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Análise das Obras Indicadas ao Vestibular

Prof. Marco Antonio Mendonça


A Palavra Algo (Luci Collin)

A literatura paranaense (Paulo Venturelli - 07/02/2013)


O escritor e professor de literatura da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Paulo Venturelli faz uma
análise da manifestação literária no Paraná, citando os principais autores e obras
Existe uma literatura paranaense ou o mais apropriado é pensarmos em literatura no Paraná? Se
recorrermos a Antonio Candido, ele indica que para haver uma literatura ela precisa ter “tendências
universalistas e particularistas.” O mesmo crítico distingue manifestações literárias de literatura
“propriamente dita, considerada aqui como sistema de obras ligadas por denominadores comuns.” Tanto no passado, como no
presente, existe tal sistema aqui? E que denominadores comuns haveria entre os escritores de ontem e os de hoje?
Outro dado que o mesmo crítico nos propõe: a existência de um conjunto de produtores literários mais ou menos conscientes
de seu papel; um conjunto de receptores, formando os diferentes tipos de públicos; um mecanismo transmissor (uma linguagem
traduzida em estilos), que liga uns a outros. Quanto ao conjunto de produtores, não há dúvida que o temos. Haja vista o bom
número de escritores que produzem por aqui. Mas há um conjunto de receptores? Para pensarmos num dado concreto: a escola
paranaense estuda nossos autores, como acontece, por exemplo, no Rio Grande do Sul? Ou simplesmente se submete ao
esquema viciado das editoras (do mercado) que impinge certo número de escritores, sem a mínima preocupação com o rótulo
de “paranaense”?
Para Antonio Candido, a literatura como sistema precisa de uma “interpretação das diferentes esferas da realidade.” Nossos
autores têm em sua bagagem esta preocupação de olhar para nossa realidade, de procurar de um jeito ou de outro, pelo viés
estético, interpretar quem somos, o que fazemos? Quando Curitiba ou outra cidade aparece como cenário, ela não passa disto,
pano de fundo, sem que as sondas do autor penetrem nas camadas mais fundas da(s) cidade(s), não havendo intenção em
trazer à tona as feições mais contraditórias do que nos constitui? Só para ficarmos num patamar visível: o que se escreve por
estes recantos é essencialmente urbano, centrado no homem branco e burguês e em suas idiossincrasias. Onde está o campo? o
negro? o gay? e o caldeirão de misturas étnicas que é um traço de nosso povo?
Antonio Candido afirma que “sem esta tradição não há literatura, como fenômeno de civilização” e “sob a perspectiva
histórica” é necessário “um sistema articulado”, “conjuntos orgânicos”, “expressão da realidade local.” Em nosso meio literário,
existiria tal sistema articulado? Procurando bem, que pontos de contato há entre os diversos autores de nosso Estado que
possuem uma produção constante ou sazonal, criando aquele “conjunto de obras” a que o crítico se refere, não bastando para
tanto, haver apenas certo número de escritores?
Nesta toada, por que e para que ser paranaense? Seria mesquinho demais para nossas cabeças coroadas. Estar no Paraná é
apenas uma contingência, quando os olhos se voltam para os amplos horizontes do mundo, lá querendo chegar com uma
literatura universalista e nunca particularista, o que seria um demérito que fatalmente levaria para um regionalismo que sequer
faz sentido hoje em dia. Por outro lado, poderíamos ser paranaenses sem o ranço do regional, assim como os gaúchos são
gaúchos e os nordestinos são nordestinos, com marcas específicas que os engrandecem e não os diminuem no cenário nacional?

Marco-zero
Quase sem dúvida, podemos dizer que o primeiro grande passo de nossa literatura está em Newton
Sampaio (1913-1938). Morto em plena juventude, aos 24 anos, ele nos deixou uma obra pequena,
mas de fôlego potente. No romance, nos legou Trapo, do qual publicou alguns trechos em periódicos
da época e Dor, que ficou incompleto, sendo estampado no Correio dos Ferroviários. Tem também
duas novelas, mas o marco principal de seus escritos está no conto, podendo ser considerado, entre
nós, o precursor do conto urbano. E neste gênero, se destacam Irmandade (1938) e Contos do sertão
paranaense (1939).
Irmandade, sendo uma obra-prima, é impactante. Os contos têm ação rarefeita, lidam com gente
do interior e apresentam aquilo que podemos chamar de estética da secura, pela redução ao mínimo
do que ele escreve. Há personagens com pretensas obras passadas, porém, estão presos a um
presente sufocante e sempre adiando um sonho de realização para um futuro que nunca vem.
“Cântico”, que é um poema em prosa de feição lírica, tem este efeito quebrado quando o narrador
retoma a palavra e diz que o texto saiu um tanto “bolchevista” e, andando pela cidade, cria chaves poéticas para o que vê. Na
narrativa “Castigo”, com um acento um tanto expressionista, encontramos um pai de vistas nubladas, alimentando desejos
incestuosos pela sua filha, numa Sexta-feira Santa. Religiosidade e luxúria se irmanam num olhar que já perdeu o contorno das
coisas.
De um modo geral, a ação dos diversos contos não desliza pelas páginas. Ela é dada em pequenos tópicos-relâmpagos, numa
técnica de dizer o mínimo e nas entrelinhas o não-dito tem uma funcionalidade excepcional, em contos que são analógicos.
No subterrâneo das vidas o não- -ser, a agonia, a promiscuidade do cotidiano, até a luz sombria de “Inspiração”, um conto
metalinguístico, em que Damião escreve, discute o seu texto e o uso adequado ou não do pleonasmo. A senha do mundo é o
mundo suburbano e não seria exagero lançar pontes entre Newton Sampaio e Lúcio Cardoso. E, numa visada atrevida, este
Irmandade, deve ter tido um impacto no primeiro Dalton Trevisan.

Um porto chamado Joaquim


Sem dúvida alguma, o segundo grande passo para a consolidação de nossa literatura é a revista
Joaquim (1945-48). No seu primeiro número, traz o “Manifesto para não ser lido”, formado por
citações que vão de Rilke a Verlaine. Um artigo sobre Poty, com autorretrato do artista. Alguns
“Apontamentos para uma entrevista sobre teatro”. O poema “O Desespero da piedade”, de Vinicius de
Morais. “Eucaris a dos olhos doces”, conto de Dalton e o primeiro trecho de um artigo de Erasmo Piloto
sobre Tólstoi, entre outros.
Antes de Joaquim houve o que se pode chamar de geração romântica em que se destacam Fernando
Amaro e Júlia da Costa, com seus dois livros: Flores dispersas(1967) e Bouquet de violetas (1868).
Repudiada por seu marido, sofreu de demência no final da vida, vindo a falecer em 1911.

