coluna. Sei para
onde essa conversa está se encaminhando.
Solto uma risada seca, a atenção presa a Elijah. Não preciso olhar
para Richard para que sinta o olhar dele sobre mim. Meu irmão não diz
nada pelo que parece uma eternidade, mas sei que não é. É possível que
apenas alguns segundos tenham se passado, mas é tempo o suficiente
para que eu construa todos os cenários possíveis em minha mente. Não
gosto de nenhum deles.
— Por favor, não. Madelaine não vai assumir o trono, nunca foi uma
possibilidade. — Elijah ameniza suas feições, deixando crescer no rosto
uma expressão amorosa ao falar da filha, que não tenho certeza de que
é verdadeira. — Tudo o que quero é uma vida segura e confortável para
ela. O que sei que ela terá aqui.
Por mais que eu adore poder encher a boca para dizer que avisei,
essa não é uma situação em que estou feliz por estar certo. Meus
homens estão prontos, se for preciso. Meu exército é bem treinado, e eu
nunca fugi de uma boa briga, mas o que está em risco agora é muito
mais do que apenas uma aliança política.
— Eu preciso.
Minha irritação aumenta por saber que seus confortos agora virão
do dinheiro de Delway.
Não vou ser hipócrita e fingir que não aproveito dos meus
privilégios e regalias, mas Delway tem um bom governo. Tem um rei
dedicado, um príncipe que se preocupa com o bem-estar dos mais
vulneráveis e um general dedicado. Richard, Stephen e eu, cada um ao
seu modo, cuidamos do nosso país.
Digo para ele o que aprendi nos últimos dias, nada que fosse
inédito para nós dois, mas que é pior do que antecipei.
— Nem um pouco.
Quem é essa mulher? Sei que não vou ter a resposta para essa
pergunta quando ela vira as costas para mim, andando em direção à
saída do bar. Repreendendo-me pelo comportamento errático que não é
do meu feito, eu a sigo. Espero encontrá-la perto dos elevadores e me
surpreendo ao vê-la seguir em direção às escadas da saída de
emergência. Com a mão na porta, ela me olha por cima do ombro. Ergo
as sobrancelhas em uma pergunta silenciosa, e a mulher revira os olhos.
Ela dá de ombros.
Cubro seu corpo com o meu, apoiando uma mão na sua cintura e a
outra na parede ao seu lado. Minha boca paira sobre a sua, sua
respiração quente contra o meu rosto, os lábios entreabertos roçando na
minha pele. Escorrego a mão pela lateral do seu corpo, sinto seu sorriso
quando enfio a mão por baixo do tecido do vestido.
Hesito, confuso pela situação tão fora do meu normal. Tão fora do
meu controle. Então ela suga meu lábio inferior, eu aperto sua coxa
quente e meu juízo tira folga por alguns minutos.
Solto sua boca para descer ao seu pescoço, sugando a pele macia.
Subo os dedos pela parte de dentro da sua coxa e estou a centímetros
da sua calcinha quando o toque estridente do seu celular me para.
— Pois não? — diz para quem quer que esteja do outro lado da
linha em uma voz doce que não parece pertencer a ela. Ela suspira e me
aperta por cima da camiseta, eu subo a mão pela frente do vestido em
direção aos seus seios. Aperto um, subo a boca pelo seu queixo. Encaro
os olhos escuros nublados e desejosos. — Tudo bem, me dê um
instante, chego em alguns minutos.
Com um suspiro frustrado, encerra a ligação. Morde o lábio, as íris
dançando pelo meu rosto.
É um sorriso lindo.
Ela meneia a cabeça, usa a mão livre para brincar com o colar.
Atrai meus olhos para os seios, deslizando os dedos pela borda do
decote. Respiro fundo, sentindo meu corpo esquentar ainda mais.
— Faz com que seja mais fácil te achar — responde por fim,e volto
minha atenção para o seu rosto.
Percorro os dedos pela minha boca, ainda sentindo seu gosto aqui.
Arrependo-me imediatamente por não ter insistido em descobrir quem ela
é.
capítulo três
— Eu estou viva.
— Por sorte! Francamente, Madelaine.
Liam escaneia meu corpo com os olhos e faz uma careta. Sei
o que ele está vendo: a princesa mais descomposta da história
desse país. Calça jeans, camiseta, cachos cheios e armados.
— Não — ele responde por fim.
Travo no lugar.
— Alteza — corrijo.
É a primeira vez que digo algo desde que cheguei aqui. Não
sei se o simples fato de eu ter respondido é o que o trava no lugar
ou se é a firmeza na minha voz que o pega desprevenido.
Seus olhos pegam fogo. É com fogo que sei que estou
brincando aqui. Não conheço esse homem. Não sei nada dele.
Nada, além do fato de ter se colocado no meu caminho sabendo
quem eu era. Se esse casamento forpara frente,é com ele que vou
precisar lidar ao meu lado no trono, e enquanto eu não descobrir
quais as suas intenções com aquele encontro de ontem, preciso
mantê-lo em rédea curta.
Ou deveria ser assim, porque tudo o que ele faz é sorrir. Não
com o mesmo escárnio de antes, mas com uma incredulidade que
parece o divertir.
Sua voz cai algumas oitavas, ainda mais grave quando volta a
falar.
— O quê?
— Não achei que esse dia chegaria, mas ele está certo —
Richard diz.
— Como estou?
— Alteza… Se me permite?
Paro de andar quando chegamos à entrada do restaurante e
apoio a mão no seu braço.
