povo e para o povo”) em que consiste a democracia. Um dos principais pilares de sustentação
do princípio democrático reside não só na soberania popular, como também no festejado
“princípio majoritário”. Em uma sociedade democrática, no processo de tomada de decisões
políticas, há de prevalecer a vontade da maioria, respeitando-se, evidentemente, a opinião de
uma minoria. Justamente nesse ponto se encaixa a difundida concepção “contramajoritária
dos direitos fundamentais”, previstos em quase todos os sistemas jurídicos constitucionais39.
na verdade, é o que se dá com todos os governos – ainda que não possa ser, absolutamente, um governo do povo
(...)”.
39
Endossa, nesse particular, KELSEN que “(...) de fato, a existência da maioria pressupõe, por definição, a
existência de uma minoria. Disto resulta não tanto a necessidade, mas principalmente a possibilidade de proteger
a minoria contra a maioria. Esta proteção da minoria é a função essencial dos chamados direitos fundamentais e
liberdades fundamentais, ou direitos do homem e do cidadão, garantidos por todas as modernas constituições das
democracias parlamentares (...)”. Cf. KELSEN, Hans. A Democracia. Op. cit., p. 97.
40
A problemática acima mencionada é endossada por RONALD DWORKIN que, analisando com proficiência
as dimensões do conceito de democracia e sua interdependência com a liberdade de expressão, pontifica que:
“(...) A democracia está extraordinariamente em alta no mundo inteiro. Todavia há discordância com relação ao
sentido da democracia. (...) A democracia, dizemos todos, significa governo exercido pelo povo, e não por
alguma família, classe social, tirano ou general. Mas pode-se entender ‘governo exercido pelo povo’ de duas
maneiras radicalmente distintas. Em uma delas – a concepção ‘majoritarista’ – significa o governo exercido pelo
maior número de pessoas. Nessa visão majoritarista, o ideal democrático repousa na compatibilidade entre a
decisão política e a vontade da maioria, ou pluralidade de opinião. Podemos elaborar diversas versões dessa
teoria geral da democracia. Uma delas é a versão populista: o Estado é democrático, segundo esta versão, até o
ponto em que o governo aprova as leis ou procura exercer a política que tenha, na época, a aprovação do maior
número de cidadãos. Uma versão mais sofisticada da concepção majoritarista, porém, afirma com veemência que
a opinião da maioria não conta como sua vontade, a não ser que os cidadãos tenham tido uma oportunidade
adequada de se informar e deliberar sobre os assuntos. O Estado é democrático, nessa teoria mais elaborada,
quando suas instituições dão total oportunidade aos cidadãos e, então, permitem que a maioria deles escolha os
representantes cujas políticas respeitam sua vontade. Essa teoria requintada é claramente mais atraente do que a
populista (...)”. Cf. DWORKIN, Ronald. A virtude soberana. A teoria e a prática da igualdade. São Paulo:
Martins Fontes, 2005, pp. 501- 502.
26