Dalton, Snege: mestres


Autor de extensa obra, Dalton Trevisan trabalha com personagens que, digamos assim, estão a um grau zero da sexualidade,
sobre a qual parece não incidir nenhum tipo de injunção social. São puro instinto, arrastados pela pulsão do gozo. Por outro
lado, surgem os papéis sexuais, impulsionados pela teatralidade social. Entre um polo e outro, o sexo é apenas sexo, não gera
nem plenitude, nem o absoluto, sendo que João e Maria, longe do exercício do encontro como complementação e implemento
de vida, caem numa épica trivial de personagens que só encontram o vazio. Ou como diz Carlos Heitor Cony: “Dalton Trevisan
não usa a literatura para salvar ou acusar o homem, apenas para aproximá- lo de nossa retina, mostrá-lo a nós mesmos, e
através de diferentes planos, através de diferentes retratos, constatarmos que somos iguais a ele”. Na obra de Dalton, Eros anda
à solta. Em Cemitério de elefantes, “está traçada (...) toda a problemática de tabus, amor e morte, toda a economia de sexo e
violência que será recorrentemente retomada. Castrações e traumas, que permeiam o universo criado, estão em Cemitério de
elefantes ainda latentes e a fala dos recalques que aflora é, sobretudo constituída pela violência. O discurso da perversão, dos
comportamentos sexualmente desviantes, será mais explorado (...) em outros livros.”
Jamil Snege é outro destaque de primeira linha em nossa literatura. Dono de uma prosa lírico-irônica, Jamil é um dínamo de
inovação, fazendo de sua prosa uma explosão e implosão de gêneros. Com uma obra não muito numerosa, o que nos deixou
marca pela inventividade, pelos recursos surpreendentes de uma prosa inovadora, inquieta, insubmissa aos cânones, sempre a
apontar novos caminhos. Destacamos Como eu se fiz por si mesmo, suas “memórias”, em que passa a limpo o percurso de sua
vida, gargalhando, com aquele humor ferino que sempre o marcou. O insólito é seu campo de experimentação, predominando o
absurdo em seus contos “em que as leis da física são rompidas”. Escrevendo com uma tintura simbólica, mergulha nas
contradições e conflitos de nosso histrionismo cotidiano. Com um olho aceso no homem comum, desveste-o de suas ilusões, e
marca com ferro em brasa o real cartesiano e traz outra dimensão para o mundo em que habitamos, enredados em nossas
máscaras que ele desfaz com precisão cirúrgica.

Tezza, Gomes e Bueno


Em O filho eterno, Cristovão Tezza, debruçado sobre uma experiência pessoal, a recria pelo humor e por traços irônicos,
enquanto, ao mesmo tempo se pergunta sobre o porquê da série de “fatos” que narra. O romance não deixa de ser uma
reflexão sobre os inesperados da vida. Com uma obra já consolidada, que não precisa provar mais nada a ninguém,
ultrapassando as fronteiras do Estado e a dicção provinciana/pessoal da “primeira fase” (até Juliano Pavollini), o autor trabalha
com elegância e sutileza sua linguagem em romances centrados em figuras de intelectuais descentrados, em que a angústia pelo
seu destino e sua prática existencial são a tônica. Outro autor que tem uma obra consolidada é Roberto Gomes. Desde a
temática dos anos 1960 de Antes que o teto desabe, passando por questões político-sociais, como em Os dias do demônio,
dando atenção ao mundo perdido da infância: Todas, as casas Roberto Gomes ainda se firma na sátira ao mundo
acadêmico: Alegres memórias de um cadáver.
Também merece atenção especial Wilson Bueno. Certamente é aquele que, entre nós, atingiu a mais alta voltagem estética, já
que manipula uma inovadora poética romanesca, capaz de apontar novos caminhos para este gênero, diluindo conceitos e
trazendo à luz obras que, como Mar paraguayo, enaltecem a arte de escrever com seu arrojo do novíssimo. Com uma obra
marcante desde Bolero´s Bar, até o póstumo Mano, a noite está velha, Wilson Bueno sempre mostrou-se inquieto e inventivo na
busca de novos caminhos para a narrativa. Insuflando-lhe um espírito inovador, este escriba vai de encontro aos profetas que a
todo momento aparecem decretando o fim do romance ou o fim da literatura.

Campana, Leminski e Luci


Gostaríamos de destacar também Fábio Campana, em especial o seu O guardador de fantasmas. Neste romance, o autor faz
um mergulho no projeto revolucionário que não desfez o oco interior do personagem. O susto de acordar pela manhã
estatelado de incompletude, os atritos abrindo covas de insatisfação. O sexo triste de quem busca complementação e encontra
apenas a mecânica fisiológica dos sentidos. Massacrado pelo pai, massacrado pela ditadura, o personagem anda zonzo por um
terreno turvo. Na cena da tortura, o autor consegue uma objetividade, uma frieza de quem demonstra o fato, sem envolver-se
com ele. É como se o narrador se afastasse do que apresenta, lavando as mãos, não por covardia, mas por absoluta necessidade
de, revelando as peças de um jogo maldito, deixar ao leitor a tarefa de colocar ali toda a carga significativa da própria cena.
Paulo Leminski. O artista com as garras enterradas no barro de todas as latitudes para dali tirar um modelo adequado ao seu
dizer. Poeta, romancista, tradutor, ensaísta. Sempre polêmico. Mesmo após sua morte, a herança que nos deixou continua a
provocar fissuras, como comprova a recentíssima publicação de Toda poesia que voltou a levantar a voz do coro dos
descontentes. Inquieto, renovador, desmontou o cânone (por isto encontra tantos rivais) e, de Bashô a Mishima, criou sua
dicção própria, usando filosofemas orientais e ironizando todos os medalhões. Nunca foi um conformista. Trilhou também nos
ensaios um caminho muito pessoal e nele imprimiu o gosto próprio de mexer nas vacas sagradas para mostrar que trazia um
pensamento renovador, em especial para a literatura.
Luci Collin é uma escritora em busca de inovações. Sob o influxo de Gertrud Stein, procura novas formulações para o conto,
tanto que consta da antologia 25 mulheres de estão fazendo a nova literatura brasileira, organizada por Luiz Ruffato e
publicada pela Record em 2004. Collin também se dedica à tradução. Nesta área, traduziu a inclassificável poeta irlandesa
Eiléan Ní Chuillleanáin que implode nosso conceito de poesia. Traduzindo, também se destaca o trabalho que fez com
e.e.cummings, vertendo para o português A cela enorme, livro publicado pela Editora da UFPR e único trabalho em prosa
deste poeta mirabolante. Nos contos, nada de enredo, de digressões, de descrições. Seja em Precioso impreciso ou Inescritos,
Luci Collin leva ao máximo a imprecisão e, ao mesmo tempo, tem algo do noveau roman francês: uma câmera captando
objetivamente o mundo, sem se deter em coisa alguma, sem buscar a essência do que seja. Como vivemos num enorme
shopping center, os narradores vão-nos mostrando um empilhamento de pequenos fatos e cenas, por trás das quais temos de
adivinhar o que está sendo descrito. Mais que contos, são propostas, que chamam o leitor para dentro do seu universo e ali
ele precisa montar os delineamentos construídos pela autora. Cerebrais, não cedem a um enredo de primeira montada e
exigem que toda a inteligência do leitor seja chamada, para construir com os narradores a “história” que nunca é história,
porque a autora sonda uma nova forma de ser do conto. Com frases aparentemente sem coadunação, apenas jogadas num
mar de lirismo que de repente se torna o clima da “narrativa” que muitas vezes se aproxima do poema em prosa.