— Você sabe que é a pessoa em quem mais confio —
respondo com um sorriso brando. — Vai ser meu conselheiro um
dia, não precisa pedir permissão para dizer o que acha.
— Madelaine…
Meu nome sai da sua boca como uma prece. Arrumo a
postura, surpresa pela forma como o suspiro perturbado atinge a
minha pele.
— Eu não te convidei.
Ele apoia a mão no teto e inclina-se para frente para ficar na
altura do meu rosto.
— Eu tenho cara de quem espera convites? — pergunta, uma
sobrancelha erguida.
— Papai disse que era para fazer uma surpresa para você e
que a gente precisava tirar medida para o terno do noivado na
semana que vem.
Eu vou te ligar
. Não fala nada, só escuta
.
Percorro os olhos pelo cômodo outra vez. Se ele está aqui, sei
que ela não saiu do castelo.
— Vai ser seu um dia — digo sem pensar, porque não aceito
uma realidade em que isso não seja verdade.
— Entregue.
— O que você ainda está fazendo aqui? — pergunta de novo.
Dessa vez, sua voz não está recheada da acidez que parece morar
nela. É uma dúvida genuína e confusa; uma dúvida justa.
Assinto.
— Te dou minha palavra.
Ela ri.
— E você espera que eu acredite na sua palavra?
— Você é detestável.
— Babaca.
O esforço que faço para não gozar não é algo que eu tenha
experimentado antes. Toma tudo de mim, cada gota de autocontrole
que possuo. Minhas pernas tremem, meu corpo queima, meus
dedos afundam ainda mais na sua pele.
Funciona.
— Me faz gozar.
— Filha da…
Mordo seu lábio, beijo-a uma última vez, sabendo que ela está
certa.
Não é uma boa hora para isso, não com Elijah por perto.
— Hoje não.
Ele encerra a ligação alguns segundos depois e não diz mais nada,
só continua me olhando com preocupação. Não demora muito para que
Richard apareça, o cenho franzido, sobrancelhas vincadas.
Sei que não é minha culpa que Elijah tenha resolvido deixar o
quarto círculo do inferno e aparecer nas nossas vidas, mas essa história
parece ter saído do controle. A ameaça velada virou uma real, e eu sei
que Richard está perdendo noites de sono procurando uma saída para
não ceder a chantagens porque sabe que não quero esse casamento,
mas proteger nossa família é meu trabalho, não dele.
— Estou ocupado.
Derrotado.
— Não tem saída — digo por fim, esfregando a mão pelo cabelo,
começando a me acostumar com os fios mais longos. Lanço os olhos
para Richard e jogo a cabeça para trás. — Eu não sei o que fazer.
Quando digo isso em voz alta, sei que não é inteiramente verdade.
Cada um deles morreria para proteger a famíliareal, e eu sou parte dela.
A verdade completa é que não detesto a ideia desse casamento o
suficiente para pedir que provem sua lealdade assim.
O que faz de mim um filho da puta maior ainda, porque sei o que
está em jogo para ela. Mas a minha lealdade é para com a minha família,
não uma mulher desconhecida que caiu no meu colo. Não posso comprar
essa briga por ela. Não vou comprar essa briga por ela.
Merda, Madelaine…
— Culpa dos livros que suas cunhadas leem. Sempre tem um CEO
perdido em algum lugar. — Ele me olha por cima do ombro com uma
careta. — Nunca tem um mísero príncipe, acredita? Me senti ofendido.
Ele para de andar, olha ao redor como se para garantir que Richard
não está mais por perto e se vira para mim.
Eu noto.
Não sei como meus pais reagiriam a tudo isso. Eles finalmente se
aposentaram depois de uma vida inteira lidando de merdas como essa,
não quero arrastá-los para preocupações outra vez. Não quis arrastar
minhas cunhadas para isso também, não ainda. Até onde sabem, é
apenas um casamento por conveniência, como esperavam que
aconteceria comigo. Louise já lidou com merda demais na vida, e
Heather… Nossa rainha acabou de chegar na realeza e se sente culpada
demais por tudo o que a sua presença desencadeou. Ela não precisa de
mais esse peso nas costas. A patinadora gentil que encantou o coração
do rei é a única nessa famíliaa carregar toda a inocência e doçura de
uma vida longe de disputas por poder. Gostaria que preservasse esse
traço.
Ela ri.
— Você está confortáveldemais com isso tudo para alguém que diz
não querer esse casamento — acusa, desconfiança transbordando da
sua voz.
— Aqui está.
Liam me entrega um pen drive minúsculo, e eu o envolvo com
a mão, girando-o nos dedos antes de enfiá-lo em um bolso
protegido da calça, de onde sei que não vai cair.
— Obrigada — digo, aceitando o braço que me oferece,
encaixando-me ao seu lado e deixando que me conduza devagar
pelo corredor em direção ao quarto da rainha, onde ela e Louise
estão me esperando. — Foi muito difícil?
— Não se preocupe com isso, Alteza. — Dispensa a
preocupação com um aceno, o que sei que significa que sim, foi
difícil.É claro que foi. Não tenho ideia de como ele convenceu
alguém a entregá-lo informações confidenciais assim, ou se apenas
as roubou do computador de algum desavisado, mas duvido que
tenha sido um trabalho de cinco minutos. — O que eu gostaria de
saber é o que vai fazer com isso agora.
