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DO PROCESSO E DO PROCEDIMENTO
Conceito
Em linhas gerais, o processo é a atividade desenvolvida pelo Estado com o escopo
de satisfazer a pretensão de uma das partes, seja o autor, seja o réu. A relação do
processo se perfaz entre as figuras que o compõem: o autor, o réu e o juiz enquanto
que a relação de atos do processo é característica do procedimento.
O procedimento é a forma, o modo, o meio pelo qual o Estado alcançará este
fim.O procedimento é ainda, a maneira como a atividade desenvolvida pelo Estado
em aplicar a lei se realizará e se desenvolverá.Para que o Poder Judiciário possa,
por exemplo, "produzir" uma sentença, "produzir" uma execução, "produzir" uma
medida cautelar, é necessário que o próprio Judiciário desenvolva a pratica de uma
serie de atos que sejam necessários à produção destes objetos. É a esta serie de
atos a que chamamos processo.
Para Paulo Rangel, o procedimento é o conteúdo formal do processo e a lide é o seu
conteúdo substancial.Para entendermos melhor a distinção entre processo e
procedimento, é de bom tom mostrarmos um erro corriqueiro que cometemos no
nosso dia a dia, ao afirmarmos: "É um processo sumário" ou "aquele processo é
especial".O correto é falarmos, por exemplo, em procedimentos comuns dos crimes
de reclusão de competência do juiz singular, procedimentos comuns dos crimes de
competência do júri, procedimentos comuns sumários das contravenções e dos
crimes de detenção, procedimentos especiais do Código, procedimentos especiais
de leis especiais ou extravagantes, procedimento dos crimes falimentares,
procedimento dos crimes de responsabilidade de funcionários públicos,
procedimento dos crimes de competência originária dos tribunais,...São todos
procedimentos.
No campo penal, os procedimentos de cognição classificam-se em comuns e
especiais.Os procedimentos comuns subdividem-se em procedimentos ordinários e
procedimentos sumários.Os procedimentos especiais são os de competência do júri
e outros previstos em leis extravagantes.Procedimento, nas palavras do
processualista Afrânio Silva Jardim, "é a coordenação sucessiva de atos que
exteriorizam o processo".
Segundo entendimento do professor de Direito Processual da Universidade
de Barcelona, o processualista Miguel Fenech, o processo não pode ser mais que
um fato com desenvolvimento temporal, um fato que tem mais de um momento, um
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fato que não se esgota em mais de um momento, um fato que não se esgota no
mesmo instante de sua produção.Fato que se desenvolve no tempo equivale à serie
encadeada de fatos parciais, menores, que constituem ou integram o fato total.O
autor continua o seu raciocínio dizendo que esta dimensão temporal, este se
desenvolver no tempo é a nota essencial do processo, de todo o processo e de
qualquer processo.Não pode haver processo se não há um desenvolvimento no
tempo.Diz o autor: "Não há nenhum fato que se desenvolva no tempo que não possa
corretamente se aplicar a palavra processo" (FENECH, Miguel.Derecho Procesal
Penal, pg. 54).
Fazendo o paralelo diferenciador entre processo e procedimento, Miguel
Fenech entende que o procedimento é a norma reguladora do processo.Segundo o
professor, existem procedimentos cujo processo não foi levado adiante ou não se
realizou nunca (neste caso, o processo se produziria se seguisse às normas
estabelecidas no procedimento) (FENECH, Miguel. Derecho Procesal Penal, pg. 61).
Vimos que existe no processo uma corrente de atos processuais.Dal Pozzo
nos ensina que esta corrente de atos processuais constituirá um método (o método,
segundo Antonio Araldo Ferraz dal Pozzo, pode ser enfocado sob dois ângulos
diversos: sob o ponto de vista de cada um dos atos que o integram e como uma
realidade única).Através do método visualizamos o que seja o processo quando nos
perguntamos: Para que serve isto? Ou seja, é a disciplina legal da estrutura exterior
de cada ato. É a visualização do processo sob o ponto de vista teleológico, como
também acentua Afrânio Silva Jardim.Mas quando nos atemos aos atos processuais
que o constituem, nos focamos ao procedimento.O procedimento vincula-se à
dinâmica da realização dos atos processuais bem como à ordem que os atos
processuais devem se suceder (rito procedimental).
Uma outra diferença entre processo e procedimento diz respeito à validade
de determinados fatos e quais as conseqüências que isto pode ocasionar.Há fatos
exteriores que podem atingir o processo como um todo, gerando nulidades de cunho
absoluto e nós sabemos que existem outros fatos que atingem apenas alguns atos
dentro do processo.
Estas irregularidades ocasionadas dentro do processo podem ser
convalidadas em muitos dos casos, como o que prevê os artigos 566 e 567 do CPP,
prezando pela não anulação de atos imperfeitos quando não prejudicarem a
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Vicente Greco afirma ainda que, para cada tipo de processo há uma variedade de
procedimentos, desde que estejam adequados a atender as suas respectivas
finalidades, tanto no esquema legal quanto prático.Destarte, para que
um procedimento seja satisfatório do ponto de vista prático, deve-se dedicar uma
maior atenção à simplificação dos atos no que tange ao aspecto quantitativo,
diminuindo a quantidade de formas sem que prejudique a sua estrutura legal.
O procedimento é o conjunto de normas que estabelecem as condutas a
serem observadas no desenvolvimento da atividade processual pelos sujeitos do
processo, bem como auxiliares da justiça e os terceiros que eventualmente sejam
chamados a participar da atividade processual. É através do procedimento que será
definido o que os sujeitos do processo deverão fazer, de que forma agirão dentro do
processo e como alcançarão o resultado final.Albuquerque Rocha, seguindo a
mesma linha de Afrânio Silva Jardim, conceitua o processo como uma cadeia de
atos visando produzir um efeito jurídico final.