Dinho, Karam e Sanches


Nesta nossa viagem, paremos na estação Domingos Pellegrini. Ele começa como um autor engajado, o que fica demonstrado
em O homem vermelho, em que consta um dos contos mais refinados de nossa produção atual: “O encalhe dos 300”. Seu
mundo acerca- -se tanto do sertão como do centro urbano e várias vezes da chácara onde vive. Com um olhar agudo para os
aspectos sociais do Brasil, nos dá uma obra-prima como Terra vermelha que, nas palavras de Affonso Romano de Sant´Anna,
“adiciona um elemento a mais para se entender a formação brasileira. Assim como o fez Erico Verissimo nos seus conhecidos
romances históricos, Pellegrini está recriando a `terra vermelha´do Paraná, o `eldorado´para onde foram colonizadores das mais
variadas etnias e nacionalidades.” Para quem teve oportunidade de assistir as peças de Manoel Carlos Karam, no saudoso Teatro
de Bolso, elas eram demolidoras, porque também no teatro Karam não se conformava com as regras estabelecidas e propunha
uma nova dicção que encantava e intrigava. Escreveu inúmeras peças que esperam por uma reunião em livro. Contudo, o teatro
para ele foi “um caminho para a literatura, este sempre foi meu projeto, ser escritor de livros”. Ele prossegue: “A possibilidade
de recombinação do real, de poder fazer que os personagens façam o que você talvez não fosse capaz de fazer é fantástico”.
Este sentimento do fantástico talvez seja o responsável pelo teor de absurdo e surrealismo apresentados em seus escritos.
“O humor de Karam varia do absurdo à alusão literária, da gozação de clichês a associações, do lírico ao curto e grosso. Em
boa parte exige cultura. Mas para o resto basta inteligência”, assevera Ernani Ssó, na orelha de O impostor no baile de máscaras.
Deonísio da Silva, em resenha sobre este mesmo livro, não tem dúvida em afirmar que Karam é “uma das maiores revelações da
literatura nos anos 1980. Ele trouxe um problema danado para críticos e professores de literatura”, (Jornal da Tarde, 1992).
Nesta mesma resenha, Silva se distende pela audácia de Karam, pela dissidência em face de antigos modelos que a tradição
literária consagrou. “Seu riso é catártico, político. Seu deboche vitupera outros alvos, postos além daquelas conhecidas
instituições, já calejadas de tanto receberem críticas mordazes.”
Miguel Sanches Neto era um crítico de ponta, quando surpreendeu o público “desviando-se” para o plano ficcional. Tem
percorrido vários caminhos, numa multiversação que demonstra sua capacidade de lidar com vários discursos em diálogo
permanente com os mais diversos temas: o romance histórico (Um amor anarquista, A máquina de madeira); a novela policial (A
primeira mulher); a introspecção mais autobiográfica (Chove sobre minha infância); o conto (Hóspede secreto); a crônica
(Herdando uma biblioteca, Impurezas amorosas); e um roman à clef ou key novelem que o personagem central aparece sob
outro nome, porém já muito revelado pelo título: Chá das cinco com o vampiro, em que satiriza e tenta demolir vários escritores
de Curitiba. Confessamos que este trabalho nos incomodou muito, porque criou um ninho de vespas e ao lê-lo elas voaram e
nos picaram por todo o corpo. Talvez até tenhamos sido injustos com certas críticas que fizemos ao romance em eventos. Agora,
passado algum tempo, estamos certos que uma das funções da literatura é realmente incomodar, nos tirar do conforto de
nossas posições e sendo assim, vemos o romance como um ato de coragem de enfrentar certos figurões, pelo menos para
despertar a sempre saudável polêmica.
E os novíssimos?
E o que falar a respeito dos novíssimos? Existem gerações de escritores no Paraná, uns mais maduros, outros em plena
juventude. Citaremos alguns nomes, correndo o risco de esquecer outros e principalmente ignorar aqueles cuja obra ainda não
caiu em nossas mãos.
Carlos Machado, cujo quarto livro, em nossas contas, é a novela Poeira fria, com um narrador em crise e sua fala com o
terapeuta sobre o vazio e a falta de sentido de tudo; Maria Célia Martirani, com os contos de Para que as árvores não tombem
de pé, em que “narra poemas e poetiza a narrativa” e que, no dizer do professor Marcelo Franz, trabalha com “o fabulesco a
serviço de uma exaltação do dizer em suas amplas potencialidades”. Paulo Sandrini, escrevendo suas alegorias tortuosas sobre
países de miragem, pretexto estético para criticar as mazelas e desmandos de um lugar chamado Brasil. Da obra deste escritor,
podemos destacar Osculum obscenum e O rei era assim; Assionara Souza, que mergulha no delírio do experimento verbal,
quebrando as baias do gênero: Cecília não é um cachimbo, Amanhã. Com sorvete e Os hábitos e os monges; Guido Viaro (neto)
que já tem mais de dez romances publicados e, aleatoriamente, escolhemos para este panorama O quarto no universo e No
zoológico de Berlim, um livro sobre um homem preso que, mesmo atrás das grades, luta para que sua alma não acompanhe seu
corpo, e o lançamento há poucos meses de Confissões da condessa Beatriz de Dia; Cezar Tridapalli — ele já nos mostrou sua arte
com o intrigante Pequena biografia de desejos e está com um original novo, que tivemos a oportunidade de ler e é um romance
do mais alto quilate e que, quando publicado, marcará nossas letras, pela alta densidade literária; Marcio Renato dos Santos,
cujos contos primiciais estão reunidos em Minda-au, mas que diz a que veio no novíssimo Golegolegolegolegah!; Luís Henrique
Pellanda — já nos deixou O macaco ornamental, de contos, e Nós passaremos em branco, de crônicas, e é o responsável pela
organização dos dois volumes das melhores entrevistas do Rascunho; Regina Benitez, falecida e jogada no ostracismo foi
resgatada por Paulo Sandrini, que publicou Mulher com avestruz e A moça do corpo indiferente, contos em que a solidão da
condição feminina é a têmpera primeira da escritora; Marcelo Sandmann, poeta. Em seu último livro, Na franja dos dias,
apresenta um trabalho poético extraordinário, impactante pela modernidade/contemporaneidade e pelo tráfego solto por
temas corriqueiros ou metafísicos. É um livro que está por merecer maior atenção. E por falar em poesia, não podemos deixar
de lado a antologia de poetas contemporâneos do Paraná, Passagens, organizada por Ademir Demarchi e publicada em 2002 nos
traz 26 poetas. Pela inquietação e verve novidadeira, marcamos a presença de Adriano Smaniotto; Carlos Dala Stella com seu
suntuoso O gato sem nome; não podemos esquecer o nome de Maurício Arruda Mendonça com seu Epigrafias.
Ainda no campo da poesia, é óbvio que não podemos deixar de lado um nome da maior importância entre nós: Helena
Kolody. Na aparente simplicidade de sua poesia, temos um trabalho de cunho estético-ideológico, com uma imagística muito
pessoal, por meio da qual repassa o mundo e as suas experiências.

