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Formas de controle social em shopping centers no bairro Aldeota em

Fortaleza-CE

David Alves Pereira Oliveira1

Resumo

O sistema de regras que rege a nossa participação na sociedade moderna


pode ser observado, por exemplo, quando adentramos os chamados espaços
públicos. Os shopping centers atuais, templos simbólicos do consumo no
sistema capitalista, são considerados espaços aberto a todos, contanto que se
observem normas relativas a horário, vestimenta, etc. O presente artigo tenta
reconstruir algumas das formas de “controle” social observadas em shopping
centers no bairro da Aldeota em Fortaleza-CE. Mostrou-se ao longo desta
pesquisa que embora seja considerado um espaço público, o shopping center,
a exemplo de outras construções como os aeroportos, é gerenciado de forma a
selecionar os seus usuários, através de mecanismos nem sempre explícitos.
Procurou-se ao longo do texto descrever o campo-objeto, formado por um
recorte espacial englobando quatro shopping centers no referido bairro. A
descrição permitiu comparar formas de “controle” padrão e outras mais
específicas de cada um dos prédios mencionados. No plano empírico, utilizou-
se como metodologia a observação detalhada do interior e do exterior de cada
shopping Center, registrando-se por escrito no próprio local detalhes de
interesse para o propósito da pesquisa. No plano teórico, trabalhou-se com
dois tipos de categorias: num primeiro momento termos como “controle social”,
panopticismo e vigilância, a partir da argumentação de Michel Foucault, e num
segundo momento outras categorias como “entorno” e espaço público “restrito”.
Relatou-se finalmente alguns aspectos do trabalho metodológico para realçar a
relação pesquisador-objeto.

Palavras-chave: shopping Center, controle social, aldeota, sociologia urbana.

Introdução

O bairro da Aldeota apresenta-se inicialmente como uma vasta cadeia de


prédios comerciais e de serviços, entranhado por um processo de
concentração de capitais que desfigurou a sua geografia residencial, de outras
épocas, em favor da construção simbólica de uma área englobando todas as
suas funções num imenso shopping center (SC). O imaginário formado desse

1
Graduando em Ciências Sociais pela Universidade Estadual do Ceará. Bolsista de
Iniciação Cientifica pelo CNPQ.
processo reflete de forma cristalina a criação de um conceito em torno do
bairro, que perpassa o chamado senso comum. Falar em Aldeota é falar em
status, riqueza e serviços, colocando-o num patamar diferenciado em relação a
outras regiões da cidade.

Aos olhos de um observador mais atento, porém, todas essas constatações


perdem a força de diagnóstico e entram na seara das representações sociais.
Explicitando a questão da desigualdade socioespacial, o bairro apresenta uma
irregularidade na sua distribuição de serviços que fica bastante evidente
quando confrontada pela investigação sociológica.

Esta pesquisa, iniciada na disciplina de Sociologia I do Curso de Ciências


Sociais da UECE, sob orientação da Professora Adelita Neto Carleial, visava
buscar algumas respostas para esse dilema. Por que existem tantos shopping
centers no bairro da Aldeota? Procurou-se nos clássicos da Sociologia pistas
que ajudassem a elucidar o problema. Com Karl Marx e Max Weber, tentou-se
mostrar como a irracionalidade do capital, trabalhada pelo primeiro, contrastava
com a racionalização econômica crescente preconizada pelo segundo. Esta
dualidade, longe de resolver a questão, entretanto abriu as portas para toda
uma faceta da realidade que até então não vislumbrava. Mostrava a riqueza da
exploração sociológica, e toda uma gama de etapas foram se materializando.

Este presente artigo representa, desta forma, uma dessas etapas. Embora o
cerne do problema resida, a meu ver, na presença, proliferação e influência
geral dos shopping centers, ou em outras palavras, de sua natureza como
elemento socioespacial, tive a oportunidade de trabalhar uma perspectiva mais
etnográfica. Ao ler capítulos de O Aeroporto e a Cidade, do professor
Wellington Ricardo Nogueira Maciel, pude fazer comparações mentais,
formular novas indagações e buscar novos ângulos para apreciar o meu objeto.

Em O Aeroporto e a Cidade, Maciel analisa a figura singular do Aeroporto


Internacional Pinto Martins e a sua relação com o seu “entorno”, a região que o
circunda e foi transformada no processo de construção do novo
empreendimento. Logo fica patente as similaridades entre o Aeroporto e os
shopping centers, apesar de suas funções diferenciadas e a importância única
do primeiro. Uma delas refere-se ao seu caráter de espaço público restrito, e
em conseqüência, as formas sutis de controle social que são executadas para
manter este seu aspecto elitizado.

