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Clessius
Silva
Sumário
Sumário 3
1 Topologia da reta 5
1.1 Conjuntos abertos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.2 Conjuntos fechados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.3 Fronteira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.4 Cisão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.5 Pontos de acumulação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.6 Conjuntos compactos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
1.7 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2 Limites de funções 35
2.1 Definição e propriedades básicas . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
2.2 Limites Laterais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
2.3 Limites no infinito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
2.4 Limites infinitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
2.5 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
3 Continuidade 65
3.1 Definição e propriedades básicas . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
3
3.2 Funções contínuas em um intervalo . . . . . . . . . . . . . . . 71
3.3 Funções contínuas em conjuntos compactos . . . . . . . . . . 74
3.4 Continuidade uniforme . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
3.5 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
4 Derivadas 85
4.1 O conceito de derivada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
4.2 Regras Operacionais das derivadas . . . . . . . . . . . . . . . . 89
4.3 Derivada e crescimento local . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
4.4 Funções deriváveis num intervalo . . . . . . . . . . . . . . . . 96
4.5 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
Referências 103
Capítulo 1
Topologia da reta
5
Clessius Silva Análise Real
Por outro lado, os pontos 0 e 1 não são interiores a X = [0, 1], visto que,
para qualquer > 0
Geometricamente,
(b) Sendo X = (0, 1), usando o mesmo argumento do item (a) podemos
mostrar que int(0, 1) = (0, 1). Sendo assim, o intervalo aberto (0, 1) é
um conjunto aberto.
6
Capítulo 1 Topologia da reta
(f) Pelos itens (c), (d) e (e), todo intervalo aberto, limitado ou ilimitado, é um
conjunto aberto.
(r − , r + ) * Q, ∀ > 0.
7
Clessius Silva Análise Real
Exercício 1.5. Prove que um ponto x um ponto interior de X se, e somente se,
existe um intervalo aberto (a, b) tal que x ∈ (a, b) ⊂ X.
(x − 1 , x + 1 ) ⊂ A1 e (x − 2 , x + 2 ) ⊂ A2 .
(x − , x + ) ⊆ (x − 1 , x + 1 ) ⊂ A1 ,
1 Sugestão: suponha por contradição que existe xi ∈ intX, conclua que X não é finito.
8
Capítulo 1 Topologia da reta
e
(x − , x + ) ⊆ (x − 2 , x + 2 ) ⊂ A2 ,
portanto
(x − , x + ) ⊂ A1 ∩ A2 ,
[
b) Se x ∈ A = Aλ , então x ∈ Aλ0 para algum λ0 ∈ L. Como Aλ0 é um
λ∈L
conjunto aberto, existe > 0 tal que (x − , x + ) ⊂ Aλ0 ⊂ A. Logo
todo ponto x ∈ A é ponto interior, isto é, A é um conjunto aberto.
Demonstração. Para provar essa afirmação basta utilizar o Teorema 1.7 (a) (n−1)
vezes. De fato, sabemos que A1 ∩ A2 é aberto, dessa forma a interseção
A1 ∩ A2 ∩ A3 = (A1 ∩ A2 ) ∩ A3
pode ser vista como a interseção de dois conjuntos abertos, logo é um conjunto
aberto. Repetindo esse processo várias vezes, vemos que A1 ∩ · · · ∩ An−1 é um
conjunto aberto, e consequentemente a interseção
pode ser vista como a interseção de dois conjuntos abertos, logo é um conjunto
aberto.
Observação 1.9. Embora o Teorema 1.7 b) garanta que a união de uma infini-
dade de conjuntos abertos é ainda aberto, a interseção de um número infinito
de abertos pode não ser aberto. Por exemplo, se considerarmos os intervalos
abertos
1 1 1 1
A1 = (−1, 1), A2 = (− , ), · · · , An = (− , ), · · · ,
2 2 n n
então a interseção dessa família infinita de abertos é
A1 ∩ · · · ∩ An ∩ · · · = {0},
que não é um conjunto aberto (pois nenhum conjunto finito é aberto pelo
Exercício 1.6).
Observação 1.12. Vimos na seção anterior que todo ponto interior a um con-
junto X, pertence a X. Agora, vimos que todo ponto de X é ponto de aderência
de X. Resumindo, temos as seguintes inclusões
intX ⊂ X ⊂ X,
Exemplo 1.13. (a) Seja X = (0, 1), observe que os pontos 0 e 1 não perten-
cem ao conjunto X, entretanto os pontos 0 e 1 são aderentes a X. De fato,
1
a sequência xn = está contida no intervalo (0, 1) e tende para 0;
n+1
1
enquanto a sequência yn = 1 − também está contida no intervalo
n+1
(0, 1) e tende para 1.
(b) Veremos a seguir (ver Corolário 1.23) que se existir um intervalo aberto
que contém a que não contém pontos de X, então a não é ponto de
aderência do conjunto X. Usaremos este fato, e o item anterior, para
concluir que (0, 1) = [0, 1]. Não é difícil perceber que todo ponto fora de
[0, 1] está contido num intervalo aberto cuja interseção com o intervalo
(0, 1) é vazia. Veja a ideia geométrica abaixo:
Desta forma, (0, 1) = [0, 1]. Logo o intervalo aberto (0, 1) não é um
conjunto fechado.
