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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA – CCHLA

Disciplina: Pré-História
Docente:Profª Drª Priscilla Gontijo Leite
Discente: Aldenize da Silva Ladislau

FICHAMENTO

MITHEN, Steve, A pré-história da mente: uma busca das origens da arte, da


religião e da ciência. São Paulo: Editora Unesp, 2002, p.351-365.

351- “ Sem a agricultura não teriam existido aldeias, cidades, sociedades constituídas
por estados”.

- A introdução da agricultura no modo de vida dos antigos caçadores-coletores,


alterou de maneira profunda as relações entre indivíduo e meio ambiente. O homem
passa a cultivar a terra e sente a necessidade de se fixar em um lugar específico. Em
torno desse processo, é possível verificar também, a presença dos primeiros
agrupamentos humanos e posteriormente o surgimento das primeiras cidades.

351- “ A agricultura foi uma consequência direta do tipo de pensamento que evoluiu
como aparecimento da fluidez cognitiva”.

- Evidências arqueológicas encontradas em sítios como Wadi Kubbaniya, a oeste do


vale do Nilo e em Tell Abu Hureyra, na Síria, demonstram que em tempos muito
antigos, os humanos já utilizavam uma tecnologia primitiva, que permitia um melhor
aproveitamento dos recursos (vegetal e animal) que encontravam na natureza. Entende-
se assim, que a evolução da mente humana não faz parte de um processo que aconteceu
do dia para a noite, mas de um conjunto de fatores que se integraram ao longo de
milhares de anos e que contribuíram para o melhor manipulamento das práticas
agrícolas.

353- “ Viver segundo a agricultura é mais sacrificado que a caça e a coleta”.

- A vida de um caçador-coletor se baseia no nomadismo. O homem primitivo se


desloca com grande frequência em busca da caça e de lugares com abundância de
alimentos para garantir a sua sobrevivência. A agricultura, por sua vez, passa a exigir
do homem uma maior atenção e fixação à um lugar específico. Preparar o solo, esperar
o tempo da colheita, observar o desenvolvimento da plantação, além de ter que enfrentar
os desentendimentos dentro do grupo, são as novas dificuldades que surgem com o
apareciemento da agricultura. Entre as desvantagens de uma vida sedentária nota-se
também as péssimas condições sanitárias em torno dos assentamentos. A redução dos
deslocamentos em busca de alimentos fez com que a população dos grupos
aumentassem, e passassem a viver em locais mais próximos uns dos outros, o que
ocasiona também, uma rápida proliferação das doenças. Além disso, a dieta tornou-se
mais restrita nesses grupos, uma vez que se dedicavam á um tipo específico de cultivo.
354- “ Convencionalmente, há duas explicações propostas para essa adoção quase
simultânea da agricultura”.

- A primeira hipótese afirma que há dez mil anos, o aumento da população teria
gerado um desequilíbrio em relação a disponibilidade de recursos naturais. Nesse
sentido, a caça e a coleta já não supriam as necessidades alimentares daquelas
populações, a solução estaria então, vinculada à agricultua. Vista como uma
possibilidade de satisfazer a escassez alimentar de todo o grupo. Não há evidências
suficientes que comprovem essa explicação, haja vista que uma crise alimentar também
seria possível mesmo após o aparecimento da agicultura. Não obstante, a segunda
hipótese trabalha com as mudanças climáticas associadas ao fim da última glaciação. O
regime alterado de chuvas ocasionou um grande impacto, sobretudo, nas regiões do
Crescente Fértil. Algumas regiões tornaram-se mais secas e outras mais úmidas. A
agricultura, portanto, teria sido uma resposta local causadas por mudanças climáticas
mundiais. Embora essa seja a explicação mais aceita pelos estudiosos, não explica
detalhadamente a adesão do homem primitivo ao estilo de vida agrícola.

358- “ Quatro aspectos da mudança na natureza da mentalidade foram decisivos para o


surgimento da agricultura”.

I) Inteligência técnica e naturalista:A capacidade de produzir ferramentas para


controlar melhor os recursos encontrados na natureza, faz parte da integração entre
as inteligências técnica e naturalista. Os humanos pré-históricos serviam-se de
técnologia própria para cultivar plantas, domesticar animais, construir abrigos, saber
escolher o melhor local livre de predadores e criar instrumentos para facilitar as
terefas do dia-a-dia. A consciência nos processos de manipulação dos recursos
naturais foi fundamental para a prevalência da agricultura.