O múltiplo Leprevost
Luiz Felipe Leprevost, da nova geração, tem produção em vários gêneros literários, do conto ao teatro.
Estas “linhas”, com as mais diversas dicções e efeitos nos entusiasmam e mostram que nossa literatura vai bem, independente
dos centros maiores. Contudo, queremos ressaltar o escritor que, entre todos os novos, conseguiu demarcar sua presença com
uma linguagem muito pessoal e demolidora, além de aguda originalidade no que tem publicado. Referimo-nos a Luiz Felipe
Leprevost. Trazendo à discussão o Manual de putz sem pesares, vemos que ele navega por aquela presentificação a que já nos
referimos e pela violência que, segundo Karl Erik Schollhammer, é um dos temas principais da literatura brasileira atual.
Os personagens de Leprevost vivem uma vida vazia de sentido e para cobrir este vazio, lá vem a droga, o álcool, a estupidez de
um cotidiano sem projeto e sem guarda. Podres nesta vida, tais criaturas estão amortecidas pela padronização, robotizados em
seus “sentimentos”, são seres desindividualizados e emparedados por estruturas de alienação. Nada lhes salva e, na verdade,
ninguém está preocupado em salvar- se desta não-vida, se contentando em rastejar pelo chão duro de uma realidade de quem
não atingiu a rigor o nível da humanidade. A satisfação burra vem de um baseado, da cachaça, da cocaína, da pancada na cara
do outro, pois assim encontram adrenalina e investidos por ela, pensam cobrir o buraco de seu dia a dia.
O contista lança um agudo olhar sobre a Curitiba oficial. A Curitiba do Primeiro Mundo. A Curitiba como exemplo para outras
cidades. A Curitiba para AS FAMÍLIAS. O autor desmonta estes mitos e vai fundo nas feridas sociais de uma cidade que tem o
maior índice de drogados jovens, entre as capitais, segundo a fala de um candidato a prefeito nas últimas eleições. Leprevost
mostra os cadáveres ambulantes. Não enfeita a janela pela qual vê o mundo e a cidade. Leprevost escreve de maneira solta,
jovem, divertida, sem julgar nada, sem ser moralista. Enfia o bisturi e deixa o sangue envenenado escorrer. Um manual de
sarcasmos, ironia, escrita ligeira e muitos putz... Com todas as falhas possíveis, com todas as ausências lamentáveis, porque não
conhecemos a obra ou, conhecendo- a, não a lemos, reconhecendo nossos limites, com a estreiteza comum a um rápido ensaio,
tentamos abarcar o que nos foi possível. Não tivemos aqui a pretensão da última palavra. Apenas levantamos diversas meadas,
dentro daquilo que é de nossa alçada e o que foge dela com certeza tem muito mais amplitude. Demos apenas um passo para
comemorar os dois anos de Cândido. E esperamos que esta publicação se mantenha e não sofra com os vaivéns da política. Que
a literatura que é seu eixo se fixe acima de qualquer interesse de grupo e muitos aniversários possam vir e muitas outras vozes
mais competentes que a nossa sejam ouvidas.
http://www.candido.bpp.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=26
Biografia
Nascida em Curitiba, PR, em 1964, filha de mãe professora.
Graduou-se no Curso Superior de Piano/Performance (Escola de Música e Belas Artes do
Paraná, 1985), no Curso de Letras português/inglês (Universidade Federal do Paraná, 1989), e
no Bacharelado em Percussão clássica (Escola de Música e Belas Artes do Paraná, 1990).
Concluiu o Mestrado em Letras/Literaturas de Língua Inglesa na UFPR (1993) com a
dissertação "The quest motif in Snyder's The Back Country", o Doutorado em Estudos
Linguísticos e Literários em Inglês na Universidade de São Paulo (2003) com a tese "A
composição em movimento: a dinâmica temporal e visual nos retratos literários de Gertrude
Stein" e dois estágios de Pós-doutoramento em Literatura Irlandesa na USP (2010 e 2017). É
Professora Associada no Departamento de Letras Estrangeiras Modernas da UFPR, onde
trabalha desde 1999. É Membro da Academia Paranaense de Letras ocupando a Cadeira n. 32.
Em 1984 lançou seu primeiro livro, Estarrecer (poesia), recebido com críticas muitos
positivas, como as seguintes:
• "Você tem talento demais e isso será reconhecido, estou certo, mais dia menos dia. Sem favor, sem delicadeza, sem
charme, você é um Poeta. Com P grande... Foi uma alegria descobrir você.” DIAS GOMES
• "Minha opinião? Sincera? 'meu Deus ela tem 19 anos só?! que mulher, que mulher!" HENFIL
• "Estou admirado com o nível técnico desta jovem poeta, nesta geração que pensa que qualquer coisa é poesia." PAULO
LEMINSKI
Ao longo de mais de 30 anos de carreira, Luci Collin escreveu artigos e ensaios para diversos jornais e revistas literárias,
participou de antologias nacionais e internacionais (EUA, França, Alemanha, México, Argentina, Peru, Uruguai), e recebeu
prêmios de concursos de literatura no Brasil e nos EUA. Representou o Brasil no Projeto Literário no EXPO 2000 em Hannover,
Alemanha. Também traduziu autores como Gary Snyder, Gertrude Stein, E. E. Cummings, Eiléan Ní Chuilleanáin, Vachel Lindsay,
Jerome Rothenberg e Moya Cannon, entre outros.
Obras: Estarrecer (1984, editora Astarte); Espelhar (1991, editora SEEC); Esvazio (1991, editora Do Autor); Ondas Azuis (1992,
editora Do Autor); Poesia Reunida (1996, editora Alcance); Lição Invisível (1997, editora SEEC); Todo Implicito (1997, editora
Alcance); Precioso Impreciso (2001, editora Ciência do Acidente); Inescritos (2004, editora Travessa dos Editores); Vozes num
Divertimento (2008,editora Travessa dos Editores); Acasos Pensados(2008, editora Kafka Edições) e Com Que se Pode
Jogar (2011, editora Kafka Edições). Fonte da biografia: wikipedia

Do tom irônico à força imagética (Folha de Londrina - Marian Trigueiros - 18/11/2017)


