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Alvenaria Estrutural

– Cálculo, Detalhamento e Comportamento

ênfase no cálculo do vento e efeito de arco em obras já executadas

José Luiz Pereira

PINI
São Paulo
2015
Alvenaria Estrutural
– Cálculo, Detalhamento e Comportamento
Copyright Editora Pini Ltda

Todos os direitos de reprodução reservados pela Editora PINI Ltda.

Coordenação de Manuais Técnicos: Josiani Souza


Projeto Gráfico e capa: Granun Design
Revisão: Ricardo Sanovick Shimada

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Tel: 11 2173-2328
www.piniweb.com – manuais@pini.com.br

1ª edição
1ª tiragem: nov/15
2ª tiragem: jan/17

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Pereira, José Luiz

Alvenaria estrutural / José Luiz Pereira. --


São Paulo : Pini, 2015

ISBN 978-85-7266-441-7

1. Alvenaria 2. Construção em concreto


3. Engenharia de estruturas I. Título.

15-09882 CDD-624.183

Índices para catálogo sistemático :


1. Estruturas em alvenaria e concreto simples :
Engenharia 624.183
“ O cientista jamais pensou que é preciso amar o fenôme-
no, tornar-se o fenômeno observado, vivê-lo; é indispen-
sável transportar o próprio EU com sua sensibilidade, até
o centro do fenômeno, não apenas com uma comunhão,
mas com uma verdadeira transfusão de alma.”

A grande síntese, de PIETRO UBALDI


Dedicatória

Aos meus sempre lembrados mestres da E.P.U.S.P., Eng. Mil-


ton Mautoni (in memorian) e Eng. Péricles Brasiliense Fusco,
dos quais, além de ser aluno, fui estagiário e a quem devo a se-
dimentação completa de meu aprendizado profissional, bem
como o meu agradecimento Aos meus clientes que sempre
confiaram plenamente em meu trabalho.Aos funcionários e
colaboradores de mais de cinco décadas de convívio profis-
sional em nosso escritório, JLP Engenharia e Projetos.Aos
amigos e colegas que ajudaram na organização e estruturação
deste livro.A todo este exército de pessoas que colaboraram,
devo minha consideração e apreço sabendo que, sem eles, este
livro não teria sido escrito.

Agradecimentos

Agradeço especialmente à Bloco Brasil, à Editora Pini e ao


Arquiteto Carlos Alberto Tauil pela viabilidade editorial
deste livro.
Prefácio

É com uma enorme satisfação e uma grande honra para mim que
atendo ao convite do amigo Eng. José Luiz Pereira para prefaciar
este livro, que aborda, além de um breve histórico de sua carrei-
ra profissional de sucesso, uma preocupação em transmitir alguns
conceitos importantes de projetos de Alvenaria Estrutural (AE)
aos colegas que se dedicam ao cálculo de estruturas desse tipo.
A grande experiência desse pioneiro do cálculo de AE no Brasil
oferece, desde o final dos anos 60, um grande volume de projetos
para centenas de edifícios de quatro a 22 pavimentos para dezenas
de clientes. Algumas dessas obras com um grande desafio para via-
bilizar economicamente estruturas que marcaram o avanço dessa
tecnologia de construção em todo o País.
A decisão de colocar em um livro conceitos diferentes de aborda-
gem de temas, como “o esforço do vento” em estruturas de AE e
o “efeito de arco” nas paredes de AE de edifícios, me levou a in-
centivá-lo a dedicar uma grande parte de seu tempo para, junto à
Editora Pini, viabilizar a edição deste livro.
O livro vem se juntar aos textos já disponíveis sobre projeto de edi-
fícios em AE, sendo relevante para engenheiros projetistas, alunos
de faculdades de Engenharia Civil e todos que pesquisam obras
executadas em AE, pelo grande conhecimento do autor, presente
em centenas de obras realizadas.
Parabenizo o autor e amigo de muitos anos pelo grande esforço
despendido na elaboração cuidadosa do texto e dos gráficos apre-
sentados, buscando, assim, a maneira mais simples para demons-
trar o comportamento das estruturas em Alvenaria Estrutural.

Arq. Carlos Alberto Tauil


Por que fazer este livro
Desde 1969 o autor tem estudado e desenvolvido, por sua exclusiva iniciativa,
sem ter feito nenhum curso formal, apenas garimpando publicações esparsas e
filtrando as primeiras normas norte-americanas, ainda incipientes, o processo
construtivo da Alvenaria Estrutural.
Esta foi a grande oportunidade de o autor abraçar uma tecnologia construti-
va nova, que podia ser desenvolvida por ele apenas com os conhecimentos que
já possuía e bem sedimentados de muitos anos como calculista de estruturas e
como construtor. E o mais importante, sentir a sensação inexplicável do fascínio
envolvente de tal atividade, a ponto de desistir da construção, que seria econo-
micamente mais rentável e já era uma realidade, e se dedicar exclusivamente aos
projetos de construções em Alvenaria. Note-se que o interesse do autor foi muito
além dos cálculos e fenômenos inerentes às estruturas e que conseguiu domi-
nar com facilidade. Ele estudou e desenvolveu o processo construtivo como um
todo, racionalizando e adaptando-o à realidade brasileira. Seus projetos logo se
multiplicaram, quando foram executados para terceiros, com a oportunidade
de projetar obras de maior importância. Assim, o autor adquiriu um know how
próprio de uso exclusivo. Então, por que o autor resolveu, hoje, divulgar seus
conhecimentos? Acontece que ele imaginava que um dia sua técnica seria do-
minada por terceiros, mesmo porque ela é apresentada em desenhos aos cons-
trutores, ficando disponível a interessados. Todavia, isso não aconteceu como
ele imaginara: o principal fenômeno explorável favoravelmente da Alvenaria, o
Efeito de Arco, encontra-se subexplorado e, sob um certo aspecto, até ignorado
(inclusive pelas próprias normas); os parâmetros e os critérios para o cálculo da
ação do vento nas estruturas de alvenaria ainda estão duvidosos para a maioria;
o comportamento formal da Alvenaria como uma estrutura, ainda não é aceito
plenamente, por comodidade ou ignorância; e, finalmente, um grande motivo
senão o principal: os engenheiros estruturais de hoje foram formados na cultura
do Concreto Armado, acostumados a trabalhar apenas com peças reticulares,
vigas e pilares, analisando geralmente apenas efeitos pontuais, raramente manu-
seando o conjunto global da estrutura.
Assim, o autor resolveu disponibilizar à Comunidade de Engenheiros e Arquite-
tos uma parte de seus conhecimentos por meio deste livro, preocupado inclusive
em torná-lo acessível aos profissionais e estudantes de áreas correlatas. Sabendo
que receberá críticas e comentários, mantém-se firme e convicto da certeza de
seus critérios, já bem fundamentados com muitíssimas observações dos fenô-
menos físicos.
Trajetória do autor
Tomado por grande impacto pela quebra dos parâmetros conceituais existentes,
muitos fenômenos tiveram que ser repensados.
Os conceitos de linhas elásticas de vigas e pilares reticulares, obtidos em serviço,
foram deixados de lado, e toda a sua energia foi direcionada em desvendar os
movimentos das tensões nas alvenarias, espraiando-se e concentrando-se con-
forme cada situação de trabalho.
Analisando o croqui estrutural de uma viga de fundação solicitada por uma pa-
rede de alvenaria, o autor percebeu que não haveria flecha proveniente do car-
regamento rígido dessa estrutura. Sem tal deformação, não haveria flexão, nem
momento e cisalhamento, haveria apenas uma carga rígida apoiada sobre duas
estacas, que dispensava a existência de viga. Essa foi a apresentação entre o autor
e o “efeito de arco” e, também, o início de seus estudos sobre o assunto, suportado
por bibliografias e normas americanas (UBC – Califórnia), já em elaboração mas
pouco didáticas, que o levaram a desenvolver suas próprias técnicas de cálculo.
Muitas pesquisas e diversos ensaios foram desenvolvidos, e José Luiz, juntamen-
te com a equipe da empresa do construtor Eugênio de Andrade Martins, desen-
volveu um novo tipo de bloco canaleta, em substituição ao bloco canaleta tipo
U existente, com o objetivo de cruzar os ferros verticais e possibilitar o seu grau-
teamento. Tratava-se de uma forma constituída pelo bloco padrão simplesmente
adaptado com os septos transversais removíveis a meia altura e com um fundo
fechado por uma fina casca de concreto facilmente destacável, modelo até hoje
utilizado pela maioria dos fabricantes de blocos estruturais.
Foram realizadas pesquisas a partir de ensaios com argamassas comuns, com
base reforçada de cimento, fenólicas e epóxicas, sendo essas últimas as mais in-
teressantes, por conferirem resistência à tração, pressupondo a eliminação de
armadura.
As tintas para impermeabilização das alvenarias sem revestimento foram estu-
dadas, visto que na época ainda não existiam disponíveis no mercado (as acríli-
cas surgiram no final da década de 70).
Foram desenvolvidos todos os elementos pré-fabricados compatíveis com o sis-
tema construtivo, como lajes, escadas, arremates para bordas de lajes e platiban-
das, incluindo as escadas tipo “jacaré”, utilizadas até hoje em dia, concebidas a
partir de pré-moldados leves para transporte manual.
Houve a adaptação das fôrmas dos blocos americanos, muito pesados, com os
furos de seção semielíptica, não retangular, como desejável.
Foram pesquisados os blocos coloridos, com agregado leve, com desenhos em
relevo e vários tipos de split blocs (fabricados em fôrmas duplas).
As transições, ou seja, as vigas que recebem todo carregamento das alvenarias, e
as fundações tiveram que ser repensadas devido ao efeito de arco, além das alve-
narias de vedações, do conceito de instalações prediais, escadas lajes, subsolos,
contenções e reservatórios (também em alvenaria). Enfim, todo o conjunto es-
trutural foi replanejado de modo a se obter um projeto completo racionalizado.
Todos esses estudos resultaram, ao longo de 46 anos até hoje de convivência,
no desenvolvimento de mais de 850 projetos só em alvenaria, que incluem a
execução de mais de 13 mil edifícios, considerando-se as dezenas e centenas de
repetições.
Algumas dessas obras estão apresentadas neste livro, incluindo o primeiro pro-
jeto com 12 andares em alvenaria do Brasil, o edifício Central Park Lapa (1971),
cujo projeto estrutural foi feito pelo autor.
Sumário
Dedicatória ....................................................................................................................................... 5
Agradecimento................................................................................................................................. 5
Prefácio ............................................................................................................................................. 7
Por que fazer este livro .................................................................................................................... 9
Sumário .......................................................................................................................................... 13
Notações ......................................................................................................................................... 15

Capítulo 1 Especificações e parâmetros para projetos de alvenaria estrutural .......................... 17


1.1 Especificações utilizadas nos projetos e exemplos deste livro, elaborados pelo autor ............................. 17
1.2 Alvenaria não armada procedimentos e hipóteses admitidas nos projetos .............................................. 18
1.2.1 Compressão axial e na flexão: equação .................................................................................................. 18
1.2.2 Cisalhamento ...................................................................................................................................... 20
1.2.3 Tração axial e na flexão ...................................................................................................................... 21
1.3 Alvenaria armada: procedimentos e hipóteses da alvenaria não armada complementam
também os projetos da alvenaria armada .................................................................................................... 22
1.3.1 Hipóteses para projetos ............................................................................................................................ 22
1.3.2 Tensões admissíveis nas armaduras ....................................................................................................... 22
1.3.3 Compressão axial e flexão (tensões admissíveis) ................................................................................. 22
1.3.4 Cisalhamento ............................................................................................................................................. 23
1.4 Considerações sobre a armação de alvenarias submetidas à flexão ........................................................... 24

Capítulo 2 Características dos elementos da estrutura .............................................................. 25


2.1 Flexão e cisalhamento no plano das paredes – deformações das alvenarias ........................................... 25
2.2 Torção no plano de laje..................................................................................................................................... 26
2.3 Combinações basicas G (gravidade) x V (vento) ......................................................................................... 28
2.4 Comportamento das cargas verticais nas paredes ........................................................................................ 32
2.5 Comportamento, equilíbrio e tensões das paredes ....................................................................................... 34
2.5.1 Parede simples ........................................................................................................................................... 34
2.5.2 Parede com flange ..................................................................................................................................... 36
2.5.3 Paredes com aberturas ............................................................................................................................. 37
2.5.4 Paredes irregulares .................................................................................................................................... 38

Capítulo 3 Exemplo prático de um projeto real ......................................................................... 43


3.1 Considerações .................................................................................................................................................... 43
3.2 Escolha das paredes resistentes ao vento ....................................................................................................... 44
3.3 Cálculo dos momentos de inércia (I) ............................................................................................................. 47
3.4 Cálculo das tensões individuais dos conjuntos de paredes ......................................................................... 47
3.4.1 Vento........................................................................................................................................................... 47
3.4.2 Gravidade ................................................................................................................................................... 47
3.4.3 Momentos de inércia ................................................................................................................................ 48
3.4.4 Somatória de “I” ........................................................................................................................................ 48
3.4.5 Tensão admissível para alvenaria ............................................................................................................ 48

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Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

3.5 Procedimentos para os cálculos individuais .................................................................................................. 48


3.5.1 Desenho da figura ..................................................................................................................................... 48
3.5.2 Planilha....................................................................................................................................................... 48
3.5.3 Quadro ....................................................................................................................................................... 49
3.5.4 Tensões ....................................................................................................................................................... 49
3.5.5 Cálculo das paredes x + y........................................................................................................................ 50
3.6 Comentários sobre as tensões nas paredes .................................................................................................... 57
3.6.1 Analisando as tensões finais das paredes ............................................................................................... 57
3.6.2 Ociosidade na tensão de cada parede indicada .................................................................................... 57
3.6.3 Situação da estrutura sem as cargas acidentais atuando ...................................................................... 57
3.6.4 Extrapolações ............................................................................................................................................ 57
3.6.4.1 Cálculos com 20 e 22 andares ........................................................................................................ 58
3.6.5 Paradoxo..................................................................................................................................................... 61
3.6.6 Esforços de cisalhamento ......................................................................................................................... 64
3.6.7 Pórticos reticulares de concreto armado travados com alvenaria ...................................................... 65

Capítulo 4 Pórticos de alvenaria ................................................................................................... 69


4.1 Considerações .................................................................................................................................................... 69
4.2 Pórtico Edifício Murity .................................................................................................................................... 72
4.3 Pórtico Joy Cambucy II .................................................................................................................................... 75

Capítulo 5 Detalhes gerais de paredes e armações ...................................................................... 79


5.1 Edifício Prime Busines Center ........................................................................................................................ 79
5.1.1 Superestrutura .......................................................................................................................................... 80
5.1.2 Infraestrutura ........................................................................................................................................... 84
5.2 Edifício Solar dos Alcântaras........................................................................................................................... 86
5.3 Condomínio Villa Verde .................................................................................................................................. 90
5.4 Residencial Bonança ......................................................................................................................................... 93

Capítulo 6 Efeito de arco nas alvenarias ....................................................................................... 95


6.1 Caminho das cargas e tensões ......................................................................................................................... 95
6.2 Considerações .................................................................................................................................................... 95
6.3 Torre de 13 andares com balanço na transição ........................................................................................... 102
6.4 Exemplo numérico do efeito de arco em parede simples .......................................................................... 103
6.5 Esquemas funcionais importantes ................................................................................................................ 107
6.6 Efeito de arco em fundações .......................................................................................................................... 110
6.6.1 Considerações ......................................................................................................................................... 110
6.6.2 Fundações sobre estacas......................................................................................................................... 112
6.6.3 Fundações em sapatas corridas superficiais ........................................................................................ 118
6.6.4 Rigidez do conjunto tridimensional ..................................................................................................... 122
6.6.4.1 Paraboloide hiperbólico................................................................................................................ 122
6.6.4.2 Acidentes em fundações ............................................................................................................... 126

Capítulo 7 Fotografias de obras projetadas pelo autor ...............................................................131

14 José Luiz Pereira


Notações
Minúsculas
a - distância, medida, dimensão
b - base, largura
d - altura útil (armação de viga), deslocamento
e- excentricidade
f - tensão, resistência, flexa
f.adm - tensão admissível
fa - tensão de compressão axial na alvenaria
ff - tensão de compressão da flexão na alvenaria
fp - tensão de compressão no prisma (na área bruta)
fs - tensão de tração na armadura
f’s - tensão de compressão na armadura
ft - tensão de tração na alvenaria
fv - tensão de cizalhamento
g - carga vertical distribuída de gravidade
h - altura
ℓ - vão, comprimento, extenção
q - carga distribuída
qv - carga distribuída horizontal de vento
r - raio de círculo, índice de rigidez ( Ι/ ℓ), raio de giração ( t / 12 )
s - índice de notação referente ao aço
t - espessura de parede
v - índice de notações provenientes de forças cortantes
x - altura da linha neutra
y - profundidade da região de compressão uniforme
z - braço de alavanca

Maiúsculas
A - área
Ab - área bruta
An - área líquida
As - área tracionada do aço
A’s - área comprimida do aço
CG - centro de gravidade
CM - centro de massa
CO - coeficiente de ociosidade
CR - centro de rigidez
D - deslocamento
E - módulo de elasticidade
Ea - módulo de elasticidade da alvenaria
Ec - módulo de elasticidade do concreto

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Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

Es - módulo de elasticidade do aço


F - força, ação
G - força de gravidade
H - altura, esforço horizontal
I - momento de inércia
L - vão, extensão, extensão principal
M - momento fletor
P - carga, força, ação
Q - quinhão
R - resultante, raio de círculo
Rv - resultante do vento
T - força de tração, tirante
V - resultante de forças do vento, força cortante
W - módulo de resistência – seções simétricas
Wd - módulo de resistência à direita – seções assimétricas
We - módulo de resistência à esquerda – seções assimétricas

Letras Gregas
ф - diâmetro, bitola de aço
γ - coeficiente de segurança
λ - índice de esbeltez
σ - tensão de cisalhamento
Ơ - tensão
Σ - somatória

16 José Luiz Pereira


CAPÍTULO 1
Especificações e Parâmetros
para Projetos de Alvenaria Estrutural

1.1 Especificações utilizadas nos projetos e exemplos deste livro,


elaborados pelo autor

Desde o início de nossos estudos e pesquisas sobre alvenaria estrutural (final de 1969), baseamo-
nos unicamente nas publicações, nos regulamentos e normas das instituições norte-americanas,
mesmo porque não tínhamos conhecimento, nos primeiros anos, de outras normas. Por esse mo-
tivo, a nossa cultura profissional nasceu, desenvolveu-se e ainda acompanha a atualização de tais
publicações oficiais, reeditadas a cada dois e três anos. Os nossos projetos se balizam em tais pro-
cedimentos, mesmo porque as normas da ABNT, anteriores à NBR 15961-1:2011, também foram
inspiradas em tais normas, o que nos deixa em situação confortável e em condições de explorar
alguma desatualização ou omissão das nossas normas atuais. Então, citamos Referências de Nor-
mas e alguns Manuais que consideramos úteis para o bom entendimento de alguns critérios de
projetos aqui utilizados.

Normas & Manuais Práticos:


ABNT NBR 6123-88 - Vento
ABNT NBR 10.837-1989 - Projetos de estruturas de alvenaria (vigente na época do projeto)
IBC Internacional Building Code - Internacional Code Council - 2012
Building Code Requirements and Specification for Masonry Structures - Joint Committee -
2011: TMS. The Masonry Society
SEI. Structural Engineering Institute (ASCE)
ACI. American Concrete Institute
Reinforced Masonry Engineering Handbook – 7ª ed. – MIA, Masonry Inst. of America
– James e Amrhein
Masonry Designers’ Guide – 6ª ed. – THE MASONRY SOCIETY
Reinforced Masonry Designy – 2ª ed. – R. R. Schneider & W. L. Dickey – Prentice-Hall,
Inc. – New Jersey
Masonry Structures Behavior & Design – 3ª ed. – R. G. Drysdale & A. A. Hamid – THE MASONRY
SOCIETY

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Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

Fundamentals of Reinforced Masonry Design – CMACN - Conc. Mas. Assoc. of California &
Nevada – 1990
Design Manual for : Concrete Masonry Basements – CMACN (idem) – 1996
Performance of Masonry Struct in the Northridge, California Earthquake of January 17, 1994
– The Masonry Society

1.2 Alvenaria não armada: procedimentos e hipóteses admitidos


nos projetos
1.2.1 Compressão Axial e na Flexão: equação

fa / fa,adm + ff / ff,adm ≤ 1. [eq 1.2.1.1]


fa,adm = (1/4)fp [ 1 - (h/140r,)² ] para h/r, < 99 kg/cm² [eq 1.2.1.2]
fa,adm = (1/4)fp (70r,/h)² para h/r, > 99. kg/cm² [eq 1.2.1.3]
P ≤ ( ¼ )Pe kg [eq 1.2.1.4]
Pe = π² EalvIn/h² ( 1 –0,577e/t )³ kg [eq 1.2.1.5]
ff,adm. = (1/3)fp. kg/cm² [eq 1.2.1.6]

Observações
- na eq 1.2.1.1 para o vento ≤ 1,33
- para seções retangulares e sólidas: r = t/√12 para t=14, r, =4,0 [eq 1.2.1.7]
para t=19, r, =5,5 [eq 1.2.1.8]
para t=29, r, =8,4 [eq 1.2.1.9]
- P = carga de compressão axial (kg)
- Pe = carga de flambagem de Euler (kg)
- h = altura da parede, entre suportes (entre lajes) (cm)
- t = espessura da parede (real , não nominal) (cm)
- Ealv = módulo de elasticidade da alvenaria = 900 fp ( kg/cm²) [eq 1.2.1.10]
- In = momento de inércia da seção não fissurada e referente ao eixo
“n – transversal”; se retangular In = t. ℓ³/12. (cm4) [eq 1.2.1.11]
- e = excentricidade da carga de compressão axial em relação ao eixo longitudinal e para
esforços aplicados fora do plano da parede.
Válido apenas para e > 0,1t, ou desprezar. Nada a ver com M/P, atuando na outra dire-
ção, no plano da parede.

18 José Luiz Pereira


Comentários

Complementando as NBR, agora podemos calcular a flambagem


para qualquer altura, aplicando diretamente as equações de Euler (eq
1.2.1.2/3), cuidando-se de se precaver com a utilização de alturas muito
exageradas. Exemplos:

Fig. 1.2.1.2/3 - Montagem do autor

19
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

• Na (eq. 1.2.1.1) cada uma das parcelas não pode ser superior à unidade.
• A (eq. 1.2.1.4) define o coeficiente de segurança 4 para a aplicação de Pe.
• A (eq. 1.2.1.5) deverá ser verificada independentemente da (eq 1.2.1.1),
sendo viável uma investigação paralela da flexão oblíqua.
• Na (eq. 1.2.1.6) o acréscimo de 1/3 na borda comprimida conduz a
ff,adm = (4/3)(1/4)fp = (1/3)fp.