O processo pode ser entendido como a soma de atos que lhe dão corpo e as
relações entre estes atos.Para Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini
Grinover e Candido Rangel Dinamarco, o processo é indispensável à função
jurisdicional exercida com vistas a eliminar conflitos e fazer justiça mediante a
atuação da vontade concreta na lei (CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER,
Ada Pellegrini; DINAMARCO, Candido Rangel. Teoria Geral do Processo, p.277).O
processo, para os ilustres autores, é o procedimento realizado mediante o
desenvolvimento da relação entre seus sujeitos.
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Generalidades e distinção
Já se viu que para cumprir função jurisdicional o judiciário não atua livremente. Dada
a própria natureza dessa função ele se vale de uma forma de atuação, que é o
processo. O processo é o meio de que se vale o Estado para cumprir a função
jurisdicional. O processo é, pois, o instrumento da jurisdição, visto que é através dele
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que é cumprida a função jurisdicional. Constitui-se de uma série de atos dos órgãos
jurisdicionais, de atos dos seus sujeitos ativo e passivo, cuja participação é
necessária, tendentes ao cumprimento da função jurisdicional, que é a atuação da
vontade da lei aos conflitos ocorrentes, ou seja da realização do direito. O critério de
classificação dos processos é o mesmo que se adota para a classificação das
ações. Os tipos processuais correspondem às tutelas jurisdicionais a que visam.
Sendo três as espécies de tutela jurisdicional, são respectivamente três os tipos de
processo: processo de conhecimento, processo de execução, processo cautelar ou
preventivo (art. 270 CPC).
Já o procedimento é o conjunto regulador daqueles atos concatenados, de que se
constitui o processo, esteado em disposições legais e que dizem respeito à forma, à
sequência, ao lugar, à oportunidade etc..., com que devem eles desenvolverem-se.
O procedimento é noção formal, é o meio pelo qual se instaura, desenvolve-se e
termina o processo.
Os conceitos de processo e procedimento, portanto, não são idênticos. Na
verdade, num mesmo procedimento podem existir e serem decididos diversos
processos[1], como é o caso da reunião de processos (CPC, art. 105). Da mesma
forma, podem haver dois procedimentos para uma só modalidade de processo,
como o de conhecimento (CPC, arts. 271 e 272)[2].
O processo é instrumento de realização do poder. Como instrumento, tem uma
forma constituída pelos atos e suas relações entre si e a força motriz revelada pela
relação jurídica. Na utilização da forma com vistas a um fim, há a necessidade de
um ritmo que imprima seu movimento, esse é o procedimento. Procedimento,
portanto, é o ritmo disciplinado em lei, pelo qual o processo se movimenta para
atingir o fim. É o lado visível do processo em sua forma.
Tomando-se a sistemática adotada pelo Código de Processo Civil, o procedimento
pode ser classificado em procedimento comum e procedimentos especiais. O
procedimento comum é aquele aplicado a todas as causas para as quais a lei não
previu forma especial (art. 271, CPC). Já os procedimentos especiais, assim, dizem
respeito àquelas hipóteses que por refugirem a à regra comum, se acham previstas
pelo legislador no Código de Processo Civil em seu Livro IV (art. 270, in fine) e em
outras leis extravagantes. Mas, a própria lei processual (art. 272) se encarrega de
subdividir o procedimento comum em ordinário e sumário. De molde que, o
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procedimento ordinário se aplicará a todo aquele processo, para o qual não esteja
previsto algum procedimento especial ou o procedimento sumário.
A lei disciplina exaustivamente somente o procedimento ordinário. Nos
procedimentos especial e sumário serão aplicadas as regras que lhe são próprias.
No entanto, naquilo que essas normas não dispuserem, incidirão subsidiariamente
sobre os procedimentos especial e sumário as disposições gerais do procedimento
ordinário (art. 273, CPC).
Fases do procedimento
O procedimento em primeiro grau apresenta-se estruturado conforme as fases
lógicas, que tornam efetivos os princípios fundamentais que o orientam: princípio da
iniciativa da parte, princípio do contraditório e princípio do livre convencimento do
órgão judicial[3].
No nosso ordenamento jurídico, tratando-se de matéria civil, o órgão jurisdicional só
age quando provocado (art. 262, CPC). É necessária a iniciativa da parte,
formulando a demanda, para que o órgão dela se manifeste sobre a providência
postulada.
Sobre o pedido formulado pelo autor na demanda, há que ser aberta a oportunidade
para a manifestação do réu. Essa oportunidade de o réu manifestar-se, é o que
substancia o princípio do contraditório.
Para formar convicção sobre a veracidade dos fatos alegados pelas partes em suas
manifestações, é necessário que o juiz as examine à luz das provas. Há, pois, na
formação da do livre convencimento do juiz uma atividade de instrução. É sobre as
provas que o juiz, formando seu convencimento, irá julgar a causa fazendo atuar a
vontade da lei ao caso concreto[4].
Essas fases nem sempre mostram limites nitidamente delineados. O importante,
porém, para a sua caracterização é mais a predominância com que se dá cada uma
das atividades correspondentes do que a exclusividade das mesmas[5]. Quanto
mais concentrado é o procedimento, mais se torna difícil a limitação das fases. É
bem mais fácil a verificação fronteiriça das fases no procedimento ordinário, do que
no procedimento sumário onde a concentração das atividades atinge um grau
elevado[6].
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