— Não tenho certeza — respondo sincera, lançando um olhar
breve a ele. — Não sei bem o que estou procurando, mas vou
descobrir quando encontrar. Só preciso sobreviver a essa prova final
de vestido antes de poder me trancar no meu quarto e passar o
restante do dia vasculhando esses documentos em busca de
alguma coisa.
Liam ri baixo ao meu lado, e eu paro de andar. Fito-o com o
questionamento no olhar pela zombaria que estampa seu rosto.
— Tem algo a dizer? — pergunto. É claro que tem. Liam
sempre tem algo a dizer. É por isso que eu precisava dele aqui. Faz
apenas algumas horas que chegou a Delway e já está a par dos
acontecimentos dos últimos meses.
— Com todo respeito, Maddy… — começa com a maldita
frase que me faz revirar os olhos. — Você não parece exatamente
perturbada com a ideia de passar a tarde experimentando vestidos.
Está tudo bem ter feito amigas aqui, ninguém vai te julgar por isso.
Bufo e volto a andar, ouvindo sua risada debochada me
acompanhar. Ele alcança meu braço outra vez e desacelera meus
passos.
— Você gosta delas — cutuca.
— Eu gosto delas — admito.
Como não gostar?
— Assumo que tenha aprendido a gostar dos príncipes
também — adiciona, insinuativo. — Em especial de um…
— Não vá por esse caminho — repreendo-o, mas Liam nunca
aceitou minhas repreensões; não parece disposto a começar agora.
— Deixar de querer jogar sal e limão nas feridasde Theodore é algo
muito diferente de “gostar”.
— Hm…
A aura convencida o circunda, mesmo que não diga mais
nada. Liam está se divertindo com uma piada que não me foi
contada, deleitado com alguma informação que ele tem, e eu não.
— Desembuche — peço, e ele toma mais alguns segundos de
deleite silencioso antes de esclarecer:
— Eu apaguei as imagens, caso esteja se perguntando. —
Paro de andar outra vez e me viro para ele, sobrancelhas enrugadas
em dúvida. — Das câmeras de segurança da academia. Você sabe,
de quando deixei você e Theodore sozinhos por quinze minutos?
Na academia. Logo antes de eu vir a Delway. Uma onda de
vergonha que não me é comum sobe pelo meu pescoço, e prendo
os lábios em uma linha fina para evitar o sorriso constrangido, mas é
mais forte do que eu.
— Obrigada — agradeço singela, e seu sorriso se amplia.
— Sempre à disposição, Alteza — devolve, indicando o
caminho à minha frente com a mão, a expressão vitoriosa
estampada no rosto.
— Não significa nada — defendo-me, jogando os olhos ao
teto, a mente sendo inundada por imagens inoportunas e
inapropriadas. Não somente daquele dia, mas de antes também, do
outro dia inoportuno e inapropriado.
Tudo o que aconteceu entre nós dois foi inoportuno e
inapropriado. Do hotel ao estande de tiro, nada daquilo deveria ter
acontecido. Não somente por tradições que recriminariam nós dois
pelo comportamento errático e ofensivo a muitos, mas porque
vieram de forma inesperada. Tudo o que diz respeito a Theodore
vem de forma inesperada — reajo às suas ações, rebato as suas
reações, e o resultado catastrófico disso são explosões de ódio e
desejo que andam perto demais umas das outras. Fora de hora,
sem aviso, zombando de uma racionalidade que jurei possuir.
— Você não me deve explicações, Alteza — Liam explica
quando chegamos à porta certa. — Mas meu conselho ainda vale:
deveria conhecê-lo melhor. Se como seu marido, aliado ou inimigo,
pouco importa. Pode decidir isso quando tiver informações o
suficiente.
— O que seria da minha vida sem você? — pergunto, ficando
na ponta dos pés para beijar sua bochecha.
— Jamais precisaremos descobrir, Alteza — garante, fazendo
uma reverência após bater na porta do quarto e se despedir.
Porta essa que se abre em súbito e revela uma Heather com
olhos arregalados e expressão de desespero.
— Louise está perdendo a cabeça — avisa antes de me puxar
para dentro e fechar a porta atrás de nós duas.
No meio do quarto espaçoso, araras exibem os três vestidos
feitos sob medida para o baile, circundadas por espelhos grandes
que dão uma visão completa de quem quer que esteja parado no
meio do círculo. Olho para a rainha, com o cabelo preso em um
coque malfeitoe usando pijamas coloridos, escondida atrás de mim.
— Está me usando como escudo humano, Majestade? —
pergunto sem esconder a diversão na minha voz.
— Pode apostar que estou sim — diz, ficando na ponta dos
pés para espiar por cima do meu ombro. — Ela é assustadora às
vezes.
— Eu posso te ouvir, Heather — Louise responde, lançando
um olhar críticoà loira, que se esconde atrás de mim de novo. — Eu
não tenho duas semanas, mal tenho dois dias — volta a falar ao
telefone, andando em círculos amplos pelo quarto, em uma pose
que não é tão aterrorizante assim quando noto que ela está usando
um conjunto de pijama combinando com o de Heather e tem
pantufas felpudas nos pés.
— O que aconteceu? — pergunto, tentando olhar por cima do
ombro para ver a rainha.
— Algum problema com o baile? Eu não sei, ela chegou aqui
assim! — diz desesperada.
Heather se despendura dos meus ombros e se joga no
colchão, cruzando as pernas em uma pose de balé, os olhos atentos
aos passos da amiga, como se estivesse esperando que Louise dê
o bote em alguém. Ela bate na otomana posicionada em frente à
cama, convidando-me. Sento-me no pequeno sofá e cruzo as
pernas, assistindo interessada a exasperação da princesa
resolvendo um problema que poderia ter delegado a qualquer outra
pessoa.