1.2.2 Cisalhamento
Os elementos de alvenaria solicitados por esforço cortante horizontal devem sar calculados:

fv = V/bt kg/cm² (eq. 1.2.2.1)

Observações (1):

- fv é a tensão de cisalhamento horizontal (kg/cm²)


- V é o esforço cortante horizontal (kg)
- bt é a área líquida da seção horizontal (cm²)

Comentários (1):

A fv.adm no plano horizontal não deve ser maior que:


0,127 √fp (MPa) (eq. 1.2.2.2)
0,83 (MPa) (eq 1.2.2.3)
paredes em juntas de amarração e não completamente grauteadas
0,26 + 0,45 Nv/An (MPa) (eq. 1.2.2.4)
paredes em juntas de amarração e completamente grauteadas
0,42 + 0,45 Nv/An (MPa) (eq. 1.2.2.5)

Observações (2):

- fv.adm = tensão admissível de cisalhamento no plano horizontal (MPa)


- fp = tensão média dos prismas (MPa)
- 0,45 = coeficiente de fricção, aumentado de 0,20

20 José Luiz Pereira


- Nv = força de compressão vertical ao plano horizontal do cisalhamento,
normalmente baseada apenas em cargas permanentes
- An = área líquida da seção horizontal

Comentários (2):

Na alvenaria não armada observamos três tipos de fissuras provenientes do


cisalhamento:
• Fissuras horizontais correndo na argamassa das juntas de assentamento.
• Fissuras em diagonal, atingindo blocos e argamassas, provenientes de
tensões de tração (às vezes, se manifestam na vertical).
• Fissuras do tipo “escadinha” marcando as argamassas, alternando tre-
chos horizontais com verticais, descendo do teto e, às vezes, passando
pelas canaletas, até o chão.
Devido à falta de ensaios específicos, podemos considerar a (eq. 1.2.2.1)
própria para esforços no plano da parede, sendo complementada pelas
(eq. 1.2.2.2/5), que garantem eventuais distorções devido a esforços atuando
fora do plano da parede.
Nas paredes compostas com vários elementos, em T, L, C, ... , a área líquida
da seção horizontal, Na = bt, a considerar no cálculo, será apenas a da alma
na direção principal, desconsiderando-se as flanges.

1.2.3 Tração Axial e na Flexão


A resistência à tração axial de esforços, atuando em paredes de alvenaria não armada,
deve ser sempre desprezada nos projetos.
A resistência à tração na flexão pode ser considerada, ou não, no equilíbrio das ten-
sões. Tal resistência depende de diversos fatores, como a resistência e constituição da
argamassa de assentamento, dos esforços paralelos ou normais às juntas de assenta-
mento, da condição de grauteamento das paredes, total, parcial ou não grauteadas, do
assentamento dos blocos em juntas de amarração ou a prumo, etc.
Considerando-se a pequena vantagem de se aproveitarem as resistências à tração na
flexão e, principalmente, devido ao fato de se trabalhar no projeto com variações de
grauteamento na pesquisa por menores custos de execução, em nossos projetos, cos-
tumamos desprezar tais resistências, mesmo porque para maiores trações, utilizamos
alvenarias armadas.
Os efeitos dos esforços nas armaduras de alvenarias não armadas, tanto de compressão
como de tração, deverão sempre ser desprezados.

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Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

1.3 Alvenaria armada: procedimentos e hipóteses da alvenaria não


armada complementam também os projetos da alvenaria armada

1.3.1 Hipóteses para projetos:


a) deve existir compatibilidade de deformações entre o aço, o graute e a alvenaria.
b) deformações no aço e na alvenaria são diretamente proporcionais às distâncias da
linha neutra.
c) esforços são linearmente proporcionais às deformações.
d) os esforços permanecem no regime elástico.
e) alvenarias tracionadas são desprezadas nos cálculos axial e de flexão.

1.3.2 Tensões admissíveis nas armaduras


para CA28* e CA35* : fs,adm = 1380 kg/cm² (eq. 1.3.2.1)
para CA42* fs,adm = 2200 kg/cm² (eq. 1.3.2.2)
(*Grade 40, 50, 60, respectivamente em denominação norte-americana)

1.3.3 Compressão axial e flexão (tensões admissíveis)


a) As forças de compressão devidas apenas a cargas axiais na alvenaria armada não
podem exceder
para membros com relação h/r ≤ 99 :
Pa = (0,25.fp.An + o,65.fs.As )[1-(h/140r,)²] (eq. 1.3.3.1)
para membros com relação h/r > 99 :
Pa = (0,25.fp.An + 0,65.fs.As)( 70.r,/h )² (eq. 1.3.3.2)
b) As tensões de compressão na alvenaria devido à flexão ou à flexão combinadas com
cargas axiais não podem exceder (0,45.fp), respeitando que a tensão de compressão
devida ao componente da carga axial, fa, não exceda a tensão admissível da seção 1.2.1.
c) Paredes armadas à flexão com armaduras laterais tracionadas (Lateral Suports), em
função da inversão do vento, poderão ter a mesma seção de armadura, trabalhando
também à compressão, desde que sejam respeitadas as tensões do item 1.3.2. Observe-
se que tal armadura pode ou não ser utilizada à compressão.

22 José Luiz Pereira


1.3.4. Cisalhamento
Os elementos de alvenaria solicitados por esforço cortante horizontal deverão ser calculados,
como na alvenaria não armada.
fv = V/bt (kg/cm² ) (eq. 1.2.2.1)
Os esforços de cisalhamento depois de serem absorvidos pela alvenaria até onde der passam a ser
absorvidos pela armadura em conjunto, se assim for necessário:
fv = fva + fvs (kg/cm² ) (eq. 1.2.2.2)
A tensão admissível ao cisalhamento nas armaduras:
fvs.adm = 0,5 ( Avs. fs.adm.d / An.s ) ( kg/cm² ) (eq. 1.2.2.3)

Observações:

fv = tensão de cisalhamento
fva = tensão de cisalhamento na alvenaria
fvs = tensão de cisalhamento na armadura
fs.adm = tensão admissível à tração e à compressão na armadura (são iguais)
Avs = seção da armadura de cisalhamento
An = área líquida do membro em questão
d = altura útil (= distância da extrema fibra comprimida à centroide da armadura de
tração)
s = espaçamento da armadura do cisalhamento
Comentários:

• Contrariamente ao concreto, na alvenaria armada, a alvenaria e a ar-


madura trabalham em conjunto na resistência ao cisalhamento.
• Nas vigas de alvenaria, a armadura é resolvida com estribos, sempre obri-
gatórios.
• Nas paredes, as armaduras, quando necessárias, devem ser posicionadas
paralelamente à direção da força de cisalhamento aplicada (geralmente
horizontal), e uniformemente distribuídas na altura não excedendo d/2
ou 120 cm.
• Quando as Avs são necessárias, pelo menos 1/3 Avs deverá ser acres-
centado e igualmente distribuído verticalmente, respeitando um espaça-
mento máximo de 240 cm.

23
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

1.4. Considerações sobre a armação de alvenarias


submetidas à flexão
Se pretendêssemos abordar aqui todo o histórico e desenvolvimento do cálculo e dimensiona-
mento da flexão atuante nas Alvenarias, teríamos que utilizar várias páginas deste livro para textos
e outras tantas para as tabelas de cálculos, tão importantes quanto. Todavia, não é essa a nossa
intenção. Em primeiro lugar, porque os assuntos que programamos não incluem, principalmente,
tais tabelas que, por serem muitas e expressas com unidades norte-americanas, tornando-as, as-
sim, muito extensas para sua confecção, e, em segundo, porque na prática utilizamos as tabelas
de Concreto Armado (EST III), perfeitamente válidas em sua utilização, tanto em vigas simples ou
com armadura dupla, como em paredes com flexão no plano ou fora do plano.
Apesar de o EST III estar há bastante tempo em plena utilização, alguns profissionais norte-ameri-
canos ainda calculam no EST II e sempre com o “dimensionamento balanceado” (com otimização
do consumo aço x alvenaria), talvez por alguma conveniência (não conceitual) que não saibamos.
Tudo isso, também, em conformidade com o perfeito atendimento aos itens 1.2.3. e 1.3.2.

24 José Luiz Pereira


CAPÍTULO 2

Características dos Elementos da Estrutura

2.1 Flexão e cisalhamento no plano das paredes


- deformações das alvenarias
Para o entendimento perfeito do funcionamento das estruturas de alvenaria com andares múlti-
plos, submetidas a forças verticais e horizontais, é importante abordarmos alguns aspectos físicos
do comportamento das paredes. Utilizaremos o modelo do “Mastro de Bandeira”, ou seja, o de uma
estrutura vertical em balanço e engastada na base.
Analisando a Figura 2.1.ab, vemos a deformação (D) de um prédio, solicitado por uma carga ho-
rizontal proveniente de ações do vento (+ qv) em toda sua a fachada, com altura (H). Existem na
realidade duas deformações distintas: a) Dm referente aos momentos fletores e b) Dv referente a
forças cortantes. A reação horizontal final (- V) equilibra todas as + V = Σ + q, cujo binário origina
o momento fletor (+ Mv) aplicado na base, e o equilíbrio do conjunto fica garantido pela somatória
das cargas de gravidade (+ G). Caso esse equilíbrio não seja garantido com as cargas de gravidade,
aparecerão esforços de tração fissurando a alvenaria, que poderão ser absorvidos por armaduras,
restabelecendo o equilíbrio, pois as alvenarias não têm resistência à tração considerável.
Na Figura 2.1.c, temos o esquema reticular similar ao da parede, acompanhado de uma fórmula
que relaciona os esforços com os elementos geométricos, permitindo avaliar os valores dos itens
envolvidos.
Na Figura 2.1.d, a deformação do conjunto das paredes de um andar (d*) obedece ao critério
inicial adotado da rigidez indeformável das lajes dos pisos e garante o mesmo deslocamento ho-
rizontal (d) para todas as paredes, favorecido pelas ligações entre paredes com trechos de lajes
biarticulados para evitar quaisquer outros vínculos. Observando a fórmula de (c), constatamos
que os itens E, d, h são idênticos para todas as paredes e, então, o cálculo de M torna-se diretamen-
te proporcional a “I”, na avaliação dos esforços individuais de cada parede. Em termos práticos,
calculamos os momentos de inércia de cada parede, somamos todas, inclusive as que aparecem
mais de uma vez, chegando a um total (Σ I). O “quinhão” do esforço de cada parede calcula-se:
[Qi = Ii/ΣI], então Mi = Qi.Mv, e também Vi = Qi.V.

25
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

Fig 2.1 - Deformação das paredes - Montagem do autor

O princípio básico do comportamento global da estrutura apoia-se na consideração de as lajes de


piso serem absolutamente rígidas em seu plano para garantir iguais deslocamentos de todas as pa-
redes frente a esforços horizontais externos. A deformação horizontal da placa da laje, provocada
pela compressão existente entre as paredes extremas, deverá ser desprezada para efeito de nossos
cálculos.
O vento será considerado atuando por inteiro e perpendicularmente em toda a fachada e, como
temos uma planta retangular, o faremos atuando nas duas direções ortogonais X e Y, onde se posi-
cionam as paredes resistentes. Com o vento atuando em qualquer direção, podemos considerar o
seu esforço decomposto nas duas direções principais X e Y sempre menores. É importante analisar
a condição de travamento das paredes nas duas direções (tombamento).

2.2 Torção no plano de laje


A situação mais comum de plantas com dois ou quatro apartamentos ou hotéis com diversos cô-
modos repetidos é a de terem um ou dois eixos de simetria no arranjo das paredes, entretanto,
existem muitas plantas sem simetria, em uma ou em duas direções, sujeitas a ter suas lajes subme-

26 José Luiz Pereira


tidas a dois tipos de esforços externos: Ventos e Sismos. A assimetria na disposição das paredes
em planta ocasiona esforços adicionais provenientes do MT (momento de torção), formado pela
aplicação da resultante horizontal externa pela distância em relação ao CR (centro de rigidez) no
caso de vento, e em relação ao CM (centro de massa) no caso de sismo.

Fig 2.2 - Exemplo de torsão no diafragma - Montagem do autor

Posicionando-se o CR, função exclusiva da resultante das relações (rigidez x posições), do con-
junto de paredes e locando-se os eixos das posições das RVx e RVy pelos C.G. das fachadas, po-
deremos ter os MTVx e MTVy Máximos, nunca simultâneos, girando no mesmo sentido ou em
sentido contrário, dependendo de suas posições relativas. Com vento inclinado, as componentes x
e y se somam ou se subtraem, respectivamente.
No nosso projeto do Cap. 3.4, o efeito de MTV devido ao vento não existe, por se tratar de uma
planta com simetria praticamente nas duas direções principais, alinhando os RV com o CR e, por-
27
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

tanto, sem deslocamentos proporcionais que acarretem torção. Já os efeitos das forças laterais, ou
verticais, proveniente de Sismos, não fazem parte do nosso trabalho e foram aqui abordados para
evitar frequentes confusões com os efeitos dos ventos. É importante considerar também como
acontece a distribuição de cargas nas paredes. As “Cargas de Gravidade”, permanentes e acidentais,
provenientes das lajes, são distribuídas no andar, em função de seus vãos livres e de sua eventual
sobrecarga extra de paredes não estruturais, ao passo que as paredes estruturais recebem as lajes,
ou mais alguma viga de vão de janela ou porta, ou qualquer outra carga, mais seu peso próprio.
No âmbito global, as “Cargas de Gravidade” descem pelos andares, acumulando-se conforme uma
progressão aritmética, e as “Cargas de Vento”, horizontais, que se manifestam principalmente pe-
los seus momentos fletores, aplicados nos planos das paredes, e que se acumulam conforme uma
progressão geométrica; então, a diferença entre a grandeza dos efeitos começa a se manifestar com
maior influência nos andares inferiores.

2.3 Combinações básicas G (gravidade) x V (vento)


Para analisar o comportamento das paredes solicitadas simultaneamente por cargas verticais G
e horizontais V, todas aplicadas no plano da própria parede, consideramos uma parede simples
(A = t x ℓ) com G constante e aplicada em seu centro de gravidade e V variável aplicada no seu
nível superior. Assim, temos seu diagrama de tensões.
Notações:
Área A= t x ℓ (cm2)
Módulo de Resistência W= t x ℓ² / 6 (cm3)
Momento vento Mv =V x h. (kg x cm) [para 1 andar só]
Excentricidade e = Mv/G
Tensões:
de G vertical fa = + G / A. (kg / cm2)
de V horizontal fv = ± Mv / W. (kg / cm2)

28 José Luiz Pereira


Fig 2.3.a - Esquema do plano das tensões - Montagem do autor

29
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

Fig 2.3.b - Excentricidades provenientes do vento - Montagem do autor

30 José Luiz Pereira


Considerações sobre a Figura 2.3.b:
# As intensidades de G e V são apenas esquemáticas e proporcionais para melhor entendimen-
to da excentricidade “e”, no plano da parede.
# As COMB 1, 2 e 3 são as situações mais confortáveis para o dimensionamento final das
paredes: não existem trações indesejáveis; as tensões de compressão na flexão exploram as
vantagens do menor coeficiente de segurança, além do acréscimo permissível na somatória
das duas parcelas por se tratar de esforços do vento (veremos melhor mais adiante).
# A COMB 4 poderá ter equilíbrio desde que a tensão na borda comprimida não ultrapasse
a admissível, que muitas vezes conduz a valores muito altos, todavia, fissurações pequenas
podem ser aceitáveis caso não ultrapassem a tensão admissível à tração, ou não, dependendo
da opção entre não utilizar armaduras de tração ou utilizar em função da escala dos valores.
# A COMB 5, com armaduras de tração obrigatórias, é a situação mais desfavorável por exigir
armaduras dispendiosas (inclusive dos dois lados com a inversão do vento - suportes late-
rais) e mais difíceis de executar. Quando as trações são muito grandes, no 1° andar sempre
apoiado sobre vigas de transição ou sobre baldrames nas fundações, geralmente aparecem
dificuldades para absorvê-las na infraestrutura.
# Os esquemas estruturais demonstrados anteriormente são básicos, podendo ser comple-
mentados por expedientes mais complexos, principalmente explorando recursos, até aqui
desprezados, na tentativa de eliminar tensões de tração e, em casos mais precisos, garantir o
equilíbrio global do edifício.
# Até aqui tratamos apenas de paredes com seções simples para melhor entendimento dos fe-
nômenos. Convém mencionar agora o comportamento das paredes com seção assimétrica,
em que, para um mesmo momento de inércia (I), temos dois módulos de resistência (We)
e (Wd) diferentes (Figura 2.3.c), sendo um à esquerda e outro à direita, acarretando ligeiras
modificações nos diagramas apresentados, pois os valores das tensões máximas são diferen-
tes em valor absoluto, em se tratando do diagrama isolado do vento.

Fig 2.3.c - Seção assimétrica - Montagem do autor

31
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

2.4 Comportamento das cargas verticais nas paredes


As cargas distribuídas nas paredes são as provenientes do peso próprio e das lajes por elas supor-
tadas. Pequenas diferenças, tais como variações irregulares de grauteamento vertical ou de distri-
buições desiguais de cargas das lajes, não chegam a alterar a posição da resultante final considerada
no centro de gravidade da seção da parede, acarretando cargas uniformemente distribuídas em
sua base, principalmente quando temos diversos andares-tipo, que dão bastante espaço para tal
distribuição.
As cargas concentradas, geralmente proveniente de vigas, descem, distribuindo-se e abrindo para os
dois lados, seguindo ângulos de 45° e tornando-se também uniformemente distribuídas na base. Os
regulamentos e as normas técnicas, inclusive, confirmam tais situações, porém, sempre indicam em
seus esquemas as cargas concentradas quase no meio da respectiva Figura, sem mencionar a posição
da resultante, deixando em aberto a solução para o equilíbrio das forças (no caso de excentricidades).
Com o objetivo de entender tal equilíbrio, propomo-nos a apresentar aqui uma demonstração de
como entendemos que ele aconteça (Figura 2.4.a). Existindo alguma resultante vertical excêntrica no
andar, um binário com forças horizontais aparecerá nos níveis das lajes superior e inferior (nada ten-
do a ver com os esforços do vento), corrigindo tal excentricidade e garantindo a distribuição unifor-
me das cargas. Por sua vez, o equilíbrio do binário horizontal pode ser neutralizado por outro igual
e em sentido contrário de outro conjunto simétrico espelhado ou neutralizado pela totalidade das
outras paredes do andar que, em conjunto com as lajes, formam um esqueleto rígido tridimensional.

Fig 2.4.a - Distribuição das cargas nos conjuntos de paredes - Montagem do autor

32 José Luiz Pereira


Na Figura 2.4.a, vemos um conjunto de paredes recebendo a carga concentrada de duas vigas mais
cargas distribuídas uniformes, mas com diversas intensidades, e podemos notar que qualquer dife-
rença nova de cargas que apareça neste nível, seja de concentradas ou de distribuídas, desce a 45°,
inclusive, contornando todos os encontros ortogonais do conjunto.
Normalmente, em um conjunto de paredes em que as cargas se distribuem como na Figura 2.4.a,
costuma-se considerar a mesma carga distribuída chegando na base de todos os trechos do conjun-
to. Todavia, existem conjuntos que são muito grandes, com trechos de paredes de comprimentos e
sobrecargas diversificados, o que nos leva a considerar, analisando cada caso particular, a possibi-
lidade de reconsideração de tal distribuição uniforme de cargas, talvez optando pela separação por
área de influência de subconjuntos, cada um com sua carga uniformemente distribuída na base.
Na Figura 2.4.b, observamos três simulações das possíveis distribuições de cargas em paredes com
aberturas em andares múltiplos:
I) q1, q2 e q3 são cargas distribuídas diferentes entre si, que vêm descendo ao lado das abertu-
ras e acumuladas dos andares superiores, distribuindo-se a 45° sob os peitoris das aberturas,
cruzando-se e passando para o outro lado, sobrecarregando o triângulo da área de influência
da VL (verga lumieira), abaixo da qual suas reações são novamente redistribuídas e reincor-
poradas às q1/2/3.
II) Situação idêntica à anterior com a única diferença das distribuições 1, 2 e 3, que se desviam
sobre a área de influência da VL, voltando para a própria parede (o efeito de arco explicará
melhor essa situação).
III) Em termos do cálculo das cargas, podemos considerar essa situação simplificada, em que
q1/2/3 continuam descendo acumuladas como se as aberturas não existissem, a q4, soma
da alvenaria, carga da laje e peso próprio da VL apenas na sua projeção e em um andar que
acaba se distribuindo pelas suas reações. Esse esquema vale para a tomada de cargas gerais,
porém, para o cálculo e dimensionamento da VL, continua valendo a área de influência
triangular indicada em Figura 2.4.b.
Nas três simulações apresentadas, as dimensões das aberturas e o pé-direito vão influir direta-
mente nas medidas da pequena parcela das cargas a 45º, que mudam de lado nas aberturas. Nos
cálculos correntes, utilizamos sempre a simulação “c”, mesmo porque as projeções dos dois lados
se cruzam e praticamente se compensam. Essa é uma situação em que, apesar de ser uma única
parede, as cargas distribuídas das três faixas verticais, quando diferentes, descem diferentes até o
1° andar. Veremos adiante o que acontece quando acrescentamos os esforços horizontais do vento.

33
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

Fig 2.4.b - Distribuição das cargas em paredes com aberturas - Montagem do autor

2.5 Comportamento, equilíbrio e tensões nas paredes


Abordamos agora os diversos tipos de paredes em função de particularidades geométricas no seu
comportamento frente a esforços de vento: Simples, com Flange, com Aberturas e Irregulares.

2.5.1 Parede simples


Possui uma única espessura (t = 14, 19, ...), extensão mínima l  5t (se menor, será
considerada Pilar), sem Flanges, sem Aberturas e, nessas condições, de seção hori-

34 José Luiz Pereira


zontal de t x l, com I*= txl³/12. Pelo que podemos observar na Figura 2.5.1, a força do
vento +V se transporta da laje superior para a inferior através da parede que, estando
carregada com a carga distribuída “g”, vertical, fornece a ação +G, criando o binário
+G´xl, equilibrando +Vxh (sendo G´a solicitação da parcela de G enquanto G´<G),
cujas componentes formam a resultante + R neutralizada na laje inferior por -R. No-
tamos que a componente +V solicita as tensões de cisalhamento, e a +G, as de com-
pressão. A proporção entre as duas componentes fica sempre constante enquanto “g”
atender à demanda de +G para equilibrar +V, pois a 1ª cresce aritmeticamente e a 2ª
geometricamente, de um andar para o outro (vide Figura 2.3.b - COMB 1, e 3). A par-
tir daí, o binário se altera com a seção tracionada desprezada, havendo uma solicitação
menor de +V, pois com o I reduzido da seção o Quinhão também reduz. Em seguida,
utilizando-se armaduras resistentes à tração, se for o caso, restabelece-se o equilíbrio.

Fig 2.5.1 - Paredes simples - Montagem do autor

35
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

2.5.2 Parede com flange


É uma parede simples guarnecida com uma flange, ou seja, um trecho de outra parede
situada em uma de suas extremidades, formando um ângulo reto e em uma extensão
máxima permitida de seis espessuras “nominais” (6 x 15, 6 x 20, ...), mesmo que seu
comprimento seja maior - esta é a condição técnica para se considerar o conjunto
como homogêneo, desde que satisfatoriamente solidarizados (Figura 2.5.2).
A transferência de esforços da laje superior para a inferior se manifesta da mesma
maneira do que na parede simples, todavia, o momento de inércia da seção, por ser
assimétrica (tratando-se de uma só flange ou mais flanges com dimensões ou posições
diferentes), gera tensões de valores absolutos diferentes, nos dois lados e, com a in-
versão do vento, mantém sempre as tensões máximas positivas e negativas do mesmo
lado. Esses aspectos podem ser observados na Figura 2.3.c, que, em perspectiva, mos-
tra melhor a igualdade dos volumes de tensões positivas = negativas, não explicados
nos diagramas planos. Essas considerações de assimetria valem para qualquer parede
assimétrica, como seção T, T+1 flange, 2 flanges diferentes, mas evoluem para a parede
com duas flanges iguais nas pontas, ou quaisquer outra seções simétricas (W=We=Wd).