II) Inteligência social e naturalista: Possivelmente o homem primitivo teria usado


animais e plantas como um meio de adquirir prestígio social e poder. Caçavam
animais maiores como forma de ganhar e manter o prestígio. Tendo em vista que
por esse aspecto, os recursos da natureza não serviam apenas como fonte de
alimento, mas também, fonte de poder e distinção entre os grupos. Há indícios de
que também foram capazes de desenvolver “relações sociais” com plantas e animais,
concedendo um tratamento comportamental típico da espécie humana.

Todos os aspectos cognitivos citados acima serviram de base para o surgimento da


agricultura. A evolução da mente humana desde o Paleolítico Médio e Superior, -
atestam uma origem profunda e muito antiga do cultivo de alimentos. Desse modo, a
interação entre a inteligência técnica, social e naturalista é uma possível resposta para
entender a transformação de um homem que vivia da caça e coleta e passa ao longo dos
anos a ser um habilidoso agricultor.
LIVERANI, MARIO. As premissas neolíticas e calcolíticas. In: Antigo Oriente:
História, Sociedade e Economia. Trad. Ivan Esperança Rocha. São Paulo. Editora
da Universidade de São Paulo, 2016.

71- “ A essência da revolução neolítica consiste na progressiva utilização de técnicas


para a produção de alimento (agricultura e gado) em substituição das técnicas da
simples exploração (caça e coleta) de tudo quanto já está presente na natureza”.

- A transformação das técnicas utilizadas pelos povos pré-históricos na produção de


alimentos, é o ponto-chave para que a revolução neolítica possa ser melhor entendida.

No período anterior a aproimadamente 15.000-10.000 anos atrás, o homem arcaico


vivia em abrigos e em pequenos grupos de até 50 pessoas. Praticavam a caça nessa
época como a sua principal fonte de alimento, desconheciam práticas que pudessem
produzir ou conservar alimentos. Entre 10.000 e 7.500, há vestígios que os animais
eram utilizados como animal de guarda e caça. A domesticação de animais e o início do
cultivo de sementes, junto aos locais de haitação nesse período, reforça a ideia de se
tratar das origens de uma revolução neolítica. A partir de 8.000e 7.000,o cenário é
apresentado como uma fase plenanamente neolítica. Já havia nesse momento
comunidades de aldeias sedentárias, grupos que viviam em casas de barro ou tijolos crus
e que se baseavam em uma economia agropatoril.

Os humanos ao longo do tempo foram aprimorando as suas habilidades, produziram


instrumentos que ajudavam no dia a dia , e, em boa parteisso foi possível pela evolução
que a mente humana também passou, conforme atesta Mithen.

73- “ Tanto no conhecimento como nas práticas de exploração, são lançadas as bases
para a futura intervenção em termos de produção”.

- Saber lidar com a terra, selecionar as melhores sementes para o plantio e utilizar as
ferramentas propícias para esse processo, faz parte do acúmulo de conhecimentos
necessários para introdução de um novo meio de produção que, permitiu aos grupos
humanos a garantia de sobrevivência. Todos esses conhecimentos favoreceram,
portanto, o estabelecimentos e a maior adesão às práticas agrícolas.

74- “ O novo modo de produção tem notáveis consequências sobre os modos de


agregação social e organização material”

- No Oriente Próximo, surgem comunidades aldeãs que produzem seu próprio


alimento, que se distiguem entre si pelos tipos de recursos disponíveis e pelo grau de
avanço tecnológico. As seguintes caracteristicas fazem parte da mudança que os novos
esses grupos passam a se organizar: i) a construção de casas de habitação com contornos
arredondados; ii) abrigos com bases permanentes; iii) aumento da população; iv) o
aparecimento das primeiras espécies cultivadas e de animais domesticados; v) o
apareciemnto dos primeiros silos para armazenar e conservar a colheita.
77-“ O problema das “ causas” da passagem da caça-coleta à produção de alimentos não
pode ser resolvida de forma unívoca”.

-Liverani contraria as teorias que afirmam uma causa única para explicar o
surgimento da agricultura e as transformações que dela resultam. Chama de equívoco a
explicação da crise demográfica, já que não haveria condições possíveis, naquele
período, de uma população superior à oferta de alimentos. Também é contrário a
explicação que aponta as mudanças climáticas como causa do surgimento da
agricultura. As mudanças climáticas não seriam uma causa direta, mas apenas um fator
importante entre tantos outros que contribuíram para as transformações no modo de
produção.

79- “ No final do sétimo milênio aparecem as inovações básicas que caracterizam a


cultura neolítica do Oriente Próximo no sentido tradicional”.