11
Clessius Silva Análise Real
(b) O conjunto vazio é fechado. Isso acontece por vacuidade, pois se existisse
algum elemento em ∅, então deveria existir uma sequência de pontos
contida em ∅, o que é um absurdo.
12
Capítulo 1 Topologia da reta
Observação 1.16. Conjuntos não são portas! É comum alguns alunos con-
cluírem, de maneira equivocada, que se um conjunto não é aberto, então ele é
fechado, e vice-versa. Isso é um erro, existem conjuntos que nem são abertos e
nem são fechados, por exemplo, os intervalos (a, b] e [a, b) (ver Exemplos 1.3 e
1.14). Além disso os conjuntos ∅ e R são abertos e fechados, simultaneamente,
como vimos nos Exemplos 1.4 e 1.15. Dessa maneira, conjuntos não são portas
que ou estão abertas ou estão fechadas!
Exemplo 1.20. O intervalo aberto (a, b) é denso no intervalo fechado [a, b],
pois (a, b) = [a, b].
qualquer I que contém a, existe ε > 0 tal que (a − ε, a + ε) ⊂ I. Uma vez que
lim xn = a, logo existe N0 tal que xn ∈ (a − ε, a + ε) ⊂ I para todo n > N0 ,
logo xn ∈ X ∩ I para todo n > N0 .
Reciprocamente, se todo intervalo aberto que contém a também contém
pontos de X, então para cada n ∈ N podemos escolher um ponto xn ∈ (a −
1
n, a + n1 ) ∩ X, daí a sequência (xn ) está contida em X e tende para o ponto a.
Portanto, a é aderente a X.
15
Clessius Silva Análise Real
1.3 Fronteira
Definição 1.30. Seja X ⊂ R um conjunto. O conjunto frX formado pelos
pontos x ∈ R tais que toda vizinhança de x contém pontos de X e pontos que
não pertencem a X é chamado fronteira de X.
Exemplo 1.31. a) Sendo X = [1, 2), então frX = {1, 2}. De fato, todo
intervalo aberto que contiver o número 1, contém algum número menor
que 1 (que não pertence a [1, 2)) e também contém algum número maior
que 1 e menor que 2 (que pertence ao intervalo [1, 2); portanto, 1 está na
fronteira de X = [1, 2). De maneira similar, 2 também está na fronteira
16
Capítulo 1 Topologia da reta
Observe ainda que um ponto x ∈ (1, 2) está no interior de [1, 2), logo
existe um intervalo aberto I que contem x que está contido em [1, 2), desta
forma I não contém elementos fora de [1, 2), portanto x não pertence a
fronteira de [1, 2). De maneira similar, um ponto y 6∈ [1, 2] está no interior
do complementar de [1, 2), dessa forma, y não pertence a fronteira de
[1, 2).Veja a ideia geométrica
d) Sendo Y = [0, 2) ∪ (2, 3], então frY = {0, 2, 3}. Pelos argumentos
apresentados no item 1, percebemos que os pontos 0 e 3 estão na fronteira
de Y . Além disso, todo intervalo aberto que contiver o 2, contém também
algum ponto de Y e contém o 2 que não está em Y , desta forma, 2 também
está na fronteira de Y . Pelos mesmos argumentos do item 1, nenhum
outro ponto está na fronteira de Y . Sendo assim, frY = {0, 2, 3}. Veja a
17
Clessius Silva Análise Real
a) frX ∩ intX = ∅;
b) frX = fr(X C );
c) intX ∩ frX = ∅;
Demonstração. Exercício.
1.4 Cisão
Definição 1.35. Uma cisão de um conjunto X ⊂ R é uma decomposição
X = A ∪ B tal que A ∩ B = ∅ e A ∩ B = ∅, isto é, nenhum ponto de A é
aderente a B e nenhum ponto de B é aderente a A. A decomposição X = X ∪ ∅
é chamada cisão trivial.
1. a é ponto de acumulação de X;
|x1 −a|
Repetindo o processo acima com 2 = 2 e I2 = (a−2 , a+2 ), obteremos um
ponto x2 ∈ I2 ⊂ I com x2 ∈ X − {a} e x2 , x1 , x0 todos distintos. Procedendo
dessa forma repetidas vezes, obteremos uma infinidade pontos xn ∈ I com
xn ∈ X − {a}.
Por fim, supondo válida (3), não é difícil verificar que a é ponto de acumulação
de X.
Exemplo 1.43. a) Se X = (a, b), então X 0 = [a, b]. Para provar este fato,
basta considerar o item 3 do Teorema anterior.
Teorema 1.44. Todo conjunto infinito limitado de números reais admite pelo
menos um ponto de acumulação.
3. Já vimos (no Exercício 1.28) que todo conjunto finito é fechado, além
disso, claro que todo conjunto finito é limitado. Portanto, todo conjunto
finito é compacto.
X ⊂ A0 ∪ A1 ∪ · · · ∪ A6 .