.
Fig 2.5.2 - Parede com flange - Montagem do autor

36 José Luiz Pereira


2.5.3 Paredes com aberturas
De uma maneira geral, as paredes com aberturas retangulares, pequenas e médias ge-
ralmente são consideradas fechadas, ou seja, como se as aberturas não existissem, no
cálculo da inércia para absorção de esforços do vento. Essa situação pode ser expli-
cada, considerando-se o fato que as cargas horizontais quando aplicadas na fachada
vêm descendo acumuladas, atravessando todo o plano da parede de ponta a ponta, em
linhas de esforços diagonais passando de um lado para o outro, entre as aberturas, por
um trajeto que forma um arcabouço resistente perfeitamente contraventado (Figuras
2.5.3.a e b).
É evidente que, dependendo do caminho dessas tensões diagonais, suas respectivas
reações, das dimensões das aberturas irem aumentando e/ou de sua aproximação ir
diminuindo, torna-se difícil uma avaliação rápida da eficiência do painel como perfei-
tamente contraventado. Uma primeira observação deve ser feita quanto à proporção
entre os módulos de rigidez (momento de inércia/vão luz) dos elementos e a junta en-
tre eles - aqui não devemos chamar de “nó”, pois o seu comportamento, quando gira, é
o de um retângulo solicitado por esforços em suas faces, provenientes dos engastes dos
elementos, cujos vãos devem ser considerados entre as faces das aberturas e não entre
os cruzamentos dos eixos dos elementos, como nas estruturas reticulares. Analisando
de outro ângulo e imaginando situações extremas, em uma parede com aberturas bem
largas e bem altas e, portanto, com uma viga de pouca inércia, podemos considerar tal
viga biarticulada nos apoios e os trechos de paredes entre elas independentes (Figuras
2.5.3.g e h).
Resta-nos observar agora que existe a possibilidade de se projetarem paredes e vigas,
de alvenaria armada, com uma configuração de pórticos, aumentando assim sua rigi-
dez relativa (Figura 2.5.3.d/e/f). Para tanto, adiante, na Figura 2.5.3.i, apresentamos
recomendações do I.B.C. para a definição de “Pórticos de Alvenaria”: é uma relação de
“critérios” que facilitam a classificação da estrutura como tal.

Fig 2.5.3.i - Critério para definir um pórtico (recomendação: I.B.C.) - Montagem do autor

37
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

Fig 2.5.3.a_h - Paredes com aberturas - Montagem do autor

2.5.4 Paredes irregulares


Tais paredes assumem as mais diversas formas imagináveis, geralmente consequência
do arranjo arquitetônico, obrigando-nos a interpretar e viabilizar seu comportamen-
to estrutural (eis uma situação em que não podemos descartar o conjunto, pois ele
fisicamente existe e vai trabalhar de qualquer jeito, sendo a ordem de grandeza de
sua inércia considerável). Como exemplo, escolhemos uma parede (PX1) do próprio
projeto completo que será detalhado logo a seguir (Figura 2.5.4.a, b, c). Analisando a
Figura no seu comprimento, a primeira coisa que pensamos é dividi-la em dois trechos
independentes, cortando-a na flange central: nessa situação, se aplicarmos o esforço

38 José Luiz Pereira


do vento, em qualquer sentido, percebemos que na flange central original teremos
tração em um ponto e compressão ao lado, no ponto contíguo, o que garante que tal
divisão em trechos não funciona. Assim, temos que encarar tal conjunto como um só,
apesar da descontinuidade dos seus dois trechos mais compridos que não se situam
no mesmo plano e sim em planos paralelos, porém, ligeiramente deslocados, tendo a
sua amarração garantida pela flange central, podemos considerá-la como uma só Fi-
gura homogênea. Os esforços horizontais atravessam o trecho descontínuo pela flange
central, a qual funciona trabalhando na transversal (dir. Y), suportada pelas lajes. O
momento fletor devido apenas ao vento, analisado em seu diagrama de tensões, indi-
ca-nos próximo a seu ponto central, como o de tensões nulas (seu centro de gravidade)
o que determina junto à flange central tensões mínimas, predominando então apenas
tensões de compressão das cargas verticais (as normas não permitem que flanges, ele-
mentos transversais ao plano da parede considerada, sejam consideradas colaborando
na resistência aos esforços horizontais atuando no plano da parede, todavia, neste caso,
não se trata de uma flange de extremidade da Figura e sim de um elemento de ligação
de duas paredes bem próximas).

Fig 2.5.4.a - Parede irregular (PX1) - Montagem do autor

39
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

Fig 2.5.4.b - Cálculo do centro de gravidade

40 José Luiz Pereira


Fig 2.5.4.c - Cálculos numéricos - Montagem do autor

41
CAPÍTULO 3

Exemplo Prático de um Projeto Real

3.1 Considerações
Apresentamos aqui o projeto estrutural de uma torre com 18 andares-tipo, mais casa de máqui-
nas e reservatório superior, calculados e detalhados em alvenaria estrutural de blocos vazados de
concreto, tudo apoiado em uma transição de concreto armado convencional no teto do térreo. O
projeto completo da obra é constituído de três torres iguais sobre um conjunto de andar térreo
com três subsolos, já executado e situado na Rua Nadir nº 85, Capital, SP, de responsabilidade da
construtora Tibério S.A. (vide foto no capítulo 7 – FT 7.6).
O nosso trabalho abrangerá um estudo completo dos efeitos da ação do vento aplicado contra a
torre, analisando todos os aspectos da ação, escolha dos elementos resistentes, explicações sobre
detalhes especiais, cálculo dos componentes geométricos, cálculo dos esforços de todas as paredes,
análise das mais solicitadas, conclusões e comentários elucidativos complementares de importân-
cia relevante para o completo entendimento dos fenômenos e suas consequências.
A escolha desse projeto foi em razão principalmente das características especiais da planta de ar-
quitetura, que foi racionalizada a ponto de maximizar a quantidade de paredes de vedação removí-
veis, a fim de oferecer maior flexibilidade no seu remanejamento por parte dos usuários dos apar-
tamentos, reduzindo as paredes estruturais a um mínimo compatível com a necessidade resistente.
A nossa explanação começa com a apresentação da planta do andar-tipo com as paredes estrutu-
rais já moduladas, todas com blocos vazados com dois furos, da família de 40 e espessura de 14
cm normalizados, mais vedações em blocos de 9 cm ou drywall. A seguir, mostramos duas plantas
com a indicação das paredes escolhidas, uma com as paredes na direção X para resistir ao vento
X, e outra na Y para o vento Y.
Utilizando as orientações, os critérios, as fórmulas e parâmetros anteriormente apresentados, pas-
saremos a explicar passo a passo os procedimentos e cálculos:
a) Parede ampliada com indicação de todas as dimensões, inclusive C.G. com ℓe e ℓd, mais Ab,
I, We, Wd.
b) Indicação das as expressões I, nx, Q e Mv individuais de cada parede.

43
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

c) Com mais valores externos (ver após) para cada parede, cálculo de “e” e tensões: +G/Ab;
±Mv/Wd; ±Mv/We; análise: COMB 2/3/4/5; OC% etc.
d) Análise das tensões nas paredes críticas com comparações, extrapolações e comentários
entre elas e em geral.
Valores Externos:

e) O cálculo das cargas “G”, de gravidade, ou seja, todas as lajes com peso próprio, revestimen-
to, cargas das vedações e carga acidental (com redução de 48% para o 1° andar), mais o peso
das alvenarias estruturais, todas essas cargas serão aproveitadas do nosso cálculo original,
não apresentado aqui por estar fora do escopo deste trabalho.
f) O cálculo do efeito do vento na torre foi calculado de acordo com as especificações da
NBR 6123, exceto pela parcela que não foi considerada no nosso cálculo e referente à
“consideração do desaprumo global”, item 8.3.2.2, NBR 10.837:1989, norma ratificada pela
NBR 15.961-1:2011.
Nossa posição foi tomada devido ao fato de entendermos que tal consideração não tem cabimento
em uma estrutura supertravada por painéis e lajes nas três direções, em condições de sempre ab-
sorver com folga tais “eventuais” desaprumos (as cargas verticais são consideradas sempre centra-
das). Nos esforços, limitamo-nos a utilizar apenas o 1º andar dos 18 existentes, extrapolando para
20 e 22 andares, no final.
g) Foi importante, para analisar e comparar as tensões finais, fazer um pré-dimensionamento
geral para chegar à fp ideal, no caso fp= 200 kg/cm². É evidente que, posteriormente, pode-
mos mudar a fp, mas isso demandará mais operações de cálculo e apenas se houver interesse.

3.2 Escolha das paredes resistentes ao vento


Na planta da Figura 3.2.a, estão representadas todas as paredes tanto estruturais quanto de veda-
ção. As estruturais estão desenhadas com os blocos, com a indicação das aberturas das janelas e
sem os grautes verticais, com ou sem ferros. Os encontros de canto são todos guarnecidos com
peças de 34, garantindo amarrações tipo “macho e fêmea”, sendo os demais encontros, tipo “jun-
ta a prumo”, devidamente solidarizados com grapas de amarração entre fiadas. As elevações das
fiadas são executadas com assentamento horizontal tipo “junta de amarração”. As dimensões das
paredes e dos demais elementos dos conjuntos estruturais estão indicados nos detalhes individuais
e ampliados deles próprias, juntamente com os cálculos geométricos e dos quinhões. As paredes
de vedação de blocos e drywall, removíveis, também estão presentes. O pé-direito é de 260 cm, 13
fiadas, sendo a espessura da laje de 10 cm. O CR, Centro de Rigidez, também está indicado mos-
trando pela simetria existente não haver “torção na laje”.
A planta da Figura 3.2.b é a mesma da Figura 3.2.a, sem as vedações e com a indicação das paredes
e conjuntos de paredes resistentes à ação do vento na “direção X”, podendo ser assim descritas:
1) IRREGULARES - PX1 com dois planos principais paralelos, diversas flanges e uma abertu-
ra; PX10 com dois planos principais paralelos e flange dupla.

44 José Luiz Pereira


2) SIMÉTRICAS - PX2 com flanges em posição reversa (como o eixo considerado é o X =
horizontal, o cálculo do momento de inércia do conjunto, na direção horizontal, é o mesmo
do que o das flanges não reversas, simétrica - assumido aproximado); PX6 com duas flanges
iguais e duas aberturas (praticamente simétricas); PX8 com duas flanges duplas.
3) COM UMA FLANGE - PX3, PX5 e PX9
4) DIVERSAS - PX4, PX7 e PX11.
A planta da Figura 3.2.c repete a anterior, só que para a “direção Y”:
1) SIMÉTRICAS - PY12 e PY15, as duas com duas flanges iguais e duas aberturas (pratica-
mente simétricas); PY18 similar à PX2.
2) COM UMA FLANGE - PY 16 e PY19; só a PY20 com uma flange dupla.
3) SIMPLES - PY14 e PY17.
4) DIVERSAS - PY13 e PY21.
Observe-se que, da maneira que já explicamos, não dá certo dividir a PX1 em dois pedaços in-
dependentes; o mesmo raciocínio poderia ser utilizado nos conjuntos já separados PX8 - PX7,
porém, acontece que, se considerássemos elas juntas, como uma só, com os planos principais X
paralelos, devido à distância y ser relativamente grande (y = 165 cm), a torção no plano vertical
da flange central comprometeria a rigidez global. Do jeito que foi feito, em dois trechos, também
teremos influência da flange central, porém, com efeitos secundários mais fáceis de administrar.
Outras pequenas paredes e outros conjuntos poderiam também ser escolhidos, todavia, não foram
por não serem importantes, e por não serem significativos na 

Fig 3.2.a - 1ª fiada com vedações - Projeto do autor

45
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

Fig 3.2.b - Vento dir x - Projeto do autor

Fig 3.2.c - Vento dir y - Projeto do autor

46 José Luiz Pereira


3.3 Cálculo dos momentos de inércia (I)
Para continuar com os cálculos dos quinhões, precisamos preparar a relação das fórmulas geo-
métricas e, inicialmente, podemos considerar a do Momento de Inércia como a mais importante.
Como exemplo elucidativo, preparamos os procedimentos e cálculos do Momento de Inércia, in-
clusive numéricos, de um conjunto de elementos de alvenaria que podemos considerar como uma
seção irregular (vide Figura 2.5.4) e que indica a solução para qualquer seção. Para o cálculo de
uma seção Retangular Bruta mais simples, a fórmula é:

h3
I = b. .
12

3.4 Cálculo das tensões individuais dos conjuntos de paredes


De posse dos conjuntos de paredes já escolhidos, podemos proceder ao cálculo das suas tensões
individuais. Para tanto, precisamos organizar as informações e acompanhar passo a passo a se-
quência das operações. Existem valores calculados anteriormente que, por não serem de interesse
específico deste livro, são apresentados para completar as expressões.
Valores já calculados anteriormente.

3.4.1 Vento
Os esforços do vento foram calculados conforme a ABNT NBR 6123, com resultados
apenas para o 1º andar, dos 18: Dir X. ΣMv = 2 530 tm; Dir Y ΣMv = 3 087 tm. De to-
dos os parâmetros sugeridos pela norma, apenas não utilizamos no cálculo a parcela
referente ao “desaprumo” por considerá-la completamente incompatível com a nossa
estrutura perfeita para absorver esforços secundários em qualquer direção, devido à sua
característica de rigidez espacial, travada nas três direções ortogonais com placas rígi-
das - haja vista o critério de distribuição uniforme recomendada pela própria norma
NBR 15961-1/2011 em 9.1.3. para paredes individuais e conjuntos de paredes, e exage-
rando tudo na análise global em 8.3.2.2. Achamos que o procedimento mais apropriado
a levar em conta, neste caso, seria o da avaliação do “momento de torção”, provocado
pela distância da resultante do vento em relação ao CR (Centro de Rigidez).

3.4.2 Gravidade
As cargas verticais, de gravidade, referentes aos pesos de todos os componentes, pare-
des, divisórias, lajes, inclusive sobrecargas acidentais, foram calculadas parede por pa-
rede e agrupadas nos conjuntos, considerando sua carga uniformemente distribuída, e
são indicadas diretamente nos cálculos individuais do 1º andar.

47
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

3.4.3 Momentos de inércia


Devido ao fato de a maioria dos conjuntos ter as suas seções assimétricas, a demons-
tração do cálculo dos seus “I” foi dispensada, Todavia, um exemplo completo desse
cálculo está demonstrado no item. (2.5.4.).

3.4.4 Somatória de “I”


Antes de terminar o cálculo final das tensões, mas depois de calculados todos os “I”,
devemos processar a Σ de todos os “l x n”, achando Σ“l” que define a soma da rigidez
em cada direção, que propicia o cálculo dos Q (Quinhões = porcentagem da “Σl”, ou
Q = “l”/”Σl” da parede ou do conjunto).

3.4.5 Tensão admissível para a alvenaria


É sempre importante definir “a priori” a resistência “fp” (“tensão média dos pris-
mas”). No nosso caso, adotamos para o 1º andar a fp = 200 kg/cm² (20 MPa).
Considerando as especificações para flambagem, coeficiente de segurança, ar-
maduras etc, relativas a alvenarias “não armadas” e adotando alguns critérios ex-
clusivos do nosso escritório, utilizamos para tensões de serviço: tensão axial
“fa”= 0,2 x fp (fa = 40 kg/cm2); tensão de compressão da flexão na borda extrema,
“ff ”= 0,3 x fp (ff= 60 kg/cm2), respeitando as parcelas individualmente sempre ≤1 e, por
se tratar de esforços do vento, a soma das duas parcelas pode ser ≤ 1,33 (usamos 1,3).

3.5 Procedimentos para os cálculos individuais

3.5.1 Desenho da figura


Ampliação, fora de escala, da Figura completa cotando todos os comprimentos totais e
parciais, sendo todas as paredes de t = 14 cm. Isso feito, procede-se ao cálculo do CG,
centro de gravidade do I. O CG é calculado por similaridade ao cálculo da posição da
resultante de um conjunto de forças, substituindo as forças pelas áreas. Definido o CG
e calculado o “I” do conjunto, obtemos We= I / ℓe, Wd= I / ℓd, W= I / ℓx0,5.

3.5.2 Planilha
Seguindo a planilha, registramos “l”, nx (quantidade de conjuntos iguais ao analisado),
Q sendo Q= l / Σl; Mvi= Q x ΣMv (X ou Y), G (extraído direto do cálculo original),
excentr. “e”= Mvi / G, área bruta “A” (= Ab menos a projeção das aberturas), todas
com unidades (t, m).

48 José Luiz Pereira


3.5.3 Quadro
No quadro seguinte, chegamos às tensões, comparando as de G com V, G/A sempre
positiva (+),  Mv/Wd (atuando o vento da esquerda para a direita, temos + à direita
e - à esquerda da Figura)  Mv/We (invertendo o vento, temos – à direita e + à esquer-
da da Figura). Com as parcelas calculadas, podemos analisar visualmente as tensões
MAX e MIN dos dois lados da Figura e tirar as conclusões necessárias para continuar
os cálculos. Interessam-nos as tensões positivas máximas de ambos os lados e as míni-
mas, se forem negativas.

3.5.4 Tensões
Finalmente podemos analisar as tensões: 1º) Verificar se existe alguma tensão final
negativa; se houver, vamos explorar essa situação mais tarde. 2º) Calcular a soma das
tensões parcelas de máximas positivas checando se é < ou = 1,3, que é o acréscimo
de 30% devido ao vento, respeitando o máximo da unidade na parcela da gravidade
(eq. 1.2.1.1.). 3º) Encerrando a planilha, registramos um coeficiente importante para o
cálculo do grauteamento, entre outros, o OC= y%, sendo “y”= 1 menos (a proporção
entre o valor achado na soma das parcelas, dividido por 1,3 em %).

49
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

3.5.5 Cálculo das Paredes X + Y

Fig 3.5.5.a - Cálculos das Px1-2-3 - Montagem do autor

50 José Luiz Pereira


Fig 3.5.5.b - Cálculos das Px4-5-6 - Montagem do autor

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Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

Fig 3.5.5.c - Cálculos das Px7-8-9 - Montagem do autor

52 José Luiz Pereira


Fig 3.5.5.d - Cálculos das Px10 -11 e PY12 - Montagem do autor

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Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

Fig 3.5.5.e - Cálculos das PY13-14-15 - Montagem do autor

54 José Luiz Pereira


Fig 3.5.5.f - Cálculos das PY16-17-18- Montagem do autor

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Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

Fig 3.5.5.g- Cálculos das PY19-20-31 - Montagem do autor

56 José Luiz Pereira


3.6 Comentários sobre as tensões nas paredes

3.6.1 Analisando as tensões finais das paredes


Percebemos que estão todas bem folgadas em relação à fp= 200kg/cm2 (20Mpa), tensão
máxima nos prismas, isso porque, antes dos cálculos definitivos, foi feito um pré-di-
mensionamento nas paredes mais solicitadas e optamos por essa tensão, por ser a mais
conveniente quando do cálculo final individual dos grauteamentos necessários mínimos
para cada parede. Não nos esqueçamos que, nas premissas iniciais para o cálculo dos
quinhões, foram consideradas todas as seções brutas, ou seja, todas grauteadas, nada im-
pedindo que mantenhamos agora apenas os furos cheios onde estritamente necessários
em cada parede, esgotando ao máximo a tensão admissível escolhida, tensão essa que
poderá ser reduzida nos andares superiores em função da redução das cargas.

3.6.2 Ociosidade na tensão de cada parede indicada


Outro fator importante é a ociosidade na tensão de cada parede indicada: OC n%, que
significa quanto maior a ociosidade menor é a necessidade de grauteamento. Assim, as
paredes mais solicitadas, em ordem decrescente, são:
dir X: PX6 OC17% - PX4 OC20%. - PX3 e PX10 OC28%;
dir Y: PY21 OC33% - PY16 e PY19 OC34% - PY18 OC38%; sendo todas as outras
paredes: com OC inferiores.

3.6.3 Situação da estrutura sem as cargas acidentais atuando


Precisamos investigar a situação da estrutura sem as cargas acidentais atuando, pois se-
ria essa a situação mais desfavorável para o equilíbrio, em uma primeira verificação, e,
em seguida, o aparecimento eventual de tensões de tração nas paredes. Evidentemente,
tal verificação, depois de efetuada e esclarecida, pode ser liberada, pois o que interessa
principalmente é calcular as máximas tensões. Para tal verificação, é suficiente calcu-
lar a redução das cargas acidentais apenas da parede com a máxima ociosidade, em
cada direção. Então vejamos: a PX6 tem 10% de cargas acidentais, reduzindo a parcela
G/A= +29,3 > M/W= +15,3, sem problemas de equilíbrio, e a PY21 tem 13% reduzin-
do. G/A= +20 > M/W= +17,4, também ok. Convém observar que a diferença percen-
tual nas cargas acidentais das duas paredes deve-se ao fato da PX6 ser de fachada, com
laje apenas de um lado, ao contrário à PY21.

3.6.4 Extrapolações
De posse dessas considerações, podemos fazer extrapolações, supondo qual seria o com-
portamento das tensões nas paredes, caso a torre tivesse mais alguns andares. Para tan-
to, vamos explorar apenas as paredes com menos ociosidade, acrescentando diversos
andares acima dos 18 andares já existentes, progressivamente. Acontece que o índice de

57
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

ociosidade (OC) não é um parâmetro definitivo, mas apenas indicativo, pois ele depende
da variação de duas parcelas, uma proveniente de cargas verticais que cresce aritmetica-
mente, e outra proveniente da ação do vento, que cresce exponencialmente. Temos então
que pesquisar dois casos diferentes:
1º caso: Onde a parcela das tensões solicitantes das cargas verticais é bem maior que a do
vento. Nesse caso, a tensão vai aumentando até chegar ao limite do esgotamento próximo
da tensão admissível (fa.adm = 40 kg/cm²) e a parcela próxima da unidade e, antes que a
parcela do vento atinja 0,30 (utilizamos em nossos cálculos fa.adm = 60 kg/cm² - todavia,
as Normas permitem fa.adm = 0,33 fp = 66 kg/cm²), portanto, sem trações. Nessa si-
tuação, a única solução para aumentarmos mais andares será utilizar uma fp mais alta,
digamos fp = 220 kg/cm², onde fa.adm = 44 kg/cm².
2° caso: Onde a parcela da tensão proveniente das cargas verticais é pouco maior que
a do vento. Nesse caso, conforme aumentarmos o número de andares, as tensões vão
crescendo e se aproximando até se igualar (COMB 4). Fig. 2.3.b. Continuando a crescer,
a parcela do vento ultrapassará, em valor absoluto, a da gravidade, aparecendo tensões
de tração (COMB 5), sempre aplicando-se a situação de vento mais desfavorável. Inicial-
mente com pequena fissuração que vai aumentando até exigir armadura de tração para
o equilíbrio das tensões. Nesse caso, não adianta aumentar as tensões admissíveis, pois o
que interfere na situação é a proporção entre as duas tensões.

3.6.4.1 Cálculos com 20 e 22 andares

Escolhemos então em cada uma das duas direções, duas paredes:


1ª) com a menor OC% e com as duas tensões um pouco distanciadas;
2ª) com a menor OC% e com as duas tensões mais próximas. Assim escolhemos: PX6,
PX1, PY21 e PY16, respectivamente. Exploremos apenas mais duas alturas para a
torre, com 20 e 22 andares. Os esforços, por sua vez, vamos fazer proporcionais aos
da torre de 18 andares: gravidade 20a = 1,11x e 22a = 1,22x; vento X 20a = 1,22x e
22a = 1,61x. Vento Y 20x = 1,25 x e 22a = 1,53x. As proporções da gravidade foram cal-
culadas pelo acréscimo de andares, as do vento foram calculadas pelos novos esforços
globais, nas duas direções, e mantidos os quinhões de cada parede.