— Vocês não são a famíliareal mais convencional que já
conheci — deixo escapar antes que possa pensar melhor sobre
isso. Heather abre um sorriso orgulhoso, como se isso fosse um
elogio.
— Eu fiquei chocada quando os conheci também —
confidencia, arrumando-se no lugar como uma menina ansiosa por
finalmente poder fofocarcom alguém. — Não cresci no meio disso
tudo, sempre achei que os três fossem inacessíveis e meio
babacas, você sabe, por causa do dinheiro e status e tudo mais,
mas… Eu não poderia ter pedido por uma família melhor
.
Heather gasta alguns minutos me contando sobre sua vida,
em detalhes que eu jamais consideraria dividir com uma quase
estranha. Qualquer que seja o mecanismo de defesa que eu tenho,
faltanela, porque a rainha é aberta demais e falada mãe, da melhor
amiga e dos irmãos com um carinho descarado. Suspira ao me
contar como conheceu o rei, narrando detalhes da história digna de
um filme da Disney, e não demoro a entender por que Richard
Thompson derrete como gelo em um dia quente todas as vezes que
ela está por perto. Heather é encantadora.
Tornou-se uma atividade corriqueira observar a rainha praticar
patinação no gelo, e por vezes assisti aulas inteiras que deu a
crianças. Não somente às dessa família,mas, como logo descobri,
turmas intermináveis de crianças dos orfanatos locais, ou de
programas sociais espalhados pelos arredores. Programas esses
conduzidos por Stephen e Louise, pelo que aprendi.
Não, os Thompson não parecem formar a famíliareal mais
convencional que já conheci, porque nenhuma delas era unida
assim. Altruísta e carinhosa. Colocando um ao outro acima de
responsabilidades políticas.
A minha certamente não é assim.
— Resolvido — Louise anuncia, largando o celular em
qualquer lugar e sentando-se ao meu lado, uma expressão cheia de
censura dirigida à Heather. — Você é uma traidora.
— Você me dá medo às vezes! — a rainha defende-se.
Assistindo as duas, fica claro que não são apenas mulheres
que terminaram na mesma casa porque se casaram na mesma
família. De alguma forma, elas se tornaram irmãs.
— Agora você. — Louise se vira para mim. — Não sei o que
você tem planejado para hoje, mas tenho unha, cabelo e a prova
final do vestido, então limpe sua agenda.
— Eu acho que ela ia se sair bem no exército — sussurro para
Heather, mal reconhecendo a descontração que me escapa,
contaminada pelo clima criado pelas duas.
— De jeito nenhum — a rainha discorda, balançando a cabeça
com veemência. — Ela e Theo se matariam em menos de cinco
minutos.
— Deus, eu amo meu cunhado, mas ele é um paranoico
obcecado — Louise murmura, arrastando a mão pelos fios ruivos.
— Ele só está preocupado com a nossa segurança, e com
razão! — Heather o defende.
A conversa rapidamente se torna uma discussão acalorada
sobre os motivos do general ser “superprotetor e surtado” —
palavras da princesa. Cada uma lista incontáveis situações em que
julgam que ele teve razão ou que estava forado juízoperfeito,e fica
claro que jamais vão chegar a um consenso. Notando o empate
técnico, viram-se para mim em uma sincronia assustadora.
— O que você acha? — Heather pergunta. — É do seu futuro
marido que estamos falando, afinal.
Crispo o nariz, considerando a pergunta. Busco pela memória,
traço uma linha temporal das aparições e comportamentos de
Theodore e, por mais que gostaria de poder chamá-lo de babaca
insuportável, não tenho nada que justifique isso.
— Ele morreria por vocês. — É o que respondo. Heather abre
um sorriso vitorioso, e Louise me encara com curiosidade. —
Theodore sacrificaria a vida dele para manter vocês seguros.
— Ótimo. Mais uma defensora das insanidades daquele
homem — Louise bufa, e Heather só falta bater palmas de
animação pela aliada acidental que me tornei.
Não sei em que momento da tarde a primeira garrafa de vinho
chega, mas ela dá início às horas seguintes de risadas e conversas
bobas entre trocas de vestido e manicure. É um sentimento
estranho; inédito. Não é algo que eu tenha experimentado antes,
nem algo que almejei um dia, mas aqui estou eu. Adorando cada
segundo da leveza que a companhia das duas proporciona, incerta
sobre o que isso significa. Ou eu fico aqui e essa se torna a minha
vida, ou volto a Devondale e perco esse laço que apenas comecei a
formar. Percebo com rapidez que odeio as duas opções; ambas são
incompletas e arrancam de mim algo fundamental.
Richard Thompson encontrou uma forma de deter amor e
poder, casando-se com a mulher dos seus sonhos sem abrir mão do
seu país. Por que estou sendo negada ambos?
Uma batida leve na porta interrompe uma história de Heather
sobre sua infância, e nós três arrumamos as posturas ao ver
Beatrice Thompson entrar no quarto. A antiga rainha dispensa com
a mão nosso princípio de reverência e encara nós três com um
sorriso carinhoso.
— Não sabia que tinha voltado — Louise é a primeira a dizer,
recebendo um beijo curto no rosto. — Como foi a viagem?