Lema 1.53. Toda cobertura aberta de um intervalo fechado [a, b] possui uma
subcobertura finita.
cobertura. Chamemos de [a1 , b1 ] o subintervalo que não pode ser coberto por
uma quantidade finita de abertos da cobertura. Indutivamente, prosseguindo
desta maneira, construiremos uma sequência de intervalos fechados [a, b] ⊃
[a1 , b1 ] ⊃ [a2 , b2 ] ⊃ · · · ⊃ [an , bn ] ⊃ · · · onde nenhum [an , bn ] pode ser coberto
b−a
por uma quantidade finita de abertos da cobertura e bn − an = . Pelo
2n
Teorema dos intervalos encaixados, existe c que pertence a todos [an , bn ]. Em
[
particular, c ∈ [a, b]. Como [a, b] ⊂ Aλ logo c pertence a algum Aλ0 . Como
λ∈L
Aλ0 é aberto, existe > 0 tal que (c − , c + ) ⊂ Aλ0 . Tomando n ∈ N tal
b−a
que n < , teremos [an , bn ] ⊂ Aλ0 , o que é uma contradição, pois nenhum
2
intervalo [an , bn ] pode ser coberto por uma quantidade finita de Aλ .
Exemplo 1.56. Veremos agora que as hipóteses de ser limitado e fechado são
necessárias no Teorema de Borel-Lebesgue.
Logo (An )n∈N é uma cobertura aberta de Z (pois cobre toda a reta). En-
tretanto, (An ) não admite uma subcobertura finita de Z, caso contrário,
existiria N ∈ N tal que Z ⊂ AN = (−N, N ), o que é um absurdo. Ob-
serve que Z é fechado (exercício), mas não é limitado, por isso o Teorema
de Borel-Lebesgue não pode ser aplicado nesse caso. Dessa forma, per-
cebemos que a hipótese de X ser limitado é necessária no Teorema de
Borel-Lebesgue.
n ∈ N. Observe que
1 1 2 2 3 3 n n
A1 = (− , ), A2 = (− , ), A3 = (− , ), · · · An = (− , ),
2 2 3 3 4 4 n+1 n+1
note ainda que
A1 ⊂ A2 ⊂ A3 ⊂ · · · An ⊂ An+1 ⊂ · · · .
1.7 Exercícios
1. Considere o conjunto X ⊂ R dado abaixo. Determine X 0 e frX. Deter-
mine se X é discreto, e se X é compacto.
a) X = (0, 1) ∪ (2, 3); g) X =
1
;n ∈ N ;
n
b) X = (−1, 1) ∪ (1, 2] ∪ {π};
1
h) X = {0} ∪ ;n ∈ N ;
c) X = (−∞, 2) ∪ {3} ∪ (4, ∞); n
d) X = Z; i) X = R − N;
4. Sejam A, X, Y subconjuntos de R.
a) frX ∩ intX = ∅;
b) frX = fr(X C );
c) intX ∩ frX = ∅;
d) X ⊂ intX ∪˙ frX;
10. Prove que Z é um conjunto fechado. Sugestão: prove que seu comple-
mentar é aberto.
11. Seja X ⊂ R :
a) Se X ⊂ Y, prove que X ⊂ Y.
25. Prove que um conjunto compacto cujos pontos são todos isolados é finito.
Dê exemplos de um conjunto fechado ilimitado X e um conjunto limitado
e não-fechado Y , cujos pontos são todos isolados.
nunca é aberto.
28. Dada uma sequência (xn ), prove que o fecho do conjunto dos termos
X = {xn ; n ∈ N} é X = X ∪ A, em que A é o conjunto dos valores de
aderência da sequência (xn ).
29. Prove que toda coleção de intervalos não-degenerados dois a dois disjun-
tos é enumerável.
33. Prove que o conjunto A dos valores de aderência de uma sequência (xn )
é fechado. Se a sequência for limitada, A é compacto, logo existem l e
L, respectivamente o menor e o maior valor de aderência da sequência
limitada (xn ). Costuma-se escrever l = lim inf xn e L = lim sup xn .
a) S = {x + y; x, y ∈ X};
b) D = {x − y; x, y ∈ X};
c) P = {x · y; x, y ∈ X};
d) Q = { xy ; x, y ∈ X} se 0 6∈ X.
36. (Teorema de Baire) Seja (Xn )n∈N uma sequência de conjuntos fechados
∞
[
de R. Se int(Xn ) = ∅ para todo n ∈ N, então prove que int( Xn ) = ∅.
n=1
34
Capítulo 2
Limites de funções
⇔ a−δ <x<a+δ
⇔ x ∈ (a − δ, a + δ).
35
Clessius Silva Análise Real
Analogamente,
⇔ f (x) ∈ (L − , L + ).
Geometricamente,
⇒ |x2 − 4| <
0 < |x − a| ⇔ |x − a| =
6 0
⇔ x 6= a.
Desta forma, f (a) não tem importância ao definirmos lim f (x), inclusive f (a)
x→a
pode não estar definido, o importante é o comportamento de f (x) com x
36
Capítulo 2 Limites de funções
7 y
6
5
4
3
2
y = x2
1
x
−4 −3 −2 −1 1 2 3 4
−1
Figura 2.1: Gráfico de f (x) = x2
x2 − 4
Exemplo 2.5. Seja X = R − {2} e f : X → R definida por f (x) = .
x−2
Não é difícil verificar que f (x) = x + 2 para todo x ∈ X = R − {2}, e que 2
é ponto de acumulação de X. Mesmo f não estando definida em 2, podemos
provar que lim f (x) = lim (x + 2) = 4. Na Figura 2.2 vemos o gráfico de f e
x→2 x→2
podemos entender melhor a observação anterior.