58 José Luiz Pereira


Fig 3.6.4.1 - Cálculos com 20 e 22 andares

59
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

Comentários:

• PY21 - com 22a as tensões estão ainda com OC12%, portanto, com folga
para mais 2a, no mínimo, sem grandes esforços negativos.
• PY16 - situação praticamente igual à PY21.
• PX6 - mínima OCneg (-8%). Se considerarmos que a favor da segurança
e por conveniência própria, simplificamos ff.adm= 0,30fp e conj < 1,3,
quando pelas normas podemos usar ff.adm= 0,33fp e <1,33, o que nos
dá uma boa folga para praticamente eliminar a OCneg.
• PX1. - situação similar à da PY21, até que com mais folga.
Conclusão: podemos observar que a nossa estrutura passou sem trações na análise dos 20 e 22 an-
dares e, nessas condições, utilizando todos os artifícios já demonstrados, poderia subir mais vários
andares, desde que levemos em conta algumas considerações:
a) todas as outras paredes estão menos solicitadas, todavia, seria importante analisar pelo me-
nos mais algumas das mais solicitadas;
b) o aumento da resistência fp >200 kg/cm² considerado como máximo pela NBR 15961-
1:2011, deverá ser avaliado, pois o mercado já tem disponíveis blocos com resistências com
Fbk > 22MPa, viabilizando prismas de até fp >30 MPa ou mais, com controle de qualidade já
garantido por ensaios já normalizados (nos EUA já se utilizam tais resistências, fp = 28 MPa,
a mais de 25 anos e com o controle dos prismas feito por ensaios até menos sofisticados que
os especificados pelas nossas normas);
c) mesmo que tenhamos uma pequena fissura devido a esforços de tração (COMB 4),
Figura 2.3.b, nem sempre há necessidade de se armar a parede à tração, desde que o equilí-
brio seja mantido sem ultrapassar a tensão admissível na borda comprimida (nessa situação,
com a seção fissurada, o “I” e o “W” ficam reduzidos e, às vezes muito, diminuindo o “qui-
nhão”, que vai-se reduzindo, diminuindo o aumento da fissura, conforme aumenta o nº de
andares superiores) - um esclarecimento: poderíamos subdividir a COMB 4, em duas fases,
sendo a 1ª considerada no início da deformação, enquanto as tensões à tração da alvenaria
ainda estão abaixo da tensão admissível e assim sem o aparecimento de fissuras; e a 2ª com
a fissuração propriamente dita. Nos nossos cálculos de tensões, costumamos desprezar a
resistência à tração da alvenaria;
d) mesmo que uma parede tenha que ser descartada como resistente, por apresentar trações
indesejáveis e que não queiramos armar por qualquer motivo, ela poderá ser desconsidera-
da no cálculo a partir de determinado andar, mesmo porque, se ela se desequilibrar, a laje
desempenhará seu papel de diafragma, absorvendo e redistribuindo o esforço pelo conjunto
de todas as outras paredes que receberão proporcionalmente o quinhão liberado. É evidente
que o equilíbrio do conjunto deverá ser avaliado;

60 José Luiz Pereira


e) quando passamos a reduzir os grautes para aliviar o custo das paredes, analisando o dia-
grama volumétrico das tensões (Figura 3.6.5.cd) e considerando as tensões extremas nive-
ladas pela média, podemos considerar o braço do binário do esforço do vento igual à nova
distância entre os CG, que é sempre maior que o utilizado no cálculo original (br bin orig =
4,00 m e o br bin novo = 4,60 m), o que reduz os valores absolutos do Momentos do Vento
e em consequência as suas tensões. Isso significa que a premissa inicial de considerar todas
as paredes grauteadas, com as seções brutas, deixa de corresponder à realidade do compor-
tamento físico quando alteramos seu grauteamento, e o mesmo se pode dizer das paredes
com aberturas desconsideradas no cálculo da rigidez. Todavia, a priori, seria impossível co-
meçar de outra maneira. Na prática, raramente recalculamos os novos quinhões função das
variações dos “momentos de inércia” consequentes, porque consideramos suas proporções
praticamente as mesmas;
f) convém esclarecer que a maioria desses conceitos foi desenvolvida e tem sido largamente
utilizada pelo nosso escritório há mais de 40 anos. A nossa observação e sensibilidade con-
duziram à percepção dos diagramas retangulares finais para as duas tensões da flexocom-
pressão no “Estádio I”.

3.6.5 Paradoxo
Não podemos deixar de nos reportar a uma situação que frequentemente enfrentamos,
quando verificamos tensões, a que propriamente poderíamos chamar de paradoxo e
que seria a seguinte: suponhamos uma parede de seção retangular simples, resistente
à ação do vento, pertencendo a um edifício de andares múltiplos e estejamos de posse
de suas cargas individuais em um determinado andar (Figura 3.6.5.a). No cálculo con-
vencional, onde adotamos todas as seções brutas, obtemos as cargas G = 188 t e Mv
= 210 tm e uma seção bruta de 14 x 600 cm²; com A = 8400 cm² e W= 840000 cm³,
chegando a G/A = + 22 kg/cm² e com + vento Mv/W= ±25 kg/cm², obtemos máxima
compressão de 47 kg/cm² à direita, e -Mv/W= -25 kg/cm² a esquerda com a mínima
compressão, no caso uma tração de -3 kg/cm², indesejável por sinal. Agora vejamos
o que acontece se analisarmos a mesma parede retirando alguns grautes do centro,
deixando apenas as duas tiras de 2,5 cm de argamassa nas paredes longitudinais dos
blocos, reduzindo assim a seção de contato entre as fiadas (seção líquida). Então, para
os mesmos esforços atuantes, temos a A = 5520 cm³ e W = 760000 cm³ onde, nas
mesmas condições, teremos máxima compressão de 62 kg/m² e mínima compres-
são de +6 kg/cm². Se observarmos a comparação entre os dois cálculos, que foram
feitos atendendo aos mesmos critérios da excentricidade proveniente do momento
do vento, existe um paradoxo devido ao fato conceitual que “estamos enfraquecen-
do uma parede, retirando grautes e, ao mesmo tempo, estamos melhorando o seu
desempenho estrutural.

61
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

Fig 3.6.5.a - Esforços: G = 188000 kg /M = 210000 kgm - Montagem do autor

Fig 3.6.5.b - Esforços: G = 212000 kg M = 260000 kgm

62 José Luiz Pereira


Fig 3.6.5.c - Tensões em 2 dimensões - Desenho do autor

Fig 3.6.5.d - Tensões em 3 dimensões - Desenho do autor

Sabemos que, apesar de as paredes transversais dos blocos não grauteados não serem consideradas
no cálculo da área líquida (no nosso caso não foi colocada argamassa de assentamento nas paredes
transversais dos blocos, apenas nas longitudinais, que é a prática mais comum de execução), elas
enrijecem a parede, aumentando o momento de inércia e, por consequência, o módulo de resis-
tência “W”. Mas quanto? Assim mesmo tudo fica mais favorável (mesmo desprezando tal efeito),
inclusive porque a área líquida de contato é calculada como efetiva, o que realmente é.
A redução do W (e do I) é compensada pela mesma redução % do quinhão, reduzindo M dessa
parede, aumentando os das outras. Todavia, com outras paredes em situação similar, haverá uma
redistribuição geral, mantendo aproximadamente como calculado, ficando a favor da segurança.

63
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

Analisando toda essa problemática, chegamos à conclusão que, nesses casos especiais, é importan-
te analisar detalhes particulares. Inclusive o procedimento de retirar alguns grautes desnecessários
é sempre utilizado em todas as paredes com a intenção de eliminar a ociosidade existente no equi-
líbrio das tensões finais (OC n%), procurando reduzir os custos de execução da alvenaria.
Quando projetamos, como devemos fazer a distribuição dos grautes nas celas dos blocos das pa-
redes? Os primeiros são os com ferros verticais, onde os ferros não contam, mas a seção grauteada
vale como resistente; a seguir vem as paredes onde a tensão da gravidade predomina, então os
grautes devem ser distribuídos uniformemente; último caso é quando os esforços do vento predo-
minam no equilíbrio das tensões, temos então que distribuir os grautes mais pelas extremidades
da Figura, aumentando assim o W, em relação a outro W, com a mesma área líquida e distribuição
uniforme.
Todos os cálculos feitos até agora foram baseados na comparação entre os esforços e a determi-
nação da excentricidade (COMB 1 a 5 - Figura 2.3.b), trabalhando as seções com área bruta e
determinando diagramas planos. Todavia, quando, na prática, precisamos trabalhar com as seções
semigrauteadas, utilizamo-nos dos diagramas em três dimensões para melhor compreender os
“volumes” das tensões e fazer as adaptações que consideramos definitivas em função do que (nós
pessoalmente) assumimos que seja o comportamento físico real do fenômeno (Figuras 3.6.5.c e d).
Entendemos que as tensões se orientam sempre formando paralelepípedos com a face superior
nivelada pela tensão média da parcela do vento na projeção das áreas grauteadas.
Assim, reduzimos a tensão da borda mais comprimida de 10,5% (de 62 pá 55,5 kg/cm2) e, explo-
rando um pouco mais, podemos trocar o braço do binário original do vento de 4,00 (2/3 x 6,00)
para 4,60 m, reduzindo a tensão final para 58,3 kg/cm2, que significa uma redução apenas do
vento de 13% (de 28 pá 24,3 kg/cm2) — números não indicados nos desenhos. Adotando todos
esses expedientes, não podemos utilizar o acréscimo de 50% na tensão admissível na borda com-
primida da flexão e também não sabemos bem o que acontece no trecho médio não grauteado,
porém, temos a certeza de que sua tensão estará próxima de 34 kg/cm2, bem abaixo da máxima de
55,5 kg/cm2. Tal distribuição de tensões é similar nos andares superiores até o efeito do vento
perder sua influência, então as tensões ficam mais uniformes (como inicialmente se considerou,
inclusive na nossa apresentação sobre o comportamento das cargas verticais). Essa situação (volu-
métrica) do comportamento das tensões não pode ser confundida com uma parecida, a do “efeito
de arco”, que será melhor explicada no próximo capítulo.
É importante observar que todos esses números e porcentagens variam com as dimensões e com o
tipo de cada parede e, principalmente, com a ociosidade nas tensões (OC%).

3.6.6. Esforços de cisalhamento


Nos edifícios situados em regiões não solicitadas a esforços Sísmicos, são raras as pa-
redes que necessitam de armaduras para resistir aos esforços de cisalhamento. Por esse
motivo, no nosso país raramente precisamos armar paredes, o que pode ser confirma-
do calculando tais esforços em quaisquer das paredes analisadas.

64 José Luiz Pereira


Então, podemos exemplificar, considerando Σ Vx = 76.430 kg e Σ Vy = 107.130 kg,
valores externos; fv.adm = 5,7 kg/cm² (10x, 127 20); em uma primeira tentativa, pois
não sabemos ainda qual será a área líquida, façamos An =.50 x t.ℓ, desprezando as
flanges e as aberturas:
PX 1 – Q =.1095 — Vx1 = 8.370 kg (.1095 x 76.430)
— An = 3.388 cm² (.5 x 14 x 484) — fv = Vx1/An = 2,5 < 5.7 Ok
PX 4 – Q =.0962 — Vx4 = 7.353 kg (.0962 x 76.430)
— An = 4.753 cm² (.5 x 14 x 679) — fv = Vx4/An = 1,5 < 5,7 Ok
PY12 – Q =.0637 — Vy12 = 6.824kg (.0637 x 107.130)
— An = 2.303 cm² (.5 x 14 x 329) — fv = Vy12/An = 3,0 < 5,7 Ok
PY16 – Q =.0927 — Vy16 = 9.931kg (.0927 x 107.130)
— An = 5.103 cm² (.5 x 14 x 729) — fv = Vy16/An = 1,9 < 5,7 Ok
PY21 – Q =.1138 — Vy21 = 12.191 kg (.1138 x 107.130)
— An = 5.103 cm² (.5 x 14 x 729) — fv = Vy21/An = 2,4 < 5,7 Ok

3.6.7 Pórticos reticulares de concreto armado travados com alvenaria


Analisando certos critérios largamente utilizados nos cálculos de estruturas de con-
creto armado convencional, achamos importante ressaltar alguns procedimentos que
consideramos, no mínimo, dignos de revisão.
Vejamos, por exemplo, os pórticos reticulares de edifícios residenciais com andares
múltiplos, onde as alvenarias, não estruturais, são consideradas simples elementos de
vedação e deste modo “não interferindo” em nada no comportamento da estrutura.
Entendemos que seria muito complexo para o cálculo abrir mão dessa simplificação,
todavia, precisamos considerar eventuais consequências desfavoráveis, tais como as
alvenarias em questão que são executadas amarradas com grapas de ferro nos pila-
res laterais, e encunhamento ou algum procedimento similar no respaldo contra uma
viga ou laje e, para completar, tais alvenarias são geralmente executadas com blocos
de concreto ou cerâmicos de boa qualidade e assentados com argamassa carregada
em cimento, e que não a rotula como uma alvenaria estrutural para receber esforços
verticais, mas tal execução confere ao painel uma determinada rigidez, por menor que
seja, que não pode ser desprezada em determinadas situações. No cálculo dos pórticos
reticulares os nós devem ficar livres para rotacionar, liberando as linhas elásticas de
todas as barras que vão se deformando conforme as diversas etapas do carregamen-
to, sendo a primeira na retirada do escoramento flexionando as lajes e vigas apenas
com os pesos próprios, em seguida vem a colocação das alvenarias e finalmente dos
revestimentos e das cargas acidentais, completando assim o carregamento das cargas
de gravidade. Para finalizar, são aplicados os esforços provenientes do efeito do vento.
Considerando-se alguns panos de paredes, como divisórias de apartamentos, empenas
de fachadas sem aberturas, ou com pequenas ou médias aberturas, panos estes en-
volvidos entre pilares e vigas de pórticos originalmente concebidos como reticulares.

65
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

Considerando-se os travamentos provenientes da execução dos quadros de alvenaria,


altera-se completamente a distribuição dos quinhões afetando tudo: os pórticos trava-
dos, agora muitíssimo mais rígidos receberão quase a totalidade, ou a totalidade, dos
esforços do vento, majorando com maior incidência as cargas dos pilares extremos dos
pórticos mais compridos (contra a segurança), já os pórticos não travados, agora com
os quinhões praticamente, ou iguais, a zero, trabalham apenas com o carregamento
localizado sem a influência do vento (a favor da segurança, desnecessariamente). Após
essa breve explicação, resta-nos saber até que ponto podemos considerar os quadros
rígidos. O que se pretende com a desconsideração da alvenaria é apenas “vedar” o
quadro emoldurado pelas vigas e pilares, não exigindo dela grandes resistências para
receber esforços diretos, mas sem imaginar que ela venha impedir deformações das
flexas das vigas e pilares e deslocamentos horizontais mais diferenciados de elemen-
tos do conjunto, situação contrária à concebida originalmente. Como os esforços do
vento são acumulados, e aumentados, dos andares de cima para baixo em progressão
geométrica, na pior das hipóteses pelo menos nos primeiros andares de cima ainda
com os esforços pequenos, podemos considerar os quadros 100% rígidos; nos anda-
res intermediários semirrígidos, com um mínimo de fissuras; e nos andares inferiores
não rígidos, já completamente fissurados e destacados do quadro envoltório (situação
instantânea simulada: pois de cima para baixo os esforços horizontais vão aumentan-
do forçando cada vez mais as linhas elásticas e o giro dos nós, até trincar a alvenaria
que fissurando, mesmo aos poucos, vai deixando de funcionar). Assim, considerando-
se tal situação (na nossa opinião, superfavorável) a distribuição dos quinhões muda
muito conforme descemos abaixo dos quadros 100% rígidos, tornando-se novamente
fixos em baixo, complicando sobremaneira o comportamento real da estrutura além
de termos de considerar os pilares do trecho intermediário engastados nos quadros
rígidos superiores.
De passagem, há décadas já estamos conscientes desse comportamento dos pór-
ticos por pura intuição. Por acaso, depois de já redigidas essas linhas, observamos
na penúltima norma americana (2011) que, começou a tratar desse assunto dan-
do-lhe o nome específico: “Masonry Infill” = Alvenaria executada no mesmo plano
e envolvida por arcabouço estrutural de concreto armado (pilares e vigas reticula-
res). (Também recebemos de nosso colega Engº Guilherme A. Parsekian um exem-
plar de seu livro “Comportamento e Dimensionamento de Alvenaria Estrutural”, da
U. F. S. Carlos, onde no Cap. 11.2, aborda o assunto). São destacados dois tipos de ma-
sonry infill: participante e não participante, sendo a primeira já projetada para resistir
às cargas, no próprio plano, provenientes do envolvimento com a estrutura de concre-
to, e a segunda com a alvenaria completamente isolada. Assim pelo menos sabemos
que já existem pesquisas e estudos sobre o assunto. Agora vamos nos lembrar do item
3.1.1-3 da norma NB-1 (concreto armado): a ação do vento deve ser considerada “obri-
gatoriamente no caso de estruturas com nós deslocáveis, nas quais a altura seja maior
que quatro vezes a largura menor, ou em que, numa dada direção, o número de filas de
pilares seja inferior a 4”. Esse item da NB-1, depois de utilizado por várias décadas, foi
simplesmente suprimido na atual NBR 6118:2007. Então, nosso comentário: por que

66 José Luiz Pereira


suprimir, e não complementar ou retificar, um critério tão simples e prático de aplicar?
E, completando, a última norma para alvenaria NBR 15961-1 de 2011 laconicamente
sugere no item 8.6 Ação do Vento: “as forças devido ao vento devem ser consideradas
de acordo com a ABNT NBR 6123”, norma essa que especifica como considerar quan-
titativamente os esforços do vento, não se manifestando a respeito de considerações
estruturais específicas. Todavia, a norma anterior de alvenaria, NBR 10837:1989 no
item 4.3.2.3, dispensa o cálculo do vento para prédios de até cinco andares, desde que
travados com paredes enrijecedoras nas duas direções. Em função de tudo isso, não
devemos pretender que as normas sejam didáticas, mas poderiam ser um pouco mais
facilitadoras para sua utilização, no caso, por exemplo, da eliminação da proporção
H/L da NB1, da supressão da proposta tímida da dispensa do cálculo do vento para
prédios até cinco andares, parece que voltaram para traz. Qualquer projetista, mesmo
que seja por intuição, percebe a brutal diferença de rigidez entre uma estrutura de
alvenaria e outra de concreto armado convencional e essa situação não é explorada e
muito menos citada na norma, haja vista o cálculo aqui demonstrado de uma torre de
18 andares-tipo (extensíveis a 20 e 22 andares), onde, em função da possibilidade de
remanejamento de paredes internas, muitas paredes potencialmente estruturais foram
substituídas por vedações e, assim mesmo, conseguiu-se equilibrar a estrutura com
alvenaria não armada verificada inteiramente no Estádio 1.
Poderíamos aqui enumerar diversos comentários, não só sobre as normas, mas tam-
bém sobre uma boa quantidade de calculistas que calculam alvenaria pensando nas
mesmas leis e critérios que regem os cálculos de concreto armado, por terem sido
iniciados nesse último, onde predominam as estruturas reticulares, nada a ver com
as “colmeias espaciais” formadas por paredes (rígidas) + diafragma (lajes). Teria sido
melhor começar calculando alvenaria e depois concreto.
.

67
CAPÍTULO 4

Pórticos de Alvenaria

4.1 Considerações
Até agora já falamos diversas vezes sobre pórticos, todavia, precisamos saber como e quando te-
mos possibilidade e real vantagem em utilizá-los. Vamos abordar algumas particularidades concei-
tuais. Na Figura 4.1.a temos duas paredes (P) interligadas por uma viga (v), conjunto que passamos
a chamar de “Pórtico” e no caso de “Alvenaria”, quando todos os elementos são de Alvenaria. A
vantagem de utilizá-lo reside no fato de a viga segurar o deslocamento superior do conjunto quan-
do solicitado por uma força horizontal aplicada no topo, isto se a viga for biengastada e, sendo
empurrada, aplica momentos em sentido contrário ao da parede e, assim, para a mesma força
horizontal reduzindo o deslocamento “d” de todo o conjunto. Analisando a Figura 4.1.b, vemos
que as paredes sem a viga teriam M = FH, com a viga (pórtico) o momento diminui, ∑M = (FH -
Mvg), e essa redução de momentos para um mesmo esforço F significa maior rigidez do conjunto
e maior quinhão na somatória geral, reduzindo percentualmente todos os outros quinhões alivian-
do-os das eventuais trações. O International Building Code - I.B.C. estabelece um critério limite
para a utilização de Pórticos de Alvenaria, como podemos ver nos dois pórticos inferiores: em
Figura 4.1.c ℓv/hv > 2 viabiliza um pórtico; em 4.1.d ℓv/hv < 2 o pórtico se inviabiliza. A filosofia
do conceito estrutural resume-se no mecanismo “viga flexível /coluna rígida” como podemos ver
no desenho principal, a flexibilidade da viga aumenta com a redução do seu “índice de rigidez”
(r = I/ℓ), justificando a fórmula. Explorando um pouco mais, em uma situação de pórtico inviável,
podemos aceitar que o conjunto global de andares múltiplos passe a funcionar como uma parede
rígida, sem aberturas (na realidade a rigidez completa depende das dimensões das aberturas; em
geral costumamos considerar a rigidez com aberturas razoáveis de 90 a 100% da sua rigidez sem
aberturas), permitindo a passagem das linhas de tensões diagonais (efeito de arco) de um lado para
o outro da abertura pela viga; nesses casos, com o “índice de rigidez” bem grande. Em quaisquer
situações, quando temos a possibilidade física de apoiar a viga como “biarticulada”, isolamos com-
pletamente as duas paredes eliminando a comunicação de um lado com o outro, exceto pela força
horizontal aplicada na laje.

69
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

Fig 4.1.a _ d - Pórticos de alvenaria - esforços horizontais - Montagem do autor

70 José Luiz Pereira


Nos projetos correntes, costumamos, em uma 1ª etapa, facilitar o cálculo especificamente nas aber-
turas de portas de varandas, onde costumamos desprezar a viabilidade de se armar um pórtico -
sempre com ℓv = 120, 140, ou > e hv = 50 ou 70, portanto, com ℓv/hv > 2 - e consideramos apenas
as duas paredes isoladas, geralmente com muito pouca rigidez individual. Nessas condições, cal-
culando a ∑I, vamos obter um resultado inferior, e talvez bem inferior, ao que teríamos se incluís-
semos os pórticos desprezados na nova somatória. Resta-nos considerar ainda que, mesmo que
ignoremos as vigas (para isso elas foram consideradas biarticuladas), “elas existem” e não possuem
dimensões desprezíveis e, assim, algum esforço de flexão poderão absorver, pois na realidade são
“biengastadas”, o que quer dizer que, mesmo com a mínima armadura construtiva, por definição
ignorada no dimensionamento, mas na realidade existente e, pelo menos, nos andares superiores
onde os esforços são bem menores, e descendo até o andar em que o esforço aumente a ponto da
seção não aguentar poderemos considerar a viga “biarticulada”. Com essas considerações, pode-
mos concluir que o projeto em questão possui duas ∑I, andares superiores e inferiores diferentes,
o que acarreta uma melhor distribuição e menores valores absolutos em todos os esforços em
relação aos mesmos cálculos se usássemos apenas a somatória inferior. Então, podemos observar
que do jeito que costumamos calcular, desprezando os pórticos viáveis, praticamos um processo
muito a favor da segurança.
Raciocínio parecido podemos utilizar em portas internas, só que desta vez ℓv/hv < 2, o que conduz
a um conjunto similar ao do completamente rígido, geralmente não considerado, pois sempre se
costuma separar as duas paredes como independentes.
Vemos que o critério que adotamos inicialmente, o dos “balanços”, é bem simplificado até consi-
derarmos pórticos que colaborem com o aumento de rigidez do conjunto. O fato é que o grau de
complexidade dos cálculos aumenta consideravelmente, muitas vezes inviabilizando sua exploração.