— Adorável — Beatrice responde, seguindo para Heather. —
Chegamos há poucas horas, não perderíamos o baile por nada —
explica, ofertando outro beijo na bochecha da atual rainha, corada
pelo vinho. — Madelaine — cumprimenta, virando para mim. — Era
você que eu estava procurando. Tem um minuto?
— É claro — concordo e sigo-a até uma mesa longa de
madeira posicionada na lateral do cômodo, sentando-me na cadeira
que ela me indica depois que faz o mesmo. Só então noto que está
segurando o que parece um álbum de fotos. Descubro que é
exatamente o caso quando ela o pousa sobre a madeira e o abre.
Percorro os olhos pelas imagens desbotadas pelo tempo,
vendo poucos registros de algumas crianças, datadas de cinquenta
anos atrás.
— Estava me sentindo nostálgica e decidi procurar fotos
antigas. Foi quando encontrei essa aqui. Achei que gostaria de ver
— diz, pousando o dedo em uma fotografiapequena no canto da
página. Está quase embaçada demais para que eu distinga os
traços, mas consigo ver duas garotas sorridentes.
São os olhos. Eu reconheceria esses olhos em qualquer lugar.
— É minha mãe? — pergunto, aproximando o rosto para
analisar a foto mais de perto.
— Tamara e eu tínhamos dez anos nessa foto — explica com
um sorriso carinhoso. — Não consigo lembrar por que perdemos
contato, mas tenho muitas memórias bonitas com ela quando
éramos pequenas.
— Como ela era? Quando criança — pergunto, sentindo a voz
embargada ao delinear o contorno do rosto infantil na foto.
— Sua mãe sempre foi luz onde quer que estivesse —
Beatrice diz, e eu pisco rápido para tentar manter dentro de mim as
lágrimas que ameaçam cair. — Sinto muito que ela tenha sido tirada
de você tão cedo, querida — lamenta, tocando meu rosto com
suavidade. Encaro-a com olhos marejados. — Sinto mais ainda que
tenha perdido seu pai ainda em vida.
Engulo em seco e sugo o lábio enquanto penso no que
responder, mas não encontro nada.
— O luto faz coisas estranhas com as pessoas — divaga. —
Mas isso não justificao que ele está fazendo.Richard finalmenteme
contou — comenta com um suspiro exasperado. — Essa mania dos
meus filhos de me esconderem problemas ainda vai ser a causa da
minha morte. Só descobri hoje. Não teria recebido Elijah aqui de
braços abertos no seu jantar de noivado se soubesse o que ele está
fazendo.
— Está tudo bem — garanto, mal prestando atenção no que
diz, os olhos de volta à foto de mamãe.
— Não entendo por que Theodore decidiu acatar às demandas
do seu pai, mas estou felizpor você ter encontrado seu caminho até
a nossa família, mesmo que dessa forma.
A confusão no seu tom na primeira metade da frase chama a
minha atenção.
— Theo está tentando proteger vocês. E o país — adiciono,
porque não importa o quanto eu tente a essa altura, não consigo
mais fingir que não acredito nas ameaças de papai. Ele prometeu
guerra e sei que entregaria guerra.
— Oh, querida, Theo nunca fugiu de uma briga — diz com um
riso despreocupado. — Ouso dizer que ele gosta delas. Não. —
Dispensa com a mão. — O filho que eu criei e conheço não fugiria
de uma guerra assim somente por precaução. Ele tem seus motivos
e não sei quais são, mas confio que esteja fazendo o que acha
melhor.
Ela segura minha mão, pronta para mudar o rumo da
conversa, mas minha mente está presa no que acabou de dizer.
— De qualquer forma, quero dar as boas-vindas à família
. Sei
que o casamento ainda está a alguns meses de acontecer, mas
você já está aqui. Sinto muito que tenha tido seu direito de governar
roubado para que isso acontecesse, mas não sinto pela adição
valiosa que você vai ser nesse país — completa sincera, segurando
meu queixo. — Tamara criou uma mulher forte e esperta, e nossa
família é formada delas.
— Obrigada — murmuro, quase apática, ainda presa no
questionamento sobre os motivos de Theo por ter aceitado essa
chantagem em forma de casamento. Se não para proteger seus
irmãos, então por quê?
— Pode levar a foto com você, se quiser — diz, e só então
noto que ainda tenho os dedos pousados no contorno do rosto da
minha mãe.
Olho para a imagem uma última vez e sorrio.
— Gosto de saber que a memória dela está viva em outro
lugar além de em mim. Obrigada por me mostrar essa foto —
respondo. Beatrice assente e sorri. — Com licença — peço e me
levanto da cadeira após receber uma confirmação dela.
Minha garganta está arranhando quando saio do quarto.
Mordo a bochecha tentando controlar o choro, mas perco a batalha
muito rápido. Mal dou alguns passos pelo corredor quando um
soluço doloroso me escapa. Esfrego o rosto, tentando me livrar das
lágrimas, mas elas chegam em torrente e é uma batalha perdida.
— Ei. Ei! — Paro de andar quando ouço a voz de Theo atrás
de mim, mas não me viro na sua direção.
Ele me alcança sem dificuldade em poucos segundos e se
coloca na minha frente, escaneando meu rosto com preocupação.
Segura minha bochecha e espalha uma lágrima com o polegar.
— O que aconteceu? — pergunta. Soluço, e a firmeza do seu
toque no meu rosto aumenta. — Você está machucada? —
pergunta, mais urgente agora. — Maddy, eu preciso que fale
comigo, você está me preocupando.