L+N
Demonstração. Consideremos M = o ponto médio entre L e N . To-
2
N −L
memos = = M − L = N − M > 0. Logo, pela definição de limites,
2
existem δ1 > 0 e δ2 > 0 tais que para x ∈ X
8
7
6
f
5
4
3
2
1
−3−2−1
−1 1 2 3 4 5
x2 − 4
Figura 2.2: Gráfico de f y = .
x−2
Observação 2.7. No Teorema 2.6, a hipótese L < N não pode ser substituída
por L ≤ N . Isso acontece porque se L = N não temos como relacionar f (x) e
g(x).
Corolário 2.9. Se lim f (x) = L < N então existe δ > 0 tal que f (x) < N
x→a
para todo x ∈ X com 0 < |x − a| < δ. Analogamente, lim f (x) = L > N então
x→a
existe δ > 0 tal que f (x) > N para todo x ∈ X com 0 < |x − a| < δ.
Corolário 2.11. Sejam lim f (x) = L e lim g(x) = N. Se existir δ > 0 tal que
x→a x→a
f (x) ≤ g(x) para todo x ∈ X − {a} com |x − a| < δ, então L ≤ M.
o que é uma contradição, pois para x ∈ X−{a} satisfazendo |x−a| < min{δ, δ̃}
deveríamos ter, por um lado, f (x) ≤ g(x), e por outro lado, g(x) < f (x).
Demonstração. Dado > 0 arbitrário, sejam δ1 > 0 e δ2 > 0 tais que, para
x∈X
⇒ |h(x) − L| < .
1
Exemplo 2.13. Vamos determinar lim x2 cos( ). Nós sabemos que para todo
x→0 x
x ∈ R − {0}
1
−1 ≤ cos( ) ≤ 1,
x
logo, multiplicando por x2 toda a inequação acima, e lembrando que x2 ≥ 0
para todo x ∈ R, obtemos
1
−1x2 ≤ x2 cos( ) ≤ x2 , ∀x ∈ R − {0}.
x
Uma vez que, limx→0 −x2 = limx→0 x2 = 0 (exercício), pelo Teorema do San-
duíche obtemos
1
lim x2 cos( ) = 0.
x→0 x
Abaixo, segue os gráficos das funções referidas próximo do x = 0.
y = x2
y = x2 cos( x1 )
y = −x2
L+M
Demonstração. Suponhamos, por absurdo, que L < M. Tomando K =
2
M −L
o ponto médio entre L e M , e escolhendo = = K − L = M − K,
2
então existem δ1 > 0 e δ2 > 0 tais que, para x ∈ X
Portanto, para x ∈ X com 0 < |x−a| < δ, tem-se (pela desigualdade triangular)
1 1
< δ e f ( ) = n2 ≥ n > M.
n n
Isso demonstra que f não é limitada no intervalo (−δ, δ), para qualquer
δ > 0.
1
b) Não existe lim 2
. De fato, pelo item anterior, f (x) = x12 não é limitada
x→0 x
em nenhum intervalo da forma (−δ, δ) com δ > 0, desta forma, pelo
1 1
Teorema 2.16, não existe lim 2 . Embora o limite lim 2 não exista (como
x→0 x x→0 x
um número), veremos depois que podemos dar uma interpretação ao
comportamento dessa função quando x → 0. Na Figura 2.3 podemos ver
o gráfico de f .
|M |
Demonstração. Consideremos = , como M 6= 0, logo > 0. Uma vez
242
Capítulo 2 Limites de funções
y
1
y=
x2 x
1
Figura 2.3: Gráfico de y = .
x2
|M |
0 < |x − a| < δ ⇒ |g(x) − M | < =
2
|M | |M |
⇒ M− < g(x) < M +
2 2
0 < M < g(x) < 3M , se M > 0
2 2
⇒
3M < g(x) < M < 0, se M < 0
2 2
|M |
⇒ < |g(x)|.
2
|M |
Desta forma, o resultado segue se tomarmos K = 2 .
1 1
v) lim = , se limx→a g(x) 6= 0;
x→a g(x) limx→a g(x)
43
Clessius Silva Análise Real
lim [f (x) − g(x)] = lim f (x) + lim [−g(x)] = lim f (x) − lim g(x).
x→a x→a x→a x→a x→a
44
Capítulo 2 Limites de funções
1 1
Portanto, lim = .
x→a g(x) M
45
Clessius Silva Análise Real
f (x) 1 1 L
lim = lim f (x) lim =L = .
x→a g(x) x→a x→a g(x) M M
|x − a| < δ1 ⇒ |g(x)| ≤ K.
Dado > 0 arbitrário, como lim f (x) = 0, existe δ2 > 0 tal que, para x ∈ X,
x→a
0 < |x − a| < δ2 ⇒ |f (x)| < .
K
0 < |x − a| < δ ⇒ |f (x) · g(x) − 0| = |f (x)| · |g(x)| < · K = .
K
1
lim f (xn ) = lim sen( ) = lim sen(2πn) = 0,
xn
e
1 π
lim f (yn ) = lim sen( ) = lim sen( + 2πn) = 1.
yn 2
47
Clessius Silva Análise Real
Assim, uma vez que lim xn = lim yn = 0 mas lim f (xn ) 6= lim f (yn ),
usando o Teorema 2.21, concluímos que limx→0 f (x) não existe. O gráfico
de f está esboçado na Figura 2.4.