71
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

4.2 Pórtico Edifício Murity

Fig 4.2 - Edifício Muraty - 1973 - Foto: Acervo do autor

Abordaremos agora uma estrutura muito especial. Uma torre de 17 andares de alvenaria muito
esbelta, H/L=6,2, ou seja, com largura de 8,2 m, que foi originalmente projetada para fôrmas
túnel metálicas e, por motivo de atrasos na sua entrega, pois são importadas, ficaram embaraça-
das na alfândega, com a obra já concretada até o teto do térreo e aguardando sua continuidade,
houve a conveniência de substituir o sistema construtivo pelo da alvenaria armada. O problema
era a sua viabilidade.
A “Reago”, empresa da “Camargo Corrêa”, potencial fornecedora dos blocos e interessada na divul-
gação de um projeto tão arrojado, contratou nossos serviços para o cálculo e desenvolvimento da
superestrutura da torre. De início, estudamos todas as implicações geométricas, com as fundações,
subsolo e térreo sem transição, já executados e com a modulação; foi importante que a modulação
se encaixasse perfeitamente na laje concretada, evitando a utilização de blocos especiais ou corta-

72 José Luiz Pereira


dos - apesar de as normas americanas da época permitirem a utilização de blocos t = 14 cm, não
tínhamos utilizado ainda estruturas com este bloco, daí optamos por t = 19 cm, mesmo porque
facilitou inclusive a modulação. Assim, partimos para a análise da estabilidade: logo no início per-
cebemos pelo cálculo da rigidez do conjunto, utilizando apenas as paredes, onde 2 x 33% seriam os
quinhões das duas empenas cegas com ℓ = 8,2 m, sobrando os 34% para todas as outras 12 paredes
menores, com suas flanges, sem condições de estabilidade; então tornou-se necessário enrijecer
as paredes menores, aumentando a rigidez do conjunto e equilibrando-se melhor os quinhões
em geral. Portanto, a solução que já prevíamos que iria resolver foi adotada, ligando as paredes
espelhadas de dois apartamentos geminados por meio de uma viga de alvenaria atravessando os
corredores, com altura de três fiadas sob a laje, permitindo uma passagem inferior de 11 fiadas
(2,21 m). Com essa solução de seis pórticos mais as duas empenas, tornamos o conjunto muito
mais rígido e, por não termos aumentado a rigidez das empenas, ficamos com uma distribuição
do conjunto bem mais equilibrada e que, depois dos cálculos processados, concluímos ter chegado
a uma ótima solução, pois, além de garantirmos o equilíbrio, as paredes ficaram sem tensões de
tração indesejáveis, com armaduras normais mínimas e com vigas de Alvenaria Armada (caso
alguma viga não passasse, poderíamos executá-la em Concreto Armado bastando no cálculo levar
em conta a proporção entre os Módulos de Elasticidade).
Foi difícil na época (1973) resolver o cálculo do Pórtico, pois os pórticos de concreto, com os
quais já tínhamos familiaridade de trabalhar utilizando processos manuais, serviam apenas para
estruturas reticulares. A solução encontrada foi com a Reago que conseguiu que a C.Correa dis-
ponibilizasse um especialista (engenheiro Sérgio Cifú) que, de acordo com nossas especificações,
programasse um cálculo no computador de grande porte da empresa (PC nem existia) para o
nosso projeto. As diferenças no cálculo dos pórticos é que os reticulares são barras cujas extremi-
dades, juntamente com outras convergem para um mesmo ponto chamado “Nó”, onde em função
da proporção entre os Módulos de Rigidez (mom. inércia / compr barra), aplicados os estorços, ele
gira distribuindo-os para as barras convergentes - sendo que os comprimentos considerados das
barras são muito grandes, e as vigas, apesar de grandes, bem menores do que os das paredes, des-
caracterizam o conceito exato de “nó”. Assim para a alvenaria devemos considerar a viga engastada
nas faces das paredes, sendo seu comprimento medido entre faces e, por sua vez, o comprimento
(vertical) das paredes medido entre os eixos das vigas.
Apresentamos os detalhes de modulação da planta do andar-tipo e da elevação de um dos pórticos
com sua armação completa e um corte da viga de alvenaria: Blocos t = 19 cm, temos cantos amar-
rados naturalmente com juntas macho e fêmea, resistência da alvenaria f´m= 240 kg/cm² (= fp),
ferros CA 24, com mossas ou saliências (limite de resistência da norma UBC-1970) - utilizamos
CA 50, sendo as tensões de serviço pela V. B. e. de fs = 1680 kg/cm2 (2.400 x 0,7)g com bitolas ainda
em polegadas (ver elevação Fig 4.2.b).

73
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

Fig 4.2.a - 1ª fiada - andar-tipo - Projeto do autor

Fig 4.2.b - Elevação do pórtico (6x) - Murity - Projeto do autor

74 José Luiz Pereira


4.3 Pórtico Joy Cambucy II

Foto: cedida por Consthruir Engª

Fachada principal

Mais um Pórtico de Alvenaria interessante, só que desta vez do século XXI; um pouco mais alto, 20
andares, um pouco mais largo, 16 m, com proporção H/Lx = 3,5 e H/Ly =1 ,7. A principal carac-
terística desse projeto é, ao contrário do que podemos imaginar, analisando apenas as proporções
H/L, a maior fachada recebendo vento com maior H/Lx≤3,5 e tem uma quantidade de paredes
suficiente para garantir um travamento satisfatório e sem aparecimento de trações (dir Y); ao
passo que na outra direção, a das fachadas, tomadas por grandes aberturas e internamente apenas
com duas paredes, no corredor, muito seccionadas por inúmeras aberturas (dir X), o conjunto
apresenta pouca rigidez sem os pórticos, além de apresentar em praticamente todas as paredes
trechos com pequenas e médias trações - analisando-se a rigidez dos conjuntos de paredes nas
duas direções: ΣIy = 222,6 cm4 e ΣIx = 21,1 cm4, de onde obtemos a relação ΣIy / ΣIx = 10,5,
muito diferente do que poderíamos esperar. Então, para evitar as trações nas paredes e enrije-
cer melhor o conjunto na direção da maior extensão, dir X, achamos imprescindível estruturar
as duas fachadas principais como Pórticos de Alvenaria (sem os pórticos, analisamos que, em
função da zona dos elevadores e escadas estarem deslocados, o centro de rigidez dir X, CR, fica
bem deslocado em relação à resultante do vento, RV, que se situa na posição do eixo do corredor
central, criando um momento de torção no diafragma que pode ser considerável e com efeitos
secundários que aumentem as trações nas paredes).

75
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

A rigidez dos Pórticos tornou-se mais do que suficiente para eliminar os esforços de tração, inclu-
sive das próprias paredes, estando a proporção dos vãos 321/71= 4,5 > 2, portanto, de acordo com
as recomendações do I.B.C., recomendo que lv/ho>2; para estruturar como pórtico. Analisando-
se a fachada principal, constituída de oito pilares (paredes) com 20 andares, vemos os quatro pila-
res centrais engastados em cima, nos oitões e os quatro laterais nas platibandas e, em baixo, todos,
sem exceção, nos baldrames com rigidez garantida pelo conveniente posicionamento das estacas.
Assim, conforme podemos observar nos detalhes dos elementos, as armaduras estão bem leves,
sendo todas as principais de φ 12,5 e os estribos φ 6,3, nos pilares (paredes) apenas 1 x 3 barras
e nas vigas 2 + 2 barras. As resistências adotadas foram: para o aço, a equivalente ao CA-42, com
saliências sendo fs = 2.200 kg/cm2, como não temos com facilidade essa resistência disponível no
mercado, especificamos CA-50A e, para o graute desde o térreo, acompanhando as necessidades
do fp da alvenaria até um mínimo de fgk = 25 MPa nas vigas, sendo as paredes desde o térreo
com fp = 26 MPa (blocos fbk = 18 MPa) e reduzindo para cima. Sendo o concreto fck = 25 MPa
constante em todos os andares nas lajes e na parte inferior das vigas, executadas em duas etapas
de concretagens, sendo a 1ª enchendo a verga sob a laje juntamente com a mesma (normalmente
recomenda-se grautear as vergas antes da montagem das formas das lajes, quando moldadas no
local, pois ficam bem firmes e impedidas de se deslocar quando ajustados os soalhos de madei-
ra, todavia, nesse caso, de comum acordo com os encarregados da obra, a concretagem da laje
inclui a da verga); a 2ª etapa consiste do assentamento das duas fiadas superiores e posterior
grauteamento do resto.
Nota: veja detalhes das fundações com momentos provenientes da ação do vento e efeitos de
arco nas Figuras 6.6.2.e, f.

Fig. 4.3.a - Planta de modulação - 1ª fiada - Projeto do autor

76 José Luiz Pereira


Fig 4.3.b - Fachada posterior - Montagem do autor

77
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

Fig 4.3.c - Detalhe do pórtico - Projeto do autor

Fig. 4.3.d - Viga 14/71 semi-invertida - Projeto do autor

78 José Luiz Pereira


CAPÍTULO 5

Detalhes Gerais de Paredes e Armações

5.1 Edifício Prime Busines Center

Foto: Marcelo Scandaroli

Fig. 5.1.a - Perspectiva - Cedida por Absoluta Construtora e Incorporadora Fig. 5.1.b - Parede com 656 cm de pé-direito
Obs.: vide Fig 5.1.c na pág. 85

79
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

5.1.1 Superestrutura
Torre de escritórios com salões livres de paredes no andar e em laje plana, sendo os três
andares superiores com altura dupla [2 x (320 + 16) = 672 cm], mais nove andares-tipo
normais com (320 + 16 = 336 cm), o térreo possui pé-direito duplo, com um trecho tri-
plo e tetos formados com grandes transições em dois pavimentos, mais um sobressolo
(460 cm entre lajes, parcialmente, e com “t = 14 cm”) e dois subsolos normais. Os três
andares superiores duplos permitem a colocação de um mezanino, transformando-os
em seis andares, somando uma altura total de 19 andares de (336 cm = 6384 cm) des-
de a fundação. Podemos considerar nesse caso essa altura total em alvenaria, pois as
caixas de escadas e elevadores e as paredes periféricas do lote descem até as fundações
em alvenaria estrutural. Todavia, o vento crítico para a alvenaria acontece no piso do
1º pavimento, ou seja, H = 50,25 m (15 x 3,36), então, H/Lx = 1,8 e H/Ly = 3,1. Torção
na laje na direção y não existe, e na direção x existiria, porém, a caixa de escadas e ele-
vadores tem o equilíbrio da rigidez facilitado por dois pórticos reticulares com vigas
de concreto e pilares de alvenaria, situados na fachada principal, somados a um índice
também muito pequeno de H / L. As fa.adm nos diversos casos de pés-direitos e es-
pessuras, aplicando-se a fórmula de Euler, ficam assim: a) t= 29, pd = 656 cm, fa.max=
0,17fp; b) t = 29, pd = 320 cm, fa.max = 0,23fp -- usamos 0,20fp; c) t = 14, pd = 460 cm,
fa.máx = o,11fp; d) t = 14, pd = 320 cm, fa.máx = 0,16fp.
Este projeto no seu andar-tipo prevê uma sobrecarga adicional de divisórias leves,
além das já previstas de t = 14 (divisórias de alvenaria entre as salas, também re-
movíveis), cuja laje de piso com h = 16 cm tipo “plana” calculada com carga total
q = 850 kg/m². A área das salas, com poucas paredes para receber tais cargas nos obri-
gou a duplicar sua espessura para t = 29 cm, formada por duas paredes paralelas de
t = 14 e bem amarradas entre si com grapas, atendendo à necessidade de maiores
áreas de paredes resistentes, resolvendo as especificações estéticas originais do pro-
jeto arquitetônico e resolvendo também a flambagem dos pés-direitos duplos supe-
riores. Note-se que as paredes das caixas de escadas e de elevadores mais o corredor
do hall dos elevadores e também dos dois sanitários centrais serão sempre travadas
a cada 336 cm de altura, inclusive nos pés-direitos duplos, onde terão dois giros
completos das escada.

80 José Luiz Pereira


Fig 5.1.1.a - Modulação piso tipo - Projeto do autor

81
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

Fig 5.1.1.b - Parede especial - pé-direito duplo - Projeto do autor

82 José Luiz Pereira


Fig 5.1.1.c, d, e, f - Amarração das paredes duplas - Projeto do autor

83
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

Pelo que pudemos constatar na Figura 5.1.1.a, temos uma parede em especial, a elevação da Figura
5.1.1.b, que merece algumas explicações. O desenho mostra um pé-direito duplo superior, sendo
que a elevação da metade inferior é idêntica à dos tipos simples, e a metade superior difere ape-
nas na altura do peitoril da abertura. Essa parede, ou conjunto de paredes, constitui uma parede
rígida com aberturas (pelo I.B.C., nos tipos inferiores ℓv = 181 e hv = 195, então, ℓv/hv = 0,93 < 2,
portanto, não convém que seja um pórtico), cuja rigidez deverá ser um pouco reduzida devido às
aberturas. Mas reduzir quanto? Aí, deixando de lado diversas confabulações teóricas, um critério
prático é simplesmente descontar um pequeno percentual de 10 a 20% do momento de inércia
da parede fechada - autores norte-americanos fornecem desenhos dessas paredes com diversas
combinações de aberturas, a escolher a mais parecida, juntamente com as respectivas reduções
percentuais, evitando assim cálculos mais complexos - assim achamos que podemos assumir tal
percentual “a sentimento”.
Na Figura 5.1.1.c, explicamos como amarrar as duas paredes de t= 14 para formar uma de t= 29 e
detalhamos as grapas com seus espaçamentos horizontal e vertical. Já na Figura 5.1.1.d/f, vemos
as armações em corte: “d” lumieira de janela de altura normal (h= 59+16); “e” idem da janela infe-
rior do pé-direito duplo, com as mesmas três fiadas inferiores, igualmente com os estribos a com
20 cm, abraçando também as duas fiadas do peitoril superior para evitar o seu descolamento; em
“f ” vemos as 2 paredes de t = 14 que compõem a t = 29, com a posição e o detalhe das grapas de
armação na horizontal.

5.1.2 Infraestrutura
Na Figura 5.1.2, observamos uma das paredes da periferia do terreno. Como o solo
dos perímetros foi todo grampeado, não temos contenções de solo nesta parede, ape-
nas cargas verticais provenientes de lajes e vigas dos estacionamentos e do peso pró-
prio das alvenarias. Vejam-se todos os apoios das vigas guarnecidos com “coxins” de
concreto dimensionados pelo apoio da reação da viga, modulados em 20 cm e com
um mínimo de 80 cm. Além das celas verticais e das canaletas horizontais armadas
com ferros corridos, que já sabemos serem obrigatoriamente grauteadas, indicamos
com faixas verticais escurecidas as áreas grauteadas por necessidade estrutural. Es-
sas áreas sob os coxins poderiam ter suas tensões espalhadas a 45º, todavia, essas
tensões devido ao efeito de arco se concentrariam novamente sobre as sapatas colo-
cadas estrategicamente em suas projeções. Observe se na laje da cobertura os coxins
estão apenas com duas fiadas grauteadas e as inferiores ocas, por não precisarem de
grautes; tal detalhe está de acordo com especificações das normas americanas que
sugere o grauteamento de duas fiadas sob os coxins, mesmo quando a carga for pe-
quena e não exigir tal grauteamento.

84 José Luiz Pereira


Fig 5.1.2 - Elevação completa - parede de divisa - t = 14 cm - Projeto do autor

Foto: Marcelo Scandaroli

Fig 5.1.c - Estrutura no final da construção

85
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

5.2 Edifício Solar dos Alcântaras

Foto: cedida por Editora Pini

Fig 5.2.c- Edifício Solar dos Alcântaras, obra de


alvenaria armada com 24 andares -

Revista Construção São Paulo nº 2364 maio/1993

Foto: Hélio Rubens de Souza

Fig 5.2.d - Vista da torre executada

Esta torre, de pequenas dimensões em planta, foi a mais alta executada até a data, saindo da tran-
sição no teto do térreo com 21 andares-tipo mais três andares de equipamentos sociais na cober-
tura, somando 24 pavimentos de alvenaria (as coberturas foram consideradas devido à sua grande
influência nos cálculos da ação do vento).

86 José Luiz Pereira


Fig 5.2.c - Edifício Solar dos Alcântaras - modulação - andar-tipo - Projeto do autor

87
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

Fig 5.2.d - Elevação de fachada “PA” assimétrica na inércia - flanges - Projeto do autor

88 José Luiz Pereira


Conforme podemos observar na planta de modulação Figura 5. 2.c, praticamente todos os en-
contros de paredes possuem “armações laterais” (lateral support na literatura técnica norte-ame-
ricana) que são ferros adicionais locados nas extremidades das paredes para absorver esforços de
tração provocados pelos grandes momentos provenientes da ação do vento atuando na estrutura.
A grande quantidade de armações laterais deve-se principalmente ao fato de a planta da torre
além de ter pequenas dimensões possuir as fachadas recortadas, nas duas direções, e assim ter os
momentos de inércia individuais muito pequenos acarretando uma rigidez total, de todas as pare-
des, muito baixa para equilibrar esforços de vento muito altos em função da altura da torre. Uma
vantagem podemos tirar desta geometria: se, por exemplo, tivéssemos apenas 1 ou 2 paredes bem
mais compridas que as existentes, cuja rigidez sobrepujasse muito as outras, e em consequência
puxassem 60 a 70% da soma dos quinhões, teríamos enorme dificuldade em absorver e neutralizar
as trações que migrariam na mesma proporção para tais paredes (sem um aumento conveniente
das cargas de gravidade), ao passo que do jeito que estão distribuídas as dimensões das paredes
tais esforços ficam bem mais diluídos na transição, com muito mais facilidade de serem absorvidas
pela mesma. Nas armações laterais é permitido pelas normas considerar no cálculo a absorção dos
esforços de “compressão”, o que não é permitido em geral, para nenhuma outra armadura, seja
para alvenaria armada como não armada. Observando que a maioria das paredes possui armações
laterais nas duas extremidades, quando atua o vento em uma das direções, temos as armações de
um lado tracionadas e do outro comprimidas, e com a inversão do vento temos também a inversão
dos esforços, utilizando melhor o material aplicado. Analisando as paredes centrais na dir Y, que
só possuem armações laterais em uma extremidade, constatamos que isto é devido à sua grande
assimetria geométrica que empurra o seu C.G. para a ponta com mais massa e onde teremos os
mínimos momentos finais, tanto positivos como negativos (no caso nem existe momento negativo
final nesta ponta pois a parcela do vento fica muito pequena, em relação a outra, que é sempre
positiva), transferindo para a outra ponta os máximos.
Analisando agora a Figura.5.2.d percebemos que as barras de ferro das armações laterais são mais
compridas que as outras barras “normais”. Na época, 1993, existia uma maior preocupação com os
comprimentos de ancoragem nos transpasses desses ferros tracionados. Hoje, tais transpasses es-
tão bem reduzidos e já estão especificados com o mesmo comprimento tanto para barras traciona-
das como comprimidas, e também as duas tensões admissíveis são iguais. Observe-se também que
os encontros das paredes foram feitos com “junta a prumo” a amarrados com grapas, por serem
t = 14 cm e na data do projeto as peças de 14 x 34 ainda não existiam no mercado.

89
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

5.3 Condomínio Villa Verde

Foto: Marcelo Scandaroli

Fig. 5.3.a - Conjunto de prédios do Condomínio Villa Verde - Construtora Kabajas

Quatro torres paralelas com 25 andares-tipo, dois andares de cobertura, térreo mais quatro subso-
los totalizando 32 níveis (as duas torres da frente possuem apenas dois subsolos e a 1ª três andares
a menos). O projeto de arquitetura apresentado exigia a completa flexibilidade na remoção de
todas as paredes internas, inclusive dos banheiros e as de acesso às varandas que seriam fechadas
com vidros. Nessas condições não era possível conseguir a estabilidade global com as poucas pare-
des que sobraram, assim optou-se por uma laje plana com pórticos e algumas paredes em concreto
armado nos apartamentos, sendo que as três caixas de elevadores e a caixa de escadas, que formam
um conjunto no centro da torre, foram projetadas em alvenaria estrutural, caracterizando uma
ESTRUTURA MISTA.

90 José Luiz Pereira


Fig 5.3.b - Condomínio Villa Verde - Fôrmas - Piso tipo - Projeto do autor

Por que adotou-se essa solução? Acontece que o construtor, já com experiência na execução de
torres altas em alvenaria, solicitou tal solução, e com a alvenaria começando logo na fundação,
isso porque nas paredes de alvenaria estrutural, com um mínimo de preocupação executiva,
conseguem-se prumadas praticamente perfeitas que servem de balizamento para a execução do
restante da estrutura.

91
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

Fig 5.3.c - Esquema resistente - vento “X” - Projeto do autor

Analisando-se do ponto de vista da estabilidade global, levando-se em conta que em uma estru-
tura mista os módulos de elasticidade são diferentes, houve a necessidade de se compatibilizar tal
situação com a mesma deformação horizontal em cada piso (aqui também vale a premissa da laje
como placa rígida). O cálculo dessa situação estrutural é perfeitamente exequível, todavia, ele se
torna extremamente trabalhoso se variarmos a resistência da alvenaria conforme subimos pela
torre (de acordo com o que costumamos fazer nas estruturas de alvenaria). Então optamos pela
especificação de uma resistência constante e uma condição de rigidez das paredes de alvenaria
também constante, todas completamente grauteadas, trabalhando juntamente com os elementos
de concreto igualmente com resistência e elementos constantes desde as fundações, pois não exis-
tem transições. As resistências utilizadas foram para a alvenaria fp = 24 MPa, bloco fbk = 18 MPa
com t = 14 cm e para o concreto fck = 35 MPa.
Conforme indicado na Figura 5.3.c, podemos ver claramente a somatória de todos os elementos
resistentes aos efeitos da ação do vento na dir “x”: as caixas de alvenaria e os pórticos de concreto.
Já na dir “y”, temos uma pequena relação H/Ly = 2,4 e muitos pilares de grande rigidez orientados
nesta direção e, apesar do conjunto geral de alvenaria possuir menor inércia, o travamento é satis-
fatório.
A vantagem estrutural da adoção de uma estrutura mista neste caso é muito relativa. Observe se
a direção “x” analisada é a que tem os menores esforços de vento devido à proteção que as torres
fazem umas com as outras. Se não fosse pela vantagem construtiva, uma estrutura mista não seria
determinante.

92 José Luiz Pereira


5.4 Residencial Bonança
Não poderíamos deixar de mostrar o projeto de um conjunto de sobrados. Escolhemos um bem
recente e que caracteriza muito bem uma estrutura de dois andares estruturada em blocos de
t = 9 cm com algumas paredes de t = 14 cm - estruturalmente todas as paredes, sem exceção,
poderiam ter t = 9 cm (por se tratar de 2 andares, apenas), porém, devido ao código munici-
pal, as divisórias de unidades devem ter t = 14 cm e devido à fixação dos degraus das escadas,
a parede sala x cozinha também. No andar superior, fachadas e divisórias se repetem, sendo
todas as outras internas com t = 9 cm. As resistências são as mínimas permitidas fp = 2 MPa.

