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ALGUMAS REFLEXÕES
Resumo
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Graduanda em Pedagogia da Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Paraná, Brasil. E-mail:
debora_luppi@hotmail.com
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Graduanda em Pedagogia da Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Paraná, Brasil. E-mail:
gaby_fiori7@hotmail.com
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Doutora em Educação – USP. Docente da Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Paraná, Brasil. E-mail:
htisaito@uem.br
ISSN 2176-1396
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Introdução
Nessa perspectiva, a educação deve ser pensada considerando todo o seu contexto para
promover tal desenvolvimento, isto é, para alcançar esse objetivo devemos pensar em um
ambiente educacional para a Educação Infantil considerando as ações pedagógicas, a rotina e
o espaço educativo. As ações pedagógicas necessitam de uma sistematização intencional e
planejada, mas para que esse ensino seja efetivado é necessário que haja uma rotina
organizada de maneira a emancipar os indivíduos, rotina essa que precisa estar em constante
reflexão e acessível a novas experiências, englobando o tempo e o espaço. Cabe aqui ressaltar
que o espaço educativo precisa considerar as crianças como sujeitos capazes de produzirem
novos conhecimentos e ser propício a explorações. Em outras palavras, tanto o espaço quanto
a rotina são instrumentos importantíssimos para as ações pedagógicas as quais devem ser
refletidas pelo professor durante o processo de planejamento, já que o planejar é o aspecto
principal do ensino; ao considerá-lo como ato educativo o mesmo deve ter intencionalidade
que dará sentido à organização da rotina e do espaço. Nesse planejar o professor precisa
considerar também o grupo ao qual será direcionado o seu trabalho, analisando as
características de cada sujeito. Como salientam Barbosa e Horn:
pedagógica reflexiva na qual o espaço também é pensado, fazendo com que as crianças
estabeleçam vínculos com o mundo e com os outros sujeitos. Para esse trabalho o professor
possui como parâmetro que a organização do espaço com os pequenos precisa ter a
consciência de que o espaço é constituído historicamente por meio de relações sociais e
também que precisa pensar no espaço considerando o desenvolvimento e a faixa etária de
cada grupo.
Para que haja aprendizagem e desenvolvimento é importante que o professor, no
processo de elaboração do planejamento e no decorrer das diferentes ações educativas
considere a importância de organizar espaços educativos e explore-o adequadamente. No
entanto, para promover a aquisição de novos conhecimentos o espaço deve considerar o
cuidar e o educar, pois na educação infantil ambos estão intrinsecamente relacionados. Não há
como trabalhar nesse nível de ensino sem pensar na intrínseca relação entre o cuidar e o
educar. Assim Barbosa e Horn salientam:
Desse modo o espaço tem em sua amplitude a reflexão da cultura daqueles que o
habitam. É por meio do mesmo que as crianças constituem o conhecimento do mundo ao qual
estão inseridas, isso ocorre devido as atividades realizadas em grupo, pois assim as crianças
aprendem a conviver em sociedade compartilhando suas aprendizagens e cooperando com o
próximo, mantendo relações significativas por meio do espaço.
Assim é por meio da organização do espaço que as instituições de educação infantil
favorecerão as crianças a estabelecerem relações sociais e culturais, fazendo com que
conquistem a autonomia e construam o conhecimento, lembrando a necessidade de se criar
“um espaço físico adequado, instalações, ventilações e mobília adequada às crianças”
(MELO, 2007, p. 4). Com isso será possível a humanização dos sujeitos, tendo como base o
contexto histórico no qual as crianças estão inseridas, considerando sua cultura, costumes e
hábitos.
Devemos pensar no espaço como algo feito para e pelas crianças e não feito para os
adultos como ocorre na maioria dos ambientes de educação infantil, pois muito se vê na
prática objetos em lugares mais altos longe do alcance das crianças não permitindo assim a
exploração plena do espaço pelos pequenos. Como salientam Lira e Saito “o mobiliário deve
ser adequado ao tamanho das crianças, com estantes acessíveis, mesas e cadeiras leves, assim
como quadros, painéis, vasos sanitários e pias na altura das crianças” (LIRA e SAITO, 2012,
p. 109). Isso significa que é fundamental os educadores pensarem o ambiente se colocando no
lugar das crianças com base em suas dimensões, incluindo-as a nesse ambiente cultural,
porém não se limitando a ele; é necessário que seja explorado suas capacidades motoras e
sensitivas fazendo com que as crianças se apropriem do conhecimento.
Será difícil as crianças se desenvolverem apenas olhando para os objetos, sem tocá-los
ou compreendê-los. Acerca disso Gesell salienta que “é óbvio que será difícil ao bebê ou a
criança olhar para coisas, se poucas coisas tiver para ver, agarrar, se não houver nada que
agarrar, ou reagir socialmente, se não lhe derem oportunidades sociais (GESELL, 1985, p.
12).