1.5
0.5
f −0.5
−1
1
(b) A função h : X → R definida por h(x) = x·sen possui limite quando
x
1 1
x → 0, e neste caso, lim x · sen = 0. De fato, como g(x) = sen( )
x→0 x x
1
é limitada e lim x = 0, logo, pelo Teorema 2.20, lim x · sen = 0. O
x→0 x→0 x
gráfico de h está esboçado na Figura 2.5.
Para qualquer a ∈ R, não existe lim f (x). De fato, para qualquer a ∈ R, existe
x→a
uma sequência de números racionais xn 6= a e uma sequência de números
irracionais yn 6= a tais que lim xn = lim yn = a, mas nesse caso, lim f (xn ) = 0
e lim f (yn ) = 1. Portanto, pelo Teorema 2.21, não existe lim f (x).
x→a
48
Capítulo 2 Limites de funções
1.5
1
h
0.5
−1
(a) lim c = c;
x→a
(b) lim x = a;
x→a
p(x) p(a)
(e) lim = , se q(a) 6= 0.
x→a q(x) q(a)
Exemplo 2.26. Sejam p, q : R → R funções polinomiais e a ∈ R. Se p(a) =
q(a) = 0, então existem m, n ∈ N e funções polinomiais p̃, q̃, tais que
e
q(x) = (x − a)n q̃(x), com q̃(a) 6= 0.
(ii) Se m = n, então
p(x) (x − a)m p̃(x) p̃(x) p̃(a)
lim = lim = lim = .
x→a q(x) x→a (x − a)n q̃(x) x→a q̃(x) q̃(a)
p(x)
(iii) Se m < n, então o limite limx→a não existe. De fato, suponhamos,
q(x)
p(x)
por absurdo, que existe limx→a = L, então utilizando o Teorema
q(x)
2.19 obtemos
= L · 0 = 0,
Demonstração. Exercício.
Neste caso, lim+ g(x) = 1 e lim− g(x) = −1, e, pelo Teorema 2.36, não
x→0 x→0
existe lim g(x).
x→0
1
y= x x
lim f (x) = L,
x→+∞
com L um número real, quando para todo > 0 existir M > 0 tal que, para
x∈X
x > M implicar que |f (x) − L| < .
lim f (x) = L,
x→−∞
com L um número real, quando para todo > 0 existir M > 0 tal que, para
x∈X
x < −M implicar que |f (x) − L| < .
1 1
Exemplo 2.40. Afirmamos que lim = lim = 0. Para provar que
x→∞ x x→−∞ x
1
lim = 0, observe que, dado > 0 arbitrário, escolhemos M = 1 , daí
x→−∞ x
1 1 1
x < −M ⇒ x < − ⇒ 0 < − < ⇒ | − 0| < .
x x
1 1
Portanto, lim = 0. De maneira similar, podemos provar que lim = 0.
x→−∞ x x→∞ x
Veja a Figura 2.7.
55
Clessius Silva Análise Real
y
1
y= x x
1 1
Exemplo 2.42. Vimos no Exemplo 2.40 que lim = lim = 0. Usando
x→+∞ x x→−∞ x
uma adaptação da regra do produto do Teorema 2.19 para os casos x → +∞ e
x → −∞, concluímos que
1 1
lim = lim = 0,
x→+∞ xn x→−∞ xn
para todo n ∈ N.
an x n + · · · + a1 x + a0
lim ,
x→+∞ bm xm + · · · + b1 x + b0
an an−1 a1 a0
xm−n + xm−n+1 + · · · + xm+n−1 + xm+n
= lim ,
x→+∞ bm + bm−1 x + · · · + b1
xm−1 + b0
xm
assim, utilizando o Exemplo 2.42 e as regras de operações de limites
adaptadas para o caso x → +∞, concluímos que
an x n + · · · + a1 x + a0
lim = 0.
x→+∞ bm xm + · · · + b1 x + b0
Exemplo 2.44. Não existem os limites lim cos(x) e lim cos(x). De fato,
x→+∞ x→−∞
se considerarmos as sequências xn = 2πn e yn = π
2 + 2πn, então lim xn =
lim yn = +∞, entretanto os limites lim cos(xn ) = 1 e lim cos(yn ) = 0 são
diferentes. Desta forma, utilizando uma adaptação do Teorema 2.21 para o caso
x → +∞, concluímos que não existe lim cos(x). Para provar que não existe
x→+∞
lim cos(x) basta considerarmos as sequências xn = −2πn e yn = π
2 − 2πn.
x→−∞
Na Figura 2.8 está esboçado o gráfico da função cosseno.
lim f (x) = +∞
x→a
lim f (x) = −∞
x→a
1
y=
x2 x
1
Figura 2.9: Gráfico de y = .
x2
1 1
Exemplo 2.49. a) Afirmamos que lim+ = +∞ e lim− = −∞. Pro-
x→0 x x→0 x
1
vemos que lim− = −∞. De fato, dado K > 0 escolhemos δ = K1 ,
x→0 x
então
1
0−δ <x<0 ⇒ − <x<0
K
1
⇒ 0 < −x <
K
1
⇒ 0<− <K
x
1
⇒ < −K.
x
1
Isto prova que lim− = −∞. De maneira similar, podemos provar que
x→0 x
1
lim = +∞.
x→0+ x
59
Clessius Silva Análise Real
Quando vamos operar com limites infinitos, devemos ficar atentos, visto que
∞ não é número. Isto é, nem sempre dá para adaptar os resultados de limites
visto na Seção 2.1 para limites infinitos, por exemplo, se lim f (x) = +∞
x→a
e lim g(x) = +∞, não temos como determinar de maneira geral o limite
x→a
lim [f (x) − g(x)]. O próximo resultado pode nos ajudar a operar com ∞.
x→a
Demonstração. Provaremos apenas o item (i) e (ii), os outros itens serão deixados
como exercícios.