Apenas nego com a cabeça, sem conseguir formar uma frase
coerente. Com um suspiro agoniado, ele me puxa pela cintura e me
prende ao seu corpo. Afundo o rosto no seu pescoço e recebo um
beijo no meu.
— Está tudo bem — sussurra ao meu ouvido. — Você está
comigo agora. Seja o que for, eu vou resolver.
Não tenho energia para dizer que não tem como ele trazer
minha mãe de volta e nem como me dar um pai melhor, então
apenas aceito o consolo vazio que vem dos braços fortes e corpo
quente que me envolvem.
capítulo dezesseis
Não espero pela resposta, porque duvido que esteja com o celular
em mãos a essa hora. Acendo o abajur na mesa de cabeceira para que
eu possa ver alguma coisa na escuridão do quarto. Desligo a tela do
aparelho e jogo-o no colchão, levantando-me para procurar as roupas
que estava usando mais cedo. Encontro minha calça dobrada no
encosto da cadeira, onde me lembro de tê-la deixado quando a tirei.
Reviro o bolso em busca do pen drive que Liam me entregou e pego
meu computador antes de voltar para a cama.
Demoro bem mais do que poucos minutos para tomar coragem
para abrir a pasta com os documentos. Pouso o cursor sobre o ícone
por mais tempo do que posso contar, como se antecipasse o que vou
encontrar. Quando finalmente clico, provo-me correta.
Há uma inquietação nele que não sei de onde vem, mas que
alimenta a minha, que sei ser pela ausência de toques. Sinto falta do
abraço de mais cedo, de estar enroscada no seu tronco. Não me atrevo
a pedir por mais do que sua mão na minha.
— A princípio, sim — responde, a voz não mais alta do que um
sussurro.
— Não é mais?
Theo para de encarar minha mão e volta ao meu rosto.
— As pessoas tendem a subestimar o poder destrutivo de uma
guerra. Eu ganharia, Maddy, com facilidade. Mas a que custo? Vidas de
soldados? Vidas de civis inocentes? — Ele passa uma mão pela barba,
arranhando os pelos curtos.
— Não é só isso — percebo.
— Não, não é. Tem você também.
Não tenho certeza se minha careta perplexa está visívelnessa luz,
mas ele me lê com precisão o suficiente para saber que precisa se
explicar. Solto um gritinho surpreso quando ele me agarra pela cintura e
me arrasta para si sem nenhuma dificuldade, prendendo-me nas suas
pernas. Estremeço quando uma mão quente e áspera embrenha por
dentro do suéter, pousando sobre minhas costelas.
— Você ia se machucar. Nunca quis que se machucasse.
Meu coração erra um salto. Perco uma batida, recupero em
excesso no ciclo seguinte. Descompassa.
— Da última vez que conferi, você não se importava comigo —
falo baixo, incerta, temerosa.
Theodore suspira, profundo, desamparado.
— O que posso dizer, Alteza? Talvez eu não te odeie tanto assim,
afinal.
capítulo dezessete
Processo por partes o que ela diz. Primeiro, sou incapaz de ignorar
o tremor insatisfeito da sua voz, deixando claro que ela pode estar
disposta a entregar o paísnas minhas mãos, mas não está felizem fazer
isso. É claro que não está. Depois, me atinge a constatação de que ela
não passou as últimas semanas aqui apenas existindo, como pensei ser
o caso. Madelaine estava investigando o pai?
É claro que estava. Como pude, por um minuto que fosse, achar
que ela tinha desistido de infernizá-lo?
— O que você ganha com isso? — pergunto, tentando me
concentrar em manter o passo da dança no ritmo certo, mas sei bem que
a essa altura estou apenas parado no meio da pista, abraçado a ela,
balançando-nos de um lado ao outro. — Ele ainda não vai te deixar
assumir o trono, ainda vai insistir em encontrar outro noivo para você ou
te colocar para fora.
Alteza.
Nunca fui apegado ao título, nunca fiz questão de usá-lo. Na maior
parte do tempo, é como general que respondo, e é dessa hierarquia que
vem o respeito dos soldados. São raras as ocasiões em que Vossa
Alteza Real faz sentido.
Eu espero.
— Maddy… — sussurra, a voz quebrada.
— Sim ou não? — pergunto somente, surpresa por conseguir
formar palavras inteiras quando a impressão que tenho é que estou a
ponto de implodir em pedaços pequenos demais para serem colados. —
“Se querem um príncipeapaixonado, vão ter um príncipeapaixonado” —
repito, as palavras queimando na minha língua. — Você disse isso?
— Maddy…
— Eu sinto muito.
Custo a conseguir tirar os olhos de cima dele. Toma tudo de mim
não deixar a decepção me consumir bem aqui. É por um fio.Um único fio
que está prestes a arrebentar.
Eu preciso sair daqui. Antes que me envergonhe mais. Antes que
me humilhe mais.
— Aconselho utilizar os documentos que te entreguei caso meu pai
vá em frente com as ameaças e queira começar uma guerra quando eu
anunciar o fim do noivado — falo baixo, e seus olhos voam ao meu
rosto.
— Madelaine, não, espera…
— Parabéns, general. Você venceu, sem precisar derramar uma
única gota de sangue.
Desvio dele, focada em sair daqui. Dessa sala, dessa casa, desse
hemisfério.
Sinto minha respiração ameaçar falhar, minhas mãos tremerem, e
sei que preciso colocar distância entre nós dois.