Nesse sentido o espaço, quando planejado, desempenha na educação infantil papel de
educador, ou seja, sua importância é tamanha que é visto como um componente fundamental
para o desenvolvimento pleno das crianças, já que o mesmo exerce função dialética entre
aluno e professor. Cabe ao professor organizar de forma pensada o espaço propiciando a
autonomia nas crianças e sobre isso Barbosa destaca que “quanto mais o espaço estiver
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organizado, estruturado em arranjos, mais ele será desafiador e auxiliará na autonomia das
crianças” (BARBOSA, 2006, p. 124).
Porém não basta apenas esse espaço estar organizado de maneira a desafiar as
crianças, se as mesmas não vivenciá-lo intensamente. Por isso, cabe ao professor pensar em
atividades que permitam às crianças uma experiência significativa e reflexões! O ambiente
deve ser repleto de objetos que representam a cultura e o meio ao qual estão inseridos fazendo
com que as crianças consigam compreender o mundo de formas diferentes. Como salientam
as autoras:
Com base no excerto acima compreendemos que a relação entre professor e aluno é
importantíssima para que o espaço seja pensado de forma a emancipar os sujeitos envolvidos,
mas para que isso seja possível é necessário que os educadores tenham intencionalidade em
suas ações pedagógicas, dando sentido à rotina e ao espaço.
Segundo Barbosa (2006) é por meio do espaço que podemos contribuir ou não para a
formação dos aspectos subjetivos e cognitivos dos pequenos, além disso, o espaço também é
um incentivo para a criação de ambientes que sejam desafiadores e repleto de estímulos.
Como já dito anteriormente, esse ambiente deve ser construído com a ajuda das crianças e
modificado durante o ano, de forma a permitir que as crianças vivenciem e experimentem
inúmeras possibilidades. Com isso os pequenos poderão aprimorar sua forma de demonstrar o
que pensam e sentem, visto que, o ambiente deve ser diversificado, apresentando dentro de si
grande variação, expandindo o mundo de conceitos e culturas no qual as crianças vivem.
Assim, em um espaço estimulador, as rotinas se modificam.
Dessa forma, em cada ambiente transformado torna possível o conhecimento de um
novo contexto, por meio de novas ações, visto que, uma determinada atividade realizada em
um ambiente interno muda totalmente seu aspecto ao ser transferido para um ambiente
externo. Por exemplo, uma atividade com bolas realizada na sala de aula ocorre de uma
maneira, já em uma quadra de esportes seu desenvolvimento é outro, isto é, altera os espaços
sem alterar a essência da atividade, como acrescenta Barbosa “os espaços criam novas formas
de ação, de movimento, de experiência” (BARBOSA, 2006, p. 135).
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atividades folclóricas. Desse modo, estaremos propondo atividades que normalmente são
realizadas apenas dentro de sala de aula num ambiente externo.
Nos espaços para trabalhar com brinquedos de manipulação e construção podem ser
criados ambientes afastados, em cada um deles conter tipo de atividade utilizando os materiais
existentes na instituição, ou seja, um local onde pode ser trabalhado com bacias de água para
que brinquem com objetos flutuantes, como coadores, funis e medidores. Um local para
brincar com marcenaria, isto é, brincadeiras com madeiras de encaixar e até um ambiente para
brincar de cozinha, utilizando pedras, terras, água e areia.
Os espaços estruturados para jogos e brincadeiras que envolvem o movimento são
caracterizados geralmente por ambientes externos repletos de brinquedos, lugares esses que
são denominados de parquinhos, onde as crianças escorregam, balançam, passam entre os
túneis, passam pela ponte pênsil e brincam no gira-gira. Também podemos levar para esse
ambiente os carrinhos de empurrar e andar.
Nos pátios podem ser realizados jogos imitativos, sendo desenvolvidas atividades
como teatros de fantoches utilizando uma estrutura móvel, cesto contendo roupas e objetos
para dramatização, casinhas de bonecas com utensílios fictícios e reais, salão de beleza
contendo brinquedos como secador, maquiagens, espelhos, pentes, esmaltes e etc., nesses
espaços também podem ser realizados brincadeiras de banco, escritório, consultório médico e
construção de cabanas.
E, por fim, nos espaços não estruturados para jogos de aventura e imaginação podem
ser desenvolvidas atividades envolvendo bosques de árvores, contendo túneis, morros, pedras,
animais e plantas.
Para Barbosa e Horn (2001) na organização dos espaços internos devemos promover a
identidade pessoal das crianças, o desenvolvimento da competência, a construção de
diferentes aprendizagens, oportunidades para o contato pessoal e a privacidade. Para que isso
ocorra podemos organizar os espaços, por meio de cantos temáticos que podem ser fixos e/ou
alternativos.