Observação 2.51. O teorema anterior pode ser adaptado, sem muita dificuldade,
para os casos “x → −∞”, “x → a”, “x → a+ ” e “x → a− ”.
Observação 2.52. De maneira informal, o Teorema 2.50 nos diz algumas “ope-
rações” que podemos fazer com o símbolo ∞, a saber,
• L · (−∞) = +∞ se L < 0;
• (−∞) · (−∞) = +∞;
• L + (+∞) = +∞, ∀L ∈ R;
• +∞ + (−∞) • 0
0
• −∞ − (−∞) • 1∞
• 0·∞ • 00
• ∞
∞ • ∞0
2.5 Exercícios
1. Prove, usando apenas a definição de limite, que
a) lim (x2 − 3x + 4) = 2; 1
x→2 e) lim = 1;
x→1 x
b) lim x3 = 8; x 2
x→2
f) lim = ;
c) lim senx = sena; x→2 x + 1 3
x→a
3x + 1 1
d) lim cos x = cos a; g) lim = .
x→a x→2 5x + 4 2
√ √
2. Prove que lim x= a, para todo a ≥ 0.
x→a
62
Capítulo 2 Limites de funções
2x + 1 2x + 1
a) lim = −2; c) lim− = +∞;
x→+∞ −x + 2 x→2 −x + 2
2x + 1
d) lim+ = −∞;
x→2 −x + 2
2x + 1
b) lim = −2; e) lim (x2 − 2x) = ∞.
x→−∞ −x + 2 x→+∞
8. Prove que lim+ f (x) = L se, e somente se, para toda sequência decres-
x→a
cente de pontos xn ∈ X com lim xn = a tem-se lim f (xn ) = L.
63
Clessius Silva Análise Real
64
Capítulo 3
Continuidade
d) As funções seno e cosseno são contínuas (em toda a reta real). Isso decorre
do Exercício 1 do Capítulo 2. 2
portanto
x ∈ X e |x − a| < δ ⇒ f (x) < M < g(x).
Demonstração. Basta utilizar o Teorema 3.6 com uma das funções identicamente
nula.
Demonstração. Pelo Teorema 3.6, para cada y ∈ Y existe δy > 0 tal que
daí,
[
Y ⊂X ∩( Iy ) ⊂ Y,
y∈Y
portanto
[
Y =X ∩( Iy ).
y∈Y
Y = X ∩ A.
Para o conjunto Z, observe que pelo que acabamos de demonstrar, existe um
conjunto aberto B tal que
Observação 3.16. Dizemos que uma função f definida num intervalo I satisfaz
a propriedade do valor intermediário se: para f (a) < d < f (b) com a, b ∈
I, existir c ∈ (a, b) tal que d = f (c). Em outras palavras, f satisfaz a propriedade
do valor intermediário se ela assume todos os valores compreendidos entre dois
outros valores assumidos por f . O TVI nos garante que toda função contínua
num intervalo satisfaz a propriedade do valor intermediário. No século XIX
71
Clessius Silva Análise Real
(α, β) ⊂ f (I).
Além disso, como α = inf f (I) e β = sup f (I), logo nenhum número menor
que α ou maior β pertence a f (I) (nos casos α = −∞ ou β = ∞ isso é um
abuso de notação). Sendo assim, f (I) é um intervalo com extremos α e β.
72
Capítulo 3 Continuidade de funções
em (−1, 1]; já a função f (x) = tan(πx− π2 ) leva o intervalo (0, 1) em (−∞, ∞);
por fim, a função g(x) = 1
x2 +1 leva o intervalo [0, ∞) em (0, 1]. Na próxima se-
ção veremos que uma função contínua leva intervalos compactos em intervalos
compactos (ainda que seja um conjunto unitário).
√
Corolário 3.19. (Existência de a.) Dados a ≥ 0 e n ∈ N, existe um único
n
√
c ≥ 0 tal que cn = a. Denotamos c = n a.
Corolário 3.20. Todo polinômio com coeficientes reais de grau ímpar possui ao
menos uma raiz real.
an−1 1 a1 1 a0 1
p(x) = an xn r(x), em que r(x) = 1 + + ··· + + .
an x an xn−1 an xn
Não é difícil verificar que lim r(x) = lim r(x) = 1. Portanto, como n é
x→+∞ x→−∞
ímpar
1
y= x x
f(a)
1
y= x f(b)
x
a b
Exemplo 3.25. Nesse exemplo utilizaremos alguns fatos sobre funções trigo-
nométricas que não foram demonstradas aqui, entretanto a consideraremos
verdadeiras e conhecidas apenas para uma melhor compreensão do assunto.
-π/2 π/2
é uma subsequência de (yn ) que converge para f (a) ∈ f (X). Isso conclui a
demonstração.
Demonstração. Pelo Teorema 3.26, f (X) é compacto, logo, pelo Teorema 1.49,
f (X) possui um maior e um menor elemento, ou seja, existem f (a), f (b) ∈
f (X) tais que f (a) ≤ f (x) ≤ f (b) para todo x ∈ X.