Esta nova etapa da pesquisa busca assim recuperar as formas como o controle
social é executado nos shopping centers do bairro da Aldeota, e mais
especificamente em quatro deles: o shopping center Avenida, o shopping
center Aldeota, o shopping center Del Paseo e o shopping center Center Um.
Os motivos dessas escolhas serão explicitados em outro momento do texto,
embora possamos colocar o interesse na comparação e na existência de um
verdadeiro circuito de shopping centers como fatores preponderantes.
Interpretaremos a questão do controle utilizando a conceituação elaborada por
Michel Foucault na categoria Panopticismo.

Desenvolvemos a nossa argumentação em quatro tópicos. No primeiro tópico


descreveremos o campo de observação, explicando o recorte feito do mesmo.
Em seguida, enumeraremos alguns dos mecanismos de controle social, sejam
eles padrões ou específicos, observados no campo-objeto. Por fim,
relevaremos ainda alguns aspectos metodológicos que marcaram a relação
pesquisador-campo.

Optou-se como metodologia a leitura e interpretação de textos que tratam do


tema. No campo da etnografia, fez-se uma observação detalhada do interior e
do exterior dos referidos prédios comerciais. Essas anotações serviram de
base para o estudo do caso.

Campo de Observação

Em meio ao emaranhado de lojas, prédios e vias que desenham a Aldeota no


plano geográfico, destacam-se os seus shopping centers. Há uma área
específica do bairro que parece concentrar o maior número deles. Começando
pela avenida Dom Luís, temos o shopping center Avenida. Seguindo pela
mesma via, atravessando a Praça Portugal, eis o shopping center Aldeota.
Voltando pela avenida Desembargador Moreira e descendo alguns quarteirões
em direção a avenida Santos Dumont, aparecem os shopping centers Del
Paseo e o Center Um, em frente um para o outro.

Este verdadeiro circuito exemplifica a ideia da proliferação de determinados


bens de consumo ao explicitar as desigualdades socioespaciais observadas
em Fortaleza. Demonstra a existência de ilhas comerciais, presentes numa
mesma região. Não existe um bairro da Aldeota, unitário e generalizado, mas
antes uma construção imaginária e simbólica do que o bairro representa. Por
isso, a minha constatação inicial do bairro dos shoppings é incorreta: não
porque eles não existam, mas devido a sua distribuição muito irregular, que
valoriza determinadas microzonas dentro de um mesmo limite geográfico.

Não surpreende que o trajeto formado pelas avenidas Dom Luís,


Desembargador Moreira e Santos Dumont seja então visto como uma nova
área de centralidade, como bem coloca DIÓGENES (2007). Além das várias
visitas a cada um dos quatros SC trabalhados, empreendemos uma espécie de
visita comparativa, indo em seqüência a cada um deles num mesmo espaço de
tempo. Este procedimento tem a grande vantagem de explicitar semelhanças e
diferenças entre os lugares, ajudando a criar uma sistemática de observação
voltada na identificação de elementos comuns e reveladores de cada canto.
É corrente a identificação de um Shopping Center como um prédio grandioso,
destacado em relação ao seu “entorno” que congrega uma função comercial
primária, além de oferecer lazer e outros serviços para os seus freqüentadores.
Os quatro shoppings aqui tratados não fogem muito a esta regra; mas
equacioná-los dentro desta lógica sem se ater aos muitos detalhes que os
distingue seria como definir duas bibliotecas públicas como idênticas,
baseando-se somente na presença de livros em comum e de um mesmo
sistema de catalogação. Ora, a forma de organizar esses elementos
constitutivos dá um caráter singular a cada uma delas, e dificilmente veremos
uma biblioteca igual à outra. A arquitetura de um local não depende somente
do seu conteúdo, mas de sua relação com os seus usuários e o espaço onde o
mesmo está circunscrito.

Objetos comuns aos shopping centers (lojas, escadas rolantes, praças, etc.)
contribuem para padronizá-los dentro de uma lógica voltada para o consumo
em ultima instância. Todos eles, porém, invariavelmente apresentarão
distinções, algumas gritantes e outras mais sutis, ressaltando a necessidade de
adaptá-los aquele local, ao seu público e aos interesses particulares de quem
os construíram.