"Estou admirado com o nível técnico desta jovem poeta, nesta geração que pensa que qualquer coisa é poesia", elogiou, nada
menos que Paulo Leminski no início da década de 80, quando a escritora curitibana Luci Collin lançou seu primeiro trabalho de
poesias, "Estarrecer", em 1984. Desde então, ela tornou-se um dos nomes mais respeitados da literatura contemporânea do
Paraná. "A Palavra Algo", de sua autoria, acaba de ser premiado em segundo lugar na categoria Poesia na 59ª edição do Prêmio
Jabuti, o mais importante da literatura brasileira. A festa ocorre no próximo dia 30 de novembro, em São Paulo, quando outros
paranaenses também serão premiados.
No livro em questão – na qual a crítica destacou seu tom irônico, a
coloquialidade de alguns poemas e a imagética que reforça a intenção
reflexiva dos textos - se mantém fiel às técnicas ao longo de 122 páginas.
Luci Collin é formada em Letras Português/Inglês pela UFPR (Universidade
Federal do Paraná), doutora em Estudos Linguísticos e Literários em Inglês e
pós-doutora em Literatura Irlandesa pela USP (Universidade de São Paulo).
Também graduou-se no Curso Superior de Piano/Performance e Percussão
Clássica pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná.
"A Palavra Algo' é um livro menos experimental, em termos de forma, do
que os meus primeiros livros, mas se aproxima bastante, em estilo, das
minhas publicações em poesia mais recentes, como o 'Trato de Silêncios'
(2012) e o 'Querer Falar' (2014 – Finalista do Prêmio Oceanos)", comenta a
escritora, ressaltando que a obra não explora ou tem a prevalência de um
tema mais marcante. "Contudo, em relação aos anteriores, possui poemas
que apresentam uma tendência mais política e um olhar mais crítico sobre
determinados assuntos", diz ela, que acaba de lançar o livro de contos "A
Peça Intocada" (2017), pela editora Arte & Letra.
Embora suas obras de destaque sejam referências em poesia, Collin
possui uma grande produção de contos e romances, além de ter escrito
artigos e ensaios para jornais e revistas literárias. "Não tenho, na minha
produção literária, nenhuma restrição quanto a gênero. Venho publicando,
desde o início da minha carreira, poesia e prosa. Também já me aventurei pelo drama e tive algumas peças encenadas. Escrevi
uns (poucos) roteiros para TV e ano passado concluí, em parceria com o compositor paulista Rodolfo Coelho de Souza, o libreto
de uma ópera. Então, gosto do desafio da nova forma, sim, mas o desafio e o estímulo maiores serão sempre o estar com o
outro por meio do texto literário", sintetiza.
Paraná em evidência
O prêmio Jabuti, sem dúvidas, volta os olhares à produção do Estado o que, segundo a escritora, ajuda a romper cada vez
mais a invisibilidade que sempre marcou a produção fora do eixo Rio-São Paulo. "Temos grandes nomes de expressão nacional
há muito já sedimentados, como Dalton Trevisan, Domingos Pellegrini, Alice Ruiz, Cristóvão Tezza, Laurentino Gomes e Paulo
Leminski, que lograram vencer essas barreiras culturais, mas alguns outros valores – como Helena Kolody, Valêncio Xavier,
Wilson Bueno, Jamil Snege e Manoel Carlos Karam - permaneceram mais restritos ao público e à cena paranaense", comenta,
acrescentando seu otimismo na produção literária com as próximas gerações.
Apesar de nomes consagrados, ela considera que a poesia seja pouco lida e recebe pouca atenção da crítica no Brasil, ainda
que dimensionar com propriedade a questão da proximidade entre público leitor e a poesia seja bastante difícil. "Nesse sentido,
as publicações em mídia virtual correspondem a uma alternativa de publicação impactante e que tem ajudado em muito na
divulgação da literatura – são jornais literários, revistas, sites especializados em literatura, cursos online que representam hoje o
acesso a um público mais amplo e mais diversificado. Quanto às publicações em papel, vão gradualmente se tornando uma das
possibilidades em meio a outras – isso, ao meu ver, é muito positivo".
Mulher na literatura
A ascensão da participação feminina no mundo se deu e se dá em vários setores e, na literatura, não tem sido diferente,
apesar do espaço ainda não ser compatível com a produção. "Nós mulheres, em praticamente todas as estruturas culturais das
sociedades humanas, passamos por séculos de submissão ao homem e na literatura isso sempre incidiu de modo evidente". Mas
para ela, aos poucos, as mulheres estão conseguindo mostrar sua produção e conquistar seu espaço. "Muitas – como as
surpreendentes Elvira Vigna e Maria Valéria Rezende – são representantes contemporâneas de tantas outras vozes femininas
que as sucederam, abalaram a hegemonia dos nomes masculinos no mercado editorial, conquistando leitores, prêmios
importantes e projeção".
Prêmio Jabuti
Divulgado há pouco mais de duas semanas, os vencedores de outras 28 categorias no Prêmio Jabuti foram anunciados e o
Estado também foi destaque com os prêmios de Cristovão Tezza, segundo lugar na categoria Romance com o livro "A
Tradutora"; e Renato Forin, terceiro lugar na categoria Adaptação com o livro "Samba de Uma Noite de Verão". O designer
gráfico londrinense Willian Santiago foi responsável pela ilustração de "O Sétimo Gato", de Luis Fernando Veríssimo, segundo
lugar na categoria livro digital, e o livro "Ana amopö – Cogumelos Yanomami", que venceu na categoria Gastronomia, foi
comandado pela pesquisadora do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia Inpa), a doutora Noemia Kazue Ishikawa,
de Londrina.

CARACTERÍSTICAS MAIS MARCANTES DA AUTORA


"Luci não parodia explicitamente, mas cita diversos poetas como Fernando Pessoa, Mallarmé, Casimiro de Abreu. Nessas
citações, a poeta parece ter encontrado “a amenidade do velho e a agitação de um menino ao repetir gestos que duplicam o
pouso”. E Luci duplica o voo desses poetas. Em “A Palavra Algo”, Autopsicografia, de Fernando Pessoa, se transforma em
Deveras e assim inicia: “O poeta finge/ e enquanto isso/ cigarras estouram/ pontes caem/ azaleias claudicam”.
"Luci se vale também de frases banais, provavelmente lidas em placas espalhadas pela cidade, e com elas constrói o
poema Orçamento Sem Compromisso, no melhor exemplo de “escrita não criativa” contemporânea: “Compro ouro/ Cobrem-
se botões/ Compro e vendo cabelo/ X-calabresa/ Porção e executivo/ Piso escorregadio”. A poeta não “se incomoda” em não
ser criativa, parece saber que, como se lê no poema Imortalha, “todos os termos foram inventados”."
Há, na poesia de Luci Collin, muito das influências da poesia concreta e da poesia marginal, mesmo a autora não tendo
participado destes movimentos. Luci é da geração dos escritores da década de 90, portanto bem posterior aos poetas de
“Campos e espaços” (décadas de 50/60) e da Poesia “Undigrundi” (década de 70). No entanto há pontos de convergência: a
metalinguagem, que é a discussão do próprio fazer poético e de sua utilidade em um mundo cada vez mais voltado para a
tecnologia e – conseqüente – falta de inspiração e poesia; além da utilização de aspectos visuais próprios do Concretismo.
Não se encontra em Collin a tendência ao chiste e à blague, típicos da poesia marginal, assim como não há palavrões nem
contestação político-iseológico marxista. A autora não toca nessas questões, mas toca muito no sentido de ser e existir e nos
dramas humanos. Sua poesia, portanto, capta o que “de melhor” havia nos momentos anteriores para se tornar algo único.
Contemporâneo e universal.