- Há 7.000 anos, ocorreu uma forte seleção de espécies propícias para serem
domesticadas. As sementes passaram a ser cultivadas em áreas secas por meio da
utilização dos canais de irrigação. Com as fibras vegetais o homem fez tecidos e usou
como vestimenta, além de tudo isso, utilizou algumas ferramentas líticas para moer
sementes. Ainda houve nesse período, a difusão de foices, lâminas longas e utensílios de
madeira que facilitavam o trabalho doméstico. Todas essas inovações nos mostram a
importante contribuição da evolução dos instrumentos para o período.

103- “ Em meados do quarto milênio, concretizam-se alguns importantes elementos da


ordem política e cultural do Oriente Próximo”.

- Em locais onde havia a ocorrência de poucas chuvas, como é o caso da baixa


Mesopotâmia por exemplo, foi necessário a invenção e construção de diques, canais de
regadio e valetas que pudessem ajudar na irrigação das lavouras. Em torno dessas
construções haviam assentamentos. A moradia dessas populações variavam entre
cabanas de barro e por estruturas mais complexas. Também houve a contrução de
templos, esses acabaram ocupando uma posição de destaque nos assentamentos. O
templo era o local de reunião entre os grupos humanos. São nessas cidades- templos que
as comunidades passam a se desenvolver.

 Pontos em Comum:Steve Mithen e Mario Liverani enfatizam a capacidade que os


povos pré-históricos tiveram para aperfeiçoarem as suas técnicas na produção de
alimentos ao longo dos milhares de anos. A fabricação, manuseio e a evolução dos
instrumentos são elementos importantes que fizeram parte do processo de
adequamento ao novos meios produtivos que estavam surgindo. O desenvolvimento
da agricultura, em grande parte, só foi possível pela habilidade aprimorada dos
povos primitivos em lidar com a terra. No texto do Steven Mithen e do Mario
Liverani, o Crescente Fértil é apresentado como uma área próspera das atividades
agrícola. E é também o local onde se concentraram as primeiras, relativamente,
grandes comunidades.
 Pontos Divergentes:Cada autor segue uma perspectiva diferente para explicar o
mundo. Mithen é da corrente da psicologia e da cultura. Para entender o modo de
vida dos povos pré-históricos, o autor baseia sua explicação na produção de
instrumentos confeccionados pelos povos primitivos a partir da evolução das suas
propriedades cognitivas, o modo como viviam e a relação que os grupos exerciam
sobre a natureza. Ou seja, é um perspectiva que se volta para a produção material
ligada à evolução da mente humana e organização da estrutura social delas
decorrentes.

Liverani, porém, utiliza-se da teoria dos modos de produção, onde os primeiros


grupos humanos não possuíam a noção de propriedade privada e não havia a
divisão de classes nessa sociedade primitiva. A terra era partilhada entre os
componentes da comunidade e todos possuíam o direito de cultivá-la. Outrossim, a
organização da comunidade para realização das obras hidráulicas, como canais de
irrigação e valetas, foi fundamental para o desenvolvimento de áreas onde as
condições climáticas eram desfavoráveis. A prática da agricultura alterou os modos
de produção, mudou os instrumentos ou meios utilizados para as formas de se
conseguir recursos para a sobrevivência do grupo. E a partir daí, também há uma
mudança na forma como a sociedade virá à se organizar.

Desse modo, percebe-se que os dois autores de maneiras diferentes, procuram


demonstrar os meios pelos quais os seres humanos dispunham para sobreviverem e
a estrutura organizacional que constituíam nas origens de nossa história.

 Comentários Gerais: É ainda relevante considerar a importância do período


Natufiano na pré-história. Esse período durou até aproximadamente 10,5 mil
anos atrás. A fundação das primeiras comunidades agrícolas podem ser
encontradas nessa época. Os grupos construíam estruturas para armazenar os
alimentos, utilizavam uma variedade de utensílios e ferramentas de pedra polida
que facilitavam nas suas tarefas diárias. As evidências de uma vida sedentária
nesse período pode ser considerada como as primeiras evidências das origens da
agricultura.Por fim, voltando as atenções para o primeiro texto, segundo Steven
Mithen “ Nossas mentes são tanto um produto de nossa história evolutiva quanto
dos contextos em que indivíduos se desenvolvem”. (página) É a mente, a
capacidade de pensar, que faz o ser humano se diferenciar das outras espécies.
As conexões entre as inteligências que foram sendo adquiridas ao longo do
tempo,ajudaram o homem a se adaptar às transformções do meio em que vivia.

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