Panopticismo

Refletiremos a partir de Michel Foucault a questão do controle. O conceito


fundamental para a nossa interpretação é o de panopticismo, trabalhado pelo
eminente filosofo francês em sua impactante obra Vigiar e Punir.

Panopticismo refere-se a teoria criada pelo referido filosofo a partir de um


conceito anterior, o Panóptico, de autoria de Jeremy Bentham. A instituição
panóptica por excelência atende a dois critérios básicos: que seja capaz de
exercer constante e integral vigilância sobre toda aquela área circunscrita, e ao
mesmo tempo ser “invisível” aos olhos dos vigiados. Bentham visualizou a
prisão como construto exemplar desta técnica: um prédio com uma torre no
centro, onde todas as celas podem ser observadas. Mas o interior da torre não
pode ser contemplado de fora.

No panóptico, as pessoas são individualizadas e expostas constantemente,


entretanto sem abstraírem completamente o seu status de vigiado. Foucault
utilizou a definição de Bentham, adaptando-a outras instituições. Para ele,

(...) as divisões do anel, essas celas bem separadas, implicam


uma invisibilidade lateral. E esta é a garantia da ordem. Se os
detentos são condenados não há perigo de complô, de tentativa
de evasão coletiva, projeto de novos crimes para o futuro, más
influências recíprocas; se são doentes, não há perigo de
contágio; loucos, não há risco de violências recíprocas; crianças,
não há “cola”, nem barulho, nem conversa, nem dissipação. Se
são operários, não há roubos, nem conluios, nada dessas
distrações que atrasam o trabalho, tornam-no menos perfeito ou
provocam acidentes. (FOUCAULT, p. 223)

O controle social derivado desta conceituação, desta forma, pode ser visto
como uma medida burocrática no sentido weberiano. Destina-se a
maximização da eficiência de um aparelho disciplinador, enquanto mantendo a
estrutura de poder que gerencia as suas relações. “Daí o efeito mais importante
do Panóptico: induzir no detento um estado consciente e permanente de
visibilidade que assegura o funcionamento automático do poder.” (IDEM, P.
223)

Foucault ainda discorre sobre o caráter experimental do panoptico, ou seja, sua


capacidade de servir como laboratório. Os mecanismos de individualização e
mecanização permitem a uma autoridade central examinar não apenas os
vigiados mas como os próprios funcionários da hierarquia. (IDEM, p. 227)

“Controle” Social

O shopping center é em teoria um lugar público, acessível a todos. Mas na


prática, como no caso do Aeroporto, há um controle social operando em vários
níveis de forma a restringir a presença daqueles que “destoariam” do seu
público alvo, prejudicando uma suposta imagem veiculada de sua função. Para
vender mercadoria, deve-se primeiro ter clientes. Estes devem ser
selecionados, e tudo que não sirva para otimizar esse processo de escolha
deve ser combatido. Por isso as lojas, razão de existência de um centro de
compras, são adornadas com a busca do bem-estar e do conforto dos seus
compradores. Nada num shopping center é por acaso, e aquele ambiente
artificialmente tornado “agradável” traz uma indelével marca de conflito que
marca a sua marcha em favor do consumo.

Podemos, a partir da teoria de Foucault, interpretar a figura do Shopping


Center como um novo panóptico, modernizado e sutil no seu modus operandi.
A prerrogativa básica de um empreendimento comercial desse tipo é oferecer
uma gama de serviços e mercadorias, que podem ser consumidas
confortavelmente em um ambiente relativamente seguro. O objetivo é a venda,
efetuado por um público selecionado. Cada vez mais, porém, novas estratégias
de marketing são desenvolvidas no intuito de favorecerem a compra, e daí
derivam as novas modalidades de Shopping Centers como verdadeiros centros
de lazer e consumo.
A vigilância é efetuada através de uma complicada rede de câmeras e guardas
privados, atuando em conjunto para garantir a segurança do público
consumidor. Este é o seu objetivo “oficial”, digamos assim, pois esconde outros
propósitos menos publicizados mas igualmente relevantes do ponto de vista
comercial.

Em cada um dos quatro shoppings centers visitados durante a inserção no


campo estavam explícitos a vigilância oficial e a seleção do publico através de
um controle social. Este começava logo no acesso ao prédio. Fazer a
passagem do exterior ao interior já traz algumas observações básicas. Todos
os quatros se localizam acima do nível das vias que lhe dão acesso, de forma
que é necessário subir vários degraus para chegar à porta. Com exceção do
Avenida, todos tem uma porta automática, vigiada intermitentemente por um
segurança privado.

