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Marta Pedó1
investigates the estrangement that the subject goes through while asked to freely
associate, inherent to the erring in language, which allows the symptom’s sense
certo dia com um sonho que culmina na frase when they lie. Quando eles mentem - ou -
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Mestre em Psicología, psicanalista, membro da Associação Psicanalítica de Porto Alegre,
mpedo@brturbo.com.br.
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O ensaio que lhes proponho parte desse título que enseja um convite a vaguear,
perambular, por alguns efeitos da linguagem, no que ela se constitui como afazer
linguagem. Difícil não nos referirmos, pelo menos minimamente, aqui, a James Joyce,
tantas vezes enigmático, tantas vezes abordado por psicanalistas e outros intelectuais.
Ele é um escritor cuja leitura faz pensar no que vagueia na língua. E, se Joyce vagueia
na língua dessa forma, é porque na sua escrita o organizador paterno não está. Pode-se
uso que ele faz da língua inglesa que tem o que aqui chamo de extravagante, pois os
o sentido imaginário, a letra e o som vagueiam por inúmeras tramas possíveis, como se
tratasse da própria alíngua no sentido lacaniano. O Outro organizador não está, e sua
O que faz possível o reconhecimento de Joyce pelo social? Onde o leitor pode
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Como leitora iniciante de Joyce, encontrei-me, depois das primeiras páginas
do incauto, que a satisfação nessa leitura residia numa certa musicalidade com que ele
aventura proposta pelo autor provinha desse efeito musical do encontro de vocábulos
condição partitiva da língua mãe, que se quebra a língua e se criam línguas parciais.
seguirmos a leitura, guiados pelo autor que nos ilude na promessa de dizer toda a
estranho, mas nem por isso menos interessante, ao dizê-lo como aquilo que não
sabemos como abordar. Freud segue por ela ao evocar a compulsão à repetição, por
exemplo na cena em que vagueia pelas ruas de uma cidade na Itália e, na busca de seu
caminho, esbarra por três vezes com a mesma rua, onde as pessoas já começavam a
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Robson Pereira lembra que o próprio Joyce lia recitando/quase cantando seus textos. Vide a gravação de
trecho de Ulysses feita em 1922, que pode ser escutada no Musée de la Parole et du Geste, em Paris.
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sensação de desamparo e estranheza. Poderíamos seguir Freud, acompanhando nosso
Richard é inglês e está vivendo há cerca de meio ano no Brasil e diz que ainda
sofre com dificuldades com a língua. Certo dia, conta ele, numa cena de carícias com a
namorada brasileira, pergunta a ela: “- Está bem assim? Assim tá melhor?”, e ela
responde: “- Um pouco”. O que quer dizer esse um pouco? Richard sabe o que significa
um pouco. Conhece a tradução a little, mas esse conhecimento não lhe é suficiente e se
pergunta: “- O que quer dizer esse um pouco?” “-Um pouco mais? Só um pouco?
O eco que se faz a partir dali é relativo a essa suspensão do saber, que beira o
mau augúrio. Richard vacila então, como se oferecido a esse Outro que vai lhe indicar
se ele tem suficiente savoir-faire, com o corpo sexuado e com a língua – alíngua,
propriamente falando.
Richard mostra bem que é no confronto com a língua estrangeira que ficamos
que não encontra neles nada de novo e, literalmente, “talvez apenas porque nós próprios
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Esses jogos com a linguagem, seus códigos e decodificações possíveis, para
lembrar um exemplo não pouco notável, tem levado às telas de cinema muita gente no
Código da Vinci (2006) , Harry Potter (2001 e seguintes: 2003, 2005, 2006) ou O Nome
da Rosa (1986). O grande lance dessas obras é justamente a aventura na língua, que
arrasta a emoção e o corpo consigo: nos jogos de palavras, há uma mínima chance de se
chegar lá. O que podemos ler no atual interesse no desvendar códigos, em transitar
longamente cultivado. Esse Outro, analista por efeito da transferência, poderia dar conta
de organizar essas palavras – essas palavras que vagueiam como sobre o mar e que não
Outro a quem o analisante se dirige em associação livre organize o destino das palavras
soltas sem sentido. Ou seja, sob efeito de amor transferencial, o Outro é amado como
forma de fazê-lo existir, para fazê-lo Uno, transformá-lo em unidade. Admite-se que
esse Outro se faria presente numa língua secreta, cuja mensagem Ele leria. A questão é
que essa suposição do analisante será frustrada, o analista não opera como um
decodificador de mensagens que abre finalmente o segredo contido naquilo que nem o
liquidação desse amor que faz existir no Outro precisamente o que lhe falta.
uma chave, uma decodificação possível para o enigma que provoca a aventura sofrida
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da vida, e uma proposição cuja ética supõe a passagem a outra coisa, ao desejo que se
encontramos quando nos deixamos levar pelas formações linguageiras, sejam elas da
análise.
tolera o estranhamento desses encontros na crença de que o analista será aquele que
em que possa usufruir de momentos em que encontra um significante que o faz surgir
aventura.