Não vou longe antes que me impeça. Seus dedos em volta do meu
pulso me prendem no lugar. Quentes na minha pele. Ásperos. Doces.
Familiares.
— Maddy, por favor.
Encontro vazio.
— Já disse mais vezes do que posso contar que só estou tentando
te proteger — responde, o lábio inferior formando um bico que diz “uma
pena para você”, as mãos erguidas em um pedido de desculpas leviano.
— Uma mulher não sobrevive muito tempo nessa carreira sem ter que
se corromper muito mais do que eu tive que fazer na minha vida. Você
vai entender quando tiver filhos. Vai me agradecer um dia.
Solto um riso seco, alguma coisa dentro de mim ainda esperando
que balões explodam, caia confete do chão e ele diga que é apenas
uma pegadinha. É claro que isso não acontece.
— Você precisa se tratar. — É tudo o que consigo responder.
Arrasto a cadeira para trás e me levanto. Pego o tablet, aliso o vestido e
lanço um último olhar a ele. — Temos um acordo ou não?
— Vou deixar seus irmãos fora disso — garante. Ergo uma
sobrancelha, e ele revira os olhos. — O seu namoradinho também.
Viro as costas e me afasto, passos firmes e rápidos, levando-me
para o mais longe possível dele. Não sei para onde pretendia ir antes,
mas desvio meu caminho para os jardins. A lufada de ar fresco não me
ajuda, porque está quente e úmido demais aqui, em comparação ao frio
seco que me acostumei a ter em Delway nos últimos meses. Não me
ajuda a conseguir respirar.
— Alteza?
Movo a cabeça em negativa, porque não consigo responder. Custo
a conseguir controlar minha respiração de novo, mas não tanto dessa
vez. Conto de trás para frente, me concentro nas sensações ao meu
redor. Uso cada uma das técnicas aprendidas na terapia nos últimos
meses e me trago de volta ao foco antes que saia completamente de
controle.
Do fundoda minha mente, não consigo matar a voz grave, rouca e
doce sussurrando que vai ficar tudo bem.
Olho por cima do ombro, indicando com a cabeça para que ele se
aproxime. O homem na casa dos seus cinquenta anos tem a expressão
dura ao vir na minha direção. Noto a insatisfaçãoem seus olhos quando
os lança brevemente à televisão antes de voltá-los a mim. Ele para ao
meu lado como instruo e assiste comigo à reportagem por alguns
minutos.
— Onde estão meus irmãos? — pergunto.
— Vossas Altezas foram levados a um lugar seguro — diz, a voz
nervosa e urgente, sem me dar informações extras. — O rei está com
eles. Alteza, por favor — tenta mais uma vez. — Eles estão perto
demais do castelo, o protocolo de segurança…
— Quais as suas ordens? — interrompo, voltando os olhos para a
tela.
— Eliminar a ameaça — diz, a voz recoberta de insatisfação e
julgamento.
Rio seca.
— Certo. Suas ordens mudaram — aviso, soltando os braços e
virando-me de frente para ele.
O general me olha com cautela.
— Alteza, eu não…
— Recebe ordens de mim, eu sei — aviso displicente. — O país
acordou em guerra. Há conflitos espalhados por todos os lugares, e nós
dois sabemos que não foi da noite para o dia. Essas pessoas estão
abandonadas à própria sorte há anos, era questão de tempo. É claro
que estão marchando em direção ao castelo. É claro que querem a
cabeça do rei. De quem mais é a culpa se não dele?
— Alteza, não é essa a questão hoje — insiste. — Está se
colocando em risco ficando aqui. Sua vida é valiosa demais e…
Lar.
Liam entende. Claro que entende. Pode ter sido designado como
segurança particular da princesa, mas foi treinado como um soldado. Ele
sabe as punições para uma insubordinação dessa proporção.
— Preciso fazer uma ligação — digo, pedindo licença, discando o
número de Richard.
Assim que ele atende, despejo o meu plano.
— Nunca foi sobre poder, Theo. Sempre foi sobre fazer o que
precisa ser feito. E se a única forma que eu tenho de fazer isso é usar
todo o meu tempo livre para fazer um dia de reinado do meu pai mais
infernal do que o outro até que ele faça alguma coisa por essas
pessoas, então é isso que vou fazer. Não posso ir com você.
Seguro seu queixo e trago sua boca para mim.
— Sorte a sua que não precisa ir a lugar nenhum.
capítulo vinte e cinco
— Não.
— Não!
Esfrego o rosto, arrastando os dedos com força pela pele. Isso é
privação de sono. É a única explicação possível.
— Você sabe que é a melhor solução.
— Você está se ouvindo?! — exaspero, derrubando as mãos em
desalento. — Me diz que isso é uma piada de mau gosto.
— Não é uma piada de mau gosto, Alteza — nega, levantando-se
devagar.
Dou um passo para trás e estendo um dedo em riste.
— Nem mais um passo. Você enlouqueceu?
Theo segura meu dedo e o leva à boca, mordiscando a ponta.
— Pronta, amor?
Levo a mão ao ponto de comunicação na minha orelha com um
sorriso cúmplice no rosto.
— Quando você estiver.
Ouço sua confirmação do outro lado e estendo a mão para abrir a
porta.
É a primeira vez que entro nessa igreja, mas não é muito diferente
da usada em Delway para realizar cerimônias oficiais.
O trajeto aqui foi tenso, porque eu não tinha ideia do que esperar
da reação popular. Madelaine insistiu em seguir passo a passo da
tradição agora, então um desfile lento em carros oficiais foi pedido até
que chegássemos aqui, com a segurança redobrada por contarmos com
duas famílias reais inteiras em um país que está lidando com um
conceito muito frágil de paz.