Internamente, os shopping centers dividem-se primariamente em pisos que


conectam através de escadas e elevadores. Estes se localizam geralmente no
centro, para facilitar o transporte entre as diferentes áreas e também
inequivocadamente a vigilância. Ao adentrar um dos referidos shoppings, o
visitante é submetido a um complexo sistema de controle visual composto por
câmeras e seguranças individuais, auxiliados pela arquitetura particular. Os
quatros shopping centers são verdadeiros panópticos, com pontos estratégicos
onde um piso oferece visão privilegiada do andar logo abaixo.

O controle é tentado de forma a ser discreto: os seguranças patrulham as


entradas e se movimentam para não chamar a atenção, embora buscando
registrar a sua presença para manter a imagem de lugar seguro, associado ao
shopping center. Todos tinham três entradas principais, vigiadas
individualmente. As câmeras, por sua vez, cada vez mais escondidas e
onipresentes, parecem desaparecer aos nossos olhos, e o ambiente local
intenciona nos alienar da nossa condição de observados.

As particularidades

O shopping center Avenida, primeiro passo do trajeto etnográfico, surgiu nas


observações de campo como o mais “modesto”, no sentido que o controle não
é tão explícito como nos outros. A porta não é automática, permanecendo
sempre aberta. É também o único que não funciona no domingo, abrindo nos
outros dias às 9:00 e fecha às 21:00. Os seguranças trajam uma camisa
amarela que os destacam com facilidade no interior do prédio, concentrando-se
no primeiro piso (L1) e revezando rondas nos outros dois. As câmeras são
mais aparentes, e pode-se notá-las sem esforço.
As escadas rolantes são separadas e no dia da observação apenas subiam,
necessitando o uso de degraus para o caminho oposto. Isto facilitava
tremendamente o trabalho de observação de quem se movimentava entre os
pisos, além de rarear a presença de visitantes no L3.

O shopping center Aldeota diferencia-se do anterior, aproximando-se da


organização panóptica do Del Paseo e do Center Um. Abre aos domingos, de
14:30 às 22:30, e de 10:00 as 22:00 no resto da semana. Os três dispõem de
portas automáticas, seguranças de terno e gravata mais discretos e sistema de
câmeras quase imperceptíveis, disfarçados com mais propriedade. Isso torna o
controle mais eficiente.

No caso particular do Aldeota, tem-se em oposição ao Avenida a presença de


elevadores e pisos extras (L0 e L4). Do L3 temos uma visão ainda mais
panorâmica dos dois pisos anteriores. Com relação ao seu exterior, nota-se
que a distância da calçada para a entrada aumenta no lado da avenida
Desembargador Moreira, onde o movimento é maior, e diminui no lado da
Praça Portugal, onde poucas pessoas trafegam.

O shopping center Del Paseo assemelha-se ao anterior em boa parte das


observações, prejudicadas por um episódio a ser detalhado em outro momento
do texto. A diferença está na estruturação das passagens (escadas,
elevadores, degraus): concentram-se numa mesma área e são vigiadas
individualmente. Opera em horários quase idênticos ao anterior.

O Center Um, o menor e mais antigo dos quatro, mantém a risca o padrão de
entradas (três, vigiadas individualmente). A distância da calçada para a entrada
é a maior dentre os quatro centers, na entrada principal pela avenida Santos
Dumont. Os dois pisos facilitam a observação, embora a vista para o lado da
avenida Desembargador Leite Albuquerque seja prejudicada pela presença da
escada rolante central. Abre em horários similares ao do Avenida, além do
domingo.

Aspectos metodológicos

Utilizou-se a visita seqüenciada (Avenida-Aldeota-Del Paseo-Center Um) a fim


de evidenciar as formas padronizadas e as específicas de controle social
exercida dentro de um shopping center. Detalhes que chamavam a atenção
eram logo registrados em um caderno, sendo que a necessidade de anotar
ocorria em todos os momentos da visita, não apenas nos destinados a escrita
propriamente.

De modo geral, procurei observar externamente os meios de acesso aos


prédios, sua relação com as vias ao redor. Internamente, andei por todos os
cantos acessíveis naquele momento, procurando usar os elementos de
passagem (elevadores e escada rolante, além dos degraus). Parava em
determinados momentos e procedia às anotações. Encerrada a visita, partia
para a próxima parada do trajeto.