Fig 5.4.a - Residencial Bonança - modulação - bloco com 4 sobrados - Projeto do autor

Algumas diferenças importantes existem nos detalhes construtivos dos blocos das paredes mais
estreitas (t = 9): a maior parte da diferença da largura externa se manifesta nas dimensões livres
das celas, com um máximo de 5 cm de largura na parte cônica mais folgada com 4 ou 3,5 cm na
mais estreita (com espessuras das paredes longitudinais variando de 2,0 a 2,5 cm). Todavia, exis-
tem fôrmas cujos blocos ficam quase e, às vezes, completamente fechados, dificultando a colocação
dos conduítes, dos ferros e do grauteamento vertical.

93
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

Fig 5.4.b - Elevação de fachada - T-9 - Projeto do autor

As amarrações de canto tipo macho e fêmea ficaram inviáveis no nosso projeto, por termos duas
espessuras diferentes para amarrar e, nesse caso, as amarrações são feitas com grapas como indicadas
na elevação - para encontros de paredes de 9 x 9, podemos utilizar cantos com amarração tipo macho
e fêmea, se tivermos disponível a peça especial de 9 x 29 x 19; as armaduras horizontais são alojadas
em canaletas tipo U que não permitem cruzamentos com ferros verticais, a menos que se providencie
um furo no fundo - tais furos são especificados por norma com ϕ mín = 7,5 cm, para blocos estru-
turais (t = 14 mín), o que no nosso caso não funciona, pois os blocos de nove não são considerados
estruturais, todavia, temos que tentar abrir furos com a maior abertura possível, pois, dessa abertura,
vai depender a maior ou menor qualidade do grauteamento da estrutura - no caso de duas fiadas
sobrepostas de canaletas, a colocação dos estribos deve passar entre as peças de cima; no caso c/ 40,
se fosse necessário c/20, a fiada de cima deveria ser com meias peças de canaletas de 9 x 19 x 19, se
fosse necessário < com 20, a fiada de cima deveria ser com blocos padrão de 9 x 39 x 19, transferindo
os eventuais ferros horizontais para as entre fiadas, e os estribos devem passar pelas celas dos blocos,
solução mais utilizada quando não são necessárias duas fiadas de canaletas.
É importantíssima essa extrapolação que já algum bom tempo fazemos dos critérios da alvenaria
estrutural para as alvenarias mais simples (t = 9, blocos maciços e outros), muito utilizadas nas
obras populares e esquecidas pelas nossas normas técnicas.
Felizmente, a última norma brasileira - NBR 15961-1-2011 - nos deu uma abertura, permitindo a
utilização mais ampla dos blocos t = 9 cm. Nossa esperança é que tal exemplo também seja seguido
pelas normas de concreto, pois o nosso país tem urgência em reduzir os custos de nossas cons-
truções populares com especificações exclusivas e principalmente bem objetivas para o segmento,
com a intenção de reduzir tais custos, o que, aliás, acho que nunca foi feito.
Construtora: Andibra Constr. e Incorp. - 2013/14

94 José Luiz Pereira


CAPÍTULO 6

Efeito de Arco nas Alvenarias

6.1 Caminho das cargas e tensões


As considerações abaixo são conclusões exclusivas das experiências práticas do autor, função da
observação direta do comportamento das alvenarias frente a situações impostas pelos projetos
apresentados pelos clientes e que tiveram que ser resolvidas com algum respaldo teórico, mas prin-
cipalmente com a aplicação da bagagem conceitual pessoal acumulada em mais de meio século de
atividade profissional, e desde fins de 1969 só com alvenaria. Cerca de 90% dos projetos, não só
habitacionais como de hotéis, hospitais, comerciais, industriais etc, dos mais altos aos mais compli-
cados, apresentados pelos clientes para viabilizar, foram resolvidos com Alvenaria Estrutural, onde
não tiveram formas para concreto em geral, com exceção de vigas de borda de varanda, vigas de
portas e guias de elevadores e eventualmente soalhos para lajes de concreto moldadas no local no
andar tipo, situação mais comum na atualidade no Brasil.

6.2 Considerações
Abordemos inicialmente situações de baldrames e blocos de fundação em estruturas de concreto
armado:
a) Figura 6.2.a - Representa uma viga reticular (esbelta) apoiada sobre duas estacas coroadas
com blocos e solicitada por uma carga uniformemente distribuída e verticalmente deformável
(por exemplo, peso próprio, peso de lajes com revestimento e sobrecargas acidentais etc). Nes-
sas condições, a viga recebendo tal carregamento, pelo principio da ação e reação, sofrerá uma
deformação em sua linha elástica apresentando uma flexa, função da escala do carregamento,
da distância entre apoios, esbeltez da viga. Os esforços na viga decorrentes de tal esquema es-
trutural são o MOMENTO FLETOR e o CISALHAMENTO (decorrentes da força cortante).
b) Figura 6.2.b - Representa um pilar, também esbelto, apoiando sobre um bloco com duas
estacas equidistantes da aplicação da carga. Assim, a carga do pilar se divide em duas cargas
iguais, descendo inclinadas até as estacas. Tal esquema estrutural denomina-se de BIELAS.
Os esforços que podemos observar são a COMPRESSÃO nas bielas e a TRAÇÃO, “constan-
te” de estaca a estaca (diferente da viga anterior que tem os esforços de tração se reduzindo
e tendendo a zero do meio para os apoios). Surge uma questão: frente a situações práti-
cas, quando considerar viga ou bloco? É um bloco (rígido, indeformável) quando a relação
l  2d. Em caso contrário, comporta-se como uma viga (reticular, deformável).

95
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

c) Figura 6.2.c - Representa um pilar parede, ou seja, com a dimensão horizontal cobrindo e
passando o vão entre as duas estacas. Nesse caso, a carga do pilar vai se concentrar diretamente
sobre as estacas, sugerindo a existência de bielas, ou EFEITO DE ARCO, com ângulo superior
a 60° com a horizontal, entrando no corpo do pilar e conduzindo a f>>> 0,5 l (indefinido) o
que significa acarretar mínimos esforços de tração na base do bloco. Então, podemos con-
siderar os apoios das estacas como dois blocos independentes, recebendo ½ carga do pilar e
funcionando cada um como “blocos simplesmente apoiados”.
d) Figura 6.2.d - Representa uma parede de alvenaria estrutural, com uma carga uniforme-
mente distribuída, apoiada sobre duas estacas. Situação idêntica à da Figura 6.2.c, mudando
apenas de pilar parede para parede de alvenaria, onde podemos visualizar o EFEITO DE
ARCO (este efeito presume-se que exista de modo similar no pilar parede), isso porque po-
demos considerar tal parede suficiente rígida. Se questionarmos imaginando a possibilidade
de um comportamento semelhante ao da Figura 6.2.a, observamos que a parede sendo rígida
não provoca a deformação da linha elástica na viga, portanto, não existe flexa, não existindo
também força cortante nem momento fletor ou cisalhamento, o que elimina por completo a
possibilidade do comportamento ser como o de uma viga.
e) Figura 6.2.e - Estendemos o mesmo efeito para uma parede com 5,6 m de extensão, agora
compatível com quatro estacas uniformemente distribuídas. Aproveitamos e indicamos al-
gumas cargas e esforços (compatíveis com os exemplos apresentados adiante). Escolhemos
quatro estacas para 37 t, pois tal torre terá outras paredes compatíveis com ela, todavia,
poderíamos ter escolhido sete estacas cada 80 cm para 20 t, que aceitariam, com a mesma
viga baldrame, tensões bem menores da alvenaria sobre elas, todavia, o vão de 80 cm entre
estacas em outra parede com carga maior/ml estaria muito pequeno, obrigando a aumentar
a estaca ou a utilizar algum(s) bloco(s) de fundação de duas estacas atravessado(s) na viga
baldrame.

Fig 6.2.a- Viga reticular (C. A.) - Projeto do autor

96 José Luiz Pereira


Fig 6.2.b - Pilar em bloco (C. A.) com 2 estacas - Projeto do autor

Fig 6.2.c - Pilar parede em bloco (C. A.) com 2 estacas - Projeto do autor

97
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

>ℓ/2

Fig 6.2.d - Alvenaria estrutural sobre 2 estacas - Projeto do autor

Fig 6.2.e - Distribuição uniforme dobre quatro estacas - Projeto do autor

98 José Luiz Pereira


Fig 6.2.f - Transições com efeito de arco + vento - Parede com aberturas - Concepção do autor

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Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

f) Figura 6.2.f - As explicações das Figuras 6.2.a e 6.2.d,e foram necessárias para entender a
principal aplicação “prática” do EFEITO DE ARCO e poder compará-la aos comportamen-
tos bem diferentes observados (ou talvez nem imaginados) no concreto armado. Todavia,
ele se manifesta nas mais diversas situações, não só sobre fundações, como sobre quaisquer
apoios, em transições de concreto, em outras alvenarias, e também se apresenta desviando
as cargas sobre aberturas, sobre balanços e também redistribuindo cargas em situações ines-
peradas de ausência de apoio em fundações ou transições (Figura 6.2.f). Vemos no desenho
das aberturas repetidas dos andares que as cargas descem sobre elas, separando-se pelas duas
laterais e normalmente fechando-se abaixo delas e após repetindo a situação. Nesse caso, o
projetista da estrutura pode calcular o vão da abertura considerando a seção do triângulo
sobre a mesma (lv/hv<2 conforme o I.B.C. “é parede rígida”). Bem diferente é a situação de
uma parede já executada onde o usuário da unidade resolve abrir uma porta com largura
considerável (P1). Aqui o comportamento das cargas é igual ao das janelas, só que no proje-
to original não foi prevista essa situação, então temos as consequências: a viga lumieira não
recebe a carga toda dos andares superiores, mas apenas a carga proveniente do triângulo
retângulo de 45° acima dela (efeito de arco), todavia, a carga superior desviada para os lados
sobrecarregará as seções resistentes remanescentes. As normas e os regulamentos permitem,
como no caso dos apoios da Figura 6.2.d/e, que as tensões admissíveis da compressão axial
sejam majoradas de até 50%, o que facilita a possibilidade de serem ultrapassadas até esse
limite as tensões das laterais, obviamente dependendo das dimensões da parede, da abertura
e da folga no cálculo e do dimensionamento da alvenaria, haverá um solução viável. Já o
balanço costuma ficar completamente aliviado das cargas superiores, pois elas se desviam,
como na lateral das aberturas apenas ½ arco, sendo que os esforços de compressão sobre
apoio devem ser verificados.
g) Figura 6.2.ghi -Vemos na Figura 6.2.g o caminho das tensões de gravidade em linhas si-
nuosas se desviando das aberturas e chegando embaixo, carregando um pouco o meio do
vão das vigas (as tensões das Alvenarias, como de qualquer material rígido, fogem de apoios
deformáveis procurando os rígidos), já os esforços do vento descem em diagonal entre as
aberturas (e livre delas) com o mesmo comportamento de uma parede cega, sem aberturas.
Para completar, as Figuras 6.2.h,i mostram uma parede com aberturas e com o comporta-
mento rígido e a outra com uma prumada de portas com vergas biarticuladas que separam o
plano em dois outros independentes, respectivamente. Exemplos de como as linhas de ten-
são contornam as aberturas, procurando, nos andares inferiores, se concentrar nos apoios rí-
gidos; em “h” livrando completamente o vão da viga, inclusive do momento do vento; em “i”
a situação das aberturas com vergas biarticuladas sobre as mesmas separam os dois painéis
de paredes, tornando-os independentes, com rigidez e quinhões de momentos diferentes,
atuando cada um do seu lado. Já as cargas de gravidade, apesar de estarem isoladas, migram
cada uma de si para os apoios rígidos evitando o centro da viga, o que já não acontece com
os momentos do vento.

100 José Luiz Pereira


-M
h

+V -V

Fig 6.2.g,h,i - Outros exemplos de comportamento das tensões - Concepções do autor

101
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

6.3 Torre de 13 andares com balanço na transição


Na Alameda Nhambiquaras, 1.755, Moema/SP, foi construída pela Tibério SA, em 2000/01, uma
torre em alvenaria com 13 andares sobre Transição em Concreto Armado no teto do Térreo. A
principal característica estrutural do projeto, que tem quatro apartamentos idênticos por andar, é
possuir os dormitórios das fachadas extremas salientes do corpo principal e que, pela disposição
das vagas de veículos nos subsolos, provocam balanços com 2,80 m de projeção (Figura 6.3.a) na
estrutura da transição. Como já foi mostrado na Fig 6.2.f, indicamos em perspectiva na Fig. 6.3.a
as linhas das tensões de compressão descendo pela fachada principal, mais acima, inclinando-se
do prumo suavemente para o corpo do prédio, descendo e aumentando a inclinação progressiva-
mente ao limite inferior, chegando em um ângulo de 45º/60º/ na transição e deixando no balanço
o triângulo central do 1º,/2º pavimentos formado pelo “Arco Excêntrico” incluindo as aberturas
das janelas e fechando pelo outro lado toda a saliência do prédio, completando assim os arcos.
Convém lembrar que as linhas de tensões procuram sempre orientarem-se na direção dos apoios
rígidos, pilares no caso, aliviando os balanços. Com essa demonstração, percebemos que as pare-
des salientes agarram-se como um bloco monolítico ao corpo do prédio, o que se torna possível
devido ao princípio do trabalho em conjunto dos elementos paredes mais lajes (Estrutura Alveolar
Tridimensional). Assim resta como sobrecarga sobre o balanço da transição apenas a uma peque-
na área de alvenarias e trechos de lajes (esses, talvez!) deixando-o bem aliviado. No desenho da
planta (Fig. 6.3.b), a estrutura está solicitada apenas por cargas verticais, cujos arcos com tensões
inclinadas geram esforços horizontais aplicados nas lajes, contra o corpo da torre, ela é resolvida
pela simetria da planta que solicita o outro lado em sentido contrário. Esse equilíbrio existe mes-
mo sem simetria, porque os esforços horizontais são absorvidos pelo total das paredes de rigidez
na mesma direção, geralmente minimizando os quinhões individuais. Extrapolando um pouco,
considerando a planta só pela metade, como apareceria no desenho sem o símbolo da simetria,
teremos o CR dos andares de alvenaria deslocado no eixo X do RV, acarretando efeitos de Torção
acumulados de todos os níveis de lajes (o deslocamento do Centro de Massa, CM, por sua vez é
muito maior, aumentando ainda mais na transição, o que torna a estrutura muito vulnerável ao
desequilíbrio quando solicitada mesmo que por pequenos esforços sísmicos - tudo perfeitamente
previsível, mencionado apenas por curiosidade).

102 José Luiz Pereira


Fig 6.3.a - Perspectiva vista A-A - Perspectiva do autor

Fig 6.3.b - Modulação (13 x) - Projeto do autor

6.4 Exemplo numérico do efeito de arco em parede simples


Apresentamos agora um exemplo numérico. Na Figura 6.4.a, representamos uma parede de anda-
res múltiplos, apoiada em fundações sobre estacas por intermédio de uma viga baldrame, como
na Figura 6.2.d. A parede tem uma carga distribuída uniforme que desce se inclinando e se orien-
tando em direção aos dois apoios (poderiam ser dois, três apoios). Essa acomodação das tensões
internas sugere uma Figura em forma de arco, daí o EFEITO DE ARCO. Então, a carga distribuída
descendo pela parede com tensões de compressão, sendo aumentadas conforme descem, passa a
se concentrar sobre os apoios em uma extensão limitada, cujos detalhes nos propomos esclarecer.

103
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

Fig 6.4.a - Exemplo numérico - Concepção do autor

104 José Luiz Pereira


A Figura 6.4.a mostra uma parede com uma carga uniformemente distribuída de q = 30.000 kg/ml
em uma extensão L = 4m, exemplo comum em torres de 15 a 20 andares, com uma resultante
G = 120 tf que se divide em cargas concentradas sobre duas estacas distanciadas de ℓ = 3 m com
um aumento de tensões na base da alvenaria que precisa ser investigado. A tensão distribuí-
da, calculada com área bruta, fa = 120000/14x400 = 21,4 kg/cm². A resistência média da pris-
ma é de fp = 200 kg/cm2, com fa.adm= 40 kg/cm², pressupondo cargas normais de gravidade que,
no caso de uma concentração de esforços, como é o caso similar e invertido das cargas concentra-
das que se distribuem a 45°, descendo pelas paredes, as normas e os regulamentos permitem um
acréscimo de 50% (algumas permitem até mais) nas tensões admissíveis, então, fa.adm = 60 kg/cm²
no apoio. Assim, a extensão necessária de parede resistente sobre a viga baldrame calcula-se
ℓ’= 60000 / 60 x 14 = 72 cm, grauteada (explorando outra situação, especificando fp = 140 kg/cm²,
com última fa.adm = 42 kg/cm², temos extensão necessária ℓ’= 102 cm, grauteada).
Analisando a fórmula do arco, observamos que o esforço “T” depende de três variáveis, a carga
distribuída “q”, a corda “ℓ” e a flecha “f ”. No nosso exemplo, assumindo “q e ℓ” para cada “f ”, tere-
mos um “T”. Então nos reportemos à Figura 6.4.a, onde analisamos o triângulo formado pelo ân-
gulo de 60º sob o vazio das tensões superiores já desviadas (tal solução sabemos estar muito a favor
da segurança), o que leva a “f = 2,6 m”. Com a fórmula, chegamos então a “T = 12980 k” na corda
(viga-tirante), exigindo uma área em aço CA-50A de 4,3 cm2. Já sabemos que tal simulação é exa-
gerada por dois motivos principais: o primeiro é o fato sensível de que a flecha já vem se formando
a uma altura maior, porém, indefinida (desde mais que 75°) devido ao fato do arco estando embu-
tido na parede e se manifestar pulverizado em diversos arcos com flechas variáveis; o segundo mo-
tivo é a nossa conclusão de que com a existência de diversos arcos dissimulados e distribuídos na
alvenaria (não reticulares) tenhamos diversas cordas nas diversas fiadas, absorvendo assim os es-
forços horizontais bem distribuídos e com os respectivos apoios bem ancorados nas extremidades
da parede, onde temos uma concentração maior das tensões de compressão, independente dessas
considerações, na prática, a armação mínima longitudinal das vigas baldrame que utilizamos é de
4ø16 (8 cm²), ou 4ø12,5 (5 cm²) para vigas menores de prédios mais baixos, portanto, atendendo
à armação mínima da simulação. A nossa opinião é que todas essas considerações teóricas seriam
desnecessárias se não houvesse tantas interrogações e inseguranças sobre o assunto, inclusive pela
nova norma brasileira sobre alvenaria (NBR 15961-1-2011).

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Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

Fig 6.4.b - Cálculo de alvenaria sobre estacas (ou pilares) - Concepção do autor

Na Figura 6.4.b, demonstramos como calculamos a altura mínima (h) da viga baldrame sobre a
estaca. Da face inferior da viga junto a lateral da estaca, subindo a 45º acompanhamos a linha da
face limite do cisalhamento (para dentro da qual não se manifestam mais esforços de corte) e che-
gando na face superior, pelos dois lados, sua abertura define a extensão da parede que consegue
transmitir esforços apenas de compressão para a viga/estaca. A favor da segurança, acarretando
um (h) maior, subimos a linha 60°. Pelo desenho bastaria uma viga com h = 42 cm (pela inclinação
de 45° bastaria apenas h = 24 cm), mas por questões construtivas adotamos h = 50 cm. Lembramos
que, para uma maior eficiência do esquema, foi conveniente afastar a estaca os 40 cm da face externa
da parede. Observando o conjunto em planta, precisamos de uma viga com uma largura b = 30 cm,
um pouco mais que o d = 24 cm para coroar a estaca, sendo obrigatório grautear o mínimo de

106 José Luiz Pereira


72 cm (ou 102 cm para fp = 140 kg/cm²). Nesse exemplo, utilizamos uma estaca pré-moldada por
ser a de menor diâmetro (portanto, a mais desfavorável para o cálculo), todavia, qualquer diâme-
tro é valido, inclusive de tubulões, dispensando o bloco de coroamento, uma vez que a viga de
apoio sobre a estaca se identifica como um “bloco simplesmente apoiado”, sem tensões na longitu-
dinal e com mínimas tensões transversais absorvidas pelos estribos menos espaçados na extensão
de “1,20.ℓ” centrados na estaca. Mais uma vez, podemos observar que, na viga entre as estacas não
existe nenhuma deformação na linha elástica, não havendo, portanto, nem FORÇA CORTANTE
nem MOMENTO FLETOR, dispensando qualquer preocupação com eles.

6.5 Esquemas funcionais importantes


Pensando em uma situação mais simplificada de como funciona um arco isolado precisamos ape-
lar para uma formula atrelada a um esquema funcional, conforme as Figuras 6.5.a,b,c e 6.5.d,e,f.
Obrigamo-nos a esclarecer certos conceitos que muitas vezes podem ser interpretados como con-
traditórios por chegarem a resultados diferentes.
A característica principal dos arcos reticulares, quando projetados como uma linha parabólica,
às vezes até circular, é que submetidos a um carregamento uniformemente distribuído, estando
apoiados sobre apoios rígidos, fixos ou articulados, é possuir a particularidade de trabalhar apenas
à compressão, permitindo assim grandes vãos com seções esbeltas. Girando o plano do arco de
180° em relação ao eixo horizontal e substituindo seu material por um cabo flexível, submetido
apenas ao seu peso próprio, a linha parabólica formada é a que chamamos de “catenária”.
Na Figura 6.5.a temos um arco cujo empuxo horizontal (T) é absorvido por contrafortes rígidos,
solução conveniente no caso de arcos múltiplos por que um escora o outro, exemplo clássico dos
aquedutos romanos. Já na Figura 6.5.b temos o arco atirantado, que possui um “tirante” para ab-
sorver tal empuxo. Em princípio, os dois tipos de arco funcionam da mesma maneira, porém, no
nosso caso da alvenaria, o esquema que mais se assemelha é o do “atirantado”, sendo que nos dois
casos a fórmula utilizada é a mesma (Figura 6.5.c).
É estranho que, após termos declarado que a fórmula existente é para arcos reticulares, seja uti-
lizada para especulações sobre o comportamento do arco embutido na alvenaria. Todavia, a ne-
cessidade de se encontrar uma fórmula matemática para tal comportamento estrutural nos levou
a esta tentativa, mesmo entendendo que o que chamamos de “arco”, embutido em uma parede
dispersa esforços em diagonais, por sua vez desdobrados em componentes horizontais e verticais,
perfeitamente absorvidos na própria massa da parede e cujo equilíbrio de forças internas não con-
seguimos alcançar plenamente. Então, tentamos explicações, talvez grosseiras, mas tanto quanto
possíveis para tal entendimento.

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Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

Fig 6.5.a,b,c - Esquemas funcionais - arcos - Montagem do autor

108 José Luiz Pereira


Fig 6.5.d,e,f - Esquemas funcionais - vigas e blocos - Montagem do autor

109
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

Veja-se a Figura 6.5.d,e,f onde o exemplo 6.5.d mostra uma viga sobre três apoios, simétrica, e com
carregamento uniforme e verticalmente deformável, e o exemplo, 6.5.e mostra uma viga igual com
a diferença no carregamento rígido.
A 1ª viga 6.5.d, tem sua linha elástica deformada gerando momentos fletores e com reações inclu-
sive oriundas da variação destes momentos fletores. Já a 2° viga,6.5.e, não funciona como viga, e
mais como bloco, pois a rigidez do conjunto bloco + pilar (ou parede rígida) garante que as três
reações sejam idênticas (como fazemos nos projetos de fundações de pilares sobre varias estacas,
onde resolvemos com um bloco rígido o suficiente para garantir reações iguais em todas as estacas).
Comparando as duas “vigas” observamos grandes diferenças nas suas reações. Simulando a possibi-
lidade de um projetista desavisado calcular tal viga que tenha um carregamento do tipo “e”, rígido,
como se tivesse o de tipo “d”, deformável, incorrerá em erros consideráveis, a saber: em 1° lugar uma
subestimação das reações das extremidades com uma superestimação da intermédiaria, em 2° lugar
o dimensionamento da viga se mostrará enorme, e tanto maior quanto mais andares esta parede
suportar, ao passo que se fosse corretamente concebida, seria bem esbelta e alargada para coroar as
estacas, eliminando os blocos de fundação convencionais, e com armadura bem leve.
Por analogia, apenas para esclarecimento, apresentamos o esquema funcional do bloco rígido
da Figura 6.5.f sobre 2 estacas com fórmula parecida ao do tirante do arco, porém, é diferente
(T bloco = 2 x T arco) por se tratar de uma carga concentrada de pilar.