."De fato, dado > 0 com 0 < < 1, e tomando um δ > 0 arbitrário,
podemos escolher um número natural n > 1
δ e ainda a = 1
n ex= 1
2n .
Assim, temos |x − a| = 1
2n < δ, entretanto |f (x) − f (a)| = 2n − n =
n ≥ 1 > .
3.5 Exercícios
1. Mostre que a função valor absoluto f (x) = |x| é contínua em qualquer
ponto x ∈ R.
79
Clessius Silva Análise Real
6. Seja f : R → R.
a) p(x) = x3 − x + 3;
b) p(x) = x5 + x + 1;
c) p(x) = 4x2 − 4x + 1.
x2 + x − 6
12. Seja f : R − {2} → R, definida por f (x) = . Esta função
x−2
é contínua? É possível defini-la no ponto x = 2 de modo a torná-la
contínua em R?
15. Seja f : R → R uma função contínua tal que f (x) = 1 para todo x ∈ Q.
Mostre que f é constante. E se f (x) = x para todo x ∈ Q, o que se pode
afirmar sobre a função f ?
16. Seja f : [a, b] → R uma função contínua tal que f ([a, b]) ⊂ Q. O que se
pode afirmar sobre f ?
18. Seja f : [a, b] → R uma função contínua tal que, para cada x ∈ [a, b],
existe z ∈ [a, b] tal que |f (z)| ≤ 12 |f (x)|. Mostre que f possui um zero
em [a, b].
20. Seja f : [0, 1] → R contínua tal que f (0) = f (1). Mostre que existe
x ∈ [0, 1/2] tal que f (x) = f (x + 12 ). Sugestão: considere a função
φ : [0, 1/2] → R dada por φ(x) = f (x) − f (x + 21 ) e use o TVI.
21. Mostre que se f : [0, 1] → [0, 1] é contínua, então f admite pelo menos
um ponto fixo, isto é, existe x0 ∈ [0, 1] tal que f (x0 ) = x0 . Sugestão:
considere a função φ : [0, 1] → R dada por φ(x) = f (x) − x e use o TVI.
82
Capítulo 3 Continuidade de funções
22. Sejam a e b números reais tais que a < b e ab > 0. Seja f : [a, b] → [a, b]
uma função contínua. Mostre que existe um real x em [a, b] tal que
xf (x) = ab. Sugestão: Considere φ(x) = xf (x) − ab, prove que φ é
contínua e que muda de sinal.
23. Seja f contínua em [a, b] tal que f (a) < f (b). Se f é injetiva, prove
que f é estritamente crescente em [a, b]. Sugestão: suponha que f não é
crescente e prove, usando o TVI, que f não é injetiva.
24. Prove que não existe função contínua f : [a, b] → R que assuma cada
um de seus valores f (x), x ∈ [a, b], exatamente duas vezes.
83
Capítulo 4
Derivadas
f (x) − f (a)
f (x) = f (x) − f (a) + f (a) = (x − a) + f (a).
85
x − a
Clessius Silva Análise Real
logo para h 6= 0
r(h) f (a + h) − f (a)
= − f 0 (a),
h h
aplicando o limite, obtemos
r(h) f (a + h) − f (a)
lim = lim − f 0 (a) = 0.
h→0 h h→0 h
r(h)
Reciprocamente, se f (a + h) = f (a) + c · h + r(h) com lim = 0, então
h→0 h
r(h) f (a + h) − f (a)
0 = lim = lim −c ,
h→0 h h→0 h
portanto, f é derivável em a e
f (a + h) − f (a)
f 0 (a) = lim = c.
h→0 h
Exercício 4.6. 1. Prove que toda função constante é derivável e que sua
derivada é a função nula.
f (x + h) − f (x)
f 0 (x) = lim
h→0 h
(x + h) − xn
n
= lim
h→0 h
[x + nhxn−1 + h2 p(x, h)] − xn
n
= lim
h→0 h
n−1
= lim [nx + hp(x, h)]
h→0
n−1
= nx .
f (0 + h) − f (0) h sin( h1 ) 1
= = sin( ),
h h h
1
e como não existe lim sin( ) (ver Exemplo 2.22), logo f não é derivável
x→0 x
no ponto 0, embora seja contínua nesse ponto.
g(0 + h) − g(0) 1
g 0 (0) = lim = lim h sin( ) = 0.
h→0 h h→0 h
f (x) f 0 (a)
lim = 0 .
x→a g(x) g (a)
(c · f )0 (a) = cf 0 (a),
Por fim, vamos demonstrar a regra do quociente. Para isso, primeiro observe
que para x 6= a, como g é contínua em a e g(a) 6= 0, pelo Corolário 3.7
existe δ > 0 tal que g(x) 6= 0 para todo x ∈ (a − δ, a + δ) ∩ X. Assim, para
x ∈ (a − δ, a + δ) ∩ X
1 1
g(x) − g(a) g(a) − g(x) 1 (g(x) − g(a)) 1
= =− .
x−a g(x)g(a) x − a x−a g(x)g(a)
Tomando o limite com x → a dos dois lados da equação, obtemos
1 0 g 0 (a)
(a) = − . (4.1)
g g(a)2
Agora, usando a regra do produto e a regra acima, obtemos
f 0 1 0
(a) = f· (a)
g g
1 1 0
= f 0 (a) + f (a) (a)
g(a) g
f 0 (a) f (a)g 0 (a)
= −
g(a) g(a)2
f 0 (a)g(a) − f (a)g 0 (a)
= .
g(a)2
Isso conclui a demonstração.