A rigor, o único percalço ocorreu no Del Paseo. Enquanto estava em pé,


próximo a um lance de escadas fazendo anotações, um dos seguranças
aproximou-se discretamente e olhou rapidamente para o que eu estava
escrevendo, recolhendo-se então ao seu lugar habitual sem manifestar
nenhuma atribuição. Minutos mais tarde, porém, este mesmo segurança me
aborda em outra escada no mesmo piso, e pergunta imediatamente se estou
fazendo pesquisa. Quando confirmei, ele colocou a necessidade de formalizar
a visita, obedecendo ao procedimento padrão que seria contatar o supervisor.
Como não pretendia tornar aquilo além de uma observação rápida do campo,
dispensei o conselho e me senti compelido a encerrar a pesquisa daquele
local, e partir para o próximo.

Tais eventos mostram a dinâmica própria do trabalho de investigação social,


voltado para uma visão mais objetiva de realidade mas sendo ele mesmo alvo
das interferências as vezes banais que alteram toda a consecução do trabalho
de campo. Também, neste caso em particular, mostram didaticamente uma das
maneiras pelo qual o controle assume suas funções: a discrição, a sutileza da
aproximação do segurança que procurou seguir o protocolo sem no entanto
executar a sua atribuição principal.

Conclusões

Entendemos o ofício do cientista social como aquele que desfaz mitos e


procura debaixo das teias de significado as relações sociais inerentes aquele
objeto de estudo. Nesta pesquisa confrontamos a visão do senso comum
(como a de que todo shopping center é igual) com nossa própria ótica da
questão proposta, tentando formular resultados a partir de observações
sistemáticas do campo.

Partindo da conceituação do Aeroporto como espaço público restrito e


controlado, procurou-se traçar paralelos com a estrutura do shopping center.
Intencionamos mostrar como os quatro shopping centers trabalhados
apresentam mecanismo de controles social, algumas vezes sutis a ponto de
requerem maior atenção para que percebamos sua existência e funcionamento
constante. Tentou-se apontar as formas padrões, como formato das portas de
entrada, número de entradas, presença de seguranças privados e câmeras e
aspecto panóptico de sua arquitetura, bem como as especificidades de cada
local.
O que mais impressionou na execução desta pesquisa sem dúvida foram as
possibilidades abertas. Esse é um dos aspectos que motivam e enriquece a
ciência, a impossibilidade de se esgotar um objeto. Além disso, a relação
pesquisador-campo-objeto tem uma dinâmica própria vigorosa, que deveria a
meu ver fazer parte de toda pesquisa. É esta relação que molda o caminho a
seguir. Temos as nossas visões, idéias e mistificações da realidade que nos
cerca, e cabe sempre ao pesquisador questioná-las sempre.

Abstract

The system of rules that guides our participation in modern society can be
noticed when we enter the so-called public spaces. Modern Shopping Malls,
symbolic temples of today capitalist world, are considered a open public space,
as long some basic rules are observed (clothes, timetables, etc.). This paper
attempts to reconstitute some manners of social control present in shopping
malls in the neighborhood of Aldeota, in the city of Fortaleza, capital of the
Ceará State. Even though Malls are considered a public space, they are
managed in a way to select their public, through mechanisms not always
perceptible. We described the subject-field, formed by a spatial cutout
comprising four shopping malls in the mentioned place. The description allowed
to compare similar forms of control and others more specific to each building.
Empirically, our methodology consisted in a detailed observation inside and
outside of each mall. In regards to theory, we used Michel Foucault’s influent
work on Panopticism, adapating concepts such as social control and vigilance
to substantiate our claims. Lastly, we pointed a few aspects of the
methodological work that shows the ever-interesting relationship between the
object and the researcher.

Keywords: Shopping Mall, Social Control, Aldeota, Urban Sociology.

Referências bibliográficas
DIÓGENES, Beatriz. H. N. Aldeota: a centralidade como expressão da
dinâmica intra-urbana de Fortaleza. In GITAHY, Maria Lucia Caira, LIRA, José
Tavares Correia de. Cidade: Impasses e perspectivas. Annablume, 2007.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento das prisões. 20 ed. Petrópolis:


Vozes, 1999.

MACIEL, Wellington Ricardo Nogueira. Os Lugares da Política Urbana no


urbanismo moderno e contemporâneo. In _____. O Aeroporto e a Cidade.
Fortaleza: EDUECE, 2010.

PADILHA, Valquíria. Shopping Center: Templo Capitalista de Consumo e


Lazer. Revista de Ciências Sociais, Fortaleza, v. 31, n. 1, p. 119-135, 2000.

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