6.6 Efeito de arco em fundações

6.6.1 Considerações
Até agora abordamos apenas o Efeito de Arco atuando em alvenarias esquemáticas
apoiadas sobre duas estacas ou em transições de vigas e pilares de Concreto Armado,
deixando as alvenarias de conjuntos reais apoiadas diretamente sobre Fundações para
serem tratadas em separado pelas suas características especiais. Não que o Efeito seja
diferente, mas porque no Projeto das Fundações, por elas estarem enterradas, podem
ser remanejadas com certa liberdade sob as paredes independendo de posições fixas
de pilares e outras limitações geométricas. Então, o princípio básico determinante para
o projeto consiste: “como as cargas das alvenarias geralmente chegam nas fundações
distribuídas linearmente, o ideal, natural, lógico e econômico é que o tipo de fundação
especificado transfira, da mesma maneira, tais cargas diretamente ao solo, suporte”.
Tal situação só pode ser atendida plenamente quando o terreno tiver condições de
suportar fundações diretas por meio de sapatas corridas sob as paredes. Nem sempre
esta solução pode ser atendida, pois a resistência exigida do solo não sendo superficial
pode ficar muito cara ou que o tipo de solo exija uma fundação profunda então, nesse
caso, vamos utilizar estacas, que podem ser de diversos tipos, diâmetros e comprimen-
tos. Nesse último caso, nos projetos de fundações com pilares, é comum o projetista da
estrutura fornecer ao projetista das fundações uma “Planta de Cargas” com as cargas
e momentos “concentrados”, ou seja, com as suas posições já definidas nos pilares. No

110 José Luiz Pereira


projeto de cargas de alvenaria a situação é bem diferente, pois as paredes, cujas cargas
se apresentam distribuídas, são encostadas umas às outras acarretando esforços de
conjuntos, agravados pelos momentos originários do vento em direções ortogonais,
tudo isto complicando por demais a elaboração de uma “planta de cargas” convencio-
nal, pois para locar as estacas, otimizando sua posição com um mínimo de carga ocio-
sa, seria necessário processar a locação pelo método de “tentativas e erros”, e que seria
mais lógica a distribuição das estacas ser feita pelo projetista da estrutura. Todavia, a
função do “Consultor de Fundações” ainda é importante, pois ele é quem especificará
o tipo de fundações, ou seja, a tensão admissível no solo caso seja uma fundação di-
reta, e o tipo, diâmetro, comprimento e carga admissível da estaca, ou tubulão, se for
o caso. Assim mesmo, o calculista da alvenaria no caso das estacas escolherá entre as
opções a que melhor atenda a alguns requisitos particulares, tais como:
1) evitar blocos de fundação para duas ou mais estacas, pois as estacas deverão ser
distribuídas em linha diretamente sob as paredes;
2) é conveniente trabalhar com apenas um diâmetro e carga de estaca para padronizar
as dimensões da viga baldrame;
3) a escolha da estaca é função primordial da altura do prédio, pois interessa de um
lado reduzir ao mínimo o espaçamento entre elas para se aproximar ao máximo do
que seria uma distribuição uniforme e, por outro lado, ter-se que aumentar a carga e,
por consequência, a distância entre estacas, para respeitar o mínimo entre elas. Nos
dois casos, as paredes com muita ou pouca carga por ml. mais compridas ou mais
curtas, combinadas ou isoladas, deverão ser atendidas por estacas com um mínimo de
ociosidade nas cargas;
4) as estacas deverão ser locadas “sempre” sob trechos de parede rígidos, evitando-se
vãos de passagens, portas e janelas (essas, com algumas restrições), para evitar reações
nas estacas sem reação direta pela parede, em tal caso inexistente, e que provocarão
o aparecimento de Momentos Fletores e forças cortantes nos baldrames, indesejáveis
nesse conceito de projeto; todas essas considerações sobre estacas, apesar de valer para
qualquer tipo e altura de prédio são mais dirigidas a torres de maior altura e também
fica evidente, por questões de custos, a dificuldade da utilização de tubulões devido à
sua grande capacidade individual de cargas, e consequente concentração das cargas
nos apoios.

111
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

6.6.2 Fundações sobre Estacas

Fig 6.6.2.a - Locação de estacas - Projeto do autor

Fig 6.6.2.b - Vigas baldrames - fôrmas - Projeto do autor

112 José Luiz Pereira


Apresentamos nas figuras a/b a Locação de Estacas e respectivas Formas de Baldrames
de um prédio de quatro andares (veja este mesmo prédio em sapatas corridas na Fi-
gura 6.6.3.b). No mesmo conjunto habitacional de 35 blocos, temos diversos tipos de
fundações e inclusive alguns blocos de cinco andares. A estaca com carga mínima que
existe no mercado para qualquer tipo é de apenas 20 tf (existe uma estaca protendida
para 15 tf, todavia, com utilização restrita) e que, por esse motivo, acarreta uma ocio-
sidade muito grande em prédios com poucos andares, pois as distâncias entre as esta-
cas ficam muito grandes e mais difíceis de remanejamento. Melhor explicando, usan-
do estacas para 20 tf, com 4 andares, temos 56 est OC= 29%; com 5 andares, temos
62 est OC= 14%; se tivéssemos 6 andares, talvez ficássemos com 70 est OC= 10%
(projeção); e concluímos que à medida que as torres aumentam em altura, consegui-
mos reduzir ao máximo a OC, sempre distribuindo as estacas sob uma viga baldrame
esbelta (30/30 com 4φ12,5 corridos, para os de 4 e 5 andares), eliminando os blocos de
coroamento para as estacas, sempre muito caros. Completando os baldrames, temos
vigas secundárias de 14/30, essas sim calculadas para apoiar vedações de um andar,
submetidas a forças cortantes e momentos fletores (colocadas apenas quando o con-
trapiso não der suporte a tais vedações).

Fig. 6.6.2.c - Efeito de arco - tensões limite - Concepção do autor

Observamos, na figura 6.6.2.c de um prédio de 4 andares, o Efeito de Arco se manifes


tando entre as estacas (apoios), bem diferente de uma torre bem mais alta em que te-
ríamos distâncias menores e mais uniformes, uma condição mais confortável para as
tensões.

113
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

Fig 6.6.2.d - Parede simples tracionada sobre baldrame com estacas sem tração - Projeto do autor

Na fig 6.6.2.d vemos a situação de uma parede curta, cujas reações correspondentes ao
momento de vento nos apoios, negativas, são de maior valor absoluto que as reações
de gravidade, sempre positivas - esquema montado similar a uma situação real de um
antigo projeto nosso. Essa situação acarreta sempre tração na parede, no baldrame e
na estaca, caso se coloquem as estacas nas extremidades da parede. Então, para evitar a
tração na estaca e no baldrame, prolongamos o baldrame para fora da parede, nos dois
lados, com o expediente de criar diagramas de cortantes e momentos sempre positivos
eliminando tais trações. Assim, temos apenas uma pequena tração na parede, que será
absorvida por umas poucas barras verticais na parede, que serão perfeitamente anco-
radas na viga baldrame.
Em torres muito altas como esta de 20 andares, com empenas laterais muito rígidas
(Figura 6.6.2.e) que, por consequência, tem um quinhão de carga muito grande, a
distribuição das cargas é mais delicada, pois não pode ser orientada apenas pela uni-
formidade das distâncias como quando temos apenas gravidade, o que acarretaria
esforços de tração nas estacas extremas e, para evitá-los, aproximamos tanto quan-
to possível outras estacas para que o conjunto ajude a contrabalançar e equilibrar as
reações, eliminando as trações e de tal maneira que do lado oposto também atenda
à maior compressão - a carga admissível da estaca é q.adm = 100t, a reação positiva
R = 80 + 47 = 127t/est com vento: R = 127/1,3 = 98t/est, ok.

114 José Luiz Pereira


Fig. 6.6.2.e - Obra: Joy Cambucy II - 2002/04 Consthruir Engª Ltda
- Rua Clímaco Barbosa, nº 500, Capital, SP - vide Cap 4.3 - Projeto do autor

Essa parede (fig 6.6.2.f) é da mesma torre anterior e sendo bem menor possui uma
rigidez também reduzida. O quinhão da carga é pequeno, mas em contrapartida temos
um braço de momento fletor também bem menor. Assim, a solução também é empur-
rar todas as estacas para as extremidades da parede e assim manter o equilíbrio com
um mínimo de estacas. Essa solução inclusive facilita a abertura de portas no interior
do vão do arco-zona, morta de tensões, principalmente no andar térreo, interligando
os cômodos contíguos, abertura esta também permitida em qualquer andar, o que pelo
próprio conceito do esquema vai permitir tal desvio de cargas sem problemas com os
acréscimos de tensões nas laterais das aberturas - mais um motivo para ter evitado
estacas no meio do vão.

Fig. 6.6.2.f - Mesma obra da figura anterior - Projeto do autor

115
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

Fig 6.6.2.g - Obra: Vero Santa Isabel - 2 torres - Plano & Plano - ver FT 7.5
- Rua Santa Isabel, nº 550, Guarulhos, SP - Projeto do autor

Mais uma vez, temos um exemplo, dessa vez de uma torre de 22 andares, porém, com
uma empena de rigidez relativamente pequena (Figura 6.6.2.g), mas com um quinhão
relativamente grande, acarretando uma carga de tração também grande, o que obrigou
a concentrar três estacas em cada extremidade e, para tanto, foram puxadas do meio
da parede e, inclusive, aproximando das partes um pouco mais externas das empenas
começando a aumentar os vãos dos baldrames (sendo de cálculo menos cômodo e
mais sujeito a verificações) e terminando com a necessidade de se colocar blocos de
fundação para três estacas em triângulo, como melhor artifício para eliminar as tra-
ções nas estacas que se situam imediatamente abaixo das extremidades tracionadas
das paredes.
As tabelas apresentadas agora são fruto de nossa vivência com projetos e foram mon-
tadas para nosso uso com a finalidade de ter respostas rápidas aos nossos clientes para
o pré-dimensionamento de fundações.
A tabela da Figura 6.6.2.h facilita a escolha: tipo da estaca; definição do fp; dimensões
e armação dos baldrames. A escolha da estaca é proporcional à altura do prédio e para
cada bitola a faixa central, das três apresentadas, é sempre a mais conveniente, sendo
que a superior conduz a baldrames mais altos (mais caros) e a inferior geralmente
atende tão bem quanto a central. Valem adaptações intermediárias, fazendo-se sempre
a viga coroar a estaca (b = ϕ + 5 cm) e quando b > 35 cm os estribos são duplos e colo-
cam-se costelas (10 ou 12 ϕ 12,5 corridos).

116 José Luiz Pereira


Fig 6.6.2.h - Escolha de baldrames - fundação

Fig 6.6.2.i - Escolha das estacas - fundação

117
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

A tabela Figura 6.6.2.i ajuda a pesquisar a quantidade de estacas, com boa aproxima-
ção, de um prédio qualquer com alvenaria saindo do chão, utilizando apenas a sua
Área Construída (com o efeito do vento não considerado).
Para as duas tabelas, todos os índices, critérios e conceitos utilizados e aqui disponibili-
zados são conclusões exclusivas tiradas de comparações feitas de nossos projetos. Para
a sua utilização funcionar bem, é importante ter em mente o seguinte: o dimensiona-
mento da armação dos baldrames restringe-se à fretagem da viga sobre as estacas, so-
licitada à compressão entre a parede e a estaca e resolvido com o reforço dos estribos,
e o vão entre as estacas com armadura construtiva sem prever solicitação de cargas
eventualmente alguma carga, além da parede estrutural, pode-se apoiar na viga fora
das estacas e provocar momentos e cisalhamentos; esses casos têm que ser evitados
no projeto ou analisados pontualmente); a carga padrão/m² utilizada na Tabela da
Figura 6.6.2.h é a da média das nossas obras, q = .95 t/m² de área construída - com
as seguintes especificações: alvenaria estrutural t = 14 cm, vedações em blocos
t = 9 cm, lajes h = 10 cm, acidental qacid = 100 kg/m² (média de torres até 15 an-
dares com desconto de norma), todo este conjunto conduz a uma média global de
q = .95 t/m² – vedações com drywall são mais leves que blocos.

6.6.3 Fundações em sapatas corridas superficiais


Abordemos aqui rapidamente as Fundações Diretas Superficiais que, no caso das alve-
narias estruturais, já começam no nível do solo e, portanto, têm como características
as cargas distribuídas pelas paredes diretamente no solo, otimizam um tipo de sapa-
tas especificas que denominamos de sapatas corridas e são dimensionadas da mesma
maneira que as sapatas diretas isoladas superficiais com a única diferença das cargas
que em vez de concentradas são distribuídas, e a sua área/ml é função da capacidade
de suporte do solo. Sua especificação é também função de outras características físicas
do terreno além da profundidade do solo resistente que podem não recomendar sua
aplicação ou inviabilizar o seu custo. Quando temos um solo com boa resistência su-
perficial e livre de recalques diferenciais, é a fundação mais econômica aconselhável,
mesmo com baixas resistências admissíveis de solo.
Exemplificamos aqui para elucidar tais tipos de fundações alguns casos, função do
número de andares, tais como:
a) casa térrea;
b) quatro andares;
c) oito andares;
d) 16 andares.

118 José Luiz Pereira


Fig 6.6.3.a - Casa térrea - Sapatas corridas superficiais - Projeto do autor

a) Duas casas geminadas, térreas, com laje de concreto maciço no forro mais telhado com
telhas de barro. Tais casas geralmente são executadas com contrapiso interno em concreto
simultaneamente com as fundações diretas sob as paredes, no mesmo nível superficial do
contrapiso e também indo para fora, formando uma calçada com uma borda de proteção
ao solapamento, enterrada em todo o perímetro. Tal fundação exige armações apenas sob
as paredes em faixas de 50 a 60 cm de largura com telas eletrossoldadas Q61, Q75 ou Q92
(CA60) e apenas positivas, sendo a espessura da laje h= 8 cm. Esse dimensionamento condiz
com a pequena carga aplicada pelas paredes no solo (1,5 a 2,0 t/ml), conduzindo a 0,3 a 0,4
kg/cm² de solicitação máxima no solo. Fora dessas faixas, no centro dos cômodos, não é
necessária nenhuma armadura estrutural, e o contrapiso poderia ter até sua espessura redu-
zida, todavia, por questões construtivas e prevenção contra patologias, costumamos manter
a espessura geral constante e especificamos, além das telas sob as paredes, uma tela também
positiva adicional mínima Q61 em toda área, inclusive calçadas. É praxe comum se cha-
mar, erroneamente, tal fundação de “RADIER” pelo fato do contrapiso, sapatas e calçadas
formarem uma única placa monolítica. Entretanto, essa palavra de origem francesa implica
em uma placa monolítica, porém, com a característica de distribuir e uniformizar eventuais
recalques diferenciais, pressupondo que a superfície inteira da placa tenha rigidez suficien-
te para cumprir tal função. Que não é o nosso caso, mesmo porque a rigidez das paredes,
apesar dos blocos serem de baixa resistência (2MPa), já garantem a redistribuição de alguns
recalques significativos.

119
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

Fig. 6.6.3.b - Sapatas corridas superficiais - 4 andares

b) Um prédio de quatro andares já precisa trabalhar com a Sapata Corrida mais prote-
gida, mais enterrada, um mínimo de 50 cm, o que acarreta um contrapiso independente
geralmente de concreto com 5 a 6 cm, sem armadura e resistente para suportar as paredes
de vedação sem sapatas próprias (divisórias ou paredes de blocos mais leves com carga de
apenas um andar).

120 José Luiz Pereira


Projetos do tipo apresentado, na grande maioria das vezes, são projetados com taxas
admissíveis de solos naturais ou compactados. A alvenaria sob o contrapiso nada mais
é do que uma continuação natural da parede, podendo descer o que for necessário
quando se afunda mais a sapata para atingir o solo resistente, dispensando qualquer
viga de rigidez sobre a sapata, função esta cumprida pela própria alvenaria.

Fig. 6.6.3.c/d - Sapatas corridas superficiais - 8 e 16 andares

c/d) Aqui apresentamos dois projetos com os apartamentos idênticos com diferença no n° de
andares sendo o (c) com oito andares e um elevador, e o (d) com 16 andares e dois elevado-

121
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

res. Os dois projetos estão construídos no mesmo terreno com diversas repetições, e to-
dos com a mesma taxa admissível superficial para fundações, σ s = 2 kg/cm². Mostramos
esses exemplos para apresentar a flexibilidade desse tipo de fundações que costumamos
utilizar para qualquer altura de prédio.
As limitações existem nas taxas mínimas de solo (mínimas para evitar a sobreposição en-
tre as sapatas) em função da altura dos prédios: taxa de 0,5 a 0,75 kg/cm² para 4 a 5 andares;
1,5 kg/cm² para 8 a 9 andares; 2,0 kg/cm2 para 13 a 17 andares; 2,5 kg/cm2 para 20 andares ou mais.
Temos em nossos arquivos inclusive torres muito altas e muito carregadas por m² e por andar com
σ s = 4 a 5 kg/cm² com as fundações bem resolvidas. Valem as mesmas observações feitas para o
item (b), apenas com a diferença da existência dos poços dos elevadores mais rebaixados e que
obrigam o rebaixamento das sapatas próximas evitando a influência das cargas superiores sobre
as sapatas inferiores. Observe-se também um pequeno e verdadeiro Radier servindo de fundações
para o poço de elevadores.

6.6.4 Rigidez do conjunto tridimensional


Até agora só nos preocupamos em analisar o comportamento das estruturas estudan-
do o comportamento, as tensões, as deformações e o desempenho dos elementos isola-
damente, em conjunto ou em pórticos, porém, sempre no seu próprio plano, sem levar
em conta sua condição tridimensional. É comum na aplicação de esforços orientados
em direções não paralelas a nenhum dos planos-padrão (X, Y) efetuarmos a decom-
posição de tais esforços nessas direções e, assim, os cálculos posteriores são feitos in-
dependentemente em cada direção, o que não deixa de ser uma boa aproximação, mas
não representa fielmente o comportamento da estrutura como um todo. Isso porque
temos uma grande convicção que existem inúmeros esforços colaterais referentes a
distribuição de tensões verticais favoráveis, por exemplo, e ainda inexploradas, que
melhoram o seu desempenho na rigidez tridimensional, cujo conjunto do jeito que se
apresenta na maioria de nossas torres, poderíamos chamar de “amontoado de abóba-
das e arcos multidirecionais”.
Nós a denominamos de “estrutura alveolar tridimensinal”, ou seja, em alusão a uma
colmeia, porque temos as paredes dispostas ortogonalmente formando os alvéolos,
travados entre lajes, formando um esquema espacial tridimensional.

6.6.4.1 Paraboloide hiperbólico

A estrutura mais simples que encontramos para exemplificar melhor tal comporta-
mento é a de uma “casca”, denominada de paraboloide hiperbólico e que normalmen-
te se apresenta com diversas formas e das quais elegemos uma em especial como re-
presentante bem aproximada do que entendemos seja o comportamento real de nossas
estruturas. Veja a Figura 6.6.4.1.a.

122 José Luiz Pereira


Fig 6.6.4.1.a - Parabolóide hiérbólico - Ilustração do autor

A característica especial das cascas é ser uma estrutura autoportante superesbelta, for-
mada por superfícies não planas, vencendo vãos razoáveis para sua diminuta espessu-
ra (30, 40, 50 m de vão livre em diagonal) e, no nosso caso, com esforços unicamente
de compressão devido às suas formas, todas compostas por arcos.
Já as nossas torres, de andares múltiplos bem travados com paredes de alvenaria, po-
derão ser interpretadas como paraboloides hiperbólicos empilhados andar por andar
garantindo uma amarração tridimensional espetacular, com efeitos colaterais favorá-
veis, infelizmente ainda não explorados satisfatoriamente pelos pesquisadores. Veja na
Figura 6.6.4.1.b a miríade de arcos e abóbadas cruzando em todas as direções dando
uma ideia bem completa do que, com bastante propriedade, batizamos de Estrutura
Alveolar Tridimensional, que garante uma rigidez adicional extracálculo no conjun-
to. Tudo isso contribui para dar mais confiança aos estudiosos e aos calculistas céticos
sobre um melhor comportamento das estruturas de alvenaria frente a quaisquer esfor-
ços, principalmente esforços dinâmicos de Vento e de Sismos.

123
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

Fig 6.6.4.1.b - Simulação de uma estrutura alveolar tridimensionsl


como parabolóides empilhados - Concepção do autor

Um pouco difícil de imaginar é o efeito “aglomerante” que tem uma laje, de piso ou de
cobertura, no seu envolvimento com as paredes inferiores, em que se apoiam. Prova
disso obtivemos quando vivenciamos pessoalmente e, por acaso, uma falha de cons-
trução em uma casa térrea que visitávamos. Tal casa situada com um andar no nível
da rua, onde se encontram todos os cômodos principais e, em cujo terreno com pe-
queno declive para os fundos, foi aproveitado para aí construir, sob o corpo princi-
pal, um salão com vão livre, sem nenhum apoio central, em uma área aproximada de
6,0 x 8,0 m (Figura 6.6.4.1.c). Aconteceu que, por uma falha imperdoável do projetista
da estrutura, a tal laje de piso suporte dos cômodos superiores cedeu, fletindo “sem
ruir” e desceu aproximadamente 2 cm no centro. Em função da carga à que estava
submetida a laje, tudo levava a crer que uma ruína total deveria ter acontecido, mas,
contrariamente ao que se esperava, logo após as primeiras flexas acontecidas, todas
as alvenarias junto ao piso, distantes 20 a 30 cm do mesmo, fissuraram, sem exceção,
ficando as partes superiores das paredes, ou praticamente toda sua altura, literalmente
penduradas nas lajes de cobertura. Ressalve-se que tais alvenarias não eram estru-
turais, não possuíam armaduras e foram executadas com tijolos cerâmicos comuns
assentados em juntas de amarração com argamassa também comum e sem a mínima

124 José Luiz Pereira


preocupação de resistir a esforços de tração, como se poderia imaginar. Além disso, a
laje de cobertura, tipo mista de nervuras pré-fabricadas intercaladas com lajotas mais
capeamento final de concreto, também foi executada sem nenhuma preocupação,
além de servir apenas de cobertura, não tendo nem menos uma canaleta no respaldo
da parede. Melhor analisando, concluímos que a laje não desabou devido ao fato de as
alvenarias, “todas elas”, formarem um conjunto tridimensional resistente junto à laje
de cobertura, conjunto este que soltou-se de seu apoio original, aliviando assim a laje
de piso da maior parte de sua carga de cálculo e que por este motivo não ruiu.