Os cantos fixos podem conter cantos de casas de boneca, com utensílios de brinquedo,
de cozinha, sala, banheiro e quarto; canto da fantasia com retalhos, sapatos, chapéus, roupas,
maquiagens e espelhos; canto da garagem contendo carros, sinalizações de trânsito e trilhas;
canto da biblioteca com estante de livros, jornais e revistas organizado de forma que as
crianças possam ter autonomia para manusear. Nesse canto também pode ser realizado
narração de história por meio de fantoches, dedoches e marionetes, propiciando um ambiente
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aconchegante contendo almofadas, colchas e tatames; canto dos jogos e brinquedos contendo
jogos de lego, quebra-cabeça, sucatas e blocos lógicos.
Os cantos alternativos podem ser elaborados conforme o conteúdo que está sendo
trabalhado e o espaço disponível, a partir daquilo que as crianças se interessam. Nesses cantos
podem realizadas diversas atividades como canto da música, do supermercado, contendo
várias embalagens de diferentes produtos com dinheiro de brinquedo e prateleiras; do
cabeleireiro com grampos, bacias, cadeiras, shampoos e cremes; canto do museu contendo
objetos trazidos pelas crianças de passeios ou viagens; canto da luz e da sombra contendo
lanternas, lençóis, retroprojetor e filmes.
Cabe salientar também que existem os espaços intermediários que são locais cobertos
que podem ser utilizados para crianças com diferentes idades ao mesmo tempo, isto é, são
espaços muito utilizados em dias de chuva, frio ou sol intenso.
Portanto concluímos que os espaços na educação infantil são importantíssimos, porém
cabe ao professor pensar em como utilizá-los, compreendendo-os como aliados ao trabalho
pedagógico e como uma maneira de melhor trabalhar os conteúdos que devem ser refletidos e
compreendidos pelas crianças, promovendo assim o desenvolvimento integral dos pequenos.
Considerações Finais
Defendemos que o ambiente escolar precisa de mudanças, pois é por meio das
mudanças que as crianças aprendem e não com monotonia. Sobre isso salientam Cedro e
Moura “A partir dos princípios teóricos da abordagem histórico-cultural e da teoria da
atividade redefinimos o espaço de aprendizagem, como sendo o lugar da realização da
aprendizagem dos sujeitos orientado pela ação intencional do outro” (CEDRO; MOURA,
2004, p. 1).
Acreditamos que os ambientes devem ser modificados pedagogicamente para que os
alunos desenvolvam sua autonomia, pois com um ambiente democrático, inovador e ao
alcance das crianças elas podem pensar nas possibilidades, explorando o mundo ao seu redor,
ou seja, para que a autonomia se construa é necessário que ela seja possibilitada por meio da
proposição de atividades que para serem realizadas necessitam da percepção do ambiente por
parte dos alunos. Isso significa que o espaço precisa ser pensado como um elemento
fundamental para o desenvolvimento da prática pedagógica, considerando sempre a segurança
da criança, pois cabe também ao professor garantir a integridade física do aluno, já que aquilo
que é disposto deve ser seguro.
Por fim, defendemos que cabe ao professor planejar como será organizado o espaço
físico, pensando tanto nos espaços internos como nos externos, contemplando-os em suas
ações pedagógicas para alcançar seus objetivos, já que muitas vezes algumas atividades
realizadas na sala de aula podem se tornar mais interessantes em ambientes externos, mas sem
perder de vista sua essência. Compreendemos que a organização reflexiva do espaço faz com
que se desenvolvam nas crianças diferentes capacidades potencializando as mesmas tanto em
seus aspectos sociais, culturais e políticos. Portanto, cabe ao professor, por meio da mediação,
proporcionar um ambiente diversificado que oportunize nas crianças o desenvolvimento de
suas potencialidades, levando em conta todo um contexto ao qual ela pertence.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Maria Carmen Silveira. Por amor e por força: rotinas na educação infantil.
Porto Alegre: Artmed, 2006.
BARBOSA, Maria Carmen Silveira & HORN, Maria da Graça Souza. Organização do
Espaço e do Tempo na Escola Infantil. In: CRAIDY, Carmem; KAERCHER, Gládis E.
(Orgs.). Educação Infantil: Pra que te quero?. Porto Alegre: Artmed, 2001. P. 67-79.
GESELL, Arnold. A criança dos 0 aos 5 anos. São Paulo: Martins Fontes, 1985.
LIRA, Aliandra Mesomo e SAITO, Heloisa Toshie Irie. Elementos norteadores da prática
pedagógica na educação infantil: em busca de ações sistematizadas e emancipatórias. In:
CHAVES, Marta (Org.). Intervenções pedagógicas e educação infantil. Maringá: Eduem,
2012.
SEKKEL, Marie Clarie e GOZZI, Rose Mara. O espaço: um parceiro na construção das
relações entre as pessoas e o conhecimento. In: NICOLAU, Marieta L. Machado; DIAS,
Marina Célia Moraes (Orgs.). Oficinas de Sonho e realidade na formação do educador da
infância. Campinas, SP: Papirus, 2003, p. 11-24.