Poemas escolhidos para análise (O livro é composto de 47 poemas e todos iniciam com minúsculas)
DEVERAS
o poeta finge
e enquanto isso
cigarras estouram
pontes caem
azaleia claudicam
édipos ressonam
vacinas vencem
a bolsa quebra e
o poeta finge
e enquanto isso
vagalhões explodem
o pão adoece
astros desviam-se
manadas inteiras se perdem
a noite range
o vento derruba ninhos e
o poeta finge
e enquanto isso
vozes racham
veias entopem
galeões afundam
medeias abatem crias
turvam-se as corredeiras
o sapato aperta e
o poeta finge
que as mãos cheias de súbitos
não são suas

Neste poema, o primeiro do livro, Luci usa como base o poema “Autopsicografia” de Fernando Pessoa (poeta do primeiro
modernismo português) para confessar que enquanto o “poeta finge” sentir, amar, sofrer... O mundo continua acontecendo
normalmente. Serve para, metalinguisticamente, contestar a necessidade/sentido do fazer poético e do próprio sentido da
poesia. Ao mesmo tempo em que “critica” em forma de poesia, ou seja, faz um poema para criticar a poesia, caímos em um
paradoxo: a poesia tem o dom de deixar que expressemos os nossos sentimentos (fingidos ou não) e as nossas dúvidas (a
respeito de tudo e dela própria). Leia os versos de Fernando Pessoa: “O poeta é um fingidor/Finge tão completamente/Que
chega a fingir que é dor/A dor que deveras sente.//E os que lêem o que escreve,/Na dor lida sentem bem,/Não as duas que ele
teve,/Mas só a que eles não têm.//E assim nas calhas de roda/Gira, a entreter a razão,/Esse comboio de corda/Que se chama
coração.”

ISSO POSTO
impecável
como uma aurora instala um dia
como o botão abriga a rosa aberta
implícito
como a lua define a decisão da vazante
e como o sol define a indulgência da lua
infinito
como o entusiasmo dessa tempestade
e como o pardal abrange o telheiro
algo
como o primeiro olhar da mãe pro filho
e como o último sorriso de um pai
como a impressão da palavra
algo

flama na folha de rosto

Qual o sentido de uma palavra? Difícil dizer...uma palavra só tem sentido quando atribuímos sentido a ela. Assim, sorvete só é
sorvete se associamos a palavra às sensações que ela nos remete, como gosto, sabor, ou até a uma tarde feliz de nossa infância,
um namoro.... E a palava “algo”, o que seria? O que seria o algo? Seriam algumas “palavras” tentando expressar algo? Seria por
isso que o livro tem esse nome e isso a autora põe nos três últimos versos do poema: “como a impressão da palavra/algo/flama
na folha de rosto”. Ou seria algo que brilha/flama na capa?
O título do poema remete a um conectivo relacionado a uma explicação, “isto posto” tem o sentido de “assim sendo”, “sendo
assim”, “posto isto”, “assim”, “portanto”, “por isso”, “por conseguinte”, “então”, “logo”, “desta forma”, “deste jeito”, “deste
modo”, “desta maneira”, “consequentemente”, “destarte”, “dessarte”... Exemplo: Já tínhamos decidido nossa intervenção,
mas, isto posto, repensaremos nossa abordagem.
Ou seja, a “Palavra Algo” da capa da obra em questão é impecável, implícita, infinita. Algo “como o primeiro olhar da mãe pro
filho/e como o último sorriso de um pai”. Uma homenagem da autora à poiesis em seu sentido mais amplo.

DORMESMO (à Marina Kazumi)


dor mesmo nem tanto a incisiva
- surpresa da faca na pele –
intensa dor mas reversível
ferida que enfim cicatriza

dor mesmo é aquela miúda


dor sempre que não envelhece
lateja essa dor – a mais funda –
de um ontem que nunca se esquece

Lindo poema feito em dois quartetos usando rimas e versos medidos (octassílabos), coisa não muito comum nos poetas
modernos/contemporâneos. Segundo o eu-lírico, a dor da ferida feita com lâmina é intensa, mas cessa (reversível). A verdadeira
dor, a que nunca para de doer é aquela mais funda, aquela que não envelhece, aquela “de um ontem que nunca se esquece”.
Uma dor de algo ocorrido m um passado que não pode ser olvidado.

LANCES
dado que nos poreja
cumprir o poema
sagrar sua sorte
de verbo em chamas
dado que nos decanta
mover o poema
provar sua forma
de fusão de rochas

dado que é sem doutrina


jogo de emblemas
ondulação das cortinas
que tudo a voragem do início
e os sons feito fosses azes
estilando
o âmago desimpedido
de um esplêndido
algo

Usando o trocadilho lance (de dados) com a palavra “dado” nos versos 1, 5 e 9, que da verdade significa “já que”, “posto
que”, o poema é metalingüístico e lembra um pouco a temática do poema de Carlos Drummond de Andrade “A procura da
poesia” onde ele diz que o poeta precisa “penetrar no reino das palavras”. Cabe ao eu-lírico “cumprir o poema”, fazê-lo nascer
da “fusão das rochas”. Decantar o poema é a função deste ser que se diz poeta, o trabalhador do verbo e do verso. O que dá
sentido à palavra algo, ou o que tenta dar sentido às coisas usando algumas palavras que simbolizam algo a quem quiser
entendê-las. Se assim o fizer, torna-se um esplêndido “algo”, pois que o poeta alcançou seu intento: traduziu o intraduzível.

ÓBVIA
a flor é óbvia
o poema é obscuro
a flor é pura
o poema obsceno
a flor é livre
o poema obsessivo
novíssima a flor
o poema é obsoleto
a flor pulsante
o poema obstinado

o poema é precariedade
finge
pretende

a flor é forma de flor


que o poema vê
intenta
namora
cogita
grita com uma voz parecida
mas que nunca chega a ser
voz de flor

Mais um poeta metalingüístico comparando mundo natural (flor) com mundo cultural (poesia). No primeiro grupo de
adjetivos esta a clareza, a pureza, a ciência, a beleza do ser em si. Já a poesia é a tentativa de explicação, é a imperfeição do não
conseguir, é o fingimento, é a semelhança, mas nunca a flor em si. O poema “intenta/namora/cogita” e “grita com uma voz
parecida”...mas nunca será a “voz de flor”.