Fig 6.6.4.1.c - Deformação exagerada de laje suporte - Desenho do autor

125
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

6.6.4.2 Acidentes em fundações

6.6.4.2.1 Morro do Bumba

Foto: cedida pelo “O Estado de S. Paulo”

Figura 6.6.4.2.1 - Sinistro de uma torre de 11 andares com fundações superficiais

Mais uma vez, recorremos a sinistros que ocorreram para confirmar na prática situa-
ções previstas, porém, não confirmadas anteriormente. Em 20/03/13 foi amplamente
noticiado pelos jornais um acidente ocorrido em uma obra do programa Minha Casa
Minha Vida, situada em Niterói (RJ), onde dois prédios de 11 andares se encontravam
sob ameaça de desabamento e que, em função do relatado pelo engenheiro da obra,
“o grande acúmulo de água acabou levando o solo e acabou causando trincas no em-
preendimento” (sic). Note-se a grande semelhança das trincas em escadinha da foto
com as “potenciais” equivalentes às do 1º andar da Figura 6.3.a: a similaridade da sa-
liência é notável, inclusive com a presença da janela no plano frontal.
Analisando-se os detalhes da fotografia, podemos tirar diversas conclusões:
a) A principal causa do desastre foi a evasão de material de apoio das fundações
diretas, em “RADIER” ou sapatas corridas, que foram executadas muito superficiais.
Se tais fundações fossem um pouco mais profundas, pelo menos 50 cm, talvez o so-
lapamento tivesse sido evitado, ou no mínimo reduzido, com menos consequências.
Note-se claramente o grande vazio sob o bloco central do prédio, aparentemente sem
fissuras provenientes de recalques e o contraste com o cômodo saliente da direita que
recalcou bastante mais para sua extremidade devido a sua condição mais vulnerável,
sob o ponto de vista de rigidez.

126 José Luiz Pereira


b) As fissuras em escadinha aparecem em todos os andares se manifestando de-
vido ao “EFEITO DE ARCO” (½ Arco). Como seria previsível, no corpo do prédio
não apareceram fissuras significativas nos andares superiores, com exceção do térreo.
No volume saliente da torre, devido ao fato de além do recalque diferencial ter sido
exagerado, a “inexistência de qualquer armadura nas paredes”, horizontais ou verticais
(constatamos isso em diversas fotografias), comprometeu decisivamente com a resistên-
cia das paredes e com a sua amarração com as lajes.
c) Os blocos utilizados foram da Família de 30 cm, ou seja, 14 x 29 x 19, e que, em
junta de amarração na escadinha, dão um degrau de 20 x 15 um pouco desfavorável
em relação ao bloco padrão universal (Família de 40 cm, com degrau de 20 x 20, e
maior aderência), nada muito importante se não fosse a falta total de armaduras.
d) Podemos observar a inexistência quase total de trincas na fachada do corpo prin-
cipal do prédio, principalmente acima do enorme buraco que aparece sob a fundação.
Não temos mais informações além das disponíveis nesta foto, mas tudo leva a crer que
o solapamento deve ter atingido uma grande área interna do prédio que se desmoro-
nou ruindo para o centro, deve ter sido devido a seu comportamento como Estrutura
Alveolar Tridimensional, facilitada pelo esquema de cargas simulado como um em-
pilhamento de paraboloides hiperbólicos (veja Figura 6.6.4.1.b).

6.6.4.2.2 Solapamento

Fig 6.6.4.2.2 - Perspectiva de solapamento parcial - Projeto e desenho do autor

127
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

Convém observar que, se as alvenarias fossem armadas como costumamos armá-las


em nossos projetos (Figura 6.6.4.2.2) com armaduras mínimas, ou seja, “horizontais”
no respaldo e no meio do pé-direito em todas as paredes e nos peitoris e lumieiras das
aberturas, verticais guarnecendo encontros, extremidades com ou sem portas, bordas
de janelas e vãos cegos a cada 1,6 m e todas as armações com apenas 1φ8 (mínimo até
4 andares e 1φ10 ou 1φ12,5 torres mais altas com blocos t = 14), reduziríamos a um
mínimo a incidência de trincas e fissuras, mesmo no térreo,... e já tivemos oportunida-
de de encarar um problema similar há 30 anos, em um conjunto habitacional com 60
prédios de quatro andares, na Grande Belo Horizonte (MG), onde apenas um prédio
sofreu a perda de suporte nas fundações corridas, diretas, na extensão de 2,0x1,5 m,
apesar de estar 60 cm enterrada, e não sofreu nem uma fissura sequer, isto porque a
amarração bem feita das alvenarias garante uma rigidez extraordinária ao conjunto de
onde se pode esperar tais desempenhos (Fig 6.6.4.2.2). Podemos afirmar com convic-
ção, baseada em inúmeras situações enfrentadas com problemas relativos a recalques,
inclusive bem mais complexos, que se deveria proceder a pesquisas referentes a con-
juntos de alvenaria explorando sua enorme rigidez global e as vantagens que podemos
obter do seu comportamento.
Eis aqui uma prova bem evidente de que cada vez mais temos necessidade de analisar
a rigidez do conjunto como um todo (Estrutura Alveolar Tridimensional) onde inclu-
sive as paredes de vedação participam da amarração final pelas lajes, e as armações
das paredes nas duas direções sugerem uma amarração como se fosse um “engradado
com fitas de aço amarrando em três direções”. A amarração do canto externo foi feita
com grapas, porque na época, década de 80, não existia ainda no mercado o bloco de
14 x 34 que permite a amarração tipo macho e fêmea.
A solução para o problema do solapamento foi simples. Bastou preencher o vazio com
material resistente sob as sapatas (concreto magro + expansor) no solo bem compacta-
do para garantir o suporte pretendido (o piso interno nada sofreu).
Analisando com mais detalhes o trecho com concentrações de tensões no solo, o que
foi considerado no desenho partiu do princípio que o trecho de solo indicado junto ao
buraco tenha tido condições de absorver o acréscimo das tensões ocorrido pelo sola-
pamento. É evidente que, mesmo que o solo resista como indicado, a distribuição das
tensões no solo será desenvolvida com uma variação uniforme e sem saltos de resistên-
cias, aumentando a extensão indicada e consequente distribuição menos concentrada
das tensões, tanto no solo como na alvenaria.

6.6.4.2.3 Falência Global de Estacas

Um bloco com dois apartamentos por andar e quatro pavimentos, compacto, que, por
falha nas estacas, recalcou apenas de um lado, girando no plano ortogonal ao eixo
de simetria, descendo uns 30 a 40 cm em uma extremidade e subindo na outra. Para
recolocar a estrutura na posição original foi necessário calçar toda a fundação, cortar
todas as estacas originais e reestaquear com estacas “mega” (são estacas pré-moldadas

128 José Luiz Pereira


constituídas de segmentos de 50 cm, macaqueados um por cima do outro, até dar a
carga de nega, pela reação da própria estrutura); com tudo o que aconteceu, a movi-
mentação do recalque mais a recolocação delicada da estrutura na posição original,
não ocorreram fissuras em nenhuma parede nem nos revestimentos.

6.6.4.2.4 Escorregamento da Cunha de Talude

Um bloco com quatro apartamentos por andar, sendo a planta em cruz e um aparta-
mento em cada pétala e com quatro andares; tal prédio estava na crista de um talude
mal estabilizado e que cedeu, rompendo na sua cunha de cisalhamento situada sob
apenas uma das pétalas e que recalcou, juntamente com toda a cunha aproximada-
mente uns 12 cm, quebrando todas as estacas sob aquela pétala e que, em consequên-
cia, abriu uma trinca vertical de 5 cm de largura junto ao piso, e que subiu diminuindo
até zero um pouco acima da cobertura e sob o fundo da caixa d’agua situada no centro
do prédio sobre a caixa da escada. Impressionante o comportamento global da estru-
tura, pois a pétala afetada com o recalque sofreu um movimento vertical que não foi
transmitido para o restante do prédio, e nela apareceram trincas e fissuras apenas mais
próximas à trinca principal e com sua incidência se reduzindo conforme se subia até a
cobertura, tudo sem manifestar o recalque.

6.6.4.2.5 Comentários

Imagine-se o que esperar da rigidez de um conjunto tridimensional projetado e exe-


cutado nos moldes dos critérios adotados em nossos projetos, mesmo que armados
apenas com as armaduras construtivas mínimas que costumamos utilizar. Devemos
incentivar mais os nossos pesquisadores a explorar melhor este filão, pois as resistên-
cias adicionais que conseguimos, muitas vezes sem condições de se prever nos cálcu-
los, são sempre fatores positivos favoráveis.
Especulando-se sobre a estrutura alveolar, porque as torres que entram em colapso
e implodem sem ser por esforços horizontais (vento ou sismo), caem sempre para
dentro, como no caso do World Trade Center, NY, USA. e raramente tombam incli-
nando-se para um lado.

129
CAPÍTULO 7

Fotografias de obras projetadas


pelo autor

Outras fotos de obras do autor inseridas no texto:


I) Rua Nadir no Capítulo 3
II) Edifício Murity no Item 4.2
III) Edifício Joy Cambucy no Item 4.3
IV) Edifício Prime Business Center no Item 5.1
V) Solar dos Alcântara no Item 5.2
VI) Condomínio Villa Verde no Item 5.3

131
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

FT 7.1 CENTRAL PARQUE LAPA

Conjunto de quatro torres paralelas com doze andares-tipo, estruturais em alvenaria sobre
transição em concreto. Notável por ser o primeiro projeto de doze andares executado fora dos
EE.UU. Na ocasião do projeto, 1970, as poucas construçõesexecutadas em alvenaria, em sua
maioria, eram feitas com as fachadas sem revestimento, sendo os blocos aparentes e apenas
impermeabilizados ou pintados, e isto foi explorado em todas as fachadas desta obra. Nas
fachadas principais foram utilizados blocos com a face externa em relevo e elas foram pintadas
em duas cores. Olhando sob uma perspectiva atual, após a execução de centenas de projetos,
a estrutura não apresenta em si nada demais. Porém, na ocasião da obra, veio ao Brasil um
engenheiro norte-americano, patrocinado por uma empresa fabricante de blocos, dar
palestras sobre alvenaria estrutural. A construtora da obra, diante de tal oportunidade, sugeriu
contratar com ele um novo projeto da superestrutura de alvenaria. Ótima oportunidade de
checar os nossos conhecimentos, pois o projeto já estava pronto e seria prático ter outro para
comparar. Quando o projeto ficou pronto ficamos decepcionados, pois não nos acrescentou
nada; pelo contrário, projetaram um pórtico deslocável nas fachadas principais que achamos
completamente desnecessário e que trazia complicações para o projeto e, por isso, não
foi utilizado na obra. Note-se que, nessa direção, com o vento atuando na direção paralela
à fachada principal, temos as torres muito encostadas entre si, reduzindo o efeito do vento
individual, além de termos um travamento satisfatório (H/L = 1,8) que é muito baixo para a
altura da torre.

Construtora: Regional São Paulo S.A Ano: 1970/1971


Localização: São Paulo - SP
Crédito da imagem: cedida por Editora Pini

132 José Luiz Pereira


FT 7.2 EDIFÍCIO MACKENZIE

Torre única saindo do chão, primeira torre alta (17 andares) executada
fora do Estado de São Paulo, ainda com fachadas em blocos sem
revestimento, H/L = 1,8 bem estável, com prazo recorde de execução
em menos de um ano.

Construtora: Projetos Técnicos e Construções - Protenco Ano:1981


Localização: Belo Horizonte - MG
Crédito da imagem: cedida por Protenco

133
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

FT 7.3 EDIFÍCIO BAHAMAS

Torre com 17 andares-tipo, mais apartamentos triplex na cobertura,


estruturada em alvenaria e apoiada sobre transição de concreto
armado. A característica principal do projeto é o visual de sua
fachada com linhas harmoniosas, formadas por amplas varandas,
com grandes jardineiras, cujas estruturas em balanços engastados
nas paredes provocam esforços concentrados muito grandes nas
extremidades das paredes-suporte. O curioso é que o aspecto da
fachada, onde não aparecem paredes, mas apenas balcões em
balanço, sugere que a estrutura seja em concreto armado e na
ocasião de sua construção foi motivo de curiosidade por parte dos
interessados pelo sistema construtivo.

Construtora: Construtora Apolo (atual Kabajás) Ano: 1997


Localização: São Bernardo do Campo - SP
Crédito da imagem: acervo do autor

134 José Luiz Pereira


FT 7.4 EDIFÍCIO SACHA SAINT GERMAIN

A particularidade deste prédio encontra-se no fato de ser um


exemplo típico de uma torre com 20 andares-tipo, mais dois
andares de cobertura quase iguais ao tipo, planta baixa com
as dimensões de 21 x 36 e com as proporções H/L = 3,0 e
H/L = 1,8. O cálculo de esforços do vento, devido à grande
rigidez do conjunto nas duas direções, acarretou baixas
tensões de compressão nas paredes, inclusive sem nenhum
esforço de tração. A torção nas lajes não existe, devido à
simetria nas duas direções.

Construtora: Construtora Jacy Ano: 2008


Localização: São Bernardo do Campo - SP
Crédito da imagem: cedida por Construtora Jacy

135
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

FT 7.5 RUA SANTA IZABEL

Conjunto com duas torres idênticas com 22 andares de alvenaria (térreo,


20 pavimentos-tipo e cobertura) com H/L = 4,0 muito esbelto, portanto,
com algumas paredes armadas à tração. Então, estas paredes, com grandes
trações localizadas nas extremidades, criam problemas nas fundações,
pois devemos evitar estacas tracionadas. Para tanto, procuramos transferir
estacas próximas que tenham cargas positivas para esses pontos críticos,
aumentando os respectivos vãos sob os baldrames, sempre explorando o
efeito de arco, de modo a conseguir uma maior resultante à compressão
que majore a tração original de pelo menos 20%, eliminando assim a tração
nas estacas. Procedimento similar procuramos utilizar em outros tipos de
fundações ou transições sobre uma infraestrutura de concreto armado.

Construtora: Incorporadora e Construtora Plano e Plano Ano: 2007/2008


Localização: Guarulhos - SP
Crédito da imagem: cedida por Incorporadora e Construtora Plano e Plano

136 José Luiz Pereira


FT 7.6 RUA NADIR

Conjunto de três torres idênticas com 18 andares


de alvenaria e escolhido como modelo para uma
demonstração completa do cálculo dos Esforços do Vento
na estrutura como um todo, mostrando passo a passo
todas as etapas, detalhando os cálculos, comentando
as fórmulas e finalizando com comentários importantes
para o completo entendimento dos critérios e conceitos
utilizados (vide Capítulo 3).

Construtora: Tibério S.A. Ano: 2012/2013


Localização: Guarulhos - SP
Crédito da imagem: cedida por Tibério S.A.

137
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

FT 7.7 PRÉDIO PADRÃO DA UNICAMP

Em 1982, a REAGO, fabricante de blocos estruturais e de


lajes pré-fabricadas protendidas alveolares, nos convidou
para estruturar um projeto com arquitetura já concebida
com as seguintes características: três andares-tipo com
circulação e sanitários no eixo central e nas laterais das
salas com vão livre de 10 x 20 m e lajes para suportar
sobrecargas de divisórias, paredes, equipamentos, para
atender às necessidades de qualquer departamento
do campus, no caso da UNICAMP. Daí a nossa estrutura
constituída de lajes protendidas de 10 m apoiadas
nas paredinhas estreitas e com contrafortes (frisos) e
desempenho muito bom. Por isso, foi repetido mais de
cem vezes.

Construtora: diversas Ano: diversos


Localização: Campus da Unicamp - Barão Geraldo - Campinas - SP
Crédito da imagem: acervo do autor

138 José Luiz Pereira


FT 7.8 VILA SANTA CATARINA

Conjunto de quatro torres idênticas com 12 andares em alvenaria saindo do chão,


com H/L = 1,5, bem estável, portanto. Obra completamente racionalizada com lajes
pré-fabricadas maciças, tendo vigas de borda incorporadas e moldadas em usina
externa. As alvenarias externas são apenas pintadas, sem revestimentos, e os peitoris
das janelas são em split blocks, ou seja, imitam pedra rústica natural. Para facilitar
ainda mais, as torres saíram do chão, sem transições e as vagas para automóveis
foram colocadas em um edifício garagem, independente, ao lado das torres. Com
gruas disponíveis na obra, observamos a grande vantagem de se trabalhar com o
transporte vertical da maioria das cargas em pallets e a céu aberto. Este conjunto de
procedimentos nos permitiu classificar esta obra como uma das que mais exploraram
as inúmeras vantagens oferecidas pelo sistema construtivo.

Construtora: Comurb Sociedade de Projetos Urbanísticos Ltda. Ano: 1977


Localização: São Paulo - SP
Crédito da imagem: cedida pela Editora Pini

139
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

FT 7.9 PAREDES PRÉ-FABRICADAS DE


ALVENARIA

Este projeto foi desenvolvido visando a fabricação de paredes de


alvenaria na própria fábrica de blocos (as paredes pela Tecprem
subsidiária da Concretex, fornecedora de blocos), para atender
à construção de centenas de prédios de quatro andares com 16
apartamentos e, para tanto, foi construído um protótipo experimental.
Com todas as paredes pré-fabricadas de blocos estruturais
t = 14 cm, em painéis verticais de largura compatível com o transporte,
armazenagem, içamento, colocação, ajustes etc. As alvenarias
externas foram feitas com blocos desenhados em relevo para não
serem revestidos, apenas pintados. Tais expedientes foram possíveis
em razão de a execução das alvenarias ter sido feita na fábrica, por
operários especialmente treinados, e com um controle de qualidade
mais eficiente. A experiência foi um êxito e o desempenho, com o
passar do tempo, bem satisfatório.

Construtora: Tecprem/Cohab - SP Ano: 1988


Localização: Canteiro Experimental de Heliópolis - São Paulo - SP
Crédito da imagem: acervo do autor

140 José Luiz Pereira


FT 7.10 COHAB RENDA MÉDIA

Complexo com 33 torres de 18 andares de alvenaria


sobre pilotis, distribuídos em diversos conjuntos de 2,
3 e 4 torres por lote, para a Cohab de São Paulo, todos
na Zona Leste da cidade (Brás, Bresser e Heliópolis) e
estas já foram revestidas com H/L = 3,2 e equilíbrio
controlado no limite, sem trações. Volume enorme
de construções: 2.373 apartamentos, 171.600 m² de
área construída (área referente apenas às 33 torres
de alvenaria executadas pela Construtora Soma,
havendo ainda outras 70 de diversas empreiteiras em
concreto armado convencional e todas atrasaram a
entrega das obras).

Construtora: Construtora Soma Ano: 1987/1988


Localização: São Paulo - SP
Crédito da imagem: cedida por Construtora Soma

141
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

FT 7.11 PARQUE RESIDENCIAL TIRADENTES

Conjunto de 27 torres de 16 andares com alvenaria saindo do chão,


área construída de 227.000 m² e 3.402 apartamentos, sendo o
maior conjunto projetado pelo nosso escritório em único terreno;
H/L = 1,6, bem estável.

Construtora: Construtora Soma


Ano: obra executada em várias etapas 1988-1992/
Endereço: São Bernardo do Campo - SP
Crédito da imagem: cedida por Construtora Soma
(foto das obras em andamento)

142 José Luiz Pereira


FT 7.12 PARQUE RESIDENCIAL
JARDIM DAS PEDRAS

Conjunto de 13 torres com 12 andares saindo do chão, a


300 km de São Paulo e que se destacou pelo prazo recorde da
obra, aproximadamente 12 meses. Existe uma fábrica de blocos
estruturais na cidade que sozinha não daria conta do pedido,
devido ao curto prazo (dois milhões de blocos para serem
entregues entre 3 e 4 meses), então ¾ desse total foram fabricados
na obra: H/L = 1,1 super estável e área construída de 85.000 m².

Construtora: Construtora Soma Ano: 1982


Localização: Ribeirão Preto - SP
Crédito da imagem: cedida por Construtora Soma

143
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

FT 7.13 CONJUNTO RESIDENCIAL


VITÓRIA RÉGIA

Conjunto de 14 torres, com 14 andares saídos do chão e


H/L = 1,4, bem estável. Como todas as obras da Soma, foi executada
em prazo bem curto, com área construída de 96.000 m².

Construtora: Construtora Soma Ano: 1986


Localização: São Paulo - SP
Crédito da imagem: cedida pela Construtora Soma

144 José Luiz Pereira


FT 7.14 PARQUE RESIDENCIAL ANCHIETA

Conjunto de 35 torres de 9 andares com a alvenaria saindo do


chão, área construída de 78.000 m² e 1.260 apartamentos. Nesta
obra, a construtora contratou da Reago os blocos e também as
lajes pré-fabricadas, incluindo o transporte vertical com todas as
peças colocadas nos níveis de sua utilização (lajes protendidas
alveolares de sua fabricação). Em função do terreno ser muito
acidentado e as torres serem muitas, a utilização de qualquer
tipo de grua tornou-se inviável e o transporte vertical ficou a
cargo de guindastes sobre caminhões, tanto para os blocos como
as lajes, sendo a altura crítica (na época) a superar o 9o andar, o
que foi resolvido em todos as torres, conseguindo a velocidade
pretendida na obra.

Construtora: Construtora Soma Ano: 1990


Localização: Jundiaí - SP
Crédito da imagem: cedida por Construtora Soma

145
Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

FT 7.15 CONJUNTO HABITACIONAL


CAMILÓPOLIS

Conjunto de 48 blocos de 4 e 5 andares, com área construída de


52.000 m² e 864 apartamentos. Observem-se na foto tirada após
90 dias do estaqueamento da obra, os últimos prédios ainda
sendo estaqueados, à esquerda na foto, e os primeiros já na fase
da pintura, à direita. Destaca-se aqui a grande velocidade das
obras em alvenaria que, além de utilizarem menos mão de obra e
materiais, apresentam qualidade de acabamento superior.

Construtora: Construtora Soma Ano: 1980


Localização: São Bernardo do Campo - SP
Foto: cedida por Construtora Soma

146 José Luiz Pereira


FT 7.16 COHAB-SP - SANTA ETELVINA

Porção de um bairro inteiro destinado exclusivamente aos blocos-


padrão da Cohab -SP. Diluídos no meio de muitas centenas de
blocos executados por diversas empreiteiras, o nosso projeto
foi executado em diversos lotes totalizando 167.000 m² de área
construída, sendo 186 blocos de quatro andares, só em Santa
Etelvina.Fora dela, temos mais centenas de repetições que
somadas a estas completam, aproximadamente, 550 blocos,
com 8.800 apartamentos, em um total de 500.000 m² de área
construída.

Construtora: diversas Ano: 1988/1989


Localização: São Paulo - SP
Crédito da imagem: acervo do autor

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Alvenaria Estrutural – Cálculo, Detalhamento e Comportamento

FT 7.17 CONJUNTO HABITACIONAL


SÃO CAETANO

Conjunto com 38 blocos duplos de quatro andares, com área


construída de 80.000 m² e 1.216 apartamentos.

Construtora: Construtora Soma Ano: 1979


Localização: São Caetano do Sul - SP
Crédito da imagem: cedida por Construtora Soma

148 José Luiz Pereira


FT 7.18 CONJUNTO HABITACIONAL
CAJAMAR - CDHU

Conjunto de 10 blocos de quatro andares, área construída de


16.000 m² e 320 apartamentos. Estes blocos fazem parte de um
projeto-padrão alternativo de nossa autoria, aprovado pelo
CDHU, e que foi executado com diversas empreiteiras, alcançando
350 repetições de blocos duplos, com 11.200 apartamentos e
560.000 m² de área construída. A foto é da obra da Soma em
execução.

Construtora: Construtora Soma Ano: 1989-1991


Localização: Cajamar - SP
Crédito da imagem: cedida por Construtora Soma

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