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INFRAESTRUTURA
JOISA DUTRA
GUSTAVO KAERCHER
05/04/2021 11:20
Atualizado em 05/04/2021 às 11:54
Esgoto a céu aberto em Cidade Estrutural, Distrito Federal, Brasil. Crédito: Valter Campanato/Agência Brasil
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09/04/2021 Regulação contratual ou discricionária no saneamento? | JOTA Info
Para começar, convém deixar claro que esse suposto embate não é, apenas parece,
novo. Nos Estados Unidos, uma versão dele tomou conta das primeiras décadas do
século XX, em que se contrapunha a regulation by (municipal) franchise à regulation
by commissions. E não havia partido certo: poder público e empresas, em
momentos distintos e segundo suas conveniências, ora se agarravam aos contratos
municipais (franchises), que deveriam ser imutáveis, ora à contínua produção
normativa das ainda incipientes agências reguladoras que trariam a melhor resposta
aos problemas sempre dinâmicos.
Admitindo essa premissa de preservar, para apurar, nossos usos dos termos,
propomos tomar por “regulação contratual” a disciplina normativa que, versando
sobre um tópico especí co do serviço, encontra-se positivada no instrumento
formalizador da concessão (“o contrato”) e que, além disso, cobre todos os elementos
mais relevantes do tópico em questão, por meio de textos que coíbem a formulação
de interpretações muito discrepantes entre si.
Para coroar e passar a régua, essa disciplina é ainda blindada por uma “solene
promessa” do poder público (prevista em norma jurídica à qual o regulador está
vinculado) de que não serão editadas, no futuro, normas que se sobreponham àquelas
originais. Pode soar complicado, mas não é, como veremos.
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regulação arbitrária. A diferença entre uma e outra pode ser uma questão de graus,
mas essa di culdade (ineliminável) de sua aferição não apaga a distinção.
Felizmente, na implantação da reforma do saneamento, regulação arbitrária não
está no horizonte de ninguém.
Uma terceira função é esta: tal como formulada, a distinção sugere que o âmbito da
regulação em que a dicotomia pode render uma boa discussão é aquele dos
elementos econômico- nanceiros do serviço. A nal, ninguém pode pretender que
um contrato celebrado em 2021 seja completo a ponto de prever todos os eventos
possíveis de ocorrer (Covid-19 que o diga!), bem como o que devem as partes fazer
em face de sua ocorrência. Ativos de saneamento têm em geral vida longa – 30, 50
ou mesmo 70 anos – e circunstâncias não previstas demandam novas soluções ao
longo do caminho.
Para encerrar, vejamos a quarta e mais importante função que a proposta cumpre:
na prática a distinção entre regulação contratual e discricionária é uma questão de
grau. O modo como construímos a dicotomia (vamos de nitivamente ignorar a não
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opção pela regulação arbitrária) evidencia que seus extremos são tipos ideais.
Reconhecer isso afasta o fetiche dos rótulos e direciona a atenção para os
elementos a partir dos quais foram construídos os conceitos de regulação
contratual e regulação discricionária.
Considere-se um exemplo não tão hipótetico: um certo caso pode atender a (i.) e a
(iii.), mas não a (ii.). Ou seja, garante-se que “todos os elementos de certo tópico de
regulação estão previstos no contrato e nada do que ali constar será eliminado”; o
problema, porém, é que os textospodem ser de baixa densidade regulatória (ou
simplesmente mal escritos e confusos). Resultado: pela letra do contrato se
in ltrarão, ao longo do tempo, novidades interpretativas, regulações de “mero”
complemento e outras manifestações da ação (unilateral) do regulador. Além dessa
possibilidade de combinações, concorre para caracterizar a relatividade da distinção
entre regulação contratual e discricionária a a própria exigência de “textos
detalhados”. Não há fórmula matemática para decidir quando isso é o caso e
quando não, ainda que tenhamos já certa maturidade regulatória para parametrizar
tal indeterminação.
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JOISA DUTRA – Diretora do Centro de Estudos em Regulação e Infraestrutura da Fundação Getulio Vargas
(FGV CERI). Foi diretora da ANEEL, de 2005 a 2009. É doutora em economia pela FGV.
GUSTAVO KAERCHER – Sócio do Souto Correa Advogados. Advisor da Florence School of Regulation
Energy Innovation. Autor de diversos livros relacionados à regulação do setor elétrico. Pesquisador
associado do FGV CERI. É doutor em Direito pela UFRGS.
Os artigos publicados pelo JOTA não re etem necessariamente a opinião do site. Os textos
buscam estimular o debate sobre temas importantes para o País, sempre prestigiando a
pluralidade de ideias.
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