90
Capítulo 4 Derivadas
g(f (x)) − g(f (a)) g(f (x)) − g(f (a)) f (x) − f (a)
= ,
x−a f (x) − f (a) x−a
Consideremos agora o caso em que não existe δ > 0 tal que f (x) 6= b para
todo x ∈ (a − δ, a + δ) ∩ (X − {a}), isto implica que existe uma sequência
xn ∈ X − {a} tal que xn → a e f (xn ) = b para todo n ∈ N. Desta forma, pelo
Teorema 2.21,
g ◦ f (xn ) − g ◦ f (a)
(g ◦ f )0 (a) = lim = 0,
xn − a
além disso,
f (xn ) − f (a)
f 0 (a) = lim = 0,
xn − a
disto segue que
(g ◦ f )0 (a) = 0 = g 0 (f (a)) · f 0 (a).
g(yn ) − g(b)
g 0 (b) = lim
yn − b
xn − a
= lim
f (xn ) − f (a)
−1
f (xn ) − f (a)
= lim
xn − a
0 −1
= (f (a)) .
Exemplo 4.14. Sejam n ∈ N e g : [0, +∞) → [0, +∞) a função definida por
√
g(x) = n x, então g é derivável em (0, ∞) e
1 1 −1
g 0 (x) = xn .
92
n
Capítulo 4 Derivadas
De fato, g é a inversa da bijeção f : [0, +∞) → [0, +∞) definida por f (x) = xn .
Escrevendo y = xn , pelo Corolário 4.13, então g 0 (y) = 1
f 0 (x) se f 0 (x) = nxn−1 6=
0, isto é, se x 6= 0. Dessa forma,
1 1 1 1 1 1 −1
g 0 (y) = n−1
= n−1 = 1 = yn .
nx ny n ny n
1− n
Mudando apenas a notação
1 1 −1
g 0 (x) = xn .
n
Se n > 1, g não é derivável no ponto x = 0 (exercício).
Demonstração. Temos
f (x) − f (a)
lim+ = f+0 (a) > 0.
x→a x−a
Logo, tomando = f+0 (a) > 0, existe δ > 0 tal que para x ∈ X
f (x) − f (a)
− f+ (a) < = f+0 (a)
0
a<x<a+δ ⇒
x−a
f (x) − f (a)
⇒ f+0 (a) − f+0 (a) < < 2f+0 (a)
x−a
f (x) − f (a)
⇒ 0<
x−a
⇒ f (a) < f (x).
Teorema 4.26. Darboux. Seja f : [a, b] → R derivável. Se f 0 (a) < d < f 0 (b)
então existe c ∈ (a, b) tal que f 0 (c) = d.
Teorema 4.27. Rolle. Seja f : [a, b] → R contínua, com f (a) = f (b). Se f for
derivável em (a, b) então existe c ∈ (a, b) tal que f 0 (c) = 0.
que
g(a) = f (a) − d · a
[f (b) − f (a)]
= f (a) − a
b−a
[f (b) − f (a)]
= f (a) + (−a + b − b)
b−a
[f (b) − f (a)] [f (b) − f (a)]
= f (a) + (−a + b) −b
b−a b−a
= f (a) + [f (b) − f (a)] − b · d
= f (b) − d · b
= g(b).
Portanto, g é contínua em [a, b], derivável em (a, b) e g(a) = g(b). Pelo Teorema
de Rolle, existe c ∈ (a, b) tal que g 0 (c) = 0. Por fim, observe que
g 0 (x) = f 0 (x) − d,
logo
0 = g 0 (c) = f 0 (c) − d,
isto é,
f (b) − f (a)
f 0 (c) = d = .
b−a
Isto conclui a demonstração.
O próximo resultado nos mostra condições suficientes para uma função ser
Lipschitziana.
portanto
|f (y) − f (x)| = |f 0 (c)||y − x| ≤ k(y − x).
99
Clessius Silva Análise Real
ii) Pelo menos argumento da item anterior, se f 0 (x) > 0 para todo x ∈ I,
então para x, y ∈ I com x < y,, pelo TVM, existe z ∈ I tal que
100
Capítulo 4 Derivadas
As recíprocas dos itens ii) e iv) não são verdadeiras, por exemplo, a função
f : R → R dada por f (x) = x3 é crescente, entretanto f 0 (0) = 0.
4.5 Exercícios
1. Em cada caso, use a definição para calcular f 0 (x).
1 1 1
a n − b n < (a − b) n .
13. Seja f : R → R diferenciável na origem tal que f (tx) = |t|f (x), ∀t, x ∈
R. Mostre que f ≡ 0.
0
14. Prove que se f : X → R é derivável e f 0 : X ∩ X → R é contínua no
ponto a então para quaisquer sequencias de pontos xn 6= yn ∈ X com
f (yn ) − f (xn )
lim xn = lim yn = a tem-se lim = f 0 (a).
yn − x n
102
Referências
[1] ÁVILA, Geraldo. Introdução à análise real. São Paulo, Blucher, 1999.
[3] LIMA, Elon Lages. Análise Real volume 1. Projeto Euclides, 2008. 1.55
103