MEUS OITO ANOS


AURORA DA MINHA VIDA
ORA IDA

OS ANOS TRAZEM AIS

A autora contemporânea, estabelece muitas intertextualidades com autores diversos de outros momentos da Literatura
Brasileira e até internacional, como Casimiro de Abreu, Raimundo Correia, Vinícius de Moraes e Fernando Pessoa (como vimos
no primeiro poema). Neste poema “Meus oito anos”, vemos uma relação direta entre ela e Casimiro de Abreu (poeta da 2ª
geração romântica que queria estabelecer uma evasão para a infância). No entanto, percebe-se na posição lírica da autora, uma
maior maturidade ao notar a passagem da vida do que a existente no poeta romântico que quer voltar à infância. Luci, sabe que
os anos trazem sofrimento e maturidade.
Usando a técnica concretista de dispor as palavras no branco da página de forma mais visual, Luci “brinca” com as palavras
“AURORA”, que vira ORA (tempo já passado ou uma simples exclamação?) e “VIDA” que se transforma em IDA, algo que
também já passou. Pulando um espaço onde haveria um verso (no poema de Casimiro de Abreu seria “Da minha infância
querida”), ela termina afirmando de modo triste que os anos trazem sofrimento, ou seja, “AIS”. Leia os primeiros versos do
poema original “Meus oito anos” do “Poeta da Saudade”: Oh! que saudades que tenho/Da aurora da minha vida,/Da minha
infância querida/Que os anos não trazem mais!//Que amor, que sonhos, que flores,/Naquelas tardes fagueiras/À sombra das
bananeiras,/Debaixo dos laranjais!”.

ATINÊNCIAS
I.
existem coisas que eu digo
no meio das coisas que escondo

vigoram silêncios imensos


no meio de certos estrondos

resistem horas inteiras


em meio a meio minuto

e dias e noites valendo


aquele real absurdo

e até o porto seguro


é de um remanso relativo
que um lance de dados insiste
no seio do absoluto

II.
eu que sempre sou
como eu nunca fui

como eu sempre quis


e sempre nada foi

como eu fosse assim


sempre sem querer

como nunca mais


desse pra saber

fui o que nem deu

assim sempre ser

feito fosse eu

Esta poesia, no meu entender outra da linha catártica, na qual o eu-lírico tenta nos dar a conhecer suas dores e angústias
(como em DORMESMO), ela expõe que os silêncios escondem muitos sentidos de coisas intrínsecas. Muitas horas estão dentro
de poucos minutos, quando ela se perde em devaneios e lembranças, na busca de um remanso e de um porto seguro...na busca
do absoluto (que é uma forma de referir-se a Deus, muito comum em Cecília Meireles).
Na segunda parte ela expõe que acabou sendo o que a vida permitiu que ela fosse. Quis tanto ser outra, mas as coisas
levaram-na para outros caminhos. Acaba que ela vira uma mescla do almejado e do conseguido, do buscado e do consentido.

INSONETO
De amor, ora direis, rever promessas
Que as chamas de uma voz não voltam mais
E sempre é de hora alguma esse momento
E nunca em face a mais meu bem secreto

Quisera revivê-lo em vão tormento


E em seu rosto esconder meu riso
Se se pudesse perder senso e siso
O meu pesar ao ver o seu espanto

Certo é que o infinito nunca dure


(Vai-se a primeira estrela descoberta)
Quem sabe a espuma o fim de quem desperta

Na fresca madrugada eu encontrasse


O amor (que tive) – eu vos direi, no entanto
Que só se ama a ilusão que nasce

Mais um magnífico trocadilho com o neologismo INSONETO (várias referências intertextuais a sonetos famosos) e insônia. No
poema “Ora (direis) ouvir estrelas!” Olavo Bilac explica que para conversar com as estrelas ele fica a noite inteira acordado. O
soneto de Luci é feito de versos decassílabos, bem ao molde das poesias formalistas parnasianas. No entanto, num sentido mais
amplo, o poema tem significação de verso a verso.
Seguem abaixo os poemas nos quais Luci se baseou para escrever o seu INSONETO (uma dupla referência neologística a
SONETO Intertextual ou feito em um momento de INSÔNIA, uma brincadeira com as palavras). Lendo fica mais fácil entender o
que Luci quis escrever.

Ora (direis) ouvir estrelas! (Olavo Bilac)


Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto


A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!


Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!


Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.

Mal secreto (Raimundo Correia)


Se a cólera que espuma, a dor que mora
N'alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse, o espírito que chora,


Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo


Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,


Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!

Soneto de fidelidade (Vinícius de Moraes)


De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento


E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure


Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):


Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Soneto de separação (Vinícius de Moraes)


De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento


Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente


Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante


Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

JIM SAID
a poesia é metal precioso é metal nobre
agarrado aos detalhes e ao insubmisso
enquanto se pratica alvoroços
que farão brotar o tema
eu fico aqui total e solidão na mesa vazia
e os pratos sujos não rimam

as transparências são perecíveis


o viajante tem vastas identidades
o que está consentido nos olhos
é larva e embargo e
do deus sem voz eu derivei silenciamentos

a poesia é o suco e o vértice


as fichas todas no único número
a boca pintada para o espetáculo
o alvo pintado sobre o peito
e ainda mais lá dentro
(quando te mira) é o corte da faca cega
o abraço e o visgo na regra do incerto
é metal pesado é barra pesada
é aquela voz que desliza
no que nunca fora
no que talvez esteja num será
mas que espera
com sofreguidão
feito a primavera

Jim Said (disse) é o refrão de uma música de Elvis Presley. A história de um rapaz que não tem coragem de se declarar a sua
amada. Neste poema, mais um metalingüístico, Luci explica que a poesia é algo difícil, insubmissa. O corriqueiro (os pratos sujos)
não são matéria de poesia (ela é metal nobre, metal pesado, barra pesada). É a voz interna que espera (com sofreguidão) o
momento de sair.

CICLORAMA
o infinito
daquela mulher
era um espelho
daquele animal
era um disparo
daquela menininha
era um coelho
daquele mendicante
era um retalho
daquele ancião
era um xarope
daquele temporal
era um compasso
daquele imperador
era um decálogo
daquele especialista
era um lapso
daquela meretriz
era um suspiro
daquele marinheiro
era um rio
daquele vendaval
era o abandono
daquela mulher
o infinito

Linda poesia que pode ser lida tanto de cima para baixo, como de baixo para cima (daí o título CICLORAMA). O infinito de cada
coisa que termina em uma mulher. A relação espelho (ver-se/velhice) e abandono são pungentes. Infinito como metáfora da
morte para cada uma das pessoas referidas. O erre do especialista, o amor para a prostituta, as margens do rio para o
marinheiro acostumado a grandes espaços marítimos, as leis (decálogo) para o imperador, as regras para a tempestade... Mas
também a vida e a esperança: o coelho para a menina (Alice?), o retalho pra o mendigo e o xarope para o idoso.