Mas a paz prevaleceu.
Ao redor dos carros, apoiadores ávidos.
Depois do anúncio oficial do nosso casamento e da coroação de
Madelaine, depois de Elijah ter assinado todos os documentos que o
cabiam, a comoção pública começou em peso. Parece que não era só
seu exército que Madelaine já tinha conquistado. O apoio popular veio
em peso, saudando a nova rainha, e seguiu assim durante os quarenta
minutos em que percorremos a distância necessária até a igreja, com
apenas um par de incidentes menores e fáceis de resolver.
Ou quase.
Beijo sua mão, e ela me olha confusa quando me afasto. Sinto seu
olhar me acompanhar enquanto vou até Liam e ele me estende a caixa
retangular e aveludada.
Ela entende.
Assim que me viro novamente em sua direção, Madelaine entende.
Seus olhos marejam, e ela luta com muito mais força contra as
lágrimas agora. Peço ajuda de Richard, que se aproxima e segura a
caixa para mim, abrindo-a para revelar seu conteúdo.
Com o cuidado e respeito, pego o colar de rubis das suas
antepassadas.
Madelaine prende a respiração e fecha os olhos quando pouso a
joia em seu pescoço. Espera paciente enquanto prendo o fechoe dedilho
sua nuca em reverência.
— Eu disse que ia ser seu — sussurro antes de me afastar.
Frio
Morno
Quente
Puta merda.
Solto-a com a intenção de ficar longe apenas por tempo o
suficiente para tirar a roupa. Mas é claro que ela tem outros planos.
Madelaine se senta na cama, as pernas abertas para mim. Pousa
uma mão no seio, a outra entre as pernas, o olhar desejoso em meu
corpo.
— Devagar — pede. Estreito os olhos, concentrado demais no vai
e vem dos seus dedos para me mover. — Tira a roupa devagar,
Theodore. Obedeça a sua rainha — ordena, e o tom que usa atrai minha
atenção.
— Isso depende — contesto, arrancando a jaqueta sem pressa.
Seguro a barra da camiseta, levanto apenas o suficientepara que minha
barriga fique à mostra. — Você vai ajoelhar para o seu rei, Madelaine?
Seu sorriso se expande, se converte em um gemido pecaminoso e
teatral quando aumenta os estímulos dos dedos. Mordo o lábio com
força,ciumento. Invejoso. Egoísta.Quero fazerisso eu mesmo, ela sabe
disso. É uma provocação barata que sempre funciona. Funciona hoje
também.
Termino de tirar a camisa, mas é tudo que faço antes de ir até ela
e puxá-la pelas coxas. Madelaine solta um gritinho de susto quando a
puxo para mim, invertendo nossas posições em um movimento abrupto,
colocando-a sobre o meu rosto.
— Senta — ordeno, apertando suas coxas. Roço os lábios pelos
seus, deslizo a língua devagar, sugo seu clitóris uma única vez. — Senta
— repito, e dessa vez ela acata.
Seguro-a no lugar com uma mão, a outra trabalhando para
desabotoar a minha calça enquanto a chupo. Solto um gemido quando
meu pau pula liberto das restrições e envolvo a mão ao redor da minha
extensão, sincronizando o movimento dos meus dedos com os da minha
língua.
Madelaine estreme, esfregando-seno meu rosto. Reconheço seus
gestos, suas reações. Sei quando está prestes a se render.
— Pede — rosno, soltando minha ereção para cravar os dedos
nas suas pernas. — Pede, Maddy.
Ela tomba a cabeça para frente, lábios entreabertos, olhos
nublados. Ela pede. Mas ao invés de pedir para gozar, ao invés de
seguir o roteiro do nosso jogo, ela me arranca do controle mais uma vez.
— Me fode, Majestade — sussurra, e a próxima coisa que sai da
sua boca é um gemido com meu nome gravado nele quando estoco de
uma vez só, colocando-a de joelhos na cama.
Colo meu peito às suas costas, aperto seu quadril, envolvo sua
cintura e desço os dedos ao seu clitóris, colecionando murmúrios de
prazer, gritos, choramingos, gemidos cada vez mais despudorados.
Nós passamos por poucas e boas. Nós dois, nós seis. Minha
famíliaespalhada por todos os cantos do planeta agora, que se une
e se completa. Que se ama, se protege e apoia, acima de tudo,
acima do mundo.
Porque entre poder e amor, não há motivo para escolher. Não
quando as duas coisas existem no mesmo lugar. Não quando posso
chamar este lugar de casa.
Desço meu rosto ao dela, deixando um beijo delicado nos
lábios cheios.
SINOPSE:
Capítulo um – Stephen
— Vossa Alteza…
— Ah, os costumes, Gerald. Você nunca vai os perder, não é?
— Eles não acham que ela está preparada para ser rainha,
mas ficaram mais do que felizes em casá-la com você.
SINOPSE
ELE VAI SE AP
AIXONAR POR UMA PLEBEIA VIRGEM E
COMPLETAMENTE PROIBIDA
Capítulo um – Richard
Faz algum tempo que ela deixou de ser tão rígida com essas
regras, afinal não tem como controlar crianças por muito tempo, mas
é difícilse desfazer de costumes rígidos, então nós ainda estamos
nos acostumando à nossa nova rotina.
Twitter
Tiktok
Página do Facebook