(1998), abordando a pulsão, fala uma frase assim: entre o recalcado e a interpretação, a
sexualidade, sempre aberrante e sempre repetida, seja no corpo seja na língua bizarra de
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Retomando o exemplo com que introduzi este texto, esta frase que sobrevém ao
despertar4 de um sonho - when they lie - imediatamente surge como prenhe de mais de
um sentido, porque lie opera por homofonia uma passagem de mentir a deitar, ou vice-
versa: deitar a mentir. Nesta frase, a interpretação vem de pronto, como um momento de
concluir, como simples constatação, perante a qual ao sujeito só resta dela se apropriar -
O mais extraordinário nesse exemplo, parece-me não ser apenas o trasladar pela
homofonia, mas o fato de essa palavra marcar uma idéia e também o seu contrário, o
interditado – o impossível, que não cessa de não se escrever, passa a ter uma imagem: o
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– um sonho que se inicia com a entrada do sonhador numa peça, um quarto, onde há homens que
conversam sobre uma cama – o piso, preto e branco em listras, move-se como em redemoinho, e uma
mulher sedutora conduz o sonhador a uma peça lateral.
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Angela Vorcaro diz que o fisgamento da pulsão invocante prescinde do sentido – uma surpresa no
andamento, uma descontinuidade, é antecipada, ao mesmo tempo em que, nessa vertigem, um acréscimo
de gozo pode ser contado. O gozo de que se trata é o de ser objeto implantado no funcionamento de
alguém, alienado ao andamento. O ponto de onde surge o significante é aquele que não sabe ser
significado – o grito, lido como apelo pelo Outro materno, será, doravante, respondido com a linguagem.
A coisa perdida surge como virtual na busca sempre repetida de um reencontro que será sempre
assimétrico, pois à falta o Outro responde com uma leitura na linguagem. Trauma nuclear constituído
assim pela defasagem da satisfação, que nunca é aquela, nunca é no tempo certo. Trauma que constitui o
recalcamento primário como incidência da barra sem um elemento específico rejeitado, mas, sim,
qualquer elemento literal.
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corpo da mãe. Então, o funcionamento da língua na fala alude o que não se pode – o que
constitutivo dessa cadeia, o sujeito, por seu lado, não pode apreendê-lo ou articulá-lo,
mas ele pode, sim, emprestar-lhe a voz (sem que o saiba e sem comandar esse processo)
Ao passar para outra língua, uma língua estrangeira, o interdito do corpo da mãe,
esse limite, não se faz presente. Na língua estrangeira, há limites, mas eles não estão
real. Os traços revestidos simbolicamente são como cicatrizes daquelas bordas pelas
que a linguagem se apóia para advir alíngua, lembra Diana Vonorovsky (2001). Esse
corpo que, antes mesmo do advento do sujeito, é preparado como leito para o gozo sem-
sentido no andar ritmado do embalo ao som da voz da mãe. Nesse andamento, uma
vertigem um gozo a mais se conta. Gozo da alienação ao desejo do outro, mas que
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Angela Valore escreve sobre a diferença entre corpo simbólico, corpo imaginário e corpo real em seu
texto O corpo na neurose obsessiva.
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primórdios da constituição por efeito da linguagem. A partir daí, trata-se de enfeitar-se
com o significante.
que faz função, atualiza-se no recalque originário. E é a pulsão invocante aquela que
traz a possibilidade, não menos que o imperativo, de o sujeito surgir não mais como
puro corpo. É a homofonia, como aquela da palavra-valise lie, que algo passa, que há
suspende o fôlego. Passado esse efêmero momento, que dura num quase nada de tempo,
em que o fôlego fica suspenso, o que sucede? O imprevisto deveria repercutir como
poderia ser diferente... A suspensão poderia antecipar a chegada de uma emoção com
Expressão boquiaberta de uma trovoada de uma experiência fugidia que, antes de ser
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Allouch, J. Letra a letra. Rio de Janeiro: Cia. De Freud Editora, 1995. Jean Allouch propõe o termo
transliteração para designar a operação de transferência de uma escrita (aquela que se escreve) para outra
(aquela que escreve). Ele define a transliteração como a escrita da letra, quando a letra assume o
significante até desarticulá-lo de seu referente. Trata-se de “ler ali onde isso se ouve” (p. 209)
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Espanto como efeito de destituição subjetiva produzida por um significante especial (Marie Bonaparte o
chama de siderante, que Freud isolara nos chistes como Verblüfung), conforme Didier-Weill (1997)
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presença, o decisivo, pois assinala ao mesmo tempo a queda da letra e a antecipação de
um deslizamento a seguir.
mestre decodificador, como o que pode se constituir efetivamente naquilo que torna ao
primeiro lugar, reconhecendo no sintoma a sua dimensão de real (1992). E o real nunca
está onde ele é esperado, ele está no imprevisto – desse confronto com o estranho-
de uma certa bizarria, pois opera com o efeito de não-sentido, pas-de-sense, passo de
momento em que a letra escorrega a outra coisa, o desejo passa e carrega consigo o
sintoma.
Referências
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ALLOUCH, Jean. Letra a letra. Rio de Janeiro: Cia. De Freud Editora, 1995.
DIDIER-WEILL, Alain. Os três tempos da lei. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997
FREUD, Sigmund. O estranho. [1919] In: Obras Completas. Ed Imago, Rio de Janeiro,
1976
LACAN, Jacques. O Seminário: Livro XI. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998.
LACAN, Jacques. El Seminario: Seminário XXI. Classe 5, de Janeiro de 1975. Edição
eletrônica a partir da edição da Escuela Freudiana de Buenos Aires.
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