Para saber mais


Antologia de poemas de Luci Collin reúne mais de três décadas de poesia (Renata Albuquerque • 27/09/2018)
Ensaísta, ficcionista, poeta. Tradutora, professora universitária de Literaturas e Língua Inglesa, bacharel em música (piano e
percussão Clássica). Leitora de Jorge de Lima e T.S.Elliot, entre muitos outros. Essa é uma pequena amostra de tudo o que
interessa a Luci Collin, que começou a publicar poesia aos 17 anos e segue, ainda hoje, trazendo sua produção ao público. É essa
diversidade que a Antologia Poética 1984-2018 (uma coedição entre as editoras de livros Kotter e Ateliê Editorial) traz ao leitor.
É sobre isso que a autora fala, a seguir:
A escolha dos poemas para a Antologia foram feitas pelo Sálvio Nienkotter e pelo Marcos Pamplona, mas você teve papel
importante na seleção final. Como foram escolhidos esses poemas?
Luci Collin: O processo foi muito bem cuidado pelos editores, que leram com muita atenção toda a minha produção poética
(com poemas publicados desde 1984), selecionaram os poemas e depois me apresentaram a seleção. Então, em um segundo
momento, eu pude também participar, apontando aqueles poemas que não estavam nessa seleta inicial e que eu,
principalmente pelo “histórico individual” de cada poema, gostaria de ter na Antologia. O resultado ficou muito orgânico pois
corresponde a três leituras, três olhares críticos diferentes. O resultado me surpreendeu – é algo especial ver nascer um livro
formado de outros livros.
Há dois períodos de “lacuna” na publicação de sua poesia: 1984-1991 e 1997-2012. A que se devem essas lacunas?
LC: Estive, durante esses períodos, envolvida com literatura sim, mas de outras maneiras: ingressei na carreira de magistério
superior na UFPR (em 1999, lecionando Literaturas de Língua Inglesa), cursei um doutorado na USP sobre a obra de Gertrude
Stein, organizei antologias e traduzi vários poetas (como Gary Snyder e Jerome Rothenberg) e publiquei vários artigos e ensaios
em jornais e revistas literárias. Mas, sobretudo, estive publicando ficção. De 1997 a 2011 publiquei cinco livros de contos e um
romance e por esses motivos, estive afastada da publicação de poesia.
Ao publicar uma antologia e revisitar sua obra, que mudanças você notou na sua própria poesia?
LC: Essa questão das mudanças, olhar para a sua produção e perceber quantas coisas foram sendo alteradas ao longo do tempo,
é uma emoção enorme. É uma experiência de confronto não só com o seu estilo inicial e com as temáticas que foram
exploradas, mas também com a sua própria relação com o fazer poético ao longo da sua vida. São mais de trinta anos de
percepções registrados por meio da palavra. Reunir esses poemas na Antologia funcionou como uma visita, um mergulho
mesmo na minha própria trajetória de expressão pela poesia. E tem aqueles poemas que permaneceram importantes ao longo
dos anos, que a gente ainda quer mostrar e dividir com os leitores. É como reescrever-se, recontar-se. A princípio, uma voz
tímida, frágil e mais ligada ao experimentalismo; com o passar dos anos, uma maior definição do meu timbre, do meu estilo e da
medida mais livre do meu poetizar – é isso a Antologia.
Jussara Salazar chama a atenção, na contracapa do livro, para a questão do estranhamento colocado na sua obra. Como se dá
essa construção, no seu fazer poético? É uma construção consciente?
LC: Acredito que as características que acabam marcando a produção de um poeta são muito espontâneas, são como o
correspondente de sua voz, de sua personalidade literária sob forma de poemas. A construção acaba se processando um misto
de marca individual (talvez um pouco intuitiva) com labor (esse sim, consciente). Nunca reneguei nada do que escrevi e gosto de
mostrar os poemas iniciais como expressões primeiras de alguém tentando se expressar de um modo sincero e livre, tentando
manter uma fidelidade aos seus próprios anseios com a poesia, num registro de espanto e amorosidade. Às vezes isso causa
mesmo um estranhamento, mas eu permaneci com essa perspectiva de chamar o leitor para que construamos, juntos, o poema.
No prefácio, Sálvio Nienkotter chama a atenção para a influência do concretismo na sua obra. Como isso acontece? Além
desta, quais são suas outras influências literárias?
LC: Começo a escrever em uma Curitiba da década de 1980, muito influenciada pela presença de Paulo Leminski e da tradição a
que ele se ligou, como a dos irmãos Campos. Assim, flertei com o concreto no primeiro livro. Já no segundo livro de poesia,
tendo iniciado meus estudos de zen-budismo, passei a uma poesia ainda imagética, mas menos concreta, com a visualidade
trabalhada de forma diferente. E, gradualmente, fui me afastando do concreto e do experimental. Com 17 anos, idade em que
escrevi o Estarrecer, naturalmente estava sob muitas influências e era imitativa. Eu lia muito Jorge de Lima, Ferreira Gullar, os
expressionistas alemães, poesia marginal, poesia beat. Aos poucos fui incluindo poesia francesa e portuguesa, mais autores
contemporâneos e, sempre os modernistas como T. S. Eliot, Marianne Moore e William Carlos Williams.
De que maneira sua formação em música influencia sua poesia?
LC: Acredito que de um modo substancial porque minha vivência de anos como musicista me fez conceber o texto como literário
e musical ao mesmo tempo, um texto em que aparecem elementos comuns às duas linguagens: a rítmica, o fraseado, a
melodiosidade. E a interpretação de uma partitura é uma experiência de transporte de códigos para elaboração de uma trama
emocional que é muito próxima ao uso que a poesia faz da poeticidade. Aliás, há, inclusive, quem considere que a essência de
todas as artes é a poeticidade.
Além da Antologia, há outro livro recém-lançado organizado por você: Ao Vires Isto. Pode falar um pouco sobre este livro
para os leitores do Blog Ateliê, por favor?
LC: Esse livro é a realização de um grande sonho que era reunir em uma publicação vários ensaístas investigando e discutindo a
produção da escritora norte-americana modernista Gertrude Stein. Stein foi uma pensadora revolucionária que influenciou não
só a literatura, mas as artes em geral. Nesse livro, organizado pela Profa. Dra. Daniella Aguiar, da Universidade Federal de
Uberlândia; pelo Prof. Dr. João Queiroz, da Universidade Federal de Juiz de Fora; e por mim, da Universidade Federal do Paraná,
reunimos vários ensaios sob o viés da tradução e da intermidialidade. Colaboraram nesta publicação nomes especialíssimos
como Marjorie Perloff, Jerome Rothenberg, Edson Zampronha, Dirce W. do Amarante e Augusto de Campos. O livro representa
um importante material crítico sobre Stein – algo que praticamente inexistia no mercado brasileiro até então. E a edição é um
primor. Quem se interessa por Modernidade, tradução, intermidialidade seguramente se encantará com o Ao vires isto.
http://blog.atelie.com.br/2018/09/antologia-de-poemas-luci-collin/#.XNXEqBRKjIU

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